AVALIAÇÃO FENOTÍPICA DE PROGÊNIES F2:3 DE MILHO TROPICAL QUANTO À TOLERÂNCIA AO ALUMÍNIO Thiago Ferreira Portes (PIBIC/ UEPG), Caroline de Jesus Coelho (Co-orientadora – Bolsista PNPD-CAPES), Rodrigo Rodrigues Matiello (Orientador) e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade. Ciências Agrárias/Melhoramento Genético Vegetal. Palavras-chave: Parâmetros genéticos; variância genética; herdabilidade; tolerância ao Al; Zea mays. Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar a tolerância ao alumínio de 114 progênies F 2:3 oriundas do cruzamento de duas linhagens endogâmicas de milho contrastantes para a tolerância ao alumínio. O experimento foi instalado no delineamento de blocos aleatorizados com 3 repetições. Os tratamentos consistiram de 114 progênies, as linhagens parentais (LT 99-4 e LS 04-2) e a geração F1, que foram utilizadas como controle experimental. As parcelas constituíram-se de 12 plântulas de cada genótipo. Os tratamentos foram submetidos à solução mínima contendo Al e Ca por 48 h, sendo as raízes medidas antes e após o período de exposição para obter a variável DIF (diferença de crescimento radicular). Os dados médios de DIF das progênies foram submetidos à análise de variância e posteriormente foram estimados parâmetros genéticos populacionais: variância genética ( ), variância ambiental ( ) e herdabilidade no sentido amplo ( ). Adicionalmente, as médias das progênies foram submetidas à análise de distribuição de frequência. Os resultados evidenciaram grande variabilidade genética entre as progênies F2:3 para a tolerância ao Al. Verificou-se predomínio da variância genética sobre a variância ambiental e elevado coeficiente de herdabilidade (99,4%). A distribuição das médias das progênies nas classes de DIF evidenciou padrão de distribuição simétrica semelhante a uma curva de distribuição normal, sendo que 93 progênies F2:3 permaneceram nas classes de maior crescimento radicular, superiores a linhagem parental tolerante (LT 99-4) e a geração F1 evidenciando alto potencial genético das progênies F2:3 avaliadas para a tolerância ao alumínio nesse germoplasma de milho tropical. Introdução Estimativas mundiais indicam que aproximadamente 50% dos solos disponíveis para a produção agrícola sejam ácidos (KOCHIAN et al., 2004). A toxidez por alumínio (Al) é um dos fatores mais limitantes para o cultivo nestes solos, pois, nestas condições, o elemento é solubilizado na forma tóxica Al 3+ na solução, resultando em perdas no rendimento das culturas (EZAKI et al., 2013). Contudo, a utilização de genótipos tolerantes ao Al, tem sido a melhor estratégia para o cultivo de milho nesses solos. Estudos genéticos sugerem que a tolerância ao Al em milho é uma característica de herança complexa (PANDEY et al., 2007), envolvendo provavelmente múltiplos genes e, consequentemente vários mecanismos fisiológicos (PIÑEROS et al., 2005). Para a avaliação do crescimento radicular (DIF) de genótipos de milho na presença do alumínio tóxico, alguns autores têm proposto a utilização de solução mínima, composta apenas por concentrações de Al3+ e Ca2+ (MAZZOCATO et al., 2002; COELHO et al., 2015), a qual possibilita economizar à quantidade de nutrientes utilizados e facilidade na sua utilização, verifica-se eficiência na detecção de tolerância ao Al com este método o qual permite à avaliação de um grande número de genótipos, e evita a interferência de fatores não controláveis presentes nos solos e/ou na solução nutritiva completa. Materiais e métodos A partir do cruzamento das linhagens endogâmicas de milho tropical L 04-2 (sensível ao Al) e L 99-4 (tolerante ao Al), foram obtidas as gerações F1 e por autofecundação a geração F2. Os indivíduos da geração F2 foram autofecundados