HIGIENE: UMA QUESTÃO DE SAÚDE JUSTIFICATIVA A ideia de

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HIGIENE: UMA QUESTÃO DE SAÚDE
JUSTIFICATIVA
A ideia de desenvolver este projeto surgiu de uma necessidade das
turmas. Ou melhor, de um problema que estávamos vivenciando e que estava
gerando desconforto entre os alunos da turma, principalmente do turno
matutino. Diz respeito ao cuidado que cada aluno tem com o seu corpo, com a
sua higiene. Problemas como piolho, mau cheiro, uso de roupas sujas, falta de
cuidado com unhas, cabelos, orelhas e com os seus pertences estavam bem
comuns nas turmas.
Esse problema ficou ainda mais evidente após a visita do dentista do
posto de saúde do bairro à escola, o qual passou em cada uma das salas de
aula para fazer uma triagem nos dentes dos alunos, a fim de perceber se havia
casos de cárie ou outra doença bucal. Após analisar a boca de cada um dos
alunos, chamou-me para conversar. Infelizmente, ele falou que praticamente
todos os alunos estavam com cárie e que vários tinham mais de cinco cáries
nos dentes. O dentista ainda fez um apelo para que incentivasse os alunos a
irem ao posto de saúde para serem atendidos, já que muitas famílias foram
chamadas para consultas, porém não compareceram.
Então, como esse quadro precisava se reverter urgentemente, pensei
em propor momentos em que a turma se divertisse e aprendesse mais sobre a
temática higiene, para que os alunos levassem esses conhecimentos de forma
autônoma para suas casas e os desenvolvessem junto às suas famílias.
Além disso, como a turma está no Ciclo de Alfabetização, as disciplinas
de Língua Portuguesa e Matemática também permearam o projeto nos mais
diferentes momentos, dando ao projeto uma proporção multidisciplinar.
O projeto “Higiene: uma questão de saúde” foi realizado com alunos de
duas turmas do 2° ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vítor
Meirelles, Bairro Três Rios do Norte, Município de Jaraguá do Sul, SC. A
escola possui pouco mais de 700 alunos, da pré-escola até o 5° ano, sendo
que o total de alunos participantes do projeto foi de 50 alunos. As turmas em
que o projeto foi realizado são bem diferentes entre si. A turma do matutino é
mais afetiva, carinhosa, possui mais alunos carentes em relação a recursos
financeiros, é mais lenta nas atividades e tem mais alunos com dificuldades de
aprendizagem e que não estão alfabetizadas. Os problemas de higiene foram
mais evidentes nesta turma. Já a turma do vespertino é mais organizada,
rápida,
participativa,
matemáticos.
Na
dominam
turma
há
melhor
um
a
aluno
leitura,
com
escrita
Transtorno
e
conceitos
Global
de
Desenvolvimento (Transtorno de Espectro do Autismo e transtorno opositor
desafiante), então os demais alunos diariamente estão lidando com situações
de inclusão, respeito às limitações, paciência diante de algumas atitudes
inusitadas e fazem isso com carinho e respeito pelo colega. Ambas as turmas
têm uma característica em comum: gostam de atividades diferentes e aceitam
qualquer desafio proposto pela professora. Nossa escola fica localizada em um
bairro periférico do município, sendo que muitos alunos tem apenas a sua
casa, a rua e a escola como espaço de aprendizagem e convivência. Então, a
equipe escolar dedica-se muito para oferecer boas condições para os alunos
permanecerem e gostarem de estar na escola como: Laboratório de
informática, biblioteca, quadra esportiva coberta, cinco salas de aula com
projetor multimídia, pátio externo amplo, horta, entre outros. Ou seja, a escola
procura oferecer boas instalações aos alunos. A participação dos pais dos
alunos na escola é parcial, sendo que a maioria das famílias é ativa, vêm à
escola sempre que são chamadas, já outras não são assim. Durante o projeto,
houve a necessidade da participação das famílias, sendo que participaram
positivamente, algumas delas até contribuindo mais do que foi solicitado pela
professora.
OBJETIVOS
Objetivo geral
Compreender que a higiene do corpo auxilia na nossa saúde, a fim de
estimular maior autonomia e dedicação a essa questão, por meio de leituras,
vivências, experimentações, pesquisa, registros e atividades de apropriação do
sistema de escrita alfabética e de matemática.
Objetivos específicos
- Compreender a saúde como bem individual e comum que deve ser promovido
pela ação coletiva (PCN, Ciências Naturais, 1997).
