BE_310 CIÊNCIAS DO AMBIENTE – UNICAMP ESTUDOS Turma 2014. Disponível em: http://www.ib.unicamp.br/dep_biologia_animal/BE310 DISCERNIMENTO SOBRE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS NA UNICAMP E EM SEUS ARREDORES GUSTAVO RODRIGUES RAPOSO*, JULIO GRAZIEL; GUILHERME GALBIATI SILVA FERRI & MARCEL KALEVI LYYRA Faculdade de Engenharia Elétrica e de Engenharia de Computação da UNICAMP Email correspondente: [email protected] Transgênese é o processo de introdução de um gene exógeno - chamado de transgene - em um organismo vivo, de modo que esse organismo passe a expressar uma nova propriedade e transmita essa propriedade à sua descendência. Organismos transgênicos são aqueles que receberam materiais genéticos de outros organismos, mediante o emprego de técnicas de engenharia genética. A geração de transgênicos visa obter organismos com características novas ou melhoradas relativamente ao organismo original. Resultados na área de transgenia já são alcançados desde a década de 1970, quando foi desenvolvida a técnica do DNA recombinante. A manipulação genética combina características de um ou mais organismos de uma forma que provavelmente não aconteceria na natureza. Assim podem ser combinados os DNAs de organismos que não se cruzariam por métodos naturais (CGM, 2009). Frequentemente há uma certa confusão entre organismos transgênicos e Organismos Geneticamente Modificados (OGM), e os dois conceitos são tomados, de forma equivocada, como sinônimos. Ocorre que OGMs e transgênicos não são sinônimos. Todo transgênico é um organismo geneticamente modificado, mas nem todo OGM é um transgênico. OGM é um organismo que teve o seu genoma modificado em laboratório, sem todavia receber material genético (RNA/DNA) de outro organismo. Transgênico é um organismo foi submetido a técnica específica de inserção de material genético (trecho de RNA|DNA) de outro organismo (que pode até ser de espécie diferente) (CGM, 2009). Por meio de um ramo de pesquisa relativamente novo (a engenharia genética), fabricantes de agroquímicos criam sementes resistentes a seus próprios agrotóxicos, ou mesmo sementes que produzem plantas inseticidas. Ao receber um ou mais genes de outro organismo, um vegetal pode se tornar resistente a pragas ou mais nutritivo, por exemplo. É importante lembrar que os transgênicos são apenas uma das aplicações da biotecnologia, ciência (GREENPEACE, 2014). A biotecnologia também tem sido utilizada não apenas no desenvolvimento de plantas, como também animais e micro-organismos (CIB, 2014). Há também uma preocupação com a explicitação se um alimento é transgênico ou não.Parlamentares tentam, através de projetos de lei, como o Projeto de Lei 4.148, de 2008, retirar a obrigatoridade de rotulagem com o símbolo que indica se um alimento possui ingredientes transgênicos ou não. “Em agosto de 2012, o Tribunal Regional Federal da Primeira Região,acolhendo o pedido da Ação Civil Pública proposta pelo Idec e pelo MPF, tornou exigível a rotulagem dos transgênicos independentemente do percentual e de qualquer outra condicionante, garantindo o direito à informação e à livre escolha estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor.” (IDEC, 2014). Por outro lado, boa parte da sociedade nem sequer conhece o símbolo de ingredientes transgênicos presente nos alimentos. Uma pesquisa da Ipsos encomendada pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), feita em fevereiro de 2010 em 70 cidades brasileiras, mostrou que: (LIMA, 2010) Figura 1. Informações sobre pesquisa realizada pela Ipsos em fevereiro de 2010. Disponivel em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI164863-15259,00-O+MEDO+NAO+PEGOU.html Tomando-se essas informações como base, percebe-se uma divergência no assunto. Por um lado, o consumidor exige seus direitos e quer ser informado sobre quaisquer alterações presentes nos produtos que deseja consumir, dando a liberdade de escolha para os mesmo; por outro, pesquisas mostram que a maioria dos consumidores sequer sabem o que são alimentos transgênicos e quais ferramentas são utilizadas para informá-lo do mesmo. Foram realizadas duas pesquisas, uma de campo e uma virtual, a fim de averiguar-se o conhecimento dos universitários em relação aos transgênicos e da preocupação das cantinas e restaurantes próximos a UNICAMP em relação ao mesmo. Para a pesquisa de campo, foram realizadas as seguintes perguntas: - Questão 1 "Você sabe o que são alimentos transgênicos?"; - Questão 2 "Você se preocupa com os transgênicos?"; - Questão 3 "Você observa se o produto é transgênico antes de comprá-lo?" e finalmente - Questão 4 "Quando você compra de revendedores, pergunta se os produtos são transgênicos?" Foram entrevistados 10 estabelecimentos, perguntando aos donos, ou aos responsáveis pela compra de alimentos, as questões descritas anteriormente. Dentre os entrevistados temos Restaurante da Física, Bandejão (RU), Cantina do Bello (Instituto de Química), Restaurante Terraço, Restaurante Bardana, Restaurante Aulus, Restaurante Moria, Cantina Tropicaliente (Faculdade de Engenharia Mecânica e Faculdade de Engenharia de Alimentos), Restaurante Afrodite (Faculdade de Ciências Médicas e HC), Dona Gula(Instituto de Biologia), Restaurante Sol Inn, entre outros que preferiram a