Domínio das Caatingas Percy Lau A Caatinga é a única grande região natural brasileira cujos limites estão inteiramente restritos ao território nacional. Caatinga: Mata Branca (Nome indígena, Tupi) caá= mata / tinga=branca Sampaio, Teodoro. O Tupi na Geografia Nacional. 1928 . Foto: Cabaceiras - Sueli A Furlan, 2015. Savanas estépicas (IBGE) 10% do território brasileiro! Jurandyr Luciano Sanches ROSS Domínio das Caatingas Em ambientes secos há o predomínio de intemperismo físico. A erosão mecânica destrói as rochas e as vertentes recuam de forma paralela. O material erodido é depositado nos setores mais rebaixados do relevo, formando os chamados pedimentos que quando se juntam formam um relevo aplainado, o chamado pediplano. Neste processo o solo é removido deixando aflorado a rocha mais resistente à erosão. São comuns em meio a pediplanícies a existência de grandes corpos rochosos que resistiram à erosão, os chamados 'Inselbergs' Topo Cornija Recuo paralelo Pedimento Detritos de vertente Morro do Pai Inácio – Chapada Diamantina – Bahia - Foto Marco Ramerini Geomorfologia (Cristalino e Sedimentar) Em geral estende-se ao longo de pediplanos ondulados expostos à partir de sedimentos do Cretácio e do Terciário que cobriam o escudo brasileiro basal do Pré-Cambriano. Segundo Ab’Saber um processo de pediplanação ocorreu no Terciário Superior e Quaternário Inferior para descobrir as superfícies atuais de rochas cristalinas do Pré-Cambriano, deixando vestígios isolados das superfícies mais jovens como os Inselbergs, Lageados, Serras e Chapadas. Inselberg no norte de MG Chapada do Araripe PI-CE-PE Serra do Baturité - CE Afloramentos rochosos – Lageado Pai Mateus (Sueli A Furlan, 2015) Aprox. 800.000 km2 (fonte: IBGE) 70% da região NE - + ou – 11% do território nacional Precipitação entre 268 a 800mm (Aziz Ab’Saber) Temperaturas entre 25 e 29°C (Aziz Ab’Saber) - Bsh na classificação de Köppen •Não é uma vegetação homogênea •Inclui várias fisionomias vegetacionais e numerosas facies (mosaicos de vegetação) •Das terras recobertas com a caatinga, 50 % são de origem sedimentar, ricas em águas subterrâneas. Mais alta radiação solar do país Menor nebulosidade Maior temperatura média anual Menores médias de umidade relativa Maior evapotranspiração potencial Menores precipitações e mais irregulares Fenômenos “catastróficos” frequentes (secas e cheias) 1.Meio Norte 2.Sertão 3.Agreste 4.Zona da Mata 5 1 Ecorregiões 3 6 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Depressão Sertaneja Setentrional Depressão Sertaneja Meridional Planalto da Borborema Complexo da Chapada Diamantina Complexo de Campo Maior Complexo Ibiapaba - Araripe Dunas do São Francisco Raso da Catarina 8 7 4 2 Foto: Cabaceiras - Sueli A Furlan, 2015. Grande diversidade de subtipos Latossolos Argissolos Neossolos quartzarênicos Neossolos litólicos Planossolos Luvissolos Fonte: Embrapa - solos SOLOS Aspecto da Depressão Sertaneja e solos representativos. (A) Paisagem; (B) Luvissolo Crômico; (C) Planossolo Nátrico; (D) Neossolo Litólico. Fonte: José Coelho de Araújo Filho, Eng. Agrôn., D.Sc. (IGc/USP), pesquisador da Embrapa Solos UEP-Recife SOLOS Aspecto da Bacia do Jatobá-Tucano e similares e solos representativos. (A) Paisagem e vista de Neossolo Quartzarênico Órtico típico; (B) Latossolo Amarelo; (C) Planossolo Háplico; (D) Luvissolo Crômico. Fonte: José Coelho de Araújo Filho, Eng. Agrôn., D.Sc. (IGc/USP), pesquisador da Embrapa Solos UEP-Recife Reservatório público Orós. Solo Vertissolo Ebânico Carbonático Típico, com formação litológica das rochas sedimentares da Bacia do Iguatu em relevo suave. O mesmo apresenta uma classe textural Franco Argilosa com uma condutividade hidráulica saturada de 0,22 mm h-1. Fonte: CLIMAS Grande questão: distribuição de chuvas! Porque chove pouco no sertão? 