PERSPECTIVAS FEMINISTAS MODERNAS E PÓS-MODERNAS E EDUCAÇÃO CIENTÍFICA EQUÂNIME QUANTO AOS GÊNEROS Juliane Priscila Diniz Sachs – [email protected] Denise Caroline de Souza – [email protected] Walter Anibal Rammazzina Filho – [email protected] Rosana Figueiredo Salvi – [email protected] Irinéa de Lourdes Batista – [email protected] Universidade Estadual de Londrina Londrina – Paraná Resumo: A condição pós-moderna trouxe muitos desafios para a educação. No caso da educação científica, um desafio refere-se à superação das disparidades de gênero. A esse respeito, perspectivas feministas têm contribuído historicamente para a redução dessas disparidades. Em iniciativas de educação científica equânime quanto aos gêneros nem sempre se encontram claros ou explícitos os pressupostos relacionados ao entendimento de como homens e mulheres se envolvem na Ciência/Educação científica. O esclarecimento desses pressupostos é importante, uma vez que implicam em diferentes ações/abordagens de ensino que visem equidade de gênero. Esse trabalho seguiu o percurso metodológico de um ensaio e teve por objetivo apresentar possíveis relações entre diferentes perspectivas feministas com os pensamentos moderno e pós-moderno e apresentar os diferentes pressupostos assumidos por distintas perspectivas feministas e suas consequências para uma educação científica equânime quanto aos gêneros. As relações estabelecidas revelam que as perspectivas feministas estudadas apresentam, em maior ou menor grau, elementos que se aproximam tanto de discursos modernos como de pós-modernos. A crítica às abordagens de equidade de gênero aponta para a abordagem sensível ao gênero como tendo um maior potencial para equidade de gênero em um contexto pós-moderno. Palavras-chave: Abordagem sensível ao gênero, Condição pós-moderna 1 INTRODUÇÃO Na modernidade, pós-industrial e pós-guerra, as sociedades vêm sofrendo profundas mudanças culturais, em um mundo cada vez mais globalizado, que nos deixa diante de uma nova condição, muitas vezes denominada de condição pós-moderna. O contexto pós-moderno coloca grandes desafios para a educação. De uma demanda quantitativa para uma formação de um/a profissional técnico/a, em atendimento a linhas de produção em escala, passa-se para a necessidade de uma formação cultural mais qualitativa, voltada para atender o desenvolvimento da cidadania e para o acolhimento das necessidades idiossincráticas dos/as sujeitos/estudantes, valorizando o desenvolvimento da criatividade, autoestima, flexibilidade, capacidade de liderança, de trabalho coletivo e de atualização constante, entre outras. A educação científica e tecnológica se destaca como fundamental para o desenvolvimento de um/uma cidadão/cidadã crítico/a e consciente, uma vez que é responsável pelo desenvolvimento de habilidades/competências relacionadas à proteção da saúde e do meio ambiente, ao combate às doenças, ao desenvolvimento da agricultura, da indústria e das tecnologias, entre outros exemplos (SINNES, 2005). Dos desafios que podem ser destacados, permanecem e se exacerbam, na condição pósmoderna, as desigualdades sociais que promovem as injustiças sociais por todo o mundo, sendo que, a esse respeito, a educação é vista como um importante agente de transformação. Dentro da conjunção das desigualdades, encontra-se a situação das mulheres. Essas, conforme Louro (1997), foram historicamente submetidas à segregação social e política, que trouxe como consequência “sua ampla invisibilidade como sujeito – inclusive como sujeito da Ciência” (LOURO, 1997, p. 17). No contexto da educação científica, tal invisibilidade e subrepresentação feminina pode desestimular o ingresso de meninas nas carreiras científicas. Um dos objetivos da Cúpula do Milênio (organizada pela ONU e ocorrida em setembro de 2000) foi o de promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, eliminando disparidade nos diversos níveis de educação até 2015. Embora já se tenha discutido extensivamente e documentado os benefícios do desenvolvimento social e econômico em se conceder educação às mulheres, em muitos países não é dada oportunidades justas para as meninas de participação na educação científica. Áreas de Educação Científica, Tecnológica e Matemática são as áreas que concentram, dentro do sistema educacional, as maiores disparidades entre os sexos em vários países, principalmente nos mais pobres. No entanto, mesmo países ricos como a Noruega possuem disparidades de gênero nas carreiras científicas e tecnológicas. (SINNES, 2005; SINNES & LØKEN, 2014). A respeito das reduções dessas disparidades de gênero, movimentos, teorias e críticas feministas, desde o século XVIII, vêm contribuindo para mudar esse quadro nos vários âmbitos da sociedade. Na Ciência, a atuação feminista tem desempenhado importante papel que vai desde mudanças que derrubaram barreiras formais para o ingresso de mulheres no empreendimento científico até o de proporcionar um novo olhar do que é Ciência e para ampliação do conceito de gênero (que passa a se distinguir de sexo). Perspectivas feministas distintas resultam em pressupostos diferentes