o lúdico como pressuposto de uma educação inovadora nas

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O LÚDICO COMO PRESSUPOSTO DE UMA EDUCAÇÃO
INOVADORA NAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS DOS PROFESSORES
DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Rosemary Sampaio da Silva/Universidad Del Norte – PY
[email protected]
EIXO TEMÁTICO: GT1 – Espaços Educativos (Saberes e Práticas)
RESUMO
Na dimensão lúdica as atividades surgem liberadas, livres gratuitamente, sem caráter
instrumental. E, por isso, se configuram como atividades prazerosas que tendem a aperfeiçoar
e constituírem em uma cadeia complexa de ações instrumentais, subordinadas a relação entre
um fim e um produto. Dessa forma, aborda-se o tema relacionado à aprendizagem do lúdico
na educação, ferramenta essa que faz parte da rotina diária da criança no processo ensinoaprendizagem. Acredita-se que os educadores estão cientes da ludicidade inserindo jogos,
brinquedos e brincadeiras, mas muitas vezes, tem dificuldades em desenvolver uma
metodologia lúdica no contexto escolar. O lúdico é uma das principais ferramentas do
profissional da educação infantil e que é imprescindível, que o educador seja persistente e
busque uma metodologia lúdica consistente para proporcionar a criança às vivências
significativas que irão acompanhá-las pela vida a fora.
Palavras-chave: Educação, Lúdico, Aprendizagem.
RESUMEN
En las actividades de dimensión lúdica salir liberado, de forma gratuita, sin carácter
instrumental. Y, por lo tanto, si configura cómo placenteras actividades que tienden a
perfeccionar y constituyen una cadena de acciones subordinadas instrumentales complejas, la
relación entre un extremo y un producto. De esta forma, trata de tema relacionadas con la
herramienta de aprendizaje lúdico en la educación, que forma parte de la rutina diaria del niño
en el proceso de enseñanza-aprendizaje. Se cree que educadores saben jugar insertar juegos,
juguetes y juegos, pero a menudo tienen dificultades en el desarrollo de una metodología
lúdica en el contexto de la escuela. El juego es una de las principales herramientas de
profesionales de la educación y que es esencial que el educador ser persistentes y
metodología para buscar un juego consistente para proporcionar al niño en experiencias
significativas que les acompañará para vida fuera.
Palabras clave: educación, lúdica de aprendizaje.
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INTRODUÇÃO
Sabe-se que o brincar faz parte não só do Universo infantil da criança, mas do adulto
também. Quem não tem saudades e um pouco de inveja, ao observar crianças brincando
livremente, vendo a alegria, a espontaneidade com quem executam a atividade lúdica? Nessas
brincadeiras vê- se que o jogo é sério e prazeroso ao mesmo tempo.
Os jogos e brincadeiras mudaram muito, desde o começo do século até os dias atuais,
em todos os países, em qualquer cultura, em todos os contextos sociais, mas o prazer de
brincar – este não mudou.
Questiona-se: que brincadeiras podem se aplicar hoje nos projetos escolares de
educação infantil, como formação de sujeitos capazes de intervir na realidade de maneira
crítica e criativa? Que brincadeiras afetam a criança de hoje? Como as crianças interagem
com os objetos culturais que a elas são disponibilizadas? Como as crianças têm se apropriado
das imagens e da linguagem dos meios de comunicação? Como e de que as crianças brincam
hoje?
Como tem sido as relações entre adultos e crianças? Como as instituições de educação
infantil têm enfrentado as novas relações entre criança e a sociedade, e colocar em prática
uma proposta de educação infantil, através de jogos e brincadeiras em que as próprias crianças
construam, desenvolvam e adquiram conhecimentos ao mesmo tempo? E os professores
poderão favorecer a construção de conhecimento se não forem desafiados a construírem os
seus?
As questões levantadas levam- nos a refletir a importância do lúdico das práticas
educativas voltadas para a criança que provoquem a necessidade de ressignificar e de
reorganizar os projetos de educação infantil de modo a estruturá-los de acordo com as novas
diretrizes curriculares para a educação infantil.
O trabalho com o lúdico em alguns contextos educacionais: - sociológico: a influência
do contexto social nos quais os grupos de crianças brincam; - psicológico: o jogo como meio
para compreender melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos
indivíduos; - antropológico: a maneira como o jogo reflete em cada sociedade, os costumes e
a história das culturas; - educacional: a contribuição do jogo para a educação e para a
aprendizagem da criança.
