teoria motivacional de maslow e sua aplicação à empresa rural

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TEORIA MOTIVACIONAL DE MASLOW E SUA APLICAÇÃO À
EMPRESA RURAL
RESUMO
Este artigo tem como objetivo principal a aplicação dos conceitos e estudos
administrativos às empresas rurais. Acreditando na motivação como essencial para a
competitividade e felicidade nas organizações, os autores buscam, através de um estudo de
caso em uma empresa rural, compreender os fatores que motivam e geram satisfação ao
trabalhador rural. Para tal estudo, utilizou-se como referencial teórico a teoria motivacional
de Maslow. Os autores concluem que mesmo nas empresas rurais, onde prevalecem uma mãode-obra menos qualificada e com baixa remuneração, as necessidades sociais e de estima
podem sobrepor às necessidades mais básicas do ser humano, demandando práticas gerenciais
que busquem a satisfação destas necessidades.
1. INTRODUÇÃO
O estudo da administração em organizações rurais é uma área extremamente nova no
nosso país, carecendo de pesquisas e estudos que possam dar respaldo e embasar a prática do
administrador rural.
Os estudiosos desta área consideram a administração rural como um ramo da ciência
administrativa. Com base nesta afirmação, Andrade (1996, p. 7) ressalta que as teorias e os
conceitos da administração podem e devem ser utilizados também nas organizações rurais,
observando, logicamente, algumas especificidades próprias a estas organizações.
No que se refere à gestão de pessoas, Brito & Brito (1999, p. 1-2) ressaltam que nas
empresas rurais, esta se reduz ao cumprimento de aspectos racionais-legais exigidos pela
legislação trabalhista. Não há por parte destas empresas uma preocupação com a qualificação,
treinamento e desenvolvimento de seus colaboradores, bem como com a satisfação e
motivação dos mesmos em busca de um comprometimento com os objetivos organizacionais.
Baseando nos pressupostos acima, e acreditando na motivação como essencial para a
produtividade e felicidade nas organizações, é objetivo deste trabalho compreender o processo
motivacional do trabalhador rural, tendo como referencial teórico uma teoria que tem exercido
grande influência no pensamento administrativo: a teoria da motivação descrita por Maslow.
Busca-se a compreensão das necessidades e desejos que motivam o trabalhador rural,
através de uma estudo de caso em uma empresa rural. Acreditamos que, com este trabalho,
estaremos contribuindo com mais um “tijolo” na construção deste novo ramo de
conhecimento – a administração rural.
2
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. A teoria motivacional de Maslow
Maslow procurou compreender o que energiza, dirige e sustenta o comportamento
humano. Ele elaborou uma hierarquia de necessidades humanas baseada em dois
agrupamentos: deficiência e crescimento. As necessidades de deficiência são as fisiológicas,
de segurança, de afeto e de estima, enquanto que as necessidades de crescimento são aquelas
relacionadas ao auto-desenvolvimento e auto-realização do ser humano (Huitt, 1998, p.1).
Para ele, tais necessidades apresentam-se numa hierarquia de importância e
premência, conforme ilustrado na FIGURA 2, a seguir.
Hierarquia das Necessidades – Pirâmide Motivacional
Necessidades de auto-realização
Necessidades de estima
Necessidades de amor/sociais
Necessidades de segurança
Necessidades fisiológicas
Fig. 2 - Fonte: Adaptado de Chiavenato, 1994. p.170
As necessidades fisiológicas se referem às necessidades biológicas dos indivíduos,
como a fome, a sede, o sono. São as mais prementes, dominando a direção do comportamento
do ser humano quando este se encontra insatisfeito:
“Se todas as necessidades estão insatisfeitas e o organismo é
dominado pelas necessidades fisiológicas, quaisquer outras poderão
tornar-se inexistentes ou latentes. Podemos então caracterizar o
organismo como simplesmente faminto, pois a consciência fica quase
inteiramente dominada pela fome. Todas as capacidades do
organismo servirão para satisfazer a fome...” (Maslow, 1975, p.
342)
Assim, uma pessoa dominada por tal necessidade tende a perceber apenas os estímulos
que visam satisfazê-la, sua visão de presente e futuro ficam, portanto, limitadas e
determinadas por tal necessidade.
3
Maslow ressalta que é impossível para uma pessoa faminta pensar em conceitos e
sentimentos como a liberdade, o amor, sentimentos humanitários, respeito e etc., pois tais
conceitos e sentimentos “não enchem o estômago” (Maslow, 1975, p. 343).
