reflexões sobre princípios éticos em paulo freire e suas

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REFLEXÕES SOBRE PRINCÍPIOS ÉTICOS EM PAULO FREIRE E SUAS
CONTRIBUIÇÕES ÀS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA CONSTRUÇÃO DE UMA
NOVA ORDEM SOCIETÁRIA
Grupo temático: Práticas Escolares e não Escolares e Organizações Alternativas.
Tânia Barbosa Martins,
Vagno Emygdio Machado Dias
Universidade Federal de São Carlos
O objetivo desse artigo é demonstrar que a ética é um conceito que sempre esteve
presente na obra de Paulo Freire e perpassa por toda sua concepção de educação e de
sociedade democrática.
A partir da leitura de algumas obras centrais desse teórico,
vislumbramos a dimensão ética na perspectiva de uma ética para a vida, para a libertação,
para a humanização crescente do homem e para protagonizar a transformação da história. A
ética é uma postura à qual os homens em processo de humanização e, portanto, de
libertação, tem de assumir, perante outros indivíduos e a sociedade, sua responsabilidade
com a ontologia dos homens que é Ser Mais.Tal dimensão ética é revestida por uma postura
política. Ela é consolidada quando o conhecimento pautado na comunicação é capaz de
promover a passagem de uma consciência ingênua para uma reflexão crítica. O estudo visa
salientar que a ética em Paulo Freire é a busca de uma nova educação pautada no exercício
democrático onde predomina o diálogo como elemento fundamental, que em última
instância apresenta um forte ideal de mudança social. Para Paulo Freire, o advento da nova
sociedade da informação agudiza os processos de exclusão social, principalmente, daqueles
setores com menos recursos formativos e que nesse contexto a educação possui um papel
importante na busca de conhecimentos e soluções de problemas. Desse modo, temos
refletido à luz de Paulo Freire, que a ética contrapõe-se àquela que está posta hoje, a ética
do mercado, da negação do outro e conseqüentemente da exclusão social. A partir dessas
considerações, surgiu uma inquietação de desvelar como a prática educativa poderia
contribuir para a construção de uma nova educação e uma nova ordem social calcada em
valores éticos. Então, buscando uma resposta mais elaborada, o nosso estudo nos
possibilitou demonstrar uma postura ética de suma importância às práticas educativas: o
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exercício democrático, que inclui autenticidade dos sujeitos, participação, compromisso de
todos no ato educativo, respeito à cultura e autonomia do aprendiz, e, exercício da
solidariedade e cooperação. Nesse exercício democrático, o diálogo é o elemento central
que permite as mediações e entendimentos entre as pessoas, e, além disso, apresenta um
forte ideal de compromisso com a emancipação do homem.
Nessa perspectiva, segundo Paulo Freire, uma proposta democrática, quando
realmente presente, culmina em procedimentos específicos no interior da sala de aula. As
práticas educativas devem se caracterizar pela autenticidade do posicionamento político do
professor, o que torna perceptível de que lado o professor está, do oprimido ou do opressor.
Só nessa medida poderemos transpor de uma prática ingênua para uma consciência crítica
na busca incessante do Ser Mais dos homens. Nesse sentido, a ética é antes de tudo uma
postura coerente, honesta consigo mesmo e com o outro no sentido da libertação do
homem, ressaltando que a libertação não é somente a libertação individual, mas coletiva e,
inclusive, envolve a do opressor. Assim, ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta
sozinho, todos se autolibertam em comunhão e solidariedade. Isto é ser coerente, é ser leal e
não desleal com relação a si mesmo e com os outros. Desse modo, é imprescindível que na
prática educativa, o professor assuma uma postura política, entendendo que o ser político
em Paulo Freire é não ser neutro, diferentemente do sectário, que possui interesses
individualistas e não busca a concretização do Ser Mais.
Nessa proposta democrática, vislumbramos também a dimensão ética através dos
papéis definidos do professor e do aluno. O professor deve ser responsável eticamente por
proporcionar aos alunos o acesso aos conhecimentos elaborados culturalmente e
cientificamente e por assumir a sua identidade e autoridade na função docente. Entretanto,
os alunos também possuem suas responsabilidades nesse processo, devem de modo
comprometido exercer sua participação na re-construção dos saberes. Assim, a democracia
para Paulo Freire, situa-se numa relação horizontal, de respeito e compromisso entre
professores e alunos. A participação efetiva de todos em todo o processo é condição central,
que vai desde a seleção de conteúdos, passando pela metodologia até a avaliação.
