1 O LÚDICO COMO PRESSUPOSTO DE UMA EDUCAÇÃO INOVADORA NAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL Rosemary Sampaio da Silva/Universidad Del Norte – PY [email protected] EIXO TEMÁTICO: GT1 – Espaços Educativos (Saberes e Práticas) RESUMO Na dimensão lúdica as atividades surgem liberadas, livres gratuitamente, sem caráter instrumental. E, por isso, se configuram como atividades prazerosas que tendem a aperfeiçoar e constituírem em uma cadeia complexa de ações instrumentais, subordinadas a relação entre um fim e um produto. Dessa forma, aborda-se o tema relacionado à aprendizagem do lúdico na educação, ferramenta essa que faz parte da rotina diária da criança no processo ensinoaprendizagem. Acredita-se que os educadores estão cientes da ludicidade inserindo jogos, brinquedos e brincadeiras, mas muitas vezes, tem dificuldades em desenvolver uma metodologia lúdica no contexto escolar. O lúdico é uma das principais ferramentas do profissional da educação infantil e que é imprescindível, que o educador seja persistente e busque uma metodologia lúdica consistente para proporcionar a criança às vivências significativas que irão acompanhá-las pela vida a fora. Palavras-chave: Educação, Lúdico, Aprendizagem. RESUMEN En las actividades de dimensión lúdica salir liberado, de forma gratuita, sin carácter instrumental. Y, por lo tanto, si configura cómo placenteras actividades que tienden a perfeccionar y constituyen una cadena de acciones subordinadas instrumentales complejas, la relación entre un extremo y un producto. De esta forma, trata de tema relacionadas con la herramienta de aprendizaje lúdico en la educación, que forma parte de la rutina diaria del niño en el proceso de enseñanza-aprendizaje. Se cree que educadores saben jugar insertar juegos, juguetes y juegos, pero a menudo tienen dificultades en el desarrollo de una metodología lúdica en el contexto de la escuela. El juego es una de las principales herramientas de profesionales de la educación y que es esencial que el educador ser persistentes y metodología para buscar un juego consistente para proporcionar al niño en experiencias significativas que les acompañará para vida fuera. Palabras clave: educación, lúdica de aprendizaje. 2 INTRODUÇÃO Sabe-se que o brincar faz parte não só do Universo infantil da criança, mas do adulto também. Quem não tem saudades e um pouco de inveja, ao observar crianças brincando livremente, vendo a alegria, a espontaneidade com quem executam a atividade lúdica? Nessas brincadeiras vê- se que o jogo é sério e prazeroso ao mesmo tempo. Os jogos e brincadeiras mudaram muito, desde o começo do século até os dias atuais, em todos os países, em qualquer cultura, em todos os contextos sociais, mas o prazer de brincar – este não mudou. Questiona-se: que brincadeiras podem se aplicar hoje nos projetos escolares de educação infantil, como formação de sujeitos capazes de intervir na realidade de maneira crítica e criativa? Que brincadeiras afetam a criança de hoje? Como as crianças interagem com os objetos culturais que a elas são disponibilizadas? Como as crianças têm se apropriado das imagens e da linguagem dos meios de comunicação? Como e de que as crianças brincam hoje? Como tem sido as relações entre adultos e crianças? Como as instituições de educação infantil têm enfrentado as novas relações entre criança e a sociedade, e colocar em prática uma proposta de educação infantil, através de jogos e brincadeiras em que as próprias crianças construam, desenvolvam e adquiram conhecimentos ao mesmo tempo? E os professores poderão favorecer a construção de conhecimento se não forem desafiados a construírem os seus? As questões levantadas levam- nos a refletir a importância do lúdico das práticas educativas voltadas para a criança que provoquem a necessidade de ressignificar e de reorganizar os projetos de educação infantil de modo a estruturá-los de acordo com as novas diretrizes curriculares para a educação infantil. O trabalho com o lúdico em alguns contextos educacionais: - sociológico: a influência do contexto social nos quais os grupos de crianças brincam; - psicológico: o jogo como meio para compreender melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos; - antropológico: a maneira como o jogo reflete em cada sociedade, os costumes e a história das culturas; - educacional: a contribuição do jogo para a educação e para a aprendizagem da criança. Com a evolução dos tempos em Roma e Grécia antigas, percebe- se