UEFS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS COLEGIADO DE ECONOMIA JOKASTA PAULLILA GONÇALVES BARRETO A EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA NO PERÍODO DE 20002010. Feira de Santana 2011 JOKASTA PAULLILA GONÇALVES BARRETO A EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA NO PERÍODO DE 20002010. Trabalho de conclusão submetido ao Colegiado de Ciências Econômicas como avaliação final da disciplina CIS 228 – MONOGRAFIA II, exigida para obtenção da Graduação em Ciências Econômicas. Área de concentração: Economia Internacional Orientador: Prof. Me. Victor Raul Paredes Castro Feira de Santana 2011 JOKASTA PAULLILA GONÇALVES BARRETO A EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA NO PERÍODO DE 20002010. Monografia apresentada ao colegiado de Economia da Universidade Estadual de Feira de Santana - UFES, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Economia. BANCA EXAMINADORA Prof. Me. Victor Raul Paredes Castro - UEFS Prof. Esp. Rafael Esmeraldo L. Ramacciotti - UEFS _______________________________________________________________ Prof. Me. Vladson Bahia Menezes – UEFS Feira de Santana, Bahia, Dezembro de 2011. AGRADECIMENTOS. A realização deste estudo encerra a trajetória iniciada com o curso de graduação e marca a concretização de um grande objetivo torna-se uma economista. Em primeiro lugar agradeço a Deus pela graça de viver e aprender cada dia mais. Aos meus pais, José Barreto e Eliana, pela dedicação, amor e por sempre apoiar-me em todas as minhas decisões. Ao meu namorado Leandro pelo amor e sua complacência perante as ausências vivenciadas para a realização deste estudo. A todos os professores do Curso de Economia da Universidade Estadual de Feira de Santana pelo conhecimento transmitido, principalmente a Maria Emilia, Margarida Costa, Márcia Pedreira, Vladson Menezes, Gilberto Gramacho e Antonio Rosevaldo. A Dora secretária do colegiado de Economia por sempre nos atender com carinho e dedicação. Ao professor Victor Raul Paredes Castro, registro a minha imensa gratidão pela sua disponibilidade em orientar este estudo e pela sua contribuição na minha formação intelectual. Aos amigos que contribuíram para a concretização deste resultado e que compartilharam todas as experiências vivenciadas na universidade nestes cinco anos, especialmente a Débora Brito. Por fim registro a minha gratidão a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta graduação. RESUMO Esta monografia tem como meta analisar a trajetória da balança comercial brasileira no período de 2000 a 2010. Para tanto se buscou verificar as variáveis que exerceram influência direta sobre o resultado desta conta, como o contexto econômico internacional e as transformações das relações econômicas mundiais, fortemente influenciadas pela globalização, o contexto econômico nacional, bem como das variáveis macroeconômicas. Palavras chave: Balança economia internacional. comercial; comércio internacional; desempenho; ABSTRACT This monograph aims to analyze the trajectory of the Brazilian trade balance for the period 2000 to 2010. For both if sought to check the variables that exert direct influence on the outcome of this account as the international economic context and the transformations of world economic relations, strongly influenced by globalization, the national economic context, as well as the macroeconomic variables. Key words: economics. trade balance; international trade; performance; international LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Custos de Produção no Modelo de Ricardo. 17 Tabela 2 - Exportações e Importações Mundiais de Mercadorias: 2000-2009 (US$ Milhões). 37 Tabela 3 - Os Maiores Exportadores Mundiais: 2000-2009 (Porcentagens). 48 Tabela 4 - A Participação do Brasil nas Exportações Mundiais: 2000-2009 (Porcentagens). 50 Tabela 5 - Balança Comercial: 2000-2010 (US$ Bilhões FOB). 71 Tabela 6 - Exportações Brasileiras por Fator Agregado: 2000-2010 (US$ Milhões FOB). 77 Tabela 7 - Importações Brasileiras por Fator Agregado: 2000-2010 (US$ Milhões FOB). 77 Tabela 8 - Principais Compradores de Produtos Brasileiros - Por Blocos Econômicos: 2000-2010(US$ Milhões FOB). 89 Tabela 9 - Principais Fornecedores de Produtos Estrangeiros - Por Blocos Econômicos: 2000-2010 (US$ Milhões FOB). 89 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Participação das Diversas Regiões nas Exportações Mundiais: 2000-2009 (Porcentagens). 42 Gráfico 2 - Participação das Diversas Regiões nas Importações Mundiais: 2000-2009 (Porcentagens). 44 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABDI Agência Brasileira De Desenvolvimento Industrial ALCA Área De Livre Comércio Das Américas ALADI Associação Latino-Americana De Integração APEX Agência De Promoção De Exportações BC Banco Central BIRD Banco Internacional Para Reconstrução E Desenvolvimento BRIC Brasil, Índia, Rússia E China CAMEX Câmara De Incentivo As Exportações CNDI Conselho Nacional De Desenvolvimento Industrial CNI Confederação Nacional Da Indústria DPR Departamento De Promoção Comercial E Investimentos FHC Fernando Henrique Cardoso FIESP Federação Das Indústrias Do Estado De São Paulo FMI Fundo Monetário Internacional GATT Acordo Geral Sobre As Tarifas Do Comércio ICMS Imposto Sobre Circulação De Mercadorias E Serviços MDIC Ministério Do Desenvolvimento, Indústria E Comércio Exterior MERCOSUL Mercado Comum Do Sul MME Ministério De Minas E Energia OIC Organização Internacional Do Comércio OMC Organização Mundial Do Comércio OPEP Organização Dos Países Exportadores De Petróleo P&D Pesquisa E Desenvolvimento PDP Política De Desenvolvimento Produtivo PEE Programa Especial De Exportações PITCE Política Industrial, Tecnológica E De Comércio Exterior SEBRAE Serviço Brasileiro De Apoio Às Micro E Pequenas Empresas TRIPS Trade-Related Aspects Of Intellectual Property (Acordo Sobre Os Direitos De Propriedade Intelectual Relacionadas Ao Comércio) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 AS TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 13 2.1 A EVOLUÇÃO DAS TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 13 2.1.1 Teoria Clássica 14 2.1.2 Teoria Neoclássica 18 2.1.3 Visões Alternativas sobre o Comércio Internacional 20 2.1.4 Teoria das Vantagens Competitivas 23 3 O CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL DE 2000 A 2009 28 3.1 A GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA 28 3.2 O GATT E A OMC NO COMÉRCIO INTERNACIONAL 33 3..3 O COMÉRCIO MUNDIAL NO PERÍODO DE 2000 A 2009 37 3.3.1 As Exportações Mundiais por Região no Período de 2000-2009 42 3.3.2 As Importações Mundiais por Região no Período de 2000-2009 44 3.4 46 A COMPETITIVIDADE ENTRE OS PAÍSES 3.4.1 Os Maiores Exportadores Mundiais no Período de 2000-2009 47 3.5 49 PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NO MERCADO EXPORTADOR NO PERÍODO DE 2000-2009 3.5.1 Brasil: As Causas da Baixa Competitividade 51 4 55 A EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA NO PERÍODO DE 2000 A 2010 4.1 A BALANÇA COMERCIAL E SEUS DETERMINANTES 55 4.2 A POLÍTICA COMERCIAL BRASILEIRA NO PERÍODO DE 2000 A 2010 60 4.2.1 As Negociações Comerciais com Países e Blocos Econômicos no 64 Período de 2000 a 2010 4.3 ANÁLISE DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS BRASILEIRAS 70 (EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES) NO PERÍODO DE 2000 A 2010 4.3.1 As Exportações e as Importações Brasileiras por fator Agregado no 77 Período de 2000 e 2010 4.3.2 Principais Compradores e Fornecedores de Produtos da Economia 88 Brasileira no Período de 2000 a 2010 4.3.3 As Exportações e Importações Brasileiras por Região e Estados no 92 Período de 2000 a 2010 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 95 REFERÊNCIAS 98 ANEXOS 103 11 1. INTRODUÇÃO A economia internacional enquanto ramo da teoria econômica trata da interdependência entre os países. Este processo de interligação e interdependência foi intensificado pelo fenômeno globalização, um processo antigo, mas que nas últimas décadas levou a uma grande complexidade das relações internacionais. Em decorrência das grandes transformações nas relações econômicas mundiais, o comércio internacional tornou-se um fator decisivo para a economia dos países, tendo em vista que parte da produção é destinada aos mercados externos. Nesse contexto, as exportações tornaram-se uma importante variável para o crescimento econômico dos países. Esta monografia tem como objetivo analisar a trajetória da balança comercial brasileira no período compreendido entre 2000 e 2010, verificando para tanto como as variáveis macroeconômicas, o contexto econômico internacional e nacional exerceram influência sobre as transações comerciais realizadas pelo país. A balança comercial geralmente é apresentada pelos autores como uma conta que compõe o balanço de pagamentos, sendo registrada nesta conta apenas a comercialização de bens. O que demonstra a sua importância enquanto instrumento de mensuração da atividade comercial de um país. Esta conta é fortemente influenciada por variações na renda interna, renda externa, na taxa de câmbio, na taxa de juros e na inflação. Dessa forma buscou-se avaliar a influência destas variáveis, do contexto econômico nacional e internacional sobre as transações comerciais realizadas pelo país. No capítulo posterior a esta introdução é realizada uma digressão sobre as principais teorias do comércio internacional, que buscavam explicar as bases e os benefícios das transações comerciais entre os países. São abordadas neste capítulo as teorias Clássicas, Neoclássicas, as chamadas Novas teorias do comércio internacional e a Teoria das vantagens competitivas de Michael Porter. O terceiro capítulo trata do contexto econômico internacional e está dividido em cinco itens. O primeiro faz uma análise do processo de globalização econômica e sua influência sobre o comércio internacional. O segundo item trata da influência dos acordos, das instituições e dos mecanismos utilizados para estimular e regular o comércio internacional. O terceiro item realiza uma análise da trajetória do comércio internacional no período de 2000 a 2009. O quarto item aborda a importância da 12 competitividade para o desempenho comercial dos países e examina o desempenho dos principais exportadores mundiais. O último item do capítulo analisa a participação brasileira no comércio internacional e faz uma verificação das causas da baixa competitividade dos produtos brasileiros. O quarto capítulo aborda a trajetória da balança comercial brasileira e está dividido em três itens. No primeiro item é realizada uma verificação dos mecanismos de influência das variáveis macroeconômicas sobre a balança comercial e como as mesmas afetam o resultado das transações comerciais realizadas por um país. No segundo item faz-se uma breve abordagem sobre as políticas comerciais, as negociações internacionais e a importância destas ações para o desempenho comercial brasileiro. No terceiro item é analisada a balança comercial na última década elencando para tanto as variáveis que foram fundamentais para o resultado desta conta. No quinto e último capítulo são tecidas as considerações finais deste estudo, no qual o desempenho comercial brasileiro é resultado direto de uma conjuntura de fatores favoráveis ao desempenho positivo do país no período, buscando determinar quais variáveis estiveram mais fortemente relacionadas a este resultado. 13 2. AS TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL O objetivo deste capítulo é realizar uma análise das principais teorias econômicas que buscavam elucidar as bases e os benefícios do comércio internacional. Para tanto se faz uma digressão sobre tais teorias identificando seus pressupostos teóricos, aspectos relevantes e sua importância para a evolução da teoria do comércio internacional. O capítulo está organizado da seguinte forma: inicialmente é feita uma breve abordagem a cerca da evolução das teorias do comércio internacional, em seguida realiza-se uma análise das Teorias Clássicas, Neoclássicas, as chamadas Novas teorias do comércio internacional e a Teoria das Vantagens Competitivas de Michael Porter (1999). Tendo em vista que a balança comercial, objeto deste estudo, reflete o resultado das transações comerciais realizadas pelo país, este capítulo tem por finalidade apresentar os subsídios teóricos necessários à melhor compreensão das relações comerciais entre os países, constituindo-se como base teórica. 2.1 A EVOLUÇÃO DAS TEORIAS SOBRE O COMÉRCIO INTERNACIONAL As discussões sobre o comércio internacional buscavam responder uma pergunta básica: Por que os países realizam trocas comerciais? Este questionamento motivou a elaboração de diversas teorias cujos objetivos eram analisar os determinantes das transações comerciais em esfera internacional bem como elucidar quais os benefícios auferidos com este tipo de relação comercial. É consenso entre diversos autores como Gonçalves (1998) e Carvalho (2002), que a evolução das teorias a cerca do comércio internacional esteve estritamente ligada à própria evolução da economia enquanto ciência. As análises do comércio internacional e dos fatores que são determinantes a este processo tiveram como referência o contexto histórico que influenciou o seu desenvolvimento e surgiram a partir da metade XVIII com as chamadas teorias clássicas, evoluindo com as teorias neoclássicas, as chamadas novas teorias do comércio internacional e mais recentemente as teorias baseadas na competitividade. No comércio internacional, a balança comercial objeto deste estudo configurase como um instrumento de mensuração das trocas comerciais realizadas por um 14 determinado país com o resto do mundo e analisá-la requer um prévio estudo a cerca das teorias que buscavam explicar as motivações e os benefícios das trocas comerciais entre países. Para tanto se buscou realizar uma digressão sobre as principais teorias do comércio internacional, que corresponderá à base teórica deste trabalho monográfico. 2.1.1. Teorias clássicas. Até meados do século XVIII todas as análises do comércio internacional derivavam dos escritos da escola mercantilistas e da tese de David Hume. Para os mercantilistas o comércio internacional era tido como uma fonte de superávit comercial que proporcionaria o acumulo de metais preciosos no país e tal objetivo seria alcançado se o governo estimulasse as exportações e restringisse as importações. De acordo com Gonçalves (1998), o mercantilismo tratava-se de um sistema econômico caracterizado pelas seguintes proposições: A riqueza da sociedade cresce com o crescimento dos estoques de meios de pagamento; o dinheiro era uma dádiva da natureza, não um bem produzido pelo estado; o aumento da produção e do comércio dependia além do estoque de meios de pagamento, da unificação econômica e da liberdade do comércio no interior das fronteiras nacionais e o crescimento dos estoques de meios de pagamento dependiam das minas nacionais e do superávit na balança comercial. Os pressupostos mercantilistas em relação ao comércio internacional não eram consistentes, uma vez que se todos os países atuassem conforme o proposto por esta escola as economias se fechariam e o comércio internacional praticamente não existiria. Em relação aos escritos sobre o comércio internacional, David Hume surge como o primeiro economista moderno, conforme aponta Gonçalves (1998). Este autor escreveu a tese conhecida como a Hipótese do preço - fixo de metais preciosos e foi o primeiro a defender o livre comércio. A tese de Hume baseava-se na hipótese de que os fatores reais e não o acumulo de riqueza seria determinante para a prosperidade de uma nação. Dessa forma a prosperidade ou em termos modernos o desenvolvimento econômico, 15 garantiria a segurança de um país, sendo que o aumento dos mercados proporcionado pelo comércio internacional e o atendimento das necessidades internas que ele possibilita proporcionava benefícios a todas as nações mercantis, conforme expõe Gonçalves (1998). Em 1776 Adam Smith publicou sua principal obra A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas. Neste livro o autor desenvolveu a teoria das vantagens absolutas, considerando-a como à base do comércio internacional. Segundo Carvalho e Silva (2002), esta obra é tida como o primeiro trabalho a tratar exclusivamente de economia e incluir uma visão sistemática a cerca do comércio internacional. A teoria de Adam Smith, assim como a tese de David Hume, surge em contraposição ao conjunto de idéias mercantilistas amplamente difundidas entre os séculos XV e XVIII. Segundo o autor, os países realizariam trocas comerciais se auferissem ganhos neste intercambio, por sua vez o comércio seria estabelecido apenas quando fosse mais barato adquirir bens importados do que produzi-los internamente. Todo pai de família prudente tem como princípio jamais tentar fazer em casa aquilo que custa mais fabricar do que comprar. O alfaiate não tenta fazer seus próprios sapatos, mas compra-os do sapateiro. O sapateiro não tenta fazer suas próprias roupas, e sim utiliza os serviços de um alfaiate. O agricultor não tenta fazer ele mesmo seus sapatos ou sua roupa, porém recorre aos dois profissionais citados. Todos eles consideram de seu interesse empregar toda sua atividade de forma que aufiram alguma vantagem sobre seus vizinhos, comprando com uma parcela de sua produção - ou, o que é a mesma coisa, com o preço de uma parcela dela — tudo o mais de que tiverem necessidade (Smith, 1996:438). De acordo com Smith, um país possui vantagem absoluta na produção de um bem quando utiliza uma menor quantidade de insumo para produzi-lo em relação a outras nações. Esta teoria baseava-se nos seguintes pressupostos: a existência de dois países, dois tipos de bens, um único fator de produção, rendimentos de escala constantes e concorrência perfeita. Para o autor as nações deveriam especializar-se na produção de bens para os quais possuíssem vantagens absolutas, ou seja, fosse produzido a um custo mais baixo que em outro país, auferindo dessa forma ganhos no comércio internacional. A teoria de Smith enunciava que as trocas comerciais entre os países só se 16 justificava em situações nas quais os países possuíssem vantagens absolutas na produção de algum bem. A grande crítica de Smith contra os mercantilistas, de acordo com Carvalho e Silva (2002), foi à defesa de que a riqueza de uma nação é mais adequadamente medida em termos de produção e consumo de sua população e não na quantidade de metais preciosos em seu poder, sendo o livre comércio um poderoso mecanismo capaz de promover o aumento da produção por meio da especialização e com as trocas aumentar o consumo e conseqüentemente o bem estar dos países que participam do comércio internacional. A contribuição de Smith para a teoria do comércio internacional foi de grande importância, entretanto, a teoria das vantagens absolutas explicava apenas uma parte muito pequena do comércio internacional, especialmente nos dias de hoje, não conseguindo explicar e justificar todas as possibilidades do comércio. Com base na teoria de Smith, todas as nações que não possuíssem vantagens absolutas na produção de algum tipo de bem estariam excluídas do comércio internacional? A resposta a este questionamento surge com a teoria das vantagens comparativas elaborada por David Ricardo e que se configurou como uma crítica a teoria de Adam Smith. A teoria das vantagens comparativas de Ricardo buscava explicar o comércio existente entre nações que não detinham nenhuma vantagem absoluta na produção de algum tipo de bem, mas que poderiam auferir ganhos com o comércio internacional. Para Ricardo (1996), o fator determinante para existência do comércio internacional é o princípio das vantagens comparativas, tal princípio tem como base os seguintes pressupostos: relações comerciais entre dois países, dois produtos, um único fator de produção - o trabalho, o preço dos bens antes do comércio internacional medido em função da quantidade de fator empregado na produção do bem, ausência de custos de transporte, custos de produção constantes e mobilidade perfeita da mão-de-obra internamente e imobilidade entre duas nações. Partindo de tais pressupostos Ricardo demonstrou através de um exemplo hipotético que as vantagens comparativas referem-se ao custo de oportunidade da produção de um determinado país, ou seja, trata-se da quantidade de bens que um país precisa abrir mão para produzir outro tipo de bem. Dessa forma um país tem vantagens comparativas na produção de um bem se o custo de oportunidade da produção do bem em termos de outros bens é maio baixo que em outros países. 17 Para elucidar tal conceito utilizaremos o exemplo exposto por Ricardo: Tabela 1 – Custos de produção no modelo de Ricardo Fonte: Baumann, Canuto e Gonçalves (2004). Ao analisar os dados da tabela observa-se que Portugal possui vantagens absolutas na produção de ambos os bens, dessa forma partindo da teoria de Smith a Inglaterra estaria excluída do comércio internacional. A lei das vantagens comparativas enuncia que mesmo que uma determinada nação possua desvantagens na produção de bens em comparação a outro país existiria um determinante para o comércio mutuamente benéfico. No modelo exposto pelo o autor à Inglaterra utilizaria 100 unidades de trabalho para produzir tecidos e 120 unidades para produzir vinho, dessa forma para Ricardo este país deveria especializar-se na produção de tecidos e adquirir vinho de Portugal. Ao contrario Portugal deveria especializar-se na produção de vinho que requer menos unidades de trabalho e importar tecidos da Inglaterra, pois seria mais vantajoso aplicar seu capital na produção de vinho e com isso obter mais tecido importado do que se empregasse parte do seu capital produtivo na indústria têxtil. A Inglaterra neste contexto deveria produzir o bem para o qual sua desvantagem fosse menor e Portugal deveria produzir o bem para o qual sua vantagem fosse maior. Pois ambas as partes seriam beneficiadas, a Inglaterra poderia importar vinho a um custo menor que 1,2 unidades de tecidos e Portugal importar mais do que 0,89 unidade de tecido em troca de uma unidade de vinho. Segundo Gonçalves (1998), a teoria Ricardiana das vantagens comparativas pode ser resumida na seguinte proposição: O comércio bilateral e sempre mais vantajoso do que uma autarquia de duas economias, cujas estruturas produtivas não sejam similares. A teoria de Ricardo sobre o comércio internacional configurou-se como uma ferramenta útil para pensar as razões das trocas comerciais entre os países e sobre os efeitos deste comércio sobre o bem estar, conforme expõe Krugman e Obstfeld 18 (1999), embora para estes autores, o modelo faça projeções equivocadas devido aos seguintes motivos: Prevê um grau extremo de especialização que não se observa no mundo real; assume efeitos indiretos do comércio internacional sobre a distribuição de renda dentro dos países e, portanto prevê que os países como um todo sempre ganharão por meio do comércio; não admite papel algum para as diferenças de recursos entre os países como uma causa do comércio; ignorar o papel das economias de escala como um causa do comércio, tornado impossível explicar os grandes fluxos comerciais entre nações aparentemente similares. Para os autores, apesar de tais falhas o prognóstico básico do modelo Ricardiano de que os países tenderiam a exportar bens cuja produtividade é relativamente alta vem sendo fortemente confirmado por diversos estudos no decorrer dos anos, o que ressalta a importância desta teoria. 