- Conhecer e valorizar o próprio corpo com adoção aos hábitos de higiene [...],
compreendendo que o termo saúde engloba o indivíduo, o ambiente e a
sociedade (PPP da EMEF Vítor Meirelles/2014).
- Apropriar-se de diferentes saberes e conhecimentos por meio de reflexão, do
diálogo e da problematização de questões do cotidiano, desenvolvendo
atitudes de melhoria de vida (PPP da EMEF Vítor Meirelles/2014).
-Mobilizar os alunos para a importância dos cuidados com o corpo, por meio de
conversas, análise de imagens e debate, a fim de que entendam a higiene
como fator que influencia nossa saúde.
-Utilizar as características do personagem Cascão (de Maurício de Sousa) para
se pensar em quais hábitos de higiene são necessários para preservar nossa
saúde.
-Conversar e pesquisar sobre os produtos de higiene disponíveis nos
mercados, sua utilidade e forma de uso.
-Explorar embalagens de produtos de higiene trazidas pelos alunos,
percebendo suas características e informações importantes, fazendo sua
classificação e seriação.
-Trabalhar conceitos matemáticos e situações-problema acerca dos produtos
de higiene.
-Desenvolver atividades que visem melhorar a apropriação do sistema de
escrita alfabética, bem como as habilidades de leitura e interpretação.
-Conhecer catálogos de mercado, bem como suas características, ampliando,
assim, os conhecimentos tanto dos produtos de higiene quanto do sistema
monetário.
-Ler textos científicos acerca da temática higiene.
-Produzir frases e textos sobre os conhecimentos apreendidos no projeto.
-Simular situações de banho e escovação de dentes para os alunos
visualizarem formas de realizarem tais ações de forma autônoma e cuidadosa.
-Conhecer mais sobre os dentes, suas funções e características, a fim de
cuidar deles com mais dedicação e consciência.
-Confeccionar um livrinho como produto final do projeto, registrando ao longo
da história os conhecimentos apreendidos e trabalhados.
-Construir um jogo com os alunos para resgatar conhecimentos da temática
higiene.
METODOLOGIAS
Quando comecei a pensar no projeto, sabia aonde queria chegar, por
isso, primeiramente listei subtemas que o projeto teria que contemplar, por
exemplo: o que é higiene e saúde, hábitos de higiene, produtos de higiene
pessoal, doenças causadas pela falta de higiene. Então, organizei um roteiro
(fornecido pela Secretaria Municipal de Educação de Jaraguá do Sul ao qual
permitiu que eu organizasse o passo a passo do projeto. Assim, ao longo do
projeto, fui repassando as ações para o meu caderno de planejamento,
conforme o dia de execução, para evitar qualquer tipo de esquecimento ou
transtorno com reserva ou solicitação de algum material. Também já tinha em
mente fazer uma proposta multidisciplinar, pois não via sentido em abandonar
a Língua Portuguesa e a Matemática ou trabalhar com as mesmas de forma
isolada. O projeto teve condições de abraçar estas disciplinas de forma
harmoniosa e contextualizada. Isso foi positivo, pois nem todos os alunos
estavam alfabéticos ou dominando plenamente os conceitos matemáticos
esperados para a faixa etária. Com o desenrolar das aulas, o projeto foi
tomando uma proporção maior do que eu imaginava, pois fui conseguindo mais
materiais sobre a temática, além de outros profissionais da escola também
repassarem vídeos, atividades, ideias,... que ampliaram o meu “horizonte
pedagógico”. O projeto a princípio era para ter a duração de apenas um mês,
começando em 30 de abril a 30 de maio de 2014, porém, não foi possível
concluir neste período, estendeu-se até o final de julho. E quando a temática
do projeto terminou, já estudamos sobre outros fatores que influenciam na
saúde: vacinação, atividades físicas e alimentação saudável. Muitos recursos
materiais foram utilizados nestas semanas de estudo, como por exemplo:
projetor multimídia, computadores para pesquisa e realização de atividades,
imagens impressas, embalagens de produtos de higiene, catálogos de
supermercado,
atividades impressas
sobre
a
temática
(caça-palavras,
cruzadinhas, construção de frases,...), cadernos dos alunos, materiais para
simulação de um banho (boneca, xampu, toalha, água, sabonete e bacia),
dentre outros. Houve parceiros que auxiliaram neste projeto: a orientadora
pedagógica, Sandra Gruber; a secretária, Juliana Godoi; o articulador de
tecnologias, Jonas Furlan; a bibliotecária, Patricia Horn e o diretor escolar,
Antonio de Sousa. Além destes, tentei conseguir uma palestra com o dentista
do posto de saúde, porém ele não tinha horário disponível para vir até a escola.