Com a evolução dos tempos em Roma e Grécia antigas, percebe- se um novo sentido do
lúdico. Nessa época Platão defendia a idéia de que nos primeiros anos de vida as crianças
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devem ter acesso aos jogos educativos, onde devem aprender brincando, em oposição à
utilização da violência e repressão tão cultivadas pelo estado espartano, quando este assume a
instrução devendo torná-las em bravos soldados.
Também nesta mesma época em Roma, associaram o sentido prazeroso à educação, ao
afirmarem que o interesse educacional baseado no lúdico foi iniciado com uso de doces e
guloseimas em formas de letras e números para ensinar as crianças.
Do ponto de vista histórico, a análise do jogo é feita a partir da imagem da criança
presente no cotidiano de uma determinada época. O lugar que a criança ocupa num contexto
social e específico, a educação a que está submetida e o conjunto de relações sociais que
mantém com personagens do seu mundo, tudo isso permite compreender melhor o cotidiano
infantil e é nesse cotidiano que se forma a sua auto - imagem e a do seu brincar.
Segundo Kishimoto:
... a compreensão dos jogos dos tempos passados, exige muitas vezes,
o auxílio da visão antropológica, ela é imprescindível especialmente
quando se deseja discriminar o jogo em diferentes culturas.
Comportamentos considerados como lúdicos apareçam significados
distintos em cada cultura. Se para as crianças européias a boneca
significa um brinquedo, um objeto, suporte de brincadeira, para certas
populações indígenas tem sentido de símbolo religioso... (Kishimoto
1993, p.08)
A brincadeira na perspectiva sócio-histórica e cultural, é um tipo de atividade cuja base
genética é comum à da arte, ou seja, trata-se de uma atividade social, humana, que supõe
contextos sociais e culturais a partir dos quais a criança recria a realidade através da utilização
de sistemas simbólicos próprios. Ao mesmo tempo é uma atividade específica da infância,
considerando que historicamente, esta foi ocupando um lugar diferenciado na sociedade.
Porém, alguns teóricos relacionam o lúdico ao jogo e estudam profundamente sua importância
na educação.
Huizinga (1990), foi um dos teóricos que mais se aprofundou estudando o jogo em
diferentes culturas e línguas. Estudou suas aplicações na língua grega, chinês, japonês, línguas
hebraicas, latim, inglês, alemão, holandês, entre outras.
O mesmo teórico verificou a origem da palavra – em português, “jogo”, em francês
“jeu”; em italiano “gioco”; em espanhol “juico”. Jogo advém de “jocus” (latim), cujo sentido
abrangia apenas gracejar ou traçar.
Vejamos o enfoque teórico dado ao brincar por Santos (1999), dentre vários pontos de
vista:
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
Do ponto de vista Filosófico: o brincar é abordado como mecanismo para contrapor a
racionalidade. A emoção deverá estar junto na ação humana quanto à razão.

Do ponto de vista Sociológico: o brincar tem sido visto como a forma mais pura de
inserção da criança na sociedade.

Do ponto de vista Antropológico: a criança vai assimilando crenças, costumes, regras,
leis e hábitos do contexto social e cultura.

Do ponto de vista Psicológico: o brincar está presente em todo o desenvolvimento da
criança nas diferentes formas de modificação e de seu comportamento.

Do ponto de vista Pedagógico: o brincar tem-se revelado como uma estratégia
poderosa para a criança aprender.
A introdução à brincadeira ao cotidiano escolar infantil inicia-se com o educador
alemão Froebel (1782-1852), que considerava as brincadeiras como primeiro recurso para
aprendizagem, além de uma diversão e modo de criar representações do mundo concreto para
entendê-lo. O educador elaborou canções e jogos para educar sensações, emoções e brinquedo
pedagógicos enfatizando o valor da atividade manual e defendeu uma proposta educacional
que incluía atividades de cooperação e o jogo, entendidos como a origem da atividade mental.
Fundou o jardim de infância destinado aos menores de oito anos e, sob influencia do
liberalismo e nacionalismo, defendeu uma proposta educacional que incluía atividades de
cooperação e o jogo. Por dar ênfase a liberdade da criança, passou a ser visto como ameaça ao
poder político alemão, levando o autoritarismo governamental da época a fechar os jardinsde-infância do país, por volta de 1851. Na mesma época, influenciada por Froebel, algumas
experiências educacionais para as crianças pequenas foram realizadas no Brasil.