As necessidades de segurança surgem na medida em que as necessidades acima estão
razoavelmente satisfeitas. São necessidades que levam as pessoas a protegerem-se dos
perigos, sejam eles reais ou imaginários, físicos ou abstratos. O organismo pode ser
fortemente dominado por tal necessidade e, assim como as necessidades fisiológicas, estas
também podem dominar as funções perceptivas e cognitivas do ser humano, levando-o a
pensar e a ter como prioridade a satisfação dessas necessidades.
Analisando tal necessidade no contexto organizacional, Douglas McGregor salienta
que atitudes arbitrárias por parte da organização, ações que geram incertezas e refletem
discriminação ou favoritismo, bem como políticas administrativas imprevisíveis são
desencadeadores desta necessidade nos trabalhadores de todos os níveis hierárquicos
(McGregor, 1975, p. 50), gerando assim, uma desmotivação em relação ao trabalho ou à
empresa.
Tendo satisfeitas razoavelmente as necessidades acima, surgem as necessidades de
amor, afeição e participação. São necessidades sociais presentes em todo ser humano.
Maslow afirma que estas se referem à necessidade de afeto das pessoas que consideramos
(namorado, filhos, amigos): “a pessoa passa agora a sentir, mais intensamente do que nunca,
a falta de amigos, de um namorado, de um cônjuge ou de filhos (...) Seu desejo de atingir tal
situação será mais forte do que qualquer coisa no mundo”. Para ele a frustração dessas
necessidades leva à falta de adaptação e a psicopatologias graves no ser humano (1975, p.
350).
McGregor (1975, p. 50) ressalta que os administradores, apesar de saberem da
existência de tal necessidade, erroneamente, consideram-na uma ameaça aos objetivos da
organização. A organização passa a querer controlar e dirigir o comportamento de seus
membros em sentidos incompatíveis com a sociabilidade dos seres humanos, resultando numa
resistência ainda maior dos indivíduos:
“Quando as necessidades sociais do homem são assim
contrariadas – e talvez, também suas necessidades de segurança – ele
comporta-se de maneira a impedir que sejam atingidos os objetivos
da organização. Torna-se resistente, antagônico, hostil. Mas esse
comportamento é conseqüência e não causa.” (McGregor, 1975, p.
50)
As necessidades de estima se referem às necessidades ou desejos das pessoas de uma
auto-avaliação estável, bem como, de uma auto-estima firme. A satisfação destas
necessidades geram sentimentos de auto-confiança, valor, capacidade, sentimentos de
utilidade. Sua frustração leva a sentimentos de inferioridade, fraqueza e desamparo (Maslow,
1975, p. 351).
McGregor (1975, p. 51) afirma que as organizações oferecem poucas oportunidades de
satisfação destas necessidades para as pessoas dos níveis mais baixos da hierarquia. Apesar de
fazer este alerta há três décadas, este fato pode ainda ser percebido nas organizações atuais.
As necessidades de auto-realização, são necessidades de crescimento e revelam uma
tendência de todo ser humano em realizar plenamente o seu potencial. “Essa tendência pode
ser expressa como o desejo de a pessoa tornar-se sempre mais do que é e de vir a ser tudo o
que pode ser” (Maslow, 1975, p. 352). O aparecimento destas necessidades supõe que as
anteriores estejam satisfeitas: fisiológicas, de segurança, de amor e de estima. Diferentemente
destas outras, a necessidade de auto-realização não se extingue pela plena saciação. Quanto
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maior for a satisfação experimentada por uma pessoas, tanto maior e mais importante parecerá
a necessidade (Hampton, 1992, p. 56).
Além da auto-realização, posteriormente, Maslow acrescentou à sua teoria, o desejo de
todo ser humano de saber e conhecer e a necessidade de ajudar o outro a alcançar sua autorealização. Há assim, uma necessidade natural do ser humano de buscar o sentido das coisas
de forma a organizar o mundo em que vive. São necessidades denominadas cognitivas e inclui
os desejos de saber e de compreender, sistematizar, organizar, analisar e procurar relações e
sentidos (Maslow, 1975, p. 354). Para ele tais necessidades viriam antes da auto-realização,
enquanto que a necessidade de ajudar os outros a se auto-desenvolver e a realizar seu
potencial – a que ele deu o nome de transcendente – viria posteriormente à auto-realização
(Huitt, 1998, p. 01).