A proposta foi apresentada aos alunos por meio de um momento de
mobilização. Apresentei à turma o personagem da turma da Mônica (Maurício
de Sousa), o Cascão, e conversamos sobre suas características. Os alunos
foram comentando sobre seus conhecimentos em relação ao personagem e,
consequentemente, sobre como sua falta de cuidados com o corpo pode
atrapalhar sua saúde e convivência com os colegas. Também, falaram que se
o personagem não se cuidar poderá ficar sujo, fedorento, doente, encardido,
sem amigos,...
Quando questionados sobre o que significava a palavra
higiene, não souberam falar sobre o que se tratava. Então, fizemos a busca do
significado desta palavra em um dos dicionários da sala (enviados pelo PNLD
Dicionários).
Aproveitei para, de forma indireta, falar dos problemas de higiene de
cada turma também, mas, claro, sem citar nomes de alunos. Após isso,
convidei os alunos para verem uma coleção de imagens pesquisadas
previamente na internet, as quais mostravam de forma bem pontual problemas
de higiene. Os alunos ficaram espantados ao verem dentes podres, gengivas
inflamadas, micoses, imagens de piolhos e de vermes... Foi um momento forte,
porém necessário para as turmas se mobilizarem para o projeto. Algumas falas
deste tipo surgiram: “Que nojo”, “que pessoa mais feia”, “eu não quero ficar
assim”, “perdi a fome”.
Após isso, foram realizadas as seguintes ações/etapas:
Etapa 01: Após a mobilização, dediquei um tempo para explicar sobre as
doenças abordadas nas imagens, para isso, fiz uma pesquisa prévia no site do
Dr. Dráuzio Varella (www.drauziovarella.com.br) para saber com mais
consistência sobre cada uma delas. As doenças apresentadas foram: cárie,
gengivite, pediculose, micose, berne, sarna e vermes. Realizou a leitura de
trechos do conteúdo do site. Conforme fui explicando os alunos davam dicas
do que fazer para evitar estas doenças e é incrível como contribuíram
oralmente com a aula. E muitos inclusive relataram que já tiveram alguma
destas doenças. Para finalizar a aula, entreguei a cada aluno uma atividade de
caça-palavras, em que os alunos foram desafiados a localizar o nome das
doenças que havíamos conversado naquela aula. A maioria adora este tipo de
atividade, por isso faço com bastante frequência. Para alguns, a atividade foi
fácil e rápida, já para outros, tive que dar mais dicas para conseguirem localizar
as palavras. O aluno com necessidades especiais foi ajudado por um colega da
sala na realização desta atividade. Ao final, todos realizaram a atividade e
colaram em seus cadernos.
Etapa 02: Nesse dia, tivemos uma boa conversa sobre bons hábitos de higiene.
Foi lançada a pergunta: “O que o Cascão pode fazer para deixar o seu corpo
limpo?”. Os alunos deram suas sugestões (tomar banho, escovar os dentes,
não andar descalço, trocar de roupa,..,) que foram complementadas com
material
de
apoio
pesquisado
previamente
por
(http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000016758.PDF).
mim
No
caderno, os alunos copiaram e realizaram uma atividade em que tinham que
pintar somente os bons hábitos de higiene. Na lista havia: tomar banho, cutucar
o nariz, lavar as mãos, andar descalço, usar roupas sujas, escovar os dentes e
limpar as unhas. A turma do matutino precisou de mais auxílio para ler e
interpretar a atividade, sendo que quatro alunos não estão alfabéticos e
precisaram que eu realizasse a leitura integralmente para ajudá-los. Após isso,
os alunos escreveram frases para registrar os novos conhecimentos e pintaram
desenhos de hábitos de higiene. Essas frases foram lidas em voz alta para a
turma. Para finalizar, fizemos uma lista de palavras que rimam com “Cascão”,
já que os alunos estavam demonstrando dificuldade em registrar a sílaba “cão”
da palavra Cascão. Após esta lista ser construída coletivamente, a maioria está
escrevendo tranquilamente palavras que terminam em “ão”.
