PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA IDIOPÁTICA COMO FATOR PREDISPONENTE PARA LUXAÇÃO DE ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR: RELATO DE CASO IDIOPATHIC PERIPHERAL FACIAL PALSY AS A PREDISPOSING FACTOR FOR TEMPOROMANDIBULAR JOINT DISLOCATION: A CASE REPORT ADRIANA SAYURI KUROGI ASCENÇO1, MARIA CECÍLIA CLOSS ONO2, IVAN MALUF JUNIOR1, MARLON CAMARA LOPES1, IVANA DE OLIVEIRA GUS3, GILVANI AZOR DE OLIVEIRA E CRUZ4, RESUMO Introdução: A Paralisia de Bell é uma paralisia periférica do nervo facial que resulta na redução parcial ou total da mobilidade dos músculos da face.A amplitude dos movimentos mandibulares e a integridade da ATM podem ser afetadas com a paralisia dos músculos da mímica facial. Objetivo: Relatar a correlação entre a paralisia facial e sua provável etiologia na desordem temporomandibular. Resultados: O presente estudo relata o caso clínico de uma paciente de 19 anos, atendida no Pronto Socorro do Hospital Universitário Cajuru, por quadro de luxação de ATM após 2 dias do início de uma paralisia facial periférica idiopática. Conclusão: Pode-se sugerir que houve uma inter-relação entre a luxação de ATM e a paralisia facial. DESCRITORES: 1. Paralisia facial; 2. Articulação temporomandibular; 3. Luxação. ABSTRACT Introduction: Bell's palsy is a peripheral paralysis of the facial nerve that results in partial or total reduction of mobility of the face`s muscles. A range of mandibular movements and the integrity of the TMJ may be affected with paralysis of the facial muscles. Objective: To report the correlation between facial paralysis and its etiology in temporomandibular disorders. Results: The present study reports the case of a patient of 19 years, assisted in the emergency room of University Hospital Cajuru due to TMJ dislocation 1. Médica residente da Disciplina de Cirurgia Plástica e Reconstrutora do Hospital de Clínicas da UFPR. 2. Cirurgiã Plástica, Serviço de Cirurgia Craniofacial do Hospital Universitário Cajuru. 3. Médica residente de cirurgia geral do Hospital Cruz Vermelha de Curitiba. 4. Professor Associado III e Coordenador da Disciplina de Cirurgia Plástica e Reconstrutora do Hospital do Trabalhador da UFPR. Chefe do Setor de Cirurgia Crânio-maxilo-facial do Hospital Universitário Cajuru da PUC-PR. Responsável pela Cirurgia Crânio-maxilo-facial do Hospital Pequeno Príncipe. after 2 days of onset of idiopathic peripheral facial palsy. Conclusion: The results suggest that there was an interrelationship between the dislocation of the TMJ and facial palsy. KEYWORDS: 1. Facial paralysis; 2. Temporomandibular joint; 3. Dislocation. INTRODUÇÃO A Paralisia de Bell é uma paralisia periférica do nervo facial que resulta na redução parcial ou total da mobilidade dos músculos da face. É tradicionalmente definida como idiopática; entretanto, uma possível etiologia seria a infecção pelo vírus herpes do tipo 1. A Paralisia de Bell, embora possa afetar pessoas de qualquer idade, apresenta sua maior incidência na quinta década de vida. Aproximadamente 70% a 80% dos pacientes apresentarão recuperação espontânea1,2,3. Dentre as causas da PF, além das idiopáticas, destacamse o trauma, o tumor e a infecção 4,5. Ocorre com maior frequência em indivíduos com diabetes e em mulheres grávidas. Pacientes que tiveram um episódio da paralisia de Bell têm um risco de 8% de repetição4. OBJETIVO O artigo objetiva relatar a correlação entre a paralisia facial e sua provável etiologia na desordem temporomandibular. MÉTODOS A literatura indica que a amplitude dos movimentos mandibulares e a integridade da ATM podem ser afetadas com a paralisia dos músculos da mímica facial. O artigo relata um caso em que a paralisia facial foi a provável etiologia na desordem temporomandibular. RESULTADOS Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012 Relato de caso Paciente do gênero feminino, 19 anos, 33 apresentou-se ao Pronto Socorro do Hospital Universitário Cajuru, por quadro de luxação de articulação temporomandibular(ATM) do lado direito. Durante a anamnese, a paciente relatou quadro de otalgia e paralisia facial à direita, que teve início 2 dias antes do episódio de luxação da ATM. Não apresentava nenhuma comorbidade ou uso de medicações. Não apresentava histórico de luxações da ATM. A paciente foi submetida à redução da ATM no Pronto-Socorro, sem necessidade de sedação ou anestesia. Ao exame físico, após a redução da luxação, foi relatada pela paciente dor à palpação nos músculos pterigoideos mediais e laterais, além dos músculos cervicais. Observou-se também assimetria facial em repouso e durante a movimentação facial, sendo observada a paralisia facial periféria do lado direito. A otoscopia foi normal. Radiograficamente, o raio X panorâmico da mandíbula mostrou-se dentro dos padrões de normalidade. Com base nos