1 O CHOQUE CULTURAL “Gerir empresas é como estar situado com a sua equipa de gestão num vale, e estar rodeado por muitas belas e desafiadoras elevadas montanhas. Sendo o objectivo estratégico decidir qual a montanha que vamos subir” – Kurt Wiedenhaupat Qualquer definição pura e simples da gestão tem o inconveniente de não atingir os consensos necessários de todas as pessoas. Como aqui não se pretende de modo nenhum ser-se consensual (muito pelo contrário),a definição de gestão que melhor interiorizei foi a de que “gerir é a melhor utilização dos recursos disponíveis, sempre escassos”. Para se gerir com os olhos postos no futuro é fundamental a construção e a formulação de estratégias i.e. definição das áreas geográficas para competir, posicionamento competitivo e segmentação de mercados sempre em movimento, quantificação da atractibilidade em termos de mercado/segmentos e sinergias. Muitas vezes, gastam-se milhares e milhares de euro em formulações estratégicas “bem” elaboradas, e são um rotundo falhanço na sua implantação. Pois é, desde que não haja uma “visão” partilhada da estratégia formulada pelos elementos primordiais na organização, os objectivos não forem credíveis e possíveis, se não se adaptarem e adequarem ao mercado, as consequências são previsíveis: um falhanço total. Isto não quer dizer que não se possa falhar. Errar e falhar são importantes para inovar. O que importa é de ter vontade de falhar, mas sem grandes custos para a empresa. Tem de se criar um “pipe – line” cheio de milhares de ideias que valham a pena, que com baixo custo e pequena escala, mereçam atenção, e talvez assim valha a pena em apostar uma quantidade considerável de recursos. Por outras palavras, estar sempre disposto a melhorar continuamente. O que é curioso verificar, é que em todas as empresas, se clama “tragam os vossos cérebros para o serviço da empresa”, mas tudo espremidinho a ideia é que atendam os telefones rapidamente, estejam quietinhos nos vossos gabinetes .... parasitem, mas não me maçem. Ninguém pode afirmar que os concorrentes não serão capazes de imitar e copiar a organização das actividades, mas será sempre diferente porque não é fácil transladar de uma organização para outra a cadeia de valor total e, com um dos seus elementos que faz sempre a diferença: os homens. Peter Drucker observou num artigo de uma revista norte-americana, como segue um pequeno extracto: “ Desde há muito tempo – talvez desde os anos 40 ou 50 – nunca houve tantas técnicas de gestão importantes como existem hoje: downsizing, outsourcing, TQM, análise do valor económico (EVA), benchmarking, reengenharia. Todas são instrumentos poderosos. Mas, com excepção do outsourcing e da reengenharia, estes instrumentos são concebidos para, fundamentalmente, fazer-se diferentemente o que já é hoje feito. São instrumentos de “como fazer”. 2 “ Todavia, “onde fazer e o que fazer”, torna-se crescentemente o desafio que a gestão enfrenta, sobretudo o daquelas grandes empresas que, durante muito tempo, desfrutaram longo sucesso. A história é familiar: a empresa que, ainda ontem, era uma super estrela, encontra-se frustrada, estagnando, em dificuldade e, frequentemente, numa crise aparentemente sem solução. Este fenómeno não está, de modo algum, confinado aos EUA. Tornou-se comum no Japão e na Alemanha, na Holanda, em França, na Itália e na Suécia.” Relembro o que Steiner (1979) admitiu num dos seus escritos sobre esta temática : “embora algum desenvolvimento e progesso tenha sido obtido na construção de ferramentas analíticas para identificar e avaliar estratégias, o processo continua a ser puramente uma arte”. Então se a criação de estratégias é uma arte, o que andamos todos a fazer, tentando contornar obstáculos que, parecem, à partida, incontornáveis ? Bom, a verdade é que embora possamos pensar que alguns gestores são artistas, não é bem uma moeda corrente. A verdade, é que para o gestor comum, e que são a grande maioria, a formalização e criação estratégica passa sempre por “muita transpiração e alguma intuição”. Os instrumentos de controlo de gestão não podem ser reduzidos a uma dimensão estritamente financeira na forma quase exclusiva de demonstração dos resultados previsionais e de resultados financeiros através das contabilidades geral e de custos. Todavia, estratégias que não sejam financeiramente exequíveis ou que não produzam rendibilidades adequadas não podem ser reconhecidas como estratégias apropriadas. Esta grande ênfase que se dá hoje a estratégias bem formuladas e controladas tem a ver fundamentalmente com o encurtamento da vida dos produtos que provoca que os custos de Investigação e Desenvolvimento tenham um peso cada vez maior na estrutura de custos e qualquer erro na concepção, desenho e lançamento de um determinado produto e/ou serviço pode pagar-se muito caro. Só com um controlo estratégico eficaz poderemos designar e enumerar as organizações de aprendizagem - (“learning organizations”) na terminologia anglo-saxónica. Até lá são só palavras ..... Definir e medir a realização e/ou modificação dos objectivos Conhecimento rápido do passado Estudo e análise as eventuais mudanças de rumo Análise rápida e selectiva das causas e consequências dos acontecimentos 3 Normalmente tem-se como adquirido que é necessário a construção de Painéis de Bordo para se controlar e acompanhar a performanace da empresa tanto a nível estratégico como táctico e operacional. Embora se concorde com tais pressupostos, nenhum gestor se poderá esquecer que esse acompanhamento não pode ser somente executado no final de cada mês e com datas marcadas, normalmente após o encerramento das contas, que tradicionalmente e na melhor das hipóteses está preparada em meados do mês seguinte. A complexidade, velocidade e ritmo dos negócios actuais não se compadecem com datas mensais e anuais pré-definidas, para se conhecer nessas alturas as Vendas, Custo das Vendas, Resultados Líquidos, cálculo da rendibilidade, análise da estrutura económicofinanceira etc. A alça de inúmeros gestores está cada vez mais alta - a “utopia da performance” - que se poderá definir como o débito da informação relevante em tempo real, orçamentos e planos estratégicos contínuos e a respectiva análise dos desvios. Toda a informação tanto estratégica, como táctica e operacional flui contínua e continuadamente por toda a organização a toda a hora e em qualquer lado. Só assim se constrói e mantém uma empresa ... Um grande choque cultural. Lisboa, 30 de Setembro de 2005 J.M. Baptista Gouveia