OS MICRORGANISMOS NO NOSSO COTIDIANO: UM ENFOQUE PARA CRIANÇAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL Brasiliano, R. A. P.; Raymundo, M. P. M.; Alves-Prado, H. F. 1 Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita de Filho”, Campus de Ilha solteira, Graduação em Licenciatura/Bacharelada em Ciências Biológicas. Bolsista PROEX 2 Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita de Filho”, Campus de Ilha Solteira, Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio Economia. 3 Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita de Filho”, Campus de Ilha Solteira, Centro de Convivência Infantil – CCI Catatau, Passeio Jau, 306 - Zona Sul, Ilha Solteira. E-mail para contato: [email protected] Introdução A Microbiologia é a área da biologia em que se dedica originalmente ao estudo de organismos que só poderiam ser vistos com o auxílio do microscópio óptico e ou com o microscópio eletrônico. A esses organismos incluem-se bactérias, fungos, vírus, protozoários e algas unicelulares. Embora os micro-organismos sejam frequentemente lembrados pelas doenças que causam, a maioria realiza alterações no ambiente, sendo essenciais para a manutenção da vida na Terra e ao contrário do que se imagina não são patogênicos. Apesar de se estar diariamente, em contato com os micro-organismos, a microbiologia somente é abordada nos eixos temáticos “Vida e Ambiente” e “Ser humano e Saúde” como consta no PCN. A microbiologia como conteúdo de Ciências Naturais está em todos os níveis de ensino, mas fica mais atraente a partir do 7º ano, quando os alunos conseguem desenvolver experiências e atividades que provam a existência dos pequenos seres (GENTILE, 2005). O desenvolvimento de experimentos em microbiologia é muito importante para a percepção desses organismos, uma vez que são pouco perceptíveis. Sendo, considerado um mundo abstrato para alunos do ensino fundamental, quando esse tema passa a ser abordado (CASSANTI et al., 2008). A proposta, desse estudo foi iniciar a abordagem dos microorganismos para crianças da educação infantil, através de ações e práticas do seu cotidiano, a fim de despertar a atenção para o mundo microbiano e sua importância. Material e Métodos As atividades forma desenvolvidas dentro de um projeto de extensão e foram aplicadas no Centro de Convivência Infantil (CCI) da Unesp – Campus de Ilha Solteira com crianças na faixa etária média de 5 a 6 anos de idade. Foram realizados encontros semanais, nos quais buscava-se apresentar temas relacionados à microbiologia. Ao final de cada encontro, as crianças registravam o tema abordado através de ilustrações. Nos encontros, as conversas eram informais e com todos sentados em círculo. Nos primeiros contatos, foi possível avaliar o conhecimento das crianças, com relação ao mundo microbiano. Em seguida, foi abordado o tema bactéria e sua relação com a higiene pessoal, o ambiente e a produção de alimentos. Em um segundo momento, foi abordado o tema fungo e sua relação com a higiene pessoal, o ambiente e a produção de alimentos. Higiene pessoal Nesse tema, abordou-se a importância do cuidado com o corpo, nas rotinas diárias de escovar os dentes, lavar as mãos antes das refeições e do banho diário. A demonstração prática, foi realizada com o experimento de “mãos sujas e mãos limpas”. No qual, as crianças colocavam as mãos em uma placa de Petri, contendo meio padrão para crescimento microbiano (agar dextrosado de batata) e depois lavam as mãos secavam em papel toalha e depois colocavam a mão em outra placa. As placas foram incubadas a 37 °C por 48 horas e depois apresentadas às crianças. Dessa forma, elas puderam observar o crescimento microbiano presente nas mãos limpas e sujas. Nesse momento, também elas passaram a visualizar uma colônia de bactérias. Posteriormente, as colônias foram utilizadas para confecção de lâminas para visualização em microscópio óptico. Produção de alimentos A participação dos micro-organismos na produção de alimentos foi demonstrada com o preparo de dois produtos que as crianças ingerem constantemente, o iogurte e o pão. O iogurte foi utilizado como ação de bactérias e o fungo como produto resultante da ação de um fungo. Foram utilizadas figuras, mostrando a morfologia dos micro-organimos envolvidos em cada produtos. Meio ambiente Foi utilizado o ambiente em torno do CCI, como as árvores, a horta e um tronco em decomposição na calçada do CCI. As crianças puderam observar o crescimento fúngico no tronco em decomposição como nas folhas que se acumularam ao seu redor. Nesse momento foi abordada a importância da ciclagem do material vegetal. A ciclagem do material vegetal para produção de