II – O QUE É A GESTÃO? O QUE É UMA ORGANIZAÇÃO? A capacidade humana de gerir, de organizar com vista a um fim, é uma característica da espécie humana, que não existe nas outras espécies. Uma organização é uma entidade social, constituída e estruturada voluntariamente e orientada para atingir metas e objectivos bem definidos. Temos organizações sem fins lucrativos e organizações com fins lucrativos – as empresas. As empresas são assim um caso particular de uma organização. Mas qualquer que seja o tipo de organização, a sua gestão deve ser rigorosa. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, não são só as empresas que devem ser bem geridas. Também as organizações sem fins lucrativos o devem ser pois estão a utilizar os recursos que lhe são postos à disposição para atingirem metas e objectivos. Não há preocupação de lucro neste caso, mas sim de responsabilidade social! A gestão é então o processo que visa atingir as metas e os objectivos da organização, de forma eficaz (atingir o objectivo externo à organização) e eficiente (objectivo interno à organização que pretende que o objectivo externo – eficácia - seja atingido com os menores custos e utilizando os menores recursos internos possíveis), através de: 1- planeamento; 2- organização; 3- liderança; 4- controlo dos recursos disponíveis Vejamos então em que consistem essas quatro funções da Gestão: 1- Planeamento envolve a definição das Metas, decisão sobre as tarefas e selecção dos recursos (Humanos, Financeiros, Materiais, Tecnológicos) necessários para atingir as metas/objectivos delineados. 2- Organização, traduz o modo como a empresa planeou a sua actividade. Consiste na atribuição de tarefas, no agrupamento de tarefas em órgãos/departamentos (organigrama), com a afectação de pessoas aos respectivos grupos (preenchimento de organigrama) na delegação de autoridade e responsabilidade, e na distribuição de recursos pela empresa. 3- Liderança, para dirigir, influenciar e motivar os membros da organização por forma a que todos contribuam para que as metas e objectivos delineados sejam atingidos. 4- Controlo: monitorização de actividades e das pessoas afectas a essas actividades, verificação se as metas e objectivos estão a ser atingidos (ou em curso de), fazer as correcções. Tem no fundo a ver com a verificação da concordância ou discordância do que foi realizado em relação ao planeado, ou seja, tem a ver com os desvios (“gaps”) na execução. Ao contrário do que acontece com muitas outras profissões – direito, medicina ou contabilidade – não é preciso um diploma para praticar a gestão. Visto à distância, é fácil pensar que a gestão repousa na economia e na engenharia, mas, no fundo, a gestão incide sobretudo sobre as pessoas. Nos dias de hoje, por maiores que sejam os conhecimentos técnicos sobre a engenharia, e tecnologia ou a economia, não se consegue gerir bem se não se conseguir gerir / liderar pessoas. As organizações e as empresas surgem para fazer o trabalho que cada um de nós isoladamente não conseguiria fazer e só foi possível que essas organizações e empresas funcionassem porque a espécie humana tem a capacidade de gerir e organizar. Assim, foi possível nos termos tornado bens e gerir que optámos por criar organizações que conseguem um leque de objectivos que nenhum de nós conseguiria atingir isoladamente. Em suma, a gestão torna as organizações possíveis; a boa gestão põe-as a funcionar bem. Ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, e sobretudo a partir das primeiras revoluções industriais, a disciplina (ou a arte) de gestão mudou a forma de fazer as coisas, transformou os métodos e as rotinas do trabalho, o que permitiu aumentar incrivelmente a produtividade do nosso trabalho. O verdadeiro saber (ou a arte) da gestão consiste em transformar a complexidade e a especialização em desempenho. A economia mundial está-se a tornar mais global e baseada no conhecimento ao mesmo tempo que o trabalho dentro duma organização tendia a tornar-se mais especializada e complexa. A gestão vem assim permitir liderar com a globalidade do mundo e a especialização e complexidade das tarefas. Sentimos isso na nossa educação: quanto mais formal e especializada ela é, mais necessitamos da outra para trabalharem connosco. É a gestão que permite construir e gerir as organizações que torna produtivo o trabalho especializado feito por cada um. Aqui na gestão, a teoria que vai aprender não lhe fornece uma lista automática e exaustiva das tarefas que tem de desempenhar e a assumir funções de gestão. A teoria e as ferramentas que vai estudar vão ajudá-lo a perceber o sentido das coisas, e ter instrumentos e modelos analíticos que lhe permitem fazer sínteses e análises sistemáticas das questões complexas que vai enfrentar, e perceber o que é essencial e o que é acessório, e superar aquilo que é importante daquilo que não é, e equacionar as questões certas. Tudo isto ajuda mas nada substitui o bom senso, o traquejo e experiência no enfrentar dos problemas. Conheço empresários com formação escolar reduzida mas com bom senso e inteligência e que por isso têm uma visão estratégica clara dos desafios. Precisarão de pois certamente, à medida que as organizações evoluem, de técnicos e profissionais com formação técnica e profissional adequada para os ajudarem na formulação analítica das questões e na implementação das decisões. Mas também conheço gente altamente qualificada, detentora de todos os modelos teóricos e das ferramentas analíticas mas aquém falta um bom senso elementar e que por isso são um perigo para as organizações se as quiserem gerir. O bom senso é fundamental. A técnica e aquilo que vão aprender no IST é muito importante mas nunca esqueçam o bom senso na gestão das empresas e organizações quando bem utilizadas, os conceitos básicos da gestão, que vão aprender nesta cadeira e no vosso curso da LEGI serão certamente muito importantes para no futuro virem a ter funções de gestão, mas o bom senso e a capacidade de gerir/liderar com as pessoas são questões essenciais que irão perceber rapidamente na vossa vida empresarial. Em suma, os gestores têm um problema de identidade. As pessoas sabem ou julgam saber o que faz um engenheiro electrotécnico, um médico, um contabilista ou um informático. Um gestor não terá essa risca fina de trabalho ou de competências, sendo a gestão uma disciplina (ou uma arte) que vai ter que lidar com várias especialidades de informática ao direito, da tecnologia a estrutura dos mercados e ao funcionamento da economia, da psicologia à estatística. Como consequência da globalização da economia e das respectivas considerações geoestratégicas e da crescente importância das pessoas nas organizações, vai-se exigir aos gestores conhecimentos gerais, não só técnicos, mas também nas áreas soft das ciências do comportamento (como a sociologia e a psicologia), em áreas especulativas (como a Filosofia e as Ciências da vida) e nas áreas de relacionamento externo das organizações (relações públicas e diplomacia económica). Por isso, apesar de irem frequentar uma Escola de Engenharia, não poderemos esquecer num Curso de Engenharia e Gestão Industrial as pessoas e os componentes soft da gestão, tantas vezes esquecidos ou com tendência a ser secundarizadas por pessoas como nós engenheiros com elevada formação técnica e tecnológica. BIBLIOGRAFIA “O que é a gestão. Como funciona e porque interessa a todos” Joan Magrette “The Practice of Management” Peter Drucker “On the Profession of Management” Peter Drucker “Win” Jack Welch “Introdução à Gestão” por Mário António Soares Madureira “A Gestão e a evolução das teorias de gestão” Folhas da cadeira horizontal da Gestão – DEG/IST 2006-07