Maslow (1975, p. 160) ressalta ainda que existem certas precondições para que as
necessidades fundamentais possam ser satisfeitas: A liberdade de falar e agir como se deseja,
desde que não se fira o direito alheio, liberdade de auto-expressar-se, de investigar e procurar
informações, de se defender e buscar justiça, equidade e ordem dentro do grupo são exemplos
de condições prévias para que sejam satisfeitas as necessidades fundamentais. Para Maslow,
sem essas precondições seria impossível a satisfação das necessidades.
Maslow salienta que sua teoria motivacional não é a única a explicar o comportamento
humano, pois nem todo comportamento é determinado pelas necessidades. Afirma ainda que
as necessidades fundamentais são em grande parte inconscientes. Para ele, fatores sócioculturais também influenciariam na forma ou objetos com os quais os homens buscariam
satisfazer suas necessidades, mas não modificando substancialmente a hierarquia
motivacional proposta, o que permite, portanto, sua aplicação no ambiente rural conforme o
proposto neste estudo.
2.2. A empresa e o trabalhador rural.
É necessário, para a compreensão dos fatores que motivam o trabalhador rural,
contextualizar a empresa rural e conhecer a importância que tem sido dada a este trabalhador
nesta empresa.
Estudiosos e especialistas da área alertam que as transformações no mercado
competitivo atual estão demando novas posturas administrativas destas empresas.
Ribeiro & Vivan (1999, p. 436) determinam como peculiar o momento em que passa a
e empresa e o trabalhador rural no Brasil:
“Enquanto uma parte do setor agrícola do país vive a
globalização e a integração mundial – com suas vantagens e ônus –
outra parte está mais que excluída, vivendo daquilo que é capaz de
produzir para comer. As parcelas da população rural que tem ficado
fora dos processos de integração econômica caminham para uma
situação de quase segregação: vendem produtos periféricos, poucos e
a baixo preço. Por isso, regiões inteiras padecem de crônico declínio
de renda.” (Ribeiro & Vivan, 1999, p. 436)
As empresas rurais, seguindo as regras da nova economia, vêm estruturando-se em
correntes divergentes. Estabelecem-se dois tipos de empresas: as que buscam situar-se
competitivas, num modelo de crescimento e modernidade, e as que declinam economicamente
por impossibilidade de competirem com margens reduzidas (Ribeiro & Vivan, 1999, p. 436).
Segundo a FNP Consultoria (1998, p. 19), nas últimas três décadas houve uma
crescente aproximação dos valores recebidos pelos produtos agrícolas e o custo médio de
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produção. Esta aproximação deveu-se tanto pelo aumento dos custos, quanto pela redução dos
preços dos produtos agrícolas.
O trabalho rural compreende um dos fatores de produção de uma empresa rural.
(Souza Cruz, 1998, p. 37). Reserva-se, portanto, estreita relação com o mercado de trabalho
industrial e capitalista. Entretanto, algumas particularidades garantem condições próprias à
empresa rural, mediante às condições e peculiaridades a que estão sujeitas.
Os níveis salariais de seus trabalhadores, por exemplo, são geralmente inferiores, em
média, aos dos trabalhadores urbanos, em função do retorno econômico que suas atividades
proporcionam (Ribeiro et al., 1999, p.459).
O uso da tecnologia e atributos administrativos e operacionais, praticados pelas
empresas industriais, caracterizados por tempos e movimentos, numa base taylorista, não
podem ser utilizados nas empresas rurais, determina Loureiro (apud Ribeiro et al., 1999, p.
459-460), uma vez que grande parte da produção agrícola ainda é dominada por fatores
naturais, estando fora do controle humano. Esta argumentação fortalece a justificativa da
baixa remuneração salarial do trabalhador rural, uma vez que sua atividade não pode ser
padronizada. A relação com fatores ambientais e a conseqüente identificação dos produtos
agropecuários como commodities estabelece pouca demanda de pessoal especializado entre
as empresas rurais. Sendo assim, prevalece nestas, a mão-de-obra temporária, fruto da
sazonalidade das atividades produtivas, decorrentes das condições climáticas (Ribeiro et al.,
1999, p. 460-461)
Considerando a operacionalidade e as contingências ambientais, o desenvolvimento do
conhecimento científico nas empresas rurais se faz através de um “mix” entre o empirismo e o
científico. Esta simbiose pode exacerbar a ocorrência de erros técnicos e administrativos com
maior freqüência que em outras indústrias. Lacki (1997, p. 03) defende a necessidade de
urgência no investimento de profissionais com capacidade científico-tecnológico-gerencial
para atuar no campo. Este autor destaca tal importância à agricultura da América Latina, e
alerta para tão grande deficiência de profissionais capazes, administrativamente, neste setor.