não divulgação dos nomes. Para a pesquisa virtual, divulgou-se em grupos de redes sociais formados por docentes e discentes de diversos cursos da universidade, perguntas sobre conhecimentos e preocupação referentes ao assunto abordado. Um total de 100 pessoas respondeu o formulário. Para a divulgação e coleta dos dados das perguntas foi utilizada a ferramenta de criação de formulários do Google Docs. As perguntas realizadas foram: - Pergunta 1 "Você sabe o que é um alimento transgênico?"; - Pergunta 2 "Você sabe por que os alimentos transgênicos são considerados prejudiciais à saúde?"; - Pergunta 3 "Quando faz compras, você verifica se os alimentos são transgênicos?" e por fim - Pergunta 4 "Quando vai a um restaurante, se preocupa se os alimentos utilizados são transgênicos?". No final do questionário, foi entregue um pequeno panfleto às cantinas e restaurantes com algumas informações sobre alimentos transgênicos, a fim de conscientizar os donos sobre tais alimentos. As informações foram: O QUE SÃO ALIMENTOS TRANSGÊNICOS? - Alimentos transgênicos são geneticamente modificados com a finalidade de se conseguir algum efeito positivo na sua produção, como maior resistência a pragas, maior produtividade. Mas são só pontos positivos? - Os alimentos transgênicos também tem pontos negativos. Os transgênicos por possuírem uma maior resistência são responsáveis também pela extinção dos alimentos orgânicos e pela extinção de insetos. Os malefícios ao ser humano não foram comprovados ainda mas a maior resistência das plantas à bactérias faz com que seres humanos tenham também resistência aos antibióticos dessas bactérias dificultando o combate a infecções. O resultado obtido na pesquisa com os estabelecimentos foi que para a questão 1, tivemos como resposta que 10 sabem o que são alimentos transgênicos e 2 não sabem; para a questão 2, que 6 se preocupam com os transgênicos e 6 não se preocupam; para a questão 3 que 4 observam se os alimentos comprados são transgênicos e 8 não e para a questão 4, que 1 se preocupa se os revendedores usam produtos transgênicos e 11 não se preocupam. Analisou-se através dessa pesquisa que os donos/pessoas responsáveis pela compra dos alimentos, em geral, sabem o que são alimentos transgênicos, mas nem todos se preocupam com os possíveis danos que eles podem causar a saúde. Uma quantidade ainda menor observa se os alimentos comprados são transgênicos, e quase nenhum estabelecimento se preocupa se seus fornecedores utilizam alimentos transgênicos. Na pesquisa realizada com 100 alunos de diversos cursos da Unicamp, obtivemos os seguintes resultados para 4 perguntas: para a pergunta 1, obtivemos 97% sim e 3% não; para a pergunta 2, 58% sim e 42% não; para a pegunta 3, 15% sim e 85% não e para a pergunta 4, 2% sim e 98% não. A pesquisa mostrou que a grande maioria dos alunos sabe o que é um alimento transgênico mas metade desses mesmos alunos não sabe porque esses alimentos podem ser prejudiciais à saúde. Além disso, mesmo sabendo o que são alimentos transgênicos a maior parte dos alunos não se preocupa com isso na hora de fazer compras ou quando comem fora. Tomando-se um ambiente controlado como o da Unicamp e seus arredores, um centro acadêmico de alto nível, e expandindo para a população geral, observa-se que a desinformação em relação aos transgênicos ainda é grande, embora eles sejam largamente utilizados nos alimentos que consumimos diariamente. Isso implica numa privação da liberdade de escolha do consumidor, que não tem informações suficientes para decidir se o que ele está ingerindo é bom e nem de escolher se ele quer consumir esse tipo de alimento ou não. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BBC, 08 de fevereiro de 2013. British Broadcasting Corporation. Conheça os 10 transgênicos que já estão na cadeia alimentar. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/02/130207_transgenicos_lista_tp.shtml, Acesso: 30/06/2014 CGM, 2009. Centro de Genética Molecular. O que são transgênicos?, Disponível em: http://www.cgm.icb.ufmg.br/oquesao.php, Acesso: 30/06/2014 CIB, 2014. Conselho de Informações sobre biotecnologia. Guia - O que você precisa saber sobre transgênicos. Disponível em: http://cib.org.br/biotec-de-a-a-z/publicacoes/guia-o-que-voce-precisa-saber-sobre-transgenicos/, Acesso: 30/06/2014 GREENPEACE, 2014. Transgênicos: perigo para a agricultura e a biodiversidade. Disponível em: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/O-que-fazemos/Transgenicos/, Acesso: 30/06/2014http://www.greenpeace.org/brasil/pt/O-que-fazemos/Transgenicos/ IDEC, 2014. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Saiba o que são os alimentos transgênicos e quais os seus riscos. Disponível em: http://www.idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/saiba-o-que-sao-os-alimentos-transgenicos-e-quais-osseus-riscos, Acesso: 30/06/2014 IDEC, 2014. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Fim da rotulagem dos alimentos transgênicos: diga não! Disponível em: http://www.idec.org.br/mobilize-se/campanhas/fim-da-rotulagem-dos-alimentos-transgenicos-diga-no, Acesso: 10/07/2014 LIMA, F. 2010. O medo não pegou. Revista Época. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI164863-15259,00-O+MEDO+NAO+PEGOU.html, Acesso: 10/07/2014