/ Nefropatias 17 Álvaro Naglb Atallah Gluseplna laqulnto Vlainlch Neste capítulo abordamos 'inicialmente a função renal normal na gestação não complicada, Em seguida analisamos as seguintes circunstâncias na gravidez: glomerulonefrite aguda e crônica, síndrome nefrótica, falência renal aguda, indicações de biópsia renal, gravidez em pacientes dialíticas e gravidez após transplante renal. FUNÇÃO RENAL NA GEST AÇÃO Durante a gestação normal ocorrem várias modificações hemodinâmicas, hormonais eda função renal, que merecem ser reIem bradas, Verifica-seque o ritmo de filtração glomerular aumenta cerca de 50C1'(l e o fluxo plasmático renal se eleva de 30% a SO%, ao mesmo tempo que o débito cardíaco cresce progressivamente até o final da gestação. Do ponto de vista anatõmico os rins aumentam discretamente de tamanho e ocorre evidente dilata'ção pieloureteral, que persiste até cerca de dois meses após o parto. Quanto à avaliação da função renal deve-se ressaltar que o ritmo de filtração glomerular no terceiro trimestre da gravidez depende da posição adotada pela ges tan te. Verifica-se que o ritmo de filtração glomerular e o fluxo plasmático renal são cerca de 100% maiores no decúbito lateral esquerdo, quando comparado com o dorsal. Esse fato deve decorrer da compressão da veia cava inferior, pela massa uterina, na vigência do decúbito dorsal. Há, então, diminuição do débito cardíaco e do t1uxo plasmático renal. Verifica-se ainda que, tanto em gestantes normais como naquelas com pré-eclâmpsia, o decúbito lateral esquerdo aumenta o ritmo de til tração glomerular, a excreção urinária de sódio e, nas hipertensas, diminui a resistência vascular periférica. Esses conhecimentos têm importância propedêutica e terapêutica. Como resultado do aumento da fil tração glomerular na gestação, os níveis séricos da creatinina e do ácido úrico caem em relação à mulher não-grávida. EÍn gestantes normais verificase médias de creatinina sérica em tomo de 0,6mg%. Dessa forma um resultado de creatinina sérica em tomo de I ,2mg%,jú significa perda da função renal em gestante de cerca de 50%; níveis de I,Rmg% representam perda em tomo de 70% do RFG. A gestação pode facilitar o surgimento de complicações que acometem a função renal, como, por exemplo, a pré-eclâmpsia, a insuficiência renal aguda isquêmica e a necrose cortical, assim como facilitar a ocorrência de infecções e pielonefrites agudas. Por outro lado, uefropatias preexistentes ou intercorrentes podem afetar a evolução da gravidez, como no caso das glomerulonefrites crônicas, nefroparias crônicas terminais, rins policísticos etc. Em estudos retrospectivos foi verificado-que a gestação dificilmente evolui com sucesso em gestantes com níveis de uréia plasmática acima de 60mg%, inferindo-se que o ambiente urêmico é incompatível com o desenvolvimento fetaI. Atualmente entende-se que quando há uma nefropatia de base, e os níveis séricos da creatinina são inferiores a 1,5mg% e a pressão arterial é bem controlada, o prognóstico da gestação é favorável. Quando os níveis série os da creatinina são maiores que 1,5mg% o prognóstico não é mo bom, sendo ainda pior se houver hipertensão grave ou préeclâmpsia associada. Quando a creatinina sérica está acima de 3,Omg%, em geral a paciente não engravida e, quando a gestação ocorre, há necessidade de controle rigoroso da pressão arterial e tratamento dialítico. Em certas circunstâncias há perda abrupta da função renal durante a gestação, como, por exemplo, na calculose com infecção, elevando-se a creatinina acima de 3,Omg%. Nesses casos, além do tratamento da causa básica, há necessidade de tratamento dialí143 ·, tico, até que a função renal melhore e a creatinina c.ua. Katz e Liudheimer (I nO) relataram a evolução de J 21 gestações em RI} pacientes com netropauas, porém com creatinina inferior a J ,4mgl}(,. Encontrar.un J I perdas de conceptos, sendo cinco intra-uterinas e seis no período neonatal. Noventa e um por cento dos conceptos sobreviveram. Embora a função renal nesse tipo de pacientes possa piorar em algumas, tal fato não altera a história natural da doença. Os referidos autores sugerem que a gravidez não deve ser totalmente desaconselhada em nefropatas quando a creatinina é inferior a J ,5mg%. Existem controvérsias