acerca das formas como homens e mulheres se envolvem na Ciência/Educação Científica e, em função desses, são derivadas distintas ações para iniciativas que visem promover equidade de gênero nas áreas e no Ensino de Ciências, Engenharias, Tecnologias e Matemática. Embora qualquer iniciativa de equidade de gênero reflita em certos entendimentos acerca das semelhanças/diferenças entre homens e mulheres e em como estes/as se envolvem na Ciência/Educação Científica, tais entendimentos geralmente não se encontram explicitamente formulados e, como consequência, geram falta de consciência acerca das suas implicações em relação às recomendações de ações que busquem alcançar equidade de gênero (SINNES & LØKEN, 2014). Em função do exposto até aqui, este trabalho, seguindo um percurso metodológico de um ensaio (ALVES, 2000), pretendeu apresentar relações entre os pensamentos moderno e os pósmoderno com algumas perspectivas feministas, a fim promover um entendimento dos pressupostos que orientam ações que queiram promover equidade de gênero na Educação científica. Acreditamos que esta exploração possa auxiliar pesquisadores/as e professores/as, que aceitaram os desafios do milênio, na elaboração de propostas de Ensino de Ciências equânime quantos aos gêneros. 2 SITUANDO O PENSAMENTO MODERNO E O PÓS-MODERNO Modos de pensar pós-moderno começam a ser identificados em um momento da modernidade no qual se instala uma sociedade globalizada, com bases neoliberais, altamente consumista e tecnológica. O pensamento da modernidade – liberal (que colocou o ser humano como um ser pensante, livre para escolher e se estabelecer no mundo, independente da vontade divina), de fundamentos iluministas (que coloca a inteligência e racionalidade humanas como capaz de explicar e controlar os fenômenos da natureza), que implicou na Ciência Moderna (surgida em bases racionalistas - empirista) – no século XX começa a declinar. No pensamento moderno, havia a crença de que a racionalidade autônoma levaria à emancipação humana e a uma sociedade racional, igualitária e democrática, porém tal ideal não correspondeu à realidade, sendo que a instrumentalização do conhecimento serviu ao poder de dominação. Ocorre, então, a chamada crise da razão, com o declínio dos conceitos e valores modernos, com efeito em toda produção cultural moderna. Tal crítica da razão moderna implicou no relativismo, que contrapõe a ideia de universalidade do conhecimento e sua fragmentação, e no niilismo, perda de valores supremos de uma cultura, conforme pensamento de Nietzsche. A Ciência e a cultura passam a ser entendidas como expressões ideológicas da modernidade. É neste contexto de crise do paradigma cultural da modernidade que surge a condição pós-moderna (OLIVEIRA et al. 2013). A condição pós-moderna nasce da modernidade, como um dos resultados da organização dos modos de produção capitalista: “como produto da cultura capitalista” (OLIVEIRA et al., 2013, p.182), “como necessidade cultural do capitalismo tardio, marcado principalmente no contexto da terceira fase da revolução industrial e no advento da revolução tecnológica” (OLIVEIRA et al., 2013, p. 182) e se traduz em descrença no discurso filosófico metafísico moderno que produz meta-discursos, criador de conceitos universais. De acordo com Lampert (2007), estudiosos da “pós-modernidade” a situam como uma “fase cultural do capitalismo em seus estágios mais avançados, em que a nova tecnologia da informação e de comunicação ocupa posição dominante na infraestrutura econômica” (LAMPERT, 2007, p. 12). Nessa fase, tem papel fundamental os meios de comunicação em massa, sendo o consumo cultural a essência do funcionamento do capitalismo; ocorre: mudança na concepção de Ciência e de verdade; tendência para indeterminações; ameaça aos valores culturais humanistas; aumento de fragmentação, pluralismo, ecletismo e individualismo; as instituições ficam debilitadas; os partidos políticos de massa perdem lugar para os movimentos sociais (de sexo, raça, etnia, meio ambiente, p. ex.); concentração de populações em grandes centros, opondo-se à dispersão, entre outras mudanças/ocorrências. Com as duas guerras mundiais, países ocidentais e orientais investiram na indústria de ponta, necessária ao desenvolvimento político, econômico, social e cultural. Esse investimento se acirrou com a Guerra Fria nos países capitalistas e socialistas. Ocorre mudança na percepção de Ciência com a constatação de seu poder ameaçador de destruição. A Ciência neutra, associada ao esclarecimento humano, passa a ser questionada em seu valor de uso. No pósindustrialismo, o conhecimento passou a ser a principal força de produção. A riqueza de um país passou a ser definida pela quantidade/qualidade de informação técnico-científica, sendo a Ciência a forma de organizar, armazenar e distribuir informações. Neste contexto, o ensino e a pesquisa, que na modernidade tinha por alvo descobrir verdades, passaram a buscar formar competências para o mercado capitalista (LAMPERT, 2007). 