Fenologia de fava-de-anta em área remanescente de cerrado da

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Fenologia de fava-de-anta em área remanescente de cerrado da UFMS –
Campus de Campo Grande (MS).
Rogério R. Faria 1; Mirian L. A. F. Pacheco1; Élbio Leiguez Júnior1; Ubirazilda M. Resende1;
Andréa Luiza Cunha-Laura1; Valdemir Antônio Laura2, 3.
1
UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – DBI- Depto. de Biologia, Caixa Postal 549, 79.070-900
2
Campo Grande - MS – email: [email protected]; Embrapa Gado de Corte, C. Postal 159, 79.002-970 Campo
3
Grande – MS – email: [email protected]; Unesp – FCA – Botucatu – SP.
RESUMO
Dimorphandra mollis Benth. é considerada uma espécie pioneira. Sua principal
importância está no fruto, fonte de rutina, substância que provoca contrações uterinas. As favas
são adocicadas e tóxicas para bovinos, podendo provocar aborto ou morte. É difícil encontrar
frutos no campo, devido ao extrativismo. Objetivou-se estudar os aspectos fenológicos de 27
indivíduos adultos, entre maio de 2002 a janeiro de 2003. Avaliou-se as seguintes
características fenológicas: fase vegetativa, brotamento foliar, presença de flor, frutos bem
jovens, frutos jovens, frutos maduros e queda foliar. O florescimento ocorreu a partir do início de
outubro até janeiro e, a frutificação mais intensa (frutos maduros) ocorreu entre junho e agosto.
Palavras-chave: Dimorphandra mollis, rutina, planta medicinal.
ABSTRACT
Phenology of ‘fava-de-anta’ in remaining area of savannah of UFMS - Campus of
Campo Grande (MS).
Dimorphandra mollis Benth. is a pioneer tree, that has a very important fruit, which is a
source of rutina, substance that induces uterine contractions. The fruits are sweet and
poisonous for the cattle, it can provoke abortion and death. It is difficult to find fruits in the field,
due to extracting activities. The aim of this work was to study the phenological aspects of 27
adult individuals, between May of 2002 and January of 2003, when we evaluated the following
characteristics: vegetative phase, leaf emission, flower presence, very young fruits, young fruits,
ripe fruits and leaf abscision. The plants were flowering from October to January and the most
intense fructification (ripe fruits) happened between June and August.
Keywords : Dimorphandra mollis, rutina, medicinal plants.
Fava-de-anta (Dimorphandra mollis Benth), também conhecida como barbatimão-falso,
faveiro(a) é uma espécie arbórea, pioneira pela ampla adaptação aos terrenos secos e pobres
do cerrado brasileiro. As adaptações podem ser vegetativas e/ou reprodutivas (Rizzini, 1976).
Sua principal importância está no fruto (favas), um legume indeiscente com cerca de 16 a 26cm
de comprimento. O seu uso medicinal está relacionado à presença de rutina, substância
extraída dos frutos e que provoca contrações uterinas. As favas são adocicadas e tóxicas para
bovinos, podendo provocar aborto ou morte, sendo ainda uma substância bioflavonóide, atua
na normalização da resistência e permeabilidade das paredes dos vasos capilares,
especialmente relacionada a vitamina C. É difícil encontrar frutos no campo, devido ao
extrativismo estimulado pela ind ústria farmacêutica; requer-se, então, trabalhos investigatórios
referentes à fenologia, fator de importância para os estudos de preservação, modos de
reprodução e conhecimento da espécie. Esta avaliação também é importante pois permite
prever a época de reprodução, deciduidade, etc., parâmetros estes que podem ser utilizados
para o manejo da flora, ou dos bovinos que estão na área vegetada.
Neste trabalho objetivou-se registrar e discutir as variações fenológicas de uma população de
D. mollis, buscado caracterizar as estratégias adaptativas e a dinâmica dessa espécie nas
condições em que se encontra; para propor um manejo para colheita dos frutos e sementes
e/ou a retirada dos bovinos da área durante a fase de frutificação, em sistemas silvo-pastoril.