2.1.2. Teorias Neoclássicas. As críticas aos modelos clássicos de comércio internacional, especialmente a Teoria Ricardiana levaram a elaboração de um enfoque diferenciado e que se baseava nas relações microeconômicas, as chamadas Teorias Neoclássicas. Tais teorias derivaram principalmente das formulações de dois economistas Eli Heckscher e Bertil Ohlin, entretanto, conforme aponta Gonçalves (1998) foi Paul Samuelson que deu formato analítico ao modelo com o uso de argumentos baseados em linguagem matemática e que caracterizam esta abordagem. Os modelos Neoclássicos diferem da teoria Ricardiana, pois consideram as diferenças na dotação dos fatores de produção e na intensidade do uso destes fatores na produção de diferentes bens entre os países as bases para o estabelecimento do comércio internacional. Segundo Gonçalves (1998), o núcleo da teoria neoclássica de comércio internacional são quatro proposições que englobam os resultados fundamentais da teoria pura do comércio internacional: o Teorema Heckscher-Ohlin, o Teorema de Equalização do Preço dos Fatores, o Teorema Stolper-Samuelson e o Teorema de Rybczynsky. O Teorema Heckscher-Ohlin partiu das seguintes premissas para a elaboração do modelo: dois países, dois produtos, dois fatores de produção, livre comércio, não considerava os custos de transporte, existência de concorrência 19 perfeita no mercado de bens e fatores de produção, funções de produção idênticas entre as nações e rendimento decrescente dos fatores. Segundo o modelo Heckscher-Ohlin, com base na dotação de fatores de produção um país exportará os produtos que utiliza de forma intensiva o fator que é relativamente abundante domesticamente obtendo desta forma vantagem comparativa em relação a outros países e importará bens produzidos com os recursos que são relativamente escassos em seu território. O Teorema de Equalização de Preços dos Fatores, de acordo com Gonçalves (1998), foi formalizado de forma definitiva por Samuelson e enuncia que em sua dimensão externa e sob certas condições: proximidade entre as dotações dos fatores nos dois países; ambos os produtos sejam produzidos em cada um dos países e inexistência de especialização completa no comércio internacional, o livre comércio de bens finais seria suficiente para a equalização dos preços dos fatores de produção internacionalmente e em sua dimensão interna o teorema afirma que com o preço das mercadorias constante, uma pequena mudança na dotação de um fator de produção não afetará o preço dos fatores. O Teorema Stolper-Samuelson foi proposto por W. Stolper e Paul Samuelson e aborda a relação entre os preços dos fatores e o preço das mercadorias transacionadas. De acordo com Baumann, Canuto e Gonçalves (2004), estes autores analisaram os efeitos da imposição de uma barreira a importação de um produto e associaram os efeitos de uma política restritiva ao modelo HeckscherOhlin, como resultado foi demonstrado que neste tipo de modelo qualquer interferência no comércio internacional para elevar o preço local de um produto importado beneficiará o fator de produção usado intensivamente no setor em concorrência com o produto importado. Para Gonçalves (1998) este teorema se resume na seguinte enunciado: um crescimento no preço relativo de uma mercadoria aumenta o retorno real do fator usado intensamente na sua produção e reduz o retorno da outra mercadoria. O Teorema de Rybczynsky discute a relação entre a variação nas quantidades dos fatores de produção e o nível de produção das mercadorias. De acordo com Gonçalves (1998), o teorema enuncia que se o preço de um produto for fixo, um aumento na dotação de um fator acarreta um crescimento mais que proporcional na produção da mercadoria que usa o fator relativamente de forma intensiva e uma queda absoluta na produção da outra mercadoria. 20 O modelo neoclássico do comércio internacional, o qual se baseia na proposição de que as trocas comerciais ocorrem devido às diferenças entres os recursos disponíveis nos países é considerado por diversos autores como Krugman e Obstfeld (1999) e Gonçalves (1998), um instrumento extremamente útil para a compreensão de determinadas questões do comércio internacional, como os efeitos do comércio na distribuição de renda. Entretanto, diversas evidências empíricas demonstram que tal modelo é parcial e distorcido. Neste contexto um importante estudo a cerca deste modelo foi realizado pelo economista Wassily Leontief, no qual o autor comprovou que, ao analisar as exportações norte-americanas, estas eram mais intensivas em trabalho que suas importações, embora o país fosse mais intensivo em capital, o que contrapunha o modelo Heckscher-Ohlin, tal resultado ficou conhecido como o Paradoxo de Leontief. A teoria neoclássica voltada a explicar as bases do comércio internacional apresentava diversas falhas, especialmente em relação à validade empírica do modelo, contestada por diversos estudos, principalmente o chamado Paradoxo de Leontief, devido ao fato de que este modelo baseava-se em pressupostos que não são validos e, portanto não conseguia explicar grande parte comércio internacional. Na tentativa de construir modelos que evidenciassem as causas do comércio internacional não explicado pelo modelo neoclássico, surgiram as chamadas Novas teorias do comércio internacional. 2.1.3. Visões alternativas sobre o comércio internacional. As chamadas Novas teorias do comércio internacional buscavam explicar os determinantes do comércio de produtos manufaturados e utilizavam para tanto modelos que enfatizavam a existência de ganhos de escala e diferenciação do produto, modelos baseados na disponibilidade, modelos que evidenciavam o papel da demanda interna e modelos baseados no papel das diferenças tecnológicas nos processos produtivos dos países. Em relação ao enfoque da disponibilidade dos produtos surgiu a hipótese elaborada por Kravis em 1956, na qual o autor defendia que a determinação da composição do comércio internacional tinha como base a disponibilidade dos produtos, ou seja, os países tenderiam a adquirir os produtos que não estivessem disponíveis na nação, restringindo o comércio internacional. 21 Segundo Baumann, Canuto e Gonçalves (2004), as falhas deste modelo derivam principalmente de sua difícil averiguação empírica e ao fato de seu enunciado refletir um contexto típico da década de 50, em que efetivamente as barreiras comerciais eram expressivas e explicáveis, pois segundo Kravis, a explicação básica para considerar a disponibilidade como atributo básico, derivava das barreiras comerciais, dos custos dos transportes e das políticas das grandes empresas, fatores que tenderiam a eliminar do comércio internacional os produtos que poderiam ser produzidos internamente. Os modelos baseados na demanda interna inicialmente surgiram com Drezé em 1960. Segundo este autor, as economias de escala dependiam menos do tamanho da indústria do que do quantitativo de produtos elaborados, sendo que a diferenciação existente para os consumidores nos países importadores seria o aspecto relevante. Esta formulação enunciava que os países que detinham mercado interno deveriam especializar-se na produção de bens que tivessem rendimentos crescentes de escala, enquanto os países pequenos produziriam produtos padronizados com os quais teriam mais chance para competir nos mercados internacionais. Em 1961, surge o modelo de Linder, segundo Baumann, Canuto e Gonçalves (2004), uma formulação mais elaborada do peso da demanda interna. Linder em contraposição ao modelo Heckscher-Ohlin, que enunciava que o comércio internacional ocorreria com maior intensidade quanto maiores fossem as disparidades entre a dotação nos fatores de produção entre os países, propôs que o comércio internacional tenderia a ser mais intenso entre países que detivessem o mesmo nível de renda per capita, uma vez que estes países tenderiam a consumir uma maior quantidade de produtos sofisticados. Dessa forma, os países participantes deste comércio tenderiam a especializar-se na produção e exportação de bens que refletissem as características da demanda interna. As críticas ao modelo de Linder partem do princípio de que as fontes das vantagens comparativas não ficam claras, pois se tratam de países que produzem bens semelhantes e com proporções de fatores de produção semelhantes. As teorias baseadas em diferenças tecnológicas entre as nações representaram um determinante a parte do comércio internacional e foram examinados pelos modelos de defasagem tecnológica e do ciclo do produto. 22 O modelo da defasagem tecnológica foi elaborado por Posner em 1961, para o qual uma grande parte do comércio internacional de produtos industrializados baseia-se na introdução de novos produtos e novos processos tecnológicos que concedem as empresas que produzem a inovação um monopólio temporário, garantindo-lhes vantagens no comércio internacional que permanecem até que a nova tecnologia seja adquirida pelos demais países. Este modelo enuncia que a defasagem tecnológica de outros países seria o determinante da vantagem comparativa, entretanto, o modelo apresenta falhas ao enfatizar excessivamente o processo de imitação e desconsiderar os efeitos da mobilidade de capital, o que o torna incapaz de prever o ritmo e a direção do comércio internacional, conforma aponta Baumann, Canuto e Gonçalves (2004). O modelo do ciclo do produto elaborado por Vernon em 1966, segundo Salvatore (2000), trata-se de uma generalização e extensão do modelo de defasagem tecnológica. Segundo o autor, este modelo aponta que quando um novo produto e introduzido no mercado este geralmente requer mão-de-obra altamente qualificada na sua produção, à medida que o produto amadurece e adquiri aceitação em massa torna-se padronizado podendo então ser produzido através de técnicas de produção em massa e com mão-de-obra menos qualificada. Portanto as vantagens comparativas do produto se deslocam das nações avançadas, que o introduziram originalmente, para nações menos avançadas onde a mão-de-obra é relativamente barata. Este modelo demonstra o processo de transição de um produto diferenciado para um produto padronizado. Os modelos baseados em economias de escala enfatizam a hipótese de que mesmo que as nações sejam semelhantes em diversos aspectos como dotação de fatores e produção de bens semelhantes, o comércio internacional lhes proporcionará ganhos através de economias de escalas. De acordo com Krugman e Obstifeld (1999), o comércio pode ser mutuamente benéfico como resultado de economias de escala, sendo que o comércio internacional possibilita que cada país se especialize numa variedade restrita de bens para que obtenha economias de escala, sem sacrificar a variedade de consumo. Cada país especializa-se na produção de uma variedade limitada de bens que lhe permite produzi-los de forma mais eficiente, do que se tentasse produzir tudo e estas economias especializadas realizam trocas comerciais para que todos os tipos de bens sejam consumidos nas nações. 23 Com os ganhos em termos de economias de escala, a produção mundial de bens será mais elevada e com o comércio as nações passam a dividir os ganhos, configurando-se como um incentivo as trocas comerciais. As economias de escala podem ser internas, dependendo do tamanho da firma e externas, dependendo do tamanho da indústria. Os principais teóricos que desenvolveram modelos baseados em economias de escala foram Kemp e Krugman, o primeiro considerava que as economias de escala externas a firma eram a base para o comércio internacional e Krugman considerava as economias de escala internas a firma o determinante do comércio internacional. Ao analisar as teorias neoclássicas e as chamadas Novas teorias do comércio internacional, observa-se que tais teorias se complementam no sentido de que cada delas explica uma parte do comércio internacional. O modelo Neoclássico é adequado para explicar o comércio inter-indústria, baseado na dotação de fatores de produção, a exemplo do intercâmbio realizado entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, enquanto as Novas teorias do comércio internacional seriam adequadas para explicar o comércio intra-indústria, como por exemplo, o intercâmbio realizado entre países desenvolvidos. Apesar destas teorias serem complementares explicando boa parte do comércio, diversas questões permaneceram sem resposta como, por exemplo: Como explicar as vantagens auferidas por uma indústria sediada em um país específico? E por que estas vantagens se mantêm garantido a este país maior participação no comércio internacional? 2.1.4. Teoria das Vantagens Competitivas. Com a evolução do comércio internacional as estratégias competitivas tornaram-se fator fundamental para a existência das empresas nos mercados mundiais globalizados. A competitividade enquanto base para sobrevivência das empresas nos mercados foi analisada por diversos autores, em especial por Michael Porter (1999), considerado um dos principais teóricos que buscou examinar os princípios fundamentais da competitividade. Para Porter (1999) a competitividade é a habilidade ou talento resultante dos conhecimentos adquiridos, capazes de criar e manter um desempenho superior ao 24 desenvolvido pela concorrência. Segundo o autor, o conceito mais adequado para competitividade é a produtividade e a elevação da participação das empresas nos mercados depende de sua capacidade em atingir altos níveis de produtividade e aumenta - lá com o tempo. Porter (1999), buscava explicar por que as empresas situadas em determinados países alcançavam superioridade tecnológica, produziam artigos diferenciados, de melhor qualidade ou produtos que estavam mais de acordo com as necessidades dos clientes de que outros. O processo de globalização econômica tornou os mercados cada vez mais dinâmicos, dessa forma as empresas buscam adquirir e manter vantagens competitivas para alcançar sua expansão no mercado. De acordo com Porter (1999), as empresas conseguem criar e manter vantagens competitivas no comércio internacional por meio da inovação, da melhoria e do aperfeiçoamento. A inovação inclui tanto a tecnologia como métodos abrangendo novos produtos, novos métodos de produção, novas maneiras de comercializar e identificar novos grupos de clientes. Para compreender a competitividade, segundo o autor, devem ser analisadas as características decisivas de uma nação que possibilita um ambiente no qual as empresas buscam inovações, criando e mantendo vantagens competitivas em determinados segmentos. Segundo Porter (1999), a prosperidade econômica das empresas e conseqüentemente das nações nas quais estão situadas depende da produtividade com a qual os recursos nacionais são empregados. Neste sentido a teoria de Porter se assemelha a teoria Ricardiana, ao considerar as diferenças na produtividade as bases para o comércio internacional, embora Ricardo considera-se apenas a produtividade do fator trabalho, o que reflete diretamente á época na qual sua teoria foi desenvolvida, enquanto Porter considera a produtividade como resultado de um conjunto de fatores determinantes para a criação das vantagens competitivas. Porter (1999) ressalta que devido à limitação dos recursos disponíveis, tornase importante que os mesmos sejam empregados nas atividades mais produtivas, possibilitando ganhos no comércio internacional. Partindo deste princípio, os países devem investir em mecanismos que lhes garantam maior produtividade. Dessa forma as nações se especializariam na produção de bens fabricados com elevada produtividade, tornando-os mais competitivos. 25 O modelo Neoclássico de comércio internacional enfatizava o papel da dotação dos fatores para o estabelecimento do comércio internacional, Porter reconhece a importância dos fatores de produção para competitividade das empresas, entretanto, segundo o autor, não é escassez ou a abundancia dos fatores que determina o comércio internacional, conforme expõe os neoclássicos e sim as vantagens competitivas que foram conquistadas, sendo que os fatores de produção mais importantes para o estabelecimento destas vantagens são criados. Para Porter (1999), a aquisição e manutenção de vantagens competitivas que garantem as empresas situadas em determinados países êxito no comércio internacional dependem de quatro atributos que modelam o ambiente no qual as empresa competem e estes atributos compõem um sistema, o qual o autor denominou de Diamante Nacional. O Diamante Nacional é composto pelos seguintes atributos: 1. As condições dos fatores de produção - De acordo com Porter (1999), reflete a posição do país nos fatores de produção como: trabalho especializado ou infraestrutura necessárias a competição de determinada empresa. Para o autor os fatores mais importantes para a vantagem competitiva não são herdados, mais criados dentro do país, dessa forma o estoque de fatores de produção em qualquer momento é menos importante do que o ritmo com que eles são criados, aperfeiçoados e se tornam mais especializados por certas indústrias. Porter (1999) ressalta que a vantagem competitiva dos fatores de produção depende da eficiência e eficácia com que são distribuídos e não é o simples acesso aos fatores, mas a capacidade de usá-los produtivamente que adquiri importância central neste processo. 2. Condições da demanda – Segundo Porter (1999), este atributo refere- se à natureza da demanda interna para produtos ou serviços da indústria e está na raiz da vantagem nacional, uma vez que pode incentivar as empresas a investir no desenvolvimento de tecnologias, melhorias nos produtos, aumentando a competitividade. 3. presença Indústrias correlatas e de apoio – De acordo com Porter (1999), a ou ausência de indústrias correlatas e de apoio que sejam internacionalmente competitivas tem impacto sobre a vantagem nacional. A presença de indústrias fornecedoras internacionalmente competitivas cria vantagens para as indústrias relacionadas de diversas formas como, por exemplo: pelo acesso 26 eficiente e preferencial a maioria dos insumos para o processo produtivo, pela ligação e cooperação entre as empresas fornecedoras e pelo processo de inovação e aperfeiçoamento propiciado pela estreita relação entre os fornecedores e a indústria. Dessa forma, segundo o autor, as vantagens nacionais são fortalecidas se os fornecedores estiverem próximos as empresas. 4. Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas – Para Porter (1999), trata-se do contexto no qual as empresas são criadas, organizadas e dirigidas, bem como a natureza da rivalidade interna. Sendo que as metas, as estratégias e o modo de organizar as empresas em indústrias variam muito entre os países. A vantagem nacional resulta de um bom equilíbrio entre estas escolhas e configuram-se como uma das fontes das vantagens competitivas numa determinada indústria. Nesse contexto segundo o autor, o padrão de rivalidade interna tem papel profundo a desempenhar no processo de inovação e nas perspectivas finais do sucesso internacional. Além dos quatro determinantes para a criação das vantagens competitivas duas variáveis adicionais podem influenciar o sistema Diamante Nacional e de acordo com Porter (1999), são essenciais para completar a teoria, trata-se do Papel do acaso e o Papel do Governo. De acordo com o autor, o Acaso são acontecimentos fora do controle das empresas como: invenções puras, descobertas tecnológicas, guerras, mudanças bruscas na demanda mundial ou regional e decisões políticas de mercados estrangeiros. Tais acontecimentos criam descontinuidades que podem remodelar a estrutura das indústrias, dando oportunidade para novas empresas possam suplantar as vantagens competitivas de outras. Outro fator importante é o papel do Governo, sendo que este pode melhorar ou piorar a vantagem nacional através das políticas implementadas que podem fortalecer ou enfraquecer o Diamante Nacional. Porter (1999), em sua teoria ressalta que a unidade para entendimento da vantagem nacional é a indústria e são necessários vantagens por todo o Diamante Nacional para que se possa adquirir e manter o sucesso competitivo nos mercados. Os fatores apresentados, de acordo com Porter (1999), são determinantes da vantagem nacional e medem as proporções nas quais o ambiente nacional é fértil para a competição numa indústria. Os atributos determinantes para a criação das vantagens competitivas são mutuamente dependentes, uma vez que segundo o 27 autor, o Diamante Nacional é um sistema interativo no qual as partes se reforçam mutuamente. A teoria das vantagens competitivas de Michael Porter ao contrário das teorias clássicas e neoclássicas que partiram de um modelo hipotético para explicar as bases do comércio internacional, busca explicar como as empresas conseguem através das vantagens competitivas criadas, conquistar grande parte dos mercados internacionais. Esta teoria aponta a inovação como fator determinante para a produtividade das empresas e a importância do trabalho de Porter refere-se a sua capacidade de elencar os atributos necessários ao surgimento das vantagens competitivas, tendo em vista que com a globalização dos mercados a competitividade tornou-se fundamental para a sobrevivência das empresas. 28 3. O CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL DE 2000 A 2009 Este capítulo tem por finalidade analisar o cenário econômico mundial no período compreendido entre 2000 e 2010, especialmente sobre a ótica das transações comerciais. Neste sentido buscou-se verificar a evolução do comércio internacional e como este processo exerce influência sobre as economias dos países. O capítulo foi dividido em cinco itens: no primeiro é realizada de forma ampla uma análise do processo de globalização e sua influência sobre as transações comerciais entre os países. O segundo item trata dos acordos, instituições e mecanismos cujos objetivos são a regulação e o fomento ao comércio internacional. O terceiro item trata da evolução das trocas comerciais em escala mundial. O quarto item examina o papel da competitividade para a economia dos países e é feita uma análise do desempenho dos maiores produtores mundiais. No quinto item é analisada a participação brasileira nas transações comerciais e elencadas as causas da baixa competitividade dos produtos brasileiros. A relevância deste capítulo se encontra na compreensão das transformações econômicas em escala mundial, da evolução das trocas que são determinantes para o desempenho comercial e da inserção brasileira neste contexto. 