3 FEMINISMO: MODERNO OU PÓS-MODERNO? O feminismo pode ter sua trajetória identificada na modernidade, desde a Europa do século XVIII. A exemplo disto, podemos identificar Olympe de Gouges e Mary Wollstonecraft e seus escritos “Declaração dos Direitos da Mulher” (1791) e “Reivindicação dos Direitos da Mulheres” (1792), respectivamente. Pode-se dizer que, em um primeiro momento, o feminismo adota um discurso moderno, uma vez que havia uma convergência de interesses a respeito da promessa de igualdade e emancipação das mulheres – na busca pelos direitos civis (voto), do trabalho assalariado, à educação, dentre outros. Com as ocorrências e mudanças que resultaram na condição pósmoderna, na qual se agravam desigualdades socioeconômicas e concentração do poder político, o discurso feminista passa a ser repensado. O encontro entre o pensamento pós-moderno com o feminismo ocorreu a partir da problematização da diferença, sendo ambas vertentes do pensamento da diferença, porém cabe ressaltar que o feminismo não deve sua filiação ao pensamento pós-moderno. O pensamento pós-moderno contestando o regular, constante e universal, valoriza a diversidade, contrapondo-se a uniformidade – o sujeito se fragmenta, perde sua identidade unificada e estável, não pode mais identificar seus interesses por classe, é composto por várias identidades, muitas vezes contraditórias. O feminismo na perspectiva pósmoderna pensa a diferença ao refletir acerca da impossibilidade de colocar todas as mulheres em uma única categoria universal - independente de raça, credo, classes, etc. Um outro ponto de encontro do feminismo com o pensamento pós-moderno é o esforço de desconstrução, com críticas contra o binarismo e o essencialismo (MACÊDO, 2011). Atualmente, o feminismo pode ser visto como uma corrente político-cultural crítica da filosofia e da sociologia que procura contribuir com perspectivas que contrapõem àquelas vistas como tradicionais dessas áreas. A trajetória dos estudos feministas contam com abordagens teórico-metodológicas diversas e que não são homogêneas e plenas quanto suas escolhas epistemológicas. Tais abordagens podem ser resumidas nos chamados “feminismo de igualdade”, “feminismo da diferença” e “estudos relacionais de gênero” e encontram-se relacionadas às fases da trajetória dos estudos feministas. A primeira fase, denominada por feminismo da igualdade buscou denunciar e protestar contra a discriminação e violência às mulheres, tornando público os instrumentos de dominação, e, depois, colocou a mulher na centralidade dos estudos dando-lhe visibilidade nos diversos espaços e igualando seu status ao do homem. Na fase do feminismo da diferença, buscou aprofundar o conhecimento acerca da realidade da mulher, questionar a depreciação do feminino, analisar o processo sócio histórico de desigualdade entre os sexos. Na fase dos estudos relacionais de gênero, esses questionavam a generalização e universalização da mulher, mostrando que o discurso generalizante não pode explicar todos os fatos, em todos os lugares. As análises adotaram caráter relacional e concepção de construção social. O termo “gênero” substituiu o termo “mulheres”, para integrar e legitimar os estudos acadêmicos e ampliar o campo de investigação (MENDES, 2002). Com a crítica social pós-moderna – que abandona os pressupostos tradicionais da filosofia, rejeitando teorias fundamentalistas e de caráter universal – o conhecimento torna-se sensível às diferenças e partidário da diversidade cultural, sem ter que apelar para princípios universais. Tanto pensadores(as) feministas como pós-modernistas “(re)pensaram a relação entre a filosofia e a crítica social, desenvolvendo paradigmas da crítica sem filosofia” (MENDES, 2002, p. 227), no entanto, cada um “têm partido de direções opostas” (MENDES, 2002, p. 227): “Os pós-modernistas têm se concentrado primariamente no lado filosófico do problema, elaborando perspectivas antifundacionais e meta filosóficas para, então, dar forma à crítica social. Para, as feministas, a filosofia esteve sempre subordinada à crítica social, sendo assim, desenvolvem primeiro perspectivas políticas críticas para depois considerar o status da filosofia. (...)” (MENDES, 2002, p. 227) Em muitos casos, críticas feministas se apoiam em pilares tradicionais, formulando teorias sociais que são quase metanarrativas, identificando causas e características do sexismo nas culturas de forma mais empírica que filosófica e assumem métodos e conceitos que não consideram a historicidade, compartilhando algumas das características essencialistas e ahistóricas das metanarrativas (MENDES, 2002). Apesar dessas diversas abordagens feministas com perspectivas metodológicas não homogêneas, em algumas perspectivas feministas podem ser identificadas o que se pode chamar de ‘feminismo pós-moderno’ (LAGE & NASCIMENTO, 2014). Perspectivas ‘feministas pós-modernas’ são, em essência, contraditórias e conflituosas. Elas admitem a impossibilidade de uma única verdade e negam a existência de “uma base unitária de identidade e experiência dividida por todas as mulheres” (LAGE & NASCIMENTO, 2014, p.257). O ‘feminismo pós moderno’ rejeita qualquer explicação essencialista e generalizante e admite