14 INTRODUÇÃO Para nós estudantes do curso de Serviço Social, escrever sobre a História do Serviço Social no Brasil, lutas, conquistas, a ditadura, os congressos e militâncias foram de grande contribuição para nossa formação profissional. Expressar no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tudo aquilo que aprendemos durante a graduação e poder apontar nossas inquietações sobre a Política de Saúde brasileira que não reconhece o assistente social como um profissional da equipe mínima na atenção à Saúde da Família. Para tanto foi necessário um aprofundamento bibliográfico para melhor compreender o assunto. A escolha do tema Saúde da Família surgiu a partir do cotidiano das autoras como agente comunitária de saúde, auxiliar de enfermagem e estagiário no NASF, em uma unidade do município de Guarulhos, podendo-se apontar algumas situação. Nos últimos anos, assistimos a uma reestruturação do sistema de saúde brasileiro, o modelo centrado na cura e no profissional médico passa a enfatizar a promoção, proteção e recuperação da saúde. O PSF – Programa Saúde da Família que foi introduzido no Brasil em 1994, pelo Ministério da Saúde, tendo como precursor o PACS - Programa de Agente Comunitário estabelecendo um relacionamento mais próximo com a população. Contextualizar que a criação do NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família é uma diretriz do MS – Ministério da Saúde para os municípios, de acordo com a Portaria 154/2008, após a implantação do ESF fez-se necessário à implantação destes Núcleos de Apoio, onde os profissionais dão suporte as equipes de saúde da família, na diretriz do MS o município deve optar pelo modelo de NASF de acordo com seu número de habitantes, a Portaria disponibiliza dois modelos de NASF, onde Guarulhos optou pela implantação 15 do NASF 2, com o mínimo de profissionais, sendo que o NASF 1 teria uma gama maior de profissionais para atendimento a população. Neste contexto, esta pesquisa exploratória tem como objetivo refletir sobre o as políticas de saúde na atenção básica apontando a importância e necessidade da inserção do assistente social na equipe da Saúde da Família. Este TCC está estruturado da seguinte forma: - Capítulo I: História do Serviço Social no Brasil. Discute-se os conflitos entre o proletariado e a burguesia. A implantação do Serviço Social se dá no decorrer desse processo histórico, não como medidas coercitivas por parte do Estado e sim, da iniciativa particular e de grupos e frações de classes que se manifestam principalmente por meio da Igreja Católica. Neste cenário a questão social configura-se de diversas maneiras. - Capítulo II – Serviço social na área da saúde. Apresenta-se a história do Serviço Social no tocante a Saúde e, a implantação de Programas específicos como a Estratégia em Saúde da Família e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Por fim, no Capítulo III – A Inserção do assistente social na Estratégia em Saúde da Família apresenta-se algumas considerações sobre a necessidade da Inserção do profissional, por ser um profissional qualificado para leitura de realidade e intervenção na garantia de direitos da classe trabalhadora. 16 CAPITULO I A HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL 17 1. CAPÍTULO I: A HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL O Brasil a partir da década de 1930 entrou em um período de desenvolvimento econômico, e isso refletiu no aumento da renda per capita, dos salários reais e do consumo. Com isso deu-se o vasto crescimento da população e da urbanização que trouxe consigo problemas de assistência, educação, habitação, saneamento básico, de infraestrutura e tantos outros. Na medida em que a industrialização avançava, crescia a concentração da renda, ampliando-se as desigualdades sociais, aumentando tensões nas relações de trabalho e agravando-se a questão social. Nesta década o Estado brasileiro era regido pela Constituição Brasileira de 1891, onde se negava a intervir nos conflitos entre patrões e empregados e não se admitia a intervenção direta do Estado na economia, atuava simplesmente como um regulador das forças econômicas, administrando, cobrando impostos, fornecendo meios de comunicações e transportes baratos para a circulação de mercadorias. O governo populista, que assumiu o poder logo após a Revolução de 1930, reconheceu a existência da questão social, que passou a ser uma questão política, a ser enfrentada e resolvida pelo Estado. A partir do momento em que a sociedade burguesa vê como ameaça a luta defensiva do operário à exploração abusiva a que é submetido, há a necessidade que o controle social da exploração da força de trabalho seja feito pelo Estado, através de uma regulamentação jurídica do mercado de trabalho. Diante disso começam aparecer às leis sociais para responder aos movimentos sociais desses operários, pois ao exporem o problema, exigem modificações na composição de forças dentro do Governo e no relacionamento deste com as classes sociais, portanto, podemos dizer que a questão social é a formação da classe operária dentro do cenário político e de seu reconhecimento para o Estado e das implantações de políticas que atendam seus interesses, sendo assim, a “questão social” constitui-se, essencialmente, da contradição entre burguesia e proletariado. 18 No decorrer desse processo histórico, da iniciativa particular de grupos e de frações de classe que se manifestam por intermédio da Igreja Católica ocorre à implantação do Serviço Social. As duas primeiras décadas são marcadas por manifestações operárias, em que o Estado e a elite republicana são dominados pelos setores burgueses e incapazes de tomar qualquer decisão em favor do proletariado. A preocupação do empresariado com o social aparece apenas a partir do término da Segunda Guerra Mundial e representa uma nova fase do capitalismo; a adesão às novas formas de dominação e controle do movimento operário será dada pelo populismo e desenvolvimento da Era Vargas. Com os grandes movimentos sociais fica então colocada definitivamente para a sociedade a “questão social” e a análise da posição da Igreja frente a esta, de maneira que, a Igreja seja vista não só como instituição social de caráter religioso, mas também, por sua participação na dinâmica da posição contrária de classe da sociedade na qual está inserida. Segundo Bravo (2006), relata que o desenvolvimento capitalista, tendo por núcleo central da acumulação a economia cafeeira, traz contraditoriamente o aprofundamento da industrialização, a urbanização acelerada, com a diferenciação social e a diversificação ocupacional resultantes da emergência do proletariado e da consolidação dos estratos urbanos médicos. O Estado Novo tem uma política vinculada a uma estrutura corporativista, em que reprime e destrói a organização política sindical autônoma. O Estado tem o objetivo de expandir a acumulação, intensificar a exploração da força de trabalho através das medidas de legislação social e sindical que estão relacionadas às redefinições das relações do Estado com as diferentes classes sociais. Neste cenário, a Igreja Católica ganha um campo de intervenção na vida social através da conjuntura política e social, visando desempenhar um importante papel para o novo regime e disputar a delimitação das áreas de 19 competências de controle social e ideológico com o objetivo de conquistar posições sólidas na sociedade civil. Na década de 30 surge em São Paulo o CEAS - Centro de Estudos e Ação Social, sob o controle e incentivo da Igreja, a partir do “Curso Intensivo de Formação Social para Moças”, promovido pelas Cônegas de Santo Agostinho, para o qual foi convidada a Mademoiselle Adéle Loneux, da Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas. As atividades do CEAS se orientarão para a formação técnica especializada de quadros para a ação social e para a difusão da doutrina social da Igreja. Ainda nesta década, a partir dos esforços desenvolvidos por esse grupo e do apoio da Igreja, é fundado a Escola de Serviço Social de São Paulo. Além das atividades do CEAS começa a aparecer outro tipo de demanda, partindo de certas instituições estatais e são vistas como conquistas significativas. Organização parcial: o Serviço Social dos Casos Individuais, a Orientação Técnica das Obras Sociais, o Setor de Investigação e Estatística e o Fichário Central de Obras e Necessitados. O método central: Serviço Social de Casos Individuais passa a chamar Departamento de Serviço Social. Em 1935 cria-se o Departamento de Assistência Social do Estado, através da Lei n. 2497, de 24.12.35, onde a maior parte dos artigos é dedicada à assistência ao menor1. Apenas um único artigo se refere ao Serviço de Proteção ao Trabalhador. A gestão da assistência social adota uma formação técnica especializada desenvolvida pelas instituições particulares, além da sua intervenção na regulamentação do trabalho e da exploração da força de trabalho. Assim, o Estado regulamenta, incentiva e institucionaliza o trabalho dos Assistentes Sociais. 1 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990, é a nova normatização jurídica brasileira que substituiu o nosso 2º Código de Menores, Lei Federal nº 6.697, de 12 de outubro de 1979. A alteração do ‘nome’ do corpo de normas - de Código para Estatuto -, o afastamento do uso do termo menor, substituído pelas categorias criança e adolescente, o advento da Doutrina de Proteção Integral, em substituição à Doutrina da Situação Irregular -consagrando a criança e o adolescente como sujeitos de direitos. 20 Para atender as demandas do Estado a Escola de Serviço Social passa por rápidos processos de adequação. O portador dessa qualificação se transforma em um componente de força de trabalho, junto à divisão social e técnica do trabalho. 2.1. Instituições Assistenciais e Serviço Social Em 1937, inicia-se uma fase marcada pela política industrial e um modelo corporativista. As entidades representativas da burguesia industrial e sua participação aparecem no quadro corporativo do Estado, que indicam delegados para planejar e programar as políticas estatais. A Legislação Social tem um papel importante na integração para regulamentar e disciplinar o mercado de trabalho, conquistando o avanço da subordinação do trabalho ao capital. O Estado procura a integração e a mobilização controladas dos trabalhadores urbanos e a falsificação burocrática de suas reivindicações. A paz social do Estado pressupõe o surgimento constante de novas instituições: Seguro Social, Salário Mínimo, Assistência Social, Justiça do Trabalho, dentre outras.O surgimento dessas grandes instituições sociais está ligada ao aprofundamento das contradições iniciadas a partir da Segunda Guerra Mundial juntamente com a crise política e social. Na carta Constitucional de 1934, fica clara a primeira legislação Federal a respeito dos Serviços Sociais, onde fica obrigatório assegurar o amparo aos desvalidos e se fixa a destinação de 19 das rendas tributáveis à maternidade e a infância. A primeira medida legal nesse sentido será dada em 1938 (Decreto-Lei n.525, de 01.07.30) que institui a organização nacional do Serviço Social, enquanto modalidade de serviço público. Cria-se, também, junto ao Ministério da Educação e Saúde, o Conselho Nacional de Serviço Social, com as funções de órgão consultivo do governo e das entidades privadas, e estudar os problemas do Serviço Social. (IAMAMOTO E CARVALHO, 2009, p.249). 