BIOFARMÁCIA Definições: Biofarmácia é o estudo da relação entre as propriedades físico-químicas dos medicamentos e sua biodisponibilidade (VANIALS, 2001). Relação entre a natureza e a intensidade dos efeitos biológicos nos seres vivos e fatores referentes às formas farmacêuticas (ANSEL, 2000). Estudo do modo como as propriedades físico-químicas do fármaco, a forma farmacêutica e a via de administração afetam a velocidade e o grau de absorção dos fármacos. (AULTON, 2005). BIOFARMÁCIA FÁRMACO FORMA FARMACÊUTICA VIA DE ADMINISTRAÇÃO QUANTIDADE E VELOCIDADE FARMACOCINÉTICA Estuda o caminho percorrido pelo medicamento no organismo. Corresponde às fases de absorção, distribuição, biotransformação e excreção das drogas. Através da farmacocinética se consegue estabelecer relações entre a dose e as mudanças de concentração das drogas nos diversos tecidos em função do tempo. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS Fatores importantes para determinação da via de administração de fármacos: - Propriedades do fármaco: natureza química da droga (sal, éster, complexo, cristalina x amorfa); estado físico; tamanho e superfície das partículas da droga; presença de excipientes e coadjuvantes; tipo da forma farmacêutica. - Objetivos terapêuticos: tempo de ação da droga no organismo (início rápido da ação, administração por longo tempo, etc). VIA ENTERAL VIA PARENTERAL OUTRAS ORAL RETAL IV IM SUBLINGUAL SC - INALAÇÃO - INTRANASAL - INTRATECAL / INTRAVENTRICULAR - TÓPICA - TRANSDERMAL VIA ENTERAL VIA ORAL - É a mais comum, porém a mais variável devido à biotransformação de primeira passagem, no intestino ou no fígado, o que limita a eficácia de vários fármacos. A ingestão de fármacos com alimentos pode influenciar a absorção. Via Sublingual – o fármaco é difundido na rede capilar permitindo que entre diretamente na circulação sistêmica, evitando os efeitos de primeira passagem. Via Retal – por esta via a biotransformação dos fármacos pelo fígado é minimizada, não há risco dos fármacos serem destruídos pelas enzimas intestinais ou pelo baixo pH do estômago (assim como a via sublingual) e é a forma de escolha nos casos em que o paciente se encontra vomitando. VIA PARENTERAL Esta via é a de escolha para fármacos que são pouco absorvidos e/ou instáveis no TGI. Assegura o melhor controle sobre a dose real de fármaco administrada ao organismo. Via Intravascular – é a mais comum, evita o TGI e os efeitos de primeira passagem pelo fígado, permite um efeito rápido e controle máximo sobre os níveis circulantes no organismo. Porém, não podem ser retirados com emese, podem introduzir bactérias por meio de contaminação no local da injeção, pode produzir hemólise ou causar reações adversas por liberação muito rápida de concentrações elevadas do fármaco ao plasma e aos tecidos. Via Intramuscular – são soluções aquosas que são absorvidas rapidamente ou preparações especializadas de depósito (suspensões do fármaco em veículo não aquoso como o PEG, por exemplo), que têm absorção lenta: à medida que o veículo se difunde para fora do músculo, o fármaco precipita no local da injeção e se dissolve lentamente fornecendo uma dose sustentada durante um período de tempo estendido. Via Subcutânea – como a IM, requer absorção e é um pouco mais lenta do que a IV. Minimiza os riscos associados a injeção intravascular. OUTRAS VIAS DE ADMINISTRAÇÃO Inalação – utilizada para fármacos que são gases ou aqueles dispersos em um aerossol; por assegurarem a rápida oferta do fármaco através da ampla superfície da membrana mucosa do trato respiratório e do epitélio pulmonar, com efeito rápido, são muito suados com conveniência e eficácia em pacientes com problemas respiratórios (fármaco diretamente no local de ação e efeitos sistêmicos minimizados). Intratecal / intraventricular – fármaco diretamente no líquido cerebroespinal, como a anfotericina B no caso de meningite criptocócica. Tópica – utilizada quando se deseja um efeito localizado do fármaco. Entretanto, pode oscorrer absorção apreciável, resultando em efeitos sistêmicos. Transdermal – proporciona efeitos sistêmicos pela aplicação do fármaco na pele, em geral por meio de um adesivo cutâneo e a velocidade de absorção pode variar consideravelmente dependendo das características físicas da pele no local da aplicação.Utilizado somente para fármacos lipossolúveis. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO ORAL RETAL TÓPICA PARENTERAL RESPIRATÓRIA NASAL OCULAR FORMA FARMACÊUTICA Soluções, Suspensões, Emulsões, Pós, Comprimidos e Cápsulas Supositórios Cremes, Pastas, Loções, Pomadas, Géis, Aerossóis Soluções, Suspensões, Emulsões Aerossóis, Inalações Soluções, Inalações Soluções, Cremes, Pomadas ADMINISTRAÇÃO ORAL Forma Farmacêutica Sólida Dissolução Desagregação Partículas Finas (comprimido, Absorção cápsula, etc) Dissolução Forma Farmacêutica Semi-Sólida Dissolução Fármacos dissolvidos nos líquidos gastrointestinais (emulsão, suspensão, etc) Absorção Forma Farmacêutica Líquida Absorção Fármaco no sangue (soluções) Distribuição Fármaco no local de ação Fatores que afetam a absorção gastrintestinal - Motilidade gastrintestinal: muito alta pode comprometer a absorção dos fármacos. - Fluxo sanguíneo esplâncnico: pode facilitar a absorção quando aumentado (após as refeições) e retardar a absorção de fármacos quando reduzido (nos estados hipovolêmicos, por exemplo). - Tamanho das partículas e formulação farmacêutica: quanto menor o tamanho das partículas, mais rápida será a absorção e dependendo do efeito desejado, pode-se escolher preparações de fórmulas farmacêuticas que retardem a absorção para que se tenha um efeito prolongado (inclui-se partículas de liberação lenta e de liberação rápida, produzindo absorção rápida, porém prolongada). - Fatores físico-químicos Lipossolubilidade x Hidrossolubilidade: fármacos muito hidrofílicos têm dificuldade de atravessar as membranas celulares ricas em lipídeos; por outro lado, fármacos extremamente hidrofóbicos são pouco absorvidos por serem insolúveis nos líquidos aquosos do organismo, não tendo acesso à superfície das células. Ideal: que sejam basicamente hidrofóbicos, mas com alguma solubilidade em soluções aquosas. - Natureza Química da Droga: Sal, Éster, Complexo, Cristalina x Amorfa. Quanto menor o pKa, melhor absorção; maior o pKa, melhor absorção intestinal. Forma amorfa, maiôs solubilidade e menor estabilidade; forma cristalina, menor solubilidade e maior estabilidade. - Carga elétrica da molécula da droga: polaridade, ionização e pH: maior polaridade, menor lipossolubilidade; sais ao serem decompostos pelo suco gástrico libera o ácido medicamentoso que precipita no suco estomacal em partículas extremamente divididas, facilitando a absorção. BIODISPONIBILIDADE DE DROGAS "Biodisponibilidade indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração/tempo na circulação sistêmica ou sua excreção na urina"(Legislação Brasileira, 1988) "Biodisponibilidade indica a velocidade e a extensão pelas quais um fármaco é absorvido, a partir de um produto farmacêutico e torna-se disponível no local de ação". (FDA, 1998) Fatores que alteram a Biodisponibilidade de Medicamentos: Fatores Fisiológicos • Idade; • Presença de patologias associadas • Trato gastrintestinal • pH – idosos têm pH mais baixo; • Tempo de esvaziamento gástrico; • Tipo de dieta; • Viscosidade do conteúdo do TGI; • Secreções e líquidos co-administrados Fatores Físico-químicos: • Natureza química (Solubilidade) • pKa; • Polimorfismo (Forma Estável X Metaestáveis) – podem ocorrer variações na temperatura de cristalização; o fármaco pode existir em mais de uma forma cristalina, sendo que diferentes formas polimórficas têm diferentes propriedades físicas. • Estado físico (Forma Amorfa e Forma Cristalina) - Formas amorfas têm dissolução mais rápida do que a forma cristalina do mesmo fármaco. • Solvatos, hidratos e anidros; • Coeficiente de partição; • Tamanho de partícula (Granulometria); • Quiralidade * Traços de Impurezas – podem inibir a dissolução; modificar as características cristalinas. Fatores relacionados à Forma Farmacêutica • Natureza química • Capacidade de adsorção • Quantidade empregada na formulação; • Fatores tecnológicos • Excipientes • Tipo de processo; tempo e velocidade de agitação; tipo de granulação; temperatura de secagem; força de compressão. Bioequivalência A bioequivalência é um estudo comparativo entre as biodisponibilidades de dois medicamentos que possuem a mesma indicação terapêutica e que são administrados pela mesma via e na mesma dose. Dois medicamentos são considerados bioequivalentes quando NÃO forem constatadas diferenças estatisticamente significativas entre a quantidade absorvida e a velocidade de absorção, através de um estudo comparativo em condições padronizadas. Principais problemas encontrados no estudo da Bioequivalência Evidências Clínicas e Farmacodinâmicas • Falta de eficácia terapêutica; • Índice terapêutico estreito • Evidências de vários efeitos adversos Evidências Físico-Químicas • Baixa solubilidade (< 5 mg/mL em água); • Taxa de dissolução é baixa (< 50% em 30 min.); • Tamanho de partícula do fármaco (crítico na absorção); • Estabilidade; • Polimorfismo, solvatos, complexos; • Alta proporção de excipientes ( 5:1); • Evidências de interação fármaco-excipiente; Evidências Farmacocinéticas • Absorção por transporte especializado ou em pequena porção do trato gastrintestinal; • Grau de absorção menor que 50%; • Taxa de metabolização e excreção mais rápidas do que a taxa de absorção; • Instabilidade do