temperos da vida

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O legado de Platão e Plotino
Jorge N. N. Schemes Teólogo e Pedagogo,
Pós-graduado em interdisiplianridade
O
autor pretende com esta pesquisa analisar o pensamento filosófico de
Platão e Plotino, considerando os seguintes aspectos: o período e o contexto
social; a argumentação filosófica e teológica; quais as influências destes
pensamentos
na
história;
interpretação
conclusiva.
Considerando
a
complexidade dos pensamentos de Platão e Plotino, o autor se limitará a uma
síntese das principais idéias destes filósofos.
Platão:
Seu nome era Arístocles, dito Platão, viveu em Atenas – 427/428 – 347/348
a.C., filósofo heleno, discípulo de Sócrates, mestre de Aristóteles e fundador da
Academia. Considerado por muitos historiadores e literários como o melhor
escritor da humanidade. Criador do gênero “diálogo”, em prosa, e do “mimo”, em
poesia. Em sua vasta obra discute-se praticamente todos os temas filosóficos.
Autor da República, Apologia de Sócrates, Carmides, As Leis e Timeu.
Platão é um nome que, segundo alguns estudiosos, derivou de seu vigor
físico e da largueza de seus ombros (Platos significa largueza). Ele era filho de
uma abastada família, aparentada com famosos políticos importantes. Por essa
razão muitos estudiosos acreditam que sua primeira grande paixão temática
tenha sido a política.
Platão foi discípulo de Sócrates, e quando tinha cerca de 29 anos seu
mestre foi condenado a beber o cálice de cicuta, tal processo foi relatado em sua
obra Apologia de Sócrates.Também escreveu cerca de 30 Diálogos que têm
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Sócrates como protagonista, em que Platão tenta reproduzir a magia do diálogo
socrático de perguntas e respostas.
Este filósofo foi o responsável pela formulação de uma nova ciência, ou,
para ser mais exato, de uma nova maneira de pensar e perceber o mundo. O
ponto fundamental foi a descoberta de uma realidade causal supra-sensível, não
material. Para chegar a tal resultado, percorreu primeiramente a Filosofia
naturalista, e posteriormente orientou-se pela metafísica de uma Filosofia
espiritualista do intangível. Só após esta orientação metafísica é que se começou
a falar em material e espiritual. A ordem explícita é uma conseqüência de uma
ordem implícita, superior e invisível. O verdadeiro ser é constituído pela realidade
inteligente e inteligível que lhe é transcendente. Ele próprio nos dá uma idéia
magnífica sobre a questão da ordem implícita e explícita no seu famoso relato
sobre o “Mito da Caverna” registrado em sua obra A República.
Depois da morte de Sócrates, Platão deu início a suas viagens, fez um vasto
giro pelo mundo para se instruir (390-388). Visitou o Egito, Itália, Sicília e outros
lugares como Judéia e Índia, na opinião de alguns especuladores. Tais
experiências lhe colocaram em contato com diferentes formas de pensamentos.
Ao voltar a Atenas, por volta do ano 387 a.C., fundou a Academia. Foi nesse
retorno que ele se dedicou exclusivamente ao pensamento metafísico. Para
Platão, o mundo ideal, racional, transcende o mundo empírico, material. Sua
escola de Filosofia ensinava também matemática e ginástica. Ele valorizava
muito a matemática por dar a capacidade de raciocínio abstrato. Na entrada de
sua Academia havia a frase: "Não permitam a entrada de quem não saiba
geometria”.
Para Platão, todas as idéias existem num mundo separado (o mundo das
idéias), este mundo é o centro e a culminância do sistema metafísico elaborado
por ele. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo e as almas, e a
racionalidade aparece na matéria. O divino platônico está representado no
mundo das idéias e especialmente pela idéia do bem. Esta idéia é a realidade
suprema da qual dependem todas as outras idéias, valores éticos, lógicos e
estéticos, que se manifestam no mundo sensível. A alma humana é considerada
como um ser eterno (coeterno às idéias, ao demiurgo e à matéria), de natureza
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espiritual, inteligível, caída no mundo material como que por uma espécie de
queda original ou um mal radical. Por isso, a alma humana deve libertar-se do
corpo. Essa separação começa em vida por meio da Filosofia e se realiza na
morte quando a alma de fato separa-se do corpo. Para ele, a união da alma com
o corpo é extrínseca, há uma negação do não-ser (matéria) e uma afirmação do
ser (mundo das idéias). Isso conduz a uma postura ascética em relação ao corpo
objetivando a libertação da alma.
O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material resulta do ser e
do não-ser, da ordem e da desordem, do bem e do mal, que aparecem no
mundo. Da idéia – ser, verdade, bondade, beleza – depende tudo quanto há de
positivo, de racional na experiência. Da matéria – indeterminada, informe,
mutável, irracional, passiva, espacial – depende tudo que há de negativo na
experiência. Esse é o clássico dualismo grego baseado na concepção platônica.
Plotino:
Filósofo egípcio neoplatônico. Para Plotino o princípio de todas as coisas
era o Uno. Sofreu influências do pensamento persa e platônico. Nasceu em 205
da era cristã, em Licópolis, permanecendo quase toda a juventude em Alexandria
até 243 d.C., quando deixou a cidade para seguir o imperador Jordano em sua
expedição oriental. Após esta experiência, fundou uma escola em Roma (244
d.C.), nos moldes neoplatônico.