3.1 A GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA O fenômeno globalização nas últimas décadas condicionou a economia mundial a uma série de grandes transformações: um movimento de interligação e interdependência entre as diversas economias no chamado “sistema-mundo”, o que levou a uma grande complexidade das relações internacionais. Nesse contexto e dada à importância de tal fenômeno, este se constituiu como força impulsionadora do comércio mundial, sendo crucial para o entendimento da trajetória das economias e seu desempenho no comércio internacional, neste caso especificamente a economia brasileira. Diante da complexidade deste tema são os inúmeros os conceitos e abordagens a cerca do mesmo. Segundo Dollfus (1999), a globalização econômica trata-se de um fenômeno generalizado de expansão e intensificação das empresas no mundo. Isto se deve basicamente a redução nas barreiras tarifárias que favoreceram o crescimento do fluxo de transações comerciais, ao aumento da concorrência no mundo 29 empresarial, ao progresso dos meios de transporte, a evolução da tecnologia da informação e a redução na intervenção estatal na economia. Para Santos (2008), o conceito de globalização é derivado antes de tudo da estrutura econômica, apontando para um progresso de longa duração que se iniciou nos séculos XV –XVI através da construção de um comércio mundial e que culminou na economia global dos nossos dias. De acordo do Stiglitz (2002), a globalização trata-se da integração mais estreita entre os países e os povos do mundo, que tem sido ocasionada pela enorme redução dos custos de transporte e de comunicação, pela derrubada de barreiras artificiais ao fluxo de produtos, serviços e de capital e em menor escala de conhecimento e de pessoas através das fronteiras. Para o autor, este fenômeno se constitui em uma força propulsora de desenvolvimento e redução das desigualdades internacionais. São diversos os conceitos a cerca do tema, mas o importante é compreender quais são os desdobramentos reais deste fenômeno sobre as economias. As características marcantes deste fenômeno são uma crescente integração nos campos: comercial, no qual houve uma grande expansão do comércio internacional, tornando-o fundamental para o crescimento das economias; produtivo, no qual houve o avanço da internacionalização da produção, o aumento da concorrência internacional e a maior integração na estruturas produtivas da economia dos países; financeiro no qual ocorreu uma maior integração entre os sistemas financeiros nacionais, um aumento significativo dos fluxos financeiros internacionais e ao acirramento da concorrência nos mercados de capitais em escala internacional. Dessa forma todas as economias estão condicionadas aos efeitos da globalização. Diante da importância de tal fenômeno para as economias surge o questionamento a cerca de seu surgimento. Para Ianni (1997), este processo não é recente tendo início no século XV-XVI com a expansão marítimo-comercial européia e posteriormente avança com o capitalismo. Para o autor, este último desde sua origem apresenta conotações internacionais, multinacionais, transnacionais e mundiais que se desenvolvem na acumulação originaria do mercantilismo, do interdependência. colonialismo, do imperialismo, da dependência e 30 Singer (1997), partilha da concepção de Ianni de que o fenômeno origina-se no século XV-XVI, para este autor, nos últimos 500 anos a globalização da economia foi progredindo mesmo havendo períodos de recessão deste processo como em tempos de guerra ou de crise. Trata-se de um fenômeno antigo, mas observa-se que no último século houve uma aceleração no estreitamento das relações econômicas internacionais, bastante influenciada pelas instituições globais, criadas com o objetivo de coordenar a economia mundial. Segundo Stiglitz (2002), ao final da Guerra Fria no início dos anos 90, com o fim entrave político que dividia o mundo em dois modelos econômicos, o capitalista e o socialista, a globalização ganha um novo impulso e um caráter universal, tendo em vista que o capitalismo tornou-se ao menos para a maioria dos países o único modelo econômico vigente. Então, por que um fenômeno capaz de promover o desenvolvimento e reduzir as desigualdades tem sido alvo de tantas críticas e protestos? A resposta a este questionamento segundo Stiglitz (2002), reside na forma como tal processo tem sido conduzido pelas instituições globais, gerando benefícios as potências econômicas e malefícios a maioria dos países e da população mundial. Entender como funciona este processo requer uma análise destas instituições, que segundo o autor, corrompem o processo de globalização, estas instituições são: Fundo Monetário Internacional- FMI, o Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio- OMC. O Banco Mundial ou Banco internacional para reconstrução e desenvolvimento- BIRD seu nome original e o Fundo Monetário Internacional - FMI foram criados durante a Conferência de Bretton Woods, cujos objetivos principais eram financiar a reconstrução européia após a segunda guerra, fomentar o comércio internacional e garantir a estabilidade econômica mundial. Nesse contexto seria criada uma instituição para coordenar e supervisionar o comércio mundial, a Organização internacional do comércio - OIC não estabelecida devido a não aceitação americana, sob a motivação de que a existência de tal instituição reduziria a soberania do país na economia. Desta forma até a criação da Organização Mundial do Comércio - OMC em 1995, após a Rodada de negociações do Uruguai realizada sob a égide do GATT, este acordo configurou-se como único instrumento não de controle, mas de 31 negociação no âmbito do comércio internacional. Neste contexto a OMC surge como uma instituição dotada de personalidade jurídica com as funções de fomentar, coordenar e supervisionar o comércio internacional. Ao FMI foi designada a tarefa de garantir a estabilidade econômica, ao Banco Mundial a de garantir o desenvolvimento das economias e a o OMC, criada posteriormente, para ampliar o comércio mundial. Entretanto, a atuação destas instituições tem gerado ganhos diferenciados aos países desenvolvidos, as principais potências econômicas têm auferido ganhos neste processo, enquanto para maioria dos países em desenvolvimento este processo tem gerado desemprego, miséria, e manutenção da condição de subdesenvolvimento ao contrário das promessas realizadas. A atuação destas instituições garantia benefícios aos países desenvolvidos, pois recomendavam para os países em desenvolvimento um pacote de políticas, o Consenso de Washington, como única via para o desenvolvimento, políticas estas que não foram adotadas pelos países desenvolvidos para obterem crescimento econômico, nesse sentido foram adotadas por estes medidas protecionistas, a macroeconomia keynesiana, utilizando forte presença do estado e subsídios a diversos setores econômicos como agricultura e têxteis. O pacote de políticas indicadas no chamado Consenso de Washington, desconsidera a trajetória histórica de crescimento dos países desenvolvidos e as políticas utilizadas, recomendando, ou melhor dizendo, impondo aos países em desenvolvimento, políticas como: Austeridade Fiscal, o corte de gastos públicos nas economias que estão em profunda recessão; altas taxas de juros, o que segundo eles, atrairia investimentos estrangeiros; a liberalização comercial; as privatizações e a desregulamentação da economia. Ao longo da história observa-se que tais políticas segundo Stiglitz (2002) e Santos (2008), tem levado os países que as adotaram a profundas recessões como no caso da Argentina, enquanto países que não adotaram tais recomendações como a China e a Malásia, que criaram suas próprias políticas para gerar crescimento econômico, conseguiram beneficiar-se do processo de globalização e auferir altas taxas de crescimento. É importante ressaltar o caso da China uma economia emergente que se tornou a segunda economia mundial entre os anos de 2009 e 2010. Santos (2008), afirma que para grande parte da humanidade, 32 especialmente as economias em desenvolvimento a globalização está se impondo como uma “Fábrica de perversidades”, aumentando a pobreza e o desemprego. A OMC atua nesse contexto colocando o mercado acima de tudo e gera benefícios especialmente voltados às potências econômicas, lhes garantido vantagens, como por exemplo, a utilização de barreiras não tarifárias que geralmente diminuem a competitividade dos produtos oriundos dos países em desenvolvimento e os escalonamentos tarifários, ou seja, o aumento dos tributos conforme aumenta o grau de elaboração do produto, o que desestimula a industrialização destes países para que permaneçam produzindo bens de baixo valor agregado. É evidente que se tivessem adotado as políticas que recomendam os países desenvolvidos não chegariam onde estão e diante das contradições inerentes ao processo, se faz necessário que países em desenvolvimento como o Brasil, criem suas próprias políticas econômicas para auferir os benefícios do processo de globalização, gerando desenvolvimento e redução das desigualdades, pois embora diante do fracasso do pacote de políticas recomendadas pelas instituições globais como o FMI, o Banco Mundial e a OMC, tais instituições continuam atuando de maneira que beneficiam os interesses dos países industrializados mais avançados em detrimento dos interesses do mundo em desenvolvimento, não perdendo o hábito de tentar ditar os rumos da política econômica nos países emergentes. Conforme aponta Ha-Joon Chang (2003) é comum aqueles que chegaram ao topo da magnitude “chutar a escada” pela qual subiram a fim de impedir os outros de fazerem o mesmo, dessa forma é necessário que os países em desenvolvimento criem sua própria escada para o desenvolvimento, como fez a China. É consenso entre diversos autores como Santos (2008) e Stiglitz (2002), de que conforme tem sido praticada a globalização não gera benefícios a todos, sendo necessário buscar uma globalização mais humana, que leve em consideração a questão ambiental, que busque garantir que todos os países tenham poder de voto nas decisões que os afetam, promover a democracia e o comércio justo. Para que tudo isso que é proposto pelos autores funcione é necessário uma readequação das instituições globais que possam gerenciar este processo de maneira adequada e imparcial, a fim de garantir que os potenciais benefícios da globalização sejam auferidos por todos os países. 33 3.2- O GATT E A OMC NO COMÉRCIO INTERNACIONAL Após analisar o processo de globalização econômica, no qual o desenvolvimento das economias nacionais passaram a depender do aumento de seus fluxos comerciais, principalmente no comércio internacional, é necessário examinar ao longo do processo de evolução do comércio os acordos, as instituições e os mecanismos utilizados para estimular e regular o comércio internacional. Antes de realizar uma abordagem sobre os acordos e instituições criadas nesse contexto é preciso entender as formas de integração entre os países. Com o aumento das relações comerciais entre os países é possível que estes estabeleçam entre si diversas modalidades de acordos comerciais: bilateral, multilateral, dentro ou fora de uma região ou do mesmo bloco econômico, cujo objetivo é ampliar a participação nos vários mercados. O acordo bilateral trata-se de um contrato realizado entre dois países, que consiste em uma relação quantitativamente predeterminada baseada em exportações recíprocas, onde há a fixação de cotas que orientam o comércio entre os países envolvidos, dessa forma os governos negociam volumes determinados de produtos. Outra forma de integração bilateral é a utilização de uma preferência alfandegária, os países envolvidos no acordo concedem entre si vantagens alfandegárias, tal mecanismo apresenta vantagens em relação à adoção das cotas, uma vez que reflete as mudanças na demanda dos países podendo gerar benefícios maiores, embora nesse mecanismo sempre exista o fator incerteza quanto ao impacto efetivo no intercâmbio comercial. O multilateralismo trata-se de um acordo entre países, realizado com o objetivo de obter um balanço externo razoável no comércio internacional, possibilitando uma maior integração comercial entre os países envolvidos, a adoção de ajustes aos desequilíbrios externos em escala global e os países podem extrair maiores ganhos no comércio exterior devido à presença em um maior número de mercados. Nesse contexto o multilateralismo trata-se de um mecanismo avançado em relação ao bilateralismo, uma vez que seus benefícios são maiores para os países participantes. Diante da importância deste mecanismo para internacional a análise será voltada para esta forma de integração. o comércio 34 A trajetória do comércio mundial foi fortemente marcada pelo processo de abertura econômica pela qual passou a economia mundial no final da II Guerra, no qual se buscava uma ordem liberal, não baseada no livre comércio especificamente, mas em motivações políticas e estratégicas dos países da Europa e dos Estados Unidos. No sentido de estimular um espaço de maior integração na economia internacional e ampliar as relações econômicas entre os países foi realizada em 1944 a Conferência de Bretton Woods, cujo resultado foi à criação do Fundo Monetário Internacional - FMI e o Banco internacional para reconstrução e desenvolvimento - BIRD, nesse período foi proposta a criação de uma terceira instituição a Organização internacional do comércio - OIC, entretanto, tal instituição não foi estabelecida devido a não ratificação da proposta pelos Estados Unidos, pois segundo o congresso americano, a aprovação desta proposta restringiria a soberania do país no comércio internacional, embora tenha sido um dos países que propuseram a instituição. Em substituição a OIC, propôs-se um acordo o GATT, Acordo Geral sobre as tarifas do comércio, este acordo surgiu das negociações que procuravam diminuir as barreiras comerciais e não para estabelecer regras para as relações comerciais entre os países. Este acordo possuía três regras básicas: a primeira é o tratamento da nação mais favorecida e o conceito de reciprocidade, o tratamento aplicado a um membro deve ser aplicado aos demais, mantendo a integração multilateral e a garantia da reciprocidade das concessões obtidas entre os membros; a segunda regra é a existência de tratamento nacional para os produtos importados e a terceira regra a da transparência, na qual os países tinham a obrigatoriedade de tornarem públicos seus documentos referentes à política econômica. Durante a vigência deste acordo foram realizadas oito rodadas de negociação: Genebra (1947); Annecy (1949); Torquay (1950,51); Genebra (1955,56); Dillon (1960,61); Kennedy (1964 a 67; Tóquio (1973 a 79) e Uruguai (1986 a 93). O objetivo principal destas rodadas de negociação era a redução das barreiras tarifárias segundo Thortensen cit in Pereira (2005), a atuação do acordo alcançou sucesso tendo em vista que em média as tarifas aplicadas aos produtos eram de 40% em 1947 e caíram para 5% em 1994. Entretanto, à medida que as rodadas iam sendo realizadas, surgiam conflitos e questionamentos em relação aos termos do acordo, como por exemplo, os impostos que incidiam sobre a importação 35 de produtos agrícolas que não fazia parte do acordo e o aumento das restrições comerciais praticadas pelos países desenvolvidos, fatos que demonstraram a necessidade de negociar uma maior abrangência de itens, uma vez que o mecanismo tarifário perderia sua importância como mecanismo de proteção. Alguns destes temas foram discutidos durante a rodada de Tóquio nos anos de 1973-79, mas a negociação destas questões foi fracassada, enquanto houve sucesso nas negociações para redução das tarifas. A rodada do Uruguai iniciou suas negociações diante das divergências entre países desenvolvidos que buscavam a inclusão de novos temas e os países em desenvolvimento, os quais acreditavam que tais inclusões implicariam em uma proliferação de barreiras não tarifárias. Segundo Castro (2001), ao final desta rodada um novo panorama econômico surgiria na América Latina, os países abririam suas economias e os fluxos do comércio começariam a dar sinais de grande revigoramento, de um lado os países industrializados saíram favorecidos, isto devido a seus grandes poderes de negociação, de outro nos países latino-americanos, este processo foi feito em prazo de tempo mais curto, modificando seus regimes comerciais e cambiais em um marco de grandes reformas macroeconômicas que garantiram os fluxos de capital externo. Após o encerramento da rodada do Uruguai, o GATT foi substituído pela OMC, instituição criada em 1995 que surgiu como um marco regulatório do regime multilateral do comércio, uma organização dotada de personalidade jurídica, cujos objetivos são: gerenciar os acordos que compõem o sistema multilateral do comércio, servir de fórum para o comércio internacional, supervisionar a adoção e implementação dos acordos pelos seus membros, direcionar as disputas econômicas, dar assistência e treinamento aos países em desenvolvimento e cooperar com outras organizações internacionais. Diante das mudanças ocorridas na economia mundial em virtude da abertura das economias e do processo de globalização econômica e da produção, a OMC visa fomentar as transações comerciais entre os países e tem sua atuação pautada em princípios gerais que norteiam a relação entre seus membros, tais princípios segundo fonte oficial da instituição são: Princípio do comércio sem discriminação, nos termos do acordo da OMC os países não podem discriminar entre seus parceiros comerciais, devendo o tratamento ser igual para todos e no que tange os 36 produtos estabelece o tratamento nacional, no qual as nações deverão tratar os produtos importados e aqueles produzidos internamente de forma igual; Princípio do comércio mais livre, através de negociação objetiva- se a redução das barreiras visando incentivar as trocas comerciais; Princípio da previsibilidade; através da transparência este princípio garante a previsibilidade sobre as regras e o comportamento das barreiras comerciais com vistas a incentivar os investimentos; Princípio da concorrência justa, busca garantir um comércio justo, sem práticas desleais e Princípio do tratamento especial e diferenciado para os países em desenvolvimento, para tanto lhes é oferecido mais tempo para adaptar-se, maior flexibilidade e privilégios especiais. A OMC tem atualmente 153 membros e possui atuação sobre as trocas comerciais, setores de serviços e de direitos de propriedade intelectual e enquanto organização tornou-se coordenadora e supervisora das regras do comércio internacional, o que demonstra o tamanho de sua importância e abrangência na economia mundial, visto que a conseqüência direta destas atribuições da OMC é que os fluxos comerciais em escala global estão subordinados as suas regras. Alguns autores como Thorstensen (1998) e Castro (2001), questionam a atuação da OMC e seu objetivo principal a liberalização das transações econômicas através da negociação das tarifas utilizadas, no atual estágio do comércio internacional, fortemente influenciado pela globalização dos mercados e da produção, no qual a competitividade é fator decisivo. Segundo Thorstensen (1998), o objetivo desta organização ao longo de sua trajetória sempre enfatizava estimular o comércio através da aplicação de regras para a redução das barreiras, entretanto, as políticas nacionais são fortemente influenciadas pela dinâmica internacional, na qual as empresas transnacionais estão desempenhando um papel cada vez mais importante e a estratégia de globalização esta ditando as regras de investimento e de avanços tecnológicos. Diante deste cenário a autora enfatiza que se tornou necessária uma discussão sobre que papel a OMC deve desempenhar e quais os novos objetivos a serem seguidos, buscando não apenas a liberalização do comércio, mas uma análise que inclua os instrumentos das diversas políticas econômicas e seus impactos sobre a competição internacional, além do modo de operação dos mercados. 37 3.3 - O comércio mundial no período de 2000 a 2009. O comércio internacional tornou-se a partir do fenômeno da globalização fator decisivo sobre a economia dos países, uma vez que grande parte de suas produções são destinadas aos mercados externos. Dessa forma, analisar o comportamento do comércio internacional é passo fundamental para entender a dinâmica da economia brasileira, especialmente das suas transações comerciais. De acordo com Puga (2005), o forte dinamismo do comércio mundial nos últimos anos fez das exportações um importante motor do crescimento econômico em diferentes nações. Tal dinamismo foi influenciado pelo processo de globalização que, segundo Perobeli e Haddad (2003), garantiu um ambiente de crescente integração, que tem gerado mudanças em relação ao fluxo de mercadorias e serviços entre os países. Tabela 2 - Exportações e importações mundiais de mercadorias: 2000-2009 (US$ Milhões) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Nota: As exportações em US$ Milhões FOB e as importações US$ Milhões CIF. Com base nos dados sobre o comércio internacional fornecido pelo MDIC, no ano 2000 as exportações mundiais apresentaram um crescimento de 12,9% e as importações de 13,6% em relação ao ano anterior. De acordo com o Relatório anual do Banco Central (2000), este crescimento ocorreu em virtude da trajetória da economia norte-americana, que no primeiro semestre mostrou-se favorável, registrando ganhos de produtividade que favoreceram o controle das pressões 38 inflacionárias dos preços do petróleo, no qual OPEP atuou no sentido de elevar e posteriormente administrar os preços internacionais, o que provocou alterações nos preços relativos da economia, bem como da retomada do crescimento dos países da zona do Euro, da atuação das economias emergentes do sudeste asiático, da América latina e do leste europeu. Segundo o relatório do Ministério de Minas e Energia (2009), no início do ano 2000 a economia mundial apresentava-se numa trajetória de expansão bem delineada, especialmente em economias emergentes e em transição. Em 2001 as exportações mundiais reduziram 4,1% e as importações 3,6% em relação ao ano anterior. De acordo com o Relatório MME (2009), neste ano a economia mundial aproximou-se de um estado recessivo especialmente nos países em desenvolvimento, devido ao estouro das empresas dotcom1 nos Estados Unidos que provocou o declínio dos mercados financeiros do país e conseqüentemente desacelerou a economia mundial, reduzindo as exportações oriundas dos países emergentes e os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contribuiu para aumentar o grau de incerteza global. Em 2002 as exportações mundiais cresceram 4,8% e as importações 4% em relação ao ano anterior, o comércio mundial retomou sua trajetória de crescimento que, segundo o Relatório MME (2009), ocorreu em virtude das políticas anticíclicas americanas. Nesse período nos Estados Unidos houve a redução das taxas de juros, aumento nos gastos em defesa e o desempenho de setores de alta tecnologia, impulsionaram a economia americana e indiretamente a economia dos países asiáticos e europeus. O Relatório anual do BC (2003), ressalta que neste período o desempenho da economia mundial esteve condicionado à evolução da economia norte-americana. No ano de 2003 as exportações cresceram 16,9% e as importações 16,6% comparadas com o ano anterior. Este crescimento acentuado do comércio internacional foi de acordo com o Relatório MME (2009). resultado direto da política econômica mais expansiva adotada pelos países industrializados, da desvalorização do dólar e conseqüentemente ao preço dos bens primários cotados nesta moeda. 1 Empresas de comércio eletrônico que exploram a comercializaçao serviços ou produtos na Internet. 39 Segundo o Relatório anual do BC (2004), a trajetória da economia mundial nesse período pode ser dividida em duas fases distintas. O primeiro semestre foi marcado por incertezas diversas, relacionadas sobretudo a Guerra do Iraque, que ocasionou a elevação nos preços do petróleo e a deteriorização das expectativas dos agentes econômicos, no segundo semestre em virtude da superação das incertezas somado aos estímulos macroeconômicos citados anteriormente, resultaram na sensível aceleração no nível da atividade econômica. Em 2004 as exportações mundiais e as importações cresceram 21,7% em relação ao ano anterior. De acordo com Relatório anual do BC (2005), o crescimento econômico no período consolidou-se em escala global, acelerando-se nos Estados Unidos, alcançando a América Latina, o Japão e a Zona do Euro. A economia Chinesa manteve sua tendencia de elevado crescimento. Segundo o Relatório MME (2009), nesse período o aumento dos preços denominados em dólar foi fator importante nesta expansão do comércio mundial e a influência desse vetor foi muito expressiva ao longo do período 2002-2008. Em 2005 as exportações mundiais cresceram 13,9% e as importações 13,4% em relação ao ano anterior. Nesse período o crescimento do comércio mundial continuou expressivo. De acordo com o Relatório anual do BC (2006), embora a economia tenha apresentado um pequeno arrefecimento em relação ao forte crescimento anterior, o resultado foi positivo, principalmente devido à manutenção das taxas de juros, a demanda externa aquecida e a recuperação continuada do mercado de trabalho nas principais áreas econômicas, favoreceram a atividade comercial. O Relatório BC aponta que EUA e China mereceram destaque neste cenário, determinando a dinâmica da atividade global, registrando taxas de crescimento semelhantes às de 2004, ocorreu também à recuperação da economia japonesa Em 2006 as exportações apresentaram crescimento de 15,6% e as importações de 14,6% em relação ao ano anterior. De acordo com o relatório anual do BC (2007), o sólido ritmo da expansão econômica em 2006 foi favorecido pelo desempenho robusto da economia americana e pelo crescimento acelerado das principais economias emergentes. Nesse período as economias do Japão e da Zona do Euro confirmaram a sustentabilidade de sua recuperação e cresceram a taxas superiores as de 2005, e 40 as economias mundiais continuaram apresentando baixas taxas de inflação e desemprego. Em 2007 as exportações mundiais cresceram 15,7% e as importações 14,9% comparadas ao ano anterior. Segundo o Relatório MME (2009), grande parte do crescimento econômico neste período foi induzida pelo maior dinamismo econômico das economias emergentes, especialmente China, Índia e Rússia, em relação aos países desenvolvidos. De acordo com Relatório anual do BC (2008), neste ano a economia mundial passou por duas fases distintas. No primeiro semestre registrou-se desempenho positivo, principalmente devido à atuação das economias emergentes, já citada anteriormente, enquanto a economia americana apresentava recessão. Já no segundo semestre devido à crescente inadimplência do mercado do subprime2 norte-americano, gerou impactos negativos sobre as instituições financeiras e conseqüentemente sobre o mercado de crédito global. Nesse cenário os principais Bancos Centrais atuaram no sentido de manter a liquidez do sistema financeiro, ações que abrandaram as restrições de liquidez, mas os mercados não retornaram as condições anteriores à crise. Embora a economia americana tenha demonstrado sinais de crise, as transações comerciais mantiveram a tendência de crescimento e em 2008 as exportações mundiais cresceram 15,2% e as importações 15,4% em relação ao ano anterior. De acordo com o Relatório anual do BC (2009), neste ano o ciclo de expansão iniciado em 2002, considerado um dos períodos de crescimento mais longo e de maior difusão desde a Segunda Guerra Mundial, deu lugar a uma reversão que se intensificou nos últimos meses do ano, devido aos desdobramentos da crise do mercado subprime nos Estados Unidos. Nesse sentido foram evidenciados os indícios de crise sistêmica e reconhecidas as implicações negativas desta crise, os Bancos Centrais e os Governos do EUA e dos países europeus, implantaram ou aumentaram de forma coordenada o escopo e as intensidades das ações voltadas a estabilizar os sistemas financeiros e reduzir os efeitos da crise sobre o nível da atividade econômica. Os efeitos da reversão iniciada em 2008 repercutiram intensamente nas transações econômicas no ano de 2009, período no qual as exportações 2 Termo utilizado para denominar financiamentos imobiliários de alto risco. 