quanto evolução da gravidez nos casos em que a nefropatia de base é a glnmerulnnet'rite memhranoprnliferativa, a glomerulopatia por IgA ou a nefropatia do refluxo. Kincaid S mi III e Farley (I Yi<7) relataram piora ela nefropatia por IgA durante a gestação. enquanto Surian (I9X4), Ahe ( I YX5)e Jungerx (J 9i<7) consideruram a evoluç:\O satisL\tl'iria. Nos casos de Iúpus eritematoso sístêmico discure-se se a gestação exacerba ou não a doença. As evidências mais convincentes sugerem que aquelas pacientes que engravidam após período ele remissão de pelo menos seis meses de atividade lúpica têm melhor prognóstico, ou seja, menor probabilidade ele exacerbação da doença. A maioria dos autores aumenta a dose dos corticosteróides no pós-parto imediato. É importante, nesses casos, pesquisar a presença de anücoagulante lúpico, que é anticorpo antitosfolípide. Este, por estar presente na parede plaquetária, sofre lesão pelo anticorpo, ocorrendo agregação plaquetária e rnfarto placentário, com conseqüente perda fetal. O an ticorpo pode ser detectado também por teste anticardiolipina. Quando o teste é positivo o uso de aspirina em doses baixas (entre 50 e IOOmg/dia) pode aumentar as possihilidades ele gestação bem-sucedida. à (;U>MERULONEFRITE AGUDA Como a maioria elas glomerulopatias, a glomerulonefrite aguda pode resultar de uma ou várias causas, incl uindo-se entre elas as infecciosas, doenças sistêmicas e desordem primária do glomérulo. Todas são caracterizadas por aumento abrupto da proteinúriae hematúria, acompanhadas por variados graus de insuficiência renal, levando a retenção ele sal e água. causando edema, hipertensão e congestão circulatória. A glomerulouefrite pós-estreptocócica é o protótipo dessa síndrome. A glomerulonefrite pós-estreptocócica raramente se desenvolve durante a gestação. O diagnóstico no decurso da gravidez é feito pela história da i nfecção estreptocócica da faringe ou cutânea, 144 antecedendo II quadro renal, a presença ele hematúria e o aumento dos títulos de anuestreptolisina. É doença de grande risco após a segunda metaele da gestação, quando pode ser confundida com pré-eclâmpsia. A biópsia renal pode ser útil em I<Ú circunstância, uma vez que pode excluir préeclâmpsia e identificar o tipo de doença glomerular. De acordo com a literatura o futuro obstétrico, assim como o matemo, certamente fica comprometido nos casos de glomerulonefrite rapidamente progressiva. De forma geral a glomerulonefrite difusa aguda não compromete a evolução da gravidez, desde que haja controle hidrossalino e pressórico. No entanto, pode ocorrer abortamento, PéLf(O prematuro e óbito fetal. Segundo Lindheirner e Katz (11..)77) o curso natural da doença não se altera nas pacientes com GNDA curada. O tratamento, em geral, não elifere daquele em mulher não-grávida. Deve-se restringir o sal e os líquidos. Para a infecção estreptocócica administrase penicilina G benzatina, na dose ele 1.200JX)OUI, por via 1M, por dois dias consecutivos. Diuréticos terão indicação na dependência do grau de edema, dos níveis pressóricos e de insuficiência cardíaca. Como a hipertensão é volumedependente, o uso ele diuréticos tem precedência sobre vasodilatadores, embora estes últimos não sejam contra-indicados. O tratamento obstétrico fica na dependência das eventuais complicações próprias da gravidez. GLOMERULONEFRITE CRÔNICA Esta doença é caracterizada por progressiva destruição dos rins, num período de tempo de [mos ou décadas, produzindo diminuição da função renal. Em muitos casos a causa é desconhecida, mas a doença pode aelvir após alguns anos de glomerulonefrite aguda ou ele síndrome nefrótica, Microscopicameute a lesão renal pode ser proliferati va, esclerótica ou membranosa. A glornerutonetrite crônica pode ser detectada de várias formas, Algumas pacientes podem permanecer assintomáticas por muitos N10S e a proteinúria ou o sedimento urinário anormal, ou ambos, podem ser indicativos da doença. Pode ser descoberta durante a investigação ele uma hipertensão crônica ou pode ser a primeira manifestação de síndrome nefrótica. Por vezes exacerba-se e manifesta-se como glomerulonefrite aguda. A falência renal pode ser sua primeira manifestação, assim como pode ser diagnosticada durante a investigação