1. Fatores oceânicos Mesmo sob o Equador, a temperatura do mar nos litorais potiguar e cearense é mais baixa em relação às áreas adjacentes. Com baixa evaporação, há menos umidade presente. Porque chove pouco no sertão? 2. Influência do relevo A serra da Borborema (Planalto da Borborema), que atravessa vários estados, impede a passagem das correntes atmosféricas úmidas que partem do oceano para o interior. Por isso chove mais no litoral. 3. Frentes polares As frentes polares - encontro de massas de ar diferentes causam chuvas. Mas, como elas têm pouca força quando chegam ao Nordeste, predomina um quadro de estabilidade. 4. Fatores atmosféricos O Nordeste é uma área de alta pressão - com correntes de ar que transferem o calor para latitudes maiores -, situação que favorece a estabilidade do tempo e a ausência de chuvas. Depressão Sertaneja SECAS... CHEIAS... 10/05/2009 Nordeste brasileiro é castigado pelas enchentes 10/05/09 - Globo.com Em Trizidela do Vale (MA), chuvas já afetam 90% da população Rio Mearim subiu mais de seis metros acima do nível normal. Em todo o Maranhão, nove pessoas morreram em decorrência das chuvas. Explicações possíveis •Células de alta pressão sobre o NE impedem a formação de chuvas regulares. (Conti, 2005) •Correntes marinhas: As águas ao Sul do Equador são mais frias devido à influência da Corrente (fria) de Benguela, reduzindo as chuvas no NE brasileiro (Conti, 2005) •Quando A ZCI está mais ao sul a possibilidade de chuvas aumenta. •Influência do relevo (Planalto da Borborema) Relevo – Atmosfera – Oceano Clima Semi Árido Sistemas atmosféricos •Ventos alísios muito fracos (ZCI ficando muito acima da linha do Equador) – Pouca chuva no Nordeste brasileiro •Ventos alísios normais •Ventos alísios muito fortes (ZCI chegando muito abaixo da linha do Equador) - Muita chuva no Nordeste brasileiro Fonte: João Suassuna Geomorfologia •Precipitação é maior nas bordas •Influência dos sistemas atlânticos e amazônicos •A massa úmida equatorial continental produz chuvas de convecção que podem alcançar o nordeste a partir do mês de novembro. (Darién Prado, 2006) Hidrografia Hidrografia totalmente relacionada com os regimes climáticos, mais especificamente com as chuvas. Maior parte dos rios são intermitentes (Exceção ao São Francisco e ao Parnaíba). Drenagem exorreica. Todos os rios do Nordeste chegam ao mar Os terrenos sedimentares têm lençóis freáticos profundos e bem abastecidos Caatinga - Vegetação Vegetação é constituída, especialmente, de espécies lenhosas e herbáceas, de pequeno porte, geralmente dotadas de folhas modificadas (espinhos), sendo, geralmente, caducifólias, perdendo suas folhas no início da estação seca, e de cactáceas e bromeliáceas. Estima-se que pelo menos 932 espécies já foram registradas para a região, das quais 380 são endêmicas. Famílias mais frequentes: Caesalpinaceae, Catingueira Mimosaceae, (Caesalpinia pyramidalis Tul.) Euphorbiaceae, Fabaceae e Cactaceae As folhas, flores e a casca são usadas no tratamento das infeções catarrais e nas diarréias e disenterias Fisionomias vegetacionais As caatingas compreendem diferentes tipos de associações vegetais que formam matas secas e campos Caatinga seca não-arbórea Caatinga seca arbórea . Caatinga arbustiva densa Caatinga de relevo mais alto Caatinga do chapadão do Moxotó Fonte: Furlan,S. Geografia do Brasil. 