41 apresentaram queda de 22,8% e as importações de 23,3% em relação ao ano anterior. De acordo com Relatório do BC (2010), o desempenho da economia mundial pode ser segmentado em duas fases distintas, na primeira fase até meados do segundo trimestre houve continuidade da crise iniciada em 2008 na economia americana e a intensificação deste ciclo recessivo exerceu desdobramentos importantes sobre o nível de emprego e da atividade econômica, sendo necessária a aplicação de diversas políticas anticíclicas. No segundo trimestre de 2009, mesmo ratificando a perspectiva de continuidade do processo de recessão, os indicadores revelaram sinais de que as políticas anticíclicas aplicadas pelas instituições e governos passaram a apresentar resultados favoráveis, cujos efeitos deveriam ser percebidos mais evidentemente em 2010 com a provável recuperação da economia. A economia mundial e suas transações comerciais no período de 2000-2009 apresentaram períodos de elevado crescimento econômico, bem como períodos de recessão e crise. O período analisado demonstrou que a economia mundial passava por importantes transformações, a economia no período foi fortemente influenciada pela economia americana, mas no período de 2002 a 2008 o elevado crescimento econômico foi marcado pela participação cada vez maior das economias emergentes, notadamente pelo dinamismo destas economias nas transações mundiais, merecendo destaque neste cenário o BRIC (Brasil, Índia, Rússia e China). A China foi a economia que no período apresentou maiores taxas de crescimento em relação às transações comerciais, a economia norte-americana apresentou redução das suas atividades comerciais e ao final do período analisado a China desponta como maior exportador mundial e um dos principais importadores. Neste contexto conforme aponta Medeiros (2006), a China surge como um duplo pólo na economia mundial, o primeiro pólo como produtor mundial de produtos de tecnologia da informação e bens de consumo industriais para os mercados ocidentais e o segundo pólo como grande importador de mercadorias, tornou-se o principal magneto para o desenvolvimento asiático, além de importador de produtos oriundos de outras regiões econômicas. 42 3.3.1- As exportações mundiais por região no período de 2000 a 2009. Em virtude do crescimento das relações comerciais no período de 2000-2009, devido ao processo de abertura das economias e a atuação da Organização Mundial do Comércio (OMC) no sentido de incentivar as trocas comerciais. Observou-se que embora o comércio tenha apresentado momentos de forte recessão, as trocas comerciais entre os países cresceram. Ao analisar a distribuição das exportações entre as regiões verifica-se as disparidades e as mudanças ocorridas neste período. Gráfico 1- Participação das diversas regiões nas exportações mundiais: 2000-2009 (porcentagens). Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior As exportações do continente africano representaram em média 3% do total das exportações mundiais do período, valor muito pequeno tendo em vista a dimensão deste continente. Entretanto, um número elevado de países que compõem esta região não realizaram trocas comerciais com os outros países, nesse continente destaca-se a atuação da África do Sul, Argélia, Líbia, Nigéria e de Angola entre os anos de 2008 e 2009. As exportações da Oceania representaram em média 1% do total de produtos exportados, participação pequena, entretanto, este continente é formado por muitas ilhas que não tiveram participação no comércio internacional no período analisado, 43 e esta participação deve-se a atuação da Austrália, que corresponde em média por 75% do total das exportações realizadas e Nova Zelândia que corresponde em média a 15% do total das exportações. Os países do continente americano apresentaram uma participação de em média 18% nas exportações mundiais no período de 2000-2009. Neste período esta região apresentou forte tendência de queda das suas exportações. Esta queda deveu-se a redução nas exportações dos Estados Unidos e do Canadá que representavam em média 73% do volume exportado. Os Estados Unidos iniciaram o período com uma participação de aproximadamente 12% e fechou o período com cerca de 8,7% um queda de 3,3%, o Canadá iniciou o período com uma participação de em média 4% no comércio mundial e fechou o período com 2,6%, o que impactou diretamente sobre as transações desta região com o resto do mundo. No contexto econômico desta região pode-se destacar além da direta influência dos países citados anteriormente a participação do México que também apresentou queda ao longo do período e do Brasil que obteve em média ao longo do período 1% de participação nas exportações mundiais, sendo da América Latina o maior exportador. O continente europeu apresentou no período analisado uma média de 45% de participação nas exportações mundiais. No início do período analisado esta região econômica detinha uma participação de aproximadamente 43% das exportações, a partir daí as exportações deste continente apresentou uma tendência de crescimento mantida até 2005 alcançando o percentual de 47%, reduzindo a partir de 2006 fechando o período com 44% de participação. No período de 2002 a 2005 o crescimento desta região seguiu a tendência de crescimento do comércio mundial, mantendo sua participação na média, até a crise do subprime em 2007 que gerou impactos negativos sobre todas as economias mundiais. Nesse continente destaca-se a atuação de países como França, Itália, Países Baixos, Reino Unido, Bélgica, Luxemburgo e principalmente a Alemanha que corresponde em média a 20% do total exportado. Estes países somados representam em média 65% do total exportado por esta região. O continente asiático obteve em média participação de 33% no comércio mundial, iniciou o período com 32% das exportações mundiais, no ano seguinte obteve 30% de participação o que foi influenciado pelo desempenho da economia japonesa que permanecia em situação recessiva, segundo o Relatório do Banco 44 Central (2001), a partir de 2002 a região apresenta crescimento da participação nas exportações fechando o período com 35%. Tal desempenho foi fortemente influenciado pelo desempenho econômico chinês que conseguiu um crescimento extraordinário da sua participação nas exportações mundiais passando de cerca de 3,9% no ano 2000 para 9,8% em 2009 o que consolidou este país como maior exportador mundial e a segunda economia mundial. 3.3.2- As importações mundiais por região no período de 2000-2009 As importações também ressaltam as disparidades entre as regiões no que tange suas participações no comércio mundial e demonstram uma mudança no cenário econômico. Gráfico 2- Participação das diversas regiões nas importações mundiais: 2000-2009 (porcentagens). Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior O continente africano importou em média 2% do total exportado na economia mundial, o que mostra a pouca influência que este continente possui sobre a economia mundial, o que é resultado direto das condições de baixo desenvolvimento econômico da maioria países que compõem esta região. Em relação ao total importado destaca-se a atuação de países como África do Sul, Marrocos, Argélia e Nigéria. 45 A Oceania importou em média 1% do total das importações realizadas em escala mundial, conforme relatado anteriormente este continente é composto de diversas ilhas que mantém pouca ou nenhuma relação comercial com outros países, neste cenário destaca-se a atuação da Austrália, que é responsável por em média 77% das importações da região e da Nova Zelândia que é responsável por em média 15% das importações. O continente americano assim como nas exportações, apresentou queda no volume de importações realizadas, em média 24% no período analisado. Esta região iniciou o período com uma participação de 28% nas importações mundiais, a partir de 2002 iniciou um processo de redução das compras de bens importados, fechando o período com 21%. A queda na participação da região no volume das importações mundiais é notadamente influenciado pelo desempenho da economia norte-americana, que assim como nas exportações perderam participação, os Estados Unidos importavam no ano 2000 cerca de 18% das exportações mundiais, iniciaram no ano seguinte um processo de redução das importações fechando o período com 12% de participação, o Canadá também apresentou tendência de queda. O que influenciou negativamente o desempenho da região. O continente europeu importou em média 44% do total das exportações mundiais realizadas, apresentando no período analisado alguns momentos de redução, bem como de crescimento, porém não apresentou grandes oscilações no período. Nesta região destaca-se a atuação da Alemanha, maior importador, França e Reino Unido. O continente asiático importou em média 28% do total das exportações mundiais, esta região iniciou o período com participação de 27% das importações, em 2001 houve uma retração na participação desta região em virtude de queda nas importações de diversos países como Japão, Cingapura, Taiwan entre outros, fato que ocorreu, segundo Relatório do Ministério de Minas e Energia (2009), em virtude do estouro bolha especulativa nos Estados Unidos, no ano seguinte a região retomou o crescimento das importações fechando o período com 32% das importações mundiais. Deve-se destacar neste contexto a economia chinesa, que apresentou um grande crescimento no volume de suas importações. Após realizar uma análise das transações comerciais por região, observou-se uma grande perda de participação no comércio mundial das economias norteamericanas e a crescente importância da economia chinesa que se configura ao 46 final do período como maior exportador mundial e um dos maiores importadores mundiais e, segundo Relatório do MME (2009), uma investidora internacional em processo acelerado de internacionalização. O que demonstra a força desta economia. 3.4 A COMPETITIVIDADE ENTRE OS PAÍSES A competitividade em mercados globalizados, cujo padrão de consumo aparecem difundidos nas diversas regiões do mundo, se configura como principal instrumento de sobrevivência das empresas no mercado. Diante da importância deste fator, diversos autores estudaram este processo, dentre os quais merece destaque os trabalhos de Michel Porter que evidenciam os determinantes deste fator nas economias dos países. Segundo Porter (1999), a competitividade é a habilidade ou talentos resultantes de conhecimentos adquiridos capazes de criar ou sustentar um desempenho superior ao desenvolvido pela concorrência. Portanto trata-se de um processo dinâmico que requer constantes inovações a fim de que se mantenha tal resultado. Porter aponta que a vantagem competitiva nacional é resultado de uma conjuntura de determinantes que modelam o ambiente macroeconômico no qual as empresas competem, formando o que o autor denomina de “Diamante nacional”. Este diamante é formado por quatro determinantes que são responsáveis pela criação da vantagem competitiva. O primeiro determinante trata-se das condições dos fatores de produção como: trabalho especializado, infraestrutura, investimentos em capital intelectual, condições necessárias as diversas indústrias; o segundo determinante são as condições da demanda, a natureza da demanda interna pelos bens produzidos; o terceiro determinante é a existência de indústrias correlatas e de apoio que sejam internacionalmente competitivas e o quarto determinante é a estratégia, estrutura e rivalidade da interna, são as condições que no país governam a maneira pela qual as empresas são criadas, organizadas e dirigidas, mais a natureza da rivalidade interna. Para o autor, as condições dos determinantes do “Diamante Nacional” que garante a competitividade das empresas são resultantes da dotação de fatores de 47 produção e pela capacidade de criação desses fatores. O autor ressalta que os determinantes fundamentais para o alcance e sustento da vantagem competitiva precisam ser criados. Segundo Porter (1999), para que um país se mantenha no mercado internacional, este deve buscar exportar bens fabricados com maior produtividade a fim de alcançar suas vantagens competitivas, pois caso contrário as firmas nacionais expostas aos padrões de competitividade internacional serão derrotadas o que comprometerá a capacidade de expansão e crescimento do país. O autor ressalta que são necessárias vantagens por todo o diamante para que o sucesso competitivo das empresas seja mantido, ou em outros termos, é preciso garantir eficiência e efetividade dos fatores envolvidos no processo produtivo. Segundo o autor, debilidades em quaisquer determinantes limitarão o potencial de progresso e o aperfeiçoamento da indústria, pois o diamante é sistema interativo no qual as partes se reforçam mutuamente. Dessa forma a competitividade é resultante da busca pelas condições necessárias ao alcance deste objetivo. Ao analisar a trajetória dos países mais competitivos constata-se que seus desempenhos superiores aos das demais economias é resultado direto de uma conjuntura de fatores determinantes como: altos investimentos em educação, inovações tecnológicas, infraestrutura, reformas institucionais, incentivos aos investimentos e ao consumo doméstico, que são áreas importantes a competitividade e que lhes garantem forte presença nos mercados. 3.4.1 Os maiores exportadores mundiais no período de 2000 a 2009 O comércio internacional passou a ser mais importante para o crescimento das economias dos países, o que foi especialmente percebido nas últimas décadas, dessa forma tornou-se necessário as economias dos países a internacionalização de suas atividades, os investimentos nas condições necessárias a criação e manutenção das vantagens competitivas, o que segundo Porter (1999), só é possível de serem alcançadas através do incentivo as indústrias, que forneceria as bases para um desempenho competitivo superior. No comércio internacional observa-se que um número reduzido de países configuram-se como maiores produtores mundiais e somados são responsáveis por 48 produzir em média ao longo do período analisado 55% de toda a produção de bens transacionados no comércio internacional. Tabela 3 - Os maiores exportadores mundiais: 2000-2009 (porcentagens) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Os países que compõe este ranking de maiores exportadores se tratam de economias desenvolvidas a exceção da China, economia emergente que devido a as altas taxas de crescimento que se sustentou ao longo do período, elevou está economia ao posto de maior exportador em 2009. O desempenho destas economias está diretamente ligado a competitividade de seus produtos nos mercados cada vez mais globalizados, de acordo com Porter (1999), está vantagem competitiva depende diretamente da capacidade que os países e suas indústrias possuem de criar as condições necessárias de fatores de produção que garantam vantagens em relação aos seus concorrentes, a sua capacidade de inovar e de melhorar continuamente a produtividade dos fatores. No decorrer do período analisado o comércio internacional foi marcado por profundas mudanças, no início do período as transações econômicas estava pautada na atuação da tríade: Estados Unidos, Alemanha e Japão, que se configuravam como principais potências econômicas, ao longo do período a principal economia mundial os Estados Unidos apresentou significativa queda em sua participação nas transações comerciais, no ano 2000 está economia respondia por cerca de 12% de tudo que era exportado no cenário mundial, constituído-se no 49 maior produtor de bens para exportação, posto ocupado até 2002, vale ressaltar que a economia canadense fortemente atrelada a economia americana seguiu sua tendência de queda. A partir de 2003 a Alemanha assume o posto de maior produtor mundial mantendo a hegemonia da tríade, com exceção deste país, as economias européias no geral apresentaram queda em sua participação nas exportações mundiais, a Alemanha conseguiu manter um desempenho econômico superior ao das demais economias até 2008. A trajetória de crescimento da participação chinesa nas transações comerciais no período merece destaque, tendo em vista que está economia iniciou o período em análise com um percentual de participação de 3,9 % das exportações mundiais, imprimindo um aumento da presença de seus produtos nos mercados internacionais, devido à alta competitividade destes, o que levou este país alcançar em 2009 um percentual de aproximadamente 10% de participação nas exportações, garantindo - lhe o posto de maior exportador mundial. Dessa forma surge uma nova conjuntura econômica não mais baseada apenas na tríade, há uma nova potência econômica, a China, que ao lado de Estados Unidos e Alemanha compõe o grupo de maiores produtores mundiais e reflete a importância que a economia chinesa vem ganhando nos últimos anos, de um lado um grande produtor de outro um grande importador mundial. 3.5 PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NO MERCADO EXPORTADOR NO PERÍODO DE 2000 A 2009 Ao analisar o desempenho das exportações brasileiras no período, observa se que o país não possui grande participação nas exportações mundiais e dentre os países que compõem o BRIC (Brasil, Índia, Rússia e China) este apresentou a menor expansão da participação no volume das exportações mundiais, sendo o país menos competitivo. Segundo o relatório do Ministério de Minas e Energia (2009), o crescimento da participação nacional de 37% aproximadamente não reflete o potencial reservado ao país no comércio internacional. Tabela 4 - A participação do Brasil nas exportações mundiais: 2000-2009 (porcentagens). 50 Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior No período analisado 2000-2009 o Brasil apresentou em média uma participação de 1,09 % nas exportações mundiais. Em 2001 o volume de produtos exportados pelo Brasil apresentou crescimento de 10% em relação ao ano anterior, em 2002 seguindo a tendência de desaceleração da economia mundial aliado a incerteza no cenário econômico em virtude dos atentados de 11 de setembro, as exportações brasileiras apresentaram queda de 1% comparada ao ano anterior. Em 2002 as exportações iniciaram uma tendência de crescimento que ao final de 2008 representou um aumento de 28% no volume de produtos exportados, no ano de 2009 em virtude da desaceleração da economia causada pela crise econômica global às exportações não apresentaram queda, mantendo-se a participação brasileira no comércio, fato que merece destaque tendo em vista que houve um a redução de 23% nas exportações mundiais. A economia brasileira ao longo do período analisado apresentou uma mudança significativa na composição da sua pauta de exportações. Segundo Kume e Riane (2010), entre 2006 e 2009 a participação dos produtos básicos nas exportações aumentou de 29% para 40% e o volume de produtos manufaturados caiu de 54% para 44%, fato que divide a opinião dos analistas econômicos, de um lado um grupo defende que esta mudança conduzirá a desindustrialização do país de outro os economistas consideram que a composição das exportações são compatíveis com as vantagens comparativas do país. Entretanto, segundo Porter (1999), o desempenho da economia de um país depende da capacidade que sua estrutura industrial possui em inovar e manter as vantagens competitivas garantindo uma maior produtividade e qualidade dos produtos. Dessa forma a competitividade de um país está diretamente ligada à capacidade de inovar e aumentar a produtividade das empresas, entretanto, é necessária a criação das condições para que as vantagens competitivas sejam alcançadas. 51 No caso brasileiro muito ainda precisa ser feito para melhorar a estrutura dos fatores que afetam diretamente a competitividade das empresas, questão que será abordada mais especificamente no próximo item. 3.5.1 Brasil: As Causas da baixa competitividade Por que o Brasil, um país com um enorme potencial econômico tem sido pouco competitivo no cenário econômico mundial? O país, segundo o Relatório de competitividade do Brasil da CNI (2010), encontra-se numa situação bastante desfavorável não apenas em relação aos países desenvolvidos, mas também em relação a outras economias emergentes. Esta situação de baixa competitividade do Brasil é resultado de uma conjuntura de fatores que condicionam o país a este desempenho, fatores externos e internos a economia. Os fatores externos que condicionam o país a este baixo desempenho competitivo estão diretamente ligados a globalização, a forma como tal fenômeno tem sido conduzido, na qual as instituições globais, especialmente o FMI impuseram aos países em desenvolvimento um pacote de políticas econômicas, que segundo esta instituição conduziria os países ao pelos países em desenvolvimento. Entretanto, tais políticas não foram utilizadas desenvolvimento em seu processo de ascensão e observa-se que adoção irrestrita a este pacote de políticas tem conduzido os países que adotaram a uma situação de pouca competitividade, desemprego e crise, como por exemplo, a situação econômica da Argentina. Nesse cenário é importante ressaltar que países como, por exemplo, a China, que não adotou tais recomendações auferiu altas taxas de crescimento e tornaram-se competitivos no comércio internacional, ou seja, estes países criaram as condições necessárias ao surgimento e manutenção de suas vantagens competitivas. Além do FMI, a atuação da OMC pautada na redução das barreiras tarifárias e voltada para fomentar o comércio mundial, na qual o mercado está acima de tudo, tem garantido segundo Baumann, Canuto e Gonçalves (2004), benefícios maiores aos países em desenvolvimento, pois através da utilização de diversas medidas protecionistas, estes países impõem um duplo problema aos países em desenvolvimento: diminui a competitividade de seus produtos, especialmente em 52 setores como agricultura, têxteis e vestuário e ainda desestimula a industrialização através dos escalonamentos tarifários, ou seja, à medida que aumenta o grau de elaboração dos produtos aumentam as tarifas que incidem sobre os mesmos, reduzindo a possibilidade de criar nestes países uma maior competitividade que geraria crescimento, pois conforme aponta Porter (1999) a indústria é o setor dinâmico da economia. Segundo a Confederação Nacional da Indústria – CNI, diversos elementos condicionam a capacidade das empresas de manter eficazmente dois mecanismos que lhes permitem superar os concorrentes na preferência do consumidor: Os preços e a diferenciação do produto, mas a depender da forma como estão estruturados, tais fatores se configuram como entraves a competitividade do país, o que ocorre na economia brasileira. Em um estudo sobre a competitividade brasileira realizado pela CNI, no qual se compara o desempenho do país ao de outras nações: África do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia, Espanha, Índia, México, Polônia e Rússia, são elencados quais os fatores econômicos e sociais que são relevantes na determinação do poder de competição das empresas. De acordo com a CNI, tais fatores são: a disponibilidade e o custo de mão-deobra; disponibilidade e custo do capital; infraestrutura e logística; peso dos tributos; ambiente macroeconômico; ambiente microeconômico; nível educacional da população e tecnologia e inovação. Em relação à disponibilidade e custo de mão-de-obra, as características brasileiras são a baixa produtividade do trabalhador, a rigidez da jornada de trabalho e a dificuldade de contratar e demitir um empregado. Com relação à disponibilidade e o custo do capital, o relatório aponta que a contribuição deste fator para a competitividade nacional é negativa, devido ao alto custo do capital, determinado pelas elevadas taxas de juros, o que se sobrepõe ao quadro positivo em relação ao mercado de ações e a eficiência do sistema bancário. No fator infraestrutura e logística foram considerados, segundo o Relatório da CNI (2010), as questões referentes a transportes, energia e telecomunicações. Com relação aos transportes, há um impacto extremamente desfavorável sobre a competitividade das empresas, devido à defasagem tecnológica e ao alto custo dos portos, a quantidade limitada de aeroporto, a uma malha ferroviária restrita e obsoleta e a as estradas em péssimas condições. No tocante a telecomunicações e 53 a energia o Brasil se apresenta numa situação intermediária, não configurando estes setores como entraves a competitividade, entretanto, notícias recentes divulgadas pela CNI, afirma que a indústria brasileira vem perdendo competitividade em função do aumento nas tarifas de energia elétrica, uma das mais altas do mundo. No aspecto macroeconômico a CNI, ressalta que o peso dos tributos no Brasil se configura como uma clara desvantagem competitiva do país, em relação às taxas de inflação, desempenho fiscal e a capacidade de atrair investimentos, o país se caracteriza por apresentar um desempenho médio. Entretanto, o país apresenta baixas taxas de formação do capital o que aliado a taxa de câmbio, que nos últimos anos levou a apreciação da moeda em relação do Dólar, tem impactado negativamente sobre o desempenho das empresas. No aspecto microeconômico a CNI, leva em consideração as variáveis que afetam a concorrência dos mercados internos e a dimensão destes mercados, neste cenário destaca-se a pequena intensidade da concorrência no mercado doméstico e o nível de barreiras tarifárias, que possuem efeitos negativos a competitividade. Em relação ao fator educação o relatório aponta que no Brasil há uma baixa disseminação da educação e de sua importância e uma baixa qualidade do ensino, fatos que contrapõem o volume de gasto público em educação, o que aponta para ineficácia dos investimentos neste setor. A tecnologia e a inovação são fatores de extrema importância para competitividade, de acordo com a CNI, nesse aspecto o Brasil apresenta um desempenho médio em relação à capacidade de inovação e em gasto com pesquisa e desenvolvimento. Entretanto, tal desempenho não é suficiente para garantir um desempenho competitivo superior ao dos concorrentes e a manutenção desta condição, tendo em vista que esses determinantes, segundo Porter (1999), é fundamental para a criação das vantagens competitivas. Essa conjuntura de fatores externos e internos a economia condicionam o Brasil a uma situação de baixa competitividade e para que o país se torne mais competitivo a um longo desafio a ser vencido. Em relação aos condicionantes externos o Brasil precisa buscar rever a adoção das políticas econômicas do Consenso de Washington, pois tais políticas já se demonstraram incapazes de promover o desenvolvimento das economias, 54 devendo-se adotar políticas econômicas que viabilizem o crescimento do país como fizeram a China e Malásia. Nesse contexto é necessário que os países em desenvolvimento busquem auferir maiores ganhos no comércio internacional através de um comércio mais justo, que beneficie as economias emergentes, procurando resolver estas controvérsias através de negociações sob a égide da OMC. Para obter a vantagem competitiva do país é necessária a criação das condições favoráveis para este desempenho superior, através de investimentos em infraestrutura; em tecnologia e inovação; uma maior fiscalização dos gastos públicos em educação, visando à eficácia deste setor, o que possibilita a existência de mão-de-obra qualificada e conseqüentemente mais produtiva; a redução das taxas de juros, visando ampliar os investimentos e o consumo interno e principalmente a implementação de planos econômicos que tenham como objetivo o crescimento do país, pois se observa que nos últimos anos as políticas econômicas têm sido voltadas para a estabilização da economia. É preciso viabilizar o crescimento do país através do incentivo a industrialização e de um ambiente econômico competitivo que permita as empresas ampliar sua participação no mercado mundial, gerando crescimento econômico. 