que diferentes perspectivas são igualmente válidas, assim, a Ciência não pode ser determinista, mas trata-se de apenas mais uma das formas de ler o mundo dentre outras possíveis (FERREIRA, 1988). Ademais, o aspecto positivo da “alteridade” (pluralidade, diversidade, diferença e abertura), a defesa do reconhecimento das diferenças (sexualidade, raça, idade, etnia, gêneros, etc), a “desconstrução” de visões essencialista e dualistas e o gênero como uma construção social são características fundamentais do ‘feminismo pós-moderno’ (LAGE & NASCIMENTO, 2014). De acordo com Lage e Nascimento (2014), mesmo as teóricas feministas que adotam pressupostos pós-modernos incluem em suas análises/teorias, ao mesmo tempo, categorias analíticas modernas e pós-modernas. Diante desse aspecto contraditório em perspectivas feministas como uma mescla de pensamento que podem ser identificados como moderno e pós-moderno, nos questionamos se isso não seria um reflexo da própria condição pós-moderna, de um mundo plural, heterogêneo, conflituoso e de incertezas. Para Mendes (2002), essa ambivalência pode ser atribuída a uma tentativa de síntese, nem totalmente moderna nem totalmente pós-moderna, mas uma justaposição e uma acomodação mútua entre diferentes narrativas culturais e políticas. Segundo Lampert (2007, p.6), o próprio discurso da pós-modernidade “oferece uma série de dificuldades específicas que obrigam a aceitá-lo como algo fragmentado, contraditório e incompatível”. Isto poderia nos levar a pensar que as perspectivas feministas teriam essas características de contradição decorrentes do pensamento pós-moderno, entretanto, para Macêdo (2011), o feminismo tem raízes na modernidade e encontrou no discurso da pósmodernidade problematizações em comum, mas não é um produto do pensamento pósmoderno. A autora diz filiar-se à posição de que não há como o projeto feminista se confluir com os pós-modernos devido a profundas diferenças, sendo o argumento mais forte o de que o feminismo se trata de uma política, um projeto de transformação da realidade, enquanto que o ‘pós-modernismo’ não o é. Além disso, a autora afirma que o feminismo não pode deixar de lado a noção de “verdade” por não poder prescindir das metanarrativas. 4 PERSPECTIVAS FEMINISTAS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA UMA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA EQUÂNIME QUANTO AOS GÊNEROS Após situarmos as perspectivas modernas e pós-modernas e traçarmos relações com as perspectivas feministas, nos perguntamos que relações podem ser estabelecidas entre essas e abordagens de ensino que visem equanimidade de gênero? Para respondermos essa questão, optamos por trazer aqui o quadro teórico de Astrid T. Sinnes (SINNES 2005, 2006a, 2006b; SINNES & LØKEN, 2014), construído para avaliar políticas públicas de igualdade de gênero na Educação Científica. Acreditamos que esse esquema pode também auxiliar na condução de abordagens de Ensino de Ciências que visem equidade de gênero de forma esclarecida a respeito dos pressupostos que as orientam. As perspectivas feministas, identificadas pela autora, foram denominadas de perspectiva feminista da igualdade (equality feminist), perspectiva feminista da diferença (diferences feminist) e perspectiva feminista pós-moderna (postmodernist), cada qual relacionadas a diferentes posições a respeito da interpretação acerca de como sexo/gênero impactam no envolvimento/abordagens de homens e mulheres para com a Ciência. A autora usa o termo sexo para se referir ao “sexo biológico” e o termo gênero para se referir ao “sexo social”. O pressuposto fundamental de Astrid Sinnes é que os diferentes entendimentos de como o sexo/gênero de estudantes influem em seus envolvimentos para com a Ciência e a Educação Científica implicam em distintas abordagens de iniciativas de equidade de gênero para a Educação Científica. Com base nas críticas feministas da Ciência, Astrid Sinnes descreve três abordagens: de gênero neutro (gender-neutral); ‘amigável às mulheres’ (female-friendly) e sensível ao gênero (gender-sensitive). Passaremos a descrever essas perspectivas feministas e suas implicações para o Ensino de Ciências que vise equanimidade de gênero. Perspectiva feminista da igualdade e educação científica de gênero neutro Perspectivas feministas da igualdade são descritas como as que incluem o entendimento de que homens e mulheres são, em princípio, iguais nas formas que abordam a Ciência e geram conhecimento científico. O sexo/gênero do/a pesquisador/a não pode influenciar na produção do conhecimento científico, pois as regras rigorosas que orientam a investigação científica de alta qualidade removem os vieses de pessoas com diferentes focos, produzindo conhecimento objetivo e livre de valores (neutro). Não considera, portanto, que possa haver viés androcêntrico na Ciência que discrimine as mulheres. Essa perspectiva foi dominante nos anos de 1960 e 1970 (muitos/as ainda aderem a ela). Como homens e mulheres contribuem igualmente, o único benefício de se ter mais mulheres na Ciência seria o de aumentar a concorrência, resultando em uma