adubo orgânico que serve para adubar a horta e contribuir para o desenvolvimento das plantas. Foi cultivada algumas hortaliças, após a incorporação de compostagem vegetal. Foi realizado plaqueamento de amostras de solo, vegetal em decomposição em placas de Petri contendo meio padrão para crescimento microbiano (agar dextrosado de batata). As placas foram incubadas a 37 °C por 48 horas e depois apresentadas às crianças. Algumas placas foram abertas na sala, e as crianças puderam acompanhar o desenvolvimento de micro-organismos presentes no ar. Resultados No primeiro contato, foi possível verificar a grande associação dos micro-organismos a doenças. As crianças, também não tinham conhecimento visual da morfologia de um microorganismo. Ao longo dos encontros as crianças, já começam a desvincular os microorganismos como causadores apenas de doenças. Elas próprias denominaram de ‘bactérias do bem’ como os micro-organismos que realizavam algo de bom, como alimento e os microorganismos causadores de alguma patologia foram chamados de ‘bactérias do mal’. Bem como, passam a vinculá-los a outras importâncias como a de sua participação na produção de alimentos, como agentes decompositores, na ciclagem de nutrientes necessários para o desenvolvimento de plantas. Tais resultados foram observados, nos relatórios produzidos pelas crianças, ilustrações e por seus relatos (Figura 1). a) b) c) d) e) f) Figura 1. Ilustração das atividades desenvolvidas pelas crianças (a) e (b) formas de bactérias imaginadas pelas crianças; (c) preparo do iogurte; (d) preparo do pão; (e) ensaio “mão suja,mão limpa” e (f) visualização do crescimento microbiano em placas de Petri. Mais ao final do projeto, as crianças começaram a observar diferenças entre os fungos e bactérias, mesmo com relação a sua estrutura morfológica. Discussão e Conclusão Os resultados mostram um grande avanço em relação a mudança de pensamento dos alunos que participaram do projeto, estas mudanças puderam ser observadas tanto na fala das crianças, quanto em seus relatórios e atitudes em relação à higiene pessoal. O trabalho demonstrou que, a apresentação de temas mais complexos, como a microbiologia, quando realizado de forma lúdica e com atividades práticas há um resultado positivo, mesmo se tratando da educação infantil, no qual a microbiologia não é foco principal. Há de se considerar que, as atividades práticas e visuais foram importantes na abordagem desses temas. Amaral et al. (2011) desenvolveram procedimentos experimentais, para visualizar e compreender a estrutura celular bacteriana e fúngica, correlacionando a morfologia com o mecanismo de patogenicidade e virulência, através da microscopia óptica e montagem de laminas à fresco. Os autores concluíram que, o nível de conhecimento apresentado pelos alunos foi bastante significativo, mostrando que a atividade experimental auxiliou, de maneira imprescindível na compreensão da teoria, muito semelhante aos resultados observados nesse estudo. Após 8 meses do início do projeto, foi realizada uma avaliação para verificar a fixação do conhecimento adquirido, utilizando ilustrações. Várias imagens, constando de atividades de higiene, micro-organismos associados a deterioração de alimentos, alimentos produzidos por ação microbiana, entre outros foram utilizadas para que as crianças distribuíssem as figuras em dois grupos um das chamadas “bactérias do bem” e outro de “bactérias do mau”. O percentual de acerto ficou em 90%, o que pode se concluir que dentro dos conceitos discutidos houve assimilação e fixação dos mesmos. Agradecimentos Os autores são gratos à Pró-Reitoria de Extensão Universitária, pelo apoio financeiro e à Coordenação do Cento de Convivência Infantil (CCI) – Catatau da Unesp, Campus de Ilha Solteira. Referências AMARAL, L. S., MACHADO, L. S. B., SANTOS, F. K. Análise da influência de procedimentos experimentais para compreensão da microbiologia, na educação básica, com enfoque em epidemias microbiológicas e biotecnologia. In: Congresso Brasileiro de Microbiologia. 26, 2011, Foz do Iguaçu. Anais do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia – 2011, Foz do Iguaçu, PR – 2 a 6 de outubro de 2011. CASSANTI, A. C., CASSANTI, A.C., ARAÚJO, E. E., URSI, S. Microbiologia democrática: estratégias de ensino-aprendizagem e formação de professores. 2008. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/ enciclop/2008/microbiologia1.pdf>. Acessado em: 24 nov. 2011. GENTILE, P. Como ensinar microbiologia, com ou sem laboratório. Nova Escola, Edição 183, Jun. 2005. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/comoensinar-microbiologia -426117.shtml>. Acessado em: 07 nov. 2009.