de síndrome hipertensiva na gestação. SÍNDROME NEFR.)TICA A síudrome nefrótica ou netrose é desordem renal cuja etiologia é variada. Caracteriza-se por proteinúria excessiva (3 e 4g por dia), hipoalbuminemia, hiperlipidemia e edema generalizado. A maioria das pacientes apresenta lesão renal microscópica e, em muitas, tem-se acompanhado algumas evidências de disfunção renal. Os efeitos na barreira da parede capilar glomerular, com excessiva perda das proteínas plasmáticas, podem advir de causa imuuoiógica. injúria tóxica, doença metabólica. doença vascular e, comumente, de lesão glomerular primária. As formas não-prohterativas, como a lesão membranosa, as hialinosas segmentar e focal e a!>lesões mínimas, levam li síndrome nefrótica. Forma rara de nefrose é a síndrome nefrótica transitória da gravidez, em que a proteinúria desenvol ve-se durante a gestação, desaparece após O parto e recidiva em gestações subseqüentes (Haslam e Wallace, 1975). O tratamento e o prognóstico materuo-fetal dependem da causa lia doença e do grau de insuficiência renal. Em revisão da literatura, Weisman e cols. ( 1973) observaram que as pacientes que não se tornaram hipertensas e não apresentavam insuficiência renal grave geralmente tiveram sucesso na gravidez, o mesmo não acontecendo com os CL<;OS opostos. FALÊNCIA RENAL AGUDA Muitas são as oportunidades em que o médico fica frente a gestante, parturiente ou puérpera com quadro clínico de oligúria ou anúria, Antes de mais nada cumpre fazer diagnóstico diferencial entre oligúria pré-renal e renal, para em seguida fazer estudo sobre ,L\ causas da complicação renal, isto é, necrose tuhular aguda e necrose cortical renal. Para o referido diagnóstico diferencial temos testes bioquímicos e terapêuticos. Os primeiros são expostos na Tabela 17.1. Tabela 17.1 Testes Rioquímicos para Diagnóstico Diferencial entre Oligúria Pré-Renal e Renal Parãmet Pré-renal Renal Densidade urinaria > L015 <1..015 TOS Sridio urinário (mEq/l) < 20 > 50 V/C (ou uréia) > 50 <10 p osmolalidade >2 = LI (! = conccnt ração uriná ria F' = concentração plasmática C = c rcatinina Para o teste terapêutico no puerpério recomendamos a administração de 60ml de manitol a 20%, durante 30 a 90 minutos. podendo-se induzir diurese maior que 50ml/bora dentro de 30 minutos nas pacientes com oligúria por fatores pré-renais. J untamente com o manitol pode-se associar furosemide, na dose de 40mg. Uma vez confirmado o diagnóstico de insuficiência renal, devemos nos preocupar em manter estados geral e metabólico o mais próximo possível dos padrões normais. Necrose Tubular Aguda (NT A) Esta entidade clínica pode ser prevista nos casos de hemorragia profusa (descolamento prematuro da placenta, placenta prévia. ruptura uterina, atonia uteriua no quarto período do parto), pielonetrite. calculose renal, eclâmpsia, choque séptico, abonamente séptico, corioamnionite e uso de diuréucos potentes e vasodilatadores, empregados inadvertidamente, levando a hipotensão arterial prolongada. Na NT A notam-se três períodos, que duram em média de uma a duas semanas. Na primeira fase de oligúria transitória deve-se restringir Na, K e volume hídrico. Na segunda fase, de poliúria, deve-se administrar líquidos, Na, K e Mg. No período de estabilização a conduta deve ser conservadora, dependendo do quadro clínico. A diálise é indicada de acordo com os critérios clínicos, no período de oligúria e durante a fase de poliúria, enquanto a uremia estiver evidente. Em algumas pacientes desenvolve-se NT A parcial e a creatinina estabiliza-se em tomo de 3 a 4mg%, com volume urinário em tomo de 500ml. Nesses casos os diuréticos podem ser fundamentais no tratamento da hi pervolemia, da insuficiência cardíaca e da hiperpotassemia, podendo em alguns CéL<;OS evitar tratamento dialítico. A NTA não é cronicamente progressiva e não se contra-indica nova gestação. Necrose Cortical Renal (NCR) Comparando com a NT A, a necrose bilateral do córtex renal é cada vez mais rara; suas causas, entretanto, são de origem obstétrica, isto é, descolamento prematuro da placenta, placenta prévia, choque séptico e eclâmpsia. O seu desenvolvimento depende da intensidade da coagulação intravascular disseminada. Histologicamente a lesão aparece como resultado de trombose