individualmente, dando origem as progênies F2:3, as quais foram avaliadas fenotipicamente para a tolerância ao Al em solução mínima. Os tratamentos foram constituídos de 114 progênies F2:3, além dos genitores (LT 99-4 e LS 04-2) e da geração F1, os quais foram utilizados como controle experimental. O experimento foi instalado no delineamento de blocos aleatorizados com 3 repetições. As parcelas constituíram-se de 12 plântulas de cada genótipo acondicionadas em bandejas de poliestireno expandido dispostas em um tanque contendo a solução mínima com 4 mg L-1 de Al e 40 mg L-1 de Ca por 48 h, sendo as raízes medidas antes e após o período de exposição para obter a variável DIF (diferença de crescimento radicular) em centímetros (cm). Os dados médios de DIF dos tratamentos foram submetidos à análise de variância. Adicionalmente, foram estimados os parâmetros genéticos através da esperança matemática dos quadrados médios da análise de variância de acordo com Vencovsky e Barriga (1992). A estimativa da variância genética foi obtida por: , sendo ( ) o número de repetições, o quadrado médio das progênies e o quadrado médio do erro, obtidos da análise de variância. A variância ambiental foi calculada através: . A herdabilidade no sentido amplo foi estimada através: . A partir das médias de DIF das 114 progênies F2:3 de milho, foi realizada a análise de distribuição de frequência. O número de classes fenotípicas (k) foi estimado pela fórmula , onde n refere-se ao número total de progênies (n=114). A amplitude fenotípica de cada classe (AFC) foi determinada por , onde A representa a amplitude de DIF observada entre as progênies de milho. Resultados e Discussão A análise de variância para a variável DIF evidenciou efeito altamente significativo (p < 0,01) para a fonte de variação dos tratamentos, indicando a existência de diferenças de tolerância ao alumínio entre as progênies de milho. O coeficiente de variação foi de baixa magnitude (6,9 %), sendo considerado adequado para este tipo de experimento (Tabela 1). A análise das estimativas dos parâmetros genéticos indicou um predomínio da variância genética ( ) em relação à variância ambiental ( ), confirmando a grande variabilidade genética para tolerância ao Al existente nesta população. A herdabilidade no sentido amplo ( ) de 99,4 % é bastante superior às estimativas indicadas na literatura (Tabela 1). Ao avaliar o comprimento de raiz (CLR) de gerações de segregação a partir do cruzamento entre as linhagens tolerante e sensível de milho, Mendes et al. (2010) estimaram a herdabilidade no sentido amplo em 89,7%. Coeficientes elevados da herdabilidade para o DIF indicam facilidade no processo de seleção artificial pela ampla variabilidade genética existente e pequenos efeitos ambientais associados a tolerância ao Al. A análise da distribuição de frequências das médias das progênies nas classes fenotípicas de DIF demonstrou um padrão de segregação com tendência de distribuição simétrica semelhante a uma curva de distribuição normal, fornecendo indícios de uma herança mais complexa da tolerância nestas populações, ou seja, herança quantitativa (Figura 1). Este padrão pode ser atribuído a presença de muitas regiões no genoma destes genótipos com efeito favorável para a tolerância ao Al. As classes fenotípicas de DIF apresentaram grande amplitude, variando de 0,75 a 2,62 cm confirmando a elevada variabilidade genética para a tolerância ao Al neste conjunto de progênies de milho (Figura 1). Este fato pode estar correlacionado com a hipótese de que mais de um tipo de mecanismo de tolerância pode estar atuando nessa população segregante. Tabela 1. Resumo da análise de variância da diferença de crescimento radicular (DIF) em função das linhagens parentais (LT 99-4 e LS 04-2), geração F1 e das progênies F2:3 de milho e estimativas dos parâmetros genéticos associados à tolerância ao alumínio. Fontes de variação Blocos Tratamentos Resíduo CV (%) Média Parâmetros Genéticos GL 2 116 232 Quadrados Médios (QM) DIF (cm) 0,1541** 0,4096** 0,0139 6,9 1,7 0,8469 0,0139 0,9946 : variância genética; : variância ambiental; : herdabilidade no sentido amplo. Figura 1. Distribuição das progênies F2:3 de milho do cruzamento LT 99-4 x LS 04-2 nas diferentes classes de DIF (diferença de crescimento radicular). LT = linhagem parental tolerante, LS = linhagem parental sensível, F1 = geração F1. A análise também confirmou o contraste fenotípico para a tolerância ao Al entre as linhagens parentais LT 99-4 (tolerante) e LS 04-2 (sensível) pela diferença de crescimento radicular (DIF). A linhagem tolerante LT 99-4, e a geração F1 permaneceram na classe fenotípica de 1,27 a 1,43 cm (Figura 1). Por outro lado, a linhagem sensível LS 04-2, ranqueou na classe fenotípica de menor crescimento radicular (0,75 a 0,92 cm) confirmando a sensibilidade da linhagem endogâmica de milho ao Al. Verifica-se que apenas quatro progênies (3,5%) foram ranqueadas nas classes mais sensíveis com até 1,09 cm de DIF. Em contrapartida, 82% das progênies permaneceram nas classes superiores à 1,43 cm, sendo também, superiores a linhagem endogâmica parental tolerante LT 99-4 e a geração F1 (Figura 1). Deste modo, pode-se pressupor que a frequência de alelos de tolerância nesta população é alta com mais de um loco participando na expressão da tolerância ao Al em milho. Conclusões Os resultados da avaliação fenotípica do DIF das progênies oriundas do cruzamento LT 99-4 e LS 04-2 indicaram que a tolerância ao alumínio nesta população segregante seja condicionada por um maior número de genes, ou seja, uma herança quantitativa da tolerância, com ampla variabilidade genética entre as progênies aferida pelo padrão de distribuição fenotípica das progênies F2:3. A decomposição dos componentes da variância fenotípica demonstrou que o componente genético para tolerância foi superior ao componente ambiental, indicando facilidade no processo de seleção artificial para a tolerância ao Al nessas progênies de milho. Agradecimentos A UEPG pela concessão da bolsa de Iniciação Científica PIBIC/UEPG. Aos colegas do Laboratório de Genética Molecular e Melhoramento Genético por ajudarem nas avaliações do projeto. Referências COELHO, C.J.; MOLIN, D.; WOOD JORIS, H.A.; CAIRES, E.F.; GARDINGO, J.R.; MATIELLO, R.R. Selection of maize hybrids for tolerance to aluminum in minimal solution. Genetics and Molecular Research, v.14, p.134-144, 2015. EZAKI, B. et al. A combination of five mechanisms confers a high tolerance for aluminum to a wild species of Poaceae, Andropogon virginicus L. Environmental and Experimental Botany, v.93, p.35-44, 2013. KOCHIAN, L.V.; HOEKENGA, O.A.; PIÑEROS, M.A. How crop plants tolerate acid soils? Mecanisms of aluminum tolerance and phosphorous efficiency. Annual Review of Plant Biology, Palo Alto, v.55, p.459-493, 2004. MAZZOCATO, A. C. et al. Tolerância ao alumínio em plântulas de milho. Ciência Rural, v.32, p.19-24, 2002. MENDES, F.F; PARENTONI, S.N.; GUIMARÃES, L.J.M.; GUIMARÃES, P.E.O.; PACHECO, C.A.P.; MACHADO, J.R.A.; MEIRELLES, W.F.; SILVA, A.R. Controle genético da tolerância ao alumínio em milho. Congresso Nacional de Milho e Sorgo, Goiânia: Associação Brasileira da Milho e Sorgo, 2010. PANDEY, S. et al. Breeding maize for tolerance to soil acidity. Plant Breeding, v.28, p.59-100, 2007. PIÑEROS, M. A. et al. Aluminum resistance in maize cannot be solely explained by root organic acid exudation. A comparative physiological study. Plant Physiology, v.137, p.231-241, 2005.