um novo sentido do lúdico. Nessa época Platão defendia a idéia de que nos primeiros anos de vida as crianças 3 devem ter acesso aos jogos educativos, onde devem aprender brincando, em oposição à utilização da violência e repressão tão cultivadas pelo estado espartano, quando este assume a instrução devendo torná-las em bravos soldados. Também nesta mesma época em Roma, associaram o sentido prazeroso à educação, ao afirmarem que o interesse educacional baseado no lúdico foi iniciado com uso de doces e guloseimas em formas de letras e números para ensinar as crianças. Do ponto de vista histórico, a análise do jogo é feita a partir da imagem da criança presente no cotidiano de uma determinada época. O lugar que a criança ocupa num contexto social e específico, a educação a que está submetida e o conjunto de relações sociais que mantém com personagens do seu mundo, tudo isso permite compreender melhor o cotidiano infantil e é nesse cotidiano que se forma a sua auto - imagem e a do seu brincar. Segundo Kishimoto: ... a compreensão dos jogos dos tempos passados, exige muitas vezes, o auxílio da visão antropológica, ela é imprescindível especialmente quando se deseja discriminar o jogo em diferentes culturas. Comportamentos considerados como lúdicos apareçam significados distintos em cada cultura. Se para as crianças européias a boneca significa um brinquedo, um objeto, suporte de brincadeira, para certas populações indígenas tem sentido de símbolo religioso... (Kishimoto 1993, p.08) A brincadeira na perspectiva sócio-histórica e cultural, é um tipo de atividade cuja base genética é comum à da arte, ou seja, trata-se de uma atividade social, humana, que supõe contextos sociais e culturais a partir dos quais a criança recria a realidade através da utilização de sistemas simbólicos próprios. Ao mesmo tempo é uma atividade específica da infância, considerando que historicamente, esta foi ocupando um lugar diferenciado na sociedade. Porém, alguns teóricos relacionam o lúdico ao jogo e estudam profundamente sua importância na educação. Huizinga (1990), foi um dos teóricos que mais se aprofundou estudando o jogo em diferentes culturas e línguas. Estudou suas aplicações na língua grega, chinês, japonês, línguas hebraicas, latim, inglês, alemão, holandês, entre outras. O mesmo teórico verificou a origem da palavra – em português, “jogo”, em francês “jeu”; em italiano “gioco”; em espanhol “juico”. Jogo advém de “jocus” (latim), cujo sentido abrangia apenas gracejar ou traçar. Vejamos o enfoque teórico dado ao brincar por Santos (1999), dentre vários pontos de vista: 4 Do ponto de vista Filosófico: o brincar é abordado como mecanismo para contrapor a racionalidade. A emoção deverá estar junto na ação humana quanto à razão. Do ponto de vista Sociológico: o brincar tem sido visto como a forma mais pura de inserção da criança na sociedade. Do ponto de vista Antropológico: a criança vai assimilando crenças, costumes, regras, leis e hábitos do contexto social e cultura. Do ponto de vista Psicológico: o brincar está presente em todo o desenvolvimento da criança nas diferentes formas de modificação e de seu comportamento. Do ponto de vista Pedagógico: o brincar tem-se revelado como uma estratégia poderosa para a criança aprender. A introdução à brincadeira ao cotidiano escolar infantil inicia-se com o educador alemão Froebel (1782-1852), que considerava as brincadeiras como primeiro recurso para aprendizagem, além de uma diversão e modo de criar representações do mundo concreto para entendê-lo. O educador elaborou canções e jogos para educar sensações, emoções e brinquedo pedagógicos enfatizando o valor da atividade manual e defendeu uma proposta educacional que incluía atividades de cooperação e o jogo, entendidos como a origem da atividade mental. Fundou o jardim de infância destinado aos menores de oito anos e, sob influencia do liberalismo e nacionalismo, defendeu uma proposta educacional que incluía atividades de cooperação e o jogo. Por dar ênfase a liberdade da criança, passou a ser visto como ameaça ao poder político alemão, levando o autoritarismo governamental da época a fechar os jardinsde-infância do país, por volta de 1851. Na mesma época, influenciada por Froebel, algumas experiências educacionais para as crianças pequenas foram realizadas no Brasil. O século XX se caracteriza pelo estudo cientifico da criança integrada ao exame das condições de vida infantil em sua sociedade. Dentro dessa visão, a