MATERIAL E MÉTODOS
Avaliou-se indivíduos de D. mollis em um remanescente de cerrado da Reserva Biológica
da UFMS, em Campo Grande (MS), com 36,5ha. O clima é do tipo Tropical Chuvoso de
Savana, subtipo Aw (Köppen, 1948), com um período seco nos meses mais frios e um período
chuvoso nos meses de verão com precipitação de 1.532mm (Embrapa – CNPGC, 1985). Para
as avaliações foram identificados 27 indivíduos, nos quais considerou-se as seguintes fases: a)
Sem flor, com folhas adultas, brotamento foliar e queda foliar (fase vegetativa); b) presença de
flores, frutos bem jovens, jovens e frutos maduros (fase reprodutiva). No período compreendido
entre 15/05/2002 e 30/01/2003, realizou-se visitas quinzenais às plantas, quando foram
observadas e estes dados foram anotados em planilhas e, posteriormente transformados em
média das ocorrências. Atribuiu-se nota zero (0) para a ausência e nota cem (100) para a
presença do fenômeno em cada um dos indivíduos; extraiu-se a média aritmética das
ocorrências e plotou-se os dados em gráficos, para melhor visualização e compreensão dos
fenômenos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As observações fenológicas nos indivíduos analisados de D. mollis, ocorrentes na área,
denotam que a espécie não apresenta fases fenológicas delimitadas. Alguns indivíduos
apresentaram flores e frutos mesmo nos períodos considerados desfavoráveis a estes
fenômenos (Figura 1). A presença de todas as fases fenológicas, durante o ano, na população
representa possivelmente uma estratégia adaptativa.
Figura 1. Dendrofenograma de Dimorphandra mollis, valores de FV (fase vegetativa), BF
(brotamento foliar), FL (presença de flor), FBJ (frutos bem jovens), FJ (frutos jovens), FM (frutos
maduros) e QF (queda foliar). Campo Grande (MS), UFMS/DBI, 2003.
Características semelhantes foram registradas por Souza (1990) para Physocalyx que,
em um mesmo mês, apresentou indivíduos com flores, botões, frutos maduros e imaturos ou
mesmo plantas vegetativas. A análise da Figura 1, nas diferentes fenofases, indica que 100%
dos indivíduos monitorados encontram-se estéreis, ou seja, no período vegetativo, com maior
pico de agosto até setembro, seguido de brotamento foliar com oscilações durante o período
até dezembro. Nesta fase foram observados dois picos acentuados de brotamento foliar: o 1°
na primeira quinzena de outubro e um 2° na segunda quinzena de janeiro. Vários fatores
contribuem para as ocorrências fenológicas, um desses é a diminuição da pluviosidade e
conseqüentemente a diminuição da quantidade de água no solo que contribui para a
deciduidade foliar e representa uma adaptação vegetativa para a sobrevivência da espécie por
um período desfavorável, havendo então translocação de nutrientes das folhas para outros
órgãos, como por exemplo flores favorecendo então, uma florada intensa (Mantovani, 1983). Os
dados obtidos corroboram com as observações feitas por Barros e Caldas (1980), que
registraram para espécies nativas do cerrado uma acentuada queda foliar a partir de maio com
o máximo em setembro. A análise da curva que representa a fase reprodutiva (Figura 1), indica
que a partir de 1ª quinzena de novembro, até janeiro, os indivíduos apresentam botões florais e
flores, confirmando as observações de Almeida (1998), lembrando que o aumento da
precipitação, temperatura e fotoperíodo correlacionam -se positivamente com o aumento da
floração. Estes dados não foram registrados durante o desenvolvimento do trabalho. Observouse na população monitorada, a presença de frutos bem jovens ao longo de todo o período,
caracterizando um comportamento atípico que pode ser considerado um caráter adaptativo ao
ambiente antropizado e/ou em função de polinizadores e da dispersão de diásporos.
Observações em plantas nativas do cerrado revelam que a emissão de flores pode ocorrer em
diferentes épocas em relação ao brotamento e que um grande número de espécies podem
florescer no mesmo período do brotamento (Valio, 1979). D. mollis apresenta frutos maduros
entre maio e setembro, ocorrendo picos entre junho e agosto, portanto, durante esses meses,
deve-se retirar os bovinos de áreas com grande número de indivíduos dessa espécie e,
proceder a colheita das vagens, para extração de rutina.
LITERATURA CITADA
ALMEIDA, S.P. ed. Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: Embrapa Cerrados, 1998. p.169-192.
BARROS, M.A.G.E.; CALDAS, L.S. Acompanhamento de eventos fenológicos apresentados por
cinco gêneros nativos do cerrado (Brasília, DF). Brasil Flor., v.10, p.7 -14, 1980.
EMBRAPA-CNPGC. Boletim Agrometeorológico - 1985. Campo Grande, MS. 1985.
MANTOVANI, W. Composição e similaridade florística, fenologia e espectro biológico do
cerrado da Reserva Biológica de Moji Guaçu, Estado de São Paulo . Dissertação de Mestrado.
Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 1983
RIZZINI, C. T. Influência da temperatura sobre a germinação de diásporas do cerrado.
Rodriguésia, v.28, p.341-383, 1976.
SOUZA, V.C. Scrophulariacea da Serra Cipó, Minas Gerais, Brasil. Dissertação de Mestrado.
São Paulo: Universidade de São Paulo. 1990.
VALIO, I.F.M. Reprodução em plantas superiores. In: Ferri, M.G. coord. Fisiologia vegetal. EPUEDUSP, São Paulo, 1979. p. 281-312.
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