do sistema vascular renal. Clinicamente apresenta-se com anúria e manifestações de uremia. Se a diálise não é instituída leva à morte em duas a três semanas. A diferenciação numa fase inicial com a NT A pode ser feita pelo quadro clínico associado à coa145 gulação intravascular disseminada, sendo o volume urinário nas 24 horas próximo de zero. Na NT A o volume de urina de 24 horas em geral é maior que 100ml. Em geral os néfronsjustamedulares são preservados e, em se mantendo a paciente viva com diálise por alguns meses e com controle hidroeletrolítico rigoroso, enquanto se aguarda possível recuperação parcial dos rins (por hipertrofia dos glornérulos restantes), pode-se proporcionar que a mesma prescinda de tratamento dialítico por alguns iUlOS. O prognóstico depende da extensão da lesão necrótica; em parte dos casos a sobrevida só é possível com diálise crônica ou transplante. INDICAÇÕES PARA BIÓPSIA RENAL Em virtude dos riscos serem, em geral, maiores que os benefícios, são cada vez mais raras as realizações de biópsia renal durante a gestação. No nosso entendimento, apenas quando há perda progressiva da função renal, acompanhada de sinais que sugerem glomerulonefrite, a biópsia está indicada para afastar a glomerulonefrite crescêntica (rapidamente progressiva). Nos demais casos deve-se controlar os níveis pressóricos, manter dieta hipossódica e com proteínas de alto valor biológico (leite, carne. ovo), protelando-se a biópsia para período após o parto. GESTAÇÃO EM PACIENTE TRA T AMENTO DIALÍTICO COM CRÔNICO Embora as pacientes com insuficiência renal terminal raramente ovulem, não é infreqüente a ocorrência de gestação em mulheres em tratamento dialíuco, na medida em que esse tipo de tratamento vem se expandindo. Para tais pacientes recomendamos as seguintes condutas: I. Hemodiálise com banho de bicarbonato de sódio (para prevenção de hipotensão arterial) cinco vezes por semana. Todo esforço deve ser feito para prevenir hipotensão durante a hemodiálise. Nos casos específicos a diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPO) pode ser manüda até a 20<1semana da gestação. 2. Controle rigoroso dos níveis de pressão arterial, com adequação do peso. Nos casos refratários, tentar manter pressão normal com alfa-metildopa, em doses que variam de 500 a 2.000mg por dia. 3. Usar eritropoietina, com o objetivo de manter a hemoglobina materna entre 10 e Ilg%. 4. Usar aspirina em baixa dose. A literatura carece ainda de estudos randomizados a esse respeito, ficando o uso a critério médico. Teoricamente o medicamento proporcionaria prolongar a gestação 146 e reduzir a ocorrência de doença hipertensiva específica da gravidez. Antes da administração da aspirina é essencial a realização de ultra-sonografia obstétrica, para que se evitem riscos de sangramentos nos casos de placenta prévia. Do ponto de vista teórico o uso de aspirina logo após a 1211semana da gestação poderia facilitar o desenvolvimento e a implantação placentários. Administrada após a 30<1 semana. porém, provavelmente aumenta o risco de sangramento nos casos em que venha a ocorrer descolamento prematuro da placenta. De qualquer maneira, o uso dos banhos de bicarbonato de sódio, associado à eritropoietina e à intensificação do tratamento dialítico, aumentam certamente as probabilidades de sucesso na gestação de paciente urêmica, PERFIL DA NEFROPATA RISCO GEST ACIONAL DE MENOR A paciente nefropata cuja gestação tem as melhores probabilidades prognósticas é aquela cuja nefropatia é intersticial (melhor que a glomerular), pressão arterial normal ou de fácil controle, nível sérico de creatinina inferior a 1,5mg% e exame de fundo de olho sem evidências de espasmos arteriolares ou cruzamentos patológicos. A abordagem desses casos é sempre multidisciplinar, incluindo obstetra, nefrologista e neonatologista experientes. O acompanhamento pré-natal, o parto e o atendimento neonatal devem ser realizados em centro terciário de assistência. GRA VIDEZ APÓS TRANSPLANTE RENAL As mulheres em tratamento dialítico por falência renal crônica em geral são inférteis. Sua função endócrina, contudo, volta rapidamente ao normal após transplante renal e, com isso, também a sua fertilidade. Caso haja já no primeiro trimestre da ges tação da