Este fato não parece ser tão evidente no setor industrial. A distância das teorias
administrativas com as práticas agrárias são evidentes nas empresas rurais. Dossa et al. (1999,
p. 41-43) apresentam dúvidas sobre a capacidade do homem do campo (produtor ou técnico)
em suportar as pressões do processo competitivo que se evidencia no meio rural. Estes autores
defendem a necessidade de maior conhecimento e eficiência administrativa, sobretudo dos
recursos humanos.
Percebe-se, portanto, a necessidade de uma postura mais gerencial voltada para o
desenvolvimento de pessoas e para uma maior profissionalização do setor. As mudanças
atuais estão impondo às empresas rurais um maior conhecimento e aplicação das teorias
administrativas já reconhecidas e aplicadas em outros setores.
Sobre estes aspectos, concordamos com o pensamento de Sette (2000) quando alerta
para os novos rumos que devem ser tomados pelas empresas rurais em termos administrativos
e competitivos, enfatizando a importância da liderança e da motivação no ambiente de
trabalho. Ele salienta que também na empresa rural há a necessidade de envolver e
comprometer o trabalhador como os objetivos e metas da organização:
“Todos os funcionários de uma empresa devem se sentir
como membro de uma equipe e saber o significado e a importância do
seu trabalho. Isso ajuda o funcionário a se sentir importante,
satisfazer as suas necessidades de auto-realização como trabalhador
e ser feliz no seu trabalho. Todos os funcionários devem saber a
missão e as metas da empresa...” (Sette, 2000, p. 39)
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3. METODOLOGIA
Para realização deste trabalho foi utilizada uma pesquisa de caráter exploratório em
uma empresa rural situada no município de Unaí (região noroeste de Minas Gerais). Utilizouse de uma entrevista dirigida e estruturada que teve como objetivo principal detectar quais das
necessidades descritas por Maslow prevalecem em um grupo de trabalhadores rurais.
Responderam ao questionário 15 funcionários de uma empresa rural – Fazenda Pontal
– de um grupo de 25 funcionários.
Não é nosso intuito realizar um aprofundamento de questões administrativas e
organizacionais pertinentes à empresa. Por ser um estudo de caso, também não é nosso
objetivo generalizar os resultados à outras realidades organizacionais.
3.1. A Fazenda Pontal
A Fazenda Pontal, ambiente escolhido para tal estudo, localiza-se no município de
Unaí, no Noroeste do estado de Minas Gerais, em uma região de terras planas, plenamente
agriculturáveis, onde a produção agrícola em escala predomina. Possui boa estrutura de
irrigação e produção em sequeiro (não irrigada), além de extenso maquinário próprio e
capacidade de armazenamento de insumos e produtos. Se estabelece, com bom acesso, à 60
km da sede do município, perfazendo uma área total aproximada de 2.500 ha.
Sua atividade principal é a agricultura anual diversificada (soja, milho, algodão, feijão,
sorgo), embora dedica-se também intensamente na produção de café. A pecuária de leite
também reserva uma parcela em suas atividades.
A administração é familiar. Tratam-se de quatro irmãos paranaenses que migraram
para a região à três décadas e mantêm o controle administrativo da empresa. A valorização do
aporte técnico nas atividades produtivas é um ponto forte da empresa. É mantida uma equipe
de trabalho, onde estão incorporados técnicos (agrônomos, veterinários, etc.), empreiteiros e
agenciadores (“gatos”), em serviços terceirizados; além de um quadro de pessoal fixo que
compreende cerca de 30 pessoas, entre trabalhadores rurais, pessoal de escritório, motoristas,
etc.
3.2. Análise dos resultados
O grupo de entrevistados se constituiu em sua totalidade de homens, com idade
variando entre 18 e 48 anos com apenas um ultrapassando esse limite (63 anos). São em sua
maioria casados (9), 4 são solteiros e 1 “amigado”.