Ciência melhor e independente do sexo. Astrid Sinnes, com base nesta descrição, elaborou consequências para iniciativas de equidade de gênero na Educação Científica em uma perspectiva do feminismo da igualdade. Como considera que qualquer desigualdade é decorrente de fatores externos à Ciência (políticos, sociais, educacionais), as ações devem se concentrar em remover obstáculos de gênero proporcionados por tais fatores como: possibilitar que meninos e meninas na medida em que crescem sejam submetidos a experiências semelhantes (p.ex. dar brinquedos tradicionalmente tido como de meninos às meninas e vice e versa); evitar colocar meninos e meninas em papéis tradicionais de gênero que possam reforçar discriminação; meninos e meninas devem ser igualmente incentivados sem que seja enfatizada qualquer diferença atribuída aos sexos; sensibilizar a sociedade para a compreensão da igualdade de capacidades de homens e mulheres para a ciência; devem ser eliminadas práticas discriminatórias e preconceitos nas instituições científicas; instituições/escolas onde se ensinam ciências devem ter igual número de professores e professoras. Com relação aos materiais educativos e o currículo em Ciência, estes devem ser de gênero neutro, acomodando experiências e interesses de ambos os sexos, sem enfatizar um em relação ao outro. As avaliações devem ser desenvolvidas (e previstas no currículo) para serem neutras e igualmente relevantes para ambos os gêneros. No que se refere a atuação de professores/as, as/os docentes devem prestar atenção igual a meninos e meninas; não devem dizer nada discriminatório às meninas reforçando ideias de que meninos e meninas são diferentes. Quando em atividades práticas (como de laboratório), é importante que prestem atenção extra às meninas para que essas não adotem atitudes passivas. A respeito da Natureza da Ciência, uma educação científica pautada no feminismo da igualdade não se dedicaria a questionar o papel da objetividade do conhecimento científico. Segundo Astrid Sinnes, uma educação científica, a partir de uma perspectiva feminista da igualdade, pode ser rotulada de educação científica de gênero neutro. Perspectiva feminista da diferença e educação científica “amigável às mulheres” Perspectivas feministas da diferença partem do princípio que homens e mulheres são diferentes na abordagem e no envolvimento para com a Ciência, e que competências específicas das mulheres devem ser reconhecidas, aceitas e valorizadas igualmente às dos homens. Admite que a identidade do/a pesquisador/a influência tanto os processos quanto as prioridades das investigações, logo o gênero do/a pesquisador/a influenciará o resultado da investigação (conhecimento científico). A noção de igualdade é vista como problemática por ser entendida como reprodutora de norma masculina e por adotar falsa neutralidade (valoriza mais características associadas à masculinidade que as associadas à feminilidade). A Ciência é criticada por ser androcêntrica, discriminadora de pessoas de culturas não ocidentais e de mulheres, entre outas. O status de objetividade do conhecimento científico é questionado por meio da explicitação de componentes ideológicos que revelam os objetivos da Ciência relacionados com o poder e a dominação que atende a interesses de seus desenvolvedores (predominantemente homens ocidentais). Algumas críticas feministas da diferença defendem que uma Ciência feminista seria uma Ciência melhor. O entendimento acerca das causas das diferenças entre os gêneros, nas abordagens à Ciência, varia muito entre os que adotam perspectiva da diferença. Perspectivas baseadas nas diferenças biológicas entre homens e mulheres são cada vez menos aceitas. As diferenças, na atualidade, têm sido consideradas de origem social. Justificativas para aumentar a participação feminina na Ciência, dentro de perspectivas da diferença, são baseadas na suposição de que mulheres contribuem para a Ciência de forma diferente dos homens e desafiariam o androcentrismo na Ciência. Astrid Sinnes considerou que, em programas de equidade de gênero na Educação Científica na perspectiva feminista da diferença, é de se esperar que se incentive o reconhecimento das diferenças entre os gêneros e que se valorize o fato de contribuírem de forma diferente, que incentive meninas a valorizarem e apreciarem suas próprias experiências e interesses e a perceberem o androcentrismo implícito na investigação científica. Esses programas devem sensibilizar e mostrar à sociedade e à comunidade científica contribuições de mulheres para a Ciência, que as mulheres são na maioria dos contextos oprimidas e como isso afeta a ampliação do conhecimento científico, bem como se preocupar em atrair mais mulheres para a Ciência. A educação científica deveria prestar mais atenção aos interesses comuns das meninas, incorporar conhecimento científico produzido por mulheres, mostrar exemplos de como o conhecimento científico é influenciado por seus desenvolvedores e ser política, revelando como a opressão e a discriminação às mulheres têm dificultado as suas oportunidades de contribuir para o desenvolvimento