fármaco no trato gastrintestinal • Interações Medicamentosas CLEARANCE X DEPURAÇÃO O clearance é inversamente proporcional à meia-vida (t1/2) e diretamente proporcional ao volume de distribuição (Vd). É o volume teórico de líquido (plasma, em mL, L) do qual a droga é completamente removida ao longo de um período de tempo (min, hora). Cl = taxa de excreção / concentração plasmática média (mL/min) CLEARANCE X DEPURAÇÃO Volume virtual de plasma "que se vê livre" dessa substância, a cada minuto, através dos rins. FARMACOCINÉTICA X SITUAÇÕES ESPECIAIS (MONITORIZAÇÃO DE FÁRMACOS) - GRAVIDEZ X NEONATOS - GERIATRIA - INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA, CARDÍACA E RENAL ÍNDICE TERAPÊUTICO (IT) O índice terapêutico é um algarismo resultante da divisão da dose letal (DL50) pela dose terapêutica ou eficaz (DE50). Ensaios em animais. IT = DL 50 (Dose Letal da metade da população) DE50 (Dose terapêutica ou dose efetiva) Fármacos com Baixo Índice Terapêutico MARGEM DE SEGURANÇA (MS) MS = DL 1 (dose que produz resposta em 1% da população) DE 99 (dose que produz resposta em 99% da população) Ensaios ainda em animais. FAIXA TERAPÊUTICA (FT) FT = CT min (Concentração plasmática tóxica mínima) CE min (Concentração plasmática efetiva mínima) Efeitos Tóxicos em Animais X Homem (Risco – Benefício) = segurança no uso clínico dos fármacos JANELA TERAPÊUTICA (JT) JT = CE máx (Concentração máxima efetiva - não tóxica) CE min (Concentração mínima efetiva) Ensaios em humanos. CE máx. é a dose administrada que “começa a causar efeitos colaterais”. ASSOCIAÇÃO MEDICAMENTOSA Administração simultânea de dois ou mais medicamentos, seja em preparação separada, seja em uma mesma preparação com a finalidade de obter possíveis: - Potenciação de Efeitos Terapêuticos - Diminuição de Efeitos Colaterais - Diminuição de Doses Terapêuticas - Prevenção de Resistência - Obtenção de Ações Múltiplas e Amplas - Proporcionar Maior Comodidade ao Paciente PROBLEMA RELACIONADO A MEDICAMENTO (PRM) É um problema de saúde relacionado ou suspeito de estar relacionado à Farmacoterapia que interfere nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do usuário (BISSON, 2007) PROBLEMAS RELACIONADOS AOS MEDICAMENTOS (PRM) X SOLUÇÃO - Acompanhamento/Seguimento Farmacoterapêutico - Atendimento Farmacêutico - Intervenção Farmacêutica Uso Inadequado de Medicamentos X Falta de Informações X Cumprimento Correto da Terapia Medicamentosa - Conhecimentos Farmacológicos aplicáveis Clinicamente - Farmacêutico X Sucesso Terapêutico - Promoção da Correta Adesão e Seguimento X Acompanhamento Assistencial INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA É uma resposta farmacológica ou clínica à administração de uma combinação de medicamentos, diferente dos efeitos de dois agentes dados individualmente. O resultado final pode aumentar ou diminuir os efeitos de um ou dos dois princípios ativos, ou pode promover o aparecimento de um novo efeito que não ocorreu com um dos princípios ativos sozinho. As interações medicamentosas podem ocorrer entre princípio ativo- princípio ativo, princípio ativoalimentos, princípio ativo-exames laboratoriais e princípio ativo-substâncias químicas. (ANVISA, 2002) INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA X OCORRÊNCIA “O conhecimento dos mecanismos prováveis das interações medicamentosas é a única maneira do profissional de saúde estar bem preparado para analisar novos achados de modo sistemático. Para planejar um regime terapêutico adequado ao paciente, é necessário estar familiarizado com os princípios básicos das interações entre as drogas” (OGA & BASILE, 1994) CLASSIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS – NÍVEL DE SIGNIFICÂNCIA - Tempo de instalação (rápida ou retardada) - Nível de Gravidade (maior, moderada e menor) - Relação a Documentação (estabelecida, provável, suspeita, possível e improvável) CLASSIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS – QUANTO AOS RISCOS ENVOLVIDOS - Nível 1: Potencialmente grave ou que coloca em risco a vida do paciente, cuja ocorrência tem sido bem suspeitada, estabelecida ou provável em estudos controlados. Quase sempre as interações deste nível contra-indicam a associação das drogas envolvidas. - Nível 2: A interação pode causar deterioração do status clínico do paciente; ocorrência suspeitada, estabelecida ou provável em estudos controlados. - Nível 3: a interação causa efeitos menores; ocorrência suspeitada, estabelecida ou provável em estudos controlados. - Nível 4: a interação pode causar efeitos de moderados a mais graves; os dados confirmatórios são muito limitados. - Nível 5: a interação pode causar efeitos de menores a mais graves; a ocorrência é improvável e não está baseada em boa evidencia de alteração clínica.