21 Após 1939, aparece uma retomada capitalista exigindo do Estado uma maior intervenção no mercado de trabalho, surge o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, para responder à necessidade básica de qualificação de força de trabalho necessária a expansão industrial. Com a participação do país na Segunda Guerra Mundial, surge a primeira campanha assistencialista de nível nacional com a criação da LBA Legião Brasileira de Assistência. O SENAI surge em 1942, através de um Decreto-Lei Federal a fim de organizar e administrar as escolas de aprendizagem para industriários, atribuindo à Confederação Nacional da Indústria a função de gerenciá-la, e está entre as primeiras instituições a incorporar e teorizar o Serviço Social, não apenas enquanto serviços assistenciais corporificados, mas também enquanto processos postos em prática para a obtenção de fins determinados, utilizando para tal as práticas e as técnicas de Caso e de Grupo. O Serviço Social no SENAI se destaca em dois pontos, na ação ideológica de ajustamento e na coordenação da utilização dos serviços assistenciais corporificados. O Estado e o empresariado apresentam uma mudança em seu comportamento assistencial, passando a ter atitudes de uma política mais envolvida representada por uma nova racionalidade. A educação e a saúde aparecem como consumo produtivo na produção, conservação e reprodução da força de trabalho. Como trabalhador assalariado o assistente social aparece como produtor de serviços que são necessários às existências e a maior produtividade dos trabalhos diretamente produtivos, fazendo parte teoricamente do quadro de funcionários na estrutura do SENAI. Tendo por base as experiências do SENAI, surge o SESI – Serviço Social da Indústria, que é oficializado em 1946, com a atribuição de estudar, planejar e executar medidas que favoreça para o bem estar do trabalhador na 22 indústria, fazendo parte da mudança da posição do empresariado em relação à questão social. A redemocratização2 de 1945 representa um momento importante da redefinição das formas de dominação política, apesar da manutenção de aspectos importantes da estrutura corporativa para a organização sindical dos trabalhadores urbanos e a desmoralização e o desmoronamento de uma série de mecanismo de controle e atenuação da repressão e principalmente à necessidade de legitimação do poder junto às grandes massas. Diante disso, o SESI surge como mais uma instituição assistencial através da desmoralização dos círculos operários e de outras formas de intervenção no movimento operário. No período de 1945 a 1946 aparecem às primeiras experiências de eleições democráticas, que contribui para o aparecimento de outras instituições, como a Fundação Leão XIII. Com a implantação e o desenvolvimento dessas grandes instituições sociais, são fornecidos mecanismos para a existência de um crescente mercado de trabalho, contribuindo para um desenvolvimento rápido do ensino de Serviço Social, e legitimando e institucionalizando a profissão e os profissionais de Serviço Social. Nesse sentido a LBA se torna um mecanismo importante para a reorganização do assistencial privado e o desenvolvimento do Serviço Social, além disso, forneceram um apoio as escolas especializadas existentes e facilitou o surgimento de escolas de Serviço Social nas capitais de diversos Estados, atuando junto ao movimento de ação social católica. O empresariado adere à política de controle social, porém procura fugir de suas responsabilidades reclamando do funcionamento integral por parte do Estado e aceitando apenas em última instância a participação que lhe é imposta pelo Estado. 2 No dia 2 de dezembro de 1945, foram realizadas eleições para a presidência da República e para a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Na ocasião, a chefia de governo estava a cargo de José Linhares, que em 30 de outubro, em seguida à ação militar que depôs Getúlio Vargas e pôs fim ao Estado Novo, havia deixado a presidência do Supremo Tribunal Federal para assumir a presidência da República. 23 As novas posições da Ação Social Católica foram marcadas com o II Congresso Brasileiro de Direito Social em 1946. A partir daí, o Direito Social tem o papel de articular os diferentes grupos sociais de forma que estes se submetam ao bem comum. O Serviço Social é reafirmado como o elemento essencial para a intervenção entre capital e trabalho. [...] o profissional assumiu a execução de serviços sociais, pautado numa ação educativa e integrativa, visando suprir carências, solucionar problemas sociais, prevenir e, com base na atividade assistencial, buscou o enquadramento das relações sociais vigentes, reforçando a mutua colaboração entre capital e trabalho (CESAR, 1999, p.170). Para o funcionamento do SESI o empresariado fica legalmente obrigado a uma contribuição mensal equivalente a 2% da folha de pagamento sob a intervenção do Estado. O SESI tem por objetivo a prestação de serviços assistenciais e o desenvolvimento de relações industriais alcançando uma parcela da população urbana, além de ser a primeira instituição com recursos e sob a direção do empresariado. A construção industrial e o trabalho coletivo que se realiza no SESI viabilizam as passagens técnicas sociais utilizadas pelos assistentes sociais, de diversas direções, a mecanismo de controle social e político de uso estendido. O Serviço Social deixa de se ater apenas as atividades de coordenação dos serviços assistenciais para se vincular mais profundamente ao enfrentamento direto entre o capital e o trabalho. As práticas sociais desenvolvida no SESI são caracterizadas pela radicalização na utilização como instrumento de composição e organização autônoma da classe operária e de lutas políticas anticomunistas. 24 2.2. O Resgate Teórico e Metodológico A partir da década de 60 foram reformuladas e redimensionadas as condições dos procedimentos profissionais. Os governos de Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros tinham uma concepção de desenvolvimento humanista, que valoriza o profissional Assistente Social. Diante da demanda apresentada à profissão é necessária a qualificação dos profissionais para a inserção no mercado de trabalho. Assim, o Serviço Social caracterizado então por práticas sob orientação de instrumentos e técnicas tradicionais, houve um movimento interno na categoria que constrói os fundamentos, que vem a ser na década de 1970 o Movimento de Reconceituação do Serviço Social. [...] essencial e estruturalmente, esta perspectiva faz-se legatária das características que conferiam à profissão o traço microscópico da sua intervenção e a subordinam a uma visão de mundo que deriva do pensamento católico tradicional; mas o faz com um verniz de modernidade ausente no anterior tradicionalismo profissional, à base das mais explícitas reservas aos limites dos referenciais de extração positivista.” (NETTO, 2009, p.157). O Serviço Social tinha duas vertentes, uma que defendia a manutenção da origem conservadora adaptada às mudanças embasadas no modelo norteamericano psicanalista-tecnicista (caso, grupo e comunidade), e outra que sugeria mudanças, questionando delicadamente as estruturas sociais e tendo sua base ligada a Igreja Católica. No entanto, ambas as vertentes apresentavam traços conservadores do Serviço Social. A demanda do governo, na década de 1960, em relação aos profissionais assistentes sociais exigia uma ação no sentido de controle da população, de forma a adequá-la e submetê-la a ordem do governo ditatorial numa conjuntura de repressão, aumento da concentração de renda, de desemprego, inflação e de diminuição do poder de compra dos salários. [...] os Assistente Sociais consolidam importantes posições e campos de atuação no interior do equipamento social. [...] Apenas nas áreas ligadas a projetos e programas que se valem dos métodos de DC – Desenvolvimento de Comunidade e DOC - Desenvolvimento e 25 Organização de Comunidade se faz sentir essa preocupação. (IAMAMOTO E CARVALHO, 2009, p.343). Muitos profissionais se negavam a desenvolver essa prática, só a partir do Movimento de Reconceituação, segundo Netto (2009), é desenvolvida uma disputa entre projetos políticos que divergem no interior da profissão. Tal disputa é polarizada por três vertentes teórico-metodológicas denominadas: Modernizadora, Reatualização do Conservadorismo e Intenção de Ruptura. De acordo com Iamamoto (2006) o movimento de Intenção de Ruptura possibilitou uma nova abordagem à profissão, uma apreensão construída pela categoria não mais atribuída como nos primórdios da profissionalização. Assim, o significado social da profissão é aprendido na complexidade das relações sociais que esta categoria estabelece na realidade, sendo necessária a sua compreensão na totalidade das relações sociais em várias dimensões do exercício profissional, na sua relação com o usuário e na relação com o seu empregador. [...] o significado social da profissão deve ser compreendido a partir do caráter contraditório da prática profissional nas relações sociais, na reprodução destas relações, na reprodução da própria sociedade capitalista, na sua totalidade, inclusive das suas contradições e antagonismos. Iamamoto (2006) e Martinelli (2007) afirmam que, o Serviço Social constitui uma instituição que emerge e se desenvolve no interior da sociedade capitalista, constituída e desenvolvida na dinâmica das relações sociais estabelecidas nesta. Sendo uma particularidade da mesma, por isso, não está fora desta dinâmica societária, uma vez que, é realizada e materializada nesta e consequentemente influi e participam na reprodução e materialização histórica desta ordem societária, de acordo com as características das relações sociais desenvolvidas nesta sociedade, apresentadas em contextos sóciohistórico determinados. Conforme as autoras, o exercício profissional do assistente social tem caráter interventivo, pois é demandado e contratado como profissional pelo capital, com o objetivo de intervir nas manifestações da “questão social” 26 sofridas pela classe trabalhadora. Neste contexto, destaca-se a importância do Projeto Ético-Político Profissional, o qual tem o objetivo de orientar o exercício profissional, a partir de princípios embasados na liberdade e na democracia e que prima por uma ação profissional comprometida com a classe trabalhadora e não pela defesa e manutenção da burguesia. Esse contexto que fortaleceu e impulsionou a vertente de Intenção de Ruptura a se tornar hegemônica na categoria e a assumir a direção da profissão, a partir da necessidade de construção da identidade profissional, os profissionais buscam outro arcabouço teórico que compreenda a sociedade burguesa e suas contradições. O Movimento de Reconceituação do Serviço Social constitui o processo que buscou romper com o Serviço Social tradicional, desenvolvendo entre a categoria um debate crítico em torno da profissão, os avanços teóricos e políticos que permeiam no cotidiano desta, expressos pelo Movimento de Reconceituação do Serviço Social, admitindo a importância da pesquisa científica e evidenciando um compromisso de classe, materializando a preocupação com a formação profissional, no tocante ao trabalho profissional, propondo o rompimento com a ideologia dominante e a vinculação do exercício profissional aos interesses dos usuários. [...] a ruptura com a herança conservadora expressa-se como uma procura, uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do Assistente Social, que, reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício profissional, busca-se colocar-se, objetivamente a serviço dos interesses dos usuários, Istoé, dos setores dominados da sociedade” (IAMAMOTO, 2000, p.37). As discussões desenvolvidas neste processo constituíram a base inicial da construção do Projeto Ético-Político Profissional, pela categoria, no seu movimento histórico. A proposta primária do Projeto Ético-Político Profissional é constituída pelo Código de Ética de 1986, posteriormente reformulado em 1993, pela Reformulação da Lei que Regulamenta a profissão, tendo sua 27 complementação com as Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social, aprovadas pela categoria em 1996. Com o movimento de Reconceituação desenvolvido pela categoria, inicia-se o movimento de intenção de ruptura, ou seja, o processo que busca romper com o conservadorismo na profissão. No momento da formação profissional, o debate desenvolvido pela categoria neste contexto de discussão da profissão, coloca a necessidade de se discutir e avaliar o projeto de formação que orientava a formação dos profissionais. Assim, são colocadas as bases para o debate do projeto de Formação Profissional, processo que está no auge da aprovação do Novo currículo Mínimo para os Cursos de Serviço Social em 1982. Nossa reflexão será norteada por Iamamoto, que afirma: Pensar a formação profissional no presente é, ao mesmo tempo, fazer um balanço do debate recente do Serviço Social, indicando temas a serem desenvolvidas, pesquisas a serem estimuladas para decifrar as novas demandas que se apresentam ao Serviço Social (IAMAMOTO, p.169, 2000). Temos a partir de uma reflexão crítica o projeto de formação profissional de Serviço Social construído e implantado pela categoria na década de 1980, que buscava a ultrapassagem da visão endógena da profissão e da vida universitária, buscando historicizar o debate com uma visão crítica, identificando as particularidades do Serviço Social. Assim, a categoria mantém o debate com o objetivo de romper com o conservadorismo, por meio da intenção de ruptura, o qual o serviço social brasileiro consolida a sua maturidade intelectual, alcança o reconhecimento e validação acadêmica como área de produção de conhecimento, determina o seu estatuto profissional e o seu significado social, define a sua relação com as demais disciplinas da área das ciências sociais e humanas, e, sobretudo, constrói e defende objetivos legitimados por um projeto de sociedade na defesa da liberdade, da democracia, dos direitos sociais e das políticas sociais públicas. 