O século XX se caracteriza pelo estudo cientifico da criança integrada ao exame das
condições de vida infantil em sua sociedade. Dentro dessa visão, a psicologia e a pedagogia
criaram o movimento da escola nova, onde se valorizou a atividade da criança em
experimentar, pensar e julgar contraponto a recepção passiva dos conteúdos. Montessori,
Vygotsky, Piaget, Freinet e outros, trouxeram para a educação infantil, novos paradigmas e
desafios, mudando o rumo do ensino infantil.
Montessori médica psiquiatra italiana (1879-1952), através do seu trabalho com
crianças portadoras de deficiências mentais, propôs uma pedagogia cientifica da criança,
baseada em estudos médicos, opondo-se a concepções materialistas, com interesse no
desenvolvimento espiritualista. Ao contrário de Rosseau, que defendia a auto-educação,
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Montessori não valorizava a natureza como ambiente apropriado para o desenvolvimento
infantil. Ao educador caberia a preparação do ambiente apropriado para o desenvolvimento
infantil. Ao educador caberia preparação do ambiente apropriado observação das iniciativas
infantis. Ele atuaria como um cenógrafo e uma figura de referência e proporcionaria a criança
um contexto nos quais seus impulsos se transformariam em ações. Então, diminuiu tamanho
do mobiliário e objetos domésticos cotidianos domésticos cotidianos usados pela criança para
brincar na casinha de boneca e também desenvolveu brinquedos e materiais didáticos para a
criança explorar, trabalhar a coordenação motora, despertar os sentidos e a inteligência.
Novos protagonistas destacaram-se ainda metade do século XX. Celestin Freinet (18961966) foi um dos educadores que renovam as práticas pedagógicas de seu tempo. Para, ele a
educação deveria extrapolar a sala de aula e a integração da criança a vida social deveria ser
valorizada. Atitudes manuais, jogos, desenho livre, a associação de atividade e prazer é eixo
central da educação popular.
Vygostsy (1989) afirma que através do brincar, a criança é capaz de satisfazer as
necessidades e estruturar-se na medida em que ocorrem transformações em sua consciência.
Para o autor,
(...) No brinquedo o pensamento esta separado dos objetos a ação surge das
idéias e não das coisas: um pedaço da madeira torna-se um boneco e um
cabo de vassoura torna-se um cavalo. A ação regida por regras começa a ser
determinada pelas idéias e não pelas idéias e não pelos objetos. Isso
representa uma tamanha inversão da relação da criança a situação concreta,
real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado. (Vygotsky.
1989, p. 111).
Friedmann (1996), acredita que as transformações que o jogo sofre não devem ser
negadas e sim trabalhadas. Segundo a autora, o caminho para trabalhar tais transformações
está no “resgate do jogo” nos diferentes contextos sócio-culturais envolvendo escola, família
e comunidade.
O jogo é uma necessidade par a criança, pois é através dele que a criança tem a
oportunidade de se expressar, socializar e extravasar os seus mais íntimos desejos sensações,
sentimentos e emoções. Por isso, para adultos, além da utilização do jogo infantil como
ferramenta para o desenvolvimento e aprendizagem da criança, a sua observação surge como
oportunidade de analisar as dimensões afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais e
lingüísticas do comportamento infantil e, ainda diagnosticar necessidades e interesses da
criança.
Este caráter do lúdico na efetivação da aprendizagem só ocorrerá quando o educador e
toda comunidade escolar passar a valorizar o brincar, o jogo como elemento importante no
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processo de aprendizagem; quando reconhecer as limitações do elemento competitivo no
brinquedo; equilibrar o brinquedo diretivo e espontâneo; observar o brinquedo infantil para
conhecer melhor as crianças e para que possa avaliar até que ponto a atividade está
oferecendo prazer à criança.
Estimular o uso de brinquedos que favorecem uma maior interação entre as crianças é
um dos meios de promover a socialização entre as mesmas.
Muitas são as habilidades sociais reforçadas pelos jogos, brinquedos e brincadeiras
como a cooperação, comunicação eficaz, competição honesta, redução da agressividade. O
brinquedo permite que as crianças progridam até atingirem um nível de autonomia, maior do
que as demais crianças que não tem esta prática.