55 4 A EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL NO BRASIL NO PERÍODO DE 2000 A 2010. Nesta seção é analisada a trajetória da balança comercial brasileira no período compreendido entre 2000 e 2010, verificando para tanto as variáveis que exerceram influência sobre seu desempenho. Este capítulo está dividido em três itens, os quais respectivamente tratam da influência exercida pelas variáveis macroeconômicas sobre o desempenho comercial, os efeitos da política comercial do país sobre as transações comerciais e a evolução da balança comercial no período. 4.1 A BALANÇA COMERCIAL E SEUS DETERMINANTES Para compreendermos a evolução da balança comercial brasileira na última década, se faz necessário examinar tal conceito verificando quais são as variáveis macroeconômicas que determinam o seu resultado e de que forma elas interagem influenciando em sua dinâmica. De acordo com Stiglitz e Walsh (2003), as economias modernas são economias abertas, dessa forma estão ativamente envolvidas no comércio internacional e relacionadas com os mercados financeiros mundiais. Nesse contexto os países estão unidos por trocas de bens e serviços. Este cenário econômico foi diretamente do pelo crescente processo de globalização da economia mundial, no qual as importações e exportações tornaramse fatores de extrema importância para o desenvolvimento econômico. O que demonstra a importância da balança comercial enquanto instrumento de mensuração da atividade comercial de um país. A balança comercial trata-se de uma das contas que compõem o balanço de pagamentos, sendo registrada nesta conta apenas a comercialização de bens, esta corresponde ao saldo das exportações sobre as importações, as primeiras computadas com sinal positivo e a segunda com sinal negativo. A balança comercial de um país pode apresentar diferentes resultados a depender das exportações e das importações realizadas: uma situação de equilíbrio, na qual as importações são iguais as exportações; superávit comercial, na qual há 56 um excesso de exportações em relação às importações e o déficit comercial, na qual há um excesso de importações em relação às exportações. O balanço de pagamentos é o registro das transações das pessoas que residem em um país com o resto do mundo (Dornbush, Fisher e Startz). Diante do conceito a cerca deste termo e conhecidos seus possíveis resultados, passaremos a analisar quais são os determinantes da balança comercial e como estes exercem influência sobre a mesma. Para Dornbush, Fisher e Startz (2003), as exportações líquidas, que se trata do excesso de exportações sobre as importações, dependem da nossa renda, que afeta os gastos com importações; da renda externa, que afeta a demanda por exportações e da taxa de câmbio. Segundo Stligtz e Wash (2003), as variáveis macroeconômicas: inflação, taxa de juros e taxa de câmbio estão inter-relacionadas e influenciam as exportações líquidas. Para Blanchard (2007), as importações são parte da demanda doméstica que recai sobre bens estrangeiros, dependendo claramente da renda interna, já as exportações são parte da demanda estrangeira que recai sobre os bens domésticos, dependendo da renda externa, portanto estas variáveis são de grande importância para o resultado da balança comercial. Conhecidas as posições dos autores estudados a cerca de tais determinantes, serão verificadas como as variações na renda interna, na renda externa, na taxa de câmbio, na inflação, e na taxa de juros afetam o saldo comercial e determinam o seu resultado. A renda interna influencia diretamente o resultado da balança comercial, ou seja, as exportações líquidas, uma vez que incrementos na renda dos consumidores internos leva a uma demanda maior por todos os bens, nacionais ou importados, o que a depender da taxa de câmbio que determina os preços dos bens nacionais em relação aos estrangeiros, implicará em um aumento dos gastos com importações o que levará a um déficit na balança comercial e à medida que os produtos estrangeiros tornam-se mais baratos, cresce a demanda interna por estes bens. A economia brasileira seguiu a tendência de crescimento da economia mundial e a partir de 2003 com o crescimento do PIB brasileiro, observa-se que as importações obtiveram taxas de crescimento superiores no Brasil, fato gerado pelo aumento da renda disponível devido ao crescimento do PIB no período, que passou 57 de US$ 645,0 bilhões em 2000 para US$ 2.089,8 bilhões em 2010, um crescimento de 224% no período, o que favoreceu o aumento das compras de produtos estrangeiros. No caso da renda externa, incremento no volume de recursos disponíveis para os consumidores estrangeiros levará a uma demanda maior por todos os bens, nacionais ou importados, o que a depender da taxa de câmbio pode levar a um aumento das exportações para os países. Como a taxa de câmbio reflete preços dos bens nacionais em relação aos estrangeiros, caso a mesma esteja desvalorizada, mais competitivos se tornam os bens nacionais no mercado mundial aumentando as exportações realizadas. O efeito desta variável sobre a economia brasileira pode ser observado especialmente no período de 2003 a 2008, quando o acelerado ritmo de crescimento da economia mundial, que aumenta o nível de renda estrangeira disponível, proporcionou um incremento significativo das exportações brasileiras, especialmente para mercados em expansão como a China e em momentos de contração da economia mundial as transações econômicas brasileiras seguiu a tendência de recessão, havendo redução das exportações como em 2009. Os efeitos da taxa de câmbio são muito importantes para análise da balança comercial, uma vez que esta variável exerce influência direta sobre as importações e exportações de um país. A taxa de câmbio trata-se do preço em moeda nacional de uma unidade de moeda estrangeira, sendo que esta taxa viabiliza a comparação de preços no mercado internacional e os preços é uma das variáveis que influenciam a decisão dos agentes econômicos. De acordo com Dornbush, Fisher e Startz (2003), o poder de compra relativo de duas moedas é medido pela Taxa real de câmbio, sendo esta a razão dos preços externos em relação aos preços domésticos medidos na mesma moeda, podendo ser considerada uma medida de competitividade de um país no comércio internacional. O cálculo da taxa real de câmbio é realizado conforme a seguinte equação: 58 Onde: Pf = Nível de preços do país estrangeiro P= Nível de preços no país e = taxa nominal de câmbio R= taxa real de câmbio Variações na taxa real de câmbio tem reflexo direto sobre as importações líquidas, uma depreciação da taxa de câmbio real, torna os produtos importados maios caros em relação aos nacionais, o que aumenta as exportações e reduz as importações, gerando um duplo efeito positivo sobre a balança comercial. Portanto, ceteris paribus, ou tudo mais constante, uma desvalorização cambial aumenta o saldo comercial. No caso de uma apreciação da taxa real de câmbio, ocorre o efeito contrário, uma redução das exportações do país e um aumento das importações, o que gera efeitos negativos sobre a balança comercial, mantidos inalteradas as demais variáveis, um valorização da taxa de câmbio real implica em redução do saldo comercial ou até mesmo uma situação de déficit comercial. Contextualizando a influência desta variável sobre a balança comercial brasileira na última década, verifica-se que a mesma foi fundamental para a economia a partir de 1999, após a introdução do regime de câmbio flutuante, no qual houve a valorização do dólar em relação ao real, tornando os produtos brasileiros competitivos no cenário internacional, garantindo a partir deste período um excepcional crescimento das exportações do país, ao mesmo tempo em que os produtos importados ficaram mais caros, situação que possibilitou a superação dos déficits comercial da década de noventa, havendo significativos superávits a partir de 2001. Entretanto, mesmo diante da apreciação da taxa de câmbio ao final de 2004, tendência esta que se consolidou nos anos seguintes, houve um crescimento contínuo da balança comercial até 2008, quando foi interrompido pelos efeitos da crise internacional. De acordo com Fonseca (2005), duas hipóteses de justificativas têm sido utilizadas para explicar este comportamento das exportações mesmo com a apreciação da moeda, a primeira hipótese ressalta que fatores conjunturais positivos como, por exemplo: estímulo resultante da desvalorização cambial após 1999, o forte crescimento da economia mundial a partir de 2002 e a elevação dos preços internacionais das commodities agrícolas e minerais, que aliado a elevação da 59 demanda passou a ter um peso significativo na pauta de exportações, o autor ressalta que tais fatores tiveram um impacto positivo sobre as exportações. A segunda hipótese ressalta que este resultado positivo das exportações encontra sustentação, segundo o autor, em fatores estruturais da economia brasileira, como a maior diversificação da pauta exportadora, em termos de destinos e de produtos; ao aumento contínuo da base exportadora, com o incremento de novas empresas e produtos ao longo dos anos; o impacto das reformas estruturais promovidas ao longo da década de 90, como liberalização comercial e desregulamentação, que surtiu efeito a partir de 2000; aumento a competitividade das empresas, através da pressão competitiva introduzida no cenário nacional devido à abertura comercial e ao salto quantitativo e qualitativo das exportações do agronegócio brasileiro como resultado dos investimentos públicos e privados em desenvolvimento, o que produziu ganhos de produtividade no setor. Esse desempenho pode levar a inferir que a taxa de câmbio é uma variável que exerce influência sobre a balança comercial, mas que seus efeitos podem ser atenuados por outros fatores conjunturais. Neste contexto o autor chama atenção para o fato de que no longo prazo esta apreciação cambial impõe a economia brasileira pesados custos de correção do curso da taxa de câmbio, devidos aos efeitos deletérios que incidirão sobre a economia devido a esta variável. A taxa de juros, segundo Segundo Stligtz e Wash (2003), tem efeitos sobre as exportações liquidas uma vez que exerce influência sobre a taxa de câmbio, que é variável fundamental para a balança comercial. Para os autores, quando a taxa de juros aumenta ocorre uma apreciação da moeda de um país, devido a uma maior procura por parte dos investidores estrangeiros para investimentos em títulos deste país, visando auferir maiores ganhos com a taxa de juros elevada, dessa forma há uma redução da oferta de moeda, pois os investidores nacionais estarão menos propensos a comprar títulos estrangeiros. Estes fatores provocam a apreciação da taxa de câmbio o que conseqüentemente afeta as exportações líquidas, pois aumentam as importações e reduzem as exportações. No caso brasileiro a taxa de juros configurou-se como principal instrumento de controle da inflação e manutenção da venda de títulos públicos, entretanto, a utilização deste instrumento para tais fins ocasiona o aumento da taxa de câmbio, conforme explicado anteriormente, levando a uma redução das exportações e um 60 aumento das importações, bem como uma redução nos gastos devido à contração da demanda e do investimento, o que leva ao desaquecimento da economia. Aumentos na taxa de inflação exercem influência sobre a balança comercial, de acordo Stligtz e Wash (2003), pois quando a inflação aumenta, a política monetária reage provocando um aumento da taxa de juros, que conforme citado anteriormente gera uma apreciação da moeda, aumentando a taxa de câmbio real, o que gera um duplo efeito negativo sobre o resultado da balança comercial. Elencadas as variáveis macroeconômicas determinantes da balança comercial e como estas exercem influência sobre o seu resultado, dentro as quais se destaca o efeito da taxa real de câmbio e sua relação com as demais variáveis, está análise se configura como um dos subsídios necessários ao entendimento da evolução da balança comercial brasileira na última década. 4.2. A POLÍTICA COMERCIAL BRASILEIRA NO PERÍODO DE 2000 A 2010. A política comercial brasileira é uma variável importante para a análise da balança comercial do país, uma vez que as ações implementadas pelos governos exercem influência direta sobre o desempenho comercial do país. Neste contexto as políticas comerciais tornaram-se um tema relevante na agenda de política nacional. O objetivo é realizar uma breve análise dos fatores que condicionaram a estratégia comercial brasileira, os mecanismos de promoção comercial utilizados, bem como os seus efeitos sobre as transações comerciais O período de 2000 a 2002 foi marcado pela continuidade do governo Fernando Henrique Cardoso, nesta gestão segundo Veiga (2005), a política comercial exercida pelo governo foi condicionada por dois fatores internos: o primeiro deles, diz respeito à manutenção de níveis elevados de proteção nominal e efetiva a alguns setores beneficiados pelo regime de substituição de importação e aos incentivos e investimentos realizados nestes setores; o segundo condicionante diz respeito matriz hegemônica de política externa, caracterizada pelo objetivo de neutralizar os fatores externos que pudessem comprometer o desenvolvimento econômico e da consolidação da capacidade industrial, vista como condição indispensável para a atuação autônoma do país no sistema internacional. Para o autor, a estratégia comercial brasileira deste governo respeitou estritamente tais condicionantes, caracterizando-se por em geral adotar posturas 61 defensivas no que tange a política comercial, exceto em algumas iniciativas que entravam em conflito com estes condicionantes, como as negociações preferenciais com os Estados Unidos e a União Européia. Durante este governo, ao final da década de 90, a alteração do regime cambial que contribuiu decisivamente para a desvalorização da moeda nacional teve impactos positivos sobre o saldo da balança comercial, promovendo em 2001 a superação dos sucessivos déficits comerciais ocorridos. A política comercial do governo FHC até 2002 foi pautada em programas de financiamento público as exportações; na busca por operar mecanismos de desoneração das exportações de produtos primários e semimanufaturados através da Lei Kandir, que isentou do tributo ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) os produtos e serviços destinados à exportação e previa que os estados fariam ressarcimento do ICMS aos empresários exportadores; atuação da APEX – Agência de Promoção de Exportações, órgão ligado ao SEBRAE e cujo objetivo era estimular a exportação de produtos nacionais por micro e pequenas empresas; criação de um Programa Especial de Exportações PEE, com o objetivo de expandir as exportações do país e incentivar os empresários a exportar; criação e atuação da Câmara de Incentivo as Exportações - CAMEX, órgão incumbido de elaborar as políticas comerciais do país, coordenar as atividades de comércio exterior de bens e serviços, no qual atuavam diversos ministérios e órgãos decisórios sobre o comércio exterior. Em 2003, com o início do governo do Presidente Lula, segundo Veiga (2005), a estratégia de política comercial sofreu continuidades e rupturas, continuidades no sentido de manutenção dos limites impostos pelos condicionantes domésticos e rupturas ao abandonar a política de negociações preferenciais e conduzir a estratégia comercial para as negociações sul-sul, como mecanismo de busca por novos mercados. No que diz respeito à política comercial voltada para o fomento das transações comerciais em esfera internacional, este governo adotou uma série de medidas para alcance de tal objetivo. Uma destas medidas foi à autorização da criação da APEX - Brasil, agência de promoção das exportações, entidade de direito privado sem fins lucrativos de utilidade pública, que surgiu em substituição da APEX instituída no governo FHC. O objetivo de tal instituição é a execução de políticas de promoção as exportações. 62 Outra importante medida foi à emissão do PITCE - Política Industrial, tecnológica e de comércio exterior, este documento surgiu para atuar em quatro linhas de ação, conforme aponta Ramos (2008): Inovação e desenvolvimento tecnológico; inserção externa; modernização industrial e capacidade e escala produtiva. Esta política tinha como objetivo aumentar a eficiência econômica do desenvolvimento e difundir tecnologias com maior potencial de indução do nível da atividade econômica e de competição no comércio internacional. De acordo com Ramos (2008), uma importante instituição foi criada sob a forma de instituição sem fins lucrativos e de utilidade pública, a Agência brasileira de desenvolvimento industrial - ABDI, além da instituição do Conselho Nacional de Desenvolvimento Indústria - CNDI, órgão vinculado a presidência da república, cujo papel era propor políticas nacionais e medidas destinadas a promover o desenvolvimento indústria do país e supervisionar a atuação da ABDI. Conforme aponta Suzigan e Furtado (2006), o país adotou um política de promoção comercial que colocava principalmente a inovação e o desenvolvimento tecnológico no centro de sua formulação, o que tinha como objetivo tornar os setores econômicos mais competitivos para o mercado internacional. Um ponto importante da política comercial no governo Lula é a atuação da Câmara de Comércio Exterior - CAMEX, que tem como função a formulação, adoção, implementação e coordenação das políticas e atividades relacionadas ao comércio de bens e serviços. Esta câmara, segundo o MDIC, é composta do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, que a preside; Ministério da Fazenda; Ministério da Casa Civil; Ministério das Relações Exteriores; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério do Desenvolvimento Agrário. Neste cenário a atuação desta câmara esta voltada a temas relacionados à competitividade, ampliação dos mercados, facilitação do comércio e defesa da indústria nacional. Na política de comercial é importante citar a atuação do Departamento de Promoção comercial e investimentos - DPR, uma unidade competente ao Ministério de Relações Exteriores, cuja ação é voltada para a implementação de políticas de exportações brasileiras e de captação de investimentos de interesse do país. Segundo o Itamaraty, esta instituição é responsável por implantar programas e realizar eventos que promovam o Brasil e sua capacidade produtiva e tecnológica. 63 Diante dos investimentos governamentais em política de comércio exterior que visavam à ampliação das exportações, houve efeitos positivos sobre as transações comerciais realizadas pelo país, mas tal resultado foi fortemente influenciado, de acordo com Suzigan e Furtado (2006), pela conjuntura externa favorável nesse período, pela mudança no regime cambial que levou a desvalorização da moeda, ao aumento da produtividade e competitividade especialmente no setor agrícola com a abertura comercial nos anos 90 e ao baixo crescimento da economia doméstica que estimulou a busca por novos mercados. Mais recentemente, em 2008 o governo Lula lançou uma nova política industrial, a Política de Desenvolvimento produtivo - PDP, que segundo o MDIC, tem por objetivo aprofundar o PITCE e dar sustentabilidade ao ciclo de expansão da economia brasileira. Segundo o MDIC, os desafios estabelecidos por estas políticas são: ampliar a capacidade da econômica em bases sustentáveis e competitivas, elevar a capacidade de inovação das empresas para aumentar a competitividade nos setores externos e internos, ampliar as condições de acesso aos mercados por micro e pequenas empresas, promover a robustez do balanço de pagamentos e criar as condições favoráveis para atrair investimentos externos diretos. Para alcançar tais desafios foram estabelecidas quatro macro metas: ampliação da formação bruta de capital fixo, ampliação da participação nas exportações mundiais, elevação da participação do gasto privado em pesquisa e desenvolvimento e ampliar o número de micro e pequenas empresas exportadoras. Além dessa política industrial, foi lançado pela CAMEX, um conjunto de propostas na chamada Estratégia Nacional de Simplificação do Comércio Exterior, no qual a finalidade é facilitar e simplificar as operações de importações e exportações, através de melhorias nos processos de rotina e procedimentos de controle e fiscalização do comércio. De acordo com os dados do Ministério de desenvolvimento Indústria e comércio, algumas macro metas do PDP foram alcançadas como, por exemplo, a ampliação da participação nas exportações mundiais em 2009, porém outras três macro metas não foram atingidas, devido aos efeitos da crise financeira internacional. Houve um crescimento na formação bruta de capital fixo e um a elevação no gasto privado em P & D, mas em percentual inferior ao da macro meta estabelecida. Com relação ao aumento de micro e pequenas empresas 64 exportadoras, tal objetivo não foi alcançado, havendo queda na participação até 2010. Segundo o MDIC, é nítido o desenho de um novo caminho no desenvolvimento do Brasil. Tendo em vista as diversas ações e políticas comerciais implementadas pelo governo, alguns especialistas como Ricardo Martins, diretor de comércio exterior da FIESP, em entrevista a Revista Veja, ressaltam que a política comercial brasileira, está mais custosa e ineficiente devido à sobreposição das estruturas, com diferentes órgãos para realizar tarefas semelhantes, como o MDIC e a APEX - Brasil, ambas atuando na promoção comercial. Tais instituições, segundo ele, não chegam a conduzir ações conflitantes, mas trata-se de uma estratégia demasiadamente custosa, que poderiam ser reunidas em ações melhores e mais eficientes. O objetivo nesta abordagem foi analisar as políticas comerciais lançadas no país e suas implicações na balança comercial, principalmente as voltadas ao fomento das exportações. O que importante perceber é que o governo neste período investiu em uma gama de ações e políticas voltadas para promoção comercial, dispersas em varias instituições e ministérios o que tem sido alvo de várias críticas, devido aos seus custos para economia. 