28 A fundamentação teórica que orientou o currículo de 1982 é a teoria social de Marx, que apresentou a compreensão de que a realidade é dinâmica, e devia ser compreendida a partir do movimento da história, porém, era contraditório, pois na disposição das disciplinas em teoria, história e metodologia, reproduziu a compreensão da distinção entre teoria e prática. O que se verifica no currículo de 1982 é a inexistência de uma lógica histórica no processo de formação profissional pela disposição das disciplinas de forma particularizadas de Teoria e Metodologia e História do Serviço Social, somada a divisão entre teoria e prática disposta nas ementas das disciplinas. Atualmente o Projeto Ético-Político-Profissional, busca romper com o conservadorismo, tem caráter hegemônico na profissão, se apresentando numa contínua construção no interior da categoria profissional, num processo de fortalecimento e ampliação da preocupação dos profissionais. Porém, apesar de ser hegemônico e buscar romper com o conservadorismo, apresenta ao mesmo tempo, por parte da categoria profissional, diversas manifestações conservadoras. Contudo, foi nesse movimento que se deu a sustentação para se pensar numa formação profissional comprometida coma a luta dos trabalhadores e consolidada na aprovação das Diretrizes Curriculares de 1996. O movimento que a categoria profissional do Serviço Social vem desenvolvendo com maior ênfase a partir da década de 1980, no auge da formação profissional, buscou articular a Formação Profissional e a demanda posta a profissão pelo mercado de trabalho. A direção desta articulação, objetiva apreender as demandas postas à profissão no contexto nacional, tanto demandas de ordens estatais, empresariais, como das demandas postas pelos movimentos sociais com novas configurações ou como consequências das respostas formalmente desenvolvidas através das políticas sociais às manifestações da “questão social”. A reformulação do currículo de 1982, que culminou no currículo de 1996, representou um momento decisivo para pensar a formação profissional comprometida com um novo projeto ético-político, manifestando a ruptura com 29 o conservadorismo. O movimento de reformulação busca construir uma proposta de formação profissional que forme profissionais aptos a responderem às demandas contemporâneas, que se constituem como consequência das mudanças desenvolvidas no modo de produção capitalista, que alteraram radicalmente a esfera da produção e do Estado tendo como estopim o agravamento das manifestações da “questão social”. Segundo Iamamoto (2000, p.172) uma “Reforma Curricular atenta às transformações nos padrões de acumulação capitalista – produção e gestão da força de trabalho – nas estratégias de dominação e no universo da cultura”. As mudanças desenvolvidas nos padrões de produção e acumulação capitalista representam uma resposta à crise que o processo de acumulação capitalista passa a sofrer a partir da década de 1970, quando tinha sua base estrutural no modelo fordista/ keynesiano – padrão da produção rígida. Ainda segundo a autora estas mudanças visualizadas no ‘mundo do trabalho’, não são alheias ao Serviço Social, as mesmas também ocorrem na relação de trabalho do Assistente Social e ao mesmo tempo com o usuário dos serviços sociais. [...] formação profissional possibilite aos assistentes sociais compreender criticamente as tendências do atual estágio da expansão capitalista e suas repercussões na alteração das funções tradicionalmente atribuídas à profissão e no tipo de capacitação requerida pela ‘modernização’ da produção e pelas novas formas de gestão da força de trabalho; (IAMAMOTO, 2000, p.180). Sob as manifestações da “questão social”, com o processo de flexibilização do sistema capitalista, vêm sendo complexa em suas múltiplas expressões e determinações, o Serviço Social tem a sua demanda profissional aumentada, diversificada. Neste sentido, é colocada a necessidade de construção de um projeto de formação profissional apto a formar profissionais capazes de aprender este contexto e de responder às demandas apresentadas a profissão. Os caminhos 30 percorridos historicamente, através de debates desenvolvidos pela categoria e que fundamentaram a construção do Projeto Profissional atual, materializado nas diretrizes curriculares aprovadas pela categoria em 1996 tem como ponto de partida a construção do Currículo Mínimo3 do Serviço Social de 1982, este aprovado na Assembleia Nacional da ABESS4 em Natal – RN. O debate crítico do Currículo Mínimo de 1982 e a construção das Diretrizes Curriculares aprovadas em 1996 foram um processo desenvolvido coletivamente pela categoria em âmbito nacional realizados em 200 oficinas locais em unidades de ensino filiadas a ABESS, 25 oficinas regionais e duas nacionais, sob a coordenação da ABESS, no período de 1993 a 1996, com a participação do CFESS - Conselho Federal de Serviço Social, CRESS Conselhos Regionais de Serviço Social e ENESSO - Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social. “A proposta das Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social apresenta como eixo central a “questão social” compreendendo que a perspectiva é, então, aprofundar a compreensão da ‘questão social’ como elemento que dá concretude à profissão, ou seja, que é ‘sua base de fundação histórico-social na realidade’, e que nesta qualidade, portanto deve constituir o eixo ordenador do currículo.” (ABESS, 1997, p.20-21), ou seja, a formação profissional tem como objetivo capacitar e orientar os profissionais para intervir nas expressões da “questão social”. Outra questão, que é materializada através das diretrizes é a consolidação da hegemonia da vertente de intenção de ruptura, que representa a fundamentação da orientação do projeto ético–político profissional. 3 O currículo mínimo foi aprovado sob o Parecer 412/82 pelo Conselho Federal de Educação com prazo de dois anos para ser implementado nas escolas de Serviço Social. 4 Na ocasião denominada de ABESS – Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social. Atualmente, denominada de ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, desde dezembro de 1998 quando houve a fusão da ABESS com o então CEDEPSS – Centro de Documentação e Pesquisa em Serviço Social. 31 CAPITULO II SERVIÇO SOCIAL NA ÀREA DA SAÚDE 32 3. O SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE Iniciamos este capítulo com um breve relato sobre a História da Saúde no Brasil com a finalidade de apresentar as diretrizes do SUS - Sistema Único de Saúde, e abordarmos a implantação do ESF- Estratégia em Saúde da Família, junto com esse novo modelo de assistência insere-se como um apoio ao ESF o NASF- Núcleo de Apoio a Saúde da Família, o intuito é compreender como essas Políticas de Saúde foram implantadas e a inserção do Assistente Social dentro dessa política. 3.1. A SAÚDE NOS ANOS DE 1920 a 2010 A Assistência a Saúde dos trabalhadores se deu, através da industrialização nos países centrais, tendo como espelho a medicina social 5, foi uma conquista da classe trabalhadora, para manutenção da ordem social capitalista e a mediação das relações entre classes sociais. Segundo Bravo (2006), a Saúde Pública, na década de 1920, adquire novo relevo no discurso do poder. Há tentativas de extensão dos seus serviços por todo o país. A reforma Carlos Chagas, de 1923, tenta ampliar o atendimento à saúde por parte do poder central, constituindo uma das estratégias da União de ampliação do poder nacional no interior da crise política em curso, sinalizada pelos tenentes, a partir de 1922. Surge em 1920 as Políticas Sociais, para responder as questões sociais de uma forma orgânica e ordenada de ordem geral inclusive a de saúde que precisava ser aprimorada. Era necessário criar um modelo de assistência que atendesse as necessidades dos trabalhadores, os trabalhadores eram peças importantes no cenário político, com isso ocorreu a aceleração da urbanização e o aumento da classe trabalhara, e a precarização das condições de trabalho. 5 Medicina Social, um corpo de conhecimentos e ações, e métodos para adquirir conhecimentos e realizar ações referentes à atenção médica na sociedade. 33 É neste período que a saúde avança aonde viria beneficiar os trabalhadores das grandes indústrias visando à questão da higiene e saúde destes, assim nascem as CAPs - Caixas de Aposentadorias e Pensões, os trabalhadores contribuíam mensalmente com um valor, tendo como administrador desta alguém eleito pelo Presidente da República. A partir daí os trabalhadores passavam a ter direito a assistência médica curativa, pensão por morte para seus familiares no caso de falecimentos do trabalhador, auxílio invalidez e aposentadoria por tempo de serviço. Na década de 20 o governo começa a analisar que os modelos das CAPs, estavam aumentando os gastos para os seus financiadores, pois com a crescente massa de trabalhadores, isso se tornou um impasse no sistema financeiro já que uma parte da CAPs era financiada pela União então se pensou na separação de previdência e assistência social, diminuindo-se então os limites de atendimento médico hospitalar e farmacêutica. Nesta época a política de saúde era organizada em duas vertentes: saúde pública e medicina previdenciária, em que na saúde pública visava-se o mínimo as populações urbanas(campo), enquanto que, a medicina previdenciária só passou a funcionar a partir de 1966. A saúde pública tinha como um de seus primórdios as campanhas sanitaristas, interiorização das ações nas áreas de endemias rurais, em decorrência dos grandes fluxos de mão-de-obra para os grandes centros e combates as endemias. De acordo com Bravo (2006), a medicina previdenciária, que surgiu na década de 30, com a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), pretendeu estender para um número maior de categorias de assalariados urbanos e seus beneficiários como forma de “antecipar” as reivindicações destas categorias e não proceder a uma cobertura mais ampla. 34 Os IAP’s foram criados de acordo com a capacidade de organização, mobilização e importância da categoria profissional, processo de unificação dos IAPs já vinha sendo gestado desde 1941. Em 1960 foi promulgada a lei 3.807, denominada Lei Orgânica da Previdência Social, que veio estabelecer a unificação do regime geral da previdência social, destinado a abranger todos os trabalhadores sujeitos ao regime da CLT, excluídos os trabalhadores rurais, os empregados domésticos e naturalmente os servidores públicos e de autarquias e que tivessem regimes próprios de previdência. Segundo Oliveira e Teixeira Fleury (1986), apud Bravo (2006) p.94, a Saúde era para aqueles que tinham carteira assinada, houve uma extensão da cobertura para áreas urbanas, incluindo trabalhadores informais empregadas domésticas e trabalhadores autônomos. Após 1973, a cobertura previdenciária contempla os trabalhadores rurais, empregadas domésticas e trabalhadores autônomos passam a atender quase toda população urbana, as empresas começaram a implantar dentro dos grandes pólos industriais um complexo médico industrial conforme o capitalismo crescia maior era o controle por parte do Estado sobre os trabalhadores. O Estado começa a privilegiar a medicina privada, pois tinha passado a trazer lucro para o setor da saúde, devido à expansão do capitalismo no Brasil, com diferença no atendimento dos clientes. O bloco do poder instalado no aparelho estatal em 1964, não conseguindo, ao longo de dez anos, consolidar a sua hegemonia, precisou gradualmente modificar a sua relação com a sociedade civil. Houve a necessidade de estabelecer novos canais de mediação, que legitimassem a dominação burguesa e suas consequências políticas, econômicas e sociais (Bravo, 2006. p.94). 