dados coletados, pôde-se chegar ao diagnóstico sugestivo de desordem temporomandibular associada à paralisia facial periférica idiopática. O diagnóstico de paralisia facial idiopática foi estabelecido pelo Serviço de Cirurgia da Face do Hospital Universitário Cajuru. A paciente foi também encaminhada para o ambulatório de neurologia que confirmou o diagnóstico. A terapêutica de suporte proposta foi analgesia, fisioterapia, fonoterapia e orientações relativas aos hábitos e alimentação, com dieta liquido-pastosa. Iniciou-se Prednisona 20mg ao dia, por 7 dias. A paciente foi acompanhada semanalmente durante 15 dias pela equipe da Cirurgia da Face e Neurologia, ainda apresentando a paralisia facial. Não mais compareceu aos controles ambulatoriais. DISCUSSÃO O nervo facial (VII par craniano) é composto por duas raízes: uma motora, o nervo facial propriamente dito, e outra sensitiva, representada pelo nervo intermédio9. A raiz motora inerva a musculatura da mímica facial. A raiz sensitiva, por sua vez, é responsável pela gustação nos dois terços anteriores da língua, pela secreção das glândulas salivares, nasais, palatinas e glândulas lacrimais.6 A PF pode se apresentar de várias maneiras: completa ou incompleta; súbita ou se desenvolver ao longo de vários anos, e acompanhada ou não de acometimento auditivo.9 Classifica-se a PF como paralisia facial central (PFC) ou periférica (PFP). Na PFC há alteração de mobilidade apenas dos músculos 34 do terço inferior da hemiface contralateral à lesão nervosa, mantendo a movimentação normal da parte superior bilateralmente1. A PFP caracteriza-se por uma dificuldade em toda movimentaçãode uma hemiface (superior e inferior), em que se observa alterações quanto à produção de lágrimas, fechamento da pálpebra, alterações na fala e mímica facial, mastigação ineficiente , impossibilidade de ocluir corretamente os lábios, além de sintomas como otalgia, zumbido, vertigens1. Quanto à etiologia, a paralisia facial pode ser dividida em: paralisia de Bell (ou idiopática), traumática, infecciosa, neoplásica, congênita, vascular, tóxica e metabólica (diabete e hipotireiodismo)2,10. O tratamento da PF pode ser medicamentoso, com antibióticos e antivirais, quando diante de infecções. Em casos de compressão do nervo facial por edema pós-trauma (paralisia facial traumática), deve-se aguardar para que os movimentos retornem gradativamente. O uso de corticoides, como a prenidsona, deve ser terapia indicada, desde o início. Outra opção terapêutica seria a descompressão cirúrgica do nervo. De acordo com Okeson10, durante a mastigação, há um aumento de pressão interarticular na articulação contralateral e uma rápida diminuição da pressão interarticular na articulação ipsilateral. Isto pode gerar uma separação das superfícies articulares, resultando em deslocamento anterior . Okeson10 relata que a otalgia pode apresentar-se como dor na ATM percebida mais posteriormente e que o zumbido também tem sido relatado por pacientes que sofrem de DTM. CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos, podese sugerir que houve uma inter-relação entre a luxação da ATM e a paralisia facial, em que as sequelas da paralisia contribuíram como um dos fatores etiológicos para o desencadeamento da desordem. REFERÊNCIAS 1 - Cronin GW, Steenerson RL. The effectiveness of neuromuscular facial retraining combined with electromyography in facial paralysis rehabilitation. Otolaryngol Head Neck Surg.2003;128(4):534-8. 2 - Hadlock T. Facial Paralysis: research and future directions. Facial Plast Surg.2008;24(2):260-7. 3 -Tiemstra JD, Khatkhate N. Bell\'s Palsy: diagnosis and management. Am Fam Physician.2007;76(7):997-1002. 4 - Esborrat LM. Parálisis facial (I Parte). Quirón.2000; 31(1):18-35. 5 -Alonso-Navarro H, Zurdo-Hernández JM, OrtíPareja M, Jiménez-Jiménez FJ. Familial recurring peripheral facial palsy. Rev Neurol. 2005; 40(1):61. 6 - Yonamine FK, Tuma J, Silva RFN, Soares MCM, Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012 Testa JRG. Paralisia facial associada à otite média aguda. Braz J Otorhinolaryngol.2009;75(2):228-30. 7 -Lasarini PR, Fernandes AMF, Brasileiro VSR, Custódio SEV. Paralisia facial periférica por comprometimento do tronco cerebral – a propósito de um caso clínico. Ver Bras Otorrinol. 2002; 68:140-4. 8 - Falavigna A, Teles AR, Giustina AD, Kleber FD. Paralisia facial de Bell: fisiopalogia e tratamento. Scientia Medica. 2008;18:77-83. 9 - Dib GC, Kosugi EM, Antunes ML. Paralisia facial periférica. Rev Bras Med. 2004;61:110-7. 10 -Okeson JP. Tratamento das desordens temporomandibulares e oclusão. São Paulo: Artes Medicas; 2000. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Rua Conselheiro Laurindo, 80, 80 - Curitiba - PR CEP: 800601000 E-mail: [email protected] Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012 35