Etapa 03: Os alunos foram ao laboratório de informática da escola e
pesquisaram por meio do Google Imagens, produtos de higiene pessoal. Esta
atividade foi realizada em duplas, o que gerou muita conversa e bagunça,
precisei pedir para que não falassem alto várias vezes, mas, quando a
atividade terminou, percebi que o objetivo foi alcançado. Em sala, fizeram uma
lista com o nome dos produtos encontrados. Foi um ditado coletivo, onde cada
dupla falava o nome dos produtos pesquisados na internet e todo o grupo de
alunos registrava em seu caderno. Foram identificados tantos nomes de
produtos que faltou tempo para conseguirmos registrar tudo. Foi um momento
importante para os alunos se familiarizarem principalmente com produtos que
ainda não conheciam. Em outro dia, essa lista de produtos foi colocada em
ordem alfabética e, também, os alunos contaram o número de sílabas de cada
nome de produto. Como tarefa de casa, os alunos tiveram que trazer uma
embalagem de produtos de higiene pessoal.
Etapa 04: A maioria dos alunos trouxe embalagens de produtos de higiene, o
que permitiu que conversássemos muito sobre o tema “produtos de higiene”.
Para minha surpresa, a turma da manhã trouxe também embalagens de
produtos de higiene para a casa (desinfetante, álcool, água sanitária...); então,
fizemos primeiramente a classificação de embalagens, colocando de um lado
as embalagens dos produtos de higiene da casa e em outro lado as
embalagens de produtos de higiene pessoal. Após isso, cada aluno foi
apresentando a embalagem que trouxe, explicando a utilidade do produto em
questão e em qual parte do corpo era usado. Pedi para me ajudarem a separar
os produtos que têm o conteúdo sólido daqueles que têm o conteúdo líquido, e
conversamos sobre as unidades de medidas correspondentes a cada produto,
chegando à conclusão de que: produtos líquidos têm unidade de medida litro
ou mililitro, já os produtos sólidos e também os pastosos têm a unidade de
medida gramas, metros (no caso do fio dental) ou somente a quantidade
unidades (no caso dos cotonetes, papel higiênico, lenços...). Fizemos a
organização da embalagem com mais conteúdo para a que tem menos
conteúdo. Para finalizar, os alunos fizeram uma tabela contendo o nome e a
quantidade de embalagens trazidas e responderam perguntas como: qual o
tipo de embalagem mais trazida? Qual o tipo de embalagem menos trazida? Se
somarmos todas as embalagens, quantas darão ao total? Qual o tipo de
embalagem da qual foram trazidas quatro unidades? Quantas embalagens de
pasta de dentes têm a mais que de xampu? Foi um dos dias de maior
envolvimento e de descoberta de novos conceitos.
Etapa 05: A proposta desse dia foi a de trabalhar com agrupamento de
elementos, ou seja, aproveitar a temática higiene para explorar mais o conceito
de distribuir elementos igualmente em grupos, podendo, assim, trabalhar
noções aditivas e multiplicativas. A atividade foi feita em forma de desafio. Os
alunos receberam uma tira de papel na qual havia o desenho de escovas e
pastas de dentes, sabonetes e xampu. Tinham o desafio de formar kits com
esses produtos, sendo que havia a regra: os kits deveriam ser formados com
um produto de cada tipo, sem repeti-los. E a pergunta foi lançada: quantos kits
conseguiremos formar com essa quantidade de produtos? Quantos produtos
havia em cada kit? Sobrarão produtos que não formarão um kit? A atividade foi
bem recebida pelas crianças, porém, para alguns foi difícil lidar com mais de 20
recortes na sua mesa, sendo que tiveram alunos que perderam algumas das
figurinhas. A turma da manhã teve mais problemas de alunos que perderam
parte do material, então, fiz a reposição para esses alunos. No final da
atividade estava muito cansada, pois passei em casa mesa para conferir o
trabalho realizado. No começo pensei em deixar que cada um fizesse o
agrupamento com o que tivesse disponível em sua mesa, mesmo tendo
perdido uma parte. Mas como a atividade foi passada em forma de desafio,
achei mais justo que houvesse um consenso entre as respostas.