35 Através da pressão popular entre os anos de 1974 e 1979, o governo precisa equiparar o atendimento da saúde pública com um atendimento da saúde privada, que demandava um grande gasto, nesta época eram oferecidas pelo Estado as ações curativas, ou seja, ações que ajudam a compreender suas dificuldades e angústias, buscando possíveis soluções e alternativas de novos caminhos para alcançar melhoria na sua qualidade de vida. O Movimento Sanitário Brasileiro, a partir da década de 1970, intercedeu por transformações no sistema de saúde vigente, incluindo mudanças no modelo de atenção à saúde, com a adoção de medidas que permitissem e garantissem a participação da sociedade civil nas decisões. Nesta perspectiva, uma das principais reivindicações foi à criação de conselhos de saúde. Estes representaram na época de sua criação e institucionalização, demonstrações institucionais de um processo amplo de re-ordenamento das relações Estadosociedade. No Estado de São Paulo, nesta mesma época foi criada a Comissão de Saúde da região do Jardim Nordeste (zona leste da cidade de São Paulo), que também foi responsável pela organização geral do Movimento de Saúde na região e pela dispersão em outros grupos comunitários da cidade desse tipo de discussão e atuação em torno da questão da cidadania e saúde. O Movimento de Saúde da Zona Leste (MSZL) tornou-se uma referência na área da participação popular em saúde e cumpriu um papel fundamental na criação e solidificação dos espaços institucionais de participação, que foram estabelecidos constitucionalmente em 1988. Na formação do movimento de saúde da zona leste acompanhamos um processo pelo qual uma carência é percebida como negação de um direito que provoca uma luta para conquistá-lo [...] alguns dos bairros mais pobres da periferia leste da capital, detectamos a presença de dois outros agentes cuja intervenção foi decisiva: a Igreja Católica e um grupo de médicos sanitarista (SADER, 2001, p.261). O papel dessa Comissão de Saúde era organizar a luta por meio de reuniões semanais realizadas na paróquia ou na casa de uma das mulheres 36 participantes. As reuniões eram abertas para quem quisesse participar e nelas eram discutidos temas como a situação do bairro, as reivindicações a serem feitas e a organização de assembleias públicas e de carreatas e caravanas para pressionar os dirigentes da Secretaria de Estado da Saúde (SES), de São Paulo. Como obra da luta do grupo, o Centro de Saúde do Jardim Nordeste foi inaugurado em 1979, em um imóvel alugado pela SES. No mesmo ano, foi criado o Boletim de Saúde para ser um veículo de comunicação entre a Comissão de Saúde e a população. Reivindicações em torno dos serviços de saúde já haviam sido levantadas antes. Em 1972 em grupo de mulheres do Jardim IV centenário, vila do bairro de São Mateus, havia começado a debates a falta de hospitais e centros de saúde na região. Depois de varias reuniões na igreja, elas foram em, elas foram à comissão até a Secretaria da Saúde levar a reivindicação de um centro de saúde para o bairro (SADER, 2001, pg.263/264). Após a instalação do Centro de Saúde e de seu funcionamento em bases consideradas satisfatórias, as reivindicações passaram a ser dirigidas para outras questões consideradas importantes pelo grupo. O objetivo era garantir as conquistas alcançadas e ampliar a área de atuação. Um modelo importante foi às reivindicações para a criação de um conselho supervisor, formado por moradores da região que usavam os serviços oferecidos pelo Centro de Saúde, para acompanhar o trabalho ali desenvolvido: “as demandas cruzaram a fronteira da área no sentido que expandiam o nível e o tipo das reivindicações”. Depois de várias reuniões na Igreja, levaram suas reivindicações a Secretaria de Saúde para ter um centro de saúde para o bairro. O movimento ganhou força com a chegada de médicos na comunidade, que transmitiu informações sobre as enfermidades e suas causas e qual seria o dever do Estado para assegurar a população. 37 Em face de tão sombria perspectiva, o Dr. Jackson comunicou que não seria preciso ir até a secretaria, porque já estava sendo providenciado um lugar melhor para a instalação de centro de saúde do Jardim Nordeste. Finalmente, em março de 1978, abriram o posto de saúde (SADER, 2001,pg.271). No âmbito da saúde os médicos tinham certa autoridade moral que fazia efeito sobre a população, apoiando atividades realizadas pela Pastoral da Saúde visitando favelas, promovendo cursos de primeiros socorros, orientações para gestantes, etc. Com base nas experiências anteriores perceberam que apenas o abaixo-assinado não tinha força suficiente para pressionar as autoridades, mais sim quando notarem que por trás do abaixo-assinado a população continua se organizando, consciente do direito e se mobilizem para continuar pressionando para alcançar seus objetivos, tendo assim um significado maior. Foi a partir de atendimentos feitos por médicos estudantes e sua professora nas dependências da igreja que a comunidade entendeu a insegurança do atendimento e que de fato precisavam de melhores condições de serviço de saúde. Em 1976 chegaram os primeiros 50 médicos sanitaristas da Rede Pública da Secretaria da Saúde, entre eles havia os que eram considerados de esquerda e os que predominavam. O que se pretendia era levar os conhecimentos sobre as causas sociais das doenças, a disposição demonstrada por alguns médicos de colocar em pratica o serviço de organização popular teria um papel decisivo na consolidação do movimento, fazendo uma ligação entre o Estado e os movimentos populares. O depoimento anterior, de um daqueles estudantes, já expressava certa visão crítica dos encaminhamentos propostos pelos agentes pastorais. No caso, considerava que o abaixo-assinado havia se tornado uma rotina sem maior eficácia além da auto-satisfação dos seus promotores. Porque ele havia simplesmente sido entregue ao agente pastoral, que o enviou às autoridades (SADER, 2001, p.265). 38 A década de 80 foi muito importante para os movimentos sociais por saúde porque as conquistas foram ampliadas, graças ao reconhecimento público das lideranças e ao fortalecimento da organização popular nas diversas regiões. O Movimento de Saúde da Zona Leste (MSZL), por exemplo, passou a definir, mais claramente, seus princípios e objetivos e sua relação com a política em geral, com os partidos políticos, com outras entidades civis, com os movimentos populares e com o Estado. Diante desses debates, as principais propostas eram que a saúde passasse a ser um direito social e dever do Estado, surge então à reestruturação da estratégia do sistema de saúde onde se pensa no reordenamento setorial com um novo olhar para a saúde individual e coletiva, usando as varias esferas de ordem municipal e Estadual através do financiamento efetivo das políticas de saúde onde o poder local será responsável pela gestão. Um marco histórico na questão da saúde foi a 8ª Conferência, onde houve uma grande participação da sociedade e, delegados os itens discutidos priorizavam o direito a saúde, esse debate fugiu a regra, pois a participação de entidades representativas com sindicatos, partidos políticos, associações não se esquecendo dos moradores foram proposto não somente um Sistema Único de Saúde6, mas Reforma Sanitária7. 6 O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros. Além de oferecer consultas, exames e internações, o Sistema também promove campanhas de vacinação e ações de prevenção e de vigilância sanitária – como fiscalização de alimentos e registro de medicamentos –, atingindo, assim, a vida de cada um dos brasileiros. 7 No Brasil, a noção de Reforma Sanitária vem sendo associada à de movimento. Isso traz implicações importantes. Movimento significa processo, fenômeno dinâmico e inacabado. Sendo um processo em curso e sem final predeterminado, demarcar seu início também é tarefa complexa. A Reforma Sanitária brasileira tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores da área da Medicina Social, que a partir de fins dos anos 70 passou a ser denominada, no Brasil, Saúde Coletiva. À produção desse conhecimento realizada no âmbito das universidades e pulverizada pelas diferentes unidades, associaram-se profissionais médicos militantes da rede pública de serviços na criação, em 76, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, na reunião daquele ano da SBPC, então um importante fórum político dos cientistas brasileiros no combate ao autoritarismo vigente, constituiu-se o CEBES com a 39 A Assembleia Constituinte, com a relação à Saúde, transformou-se numa arena política em que os interesses se organizaram em dois blocos polares: os grupos empresariais, sob a liderança da Federação Brasileira de Hospitais [...] representadas pela Plenária Nacional pela Saúde na Constituinte, órgão que passou a congregar cerca de duas centenas de entidades representativas do setor (BRAVO, 2006. p.97). 3.2. Reforma Sanitária O movimento da reforma sanitária culminou com a realização da 8 a Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu em março de 1986, com a participação de diversos setores da sociedade e na qual houve consenso sobre uma necessária e ampla reestruturação financeira, organizacional e institucional do setor saúde no Brasil indo ao encontro de uma ampliação do conceito de saúde. Assim, a saúde deveria estabelecer uma estreita relação com as condições de vida dos cidadãos, como moradia, alimentação, trabalho, lazer e renda. Após esta conferência, com a criação da Comissão Nacional da Reforma Sanitária, iniciou-se a implementação das políticas naquele momento sugeridas. O relatório obtido serviu de base para a Constituição de 1988, que preconiza um SUS - Sistema Único de Saúde. Esse novo modelo, inscrito na própria Constituição brasileira de 1988 no Art. n° 196 estabelece a saúde como direito de todos os cidadãos e dever do Estado, garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Pode-se dizer que três características definem o novo modelo: a criação de um sistema nacional de saúde, a proposta de descentralização e a criação de novas formas de gestão, que incluem a participação de todos os atores proposta de criação de uma revista - Saúde em Debate. O objetivo dessa publicação era veicular a nova perspectiva de análise da saúde, agora intimamente relacionada aos processos histórico-sociais. 40 envolvidos com a política (prestadores de serviços, trabalhadores, gestores e usuários), (VIANA e DAL POZ, 2012). Mas, (a regulamentação do SUS se dá apenas em 1990, a partir das Leis 8.080 e a Lei 8.142), a chamada Lei Orgânica da Saúde (LOS), que cumprem legalmente a proteção e defesa da saúde garantida na Constituição. A Lei 8.080 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Essa legislação regula as ações e serviços de saúde em todo território nacional, destaca a saúde como direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício; os fatores determinantes e condicionantes da saúde, entre eles a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; princípios e diretrizes do SUS; atribuições, organização, direção do SUS em cada esfera de governo, além do financiamento, planejamento, recursos humanos e relacionamento com o setor privado. Vários estudos destacam a importância desta lei para país, como Minayo et al. mostra que este conceito ampliado de saúde relaciona-se diretamente com a melhoria da qualidade de vida da população, tendo como patamar mínimo e universal a satisfação das necessidades humanas elementares. No entanto, a lei 8080/90 teve de ser complementada devido aos vetos recebidos, tendo sido criada e 28 de dezembro de 1990, a lei 8.142. Esta lei dispõe sobre a participação da comunidade gestão do Sistema Único de Saúde e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Dispõe que o SUS contará em cada esfera de governo com a Conferência de Saúde e o Conselho de Saúde; alocação e repasse de recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS); bem como as exigências para receberem tais recursos. 