Dentre as funções que exercem na empresa, a maioria se enquadra no perfil do
trabalhador braçal, executando tarefas diversas na fazenda. Outros operam máquinas
agrícolas, há também um cozinheiro, um gerente e um vaqueiro. Apenas um completou o 1º
grau, enquanto os outros fizeram a 3ª ou 4ª série primária, sendo apenas 1 dos entrevistados
analfabeto.
Pôde-se perceber na maioria dos entrevistados uma grande dificuldade em falar sobre
aquilo que pensa e sente em relação ao trabalho, resultando em respostas às vezes vagas e
difíceis de serem analisadas.
Contudo, acreditamos que os resultados descritos abaixo revelam uma outra face do
trabalhador de nível mais baixo. No senso comum, é mister a afirmativa de que na maioria
destes trabalhadores prevalecem as necessidades mais baixas da hierarquia de Maslow,
principalmente as fisiológicas e as de segurança. Contradizendo esta afirmativa, os
trabalhadores da Fazenda Pontal afirmaram, em sua maioria, que o fator que mais motiva e
7
gera satisfação com o trabalho é: em primeiro lugar o relacionamento com o grupo (incluindo
aqui o relacionamento com colegas e com patrões) e em segundo lugar o reconhecimento pelo
trabalho realizado.
Assim, as necessidades de amor/sociais e as necessidades de estima prevalecem entre
este grupo de trabalhadores. O salário, visto como meio de satisfazer principalmente as
necessidades mais básicas, aparece citado apenas por 3 dos trabalhadores entrevistados.
Questionados sobre “o que consideram mais importante em um trabalho”, prevaleceu
também o relacionamento com o grupo e a auto-realização (detectada no item
desenvolvimento e crescimento profissional), conforme demonstrado na TABELA 1, abaixo.
Mais importante em um trabalho
Relacionamento com as pessoas
6
Desenvolvimento e crescimento profissional
3
Reconhecimento pelo trabalho
2
Segurança que o emprego oferece
2
Salário
2
TABELA 1 – O que os trabalhadores rurais consideram
mais importante em um trabalho
Confrontados sobre “o que os fazem trabalhar na empresa” (Fazenda Pontal) e sobre
“o que os fariam sair”, as respostas confirmam os resultados acima: o relacionamento aparece
como maior ponto positivo da empresa e o fator determinante que faria com que a maioria
saísse da empresa: 9 dentre os entrevistados consideraram problemas de relacionamento como
determinante de sua saída da empresa; dos outros restantes, 2 afirmaram ser o salário, 2 as
condições de trabalho, 1 a falta de reconhecimento e outros 2 disseram não haver nada que os
fariam sair da empresa (apenas se fossem demitidos).
Todos os trabalhadores consideram-se satisfeitos com a empresa em que trabalham.
Solicitados a atribuir uma nota de 0 à 10 aos itens relacionados com a hierarquia de Maslow,
pôde-se perceber que o relacionamento com o grupo de trabalho é muito valorizado por eles,
bem como a auto-estima. São aspectos, como dissemos acima, relacionados respectivamente
com as necessidades de amor/social e de estima (TABELA 2).
Entrevistados: A B C D E F G H I J K L M N O Média
9,4
Relacionamento
8 8 10 10 10 8 10 10 9 10 10 10 9 10 9
8,8
Estima
7 10 10 10 10 6 10 10 8 10 6 10 6 10 9
8,1
Condições de trabalho
8 7 10 10 10 8 10 9 5 7 6 10 8 6 8
7,8
Liberdade de expressão
8 10 10 10 10 5 10 7 7 6 8 8 8 10 0
7,4
Crescimento e desenvolvimento 3 8 8 5 8 8 8 10 8 5 5 9 9 10 7
6,6
Benefícios
8 0 6 10 7 4 10 8 7 5 6 7 6 10 5
6,5
Salário
5 7 8 5 5 6 5 8 7 8 8 8 6 7 5
TABELA 2 – Pontuação dada pelos trabalhadores rurais entrevistados aos itens relacionados com as
necessidades descritas pela hierarquia de Maslow
Apesar da atribuição de notas mais baixas ao salário e aos benefícios oferecidos pela
empresa, é importante ressaltar que estes fatores não aparecem como primordiais para a
maioria dos entrevistados. Conforme frisamos acima, não se constituem nos fatores
preponderantes que geram insatisfação e que os fariam sair da empresa.