do conhecimento científico. Com relação ao papel de professores/as, esses/as devem prestar atenção extra e estarem conscientes da pesquisa que documentam as diferenças de abordagens e interesses de meninos e meninas em relação à Educação Científica, incorporar estratégias sugeridas pela pesquisa que revele as diferenças de preferências de aprendizagens entre meninos e meninas, organizar o ensino científico em grupos pequenos separados por gênero e construir um ambiente não competitivo em sala de aula. Eles também devem prestar atenção extra às meninas e certificar se seus interesses e necessidades são atendidos, relacionar em suas estratégias de ensino as experiências e interesses, de fora da sala de aula, de meninas e incentivá-las a reconhecer e valorizar seus interesses e traços femininos, a visualizar as dimensões sociais e ambientais da ciência e como cada fator impacta na produção do conhecimento científico, além de demonstrar os vieses androcêntricos historicamente presentes na produção do conhecimento científico. O currículo de ciências deve ser desenvolvido para reconhecer a contribuição especial das mulheres para a ciência. Deve-se investir em pesquisas acerca das maneiras especiais como meninas aprendem ciências e os resultados de pesquisa devem orientar o currículo e as estratégias de ensino. Esse tipo de educação científica, projetada principalmente para acomodar as mulheres, Astrid Sinnes se referiu como educação científica “amigável às mulheres”. Perspectiva feminista pós-moderna e educação científica sensível ao gênero Perspectivas feministas denominadas de pós-modernas por Astrid Sinnes também se enquadram no entendimento da existência de diferenças, porém dão mais ênfase a existência das diferenças dentro de um mesmo grupo do que diferenças entre dois grandes grupos. Se aproximam em alguns aspectos do pensamento pós-moderno, como a rejeição de definições universais e simplistas de fenômenos naturais e sociais, argumentando para a aceitação da natureza parcial de todas as reivindicações de conhecimento (limites do conhecimento) e reconhecem e celebram as diferenças e a importância de recuperar vozes silenciadas. Essas perspectivas também rejeitam: a crença de que as mulheres estejam todas unidas pelo sexo biológico (independentemente de raça, credo, classe, entre outras características), o essencialismo/determinismo biológico (a categoria mulheres não é natural nem essencial, mas socialmente construída) e a ideia da existência de uma posição epistemológica mais privilegiada do que outra. Consideram a Ciência como mais uma dentre outras formas de ler o mundo e todas as formas de conhecimento como contextuais (historicamente e socialmente situados). Nesta perspectiva feminista, o motivo para se ter mais mulheres atuando na Ciência seria porque aumentaria o número de possíveis explicações (o poder de ver o mundo). Astrid Sinnes pondera que iniciativas de equidade de gênero na Educação Científica: desafiariam a ideia de que alunas estariam todas ligadas por seu sexo biológico; incentivariam todos/as os/as estudantes, independente de seus sexos, valorizando suas experiências e interesses individuais, tornando-os relevante para a aprendizagem (não se esperaria que estudantes tenham mesmas preferencias ou interesses por serem do mesmo sexo); conscientizariam acerca dos grupos marginalizados, independente do sexo, trazendo-os ao centros das intervenções; não devem separar estudantes em grupos homogêneos quanto ao sexo; explorariam as diferenças de interesses de indivíduos de mesmo sexo; desenvolveriam materiais de ensino que acomodem um ampla variedade de interesse; permitiriam visualizar as relações entre Ciência e sociedade e de como todo o conhecimento está situado; valorizariam e explorariam outros entendimentos do mundo natural em igualdade com os entendimentos científicos. Estudantes e sociedade devem ser informados acerca das premissas que sustentam a produção do conhecimento científico e como o contexto social molda todo o conhecimento. Estudantes devem ser encorajados: a procurar os pressupostos ocultos do conhecimento científico, a torna-los explícitos e a elencar seus próprios pressupostos, com os quais fazem suposições; a verem várias abordagens para um mesmo problema e a perceberem que muitas vezes há mais de uma resposta correta dentro da própria ciência. Cientistas devem ser educados/as para se conscientizarem de que toda a investigação científica é situada e que múltiplas perspectivas podem enriquecer a produção do conhecimento. Professores/as de Ciências devem visualizar como todo o conhecimento científico é construído e contextualizado e como todos os pesquisadores/as são influenciados/as pelo contexto social, cultural, econômico e temporal em que vivem. Também é preciso empregar abordagens de ensino construtivistas e considerar os interesses e habilidades de estudantes independente dos sexos. Há ainda que destacar que os/as estudantes não têm que ser separados em categorias baseadas no sexo, mas em categorias baseadas nos interesses individuais e experiências deles/delas, tornando-as relevante para o Ensino de Ciências. O currículo deve enfatizar às dimensões sociais, políticas, culturais e psicológicas da Ciência e esta não deve ser apresentada como um corpo fixo de conhecimento, mas como algo desenvolvido, desafiado e alterado continuamente. Essa perspectiva de educação científica foi chamada de educação científica sensível ao gênero. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS: CRÍTICAS ÀS PERSPECTIVAS FEMINISTAS E ÀS SUAS IMPLICAÇÕES PARA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA EQUÂNIME QUANTO AOS GÊNEROS Podemos observar, nas distinções traçadas por Astrid Sinnes de perspectivas feministas, que as mesmas se aproximam, em maior ou em menor grau, de discursos modernos e pósmodernos. O feminismo da igualdade considera a Ciência como produtora de um conhecimento objetivo e neutro, permanece neste, portanto, uma visão da tradição positivista iniciada no século XVII. O Ensino de Ciência em uma postura do feminismo de igualdade (gênero neutro) parece ir ao encontro de uma perspectiva de ensino acadêmica e da racionalidade técnica, uma vez que têm a tendência de considerar todos indivíduos de forma homogênea, ignorando importantes particularidades (por exemplo, interesses, fatores culturais, raça, identidades de gênero, crenças entre outros) e a importância do contexto (social, político, econômico). Um aspecto positivo dessa perspectiva, segundo Sinnes e Løken (2014), é que ela desempenhou um importante papel na eliminação de barreiras formais contra a igualdade de mulheres em ciências, engenharias e matemática, defendendo, pois essas possuem igual habilidade que os homens para realizar e avançar na investigação científica. Por outro lado, ao assumir a igualdade entre homens e mulheres, confiando nos métodos da ciência para produção de uma única versão dos fatos, independendo do observador, produz um discurso que se distancia do pensamento pós-moderno, ignorando os fatores ideológicos na Ciência e que conduzem à discriminação de mulheres e de outros grupos marginalizados no empreendimento científico. Na visão de Forde (2014), embora possa parecer ideal tornar o gênero irrelevante ou rejeitar diferenças entre os sexos, essa posição tende a ignorar os regimes de poder de hierarquias de gênero nas aspirações educacionais, oportunidades e resultados, que perpetuam as desigualdades. Com relação ao feminismo da diferença, um aspecto que o aproxima do discurso pósmoderno trata-se do questionamento da objetividade da Ciência, revelando fatores ideológico que subjazem a produção do conhecimento científico. O conhecimento científico como influenciado por seus formuladores, em geral homens ocidentais, torna-se apenas uma possibilidade de narrativa, sendo que narrativas diferentes podem ser produzidas ao se permitir que mulheres participem do empreendimento científico conforme suas próprias habilidades e perspectivas. Permanece no feminismo da diferença, entretanto, uma dicotomia entre características da mulher e do homem (do feminino versus o masculino) o que se distancia de um discurso mais fragmentário e plural do pensamento pós-moderno. Essa dualidade, segundo Sinnes e Løken (2014), pode ser encarada como uma “metanarrativa” contada acerca de homens e mulheres, que pode contribuir para uma visão estereotipada de estudantes acerca das mulheres na Ciência. Um outro inconveniente é que a separação de grupos por sexos, baseada em características/interesses tidas/os como de meninas ou de meninos, pode aumentar a segregação dos sexos e, além disso, dentro de um mesmo grupo, pode desenvolver um tratamento homogeneizante, desconsiderando as diferenças de interesses e habilidades de indivíduos de um mesmo grupo. Isto pode resultar na imposição de uma identidade de gênero e da diferença de gênero estereotipadas. Segundo Forde (2014), as abordagens de gênero neutro e “amigável às mulheres” são dois conjuntos polarizados de entendimentos acerca de um ensino de ciência equânime quanto ao gênero, tendo a construção de gênero como ponto crucial – por um lado gênero é irrelevante por outro é de importância crucial para aprendizagem dos indivíduos. A partir das tensões dessas duas posições é que a abordagem sensível ao gênero tem se desenvolvido. Essa abordagem foi entendida por Astrid Sinnes como uma implicação do posicionamento que denominou de feminismo pós-moderno. O feminismo pós-moderno, conforme sua descrição, aproxima-se mais do discurso pós-moderno. Nesta perspectiva, a complexidade do contexto nos quais se produzem o conhecimento científico e se dá a educação científica são levados em conta como tendo influência nos resultados, assim como as particularidades dos indivíduos. As diferenças entre indivíduos do mesmo sexo são consideradas tão importantes quanto as de indivíduos de sexos diferentes. Forde (2014) faz uma crítica à abordagem denominada de sensível ao gênero, chamando a atenção para o entendimento que se deve ter com relação aos termos “gênero” e “sensível ao gênero” ao se adotar tal abordagem. A autora esclarece que gênero não se trata simplesmente de diferenças entre sexos, mas de diferenças