41 A partir de 1991 foi criada as Normas Operacionais Básicas (NOB’s) com o objetivo de colocar em prática os princípios do SUS através de regimentos operacionais que regulamentam a descentralização através da municipalização da saúde. Foram editadas as “NOBs’ 01/91, 01/93 e a 01/96. E NOAS SUS 01/2001 A regulamentação do SUS, através das Leis Orgânicas da Saúde e Normas Operacionais Básicas, estabelece princípios e direciona a implantação de um modelo de atenção à saúde que priorize a descentralização, universalidade, integralidade da atenção e o controle social. Ao tempo em que incorpora em sua organização o princípio da territorialidade para facilitar o acesso das demandas populacionais aos serviços de saúde. E a possibilidade de extensão de acesso aos serviços de saúde aos mais pobres e excluídos aí se apresenta, pois o controle e a destinação de verba pública pela sociedade civil, realizado de forma democrática e com justiça social, tendem a diminuir as iniquidades (FRIEDRICH, 2005). Neste mesmo período o país atravessava um período de grandes mudanças com declínio de crescimento populacional, da taxa de fecundidade e taxas crescentes para o grupo de terceira idade. Além disso, do ponto de vista epidemiológico, houve uma transição gradual dos problemas de saúde, com o predomínio as doenças não infecciosas, podendo ser chamada de crônicodegenerativa, no lugar de mortalidade por doenças infecciosas. E o crescimento de causas externas, como homicídios e acidentes (VIANA e DAL POZ, 2012). Esse novo perfil da população interferiu na forma como setor saúde estava organizado, exigiu e ainda exige cada vez mais, a adoção de novos tipos de ações, equipamentos e intervenções. Como por exemplo, ações voltadas para a idade adulta e para a terceira idade. Ações estas não apenas voltada para cura, mas visando a prevenção e promoção de forma a auxiliar a população a conviver com estas doenças crônico- degenerativa e ter uma melhor qualidade de vida (VIANA e DAL POZ, 2012). 42 Esse contexto incidiu de forma bastante aguda na demanda e na oferta de saúde, e passou a ser denominado, nos anos 90, de crise da saúde. A crise da saúde é uma das razões mais fortes para a partir de 1995, fossem propostas mudanças no modelo assistencial operado por meio do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Programa de Saúde da Família (PSF), provocando alterações na forma de organização dos serviços. Dessa forma, o PSF constitui uma estratégia de reforma do sistema de saúde no Brasil, tendo em vista que aponta para mudanças importantes na forma de remuneração das ações de saúde, nas formas de organização dos serviços e nas práticas assistenciais no plano local, e, portanto, no processo de descentralização (VIANA e DAL POZ, 2012). 3.3. PROGRAMA DE AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE (PACS) Para colaborar com as mudanças no modelo assistencial, o PACS foi formulado em 1991 tendo como objetivo central de estender a cobertura de ações de saúde às populações rurais e das periferias urbanas e principalmente ao grupo materno-infantil, para contribuir com a redução da mortalidade infantil e mortalidade materna. Inicialmente implantado na região Nordeste, com ações de informação e educação em saúde direcionada a esse grupo, foi estendido à região Norte, onde a epidemia de cólera demandou a ação emergencial dos agentes comunitários no controle e prevenção da doença. O PACS tinha como objetivo geral: incorporar ao Sistema Único de Saúde, agentes comunitários de saúde para desenvolver ações básicas de saúde; identificar os fatores determinantes do processo saúde-doença; funcionar como elo de ligação entre a população e os serviços de saúde, contribuindo assim, com a comunidade, no processo de aprender e ensinar a cuidar da sua própria saúde” (BRASIL. 2012—E). 43 Desse modo, o programa assume o agente comunitário de saúde (ACS) como articulador dos serviços de saúde à comunidade, incluindo entre as suas atribuições o desenvolvimento de ações básicas de saúde e atividades educativas individuais e coletivas. Contribuiria, ainda, na produção de informações que possibilitassem a análise e o monitoramento da ação de saúde. Tornando-se peça importante para organização do serviço básico de saúde no município. Sendo responsável pelo acompanhamento de 400 a 750 pessoas, dependendo das necessidades locais, que vivem no seu território de atuação, tendo suas atividades acompanhadas e orientadas por um enfermeiro da unidade de saúde, na proporção máxima de 30 agentes para cada enfermeiro, a qual atua como instrutor- supervisor, ministrando a capacitação desses ACS. Ressaltando que para a escolha do agente era considerado entre outras questões o fato de residir na área onde seria sua atuação, pois nada melhor do que o próprio morador para conhecer a realidade local. Dessa forma, pode-se afirmar que, o PACS auxiliou na implementação do SUS e na organização dos sistemas locais de saúde, pois o município que aderia ao programa era exigido certos requisitos. Entre eles estão o funcionamento dos conselhos municipais de saúde; a existência de uma unidade básica de referência do programa; a disponibilidade de um profissional de nível superior na supervisão e auxílio às ações de saúde e a existência de fundo municipal de saúde para receber os recursos do programa. Portanto, um instrumento de (re) organização dos modelos locais de saúde (VIANA e DAL POZ, 2012). 3.4. IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA O quadro que se segue apresenta a sistematização da história do PSF no país. O mesmo foi elaborado pelo MS em comemoração aos 10 anos do PSF no Brasil e foi divulgado no Informe da Atenção Básica. 44 Momentos relevantes na história do PSF no Brasil: Final Década 80 Início da experiência de agentes comunitários de saúde pelo ministério da saúde (MS). 1991 Criação oficial do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) Pelo MS. 1994 Realização do estudo: “Avaliação Qualitativa do PACS”. Criação do Programa de Saúde da Família (PSF). Primeiro documento oficial “Programa Saúde da Família: dentro de casa”. Criação de procedimentos vinculados ao PSF e ao PACS na Tabela do SIA/SUS. 1996 NOB 01/96 – Definição de novo modelo de financiamento para a atenção Básica à saúde com vistas à sustentabilidade financeira desse nível de atenção. Primeiro número dos “Cadernos de Saúde da Família: construindo um novo modelo.” 1997 Reforsus – Implantação dos Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Recursos Humanos para Saúde da Família. Segundo documento oficial “PSF: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial”,dirigido aos gestores e trabalhadores do SUS e instituições de ensino. O PACS e PSF são incluídos na agenda de prioridades da política de saúde. Publicação da portaria MS/GM n. ° 1.882, criando o Piso de Atenção Básica (PAB). Publicação da Portaria MS/GM n. ° 1.886, com as normas de funcionamento do PSF e do PACS. 1998 O PSF passa a ser considerado estratégia estruturante da organização do sistema de saúde. Início da transferência dos incentivos financeiros ao PSF e ao PACS, do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos Municipais de Saúde. Primeiro grande evento: “I Seminário de Experiências Internacionais em Saúde da Família.” Edição do “Manual para a Organização da Atenção Básica.”, importante respaldo organizacional para o PSF. Definição, pela primeira vez, de orçamento próprio para o PSF, estabelecido no Plano Plurianual. 1999 Realização do 1.º Pacto da Atenção Básica. Segundo grande evento: “I Mostra Nacional de Produção em Saúde da Família- construindo um novo modelo.” Lançamento do 1. ° número da “ Revista Brasileira de Saúde da Família. Realização do estudo “ Avaliação da implementação e funcionamento do Programa Saúde da Família.” Edição da Portaria n. ° 1.329 que estabelece as faixas de incentivo ao PSF por cobertura populacional. 2000 Criação do Departamento de Atenção Básica para consolidar a Estratégia de Saúde da Família. Publicação dos Indicadores 1999 do Sistema de Informação da Atenção Básica. 2001 Edição da “Norma Operacional da Assistência à Saúde – NOAS/01”, ênfase na qualificação da atenção básica. Terceiro evento: “II Seminário Internacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família”. Apoio à disponibilização de Medicamentos básicos para Equipe de Saúde da Família (ESF). Incorporação das ações de saúde bucal no PSF. Primeira fase do estudo: “Monitoramento das equipes de Saúde da Família no Brasil.” 2002 Quarto evento: “PSF – A saúde mais perto de 50 milhões de brasileiros”. Fase do estudo: “Monitoramento das equipes de Saúde da Família no Brasil.” 2003 Início da execução do Programa de Expansão e Consolidação da Estratégia de Saúde da Família (PROESF). Publicação dos Indicadores 2000, 2001 e 2002 do Sistema de Informação básica. Fonte: Brasil, 2012-C. Informe da Atenção Básica 21: dez anos de saúde da família Brasil. A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil a partir da década de 1990 representou uma importante inflexão no padrão historicamente consolidado de organização dos serviços de saúde no país. Financiado com recursos fiscais, o SUS fundamentou-se em três princípios básicos: Universalidade do acesso aos serviços em todos os níveis de assistência para todos os cidadãos brasileiros, independentemente de renda, classe social, etnia, ocupação e contribuição; Descentralização em direção aos estados e municípios, com redefinição das atribuições e responsabilidades dos três níveis de governo; e Participação popular no significado da política de saúde em cada nível de governo, bem como no acompanhamento de sua execução. Após as décadas de privilégio à atenção hospitalar, herança da medicina previdenciária, em que a alocação de recursos federais em estados e municípios se dava com base principalmente na produção de serviços e na 45 capacidade instalada, os esforços, programas e investimentos públicos passaram a se concentrar na atenção básica, com a adoção do Programa de Saúde da Família (PSF), por meio de incentivos financeiros específicos e da criação de mecanismos de transferência de recursos federais calculados com base no número de habitantes de cada município. Esses pressupostos, tidos como capazes de produzir um impacto positivo na orientação do novo modelo e na superação do anterior – calcado na supervalorização das praticas da assistência curativa, especializada e hospitalar, e que induz ao excesso de procedimento tecnológico e medicamentoso e, sobretudo, na fragmentação do cuidado encontram, em relação aos recursos humanos (Especialização em Saúde da Família, UNIFESP). A implantação do PSF é um marco na incorporação da estratégia de atenção primária na política de saúde brasileira, influenciado a formulação das políticas de saúde no Brasil, e seus princípios foram traduzidos no novo modelo de proteção social em saúde instituído com o SUS. Contudo, uma política específica, nacional, de atenção primária para todo o país nunca havia sido formulada, ainda que diversas experiências localizadas tenham sido implantadas de modo disperso. Surgido em 1994 e inicialmente voltado para estender a cobertura assistencial em áreas de maior risco social. Desde 1999, passou a ser considerado pelo Ministério da Saúde como uma estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde, com vistas a reorientar o modelo assistencial e imprimir