psicologia e a pedagogia criaram o movimento da escola nova, onde se valorizou a atividade da criança em experimentar, pensar e julgar contraponto a recepção passiva dos conteúdos. Montessori, Vygotsky, Piaget, Freinet e outros, trouxeram para a educação infantil, novos paradigmas e desafios, mudando o rumo do ensino infantil. Montessori médica psiquiatra italiana (1879-1952), através do seu trabalho com crianças portadoras de deficiências mentais, propôs uma pedagogia cientifica da criança, baseada em estudos médicos, opondo-se a concepções materialistas, com interesse no desenvolvimento espiritualista. Ao contrário de Rosseau, que defendia a auto-educação, 5 Montessori não valorizava a natureza como ambiente apropriado para o desenvolvimento infantil. Ao educador caberia a preparação do ambiente apropriado para o desenvolvimento infantil. Ao educador caberia preparação do ambiente apropriado observação das iniciativas infantis. Ele atuaria como um cenógrafo e uma figura de referência e proporcionaria a criança um contexto nos quais seus impulsos se transformariam em ações. Então, diminuiu tamanho do mobiliário e objetos domésticos cotidianos domésticos cotidianos usados pela criança para brincar na casinha de boneca e também desenvolveu brinquedos e materiais didáticos para a criança explorar, trabalhar a coordenação motora, despertar os sentidos e a inteligência. Novos protagonistas destacaram-se ainda metade do século XX. Celestin Freinet (18961966) foi um dos educadores que renovam as práticas pedagógicas de seu tempo. Para, ele a educação deveria extrapolar a sala de aula e a integração da criança a vida social deveria ser valorizada. Atitudes manuais, jogos, desenho livre, a associação de atividade e prazer é eixo central da educação popular. Vygostsy (1989) afirma que através do brincar, a criança é capaz de satisfazer as necessidades e estruturar-se na medida em que ocorrem transformações em sua consciência. Para o autor, (...) No brinquedo o pensamento esta separado dos objetos a ação surge das idéias e não das coisas: um pedaço da madeira torna-se um boneco e um cabo de vassoura torna-se um cavalo. A ação regida por regras começa a ser determinada pelas idéias e não pelas idéias e não pelos objetos. Isso representa uma tamanha inversão da relação da criança a situação concreta, real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado. (Vygotsky. 1989, p. 111). Friedmann (1996), acredita que as transformações que o jogo sofre não devem ser negadas e sim trabalhadas. Segundo a autora, o caminho para trabalhar tais transformações está no “resgate do jogo” nos diferentes contextos sócio-culturais envolvendo escola, família e comunidade. O jogo é uma necessidade par a criança, pois é através dele que a criança tem a oportunidade de se expressar, socializar e extravasar os seus mais íntimos desejos sensações, sentimentos e emoções. Por isso, para adultos, além da utilização do jogo infantil como ferramenta para o desenvolvimento e aprendizagem da criança, a sua observação surge como oportunidade de analisar as dimensões afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais e lingüísticas do comportamento infantil e, ainda diagnosticar necessidades e interesses da criança. Este caráter do lúdico na efetivação da aprendizagem só ocorrerá quando o educador e toda comunidade escolar passar a valorizar o brincar, o jogo como elemento importante no 6 processo de aprendizagem; quando reconhecer as limitações do elemento competitivo no brinquedo; equilibrar o brinquedo diretivo e espontâneo; observar o brinquedo infantil para conhecer melhor as crianças e para que possa avaliar até que ponto a atividade está oferecendo prazer à criança. Estimular o uso de brinquedos que favorecem uma maior interação entre as crianças é um dos meios de promover a socialização entre as mesmas. Muitas são as habilidades sociais reforçadas pelos jogos, brinquedos e brincadeiras como a cooperação, comunicação eficaz, competição honesta, redução da agressividade. O brinquedo permite que as crianças progridam até atingirem um nível de autonomia, maior do que as demais crianças que não tem esta prática. A prática pedagógica deve partir de referenciais teóricos que contemplem o desenvolvimento pleno da criança, no crescimento de suas habilidades para que efetivamente apropries-se de conhecimentos básicos e que possam vir a construir outros saberes a partir desses. Esse é o projeto educativo que realmente traz significações ao ensino, pois visa primeiramente a aquisição e produção do saber, sem provocar violência tanto intelectual quanto afetiva, que inviabilizam toda a dinâmica do ambiente escolar. O educador ao participar com a criança da construção do conhecimento deve considerála um ser ativo, possuidor de vontades, perceber e identificar seus objetivos, a forma particular nas interações e brincadeiras com as outras crianças. É a partir dessas observações que se criam condições para a interação menos conflitante entre professor/aluno tornando-se um tanto quanto prazerosa para ambos. 