Etapa 06: Os alunos realizaram uma cruzadinha na qual tiveram que escrever
nas lacunas os nomes dos produtos de higiene solicitados: creme dental,
escova, tesoura, pente, toalha, xampu e sabonete. Aqui ficou bem evidente o
nível de escrita de cada aluno, já que alguns realizaram sem a minha ajuda e
outros precisaram de algumas intervenções como: “aqui está faltando letras”,
“aqui tem duas letra na mesma lacuna”, etc. O creme dental foi o que mais
gerou confusão, pois aqui na nossa região é mais comum chamar de pasta de
dentes. Essa atividade foi adaptada para alunos não alfabéticos e com
necessidades especiais, com o banco de palavras para consulta.
Mesmo
assim, alguns precisaram de um maior acompanhamento. Nesta etapa
também foram passados às turmas filmes de curta duração do Cascão, nos
quais ficava claro o pavor de água do personagem. Os alunos apreciaram
muito. A intenção de passar os vídeos é que eles percebessem de forma
divertida que existem ocasiões em que as pessoas fogem dos hábitos de
higiene e fiz questão de exemplificar que isso também acontecia com as
turmas dos 2os anos, quando íamos para o refeitório lanchar e alguns alunos se
escondiam ou davam a volta no refeitório para não lavarem as mãos antes de
comer. Naquele momento, o que mais se ouviu foi “não fui eu”. A minha
intenção não era a de acusar ninguém, mas a de gerar reflexões e debate.
Etapa 07: Como consegui uma doação de catálogos de mercado, aproveitei
para levá-los para as turmas para vermos os preços dos produtos de higiene,
principalmente daqueles de que foram trazidas embalagens para a sala. Cada
aluno ganhou um catálogo. Eles gostaram muito, mais do que eu poderia
imaginar. Pedi para que observassem as páginas e vissem como esse material
é organizado. Os alunos foram rápidos e certeiros, respondendo que era
organizado pelos tipos de produtos do mercado. Então, conferimos para ver se
essa informação realmente se confirmava. Havia a seção de frios e laticínios,
de carnes, padaria, mercearia, bazar, produtos de limpeza e, finalmente, de
produtos de higiene pessoal. Pedi o porquê de os produtos estarem divididos
dessa forma; eles pensaram, e alguns chegaram à conclusão de que assim era
possível encontrá-los mais facilmente. Se estivessem todos misturados, seria
mais difícil. Então, começamos a analisar os produtos que estavam lá, um de
cada vez, desde a imagem do produto, sua descrição, até o preço.
Conversamos sobre elementos do sistema monetário: o uso do “R$” para
representar o nome da nossa moeda, o uso da vírgula para separar os reais
dos centavos e outras dúvidas que foram surgindo ao longo da conversa.
Retomei a tabela que fizemos uns dias antes e pedi que eles recortassem
aqueles produtos no catálogo, pois o trabalho seria acerca deles. Não
realizamos o trabalho com todos os produtos de higiene do catálogo pela
questão do tempo e também por haver produtos que estavam nessa seção,
mas que não tinham a função efetiva de limpar o corpo (exemplo: fraldas,
absorventes, creme de barbear...). Os alunos recortaram os produtos e os
colaram em seus cadernos. Depois, responderam a algumas perguntas: a)
Qual o produto mais caro? b) Qual o produto mais barato? c) Qual o produto
que custa R$ 0,98? d) Que tal organizar os produtos na ordem crescente de
seus preços? e) Qual o valor total dos produtos? f) Você consegue formar o
valor total dos produtos com notinhas de dinheiro? Foi uma aula bem agitada,
mas muito prazerosa. Manipular o catálogo já tinha sido muito divertido, mas
recortar as notas de dinheiro de trás do livro de Matemática foi melhor ainda. A
turma da tarde fez até competição para ver de quantas formas diferentes
conseguiam montar o valor total dos produtos.
Etapa 08: Realizamos uma atividade de leitura, em que os alunos tiveram que
ligar o produto de higiene (fotografei os produtos que eles trouxeram) com a
frase informando a utilidade desse produto. Adaptei essa atividade para alunos
não alfabéticos e com necessidades especiais, utilizando-me das mesmas
imagens; porém, em vez de frases, escrevi os nomes dos produtos. Os alunos
se saíram bem nessa atividade. Alguns, mesmo alfabéticos, precisaram de
ajuda na interpretação das frases. Nesse dia também realizamos a leitura de
um
texto
sobre
higiene,
apresentado
no
projetor.
(Fonte:
http://www.escolakids.com/higiene-do-corpo.htm) O texto também falava sobre
cuidados com o corpo. Cada grupo de alunos leu uma parte do texto.