uma nova dinâmica na organização dos serviços e ações de saúde. A ESF agrupa os princípios do SUS e se aborda os pressupostos da atenção primária em saúde, o primeiro contato, abrangência do cuidado, coordenação e orientação à família e às comunidades, procurando partir com a noção de uma atenção de baixo custo simplificada. […] procurando reorganizar o processo de trabalho em saúde mediante operações Intersetoriais e ações de promoção, prevenção e atenção à Saúde, permitindo a gestores, profissionais e usuários do SUS compreender a dinâmica dos lugares e dos sujeitos 46 (individual/coletivo), desvelando as desigualdades sociais e a iniqüidades em saúde (Especialização em Saúde da Família, UNIFESP). O padrão preconiza uma equipe de saúde da família de caráter multiprofissional (médico generalista, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agente comunitário de saúde) que trabalha com demarcação de território de abrangência, o cadastramento e acompanhamento da população residente na área. Almejar-se que a unidade de saúde da família constitua a porta de entrada ao sistema local e o primeiro nível de atenção, o que supõe a integração à rede de serviços mais complexos. Recomenda-se que cada equipe seja responsável por entre 600 e 1.000 famílias (2 400 a 4 500 habitantes). A equipe deve conhecer as famílias do seu território de abrangência, identificar os problemas de saúde e as situações de riscos existentes na comunidade, tal como, elaborar um programa de atividades para enfrentar os determinantes do processo saúde/doença, desenvolver ações educativas e Intersetoriais relacionadas com os problemas de saúde identificados e prestar assistência integral às famílias sob sua responsabilidade no âmbito da atenção básica. De acordo com as orientações da estratégia de Saúde da Família as ações de cada um dos componentes da equipe ficaram assim estabelecidas: Os ACS estabelecem a ligação entre as famílias e o serviço de saúde, realizando mapeamento das áreas, o cadastramento/diagnóstico, a identificação de micro áreas de risco e ações coletivas com vistas a mobilizar a comunidade. O médico atende a todos integrantes de cada família, independente de sexo e idade, e desenvolve com os demais integrantes da equipe ações preventivas e de promoção da qualidade de vida da população. O enfermeiro supervisiona o trabalho do agente comunitário e do auxiliar de enfermagem, realiza consultas na unidade de saúde, além de atender pessoas que necessitem de cuidados de enfermagem no domicílio. O auxiliar de enfermagem realiza procedimentos de enfermagem na unidade de saúde e no domicílio, e executa ações de orientação sanitária. 47 A implantação do ESF foi acelerada nos municípios de pequeno porte, com baixa ou nenhuma capacidade instalada. Entretanto, nos grandes centros urbanos, a implementação do ESF tem sido lenta, pois se encontrou com questões de maior complexidade relacionadas o agrupamento demográfico, ao elevado grau de exclusão no acesso aos serviços de saúde, a agravos de saúde típicos das grandes cidades e metrópoles e a uma oferta consolidada em uma rede assistencial desarticulada e mal distribuída. A grande questão diante destes trechos apresentados e como a equipe de saúde, discute os desdobramentos da Questão Social dentro da estratégia de saúde da organizacional família, do em modelo sua concepção, assistencial ao mudanças constituir na dimensão uma equipe multiprofissional responsável pela atenção à saúde de uma população circunscrita, definir o generalista como o profissional médico de atenção básica e instituir novos profissionais, a saber, os agentes comunitários de saúde, voltados para a ação comunitária, ampliando a atuação da equipe sobre os determinantes mais gerais do processo saúde-enfermidade. Perante algumas situações de saúde e adoecimento em nosso país, onde as doenças são definidas pelo perfil epidemiológico da população, frente a globalização, faz com que a população apresente agravos a saúde, onde surgem casos de violência sexual, doméstica, saúde mental, pobreza alto uso de drogas lícitas e ilícitas, entre outros agravantes. Tal função não basta em si mesma, e um aprofundamento é necessário para cada um se reconheça e reconheça também a atividade do outro e não perca de vista o trabalho compartilhado (Especialização em Saúde da Família, UNIFESP). Em 2008 o MS reconhece a necessidade de incluir novas categorias profissionais para atuar na atenção básica dando suporte as equipes da ESF. Através da portaria nº 154 de 24 de janeiro de 2008, cria-se os NASF - Núcleos de Apoio à Saúde da Família. 48 § 3º do Art.1º - Os NASF devem buscar instituir a plena integralidade do cuidado físico e mental aos usuários do SUS por intermédio da qualificação e complementaridade do trabalho e das Equipes Saúde da Família (portaria 154 de 24/01/2008). 3.5. A experiência do município de Guarulhos na implantação dos NASF A cidade de Guarulhos, foi fundada 8 de Dezembro de 1560, é a segunda cidade mais populosa do estado de São Paulo, sua população segundo o IBGE de 2011 é de 1.233.436 habitantes; é considerada a 9º cidade mais rica do Brasil. Neste contexto, podemos apontar algumas expressões da Questão Social no município, condições de habitação precárias, devido ao crescimento desordenado, gerando a falta de saneamento e infraestrutura. Grande parte da população está em situação de vulnerabilidade, consequência da má distribuição da riqueza, sendo notória a diferença em alguns bairros tais como: Jd. Maia, Vila Galvão e Vila Rosália onde há belas praças, bosques e pontos de cultura e na periferia a população é paupérrima e não tem acesso as políticas sociais. O sistema de saúde de Guarulhos é dividido em quatro regiões de saúde: Região 1 – Centro, Região 2 – Cantareira, Região 3 – São João/Bonsucesso e Região 4 – Pimentas/Cumbica. A Atenção básica possui 68 unidades de saúde, mas nem todas possuem a Estratégia da Saúde da Família, a cobertura populacional nesta modalidade é apenas de 20,13% segundo, dados da Secretaria saúde da Saúde do município. A maior parte configura-se como modelo tradicional, ou seja, a população vai a unidade de saúde espontaneamente. 49 Região 3 Região 2 Região 4 Região 1 Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Guarulhos - 2011 50 A Saúde da Família é uma estratégia de substituição de um modelo em que os trabalhadores da saúde atuam exclusivamente sobre a demanda espontânea de usuários, demanda essa majoritariamente voltada para a cura de doenças. Um modelo com ênfase no enfoque curativo, tratando o indivíduo como objeto de ação, com baixa capacidade de resolver problemas de saúde, saber e poder centrados no médico, acarretando desvinculação entre pessoal de serviço e comunidade, e uma relação de custo beneficio desvantajosa. Já o ESF busca um modelo plenamente sintonizado com os princípios da universalidade e equidade da atenção e da integralidade das ações, e acima de tudo, voltado à constante defesa da vida do cidadão. O ESF é a tentativa de inversão do modelo tradicional e assim teria início, meio e fim, mas com sua implantação e implementação viu-se que esta reestruturação não teria término, pois este modelo ativo de atenção beneficia muitas pessoas. No Art. 7º da portaria 154/2008, é de competência das Secretarias de Saúde dos municípios e do distrito federal, a definição do território de atuação dos NASF, e as equipes de saúde da família a qual este NASF estará vinculado, também dentre estas competências esta, disponibilizar estrutura física adequada e garantir os recursos de custeio necessários ao desenvolvimento das atividades mínimas, assegurar o cumprimento da carga horaria, estabelecer estratégias para desenvolver parcerias com os demais setores, selecionar e contratar profissionais para o NASF. O município de Guarulhos em 2009, seguindo as diretrizes do MS – Ministério da Saúde fez a opção de implantação do NASF 2 que deverá ser composto no mínimo por 3 profissionais de nível superior não-coincidentes: Fisioterapeuta, Nutricionista, Psicóloga, Assistente Social, Educador Físico, Fonoaudiólogo e Terapeuta Ocupacional. Segundo a Portaria 154/2008 cada NASF deverá estar vinculado a no mínimo 3 equipes de ESF. Atualmente Guarulhos possui seis NASF cadastrados que recebem o valor mensal de R$ 6.000,00, o repasse é 51 realizado através do Fundo Nacional da Saúde para o Fundo Municipal de Guarulhos. Podemos ilustrar o atendimento do NASF de uma das Unidades do Município de Guarulhos, nesta unidade existem 9 equipes, onde tem-se 4 completas e 5 incompletas, as equipes são consideradas incompletas por não terem na sua composição o Medico, sendo assim chamamos as de EACS – Estratégia Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde. Cada um desses NASF deve estar vinculado a um mínimo de oito e máximo de 20 equipes de Saúde da Família, exceto nos estados da Região Norte, onde o número mínimo passa a ser cinco (Caderno de Diretrizes do NASF, 2009 p. 20). O NASF tem como campo de atuação à promoção, prevenção e assistência, sendo: 1º Campo: o atendimento compartilhado para uma intervenção interdisciplinar, com a troca de saberes, educação permanente e responsabilização mutuam, gerando experiência para ambos os profissionais envolvidos. Ênfase em estudo e discussão de casos e situações, realização de projeto terapêutico, bem como atendimento em conjunto. 2º Campo: intervenções especificas do NASF com usuários e famílias, encaminhados pela equipe de saúde da família com discussões e negociação a priori entre profissionais responsáveis pelo caso, de forma que o atendimento individualizado pelo NASF se dê apenas em situações extremamente necessária. 3º Campo: Ações comuns nos territórios de sua responsabilidade, desenvolvidas de forma articulada com as equipes saúde da família e outros setores, exemplos: desenvolvimento de projetos de saúde no território, apoio aos grupos, trabalhos educativos, de inclusão social, etc (escolas, creches, pastorais e outros). 52 O NASF, não é porta de entrada do sistema e surge com um viés técnico-pedagógico, ou seja, propor estratégias de como deliberar determinada situação, dessa maneira o conhecimento passa a ser difundido. Essa prática de expansão de conhecimento muda de região para região, e o método é aplicado de forma diferente para cada equipe conforme sua necessidade. São apresentadas estratégias de atendimento, por exemplo, a escola da região faz diversos encaminhamentos para fonoaudiólogo, esse profissional acumula um determinado número de encaminhamentos para serem atendidos, em seguida faz a convocação dos mesmos, reúnem-se então os usuários em uma roda de conversa, e através de técnicas ele consegue analisar quais usuários realmente necessitam de um atendimento especializado, com agendamento individual ou em grupo. Assim, um pediatra que fizesse apoio matricial a essa equipe teria que investir grande energia na dimensão técnico-pedagógica, compartilhando conhecimentos com a equipe para que ela pudesse se aproximar da resolutividade desejada para esses casos. Isso vale para um psicólogo, para um nutricionista ou para qualquer outro especialista que preste apoio para essa equipe (Caderno de Diretrizes do NASF, 2009 p. 12). Os acolhimentos são feitos pelo ACS em suas visitas domiciliares, onde esses profissionais encontram situações diversas como: abuso sexual, violência doméstica, contra idosos, crianças e adolescentes, estupro, abandono, dependentes químicos entre outros. A partir do relato do usuário, o profissional diante do seu conhecimento que é de nível fundamental faz as respectivas perguntas para colher informações detalhadas dos fatos. Diante do exposto pelo usuário, a enfermeira (o) responsável pelos agentes comunitários recolhe esses relatórios, sendo discutido o caso a equipe da ESF, não chegando a uma solução, passa-se então o caso para o NASF. Em tal contexto, as equipes dos NASF deverão atuar em conjunto com as equipes de Saúde da Família, apoiando-as para que possam incrementar não só a integralidade, mas também a resolutividade, a 53 qualidade do cuidado, as ações de promoção de saúde e o acompanhamento e