1.1 A CRIANÇA, A EDUCAÇÃO E O LÚDICO A concepção de criança é uma noção historicamente construída e constantemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade, existam diferentes maneiras de se considerar as crianças, dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo étnico do qual fazem parte. Boa parte das crianças brasileiras enfrenta um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida, ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade em geral cuidados necessários ao seu desenvolvimento. A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p.21) define que: 7 A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo social em que se desenvolve, mas também o marca. Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo deve ser o grande desafio da educação infantil. Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia e sociologia possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns de ser, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças. Alerta Rosamilha (1979, p.77): A criança é, antes de tudo, um ser feito para brincar. O jogo, eis aí um artifício que a natureza encontrou para levar a criança a empregar uma atividade útil ao seu desenvolvimento físico e mental. Usemos um pouco mais esse artifício, coloquemos o ensino mais ao nível da criança, fazendo de seus instintos naturais, aliados e não inimigos. A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para resolução dos problemas que as rodeiam. A literatura especializada no crescimento e no desenvolvimento infantil considera que o ato de brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer que requer tempo e espaço próprios; um fazer que se constitui de experiências culturais, que são universais, e próprio da saúde porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros. Cabe ressaltar, no entanto, que no mundo capitalista em que vivemos o lúdico está sendo extraído do universo infantil. As crianças estão brincando cada vez menos por inúmeras razões: uma delas é o amadurecimento precoce; outra é a redução violenta do espaço físico e do tempo de brincar, ou seja, o excesso de atividades atribuídas, tais como escola, natação, inglês, computação, ginástica, dança, pintura, etc. Tudo isso toma o tempo das crianças e, na hora de brincar, quando sobra tempo, muitas vezes ficam horas em frente à televisão, divertindo-se com jogos violentos e rodeados de brinquedos eletrônicos, onde as interações sociais e a liberdade de agir ficam determinadas pelo próprio brinquedo. Eles fazem quase tudo pelas crianças, se movimentam e até falam, sobrando pouco espaço para o faz-de-conta. Entretanto, o mais grave de tudo, é que os pais estão esquecendo a importância do brincar. Muitos acham que um bom presente é um tênis de grife ou uma roupa porque é “mais 8 útil”. Brinquedo virou supérfluo. No desespero por fazer economia, os pais estão cortando o brinquedo do orçamento familiar. Grande engano, com conseqüências muito sérias se o erro não for reparado a tempo, pois as roupas e acessórios em geral não vão desenvolver o raciocínio nem a afetividade. Pelo contrário, vão transformar a criança em um mini-adulto que, desde já, precisa estar “sempre ligado”. Mas e o resto? E a criatividade, a emoção, o desenvolvimento lógico e casual, a alegria de brincar? Tudo isso pode ser economizado? É preciso respeitar o tempo da criança ser criança, sua maneira absolutamente original de ser e estar no mundo, de vivê-lo, de descobri-lo, de conhecê-lo, tudo simultaneamente. É preciso quebrar alguns paradigmas que foram sendo criados. Brinquedo não é só um presente, um agrado que se faz à criança: é investimento em crianças sadias do ponto de vista psicossocial. Ele é a estrada que a criança percorre para chegar ao coração das coisas, para desvelar os segredos que lhe esconde um olhar surpreso ou acolhedor, para desfazer temores, explorando o desconhecido. 