4.2.1 As Negociações comerciais com países e blocos econômicos no período de 2000 a 2010. As negociações comerciais com a abertura da economia brasileira nos anos 90 e diante da importância do comércio internacional para o crescimento dos países, tornaram-se um componente essencial para as transações comercias e as estratégias na área de negociações comerciais é parte importante da política comercial exercida pelo país. No período analisado de 2000 a 2010 dois governos estiveram no poder. Os anos 2000 e 2001 marcaram a continuidade do governo FHC, neste período segundo Veiga (2005), o país adotou no geral posturas defensivas que dominavam a política brasileira nos diversos temas de comércio internacional. Segundo o autor, houve no período uma diversificação nas frentes de negociações, mas o país permaneceu adotando sistematicamente posturas defensivas. No ano 2000, de acordo com o Boletim anual do BC, a política de comércio exterior esteve condicionada pela expectativa de recuperação da balança 65 comercial devido à desvalorização cambial a partir de 1999, o traço marcante da política externa no ano foi a crescente importância adquirida pelas negociações comerciais bilaterais, cuja estratégia consistia em ampliar o comércio com outros países da America Latina, visando compensar as perdas ocasionadas pelas barreiras a entrada de produtos brasileiros nos mercados europeus, norteamericanos e a recessão da economia argentina, maior parceiro comercial na região. De acordo com o Boletim anual do BC 2000, apesar da recessão na Argentina, a agenda do MERCOSUL auferiu avanços significativos, na cúpula de Florianópolis foram criadas regras comuns obrigatórias para tratar acusações de dumping entre os países do bloco e a assinatura de um acordo automotivo comum que definiu um adicional de dois e meio pontos percentuais a tarifa externa comum, o que, segundo o BC, conferiu maior coesão ao bloco. Diante da redução de acesso aos mercados europeus, devido ao protecionismo, a estratégia nacional implantada foi à busca por novos mercados, através de negociações bilaterais, sendo os países da América Latina os mercados potenciais na tentativa de ampliar as exportações. Em 2002 houve a continuidade da estratégia da diplomacia comercial brasileira utilizada em 2001 para ampliar e diversificar os mercados. Segundo o Boletim anual do BC 2001, foram realizadas negociações com o México, África do Sul, Comunidade Andina e o acolhimento do pedido da Venezuela de iniciar negociações para ingressar no MERCOSUL. Neste ano a agenda negociadora do país buscou aprofundar as negociações com a Área de Livre Comércio das Américas - ALCA, que tratava-se da criação de um área de livre comércio que buscava eliminar barreiras alfandegárias entre os países da América. Porém outros fatores aumentavam a complexidade da agenda de negociações comerciais brasileiras como: a proposta de liberalização tarifária na área de bens apresentada pela União Européia ao MERCOSUL nas negociações entre estes blocos, segundo o BC, esta oferta ocorreu no momento em que o MERCOSUL passava pela maior crise dos seus dez anos de existência No âmbito do MERCOSUL, o bloco manteve a trajetória conturbada em função da crise argentina e os efeitos intra-bloco provocados pela depreciação da moeda brasileira. Nas negociações internacionais sob a égide da OMC, houve o lançamento da Rodada Doha no Catar que se constituiu em outro elemento de 66 complexidade da agenda comercial do Brasil, cujo foco estava voltado para a discussão de diversos temas controversos entre os países como: agricultura, serviços, propriedade intelectual relacionada ao comércio, antidumping, subsídios e medidas compensatórias de comércio e meio-ambiente. Em 2003, as negociações comerciais foram conduzidas de forma diferenciada, o governo agora estava sob as bases de um novo partido, que segundo Veiga (2005), abandonou as negociações preferenciais que dominavam a política comercial no governo FHC, adquirindo relevância as negociações Sul-Sul. Segundo o Boletim Anual do BC 2003, nas negociações internacionais o Brasil manteve a complexidade de sua agenda, em virtude do aprofundamento dos processos negociadores nos diversos foros que o país participava, dos interesses envolvidos e dos impactos que a conclusão dessas negociações poderia causar na economia. De acordo com Veiga (2005), durante o governo Lula houve a priorização das relações com países em desenvolvimento e segundo o BC, esta afirmação pode ser observada no fato de que na Reunião Ministerial de Cancun, o Brasil liderou a formação da coalizão de países em desenvolvimento na área agrícola, que para Veiga se caracteriza em um dos poucos setores no quais o país adota posturas ofensivas. No contexto econômico de 2003 o BC apontou que nas negociações comerciais, destacou-se no MERCOSUL, a iniciativa dos dois principais membros na busca pela retomada da agenda de negociações do bloco, fato incentivado pela maior convergência da política macroeconômica do Brasil e da Argentina, em um cenário de crescimento da economia brasileira e recuperação da economia argentina. Neste ano os principais acordos firmados pelo MERCOSUL foram com o Peru e membros da Comunidade Andina -Colômbia, Venezuela e Equador, também foram firmados um acordo quadro MERCOSUL- Índia, dentro da estratégia de relacionamento externo. Nas negociações realizadas junto a OMC, ocorreu segundo o Boletim Anual do BC 2003, uma polarização Norte-Sul nas negociações internacionais, de um lado os países desenvolvidos que defendiam uma proposta minimalista na área agrícola, o que contrapõe a posição dos países em desenvolvimento, pois se trata de um setor no qual estes países em geral são competitivos, outra divergência foi em 67 relação à inclusão na agenda de negociações sobre investimentos, concorrência, compras governamentais e facilitação do comércio. A negociações entre a União Européia e o MERCOSUL, estagnaram em face do impasse gerado na agenda da OMC, em relação às negociações agrícolas, já em relação a ALCA as negociações foram flexibilizadas, mas nada foi definido devido às divergências entre os interessados. No ano 2004, segundo o Boletim anual do BC, as negociações Sul-Sul foram fortalecidas em virtude de um menor dinamismo das relações com os países membros da ALCA e da União Européia. Neste cenário diversos acordos comerciais foram firmados devido ao elevado número de missões comerciais recebidas, dentre os quais se destacam o acordo de cooperação comercial e de investimentos firmado entre Brasil e China, acordos Sul-Sul firmados com o Egito, Índia e Países membros da União aduaneira da África Austral. No MERCOSUL, as negociações segundo o BC, foram dificultadas pelas medidas de salvaguardas adotadas pela Argentina em relação às exportações de produtos brasileiros, assim como pela negativa do governo argentino em liberalizar o comércio de automóveis a partir de janeiro de 2006 como previa o acordo firmado em 2002, houve ainda crescentes demandas do Paraguai e Uruguai por tratamentos especiais, o que dificultou o aprofundamento das negociações dentro do bloco. Nas negociações no âmbito da OMC, segundo o BC, o Brasil conseguiu importantes avanços no que tange a comercialização de produtos de baixo fator agregado, nos quais é competitivo. Foi favorável ao Brasil neste ano a queixa contra os subsídios dos Estados Unidos no setor de algodão e contra os subsídios da UE ao açúcar, o que para o BC, poderia ter impactos nas negociações da Rodada Doha que estava em andamento a respeito dos impactos negativos do subsidio sobre os países em desenvolvimento. No ano 2005, no tocante a agenda de negociações externas, de acordo com o Boletim anual do BC, o Brasil atuou ativamente na reunião interministerial da OMC em Hong Kong, cujo foco foi voltado para o desbloqueio e conclusão da Rodada Doha, entretanto, os resultados foram limitados, pois os assuntos de maior interesse do país como a definição dos percentuais de cortes dos subsídios e tarifas e as negociações sobre o acesso aos mercados agrícolas, foram postergadas para 2006. Em relação aos processos negociadores entre o MERCOSUL-ALCA e MERCOSUL- 68 UE mantiveram-se paralisados aguardando a evolução das negociações de âmbito multilateral na OMC. Tendo em vista este cenário externo, segundo o BC, o Brasil reforçou a busca por acordos bilaterais e o aprofundamento das relações Sul- Sul, um bom exemplo deste movimento foi o acordo quadro de cooperação entre os países do MERCOSUL e do Conselho de Cooperação do Golfo, que reúne seis estados do Golfo Pérsico: Omã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Kuwait. No MERSOCUL, o BC aponta, que o processo de integração apresentou resultados limitados, devido à dificuldade de conjugar o aprofundamento do processo de integração com a criação de mecanismos de salvaguardas, barreiras ao desenvolvimento do comércio regional nos moldes da proposta da Argentina e a não adesão da mesma as decisões acordadas. Em 2006, conforme aponta o Boletim anual do BC, a agenda relativa às negociações externas evoluiu pouco neste ano, houve a suspensão da Rodada Doha para a liberalização do comércio internacional, cujo principal impasse foi a exigência do EUA em obter maior acesso ao mercado agrícola europeu para compensar a desmontagem de seu programa de subsídios agrícolas, sendo que foi posteriormente fixado para março de 2007 o prazo limite para a retomada nas negociações da Rodada Doha. Segundo o BC, os processos negociadores do MERCOSUL – União Européia e MERCOSUL-ALCA mantiveram-se praticamente paralisados aguardando a evolução das negociações da OMC. Em relação ao MERCOSUL o Brasil assumiu a presidência pro-tempore no segundo semestre, um momento especialmente delicado no processo de integração, no qual se destacavam as divergências entre os países membros, o que associado a insatisfação de alguns países membros, Paraguai e Uruguai, com os resultados econômicos do processo de integração, reacendeu a busca por arranjos comercias bilaterais com EUA. Mesmo com tantos conflitos um marco importante no processo de integração regional do MERCOSUL foi à adesão da Venezuela como membro pleno do bloco. No ano de 2007, de acordo com o Boletim anual do BC, as negociações para a liberalização comercial global, sob a coordenação da OMC não apresentaram progressos significativos, devido as divergências entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os desenvolvidos buscavam uma maior abertura comercial 69 para bens industrializados e para o setor de serviços, os em desenvolvimento, como o Brasil, buscavam cortes de tarifas sobre suas exportações agrícolas e a redução de subsídios para agricultores dos países desenvolvidos. Diante deste quadro conflitante foi postergada para 2008 a nova data limite para o desfecho da Rodada Doha. No MERCOSUL, de acordo com BC, o tema das assimetrias do bloco dominou sua agenda de integração ao longo do ano, as principais medidas relacionadas a este tema foram as propostas de eliminação da dupla cobrança da tarifa externa comum e de distribuição da renda aduaneira, como plano estratégico de superação das assimetrias. Entretanto, foi postergada para 2008 a conclusão sobre os acordos de solução das assimetrias e a decisão a cerca do ingresso definitivo da Venezuela como membro do bloco. Ainda com relação ao MERCOSUL é importante destacar o estabelecimento de um tratado de livre comércio entre o bloco e Israel. Em 2008 as negociações externas, conforme aponta o Boletim Anual do BC, permaneceram paralisadas, especialmente a Rodada Doha da OMC, na qual uma nova tentativa de acordo multilateral não possibilitou avanços, cabendo ressaltar neste ano a aprovação do protocolo de emenda ao Acordo sobre os direitos de propriedade intelectual relacionadas ao comércio (TRIPS). Com relação ao MERCOSUL, segundo o BC, o ingresso da Venezuela permaneceu pendente de aprovação pelos poderes legislativos do Brasil e do Paraguai. Entre os membros do bloco foram firmados acordos principalmente no que se refere ao setor automotivo, cujo objetivo é reduzir as assimetrias neste setor e gradualmente no comércio como todo. No ano 2009, de acordo com o Boletim anual do BC, as negociações no contexto internacional não apresentaram avanços. No MERCOSUL não ocorreram avanços nos processos negociadores do bloco, valendo destacar que no período houve um aumento no número de contenciosos comerciais entre Brasil e Argentina, a cerca da exigência licença previa de importação de diversos produtos, fato que comprometeu, de certo modo, as negociações do bloco com outros parceiros comerciais, a exemplo da UE, cujo processo de negociação interrompido em 2004 encontrava-se sob avaliação. Um ponto positivo em relação ao bloco neste ano refere-se à aprovação pelo Brasil da adesão da Venezuela, restando a aprovação paraguaia para a aceitação do país como membro. 70 Apesar da estagnação das negociações da Rodada Doha, o Brasil conseguiu em 2009, outra importante conquista a autorização de retaliação contra o EUA, devido à controvérsia sobre os subsídios concedidos pelo EUA aos produtores de algodão do país, o que reduz a competitividade do produto brasileiro. O ano 2010 marcou o significativo avanço nas negociações entre o MERCOSUL e a União Européia, cujo objetivo era a adesão de um novo acordo de livre comércio, de um lado os sócios do MERCOSUL exigiam definições sobre o tratamento dos subsídios agrícolas europeus, já a união européia visava à abertura industrial no MERCOSUL. Em relação ao MERCOSUL, o Boletim Anual do BC, aponta que com o encerramento da presidência pro-tempore brasileira o conselho do MERCOSUL estabeleceu um cronograma de eliminação das exceções a tarifa externa comum em dez anos, a fim de consolidar o bloco como uma União Aduaneira. Outra medida nesta direção, segundo o BC, foi à revisão do regime comum de importações de bens de capital, informática e telecomunicações para entrar em vigor a partir de 2013. Em relação a OMC as negociações da Rodada Doha permaneceram bloqueadas devido às divergências entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento desde 2008. Este tópico foi destinado a elucidar a trajetória das negociações comerciais brasileiras com blocos e países no período, destacando que em virtude da complexidade das negociações na esfera multilateral, opção de negociação adotada pelo Brasil em relação aos países desenvolvidos, especialmente em relação à agricultura, a estratégia nacional consolidou-se na busca por mercados não tradicionais, especialmente aqueles do eixo sul, fato que lhe proporcionou a ampliação de mercados compradores de produtos brasileiros. 4.3. ANÁLISE DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS BRASILEIRAS (EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES) NO PERÍODO DE 2000 A 2010. Após a exposição do contexto econômico internacional, especialmente das trocas comerciais entre os países e dos fatores que exercem influência sobre este processo, este tópico visa realizar uma análise da evolução da balança comercial no 71 período de 2000 a 2010, verificando para tanto como as variáveis econômicas e os condicionantes externos influenciaram o resultado da balança comercial brasileira. Tabela 5 - Balança comercial: 2000-2010 (em US$ bilhões e FOB) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior No ano 2000, segundo dados sobre as transações comerciais brasileiras fornecidos pelo MDIC, a balança comercial apresentou um déficit de US$ 732 milhões, o volume das exportações foi de aproximadamente US$ 55,11 bilhões, o que representou um aumento de 14,8% em relação ao ano anterior, o volume das importações foi de aproximadamente US$ 55,85 bilhões, um aumento de 13,28% em relação a 99 e a corrente de comércio no país chegou a US$ 110, 970 bilhões. Segundo o Boletim anual do BC 2000, este resultado foi influenciado por diversos fatores, do lado das importações o aumento foi influenciado pelo crescimento das compras de matérias-primas e produtos intermediários em função do elevado crescimento da indústria no ano, bem como pelo crescimento continuado dos preços do petróleo que aumentou os gastos com a aquisição de seus derivados. Em relação às exportações observa-se que apesar do déficit comercial, a exportações cresceram significativamente o que foi favorecido, segundo o BC, pela desvalorização da taxa de câmbio, que propiciou um ganho de competitividade nas vendas externas, pela intensidade do crescimento do comércio mundial e pelos 72 ganhos de competitividade proporcionados pela modernização do parque industrial do país, fato impulsionado pela abertura comercial da década de 90. Em 2001 a balança comercial brasileira apresentou um superávit de aproximadamente US$ 2,6 bilhões, superando o déficit do ano anterior. Este resultado positivo ocorreu em razão do desempenho das exportações que alcançou um volume de US$ 58,29 bilhões, um aumento de 5,75% em relação ao ano anterior, já as importações totalizaram US$ 55,6 bilhões, uma redução de 0,45% em relação ao ano anterior, a corrente de comércio no país alcançou US$ 113.889 bilhões neste ano. O resultado das exportações neste ano, de acordo com Boletim anual do BC 2001, foi influenciado pelas medidas de promoção comercial implementadas pelo governo, pela depreciação cambial e pelo incremento nas vendas para o leste europeu e para o Oriente Médio. Nas importações o BC aponta que a queda nas compras de produtos estrangeiros deveu-se a redução do crescimento industrial, como conseqüência do racionamento de energia neste ano, a depreciação do câmbio efetivo real, que tornou os produtos importados mais caros e a retração da economia mundial que afetou os preços dos derivados de petróleo. No ano 2002 a balança comercial brasileira apresentou um superávit de US$ 13,196 bilhões, um expressivo aumento em comparação ao ano anterior. Neste cenário as exportações totalizaram US$ 60,44 bilhões, um aumento de 3,7 % com relação a 2001 e as importações totalizaram US$ 47,24 bilhões, uma redução de 15% em relação ao ano anterior e a corrente de comércio totalizou US$ 107,68. De acordo com o Boletim anual do BC 2002, as exportações neste ano passaram por dois momentos distintos, o primeiro semestre evidenciou a recuperação incipiente da economia mundial e da economia Argentina, cabendo ressaltar que a contração nas exportações deveu-se a redução nas vendas destinadas a Argentina. No segundo semestre houve uma importante recuperação das exportações, em virtude do crescimento das vendas destinadas a diversos países, refletindo o melhor desempenho nas vendas para mercados tradicionais e a incorporação de novos mercados, evidenciando os efeitos positivos da política de promoção comercial em países como China, México, Rússia, Índia, Coréia do Sul e Japão. As importações, segundo o BC, também apresentaram trajetórias diferenciadas nos dois semestres do ano, no primeiro semestre registrou-se uma 73 expressiva queda na quantidade, o que pode ser explicado pela depreciação cambial registrada no período, já no segundo semestre houve um aumento no volume importado, sendo que tal desempenho deveu-se em parte a recuperação da atividade econômica no país. Em 2003 o superávit comercial brasileiro aumentou passando para US$ 24,8 bilhões, um aumento de aproximadamente 88,52% em relação ao ano anterior, as exportações neste ano alcançaram US$ 73,203 bilhões, um crescimento de 21,12% em relação a 2002, já as importações totalizaram US$ 48,3 bilhões, um crescimento de 2,3 % em relação ao ano anterior e a corrente de comércio totalizou US$ 121,52 bilhões. Este terceiro resultado superavitário consecutivo no Brasil deveu-se a ampliação das exportações, o que ocorreu em virtude da conjuntura favorável composta pela inexistência de impactos negativos significativos como queda de safras, pelo câmbio depreciado, pela retomada das exportações realizadas para a Argentina e a solidificação de novos mercados, como a China, que proporcionaram um impulso representativo nas vendas externas. Em relação aos novos mercados, é importante ressaltar os efeitos das medidas de promoção comercial e incentivos as exportações adotados pelo país nos últimos anos, que tiveram impacto sobre as vendas de bens não tradicionais e para mercados com menor participação. Em 2004 a balança comercial brasileira registrou o quarto superávit comercial consecutivo, no valor de US$ 33,84 bilhões, um aumento de 36% em relação ao ano anterior. As exportações totalizaram US$ 96,67 bilhões, um crescimento de 32,07%, as importações totalizaram US$ 62,84 bilhões, um crescimento de 30,03% no ano e a corrente de comércio totalizou US$ 159, 513 bilhões. O Boletim anual do BC 2004, ressalta que o resultado positivo da balança comercial neste ano foi favorecido pelo crescimento do comércio mundial; pelas políticas de promoção comercial adotadas pelo governo, cujo objetivo era ampliar o número de empresas exportadoras, os mercados de destino e a variedade de produtos exportados; pelas medidas de desburocratização e simplificação das exportações e de apoio aos pequenos e médios exportadores. Com relação às importações devem ser ressaltados, segundo o BC, os efeitos positivos da retomada do crescimento da atividade econômica do país sobre o volume de compras externas. 74 Em 2005 o superávit da balança comercial atingiu US$ 44,9 bilhões, um aumento de 32,76% em relação a 2004, as exportações totalizaram US$ 118,53 bilhões, um crescimento de 22,6% em relação ao ano anterior, as importações totalizaram US$ 73, 6 bilhões, um aumento de 17,13% em relação ao ano anterior e a corrente de comércio alcançou US$ 192,13 bilhões. Neste ano, segundo o Boletim Anual do BC, as taxas de crescimento das exportações e das importações revelaram desaceleração ao longo do ano após superaram a casa dos 30% de expansão nos primeiros meses do ano, a redução deste dinamismo foi relativamente constante neste período, com tendência das importações superando as exportações especialmente no final do ano. Ressalta-se que esta trajetória ocorreu mesmo no cenário de câmbio apreciado, recuperação da renda e emprego e do crescimento industrial. No ano 2006 o Brasil continuou mantendo os resultados positivos na balança comercial, neste ano o superávit foi de US$ 46,456 bilhões, um aumento de 3,4% em relação ao ano anterior, as exportações totalizaram US$ 137,807 bilhões, um crescimento de 16,26% em relação a 2005, as importações totalizaram US$ 91,351 bilhões, uma expansão de 24,12% em relação a 2005, a corrente de comércio totalizou US$ 229,158 bilhões, um aumento de 19,27% em relação a 2005. Segundo o Boletim anual do BC, a taxa de crescimento das exportações acumuladas manteve a tendência declinante iniciada em 2005, em sentido inverso e consistente com o ambiente macroeconômico benigno, representados pelos aumentos na produção industrial, emprego e renda. A taxa de crescimento das importações acumuladas seguiu uma trajetória expansionista até alcançar o resultado final deste ano. Para o BC, a significativa melhora dos termos de troca ao longo de 2005 e 2006 pode ser apontada como uma das causas da obtenção de superávits comerciais crescentes. Em 2006 o aumento de 12,5% nos índices de preços foi fator preponderante para o crescimento das exportações, o índice de quantidade cresceu 3,3% no período. Com relação às importações, houve crescimentos nas compras de produtos de todas as categorias de uso final. Segundo o Relatório de MDIC (2008), em 2007 o comércio exterior brasileiro manteve a pujança de sua expansão, o que reitera os avanços do setor produtivo nacional e o vigor da produção voltada para o exterior. 