monitoramento em seus diversos aspectos (Caderno Diretrizes do NASF, 2009, p.17). Após o matriciamento, são agendadas as visitas domiciliares com os profissionais do NASF, dependendo da necessidade de cada caso a visita é realizada pelo profissional especializado, por exemplo, o ACS identificou um caso de maus tratos de um idoso, realiza-se a visita com Assistente Social, na visita desse profissional ele identifica uma magreza extrema do idoso, então se solicita a visita da nutricionista. O profissional mais requisitado dentro da equipe do NASF é o Assistente Social, principalmente em áreas de vulnerabilidade social, em que a maioria das pessoas estão em habitações irregulares, existem também muitos casos de violência, diante disso criou-se então a atuação do assistente social no NASF, que podemos entender melhor através do Caderno de Diretrizes do NASF. [...] com discussão e negociação a priori com os profissionais da equipe de SF responsáveis pelo caso, de forma que o atendimento individualizado pelo Nasf se dê apenas em situações extremamente necessárias e, quando ocorrer, continuar mantendo contato com a equipe de SF, que não se descomprometeria com o caso, ao contrário, procuraria redefinir um padrão de seguimento complementar e compatível ao cuidado oferecido pelo Nasf diretamente ao usuário, ou à família ou à comunidade (Caderno de Diretrizes do NASF, 2009, p.20). O Assistente Social é o profissional capacitado para trabalhar com as questões do cotidiano. Através de uma visão especializada, consegue diante do cenário da atualidade visualizar as necessidades dos usuários, sendo ele capaz de planejar e realizar projetos junto a uma comunidade, onde estabeleça uma relação e identifique a real necessidade daquela população. Na área da Saúde é um profissional articulador, portador de conhecimentos, conforme lei No. 8.662 de 7 de Junho de 1993 que regulamenta a profissão, esse profissional tem habilidade de articulação entre 54 as secretarias e estratégias de atendimento para que o usuário tenha sua autonomia. O assistente social é um profissional que trabalha permanentemente na relação entre estrutura, conjuntura e cotidiano, contribuindo com as equipes na apreensão e na ação em face do cotidiano, no qual as determinações conjunturais se expressam e a prática se realiza (Caderno de Diretrizes do NASF, 2009 p.99). . Neste contexto, é possível refletir sobre a Inserção do Assistente Social na ESF, uma vez que a desprofissionalização esta acontecendo com a utilização de agentes comunitários de saúde e cuidadores para realizarem atividades profissionais (BRAVO, 2006). 55 CAPITULO III A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ESTRATÉGIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA 56 4. A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ESTRATÉGIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA Ao iniciarmos o estudo sobre a trajetória do Serviço Social, pudemos apreciar o seu percurso, que deixou de ser entendido como caridade, benevolência, para ser tornar de fato uma profissão com cientificidade. Foi requisitado para fazer parte do quadro de Recursos Humanos de grandes organizações com SESI, SENAI, SESC onde iniciou sua atividade em empresas. Desta forma o profissional vem ganhando espaço e se tornando cada vez mais requisitado dentro dos grandes centros urbanos Hoje na Atenção Básica do município de Guarulhos o Serviço Social está inserido no NASF nas unidades com Estratégia Saúde da Família. O Assistente Social em conjunto com demais categorias: psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais de acordo com as Diretrizes MS, procura conduzir-se suas atividades no sentido de compreender, intervir, antecipar, planejar projetos sociais e terapêuticos que vão para além da dimensão biomédica, ou seja, ir além dos problemas de Saúde, mas também a questões relacionadas aos conflitos, à qualidade de vida, cultura, tradições e violência. Atualmente na ESF os profissionais que fazem parte da equipe mínima exigida e que realizam a assistência às famílias são o médico (a), enfermeiro (a) e agentes comunitários. Estes profissionais, mesmo possuindo na graduação disciplinas relacionadas à área de humanas, têm formação predominante no campo biológico, assim em muitos momentos os cidadãos não são analisados também como sujeitos sociais. No entanto, hoje junto a ESF foi criado o programa para apoiar esses profissionais como já citado no capítulo anterior o NASF que está inserido junto a ESF como um “apoio”. Neste Trabalho de Conclusão de Curso defende-se a ideia de cada equipe de ESF deve conter um assistente social, pois, sabe-se que o NASF deverá atender várias equipes o que precariza o trabalho profissional e sobrecarrega os agentes comunitários que não tem qualificação teórico-metodológico para o atendimento das expressões da Questão Social. 57 Podemos visualizar um cronograma estabelecido para nortear os atendimentos dos profissionais do NASF, através desta tabela que os profissionais norteiam seus atendimentos. Parâmetros para organização das agendas e das ações a serem desenvolvidas pelas equipes NASF No município de Guarulhos. AÇÕES PROPOSTAS PARA O NASF/NAAB PROPORÇÃO DE HORAS POR PROCEDIMENTO SEMANAL MENSAL 5-10% 5-10% 2-4 horas 1,5 – 3 horas 10-20 horas 7,50-15 horas 20-35% 20-35% 8-14 horas 9 –10,5 horas 40-70 horas 30-52,50 horas 10 - 30% 10 - 30% 6 - 8 horas 5 – 4 horas 40 - 70 horas 15 - 22 horas 10 - 30% 10 - 30% 4 - 12 horas 3 – 9 horas 20 - 60 horas 15 - 45 horas 5% 5% 2 horas 1,5 horas 10 horas 7,5 horas 5% 5% 2 horas 1,5 horas 10 horas 7,5 horas 100% 200 Horas 150 Horas 100% 200 Horas 150 Horas Consulta/Atendimento domiciliar compartilhados Consulta/ Atendimento profissional nível superior compartilhado Ações Compartilhadas Atividade educativa / orientação compartilhada Pratica corporal / Atividade física compartilhada Pratica corporal em medicina tradicional chinesa compartilhada Grupo com objetivo terapêutico compartilhado Reuniões com equipe (Apoio Matricial) Consulta / Atendimento profissional nível superior Atividade educativa / Orientação Atendimento Especifico Pratica corporal / Atividade física Pratica corporal em medicina tradicional chinesa Grupo com objetivo terapêutico Reunião com recursos da comunidade Ações Intersetoriais Reunião com conselho gestor Visita Institucional Reuniões NASF Outras Atividades Educação Continuada equipe NASF/ e equipe da UBS TOTAL * Profissional 40 horas/semanal – Profissional 30 horas/semanal 58 Esses dados foram obtidos através das Diretrizes e Parâmetros Norteadores das Ações dos Núcleos de Apoio às Equipes da Atenção Básica à Saúde, 2011 da Secretaria da Saúde do Município de Guarulhos. Parâmetro: Profissional – 40 horas semanais 200 horas/ mês 50 horas Consultas / Atendimentos 130 horas Grupos educativos e Apoio Matricial 10 horas Educação Continuada / reunião de equipes NASF/NAAB 10 horas Ações Intersetoriais 8 horas / dia 2 horas para Consultas/Atendimento (UBS / domicilio) 5 horas para Grupos educativos e Apoio Matricial 1 hora para ações intersetorial / reunião equipe NASF Atividades Dia Mês Ano Consulta/Atendimento 3 60 660 Grupos/Apoio Matricial 4 80 880 Ações Intersetorial 1 20 220 Nesta divisão já está inserido o tempo para processos de organização e preparação das ações. Parâmetro: Profissional – 30 horas semanais 150 horas/ mês 37,30 horas Consultas/Atendimento (UBS / domicilio) 97,30 horas Grupos educativos e Apoio Matricial 7,30 horas Educação Continuada / reunião de equipes NASF/NAAB 7,30 horas Ações Intersetoriais 6 horas / dia 1,30 horas para consulta/atendimento (UBS/domicilio) 4 horas para Grupos educativos e Apoio Matricial 30 hora para ações intersetorial / reunião equipe NASF 59 Os dados apresentados reforçam a necessidade da inserção do Assistente Social nas equipes de ESF e que o NASF não supri as necessidades da população. Contudo, a condição de trabalho é precarizado, devido o excesso de demanda; tempo insuficiente; falta de continuidade no serviço iniciado; conhecimento insuficiente do território no qual trabalha, pois o mesmo profissional é referência em várias unidades e estão em cada uma delas de uma a duas vezes na semana. Desta forma, limita o reconhecimento do território enquanto local de trabalho para assim saber o que afeta a comunidade no processo saúde-doença. De acordo com Santos e Silveira (2008), […] o sentido da palavra territorialidade, como sinônimo de pertencer aquilo que nos pertence…esse sentido de exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde da existência de Estado […] a territorialidade humana pressupõe também a preocupação como o destino, a construção do futuro, o que, entre os seres vivos, é privilegio do homem. Em um trabalho de equipe interdisciplinar é fundamental o reconhecimento do território para verificar as condições em que a comunidade vive descobertas de redes para parcerias e encaminhamentos que se fizer necessário. A Atuação dos profissionais do NASF devem ser articulada: abordagem grupal8, abordagem familiar, individual, de redes, visitas domiciliares, grupos educativos9 e de convivência10, visitas institucionais, estudo social, intervenção coletiva. 8 Abordagem grupal, realizada no início do processo de triagem, onde o Assistente Social para organizar e padronizar este atendimento elabora um instrumental específico de registro. 9 Grupos Educativos constitui uma das mais eficientes maneiras de estimular a adesão ao tratamento e mudanças de hábitos de vida, imprescindíveis para o sucesso terapêutico. 10 Grupos de Convivência promovem o desenvolvimento das relações familiares e comunitárias, do sentimento de pertencer e participar, se identificar e integrar, compartilhando objetivos e interesses. O grupo trabalha a importância da comunicação, regras, responsabilidades, capacidade de encontrar soluções comuns e negociar conflitos, entre outros aspectos do vínculo social. 60 Atualmente o trabalho vem sendo feito de maneira que as situações trazidas pela equipe de ESF são discutidas, o NASF prioriza quais delas terão a necessidade de uma visita domiciliar. Quando esta visita chega a ser realizada, em grande parte dos casos são realizadas ações pontuais e não há um acompanhamento da mesma. Desta forma, os casos acabam ficando engavetados, e como a rotatividade dos profissionais do NASF entre as ESF acontecem com frequência, ao chegar um profissional novo a história inicia-se novamente desgastando toda a equipe. Nos profissionais grupos educativos abordam um denominados determinado “Roda assunto de Conversa” exemplo: os Depressão, Hipertensão, Diabetes e a partir do conhecimento da população o tema colocado em discussão e trabalhado pelo profissional ai vai se articulado ideias a partir da adesão dos usuários. Desta forma em um grupo se consegue atingir estes participantes. As abordagens de grupo nos trás à necessidade de uma escuta ativa e qualificada desses usuários com o objetivo de assim identificar a real necessidade para uma estratégia coletiva ou individual. Porém, considerando que o tempo em que o Assistente Social permanece em cada ESF, é pequeno, temos uma contradição entre o que diz o Caderno de Atenção Básica do NASF e como a política esta sendo aplicada em Guarulhos, e podemos perceber claramente o papel de intermediador do NASF, transferindo a continuação do processo para equipe de saúde. A inclusão da escuta qualificada e/ou o acolhimento de problemas psicossociais da população durante todo o processo de trabalho das equipes de saúde constitui importante ferramenta para a melhora da relação equipe– usuária/família, além de contribuir para o enfrentamento e superação de diversos problemas (Caderno de Atenção Básica NASF, 2009, p.127). Neste cenário fica o questionamento: num trabalho marcado pela descontinuidade, como a escuta do usuário pode ser qualificada? 