1.2 O LÚDICO COMO PROCESSO EDUCATIVO Marcellino (1990) defende a reintrodução das atividades lúdicas na escola. Entende-se que esse direito ao respeito não significa a aceitação de que a criança habite um mundo autônomo do adulto, tampouco que deva ser deixada entregue aos seus iguais, recusando-se, assim, a interferência do adulto no processo de educação. Os estudos da psicanálise demonstram, entre outros caracteres não muito nobres, o autoritarismo que impera entre as crianças. Mas a intervenção do adulto não precisa ser necessariamente desrespeitada. É preciso que, ao intervir, o adulto respeite os direitos da criança. A proposta do autor nos remete a pensar numa ação educativa que considere as relações entre a escola, o lazer e o processo educativo como um dos caminhos a serem trilhados em busca de um futuro diferente. Por isso, vê-se como positiva a presença do jogo, do brinquedo, das atividades lúdicas nas escolas, nos horários de aulas, como técnicas educativas e como processo pedagógico na apresentação dos conteúdos. As vivências cotidianas, aliadas ao pensamento de alguns teóricos, como Marcellino, Sneyders, Piaget e Vygotsky, permitem-nos aprofundar as reflexões e fazer alguns questionamentos: O conhecimento construído por meio da ludicidade implica uma escola mais autônoma e democrática? Das condições para a ocorrência da alegria, da festa, dentro dos limites da escola, e até mesmo nos horários de aula, e propiciar assim a evasão do real, não seria contribuir para a alienação? 9 O jogo e a brincadeira são experiências vivenciais prazerosas. Assim também a experiência da aprendizagem tende a se constituir em um processo vivenciado prazerosamente. A escola, ao valorizar as atividades lúdicas, ajuda a criança a formar um bom conceito de mundo, em que a afetividade é acolhida, a sociabilidade vivenciada, a criatividade estimulada e os direitos da criança respeitados. Enquanto a aprendizagem é vista como apropriação e internalização de signos e instrumentos num contexto sociointeracionista, o brincar é a apropriação ativa da realidade por meio da representação. Desta forma, brincar é análogo a aprender. Distante dos avanços em todos os campos e das mudanças tão rápidas em todos os setores, é preciso buscar novos caminhos para enfrentar os desafios do novo milênio e, neste cenário que se antevê, será inevitável o resgate do prazer no trabalho, na educação, na vida, visto pela ótica da competência, da criatividade e do comprometimento. Assim, o trabalho a partir da ludicidade abre caminhos para envolver todos numa proposta interacionista, oportunizando o resgate de cada potencial. A partir daí, cada um pode desencadear estratégias lúdicas para dinamizar seu trabalho que, certamente, será mais produtivo, prazeroso e significativo, conforme afirma Marcellino (1990, p.126): “É só do prazer que surge a disciplina e a vontade de aprender”. É por intermédio da atividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, a ela se integrando, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir; cooperar com seus semelhantes e conviver como um ser social. Além de proporcionar prazer e diversão, o jogo, o brinquedo e a brincadeira podem representar um desafio e provocar o pensamento reflexivo da criança. Assim, uma atitude lúdica efetivamente oferece aos alunos experiências concretas, necessárias e indispensáveis às abstrações e operações cognitivas. Pode-se dizer que as atividades lúdicas, os jogos, permitem liberdade de ação, pulsão interior, naturalidade e, conseqüentemente, prazer que raramente são encontrados em outras atividades escolares. Por isso necessitam ser estudados por educadores para poderem utilizálos pedagogicamente como uma alternativa a mais a serviço do desenvolvimento integral da criança. O lúdico é essencial para uma escola que se proponha não somente ao sucesso pedagógico, mas também à formação do cidadão, porque a conseqüência imediata dessa ação educativa é a aprendizagem em todas as dimensões: social, cognitiva, relacional e pessoal. CONSIDERAÇÕES FINAIS 10 O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança e mesmo o jovem opõem uma resistência à escola e ao ensino, por que acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa. Estudos demonstram que através de atividades lúdicas o educando explora muito mais sua atividade, melhora sua conduta no processo de ensino- aprendizagem e sua auto- estima. O indivíduo criativo é um elemento importante para