Mini-implantes ortodônticos: protocolo para higienização e manutenção da saúde peri-implantar Orthodontic mini-implants: protocol for cleaning and maintenance health peri-implant Matheus Melo Pithon1 Resumo O objetivo do presente artigo foi elaborar um protocolo para higienização de mini-implantes ortodônticos, possibilitando com isso, a manutenção da saúde na região peri-implantar e por conseguinte, estabilidade secundária desses dispositivos. Unitermos: mini-implantes; ancoragem; ortodontia. Abstract The purpose of this article was preparing a protocol for cleaning of orthodontic mini-implants, enabling with this, health maintenance peri-implant in the region and therefore stability of these secondary devices. Keywords: mini-screws; anchorage; orthodontics. 1. Especialista em Ortodontia pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL); Mestre em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 12 Volume 02 - Número 04 - Dezembro/2007 INTRODUÇÃO O sucesso da utilização de mini-implantes ortodônticos está diretamente relacionado com o controle do biofilme na região peri-implantar. Já está bem estabelecido na literatura que o fator de sucesso durante a técnica de inserção é a estabilidade primária conseguida na ocasião da inserção1. Após esse período inicial de estabilidade o mini-implante deverá mantê-la para que possa servir com um agente estável de ancoragem. Para isso é necessário que possua estabilidade secundária ou tardia2. Um dos fatores que propiciam a obtenção de estabilidade secundária é uma correta higiene da região peri-implantar, evitando-se dessa forma ocorrência de gengivite ou mucosite peri-implantar3 (Figura 1). A inflamação persistente dos tecidos circundantes aos mini-implantes conduz à perda de estabilidade e, conseqüentemente, mobilidade dos dispositivos de ancoragem2,4. Diante deste fato, um protocolo de higienização deverá ser seguido, reduzindo ou mesmo evitando os casos de insucesso na manutenção dos mini-implantes5,6. O objetivo do presente artigo é discorrer sobre a importância de uma correta higiene na região peri-implantar e a elaboração de um protocolo de higienização que deverá ser conhecido pelo cirurgião-dentista que o irá transmitir a seus pacientes. PROTOCOLO PARA HIGIENE PERI-IMPLANTAR Na literatura é relatado uma diversidade de protocolos para controle da saúde peri-implantar, entretanto existe um consenso entre esses, que é a utilização de géis ou soluções de gluconato de clorexidina a 0,12%2,4,7, como agente de limpeza dessa região. A clorexidina desponta como solução antiséptica de eleição para prevenir a mucosite-perimplantar7,8. Baseado nos achados da literatura, o protocolo a ser utilizado quando da aplicação de mini-implantes ortodônticos é: Primeira semana pós-instalação dos mini-implantes; cuidado adicional deverá ser tomado com a higienização. Cuidado esse que consiste em realizar bochechos diários de solução de gluconato de clorexidina a 0,12% (Periogard, ColgatePalmolive Brasil) (Figura 2). Esse procedimento deverá ser realizado apenas na primeira semana evitando-se dessa forma efeitos colaterais indesejáveis decorrentes da utilização dessa solução por tempo prolongado (diminuição do paladar e escurecimento dos dentes)9. A partir da segunda semana o bochecho com solução de gluconato de clorexidina a 0,12% deverá ser suspenso dando lugar a bochechos com colutório anti-séptico à base de triclosan 0,03% (Plax, Colgate-Palmolive Brasil) durante 30 segundos, 3 vezes ao dia, durante todo o período do tratamento. Juntamente com os bochechos deverá ser realizada a higienização da cabeça do mini-implante com escova dental macia embebida na solução de gluconato de clorexidina a Figura 01. Gengivite peri-implantar em paciente com higienização deficiente. Figura 02. Limpeza da região peri-implantar com escova dental infantil macia embebida em solução de gluconato de clorexidina a 0,12%. Figura 03. Solução de gluconato de clorexidina sendo dispensada sobre as cerdas da escova dental com auxílio de conta-gotas. INNOVATIONS IMPLANT JOURNAL - BIOMATERIALS AND ESTHETICS 13 0,12% (Periogard, Colgate-Palmolive Brasil). Essa limpeza deverá ser realizada durante todo período que o miniimplante esteja na cavidade bucal. Uma sugestão válida é a entrega por parte do profissional da solução de clorexidina para higienização do mini-implante. O cirurgião-dentista deverá comprar uma quantidade maior de clorexidina e essa deverá ser fracionada em recipientes menores contendo conta-gotas. O recipiente deve ser etiquetado com o nome do paciente e as orientações quanto ao uso da solução, evitando-se com isso esquecimento por parte do paciente em comprar a solução e das orientações. O conta-gotas servirá para dosar a quantidade da solução de gluconato de clorexidina a ser depositado na escova dental para higiene do mini-implante (Figura 3). Orientações ao paciente Instruções de quando e como higienizar deverá ser realizada em consulta prévia ao ato cirúrgico, visto que, apesar de ser um procedimento simples, a palavra cirurgia leva desconforto ao paciente, fazendo com que o mesmo não preste atenção às orientações no dia da instalação. O paciente deverá ser orientado a escovar a cabeça do miniimplante com uma pequena escova infantil, com cerdas macias embebida em gel ou solução de gluconato de clorexidina a 0,12% 2x ao dia por cerca de 20 segundos. A escolha de escova infantil deve-se ao fato que, por ser de tamanho reduzido, se adeque as diversas regiões que por ventura o mini-implante esteja inserido (Figura 5). Já a escolha de cerdas macias se deve à necessidade de se manter a integridade da área recém operada. Esse procedimento deverá ser feito por todo o período em que o mini-implante estiver inserido na cavidade bucal. Obs.: Um recurso importante e válido para orientação da higienização pré-cirurgica é a utilização de um manequim Ortodôntico, o qual necessitaria da inserção de um miniimplante da mesma forma que será inserido na boca, dessa forma o paciente poderá visualizar tridimensionalmente o que será realizado em sua própria boca além de treinar higienização no manequim. As consultas para um controle clínico da saúde periimplantar deverão ser feitas semanalmente no primeiro mês, e mensalmente a partir do segundo mês, podendo ser realizadas na consulta de manutenção do aparelho ortodôntico, otimizando o tempo do ortodontista e do paciente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Seguindo as orientações quanto à higienização, os miniimplantes terão estabilidade suficiente para aplicação de carga ortodôntica necessária para o bom andamento do tratamento. 14 Volume 02 - Número 04 - Dezembro/2007 Endereço para correspondência: Matheus Melo Pithon Rua México 78, Recreio - Vitória da Conquista - Bahia Tel: (0xx77) 3084-2020/ 8805-2750 CEP: 45020-390 e-mail: [email protected] Referências Bibliográficas 1. Huja SS, Litsky AS, Beck FM, Johnson KA, Larsen PE. Pull-out strength of monocortical screws placed in the maxillae and mandibles of dogs. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2005;127:307-313. 2. Araújo TM, Nascimento MHA, Bezerra F, Sobral MC. 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