61 Diante da complexidade do processo Saúde-doença o Serviço Social deve fazer uma articulação e mobilização da equipe e de parceiros para a discussão das situações individuais e familiares que apresentam maior vulnerabilidade, para isso é necessário se fazer um estudo social de cada comunidade atendida, e o profissional do serviço social se faz novamente o mais requisitado para esse tipo de estudo devido a sua formação. O Serviço Social domina procedimentos metodológicos e instrumentais técnicos adequados, como a abordagem da Educação em Saúde, que engloba as dimensões psicológica, Cultural, socioeconômica, fundamentada em uma ótica reflexiva, e usa como referencia as técnicas participativas, em oposição à praticas que medicalizam as questões sociais, como modelo biomédico faz (Bravo e Potyara, 2008,p.244). Entende-se que o Ministério da Saúde deve rever a composição das equipes da ESF e reconhecer que o NASF é um atendimento paliativo, com pouca resolutividade. Aqui podemos falar de Violência Estrutural11, por exemplo, o usuário vai à busca de um Assistente Social na ESF, “não tem Assistente Social aqui”, é essa a explicação assim e ponto, não se explica ao usuário de que forma que o Assistente Social trabalha, porque naquela unidade de Saúde não tem assistente social, como funciona o NASF no município, a quantas unidades ele atende, que o NASF é o apoio da ESF, enfim tudo aquilo que já discutido nos parágrafos anteriores. 11 Violência Estrutural entende-se como aquela que oferece um marco à violência do comportamento e se aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os mais vulneráveis que outros ao sofrimento e à morte. Conforme assinala Boulding (1981), essas estruturas influenciam profundamente as práticas de socialização, levando os indivíduos a aceitar ou a infligir sofrimentos, segundo o papel que lhes corresponda, de forma “naturalizada”. 62 Neste ínterim, a violência estrutural é a palavra correta para assemelharmos o sistema de Guarulhos, mas sabemos que esse tipo de violência hoje acarreta grande parte da Saúde pública de outros município, ou até mesmo na privada. O desrespeito ao usuário e a comunidade local é enorme. A inserção do Serviço Social na ESF, não deve ser de forma focalista, pois dessa maneira contribuirá só pra reorganizar o modelo e não as ações promocionais e preventivas, que o Serviço Social pode desenvolver; é valido salientar que a equipe necessita da inclusão de outras categorias como psicólogo, educador físico e nutricionista. De acordo com Teixeira (2006) p.245, pensamos que o planejamento no setor da Saúde, para ser caracterizar como estratégico deve partir das necessidades de Saúde expressas na realidade local de sua população especifica. Para tanto, o assistente social deverá imprimir em sua intervenção profissional uma direção, sendo necessário, para isto, conhecer e problematizar o objeto de sua ação profissional, construindo sua visibilidade a partir de informações e análises consistentes - atitude investigativa. Simultaneamente, o trabalho do Assistente Social deverá ser norteado por um plano de intervenção profissional objetivando construir estratégias coletivas para o enfrentamento das diferentes manifestações de desigualdades e injustiças sociais, numa perspectiva histórica que apreenda o movimento contraditório do real. Conforme estabelece o Caderno dos Parâmetros do Assistente Social na Saúde de 2010 que foi construído, a partir de discussões realizadas em reuniões de trabalho pelo grupo Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, formado por um representante do Conselho Regional de Serviço Social – CRESS de cada região e cinco conselheiros do CFESS. Tendo como finalidade referenciar a intervenção dos profissionais de Serviço Social na área da Saúde, procurando expressar a totalidade das ações que são desenvolvidas, considerando a particularidade das ações desenvolvidas nas atenções de básica, média e alta complexidade. 63 Para a construção desses parâmetros foi necessário uma discussão tendo como referência para análise e construção o subsídio às lutas pela ampliação da presença dos Assistentes Sociais nas instituições responsáveis pela política. A qualificação do atendimento oferecido à população e as condições de trabalho desses profissionais; A viabilização, a construção e a oferta de novas políticas determinadas pela conjuntura; As referências já existentes nas diretrizes e leis nacionais; e a superação da lógica produtivista presente na gestão das políticas sociais. Assim, espera-se fortalecer o trabalho dos assistentes sociais na Saúde, na direção dos Projetos de Reforma Sanitária e Ético-Político-Profissional, trazendo maior qualidade ao atendimento prestado à população usuária dos serviços de Saúde. Os assistentes sociais na Saúde atuam em seis grandes eixos de ações, sendo importante destacar que eles não devem ser compreendidos de forma segmentada, mas articulados dentro de uma concepção de totalidade. São eles: o assistencial; em equipe; sócio-educativa; mobilização, participação, e controle social; investigação planejamento e gestão e assessoria; e qualificação e formação profissional. Não cabe ao profissional de Serviço Social se utilizar no exercício de suas funções de atendimentos individuais, de grupo, de família ou comunitárias, mas sim potencializar a orientação social com vistas à ampliação do acesso dos indivíduos e da coletividade aos direitos sociais. Teixeira (2008), nos traz que em decorrência das atividades desenvolvidas por esses profissionais nas ESF, enfocamos a análise nas ações sócio-educativas. Elas incidem em orientações reflexivas e socialização de informações realizadas por meio de abordagens individuais, grupais ou 64 coletivas ao usuário, família e população de determinada área programática, sendo o eixo central da atuação do profissional de Serviço Social a denominada Educação em Saúde. As ações de Educação em Saúde devem ter como intencionalidade a dimensão da libertação na construção de uma nova cultura e enfatizar a participação dos usuários no conhecimento crítico da sua realidade e potencializar os sujeitos para a construção de estratégias coletivas. As atribuições direcionadas a tais profissionais são diferentes dos outros que compõe a equipe básica, uma vez que as atribuições desses são estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Encaminhar providências, prestar orientações, informações a indivíduos, grupos e à população na defesa, ampliação e acesso aos direitos de cidadania; Prestar assessoria a grupos, entidades e movimentos sociais existentes na comunidade, viabilizando o processo de mobilização, organização e controle social; Desenvolver ações sócio-educativas e culturais com a comunidade; Identificar as potencialidades existentes na comunidade, bem como os recursos institucionais, estimulando as ações Intersetoriais, para a melhoria da qualidade de vida da população; Identificar, implementar e fortalecer os espaços de controle social na comunidade; Contribuir para a capacitação e formação de conselheiros de Saúde e de outros sujeitos sociais; Discutir, de forma permanente, junto à equipe de trabalho e à comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos à Saúde e as bases que o legitimam; Elaborar, coordenar e executar capacitações para os profissionais do Saúde da Família; Realizar atendimentos individuais de demandas espontâneas e/ou referenciadas na Unidade Básica de Saúde da Família; 65 Emitir laudos, pareceres sociais e prestar informações técnicas sobre assunto de competência do Serviço Social; Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar as ações da ESF; Acompanhar, (na qualidade de supervisor de campo, estagiários de Serviço Social, desde que tenha supervisão acadêmica; em) sistematizar e divulgar as experiências do profissional de Serviço Social na ESF. O desenvolvimento dessas atribuições é realizado de forma a apoiar na garantia de direitos sociais, no atendimento das necessidades das demandas, na efetivação do controle social com a participação intensa da comunidade (junto com os movimentos organizados na comunidade), nas atividades educativas e na intersetorialidade com os encaminhamentos realizados pelos Assistentes Sociais a outras instituições. A inserção de Assistentes Sociais na ESF acrescentaria no desenvolvimento dessas ações que incentivariam a participação e o controle social, informação e orientação qualificada nos atendimentos específicos e inserções pontuais nos diversos grupos. A mesma autora advoga-se assim a inserção do Serviço Social na equipe básica, não como “outros profissionais”, mas mediante o entendimento de sua presença como componente importante na implantação de um modelo assistencial voltado para atenção à Saúde (Teixeira, 2008). Entendemos a inserção do assistente social não como um profissional messiânico, mas sim como um profissional dotado a metodologia, cientificidade para promover a cidadania. 66 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS . A sociedade brasileira ainda espera por um avanço no quadro epidemiológico, ou seja, o tratamento de diabetes, hipertensão, dengue, saúde bucal o atendimento as crianças menores de 2 anos e Gestantes, fazendo-se necessário a melhor distribuição dos projetos sociais, o combate da desigualdade em todos os âmbitos. È fundamental ressaltar programa criado pelo Governo Federal em 2004: a ESF - Estratégia Saúde da Família, como objetivo melhorar as condições de Saúde. Para o Ministério da Saúde a equipe da ESF deve ser composta por um médico da família, um (a) Enfermeiro (a), e os agentes comunitários de saúde considerando que, os outros profissionais poderiam ser inseridos as unidades básicas conforme as necessidades locais. Apesar de já possuir um espaço reservado na Política de Saúde, o Assistente Social continua mostrando sua importância neste meio. Os estudos mostraram que a presença desse profissional é muito importante na composição da equipe de saúde da família, pois contribui com a sua formação em políticas públicas, mobilização de comunidade, autonomia dos sujeitos, articulação dos serviços e entendimento da complexidade da realidade, famílias e indivíduos. Contudo, o que se pretende com este estudo é defender a inserção do Assistente Social nas equipes da ESF como medida para avançar rumo a um modelo de assistência à saúde, voltado para a atenção integral do indivíduo. Não se trata de uma defesa corporativista, mas, sim, da importância da construção de um projeto interdisciplinar que venha modificar as ações de saúde no trato com o usuário. Atualmente a área da saúde tem absorvido grande número de assistentes sociais, principalmente na saúde pública, porém, na atenção a 67 básica a saúde ainda é um desafio à inserção da categoria na Estratégia da Saúde da Família. Neste contexto, conclui-se que a inclusão de profissionais como o assistente social, além da equipe mínima enriquece e amplia o fazer de todos, fortalece o conceito ampliado de saúde, potencializa a integralidade e a organização do serviço. O ESF é um novo espaço de trabalho e de inserção para o assistente social, e o próprio profissional precisa fazer uma análise de que não trabalha isolado, de que deve exercer suas ações de educação a saúde e promoção dos usuários dentro de uma equipe multiprofissional, articulando ações e serviços com outros setores. O NASF é um grupo de apoio a Saúde da Família, o Município de Guarulhos optou pela implantação do numero reduzido de profissionais do NASF, consequentemente isso sobrecarrega o profissional, sendo assim não há condições de atender a demanda. Devido à rotina do profissional do NASF, que visita as unidades de Saúde de 3 a 4 vezes por semana, o profissional não consegue manter um vinculo com a população, muito menos pensar em projetos e ações para qualquer comunidade. Por fim conclui-se que a inserção do Serviço Social no ESF não deve ser vista como redentora das causas sociais, mas de forma que o Assistente Social poder contribuir para a compreensão da saúde como um fenômeno coletivo, isso pela promoção da saúde, compreendendo o processo dos efeitos dos problemas de saúde de várias pessoas e não isoladamente. 68 6. BIBLIOGRAFIA ABPESS/CEDEPSS- Proposta básica para o projeto de formação profissional. In: Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, ano XVII, n. 50,1996. 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