Essa democracia salientada por Paulo Freire, tendo como ingrediente básico o
diálogo intersubjetivo, pressupõe que todos os participantes tenham as mesmas
oportunidades de falarem, de serem respeitadas suas culturas, bem como suas diferenças de
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gênero e idade. A importância do diálogo nesse processo se justifica porque articulado à
reflexão os sujeitos vão se percebendo como sujeitos de linguagem e ação, recuperando a
confiança em si mesmos e em suas capacidades de compartilharem planos de ação.
Somente assim, a relação pode voltar-se para o desvendamento do mundo real e
comprometimento com a transformação.
A abertura para o diálogo intersubjetivo possibilita mudanças radicais nas práticas
educativas. Como relata Paulo Freire, ele é incompatível com a educação tradicional, onde
predomina a educação bancária, como forma principal de comunicação. Nesse tipo de
educação bancária o monólogo é a principal forma de comunicação, a sua tônica é apenas
narrar e dissertar aos oprimidos e não com eles. O professor detém o saber elaborado
historicamente e sua função é transmitir conhecimento que, aliás, não tem nada a ver com a
cultura dos oprimidos e lhes são indiferentes e estranhos. Esse tipo de educação apresenta
sérios problemas, pois não reconhece o saber popular. O único que é trabalhado na escola é
o saber da classe dominante, o que acaba reproduzindo a sociedade e negando o
reconhecimento da capacidade das pessoas de serem reflexivos, de poderem construir seus
conhecimentos e de serem protagonistas da história. Para Paulo Freire, a educação bancária
é o reflexo da sociedade opressora que tende a promover a cultura do silêncio para dessa
forma assegurar sua situação de privilégio. Os professores controlam todo o processo de
comunicação, a fim de transmitir os conhecimentos válidos. O educador é o dono do saber,
e o aluno um ser passivo. Em geral, essa educação tende a coisificar as pessoas,
reproduzindo as relações de poder próprio do sistema dominante.
Desse modo, a prática educativa tem um papel central, se estivermos interessados
na luta para a superação dessa situação e construção de uma nova ordem. A abertura do
diálogo é um princípio ético importante, pois, não aliena os indivíduos e estando na busca
da verdade, do Ser Mais dos homens só pode ser alcançada articulada a reflexão. O Ser
Mais enquanto sendo a busca da libertação e humanização só pode ocorrer com a reflexão e
o diálogo dos homens sobre o mundo e sua transformação. Mas como o homem não faz a
história sozinho, precisa manter a abertura do diálogo para melhor refletir sobre a
transformação do mundo. Assim, a construção de uma sociedade democrática se passa,
irremediavelmente, pela construção de uma nova mentalidade ou cultura dialógica, onde os
indivíduos assumam com ética, a construção dessa sociedade.
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Uma prática educativa ética é uma postura responsável do professor em assumir sua
função docente com responsabilidade, mantendo um clima democrático, com o diálogo,
com o respeite ao aluno como ativo no processo de aprendizagem, reconhecendo-os como
sujeitos sociais, de história, de transformação e de solidariedade, bem como o respeito de
sua heterogeneidade, de seus valores, costumes e sua cultura. A ética não inclui
preconceitos e discriminação. Uma prática educativa calcada em valores éticos deve ser
comprometida com o desenvolvimento de sujeitos solidários, que buscam conjuntamente
conhecimentos e soluções de problemas.
Enfim, deve ter como objetivo maior um projeto de emancipação e transformação
dessa realidade, que se caracterize pelos valores éticos, principalmente, no compromisso
com o desenvolvimento do Ser Mais dos homens, como salientado, na luta dos oprimidos
para recuperar a sua humanidade, libertando a si e aos opressores, na luta para a superação
da situação posta hoje, da ordem do mercado, da individualidade, da competitividade
desenfreada, da negação do outro. Nesse sentido, os princípios éticos na pratica educativa
implica uma prática comprometida com valores democráticos, que tenham um forte ideal
de mudança social, de uma nova ordem. É difícil pensar em uma sociedade democrática,
quando refletimos sobre a situação do mundo hoje, poderíamos dizer, que estamos vivendo
uma crise da democracia. Hoje a população já não confia mais em seus governos, esses por
sua vez, já não houve as opiniões do povo. Em alguns países, muitos governantes imbuídos
apenas de interesses próprios passam por cima das opiniões populares e de muitas
organizações. Tal barbaria é tão aguda, porque muitas instituições e muitas práticas
educativas não se comprometem com a criação do homem novo. Para Paulo Freire, esse
homem novo é aquele em permanente busca da humanidade, aquele sujeito solidário e
cooperativo, aquele homem que como diz Paulo Freire, não sendo bla-bla-bla, nem
ativismo, age de forma crítica e reflete sobre sua ação na busca constante do conhecimento
e soluções de problemas.
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