O contexto social era que, durante o período helenístico pós-Alexandre e,
posteriormente, no período Imperial Romano, desenvolveram-se várias escolas
de Filosofia. Entre elas se destacam a dos cínicos, a dos estóicos e a dos
epicuristas. Embora sejam escolas com características bem próprias, todas elas
tinham por ponto de partida os ensinamentos de Sócrates e/ou dos présocráticos Demócrito e Heráclito. Mas a mais bela e original das escolas do final
da antigüidade foi inspirada pelo gênio de Platão. Por isso é chamada de
neoplatonismo, um aperfeiçoamento extraordinário do pensamento filosófico
grego. A escola neoplatônica parece ser sempre atual, devido às similaridades
entre a visão e concepção de mundo que emergem de seus pressupostos
filosóficos básicos e a atual visão de mundo que surge da Física moderna, da
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Teoria Geral dos Sistemas e da Psicologia Transpessoal. O personagem mais
importante do movimento neoplatônico foi Plotino.
Plotino foi discípulo de Amônio, que não deixou nada escrito da sua
Filosofia. Amônio cultivou a Filosofia não apenas como um exercício de
inteligência, mas também de vida e de aperfeiçoamento espiritual, buscando uma
percepção direta, de cunho místico, da realidade, ou, da essência da existência.
Após fundar sua escola em Roma, Plotino passou de 224 d.C. a 253 d.C. apenas
ministrando lições, sem nada escrever. Depois desta data passou a escrever
tratados nos quais fixava suas lições. Mais tarde, todos os seus escritos foram
ordenados por seu discípulo Porfírio, que os dividiu em seis grupos de nove
tratados, de onde veio o título Enéadas (em grego, nove se escreve ennea).
Dentre os assuntos abordados nestes tratados estão fenômenos tais como:
a saída da alma do corpo (projeção), a análise do Uno (holos), como e porque
existem um mundo físico e um outro espiritual etc. Plotino tinha um carisma
extraordinário, mesmo quando da sua morte, aos 65 anos, em 270 d.C., suas
últimas palavras foram: "Procurai sempre conjugar o divino que há em vós com o
divino que há no universo". Esse tinha sido o objetivo da escola de Plotino,
ensinar aos homens um modo de entrarem em contato direto com uma realidade
mais abrangente e reunir-se com o divino. Tal pensamento é entendido hoje
como uma experiência direta de cunho transpessoal. A própria Psicologia
moderna acabou sendo influenciada por estas idéias, como, por exemplo, a
Psicologia de Carl Gustav Jung.
Plotino abraçava uma concepção holística do Universo, às vezes Plotino
chamava o Uno de Deus. Na outra extremidade estaria aquilo que ele
denominava de Reino das Sombras, onde apenas uma fração ínfima da luz
divina chegava. As trevas para Plotino não eram, apenas estavam na escuridão,
uma vez que elas não tinham a luz divina. Assim, só Deus é o real, só Ele é. A
matéria seria a ponta final da luz divina, a escuridão, mas mesmo a matéria
possui algo da luz de Deus. Todavia, diferentemente de Platão que é dualista,
Plotino interliga tudo, onde o isto está ligado ao aquilo (como também falava
Buda). Para ele o Universo é uma imensa rede de relações (cosmovisão
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holística). Até mesmo as sombras têm uma tênue parte desta unidade ou
holismo.
Plotino afirmava que em alguns momentos de sua vida experimentara a
vívida sensação de unir ou fundir sua alma com Deus. Essa experiência levou
Abraham Maslow a desenvolver estudos nos quais afirmou que as pessoas mais
saudáveis e carismáticas experimentaram, pelo menos uma vez na vida, uma
espécie de "experiência de pico", onde parece que as divisões convencionais do
intelecto humano parecem perder todo o sentido e a pessoa sente-se plena de
uma paz e de um contato mais íntimo com algo transcendental. Tais experiências
são denominadas, atualmente, de experiências místicas, e são estudadas pela
Psicologia Transpessoal.
Tanto a Filosofia de Platão quanto a Filosofia de Plotino influenciaram e
influenciam profundamente o pensamento e as ciências modernas, a Metafísica,
a própria Física Quântica e a Psicologia, defendida e aplicada por Jung e
Maslow, são alguns exemplos. A influência no pensamento e na Filosofia cristã
também é visível. Até mesmo alguns dogmas e crenças básicas que
fundamentam o cristianismo histórico tradicional foram afetados por tais
pensamentos filosóficos. A Gnose tem suas concepções enriquecidas nestas
fontes filosóficas e os movimentos místicos da Nova Era bebem destes
pensamentos. É impossível afirmar que hoje não estamos sendo influenciados
pelas idéias de Platão e Plotino. Todavia, devemos fazer uma leitura crítica
destes filósofos e descobrir, por nós mesmos, até que ponto seus argumentos
são irrefutáveis e verdadeiros. É evidente que para isso precisaremos de
parâmetros claros, tanto filosóficos quanto espirituais.
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Referências bibliográficas:
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol. I, São Paulo: Ed. Paulus, 1990.
Platão, Coleção Os Pensadores. Nova Cultural: 1988.
PORFÍRIO. Vida de Plotino/Eneadas I-II. Madrid: Editora Gredos, 1996.
GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Companhia das Letras: São Paulo, 1995.
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