Conversamos sobre a mensagem do texto. Depois, falamos sobre parágrafos,
sinais de pontuação, acentos e outros aspectos percebidos pelos alunos
durante a leitura.
Etapa 09: Os alunos fizeram produção de frases sobre “higiene ao ir ao
banheiro”, com apoio de imagens. Falamos da importância de lavar as mãos
após usar o banheiro. A turma do vespertino fez frases com um conteúdo mais
amplo e criativo, já a turma da manhã em sua maioria, escreveu de forma mais
óbvia e sucinta. Apenas os alunos alfabéticos fizeram esta atividade no turno
matutino, os demais tiveram aula de reforço neste horário.
Etapa 10: Ainda sobre produtos de higiene, pedi para os alunos me ajudarem a
pensar nos produtos que utilizamos durante o momento do banho. Eles deram
seus palpites, e formamos uma lista com o nome de tais produtos (xampu,
condicionador, sabonete, esponja e toalha). Depois, peguei alguns objetos
previamente organizados: boneca, bacia com água, toalha, sabonete, xampu e
escova para unhas. Mostrei os objetos aos alunos e disse que trouxe uma
amiga minha que está com um grande problema: há dias não toma banho e
não troca de roupa (era a boneca). Pedi a eles se sabiam o que fazer para
ajudá-la. Eles falaram que sim. Primeiro, tirar aquela roupa suja e pôr para
lavar. Perguntei a eles quais peças de roupas trocamos todos os dias e quais
podemos usar mais de uma vez. Discutimos muito sobre isso, já que foi um dos
motivos pelos quais o projeto iniciou: o mau cheiro e o uso de roupas sujas.
Ficou combinado que trocamos todos os dias: roupas íntimas, meias e
camisetas que estão suadas ou sujas. Podemos usar mais de uma vez: calças,
bermudas, camisetas que não estão sujas ou suadas. Podemos usar durante
uma semana: casacos que não tem tanto contato com a pele, touca, cachecol
Podemos usar mais semanas, até que suje ou fique com cheiro ruim: calçados.
São combinados simples, mas que afetam significativamente desde o bem
estar à convivência entre as crianças. Em seguida, os alunos falaram que ela
precisava de um bom banho, e foram dando dicas para tomar banho. Tais
dicas foram sendo anotadas e se transformaram em um texto coletivo da
turma. Convidei grupos de alunos para darem banho na boneca, sendo
necessário seguir as dicas dadas, para não esquecer nada. Todos os alunos
participaram com entusiasmo desse momento. A turma do vespertino ficou
mais tímida no momento de dar o banho, pois estávamos com visita na sala,
observando a nossa aula. Por fim, copiaram as dicas em seus cadernos e
também registraram esse momento com um desenho. Depois desse dia, não
tive mais problemas com alunos com mau cheiro e roupas sujas.
Etapa 11: Nesse dia, resolvemos quatro situações-problema sobre produtos de
higiene. Essas atividades foram montadas tendo como base as questões da
Provinha Brasil de Matemática, porém, com a temática higiene. Entreguei um
problema de cada vez e pedi que os alunos tentassem ler sozinhos e
pensassem em uma forma de resolver esse problema. Dei a ideia de usar
desenhos para fazer a atividade, já que houve esta sugestão nos encontros e
no material de estudos do PNAIC de Matemática. Como alguns alunos não tem
uma leitura fluente precisaram de ajuda na interpretação. Então, fizemos uma
leitura coletiva e cada um foi dando ideias de como resolver. A turma do
vespertino foi muito bem nesta atividade, sendo que a maioria nem precisou da
minha ajuda para realizar a leitura. Nessas situações-problema, procurei
também propor que os alunos pensassem além do “tirar e juntar”.
Etapa 12: Fizemos a leitura coletiva do texto sobre a criação do personagem
Cascão
com
uso
do
http://turmadamonica.uol.com.br/personagem/cascao/).
projetor
Gosto
(fonte:
muito
deste
recurso, pois posso explorar tanto a interpretação, como também a apropriação
de elementos da Língua Portuguesa. Porém, para os alunos que não estão
alfabéticos, a atividade não tem o mesmo significado, ficando eles mais na
condição de ouvintes. Por isso, preciso sempre tomar o cuidado de não
exagerar nesta metodologia, para não deixar a aula cansativa para este grupo
de alunos.
Etapa 13: Nessa aula iniciei um trabalho mais direcionado sobre higiene bucal.