2005 Caatinga seca não-arbórea Caatinga seca arbórea Caatinga de relevo mais alto Caatinga seca não-arbórea Caatinga arbustiva densa Caatinga do chapadão do Moxotó Adaptações das plantas Vegetação Caducifólia - Perda das folhas durante a estação seca (que o sertanejo chama Verão e que corresponde ao outono, inverno e primavera) Xeromorfia – revestimento dos tecidos que ajuda a perder menos água por transpiração Plantas xeromórficas têm folhas grossas, pequenas, coriáceas e pilosas. Algumas têm folhas transformadas em espinhos Juazeiro (Zizyphus joazeiro) Ecologia: Raízes profundas Perenifólia Zoocoria Usos: Madeira e carvão Sombra Alimento para o gado Adstringente bucal Mandacaru (Cereus jamacaru) “Mandacaru quando flora lá na seca é sinal de que a chuva chega no sertão” •Alimento para o gado, caprinos e suínos •Atinge até 10m •O tronco serve para confecção de portas e janelas •Flor noturna polinizada por morcegos Luiz Gonzaga Mandacaru (Cereus jamacaru) Aberta durante à noite – polinizada por morcegos Foto: João Steck Faxeiro (Pilosocereus pachycladus) Usado como tocha, daí o nome Ocorre na Caatinga do Chapadão do Moxotó A madeira é usada na carpintaria. Os ramos descascados e secos servem para cobertura de casas. As raízes são aproveitadas na confecção de colheres de pau. Cabeça ou Coroa de Frade (Melocactus sp) Foto: Sueli A Furlan, 2015 Xique Xique (Pilosocereus gounellei) Alimento para o gado como último recurso em virtude da grande quantidade de espinhos. Presente em áreas muito secas Foto: Sueli A Furlan, 2015 Palmatória ou Quipá (Opuntia inamoena) Espécie endêmica da caatinga. Por sua propriedade de acumular água nos seus tecidos, é de grande serventia para o homem e os animais em período de seca. Seus frutos são beneficiados, produzindo doces e geléias. Foto: Sueli A Furlan, 2015 Polinização na caatinga Chrysolampis mosquitus O morcego Glossophaga soricina visita o cacto Pilosocereus catinguicola: ganhos recíprocos. Foto: Isabel Machado Cerca de 50% das espécies têm síndrome de dispersão por zoocoria Abelhas 42% Beija-Flores 15% Morcegos 13% Hylocereus undatus Isabel Machado -UFPE A avifauna da caatinga Asa Branca Columba picazuro Columbidae (pomba) “Inté mesmo a asa branca Bateu asas do sertão "Intonce" eu disse adeus Rosinha Guarda contigo meu coração” Luis Gonzaga “Carcará, Lá no sertão É um bicho que avoa que nem avião É um pássaro malvado Tem o bico volteado que nem gavião Carcará, Quando vê roça queimada Sai voando, cantando” João do Vale Arara Azul de Lear (Anodorhynchus leari) Coruja Caburé de Sol (Glaucidium brasilianum) Hábitos diurnos, pequena, agressiva Periquito da Caatinga(Aratinga cactorum) Tatu bola (Tolypeutes tricinctus) •menor tatu brasileiro •único tatu endêmico •mais ameaçado, porque, como não cava bem como os outros tatus, é mais fácil de ser caçado na região de seca, onde há pouca comida Ameaçados de extinção Baixo endemismo para mamíferos Mixila, Tamanduá Mirim (Tamandua tetradactyla) Sussuarana (Felis concolor) Vegetarianos e Venenosos Lagarto (Iguana iguana) Cascavel (Crotalus durissus) Ruvelídeos Peixes anuais Simpsonichthys suzarti Açude Gargalheiras, visto do topo da Serra das Araras Foto: Hugo Macedo A fauna da caatinga A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) Seu nome específico é uma homenagem ao naturalista alemão Johann Baptiste von Spix. Extinta na natureza O último exemplar morreu em uma linha de alta tensão Erros do cinema: A Ararinha (Cyanopsitta spixii) é da caatinga O Tucano é do cerrado (Ramphastus toco) O povo nordestino Ciclos da natureza E crendices Comitiva para a missa dos Vaqueiros A Missa do Vaqueiro tem sua origem no assassinato do vaqueiro Raimundo Jacó que foi morto no dia 09 de julho de 1954, nas caatingas do Sítio Lages. A primeira missa foi celebrada em 1971. “Rezar para São José” “Apela pra março Que é o mês preferido