A prática pedagógica deve partir de referenciais teóricos que contemplem o
desenvolvimento pleno da criança, no crescimento de suas habilidades para que efetivamente
apropries-se de conhecimentos básicos e que possam vir a construir outros saberes a partir
desses. Esse é o projeto educativo que realmente traz significações ao ensino, pois visa
primeiramente a aquisição e produção do saber, sem provocar violência tanto intelectual
quanto afetiva, que inviabilizam toda a dinâmica do ambiente escolar.
O educador ao participar com a criança da construção do conhecimento deve considerála um ser ativo, possuidor de vontades, perceber e identificar seus objetivos, a forma
particular nas interações e brincadeiras com as outras crianças. É a partir dessas observações
que se criam condições para a interação menos conflitante entre professor/aluno tornando-se
um tanto quanto prazerosa para ambos.
1.1 A CRIANÇA, A EDUCAÇÃO E O LÚDICO
A concepção de criança é uma noção historicamente construída e constantemente vem
mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no
interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma
mesma cidade, existam diferentes maneiras de se considerar as crianças, dependendo da
classe social a qual pertencem, do grupo étnico do qual fazem parte. Boa parte das crianças
brasileiras enfrenta um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias
condições de vida, ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras
crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade em
geral cuidados necessários ao seu desenvolvimento. A Proposta Curricular de Santa Catarina
(1998, p.21) define que:
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A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte
de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma
determinada cultura, em um determinado momento histórico. É
profundamente marcada pelo social em que se desenvolve, mas também o
marca.
Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no
mundo deve ser o grande desafio da educação infantil. Embora os conhecimentos derivados
da psicologia, antropologia e sociologia possam ser de grande valia para desvelar o universo
infantil apontando algumas características comuns de ser, elas permanecem únicas em suas
individualidades e diferenças. Alerta Rosamilha (1979, p.77):
A criança é, antes de tudo, um ser feito para brincar. O jogo, eis aí um
artifício que a natureza encontrou para levar a criança a empregar uma
atividade útil ao seu desenvolvimento físico e mental. Usemos um pouco
mais esse artifício, coloquemos o ensino mais ao nível da criança, fazendo
de seus instintos naturais, aliados e não inimigos.
A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para resolução dos problemas
que as rodeiam. A literatura especializada no crescimento e no desenvolvimento infantil
considera que o ato de brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer
em si, um fazer que requer tempo e espaço próprios; um fazer que se constitui de experiências
culturais, que são universais, e próprio da saúde porque facilita o crescimento, conduz aos
relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo e com os
outros.
Cabe ressaltar, no entanto, que no mundo capitalista em que vivemos o lúdico está
sendo extraído do universo infantil. As crianças estão brincando cada vez menos por inúmeras
razões: uma delas é o amadurecimento precoce; outra é a redução violenta do espaço físico e
do tempo de brincar, ou seja, o excesso de atividades atribuídas, tais como escola, natação,
inglês, computação, ginástica, dança, pintura, etc. Tudo isso toma o tempo das crianças e, na
hora de brincar, quando sobra tempo, muitas vezes ficam horas em frente à televisão,
divertindo-se com jogos violentos e rodeados de brinquedos eletrônicos, onde as interações
sociais e a liberdade de agir ficam determinadas pelo próprio brinquedo. Eles fazem quase
tudo pelas crianças, se movimentam e até falam, sobrando pouco espaço para o faz-de-conta.
Entretanto, o mais grave de tudo, é que os pais estão esquecendo a importância do
brincar. Muitos acham que um bom presente é um tênis de grife ou uma roupa porque é “mais
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útil”. Brinquedo virou supérfluo. No desespero por fazer economia, os pais estão cortando o
brinquedo do orçamento familiar. Grande engano, com conseqüências muito sérias se o erro
não for reparado a tempo, pois as roupas e acessórios em geral não vão desenvolver o
raciocínio nem a afetividade. Pelo contrário, vão transformar a criança em um mini-adulto
que, desde já, precisa estar “sempre ligado”. Mas e o resto? E a criatividade, a emoção, o
desenvolvimento lógico e casual, a alegria de brincar? Tudo isso pode ser economizado?
É preciso respeitar o tempo da criança ser criança, sua maneira absolutamente original
de ser e estar no mundo, de vivê-lo, de descobri-lo, de conhecê-lo, tudo simultaneamente. É
preciso quebrar alguns paradigmas que foram sendo criados. Brinquedo não é só um presente,
um agrado que se faz à criança: é investimento em crianças sadias do ponto de vista
psicossocial. Ele é a estrada que a criança percorre para chegar ao coração das coisas, para
desvelar os segredos que lhe esconde um olhar surpreso ou acolhedor, para desfazer temores,
explorando o desconhecido.