75 Neste ano o superávit comercial totalizou US$ 40,032 bilhões, resultado positivo sendo que houve uma redução de 13,83% em relação a 2006, as exportações totalizaram US$ 160,649 bilhões, um crescimento de aproximadamente 16% em relação a 2006, as importações totalizaram US$ 120,617, um crescimento de 22,74% em relação a 2006 e a corrente de comércio atingiu US$ 281,26 bilhões. Para o MDIC, tais resultados indicam o aumento do nível de abertura da economia e a maior inserção do Brasil no comércio mundial. De acordo com o Boletim anual do BC, o desempenho das exportações neste ano, assim como em 2006, esteve vinculado ao aumento de 10,5% registrado nos índices de preços e o índice de quantidade aumentou 5,5%, já o aumento das importações esteve vinculado fundamentalmente ao aumento da quantidade importada, em virtude da intensificação do ritmo da atividade econômica no país. Segundo o MDIC, é importante ressaltar que em 2007 cresceram as exportações para os países da Ásia, África e Oriente Médio e os mercados tradicionalmente compradores como União Européia e o MERCOSUL também elevaram suas compras de produtos brasileiros o que teve impactos significativos sobre as exportações. Em 2008 a balança comercial brasileira apresentou um superávit comercial de US$ 24,957 bilhões, o que representou uma queda de 37,65% no saldo das transações comerciais do país, as exportações totalizaram US$ 197, 942 bilhões no período, uma expansão de 23,21% em relação a 2007, as importações totalizaram US$ 172,985, um crescimento de 43,42% em relação ao ano anterior, a maior expansão nas importações nos últimos 8 anos. A corrente de comércio totalizou US$ 370, 927 bilhões. O boletim anual do BC 2008, aponta que neste ano os valores acumulados em 12 meses, relativos tanto as exportações quanto as importações apresentaram trajetórias de crescimento nos três primeiros trimestres do ano, desempenho revertido no último trimestre, tal movimento ocorreu também com relação aos termos de troca que atingiram em outubro o maior valor desde a introdução do regime de flutuação cambial, constituindo-se em um importante fator para compensar o crescimento da quantidade exportada em relação à importada. Em relação às importações observou-se, de acordo com o BC, a repetição do padrão ocorrido nos últimos cinco anos, um aumento nas importações de todas as categorias de produtos. 76 Neste contexto é importante destacar a reversão da economia mundial que se intensificou nos últimos meses do ano, devido aos desdobramentos da crise financeira americana, fato que influenciou negativamente as transações comerciais brasileiras no último trimestre do ano. No ano de 2009 a balança comercial brasileira apresentou um superávit comercial de US$ 25,3 bilhões, um aumento de 1,27 % em relação a 2008, as exportações totalizaram US$ 153 bilhões, uma redução de 22,7% em relação a 2008, as importações totalizaram US$ 127,72 bilhões, uma redução de 26,17% em relação ao ano anterior. A corrente de comércio totalizou US$ 280,72 bilhões, uma redução expressiva de 24,3% em comparação a 2008. Esta redução nas transações comerciais brasileiras reflete os efeitos deletérios causados pela crise financeira internacional sobre as economias. Segundo o BC, a redução das exportações e das importações no período foi resultado de uma queda acentuada dos preços e no volume de produtos comercializados, que ocorreram em virtude da incerteza e instabilidade econômica. O Boletim anual do BC, enfatiza que as trajetórias das exportações e das importações ao longo dos últimos meses do ano demonstravam a perspectiva de retomada do crescimento das transações comerciais em 2010. Em 2010 a balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 20,27 bilhões, um recuo de 19,8% em relação a 2009, as exportações totalizaram US$ 201,915 bilhões, um acréscimo de 31.97% com relação ao ano anterior, as importações totalizaram US$ 181, 649 bilhões, um acréscimo de 42,22% em relação a 2009 e a corrente de comércio alcançou US$ 383, 564 bilhões. O resultado da balança comercial com redução do superávit comercial refletiu o crescimento das importações, o segundo maior nos últimos dez anos. O aumento das exportações deveu-se em maior percentual a elevações nos preços e em menor percentual de aumento na quantidade exportada, neste cenário houve expansões nas vendas de todas as categorias de produtos. No caso das importações a expansão, segundo o BC, decorreu principalmente devido ao crescimento nas quantidades adquiridas. Ao final do período o superávit comercial acumulado totalizou US$ 275,8 bilhões e a corrente de comércio 2.351.344 trilhões. Ao concluir a análise fica evidenciado que as transações comerciais brasileiras apresentaram variações conforme a evolução da economia mundial, ressaltando a importância da conjuntura 77 externa para o desempenho comercial, bem como a influência positiva das ações voltadas para promoção comercial. 4.3.1 As Exportações e as Importações Brasileiras por fator agregado no período de 2000 e 2010. Após analisar a trajetória da Balança Comercial, cujos resultados ao longo do período analisado foram no geral positivos, é necessário examinar as exportações e importações por fator agregado o que nos dará uma visão a cerca de quais setores econômicos destacam-se nas exportações de produtos, bem como a análise da pauta de importações do Brasil. Tabela 6 – Exportações brasileiras por fator agregado: 2000-2010 (US$ milhões FOB) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Tabela 7 – Importações brasileiras por fator agregado: 2000-2010 (US$ milhões FOB) 78 Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior No ano 2000, segundo dados do MDIC, sobre o total das exportações, os produtos manufaturados totalizaram 59,07% de participação nas exportações realizadas pelo Brasil, o que se deveu a uma maior quantidade de produtos embarcados neste ano em menor magnitude ao crescimento dos preços no ano, aproximadamente 1,7%. Os produtos básicos representaram 22,79% de participação nas exportações, sendo registrado um aumento em relação a 99, que segundo o MDIC, ocorreu em virtude de um aumento na quantidade embarcada, em um cenário de quedas nos preços destes produtos devido a não recuperação nas cotações das principais commodities de exportação, a exemplo da carne de frango e do café. Os produtos semimanufaturados somaram 15,42% do total exportado, esta participação deveu-se ao aumento da receita ocasionada pela melhora dos preços, na ordem de 14,4%, principalmente para produtos como a celulose e alumínio, o que ocorreu mesmo diante de reduções nas quantidades exportadas de alguns produtos deste setor, segundo o MDIC. Em relação às operações especiais que totalizaram 2,72% das exportações, este volume referiu-se principalmente a consumo de bordo, combustíveis e lubrificantes e outros bens para aeronaves e navios. Nas importações no ano 2000, os manufaturados representaram 83,18% do total importado, os básicos 13,06% e semimanufaturados 3,76%. Neste ano houve um aumento das importações em relação a 99, expansão que, segundo o Boletim anual do BC, deveu-se ao crescimento das compras de matérias-primas e produtos intermediários e em menor quantidade dos bens de capital e bens de consumo 79 duráveis. Em 2001, em relação às exportações houve um aumento nas vendas de produtos manufaturados, entretanto, sua participação relativa no total das exportações reduziu-se para 56,54%, destacaram-se nesta categoria as exportações dos seguintes produtos: derivados do petróleo, açúcar refinado, motores e geradores, chassis com motor, automóveis de passageiros, aparelhos receptores e transmissores, motores para veículos, calçados e papéis para escrita. Os produtos básicos apresentaram um crescimento significativo em relação ao ano anterior, totalizando 26,33% da quantidade exportada, sendo que tal aumento, segundo o MDIC, ocorreu em virtude de incrementos nas vendas d\e produtos como: milho em grão, petróleo bruto, carne suína carne de frango, carne bovina, farelo de soja, soja em grão e fumo em folhas, estes produtos responderam por 96% do aumento nas exportações deste setor. Para os produtos semimanufaturados em 2001, houve queda no total exportado em relação ao ano anterior, totalizando 14,14% das vendas realizadas para o exterior, segundo o MDIC, este resultado deveu-se ao quase desequilíbrio entre a queda nas exportações de alumínio bruto, celulose e semimanufaturados de ferro e aço e o aumento nas vendas de açúcar bruto e couros e peles. Nas operações especiais houve um pequeno aumento totalizando 2,98% do total exportado, cujo principal fator impulsionador foi os combustíveis para consumo de bordo. Do lado das importações, os produtos manufaturados totalizaram 84,37%, um pequeno aumento em relação ao ano anterior, os básicos totalizaram 12,22%, o que representou uma redução da participação deste setor nas vendas de produtos ao Brasil e os semimanufaturados totalizaram 3,4%, apresentado uma retração em relação ao ano anterior. No geral houve uma retração das importações neste ano quando comparado ano anterior, este resultado ocorreu devido à redução nas importações de matériasprimas e intermediários, bens de consumo e combustíveis e lubrificantes, embora tenha ocorrido um crescimento nas compras de bens de capital, principalmente maquinaria industrial, partes e peças para indústria, acessórios para maquinaria industrial e máquinas e equipamentos e aparelhos de escritório. Em 2002 cresceu o volume de produtos exportados, dentro os quais os básicos foram os que apresentaram maior expansão, um acréscimo de 10,5% em 80 relação ao ano anterior, seguido dos semimanufaturados com 8,8% de expansão e os manufaturados com um acréscimo de 0,3% em relação a 2001. Os básicos tiveram uma participação na pauta de exportações de 28.06%, os semimanufaturados de 14,83% e os manufaturados de 54,71% e as operações especiais de 2,39%. Em relação aos produtos básicos segundo o MDIC, o crescimento ocorreu devido a maiores receitas nas vendas de petróleo bruto, carne suína, soja em grão, farelo de soja, fumo em folhas, carne bovina e carne de frango. Para os semimanufaturados o aumento deveu-se ao incremento nas vendas externas, especialmente de óleo de soja, produtos de ferro e aço, alumínio em bruto e couros e peles. Para os produtos manufaturados, os destaques para o modesto crescimento foi o expansão nas vendas de laminados de ferro/aço, motores para veículos, açúcar refinado, moveis, bombas compressoras, suco e laranja, gasolina e automóveis para passageiros e as operações especiais trataram-se de consumo de bordo e reexportações. Nas importações houve uma redução de 15% no total das compras de produtos estrangeiros, fato que refletiu, segundo o MDIC, a redução nas aquisições de produtos semimanufaturados e manufaturados, exceto combustíveis e lubrificantes, cujas compras mantiveram-se constantes. No ano 2003 houve crescimento das exportações, neste cenário segundo o MDIC, verificaram-se aumentos nas vendas de produtos de todas as categorias em comparação a 2002, os básicos cresceram 24,2%, os manufaturados 20,2% e os semimanufaturados 22,1%. De acordo com o MDIC, o crescimento verificado na categoria de produtos básicos decorreu de maiores receitas auferidas com a venda de produtos tradicionais como: carne bovina, soja em grão, carne de frango, petróleo bruto, minério de ferro, carne suína. Houve ainda variações expressivas em produtos não tradicionais como: mármores e granitos, algodão em bruto, mel natural e uvas frescas. Para os semimanufaturados a expansão em 2003, segundo o MDIC, foi resultados de aumentos nas vendas externas especialmente de óleo de soja bruto, celulose, açúcar em bruto, produtos de ferro/aço, madeira serrada, alumínio em bruto, couros e peles, pasta de cacau, cacau em pó, sucos e extratos vegetais e zinco em bruto. 81 No caso dos manufaturados a expansão deveu-se ao acréscimo nas vendas de: laminados de ferro e aço, óleos combustíveis, veículos de carga, madeira compensada, automóveis de passageiros, pneumáticos, motores para veículos, móveis, papel para escrita e calçados. As operações especiais tiveram queda, devido à redução das reexportações de aeronaves em contraposição ao aumento no fornecimento de óleos combustíveis e lubrificantes para consumo de bordo. Em relação às importações neste período houve uma pequena expansão das compras de produtos importados, cerca de 2,3%. No período, segundo o MDIC, cresceram os gastos com matérias-primas, produtos intermediários, combustíveis e lubrificantes, já para os bens de capital e os bens de consumo houve redução nas compras brasileiras. Os produtos básicos totalizaram 16,85% do total das importações, os semimanufaturados 3,99% e os manufaturados 79,16 %. Em 2004 as exportações tiveram crescimento e do total de produtos exportados, os básicos representavam 29,51%, os semimanufaturados 13,89%, os manufaturados 54,96% e as operações especiais 1,63%. Neste ano, de acordo com o MDIC, houve uma forte tendência de crescimento das exportações de produtos básicos no primeiro semestre, motivado pelo aumento nas quantidades e nos preços das principais commodities exportadas pelo país, já no segundo semestre houve um maior crescimento nas exportações de manufaturados. O desempenho positivo deveu-se a continuidade do crescimento das exportações de manufaturados ao longo do ano e em menor ritmo da comercialização de produtos agrícolas no último trimestre, os semimanufaturados também cresceram a taxas menores que a das outras categorias. Nos produtos básicos, a combinação de demanda crescente e preços elevados levou ao aumento das exportações dos seguintes produtos: carne bovina, carne de frango, carne suína, minério de ferro, café em grãos, fumo em folhas, minério de manganês, algodão bruto, maças frescas, milho em grãos, minério de alumínio e carne de peru. Os produtos manufaturados continuaram com a sua supremacia na pauta de exportações brasileiras, segundo o MDIC, o crescimento desta categoria deveu-se ao aumento nas vendas dos seguintes produtos: álcool etílico, máquinas e aparelhos de terraplanagem, aviões, obras de marcenaria e carpintaria, tratores, veículos de carga, máquinas e aparelhos para uso agrícola, refrigeradores, congeladores e açúcar refinado. 82 Os semimanufaturados registraram um crescimento de 22,7%, a menor taxa de crescimento nas três categorias segundo o MDIC, merecendo destaque o crescimento nas exportações dos seguintes produtos: ferro fundido; ligas de alumínio; produtos de aço e ferro; madeira serrada; couros e peles; açúcar em bruto e óleo de soja em bruto. Nas operações especiais, houve crescimento em relação a 2003, sendo que os combustíveis e lubrificantes representaram maior parte do total exportado desta categoria e em menor volume as reexportações de produtos. Do lado das importações houve um crescimento significativo neste ano, no qual os produtos básicos totalizaram 18,64%, os semimanufaturados 4,49% e manufaturados 76,87%. Segundo o MDIC, as categorias ligadas à atividade produtiva são as maiores demandantes de bens importados como: matérias-primas, bens intermediários e de capital e neste ano houve um crescimento em todas as categorias de produtos, especialmente aquelas ligadas à atividade produtiva. Em 2005 do total das exportações realizadas, os produtos básicos representaram 29,3%, os semimanufaturados 13,47%, os manufaturados 54,14% e as operações especiais 2,09%. Neste ano houve uma ampliação no total exportado em relação a 2004, fato que ocorreu devido a um acréscimo nas exportações de todas as categorias de produtos, registrando aumentos de 23% para os manufaturados, de 21,7% para os básicos, de 19,3 para os semimanufaturados e 57,24% para as operações especiais. Para os manufaturados, de acordo com o MDIC, destacaram-se a venda de produtos como: ônibus, aparelhos transmissores e receptores, gasolina, fio máquina, barras de ferro e aço, álcool etílico, chassis com motor e madeira perfilada. Nos produtos básicos houve crescimento nas vendas de produtos como: uvas frescas, petróleo em bruto, minério de ferro, carne suína e café em grãos. Em relação aos manufaturados podemos destacar as vendas de: catados de cobre, borracha sintética e artificial, açúcar em bruto, zinco em bruto e ferro fundido. As operações especiais e sua participação nas exportações referem-se, segundo o Boletim anual do BC 2005, a combustíveis e lubrificantes para consumo de bordo e em menor percentual as reexportações de produtos. Em relação às importações houve uma expansão neste ano, deste volume 17,42% foram de produtos básicos, 4,3% de produtos semimanufaturados e 78,28% de produtos manufaturados. Dentre os produtos importados, houve aumento neste ano nas compras de bens de capital, bens de consumo não duráveis como produtos 83 de vestuário e alimentos, bens de consumo duráveis,a exemplo de automóveis de passageiro e máquinas e equipamentos para uso doméstico, matérias-primas e produtos intermediários, como produtos minerais, partes e peças de equipamentos de transporte. Em 2006, houve uma expansão das exportações e do total das vendas realizadas para o exterior, 29,23% foram de produtos básicos, 14,17% de produtos manufaturados, 54,44% de produtos manufaturados e 2,16% foram de operações especiais. Segundo o MDIC, registrou-se crescimento em todas as categorias de produtos, nos produtos básicos, o crescimento foi de 16,9%, nos semimanufaturados de 23,3%, nos manufaturados de 15,6% e as operações especiais de 3,34%. De acordo com o MDIC, na categoria dos semimanufaturados destacam-se o desempenho nas vendas externas de: catados de cobre, zinco em bruto e açúcar em bruto. Na categoria dos básicos, dentre os itens mais expressivos sobressaemse os seguintes produtos: trigo em grãos, milho em grãos, pimenta em grão e minério de cobre. Na categoria dos manufaturados destacam-se acréscimos nas vendas de: álcool etílico, óxidos e hidróxidos de alumínio, óleo de soja refinado, torneiras e válvulas. A categoria das operações especiais continuou sendo composta basicamente pelo consumo de bordo e reexportações. As importações também cresceram neste ano, do total das compras de produtos estrangeiros realizadas pelo Brasil, 18,79% foram de produtos básicos, 4,7% de produtos semimanufaturados e 76,5 % de produtos manufaturados. Neste cenário segundo o MDIC, tal crescimento ocorreu em virtude de acréscimos nas compras de bens de consumo, combustíveis e lubrificantes, bens de capital, matérias-primas e produtos intermediários. Nos bens de consumo, de acordo com o MDIC, cresceram as vendas de bens duráveis como: automóveis, máquinas e equipamentos para uso doméstico, móveis e outros equipamentos para casa. Para os produtos não duráveis destacaram-se: vestuário e outras confecções têxteis, bebidas, tabacos, produtos farmacêuticos, produtos alimentícios e produtos de toucador. O aumento nas importações de combustíveis e lubrificantes, segundo o MDIC, ocorreu devido ao aumento nos preços internacionais, bem como na quantidade importada Nos bens de capital houve aumento na aquisição dos seguintes itens: equipamento móvel de transporte, ferramentas, máquinas e equipamentos de escritório e maquinaria industrial. 84 O aumento nos gastos com matérias-primas ocorreu principalmente devido ao acréscimo nas aquisições dos seguintes itens: produtos minerais, agropecuários não-alimentícios, produtos alimentícios, materiais de construção, partes e peças para transportes, produtos intermediários e produtos químicos e farmacêuticos. Em 2007 as exportações mantiveram a tendência de crescimento, neste ano assinalaram-se acréscimos em todas as categorias de produtos, para os básicos houve crescimento de 28,09%, as manufaturados de 11,89%, os semimanufaturados de 11,66% e as operações especiais de 11,05 %. Os produtos básicos somaram 32,12% das vendas realizadas ao exterior, os semimanufaturados 13,57%, os manufaturados 52,25% e as operações especiais 2,06%. Dentre os produtos básicos, os que obtiveram maior crescimento nas vendas neste ano foram: milho em grãos, bovinos vivos, minério de cobre, tripas e buchos de animais, algodão em bruto, carne de frango e uvas frescas. Para a categoria de semimanufaturados houve incrementos nas vendas de: estanho bruto, mates de níquel, catados de cobre, catados de níquel, ferro-ligas, óleo de soja em bruto, madeira laminada e celulose. Nos produtos manufaturados destacam-se incrementos nas exportações dos seguintes itens: plataforma para exploração de petróleo, suco de laranja congelado e não congelado, gasolina, aviões, máquinas e equipamentos para uso agrícola, compostos de função nitrogenada e pneumáticos. As operações especiais mantiveram sua composição. As importações em 2007 tiveram um expressivo crescimento registrando-se acréscimos em todas as categorias de produtos, os básicos neste ano totalizaram 18,06% das compras realizadas, os semimanufaturados totalizaram 4,69% e os manufaturados totalizam 77,25%. De acordo com o MDIC, os produtos para os quais houve ampliação no consumo foram bens de consumo duráveis, como automóveis de passageiros, utensílios domésticos e objetos de adorno e uso pessoal; os bens de consumo não duráveis como vestuário, produtos farmacêuticos, produtos de toucador, bebidas e tabacos; os bens de capital, a exemplo de maquinaria industrial, peças para bens e equipamentos de agricultura, máquinas, ferramentas e acessórios de maquinaria industrial; nas matérias-primas e intermediários, a exemplo de produtos para agricultura, produtos alimentícios, materiais de construção, alimentos para animais e produtos químicos e farmacêuticos. 85 No ano 2008 apesar dos indícios de crise econômica, as exportações brasileiras cresceram, neste ano houve crescimento em todas as categorias de produtos, especialmente os básicos e os semimanufaturados. Do total de produtos exportados os básicos representaram 36,89%, os semimanufaturados 46,82%, os manufaturados 46,82% e as operações especiais 2,6%. Nos produtos básicos, segundo o MDIC, ressaltaram-se o crescimento das exportações dos seguintes produtos: arroz em grão, minério de manganês, soja em grão, minério de ferro, carnes salgadas, petróleo bruto, farelo de soja, tripas e buchos de animais, bovinos vivos, carne de frango e algodão em bruto. Para os semimanufaturados o aumento nas vendas deveu-se aos seguintes produtos: semimanufaturados de ferro e aço, ferro fundido, óleo de soja em bruto, ferro- ligas e celulose. Nos manufaturados destacaram-se acréscimos nas vendas de: plataforma de exploração de petróleo, etanol, máquinas e aparelhos de uso agrícola, óleo de soja refinado, óleos combustíveis, medicamentos, motores e geradores, transformadores elétricos, tratores, café solúvel, compostos de função nitrogenada e chassis com motor. As operações especiais, segundo o Boletim anual do BC 2008, cerca de 90% referiam-se ao consumo de bordo de navios e aeronaves e o restante a reexportações de produtos. As importações neste ano também cresceram, a maior taxa registrada nos últimos 7 anos, este resultado deveu-se ao aumento nas compras de todas as categorias de produtos, onde os produtos básicos totalizaram 18,29% das importações, os semimanufaturados 5,12% e manufaturados 76,59%. Dentre os produtos que tiveram crescimento destacam-se as importações de petróleo e derivados, bens de capital, a exemplo de máquinas e ferramentas, partes e peças de bens de capital para agricultura, maquinaria industrial e equipamento móvel de transporte; bens de consumo duráveis, como automóveis de passageiros, máquinas e aparelhos para uso doméstico; bens de consumo não duráveis, como produtos alimentícios, vestuário, produtos de toucador; matérias-primas e intermediários,como materiais de construção, produtos alimentícios e alimentos para animais. Em 2009 em virtude da crise econômica, houve uma retração das exportações brasileiras, uma redução significativa em todas as categorias de produtos, especialmente os manufaturados e os semimanufaturados. Do total de produtos exportados, os básicos representaram 40,5%, os semimanufaturados 86 13,4%, os manufaturados 44,02% e as operações especiais 2,08%. Para os manufaturados, segundo o MDIC, a redução das exportações foi motivada pela queda nas vendas de tratores, máquinas e equipamentos de terraplanagem, máquinas e aparelhos para uso agrícola, motores para veículos, chassis com motor para veículos, partes de motores para veículos, fio – máquina de ferro e aço, gasolina, suco de laranja e outros produtos que tiveram menor participação. Em relação aos semimanufaturados, a redução na quantidade exportada ocorreu principalmente em virtude de quedas nas vendas de: ferro fundido, ligas de alumínio em bruto, semimanufaturados de ferro e aço, óleo de soja em bruto e madeira serrada. Para os básicos segundo o MDIC a queda nas vendas ocorreu principalmente nas exportações de minério de manganês, trigo em grãos, minério de alumínio, minério de cobre, petróleo em bruto, caulim e outras argilas e carne bovina. As operações especiais que também tiveram queda referiram-se a consumo de bordo e reexportações, basicamente. As importações em 2009 reduziram-se em um maior percentual que as exportações, o que segundo o MDIC, ocorreu em virtude de decréscimos nas importações de todas as categorias de produtos. Do total importado os básicos somaram 14,67%, os semimanufaturados 4% e os manufaturados 83,33%. Dentre os produtos importados que sofreram redução nas compras destacase os combustíveis e lubrificantes; matérias-primas e intermediários, como produtos para agricultura e minerais, alimentos para animais e materiais de construção; bens de capital, como máquinas e ferramentas, maquinaria industrial; bens