Do santo querido Sinhô São José” (A Triste Partida, Patativa do Assaré) “Quem planta no dia de São José, come no dia São João”. A caatinga verde Dia 19 de março – dia de São José Caatinga no “inverno” Caatinga Seca Quando São José falha... Gado Caprinos Impactos sobre a Caatinga Destruição •Desmatamentos •Culturas irrigadas •Salinização dos solos •Agropecuária “Normalmente, em solos rasos, quando se aplica uma quantidade maior de água no sistema de irrigação, há uma tendência de elevação gradativa do lençol freático ao nível das raízes das plantas, com um conseqüente incremento das concentrações salinas naquela região, uma vez que este lençol carreia, por capilaridade, os sais oriundos de níveis mais profundos do solo”. João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco Codevasp – manual para recuperar solos salinos A pesquisadora brasileira Dirce Suertegaray (1987) propôs, muito apropriadamente, o termo arenização para o processo de afloramento e expansão de areias, dinamizado pela ação eólica Degradação dos solos e arenização não é desertificação! Nucleos de Desertificãção: Gilbués (PI) Seridó (PB - RN) Irauçuba (CE) Cabrobó (PB) Aziz Ab’Saber “A seca é um fato natural, o homem deve aprender a conviver com ela” Os retirantes – Candido Portinari Disponívem em www.diretoriodearte.com Artesanato de Cana brava Sisal Cisternas PN Nascentes do Rio Parnaíba - BA/MA/PA/PI PN Chapada Diamantina - BA PN Sete Cidades - PI PN Catinbau -PE Turismo na caatinga Parques como Serra da Capivara atraem muitos visitantes Conservação Mais de 40% da Caatinga já foi destruída Menos de 2% da Caatinga está protegida em Unidades de Conservação A caatinga foi negligenciada alegando-se: Baixo endemismo Pouca diversidade de espécies Existem atualmente 16 UCs federais e 7 estaduais que protegem formações da Caatinga e/ou ambientes de transição. Apenas 50% das unidades federais contêm exclusivamente formações de Caatinga, sendo metade dessas UC.s de uso sustentável e metade de proteção integral. Com a criação do Grupo de Trabalho da Caatinga pela Secretaria de Biodiversidade e Floresta do Ministério do Meio Ambiente, deve ser acelerada a criação de Unidades de Conservaço na região Nordeste Há grande carência de estudos a respeito das caatingas Segundo Tabarelli (2006) cerca de 40% das caatingas nunca foram amostradas E em cerca de 80% das áreas já amostradas os estudos foram superficiais As caatingas continuam a ser fortemente fragmentadas! Nova etapa: •Intensificação de estudos •Criação de áreas protegidas •Estratégias: •Seleção de áreas prioritárias por meio de workshops •Compra de áreas •Incentivos à criação de RPPN Sugestão bibliográfica Ab’Saber, Aziz Nacib. Os Domínios de Natureza no Brasil: Potencialidades Paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. Cortez-Almeida, Jarcilene et al. Caatinga. São Paulo: Harbra, 2007. Lorenzi, Harri. Árvores Brasileiras: Manual de identificação de plantas arbóreas no Brasil. Nova Odessa: Inst. Plantarum, 2002. Rizzini, Carlos Toledo. Tratado de Fitogeografia do Brasil. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural Edições, 1997. Ross, Júrandyr L.Sanches. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2005. Tabarelli, Marcelo;Leal,Inara; Silva, José M. Cardoso. Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife: UFPE, 2003. Silva, José Maria Cardoso da; Tabarelli, Marcelo; Fonseca, Mônica Tavares da; Lins, Lívia Vanucci. Biodiversidade da CAATINGA: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília: MMA, 2003. Suassuna, João. A salinidade de águas do nordeste semi-árido. Disponível em:http://www.cepis.org.pe/eswww/fulltext/recuhidr/salinida/salinida.html