Escola Básica e Secundária de Velas O ILUMINISMO Alberto estava sentado na soleira da porta quando ela chegou e fez-lhe sinal para ela se sentar ao seu lado. (…) - Vamos directamente ao assunto – começou Alberto. (…) Vou apresentar resumidamente algumas ideias que eram comuns a muitos filósofos franceses do Iluminismo, nomes importantes como Montesquieu, Voltaire, Rousseau e muitos, muitos outros. Concentrei-me em sete pontos principais. (…) Um primeiro mote é, portanto, a revolta contra as autoridades. Vários filósofos franceses do Iluminismo tinham visitado a Inglaterra, que em alguns aspectos era mais liberal do que a sua pátria. A ciência da natureza inglesa fascinava-os, sobretudo Newton e a sua física universal. Mas os filósofos ingleses também inspiravam, sobretudo Locke e a sua filosofia política. De volta a França, começaram a opor-se a pouco e pouco às velhas autoridades. Achavam importante mostrar cepticismo em relação a todas as verdades herdadas e pensavam que o indivíduo tinha de encontrar por si mesmo a resposta para todas as perguntas. Neste ponto, a influência de Descartes era evidente. - Porque ele construiu tudo a partir da base. - Exacto. A insurreição contra as velhas autoridades dirigia-se também contra o poder da Igreja, do Rei e da nobreza. Estas instituições eram, no século XVIII, muito mais poderosas em França do que em Inglaterra. - E depois veio a Revolução. - Em 1789, sim. Mas as novas ideias vieram mais cedo. A próxima palavrachave é o racionalismo. (…). Tal como os humanistas da Antiguidade – como Sócrates e os estóicos -, a maior parte dos iluministas tinha fé inabalável na razão humana. Essa característica era tão marcada que muitos também designam a época do iluminismo francês simplesmente por “racionalismo”. A nova ciência da Natureza tinha mostrado que a natureza estava organizada racionalmente. Para os filósofos do Iluminismo, a sua tarefa era criar um fundamento para a moral, a ética e a religião que estivesse de acordo com a razão imutável do Homem. E isso conduziu ao verdadeiro pensamento do Iluminismo. - O nosso terceiro ponto. - Em primeiro lugar, dizia-se, amplos estratos do povo tinham de ser “iluminados”. Isso era condição absoluta para uma sociedade melhor. Mas o povo era dominado pela ignorância e pela superstição. Foi, portanto, dada muita atenção à educação. Não é por acaso que a pedagogia como ciência foi fundada nessa época do Iluminismo. - Então a noção de escola provém da Idade Média e a pedagogia do Iluminismo. - Podes dizer isso. O grande monumento do Iluminismo é uma enciclopédia. Estou a pensar na enciclopédia, que foi publicada entre 1751 e 1772, em 28 volumes, com contributos de todos os grandes filósofos iluministas. “Aqui há de tudo”, dizia-se, “ desde a publicação de agulhas até à fundição de canhões”. 1 - O ponto seguinte é o optimismo cultural. (…) - Só quando razão e saber fossem difundidos, segundo os iluministas, é que a Humanidade faria progressos. Era apenas uma questão de tempo, e o irracionalismo e a ignorância desapareceriam, e haveria uma Humanidade esclarecida. Esta ideia era dominante na Europa Ocidental até há algumas décadas. Hoje, já não estamos tão convencidos de que mais saber leve a condições de vida melhores. Aliás, esta crítica da “civilização” já tinha sido apresentada pelos filósofos franceses do Iluminismo. - Nesse caso, talvez devêssemos tê-los ouvido. - “Regresso à natureza!” era o lema da crítica da civilização. Mas, por natureza os filósofos do Iluminismo entendiam quase o mesmo que por razão. Porque a razão é dada ao Homem pela Natureza – ao contrário da Igreja ou da civilização. Dizia-se que os “povos primitivos” viviam de uma forma mais saudável e feliz do que os europeus, justamente porque não tinham civilização. O estribilho “Regresso à Natureza!” provém de Jean-Jacques Rousseau. Ele explicou que a natureza era boa e por isso o Homem também era bom “por natureza”. Todo o mal residia na sociedade civilizada que afastava o Homem da sua natureza. (…) E, finalmente, para os iluministas era importante uma religião “natural”. - O que queriam dizer com isso? - A religião também tinha de ser posta em harmonia com a “razão natural” dos homens. Muitos lutavam por aquilo a que podemos chamar um cristianismo humanista, e este é o sexto ponto da lista. Naturalmente, havia também materialista coerentes que não acreditavam em Deus e se reconheciam como ateus. Mas a maior parte dos filósofos iluministas achavam irracional pensar num mundo sem Deus. Consideravam que o mundo tinha uma ordem demasiado racional. (…) Muitos professavam o deísmo. - Explica-te! - Por “deísmo” entendemos uma concepção segundo a qual Deus criou o Mundo há muito tempo, mas não se revela ao mundo desde então. Deste modo, Deus é o supremo que se dá a conhecer aos homens Apenas por meio da natureza e das suas leis – mas que não se revela de modo sobrenatural. (…) - Agora, já só nos resta um ponto, os direitos humanos. - Mas, em compensação, esse é talvez o mais importante. (…). Tratava-se sobretudo da luta contra a censura – ou seja, pela liberdade de imprensa. Em relação à religião moral e política tinha de se assegurar ao indivíduo o direito de pensar livremente e de exprimir livremente as suas ideias. Além disso, lutou-se contra a escravatura, e por um tratamento mais humano dos criminosos. (…) - Mas ainda há muitos homens que têm de lutar por esses direitos. Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia, Ed. Presença 2