8
Podemos concluir que, para este grupo de trabalhadores rurais, as necessidades de
amor/sociais, de estima e de auto-realização prevalecem. Tal aspecto demanda uma nova
postura da empresa rural no que se refere aos seus “recursos humanos”.
3.3. A motivação do trabalhador rural e a competitividade
As regras dos novos tempos demandam da empresa rural a necessidade de ser
competitiva: buscar retornos econômicos crescentes. Para que isto seja alcançado, o bom
senso estabelece a redução de custos e a produção em escala, como métodos básicos para
atingir alta produtividade, quando se trata da produção de commodities.
Desta forma, o uso dos avanços nas teorias administrativas e tecnológicas se fazem
necessários. Estas práticas, embora modernas, e já aplicadas nas empresas industriais,
confrontam com as peculiaridades encontradas nas empresas rurais: trabalhadores com pouco
tempo de escola e consequentemente, reduzida sintonia com práticas tecnologicamente
avançadas.
Oferecer altos salários, mesmo em razão da utilização de avanços tecnológicos, nem
sempre pode ser aplicado à todas as categorias de profissionais do campo, uma vez que
operações simples como a capina ou a colheita do feijão, muitas vezes, são mais convenientes
que sejam feitas sem uso de equipamentos; além do mais, a redução de custos também se faz
com o aproveitamento de recursos humanos menos especializados, em muitos casos.
Certo é que, os trabalhadores, sejam eles rurais ou urbanos, necessitam estarem
motivados na sua prática diária, para que bem executem suas atividades, propiciando
resultados que tragam retornos salutares à empresa em que estão instalados e à sua saúde em
sentido amplo (biopsicosocial).
A teoria das necessidades de Maslow esclarece que, além do salário (que auxilia na
satisfação das necessidades básicas), o trabalhador carece de outros estímulos que despertem
sua motivação ao trabalho. A aplicação destes conceitos à empresa rural, possibilita-nos
conhecer outros fatores relevantes que motivam o trabalhador em sua prática diária.
Acreditamos que os “recursos humanos”, “ as pessoas” ou numa linguagem moderna,
“os colaboradores” – não importando a denominação que se dê – são essenciais para garantir
a competitividade de toda organização, independente do setor em que ela atue. Portanto,
compreender a motivação, conhecer o que satisfaz e leva à realização do ser humano no
trabalho é função de qualquer empresa e de todo administrador.
Neste estudo, as necessidades de bom relacionamento e de auto-valorização aparecem
como principais motivadores, sobrepondo-se às outras necessidades humanas. Demanda-se
desta empresa, práticas administrativas e políticas de desenvolvimento de pessoal que estejam
alinhadas com as necessidades e desejos de seus trabalhadores, bem como a implantação de
relações que favorecem um clima de liberdade, justiça e diálogo.
Monitoramentos constantes devem ser realizados com o intuito de conhecer cada vez
mais os seus colaboradores, permitindo com isso uma sintonia cada vez maior entre os
objetivos da empresa rural e os objetivos do trabalhador. Para isto é fundamental a percepção
do ser humano como um ser capaz, que caminha sempre em busca do seu autodesenvolvimento e de sua auto-realização – um eterno “vir a ser” - como propõe Maslow.
4. CONCLUSÃO
Buscou-se com este trabalho, através de uma pesquisa de caráter exploratório em uma
fazenda, conhecer os principais fatores que motivam o trabalhador da empresa rural.
9
O conhecimento destes fatores, no cenário atual, são essenciais para a garantia de
competitividade das empresas rurais.
As necessidades de amor ou sociais descritas por Maslow aparecem como as mais
relevantes para este grupo de trabalhadores, bem como as necessidades de estima. Grande
parte do grupo enfatizou a importância do bom relacionamento e a necessidade de
reconhecimento do seu trabalho.
Outro aspecto relevante encontrado nesta pesquisa refere-se à necessidade de autorealização (crescimento e desenvolvimento profissional), que apesar do baixo nível de
escolaridade, foi destacada pelos trabalhadores rurais entrevistados.
O salário e os benefícios, embora lembrados por alguns, não se constituíram em
fatores fundamentais para a motivação dos trabalhadores.
Apesar de tratar-se de um estudo de caso, esta é uma realidade que deve ser
considerada e levada em conta por outras empresas rurais.
Esperamos que novas pesquisas sejam realizadas, visando a aplicação dos conceitos
administrativos já reconhecidos, na empresa rural, ampliando o conhecimento nesta área.
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