Fiz uma atividade de sondagem, perguntando o que havia dentro da boca, para
que os dentes serviam, quantas vezes nossos dentes nascem. As crianças
foram muito bem nas respostas e também queriam contar muitas histórias de
dentes que caíram e onde guardaram seus dentes que caíram. Como nosso
tempo era limitado, combinei de mandar uma tarefa de casa sugerida pelo livro
didático, em que os alunos teriam que desenhar sua boca e responder
perguntas sobre seus dentes, que tinham tudo a ver com o que estávamos
conversando. Realizamos uma leitura informativa sobre dentição: Livro didático
de Ciências (PORTO, Amélia. Asas para voar: ciências 2° ano. 2. ed. São
Paulo, Ática). Conversamos sobre: o que temos na boca, nomes dos dentes,
por que e quando os dentes caem. Há muitas críticas aos livros didáticos, mas
gosto muito de usá-los para os alunos terem contato com esse material que é
científico, penso que é uma metodologia a mais para auxiliar na aprendizagem.
Às vezes os escuto falando “olha, o que a professora falou está aqui no livro” e
isso é muito bacana. É uma forma de incentivarmos a buscar por fontes
seguras de informação e conhecimento. Após isso, fizemos uma experiência
com ovos, refrigerante e antisséptico bucal. Em um copo, colocamos um ovo
com refrigerante, e, em outro, um ovo com antisséptico bucal. Deixamos no
fundo da sala durante uma semana, observamos e constatamos que o ovo que
ficou no refrigerante mudou a coloração da casca, ficando quase preto. Já o
ovo que ficou no antisséptico bucal não teve sua coloração alterada,
permanecendo idêntico a quando o colocamos no copo no início da
experiência.
(Fonte:
http://rinamaia2008.blogspot.com.br/2008/02/os-doces-
estragam-os-dentes-uma.html). As turmas refletiram sobre o excesso de doces
na alimentação e a falta de hábito de escovar os dentes. Esta atividade
também chocou os alunos e passaram a não reclamar mais de escovar os
dentes após o recreio. Também pararam de dizer que esqueceram a escova
em casa, sendo que muitas vezes nem era verdade. Aproveitei e resgatei a
imagem mostrada no início do projeto de uma boca com dentes podres e pedi
para eles qual era a escolha deles: cuidar dos seus dentes ou ter uma boca
igual daquela imagem. A resposta foi a de cuidar bem dos dentes.
Etapa 14: Os alunos realizaram uma atividade de leitura para identificar bons
hábitos de higiene bucal. Os alunos coloriram apenas as frases em que
apareciam os bons hábitos. Para os não-alfabéticos ou com necessidades
especiais, realizei a leitura das frases. Houve uma frase que gerou mais dúvida
“É errado passar fio dental”, muitos se atrapalharam no momento da
interpretação e acabaram pintando, depois conversamos sobre cada uma das
frases e porque estavam com informações certas ou erradas.
Etapa 15: Convidei os alunos da turma para simularem os dentes de uma boca
de uma criança, adaptei alguns objetos da sala para serem uma escova de
dentes e um fio dental gigantes. Conversamos sobre como deve ser a
escovação de dentes, qual o movimento da escova, quais as outras partes da
boca que devemos escovar. Encenamos essa situação, sendo os alunos os
dentes da boca. Também falamos do uso do fio dental e simulamos sua
passagem entre cada dente (naquele momento, sendo representado pelos
alunos). Depois, criamos um texto coletivo chamado “Dicas para deixar os
dentes limpinhos”. Os alunos copiaram em seus cadernos e coloriram um
desenho que representou a higiene bucal.
Etapa 16: Fizemos situações-problemas sobre dentição, comparando os dentes
de um ser humano com os de um porquinho-da-índia. Construímos uma tabela
comparativa dos tipos de dentes dessas espécies.
Etapa 17: Ainda como parte do projeto, fizemos a confecção do jogo “Trilha da
higiene”, envolvendo os produtos de higiene, sistema monetário e dicas de
higiene. O objetivo do jogo é além de fixar os conhecimentos apreendidos com
o projeto, é os alunos valorizem os jogos e brinquedos que podem ser
confeccionados por eles mesmos, despertando sua criatividade e autonomia.
Etapa 18: Preparativos para a Feira Municipal de Matemática ao qual quatro
dos alunos envolvidos no projeto socializarão os conceitos matemáticos do
estudo sobre higiene.