de consumo duráveis, como aparelhos de uso doméstico e objetos de adorno. Alguns bens neste ano tiveram pequeno aumento, conforme aponta o MDIC, como o caso das bebidas e tabacos, vestuário e produtos farmacêuticos. No ano 2010 as exportações registraram crescimento em relação a 2009, o que segundo o MDIC, deveu-se a acréscimos nas exportações de todas as categorias de produtos. Neste ano do total exportado, os básicos totalizaram 44,58%, os semimanufaturados 13,97%, os manufaturados 39,04% e as operações especiais 2,05%. Em relação aos produtos básicos, de acordo com o MDIC, houve crescimento principalmente nas exportações dos seguintes produtos: minério de manganês, minério de ferro, minério de cobre, minério de alumínio, milho em grão, petróleo em 87 bruto, bovinos vivos, café em grãos, carne bovina e algodão em bruto. Nos semimanufaturados os destaques nas vendas foram: açúcar em bruto, couros e peles, ferro-liga, celulose, semimanufaturados de ferro e aço e borracha sintética e artificial. Para os manufaturados os acréscimos nas exportações ocorreram principalmente nas vendas de: veículos e materiais de vias férreas, máquinas e aparelhos de terraplanagem, motores para veículos, veículos de carga, partes e motores para veículos, tratores, máquinas e aparelhos para uso agrícola, hidrocarbonetos e seus derivados. As operações especiais mantiveram sua composição. As importações em 2010 tiveram expansão, devido à ampliação nos gastos com a aquisição de bens de todas as categorias. Do total importado, os produtos básicos representavam 13,1%, os semimanufaturados 3,91% e os manufaturados 82,99%, sendo esta última categoria ao longo dos dez anos analisados a mais expressiva na pauta. Os produtos para os quais a expansão nas compras destacaram-se foram: combustíveis e lubrificantes, bens de consumo duráveis, a exemplo de máquinas e equipamentos para casa, máquinas e aparelhos de uso doméstico e utensílios domésticos; nos bens de consumo não duráveis, a exemplo de produtos alimentícios, vestuário e confecções, bebidas e tabacos; bens de capital, a exemplo de peças de bens de capital para agricultura, equipamento fixo de transporte; matérias-primas e intermediários, como produtos minerais, produtos agropecuários não alimentícios, acessórios e equipamentos de transporte, partes e peças de produtos intermediários, produtos químicos e farmacêuticos, outros materiais para agricultura, matérias de construção e produtos alimentícios. Um fato importante a ser observado é que ao longo do período analisado, a pauta das importações era basicamente composta em maior número por produtos manufaturados, mantendo esta tendência até o final do período. Já para as exportações houve uma mudança significativa na estrutura da pauta de produtos vendidos ao exterior, no início do período, havia predomínio dos manufaturados na pauta, a partir de 2006 há uma inversão desta tendência e ao final do período observa-se que os produtos básicos ocupavam a posição de principal produto na pauta brasileira de exportações. Segundo Kume e Riane (2010) este fato tem sido debatido entre os analistas 88 econômicos, de um lado um grupo que considera este resultado como indícios de uma “doença holandesa”, que conduziria a desindustrialização do país e de outro lado um grupo que não apreende motivos para maiores preocupações, pois a pauta de exportações seria compatível com as vantagens comparativas, rejeitando a tese de que sejam intensivos em recursos naturais e não propiciarem encadeamentos na cadeia produtiva. Duas visões diferentes a cerca do tema, o que precisa ser levado em consideração é que o aumento nas vendas de produtos básicos, ocorreu em virtude do aumento da demanda por estes produtos, bem como pelo aumento nos preços internacionais, fatos que incentivaram a comercialização de tais bens. Entretanto, quando estas especificidades deixarem de contribuir para as exportações desta categoria, nossos produtos serão suficientemente competitivos para ampliar as exportações de bens de outras categorias especialmente os manufaturados? Para a resposta a este questionamento ser positiva, é necessário a implementação de uma série de mudanças, principalmente em relação à criação das condições necessárias para o alcance das vantagens competitivas do país, propiciando através da inovação ganhos de produtividade, que nos permitirão galgar maior participação no comércio mundial. Caso não sejam realizadas tais mudanças, será impossível diante do cenário de intensa competitividade mundial, ampliar a participação no comércio internacional. 4.3.2 Principais compradores e fornecedores de produtos a economia brasileira no período de 2000 a 2010. No período de 2000 a 2010 a corrente de comércio no Brasil registrou um expressivo crescimento de 245%, passando de US$ 110,97 bilhões no ano 2000 para US$ 383,56 bilhões em 2010. Diante do crescimento das transações comerciais nas quais o país estava envolvido, a balança comercial registrou expressivos superávits comerciais, em virtude da evolução na quantidade exportada que superou as importações, neste contexto se faz necessária uma análise a cerca dos principais compradores de produtos brasileiros e os principais fornecedores de produtos estrangeiros ao Brasil. Esta análise utilizou como base os blocos econômicos e suas respectivas participações sobre as transações econômicas realizadas com a economia 89 brasileira, buscando evidenciar quais os principais parceiros do Brasil no comércio mundial. Tabela 8 - Principais Compradores de Produtos Brasileiros- Por Blocos Econômicos (US$ milhões FOB) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Tabela 9 - Principais Fornecedores de Produtos Estrangeiros - Por Blocos Econômicos (US$ Milhões FOB) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior A União Européia ao longo do período foi um importante comprador de produtos brasileiros, houve no decorrer da década a evolução da quantidade de produtos adquiridos pela região, exceto em 2009 devido aos efeitos da crise 90 econômica mundial, esta região obteve em média uma participação de 24% no total das exportações brasileiras. Em relação às importações o bloco caracterizou-se por ser um dos maiores fornecedores de produtos ao Brasil, uma média de 24% do total importado, iniciando o período como o maior fornecedor de produtos estrangeiros e ao final do período, em 2010 ocupava a segunda posição, registrando aumento nas vendas ao Brasil em todos os anos, exceto em 2009. Os Estados Unidos neste período foi um importante mercado comprador dos produtos brasileiros, especialmente, no início do período quando ocupava a posição de segundo maior comprador de mercadorias oriundas do Brasil, e em 2010 ocupava a quarta posição entre os maiores compradores. Este bloco obteve uma participação média de 18% das exportações anuais, embora tenha ocorrido crescimento das aquisições de produtos brasileiros realizadas pelo país, este volume foi inferior aos dos demais blocos, como ALADI e ÁSIA. Do lado das importações este país iniciou o período como segundo maior fornecedor de produtos ao Brasil, houve uma redução nas compras de produtos deste país, retomando o crescimento a partir de 2004, em 2010 o país era o quarto maior fornecedor de produtos, com uma participação média de 18% nas importações anuais. O bloco asiático foi uma região que ao longo do período analisado destacouse pelo virtuoso crescimento da sua participação nas transações econômicas mundiais e brasileiras. Em relação às exportações a região ocupava no início do período a posição de quarto maior comprador de produtos brasileiros, no decorrer do período houve crescimento da quantidade de produtos adquiridos pela região, principalmente a partir de 2004 e ao final do período a região tornou-se o principal comprador de produtos da economia brasileira, com uma participação média anual de 18% do total exportado. Para as importações realizadas pelo Brasil, o bloco asiático iniciou o período como o terceiro maior fornecedor de produtos, no ano 2000 sua participação era de 15%, houve crescimento na quantidade vendida em 2001, em 2002 foram registrados decréscimos nas vendas ao Brasil, a partir de 2003 a região obteve um expressivo incremento nas vendas de produtos a economia brasileira, exceto em 2009 devido à crise e ao final do período a região era maior fornecedor de produtos ao Brasil. A América Latina e o Caribe ou ALADI, com relação às exportações iniciou o período como o terceiro maior comprador de produtos brasileiros, no ano 2000 sua 91 participação era de 23%, em 2001 houve aumento na quantidade de produtos compradas do Brasil, em 2002 houve redução nas compras e a partir de 2003 a região registrou expressivo crescimento na importação de produtos brasileiros, tendência revertida em 2009 devido aos efeitos da crise. Ao final do período a região havia se tornado o segundo maior comprador de produtos brasileiros, com uma participação média anual de 18% no total das exportações. Em relação às importações esta região era no início do período o terceiro maior fornecedor de produtos ao Brasil com uma participação de 21% no ano 2000, entre 2001 e 2005 a região oscilou entre momentos de queda e crescimento das vendas ao Brasil, a partir de 2006 houve um crescimento significativo das vendas até a crise de 2009, retomando o crescimento em 2010. Esta região respondeu por em média 17% do total importando pelo Brasil anualmente, mantendo sua posição de terceiro maior fornecedor de produtos. O bloco econômico africano, em relação às exportações iniciou o período com uma participação de 2% nas vendas brasileiras, a partir de 2001 houve crescimento nas quantidades compradas pela região, exceto em 2009, e em média a região respondeu por 4% do total exportado pelo Brasil anualmente. Do lado das importações o bloco africano iniciou o período com uma participação de 5% das importações realizadas pelo Brasil, a partir de 2001 houve um crescimento significativo das vendas para o Brasil, chegando em 2005 a 10% do total importado, em 2006 houve um arrefecimento das vendas, voltando a crescer em 2007 e 2008, em 2009 houve queda devido à crise, retomando o crescimento em 2010. Esta economia forneceu ao Brasil em média ao longo do período 7% do total importado, sendo o quinto maior fornecedor de produtos. O bloco do Oriente Médio no período analisado foi uma região que comprava do Brasil, cerca de 2% do total exportado, houve crescimento nas compras desta região a partir de 2001, em 2009 esta tendência foi revertida sendo retomada em 2010. Esta região foi responsável por em média 4% das vendas realizadas pelo Brasil anualmente. Em relação às importações realizadas pelo Brasil, esta região fornecia em média 3% do total de produtos adquiridos, tendo a região registrado pouca oscilação em sua participação. O bloco econômico da Europa ocidental comprava em média 3% do total exportado pelo Brasil anualmente, foram registrados aumentos nas quantidades compradas por esta região, acompanhando a tendência de crescimento da 92 economia mundial até 2008, tendo decréscimos em 2009 e retomou o crescimento em 2010. No tocante as importações a região fornecia ao Brasil cerca de 2% das importações realizadas, uma participação pequena em comparação os principais blocos. Os demais blocos econômicos somados responderam por em média 7% do total das exportações realizadas pelo Brasil e em relação às importações somados representaram em média 5% do total de produtos fornecidos ao Brasil. Na participação dos blocos econômicos relacionados acima, é importante destacar o crescimento das transações econômicas do Brasil com o bloco asiático e o bloco da América Latina que ao longo do período foram consolidando-se como os principais parceiros nas transações comerciais brasileiras, especialmente a partir de 2006, tal fato demonstra o importância das relações Sul-Sul estreitadas durante o governo lula em detrimento das relações preferenciais realizadas principalmente com os Estados Unidos durante o governo FHC. 4.3.3 As exportações e importações brasileiras por região e estados no período de 2000 a 2010. Ao realizar uma análise das transações comerciais brasileiras na última década observou-se uma ampliação do total das exportações realizadas e em 2010 o Brasil alcançou uma participação de 1,2% nas exportações mundiais, do lado das importações houve momentos de crescimento bem como de redução, fechando o período com uma participação de 1,06%. Neste período o Brasil apresentou a partir de 2001 sucessivos superávits comerciais, apesar da tendência nos últimos de valorização da taxa de câmbio. Tendo como base esta trajetória da economia brasileira, objetiva-se analisar a participação das regiões e dos estados nestes resultados positivos. A região sudeste ao longo do período analisado configurou-se como o maior produtor brasileiro de bens para a exportação, respondendo por em média 55,3% das exportações anuais, sendo importante ressaltar que houve neste período crescimento da quantidade exportada, exceto em 2009, em virtude dos efeitos negativos gerados pela crise econômica mundial. Na região em relação às exportações destaca-se a atuação do estado de São Paulo, que respondia por em 93 média 31,7% das exportações do país, em seqüência Minas Gerais com 11,7%, Rio de Janeiro com cerca de 7,25% e o Espírito Santo com 4,7%. Enquanto compradora de produtos estrangeiros a região foi responsável por em média 60,7% das importações brasileiras anuais, no início do período até 2003 houve queda nas importações da região, a partir de 2004 foram registrados acréscimos nas exportações até 2008, em 2009 houve queda e em 2010 foi retomado o crescimento. Nesta região o estado de São Paulo comprou em média 34,6% do total importado pelo país, seguido do Espírito Santo com 11,5%, o Rio de Janeiro com 8,44% e Minas Gerais com 6,18%. A região sul é a segunda mais influente nas trocas comerciais brasileiras com o exterior, nas exportações a região respondeu por em média 22,7% das vendas anuais do país, o maior destaque na região foi Rio Grande do Sul, responsável por em média 9,4% das exportações nacionais, em seguida o Paraná com 8,6% e Santa Catarina com 4,6%. Nas importações a região foi responsável por em média 18,87% do total de produtos importados pelo Brasil, dentre os estados que compõe a região o Paraná foi responsável por em média 7,89% da aquisição de produtos importados pelo país, o Rio Grande do Sul por 7,59% e Santa Catarina por 3,4%. A região nordeste respondeu por em média 7,97% das exportações brasileiras anuais, sendo que no período houve uma expansão na quantidade exportada, exceto em 2009. Nesta região a Bahia destacou-se como o maior exportador, com uma participação média anual 4,3% das exportações nacionais, seguido pelo Maranhão com em 1,2% de participação, Ceará com 0,8% de participação nas exportações brasileiras, Pernambuco com 0,55%, Alagoas com 0,5% das exportações, Rio Grande do Norte com 0,3%, Paraíba com 0,16%, Piauí com 0,07% e Sergipe com 0,05% das exportações. Em relação às importações a região apresentou uma participação superior ao das exportações, em média 9,2% das importações realizadas pelo Brasil anualmente. Na região a Bahia destacou-se como maior comprador de produtos importados, com uma participação média de 3,56% do total importado pelo país, seguido pelo Maranhão com em média 1,55%, Pernambuco com em média 1,32%, Ceará com em média 1,14%, Alagoas com em média 0,96%, Paraíba com em média 0,22%, Rio Grande do Norte com em média 0,16%, Sergipe com em média 0,12% e o Piauí com em média 0,06%. 94 Neste cenário a Bahia destaca-se como a maior economia da região, sendo o maior fornecedor de produtos ao exterior, bem como o maior comprador de produtos estrangeiros, o que ressalta a sua importância para o nordeste. A região norte ao longo da década foi responsável por em média 6,18% do total das exportações brasileiras, nesta região destacou-se a atuação do Pará que obteve uma participação média de 3,8% das exportações brasileiras, em seguida temos o Amazonas com média 1,06% de participação nas exportações anuais neste período, Rondônia com uma média 0,18%, Tocantins com uma média de 0,10%, Acre com uma média de 0,02% e Roraima com uma média de 0,009%. As importações realizadas pela região representaram 7,13% do total das compras de produtos estrangeiros realizadas pelo país, sendo que nesta região, O estado Amazonas foi o maior comprador de produtos importados com uma média anual de 5,15% das importações brasileiras, o Acre com uma média de 1,27% das compras, Pará com uma média de 0,47%, Amapá com uma média de 0,11%, Rondônia com uma média 0,08%, Tocantins com uma média de 0,05% e Roraima com uma média de 0, 004%. A região centro-oeste respondeu por em média 5,9% das exportações brasileiras anualmente, na região destacou-se o estado do Mato Grosso como maior exportador, responsável por em média 3,36% das exportações brasileiras, seguido de Goiás com em média 1,59% das exportações do país, Mato Grosso do Sul com uma média de 0,87% e o Distrito Federal com em média de 0,045%. Nas importações a região foi responsável por em média 4,06% das compras brasileiras de produtos estrangeiros, o Mato Grosso do Sul foi responsável por em média 1,25% das importações brasileiras anuais, seguido por Goiás com em média 1,22% das importações, Distrito Federal com uma participação de em média 1,01% e o Mato Grosso com em média 0,58%. Das exportações realizadas pelo Brasil no período de 2000 a 2010, em média 1,93 dos produtos não foram declarados por nenhum estado e das importações em média 0, 064% não foram declarados. Após análise das importações e exportações brasileiras por região e estados, os dados ressaltam que a economia brasileira no tocante as transações comerciais com o exterior, foco desta análise, encontra-se fortemente baseada nas regiões sudeste e sul, eixos dinâmicos da economia, principalmente São Paulo, o que demonstra a necessidade de criação de políticas públicas e instrumentos que 95 viabilizem dinamizar a economia de regiões não tradicionais, como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, permitindo o crescimento de suas participações nas trocas internacionais, através de ações capazes de promover o aprimoramento das produções locais e o potencial inovador de cada região, bem como a disseminação da cultura exportadora. 96 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Partindo do referencial teórico, das análises de diferentes autores a cerca do comércio internacional, as quais buscavam as bases e os benefícios das trocas comerciais entre países, estudou-se a balança comercial brasileira, verificando quais variáveis foram determinantes para o seu resultado. Para ter um arcabouço teórico que fundamentasse está monografia, no segundo capítulo abordou-se a escola clássica, neoclássica, as chamadas Novas Teorias do comércio internacional e a teoria das vantagens competitivas de Michael Porter (1999). A análise de tais teorias levou a conclusão de que as mesmas evoluíram junto com a economia mundial e foram fortemente influenciadas pelo contexto econômico da época em que foram elaboradas. As intensas transformações ocorridas na economia mundial impulsionaram a elaboração de teorias que pudessem explicar de forma mais abrangente o comércio internacional. Neste sentido as críticas às teorias elaboradas configuraram-se como um fator decisivo à evolução teórica deste ramo da Economia. A Teoria Clássica surgiu com a análise de Adam Smith, considerada como a primeira a ter uma visão sistêmica do comércio internacional. Outra teoria clássica que merece destaque é a Teoria Ricardiana que explicava de forma mais abrangente as trocas comerciais entre os países e serviu de base para a elaboração de modelos mais completos como a teoria Neoclássica. As novas teorias do comércio internacional surgiram para explicar o tipo de comércio que a teoria Neoclássica não abordava. As teorias Neoclássicas e as Novas Teorias do comércio internacional se complementavam no sentido que a primeira explicava o comércio inter-indústria, enquanto a segunda explicava o comércio intra-indústria. Já a teoria das vantagens competitivas de Porter, buscava elucidar as bases para o sucesso competitivo dos países no comércio internacional. No terceiro capítulo foi abordado o contexto econômico internacional, no qual inicialmente foi demonstrado que a globalização constituiu-se como uma força impulsionadora do comércio entre os países, especialmente nas últimas décadas, ao proporcionar o aumento da interligação das economias. Embora conforme exposto, esse movimento da forma como foi conduzido tenha gerado benefícios principalmente para as economias desenvolvidas em detrimento das nações em 97 desenvolvimento, como o Brasil. Nesse contexto econômico os acordos instituições de regulação do comércio internacional, conforme exposto no item 3.2, foram criados para fomentar as trocas comerciais e servir de foro para as negociações entre os países. No período analisado, compreendido entre 2000 e 2009, a economia mundial apresentou momentos de virtuoso crescimento bem como de recessão e crise. Em momentos de crescimento da economia mundial, 2002-2007, observou-se que houve crescimento das transações comerciais brasileiras, ocasionado pelo efeito do aumento da renda externa, que elevou a demanda estrangeira por produtos domésticos. No momento de crise, 2008, a economia brasileira acompanhou a tendência mundial, embora tenha sofrido menos os impactos dos choques externos do que outras econômicas. Apesar do crescimento da participação brasileira nas transações comerciais em esfera mundial, como demonstra os dados fornecidos pelo MDIC, este percentual é considerado baixo, tendo em vista o potencial econômico do país. O que ocorre em virtude da baixa competitividade de seus produtos, sendo necessária para a ampliação da presença brasileira nos mercados externos a eliminação dos gargalos que comprometem a competitividade do país. No quarto capítulo buscou-se oferecer uma visão geral da perspectiva de evolução das trocas comerciais realizadas pelo Brasil com o resto do mundo no período de 2000 a 2010. Está década marcou a reversão dos déficits comerciais registrados nos anos 90, sendo que a economia apresentou expressivos superávits a partir de 2001. Inicialmente os resultados positivos da balança comercial foram fortemente influenciados pela desvalorização cambial após 1999, variável considerada uma medida de competitividade da economia, que aliado ao aumento da demanda internacional, devido ao ambiente externo favorável e a elevação dos preços internacionais das commodities, proporcionou o aumento da participação brasileira no comércio internacional. É importante ressaltar que a partir de 2004, a variável renda externa e a elevação dos preços das commodities assumiram um papel extremamente significativo para o desempenho comercial brasileiro, em um momento de desvalorização cambial. Fato possibilitado devido à conjuntura econômica externa favorável e pelas políticas comerciais que proporcionaram uma maior variação 98 geográfica do comércio, em relação ao destino das exportações. As importações no período analisado referiram-se a produtos voltados a subsidiar a produção nacional, o que apesar de ter impactos negativos sobre a balança comercial, tem influência direta sobre a competitividade nacional. No período de 2000 a 2010, a maior presença brasileira no comércio internacional esteve fortemente apoiada nos produtos primários, devido ao aumento dos preços internacionais destes bens, que a partir de 2010 configuraram-se como os principais itens da pauta de exportações brasileiras, o que reflete a baixa competitividade dos produtos industrializados devidos aos gargalos que comprometem a competitividade da indústria nacional. Com base na análise da balança comercial, através dos dados fornecidos pelo MDIC, conclui-se que a variável câmbio exerceu influência sobre seu resultado especialmente nos primeiros anos da última década, mas o resultado comercial brasileiro foi favorecido principalmente pelo crescimento da demanda externa por produtos domésticos e pelo aumento dos preços internacionais. 99 REFERÊNCIAS Banco Central do Brasil. Relatório Anual <www.bacen.gov.br>. Acesso em 14 set. 2011. 2000. Disponível em: Banco Central do Brasil. Relatório Anual <www.bacen.gov.br>. Acesso em 12 set. 2011. 2001. Disponível em: Banco Central do Brasil. Relatório <www.bacen.gov.br>. Acesso 14 set. 2011. Anual 2002. Disponível em: Banco Central do Brasil. Relatório Anual <www.bacen.gov.br>. Acesso em 14 set. 2011. 2003. Disponível em: Banco Central do Brasil. Relatório Anual <www.bacen.gov.br>. Acesso em 14 set. 2011. 2004. Disponível em: Banco Central do Brasil. Relatório Anual <www.bacen.gov.br>. 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