1.2 O LÚDICO COMO PROCESSO EDUCATIVO
Marcellino (1990) defende a reintrodução das atividades lúdicas na escola. Entende-se
que esse direito ao respeito não significa a aceitação de que a criança habite um mundo
autônomo do adulto, tampouco que deva ser deixada entregue aos seus iguais, recusando-se,
assim, a interferência do adulto no processo de educação. Os estudos da psicanálise
demonstram, entre outros caracteres não muito nobres, o autoritarismo que impera entre as
crianças. Mas a intervenção do adulto não precisa ser necessariamente desrespeitada. É
preciso que, ao intervir, o adulto respeite os direitos da criança.
A proposta do autor nos remete a pensar numa ação educativa que considere as relações
entre a escola, o lazer e o processo educativo como um dos caminhos a serem trilhados em
busca de um futuro diferente. Por isso, vê-se como positiva a presença do jogo, do brinquedo,
das atividades lúdicas nas escolas, nos horários de aulas, como técnicas educativas e como
processo pedagógico na apresentação dos conteúdos. As vivências cotidianas, aliadas ao
pensamento de alguns teóricos, como Marcellino, Sneyders, Piaget e Vygotsky, permitem-nos
aprofundar as reflexões e fazer alguns questionamentos: O conhecimento construído por meio
da ludicidade implica uma escola mais autônoma e democrática? Das condições para a
ocorrência da alegria, da festa, dentro dos limites da escola, e até mesmo nos horários de aula,
e propiciar assim a evasão do real, não seria contribuir para a alienação?
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O jogo e a brincadeira são experiências vivenciais prazerosas. Assim também a
experiência da aprendizagem tende a se constituir em um processo vivenciado
prazerosamente. A escola, ao valorizar as atividades lúdicas, ajuda a criança a formar um bom
conceito de mundo, em que a afetividade é acolhida, a sociabilidade vivenciada, a criatividade
estimulada e os direitos da criança respeitados. Enquanto a aprendizagem é vista como
apropriação e internalização de signos e instrumentos num contexto sociointeracionista, o
brincar é a apropriação ativa da realidade por meio da representação.
Desta forma, brincar é análogo a aprender. Distante dos avanços em todos os campos e
das mudanças tão rápidas em todos os setores, é preciso buscar novos caminhos para enfrentar
os desafios do novo milênio e, neste cenário que se antevê, será inevitável o resgate do prazer
no trabalho, na educação, na vida, visto pela ótica da competência, da criatividade e do
comprometimento. Assim, o trabalho a partir da ludicidade abre caminhos para envolver
todos numa proposta interacionista, oportunizando o resgate de cada potencial. A partir daí,
cada um pode desencadear estratégias lúdicas para dinamizar seu trabalho que, certamente,
será mais produtivo, prazeroso e significativo, conforme afirma Marcellino (1990, p.126): “É
só do prazer que surge a disciplina e a vontade de aprender”.
É por intermédio da atividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a
cultura do meio em que vive, a ela se integrando, adaptando-se às condições que o mundo lhe
oferece e aprendendo a competir; cooperar com seus semelhantes e conviver como um ser
social. Além de proporcionar prazer e diversão, o jogo, o brinquedo e a brincadeira podem
representar um desafio e provocar o pensamento reflexivo da criança. Assim, uma atitude
lúdica efetivamente oferece aos alunos experiências concretas, necessárias e indispensáveis às
abstrações e operações cognitivas.
Pode-se dizer que as atividades lúdicas, os jogos, permitem liberdade de ação, pulsão
interior, naturalidade e, conseqüentemente, prazer que raramente são encontrados em outras
atividades escolares. Por isso necessitam ser estudados por educadores para poderem utilizálos pedagogicamente como uma alternativa a mais a serviço do desenvolvimento integral da
criança. O lúdico é essencial para uma escola que se proponha não somente ao sucesso
pedagógico, mas também à formação do cidadão, porque a conseqüência imediata dessa ação
educativa é a aprendizagem em todas as dimensões: social, cognitiva, relacional e pessoal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na
idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança e mesmo
o jovem opõem uma resistência à escola e ao ensino, por que acima de tudo ela não é lúdica,
não é prazerosa.
Estudos demonstram que através de atividades lúdicas o educando explora muito mais
sua atividade, melhora sua conduta no processo de ensino- aprendizagem e sua auto- estima.