Como produto final e culminância do projeto, pensei em algo que
pudesse conter as aprendizagens que foram mais marcantes para cada um ao
longo do projeto, uma produção em forma de livrinho infantil que teve como
tema a importância dos hábitos de higiene. A produção começou no laboratório
de informática, onde os alunos criaram um personagem para o livrinho
Utilizaram o programa KolourPaint para essa atividade. Depois, em outro
momento, fiz a impressão de várias cópias desse personagem para os alunos
criarem suas histórias e usá-los nas páginas de seus livrinhos. Como foi a
primeira produção de texto individual dos alunos, fizemos um roteiro, sendo
que cada página do livrinho deveria conter alguns elementos comuns
combinados pela turma, além de outros que o aluno também poderia colocar.
Dividi a produção escrita em quatro dias, já que alguns precisaram de mais
auxílio no momento dessa atividade. Foi muito significativo perceber
claramente as habilidades de escrita de cada um e onde preciso intervir mais.
Decidi que este seria o produto final de nosso projeto, pois sabia que seria um
momento para os alunos mostrarem os conhecimentos que tiveram ao longo do
projeto. Foi uma produção bem desafiadora, mas que cada um se dedicou
bastante para fazer. Os alunos realizaram a reescrita dessas histórias
posteriormente em seus cadernos, sendo que pedi que eles tivessem atenção
ao ponto final e ao recuo referente ao parágrafo. Combinei que cada página
seria um parágrafo diferente, assim ficou mais fácil ter a noção de que
parágrafo é uma parte do texto. É interessante que, conforme foram fazendo a
reescrita, foram percebendo erros ortográficos e me pediam se poderiam
arrumar. Achei o máximo.
AVALIAÇÃO
Os alunos foram avaliados pela professora e também se autoavaliaram
conforme os critérios abaixo:
-Sabe o significado da palavra “higiene”?
-Conhece e relata sobre bons hábitos de higiene?
-Compreende a utilidade dos produtos de higiene?
-Sabe procurar produtos no catálogo de supermercado?
-Identificou preços, produtos e descrição?
-Mudou seus hábitos de higiene?
-Utilizou os conhecimentos do projeto na construção de seu livrinho?
-Melhorou seus conhecimentos matemáticos após o projeto?
-Melhorou suas habilidades de leitura e escrita após o projeto?
-Participou com entusiasmo, dedicação e comprometimento de todos os
momentos?
Os principais instrumentos de avaliação foram:
Participação oral, registros escritos e em desenho, atividades matemáticas e de
língua portuguesa.
A experiência foi positiva desde o começo do processo, pois, conforme
íamos trabalhando, os resultados começavam a aparecer. O mais evidente foi
a mudança de comportamento em relação à higienização antes de vir para a
escola, não houve mais o mau cheiro devido à falta de banho ou roupa suja.
Outros resultados também foram significativos: melhora nas habilidades de
escrita e leitura, maior interesse pelas situações-problema, pois foram
contextualizadas com a temática, maior participação oral dos alunos durante as
aulas, comentando, sugerindo e contextualizando as experiências vividas.
Percebi boa vontade de todos os alunos, e cada um, de acordo com suas
possibilidades e limitações, conseguiu chegar ao final do projeto com mais
conhecimentos e informações.
Com certeza o projeto possibilitou novas perspectivas e demos
continuidade ao nosso estudo sobre saúde, com enfoque na importância da
vacinação, das atividades físicas e da alimentação saudável para a nossa
saúde.
Foi muito gratificante poder mediar este projeto e amadurecer junto com
os alunos a cada aula ou momento planejado. Algumas situações não saíram
exatamente como eu gostaria, já outras superaram qualquer expectativa.
Precisei estudar e pesquisar muito para estar segura para as aulas, já que nem
tudo o que desenvolvemos durante o projeto era de meu entendimento.
Precisei planejar e replanejar, mas sempre com muita vontade de fazer o
melhor pelas crianças que estão sob minha responsabilidade. Posso afirmar
que este projeto foi mediado de forma comprometida, assídua e com enfoque
principal na aprendizagem e construção de maior autonomia das crianças.
Valorizo muito os projetos que transformam o olhar tanto do professor como de
seus alunos. Para mim, são os mais valiosos, pois nos tornam melhores. Enfim,
aprendi muito com o projeto, com as crianças e entendi os motivos pelos quais
muitos deles estavam com problemas de higiene.
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