transplantada hipertensão acentuada e/ou deterioração da função renal, o abortamento terapêutico deve ser discutido. Nessa fase ocorrem aproximadamente 16% de abortamentos espontâneos e menos de 0,5% de gestações ectópicas (Davison, 1987). Também se tem descrito casos de mola bidatifonne com maior probabilidade de transformação maligna, talvez devido ao uso de drogas imunossupressoras. Aproximadamente 40% das gestações, entretan to , ultrapassam o primeiro trimestre e cerca de 90% destas evoluem com sucesso relativo. A incidência de prernaturidade é elevada (45% a 60%), devendo-se a ruptura prematura das membranas ou parto prematuro idiopático. Deve-se manter as taxas de creatinina plasmática abaixo de 2mg/dl (se possível menos de I .Smg/dl) e de uréia abaixo de JOOmg. A proteinúria ocorre em cerca de 40% das pacientes durante o terceiro trimestre da gestação e desaparece no pôsparto: só é significativamente grave se for acompanhada de hipertensão. Episódios de rejeição podem ocorrer em cerca de 9'7r, das pacientes e são mais freqüentes no primeiro trimestre da gravidez. Talvez seja isto benetfcio às transplantadas, mil', é entretanto assunto controverso. O estado imunológico próprio da gestação beneficia a não-rejeição, que só será problema grave quando adquire forma subclfnica, porém progressiva, atingindo o período puerperal. Deve ser suspeitada quando surgir deterioração da função renal ou oligúria. Difícil é distingui-Ia da glomerulopatia recorrente e da pré-eclâmpsia, A ultra-souografia pode mostrar alguma alteração na ecogenicidade do parêuquima renal. Pode-se real izar hiópsia, encontrando-se aIterações sugesti vas de rejeição. Incidência de pré-eclâmpsia em pacientes transplantadas é de aproximadamente 3()l1'n; rapidamente evolui para eclâmpsia. Durante o pré-natal o obstetra deve estar atento para intercorrências como anemia e suscetibilidade a infecções. A incidência de infecção do trato urinário pode chegar a 40% e a evolução com pielonefrite pode levar a insuficiência renal. Também se nota maior incidência de infecção por citomegalovírus e herpes simples. Desordens gastríntestinaís, como esofagite e dispepsia são sintomas comuns. A corticoterapia imunossupressora pode levar a ulcerações gastrintestinais e malformações tetais. Ao nosso ver as consultas pré-uatais devem ser realizadas a cada duas semanas, antes da 32ª semana da gestação, e posteriormente semanalmente, com controle laboratorial (hemograma completo com contagem das plaquetas, creatinina, Na, K, provas de função hepática, proteinúria de 24 horas, urocultura e sorologia para círomegalovírus) a cada seis semanas. A terapia imuuossupressora em geral é mantida e ajustada de acordo com a contagem de Ieucócitos e plaquetas. A azatioprina induz à toxicidade hepática, que em geral responde bem à redução da dose. Para o lado tetal pode ocorrer prematuridade e a incidência de crescimento intra-uterino retardado é de aproximadamente 20% (variando na literatura entre X% e 45%). Tais complicações não estão necessariamente relacionadas com doenças vasculares ou hipertensão maternas (Pirsone e cols., 1985). A teratogeni- cidade equivale a doses maiores que ómg/kg/dia, sendo que a usada é menor que 2mg!kg/dia. A ciclosporina é embriotóxica e fetotóxica em animais, quando administrada em doses duas e cinco vezes maiores que a humana. Alguns fetos podem apresentar atrofia do timo, hipoplasia da medula, redução de IgM e IgG, septicemia, aberrações cromossômicas, redução de lin fóci tos, hipoglicemia e insuficiência adrenocortical. nnu.roc RAFIA 1. Abe G et al. lnfluence of antecedent renal disease in pregnancy. Am. J.Ob.<tel. Gynec. 15:'1:101. 19l15. 2. Alexander EA et al. Renal hemodynamics and volume homeostasix during pregnancy. Rat. Kidn. Inter. Ili: 173. Il)RO. 3. Atallah AN. Insuficiência renal e gestaç.'io. In: Atualização terapêutica. Artes Médicas. São Paulo. I c)93. 4. Cararach II et al. Pregnancy after renal transplnntation: 25 years experience in Spain. Br. J. Obstei. Gynaec. IO():II2. I\)l!3. 5. Cox SM et al. Acuie focal pyelonephritis cornplicating pregnancy. Obstei. Gynec. 71:) io. I c)8R. li. Cox SM & Cunningharn FCi. I.Ilood volume chauges during pregnaucy. 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