O indivíduo criativo é um elemento importante para o funcionamento efetivo da sociedade,
pois é ele quem faz descobertas, inventa e promove mudanças.
Assim, podemos perceber que o lúdico apresenta uma concepção teórica, profunda e
umas concepções práticas, atuantes e concretas. Não podemos desconhecer as relações entre
o lazer, a escola, e o processo educativo, eles são pares ou encadeados. Não podemos
considerar o lúdico na perspectiva das classes dominantes, quando estas instituições muitas
vezes nem ao menos sabem do que estamos falando. A versatilidade do lúdico, isto é, a
possibilidade de variar de acordo com os momentos, facilita uma participação ativa das
crianças.
O referido artigo possibilitou comprovar a distância existente entre o discurso e a
prática concreta na sala de aula. O professor não desenvolve o lúdico como mais uma
possibilidade de promoção do ensino-aprendizagem, mas como uma atividade de
entretenimento, sem relação com a aprendizagem significativa para o aluno. É preciso que o
professor tenha um suporte teórico e acima de tudo acredite que o lúdico se constitui
ferramenta indispensável no processo de aprendizagem, possibilitando a aquisição dos
conhecimentos de forma prazerosa. Necessário se faz proporcionar momentos de estudos com
os professores voltados para essa temática, buscando oferecer diretrizes para que o trabalho a
ser desenvolvido, incorpore uma proposta metodológica, onde o lúdico ocupe um espaço de
relevância no processo de ensino-aprendizagem.
A escola é um lugar de extrema importância no processo de formação social dos alunos,
entretanto podemos dizer que o lúdico está presente em todos os níveis da educação básica.
Assim, será possível ao educador redescobrir e reconstruir em si mesmo o gosto pelo
fazer lúdico, buscando em suas experiências, remotas ou não, brincadeiras de infância e de
adolescência que possam contribuir para uma aprendizagem lúdica, prazerosa e significativa.
É competência da educação infantil proporcionar aos seus educandos um ambiente rico em
atividades lúdicas, permitindo assim que elas vivam, sonhem, criem e aprendam a serem
crianças.
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O lúdico proporciona um desenvolvimento sadio e harmonioso, sendo uma tendência
instintiva da criança. Ao brincar, a criança aumenta a independência, estimula sua
sensibilidade visual e auditiva, valoriza a cultura popular, desenvolve habilidades motoras,
diminui a agressividade, exercita a imaginação e a criatividade, aprimora a inteligência
emocional, aumenta a integração, promovendo, assim, o desenvolvimento sadio, o
crescimento mental e a adaptação social. O estudo permitiu compreender que o lúdico é
significativo para a criança poder conhecer, compreender e construir seus conhecimentos
tornar-se cidadã deste mundo, ser capaz de exercer sua cidadania com dignidade e
competência. Sua contribuição também atenta para a formação de cidadãos autônomos,
capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas e compreendendo um
mundo que exige diferentes conhecimentos e habilidades.
É buscando novas maneiras de ensinar por meio do lúdico que conseguiremos uma
educação de qualidade e que realmente consiga ir ao encontro dos interesses e necessidades
da criança. Cabe ressaltar que uma atitude lúdica não é somente a somatória de atividades; é,
antes de tudo, uma maneira de ser, de estar, de pensar e de encarar a escola, bem como de
relacionar-se com os alunos. É preciso saber entrar no mundo da criança, no seu sonho, no seu
jogo e, a partir daí, jogar com ela. Quanto mais espaço lúdico proporcionarmos, mais alegre,
espontânea, criativa, autônoma e afetiva ela será. Propõe-se, entretanto, aos educadores
infantis, transformar o brincar em trabalho pedagógico para que experimentem, como
mediadores, o verdadeiro significado da aprendizagem com desejo e prazer.
Portanto, cabe à escola e a nós, educadores, recuperarmos a ludicidade infantil de
nossos alunos, ajudando-os a encontrar um sentido para suas vidas. Ao brincar, não se
aprendem somente conteúdos escolares; aprende-se algo sobre a vida e a constante peleja que
nela travamos. É preciso que o professor assuma o papel de artífice de um currículo que
privilegie as condições facilitadoras de aprendizagens que a ludicidade contém nos seus
diversos
domínios,
afetivo,
social,
perceptivo-motor
e
cognitivo,
retirando-a
clandestinidade e da subversão, explicitando-a corajosamente como meta da escola.
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