o funcionamento efetivo da sociedade, pois é ele quem faz descobertas, inventa e promove mudanças. Assim, podemos perceber que o lúdico apresenta uma concepção teórica, profunda e umas concepções práticas, atuantes e concretas. Não podemos desconhecer as relações entre o lazer, a escola, e o processo educativo, eles são pares ou encadeados. Não podemos considerar o lúdico na perspectiva das classes dominantes, quando estas instituições muitas vezes nem ao menos sabem do que estamos falando. A versatilidade do lúdico, isto é, a possibilidade de variar de acordo com os momentos, facilita uma participação ativa das crianças. O referido artigo possibilitou comprovar a distância existente entre o discurso e a prática concreta na sala de aula. O professor não desenvolve o lúdico como mais uma possibilidade de promoção do ensino-aprendizagem, mas como uma atividade de entretenimento, sem relação com a aprendizagem significativa para o aluno. É preciso que o professor tenha um suporte teórico e acima de tudo acredite que o lúdico se constitui ferramenta indispensável no processo de aprendizagem, possibilitando a aquisição dos conhecimentos de forma prazerosa. Necessário se faz proporcionar momentos de estudos com os professores voltados para essa temática, buscando oferecer diretrizes para que o trabalho a ser desenvolvido, incorpore uma proposta metodológica, onde o lúdico ocupe um espaço de relevância no processo de ensino-aprendizagem. A escola é um lugar de extrema importância no processo de formação social dos alunos, entretanto podemos dizer que o lúdico está presente em todos os níveis da educação básica. Assim, será possível ao educador redescobrir e reconstruir em si mesmo o gosto pelo fazer lúdico, buscando em suas experiências, remotas ou não, brincadeiras de infância e de adolescência que possam contribuir para uma aprendizagem lúdica, prazerosa e significativa. É competência da educação infantil proporcionar aos seus educandos um ambiente rico em atividades lúdicas, permitindo assim que elas vivam, sonhem, criem e aprendam a serem crianças. 11 O lúdico proporciona um desenvolvimento sadio e harmonioso, sendo uma tendência instintiva da criança. Ao brincar, a criança aumenta a independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva, valoriza a cultura popular, desenvolve habilidades motoras, diminui a agressividade, exercita a imaginação e a criatividade, aprimora a inteligência emocional, aumenta a integração, promovendo, assim, o desenvolvimento sadio, o crescimento mental e a adaptação social. O estudo permitiu compreender que o lúdico é significativo para a criança poder conhecer, compreender e construir seus conhecimentos tornar-se cidadã deste mundo, ser capaz de exercer sua cidadania com dignidade e competência. Sua contribuição também atenta para a formação de cidadãos autônomos, capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas e compreendendo um mundo que exige diferentes conhecimentos e habilidades. É buscando novas maneiras de ensinar por meio do lúdico que conseguiremos uma educação de qualidade e que realmente consiga ir ao encontro dos interesses e necessidades da criança. Cabe ressaltar que uma atitude lúdica não é somente a somatória de atividades; é, antes de tudo, uma maneira de ser, de estar, de pensar e de encarar a escola, bem como de relacionar-se com os alunos. É preciso saber entrar no mundo da criança, no seu sonho, no seu jogo e, a partir daí, jogar com ela. Quanto mais espaço lúdico proporcionarmos, mais alegre, espontânea, criativa, autônoma e afetiva ela será. Propõe-se, entretanto, aos educadores infantis, transformar o brincar em trabalho pedagógico para que experimentem, como mediadores, o verdadeiro significado da aprendizagem com desejo e prazer. Portanto, cabe à escola e a nós, educadores, recuperarmos a ludicidade infantil de nossos alunos, ajudando-os a encontrar um sentido para suas vidas. Ao brincar, não se aprendem somente conteúdos escolares; aprende-se algo sobre a vida e a constante peleja que nela travamos. É preciso que o professor assuma o papel de artífice de um currículo que privilegie as condições facilitadoras de aprendizagens que a ludicidade contém nos seus diversos domínios, afetivo, social, perceptivo-motor e cognitivo, retirando-a clandestinidade e da subversão, explicitando-a corajosamente como meta da escola. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 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