entre indivíduos de um mesmo sexo. Afirma, também, que a ideia de que somente gênero é uma explicação suficiente das experiências e dos resultados educacionais alcançados por meninas e meninos deve ser deixada de lado em uma educação sensível ao gênero, devendo incluir a ideia de “intersetoralidade” e avaliar o cruzamento de gênero com outros fatores sociais (p. ex. etnia, classe, sexualidade, deficiência), sempre tomando cuidado para não dar tratamentos homogeneizantes em grupos específicos. Uma abordagem como essa, que considera a multiplicidade de identidades, por um lado desafia interpretações limitadas de adequação de gênero, entretanto, a autora alerta para o sutil equilíbrio entre individuação e marginalização coletiva, que poderia conduzir a uma abordagem “cega em gênero” que atribua qualquer padrão como resultado de diferenças individuais, mascarando experiências de marginalização ou de preconceitos. Ela recomenda que se explore a coexistência de discursos dominantes e minoritários e se reconheça e questione os discursos dominantes acerca de adequação de gênero, observando que o gênero pode ser fluído e contraditório. Professores/as e estudantes devem apreciar a possibilidade e multiplicidade de comportamentos e atitudes e, simultaneamente, entender o funcionamento de discursos hegemônicos (que sustentam políticas, currículos e pedagogias) que cristalizam definições limitadas de adequação de gênero. Frente as críticas às possíveis abordagens de equidade de gênero na educação científica, as/o autoras/autor desse trabalho se posicionam a favor de se explorar abordagens sensível ao gênero como possuindo um maior potencial para a situação da escola na condição pós-moderna: um contexto plural, heterogêneo, conflituoso e incerto. Agradecimentos À Capes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, I. M. A ensaística e o trabalho científico. Logos, Rio de Janeiro, v. 7, n. 13, p. 14-17, 2000. FERREIRA, V. O feminismo na pós-modernidade. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 24, p. 93-106, 1988. FORDE, C. Is ‘gender-sensitive education’ a useful concept for educational policy? Cultural Studies of Science Education. V.9, n.2, p. 369-376, 2014. LAGE, F. C.; NASCIMENTO, G. A. F. O Feminismo pós-moderno, a equidade de gênero e a condição de agente da mulher. In: NERI, Eveline Lucena; MARCHIONI, Alessandra (Org.). Direito, gênero e movimentos sociais I. 1ed.Florianópolis: CONPEDI, 2014, v. 1, p. 254273. LAMPERT, E. Pós-modernidade e a educação. Linhas, Florianópolis, v. 8, n. 2, p. 04-32, 2007. LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 8ed,1997. MACÊDO, M. S. Feminismo e pós-modernidade: como discutir essa relação? In: BONNETI, Alinne et al. (org.). Gênero, mulheres e feminismos. Salvador: EDUFBA: NEIM, 2011. p. 346. MENDES, M. A. Estudos feministas: entre perspectivas modernas e pós-modernas. Cadernos de Estudos Sociais, Recife, v.18, n.2, p. 223-238, 2002. OLIVEIRA, C. A. et al. Conhecimento e educação na pós-modernidade. Revista Margens Interdisciplinar, v.7, n.8, p. 175-188, 2013. SINNES, A. T. Approaches to Gender Equity in Science Education: Two Initiatives in SubSaharan Africa Seen Through a Lens Derived From Feminist Critique of Science. 2005. 295 f., Tese (Doutorado). – Universidade de Oslo,Oslo ______. Approaches to gender equity in Science education: Three alternatives and two examples. African Journal of Research in SMT Education, v.10, n.1, p. 1-12, 2006a. ______.Three Approaches to Gender Equity in Science Education. Nordic Studies in Science Education, v.2, n.1, p. 1-12, 2006b. ______.LØKEN, M. Gendered education in a gendered world: looking beyond cosmetic solutions to the gender gap in Science. Cult Stud of Sci Educ, v. 9, n.1, p. 343-364, 2014. MODERN AND POSTMODERN FEMINIST PERSPECTIVES AND SCIENCE EDUCATION FOR GENDER EQUITY Abstract: The postmodern condition brought many challenges for education. In the case of Science Education, a challenge relates to overcoming gender disparities. In this regard, feminist perspectives have historically contributed to reduce these disparities. In Science Education initiatives for gender equity assumptions related to the understanding of how men and women engage in Science/Science education are not always clear or explicit. The explanation of these assumptions is important, since they imply different actions/teaching approaches that address gender equity. This work followed the methodological course of an essay and aimed to present possible relationships between different feminist perspectives with modern and postmodern views and to present the different assumptions made by different feminist perspectives and their consequences for Science Education for gender equity. The relations established reveal that studied feminist perspectives present in to a smaller or larger degree elements approaching both modern as postmodern discourses. Criticism of gender equity approaches points to the gender-sensitive approach as having a greater potential for gender equity in a postmodern context. Key-words: Gender-sensitive approach, Postmodern condition