Reforçamento Positivo: Princípio, Aplicação e Efeitos Desejáveis

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Reforçamento Positivo:
Princípio, Aplicação e
Efeitos Desejáveis
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“A terapia bem-sucedida constrói comportamentos
fortes, removendo reforçadores negativos desnecessários e multiplicando os positivos. Independentem ente de as pessoas que tiveram seus
comportamentos fortalecidos dessa maneira viverem, ou não, mais que as outras, ao menos pode-se
dizer que vivem bem” (Skinner, 1989, pág. 114).
Essa afirmação expressa a importância que o terapeuta
comportamental precisa atribuir às contingências de Reforçamento Positivo ao definir os procedimentos terapêuticos
para promover mudanças no repertório comportamental
de seus clientes.
Neste capítulo, pretende-se apresentar um breve histórico do princípio do Reforçamento Positivo, o processo
comportamental pela descrição de possíveis efeitos das
contingências de Reforçamento Positivo na instalação, no
fortalecimento e na manutenção de repertórios comportamentais e aspectos relevantes do procedimento para sua
aplicação como técnica terapêutica dentro do modelo de
Terapia por Contingências (Guilhardi, 1997).
A partir de experimentos realizados com animais, Skinner
publicou seu primeiro livro, OComportamento dos Organismos,
em 1938, no qual descreveu conceitos que definiramo condido1 Agradeço a Hélio José Guilhardi pelos comentários feitos durante a preparação do texto.
42 ■ Terapia Comportamental
namento operante como um tipo de aprendizagem que se contrapõe ao condicionamento clássico, no qual o comportamento é modificado por suas conseqüências.
Assim, os comportamentos que operam no ambiente geram conseqüências e
são, por sua vez, modificados por elas e denominados comportamentos operantes.
As conseqüências podem alterar o comportamento de diferentes maneiras, estabelecendo relações específicas entre o comportamento emitido e o ambiente que
o controla. Uma das relações observadas é descrita pelo princípio do reforçamento:
“A força (do operante) aumenta se a ocorrência de um operante for acompanhada
da apresentação de um estímulo reforçador” (Skinner, 1938).
Em Bjork (1993) encontra-se uma citação de Skinner justificando a origem da
escolha do termo reforçamento:
“Eu adotei a palavra de Pavlov e sinto que ela tem um a vantagem clara
sobre 'recom p en sa' p o r id en tifica r o efeito d e um a con seqü ên cia do
com portam ento no fortalecim en to do com portam ento, isto é, em tornar
o com portam ento mais provável de ocorrer novamente. A velha idéia de p razer e dor e os termos de Thorndike - \satisfação’e \desconforto'- referem-se a
sentim entos, o que na m inha opinião é um equívoco” (pág. 99).
Keller e Schoenfeld (1973), no clássico Princípios de Psicologia, descrevemhistoricamente a diferenciação dos procedimentos desenvolvidos por Skinner desde
a “lei do efeito” descrita por Thorndike até o princípio do reforçamento e a noção
de comportamento operante.
Em Ciência e Com portam ento Humano, Skinner (1970), afirma: “Os eventos
que se verificam ser reforçadores são de dois tipos. Alguns reforços consistem na
apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa... Esses são denominados reforços positivos. Outros consistem na remoção de alguma coisa... Esses denominam-se reforços negativos. Em ambos os casos, o efeito do reforço é o mesmo: a
probabilidade da resposta será aumentada” (pág. 49).
É importante salientar que, ao lado de termos como operante, os termos reforço, reforçador e reforçamento são identificadores imediatos da proposta
skinneriana que, muitas vezes, é conhecida como Teoria do Reforço.
Para Catania (1999), “o princípio é simples, mas à medida que evoluiu... trouxe
consigo alguns problemas de linguagem lógica” (pág. 90). Ele propôs a terminologia do reforço apresentada resumidamente abaixo:
Princípio do reforço
Reforçador (substantivo)
Reforçador (adjetivo)
Reforço (substantivo)
Reforçar (verbo)
O responder aumenta quando produz reforçadores.
Um estímulo.
Uma propriedade de um estímulo.
Como uma operação - apresentar conseqüências
quando uma resposta ocorre.
Como um processo - o aumento das respostas que
resultam do reforço.
Como uma operação - apresentar conseqüências
quando uma resposta ocorre: as respostas são reforçadas, não organismos*
Como um processo - aumentar o responder mediante a operação de reforço.
Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis * 43
“Esta term inologia ê a d eq u ad a se e som en te se estiverem presentes três
con dições: (1) um a resposta produz algum a conseqüência, (2) a resposta
ocorre com m ais freq ü ên cia do que qu an d o não produz conseqüências e
(3) o aum ento das respostas ocorre porqu e a resposta tem aq u ela con seqü ên cia,} (pág. 90).
Catania (1999) afirma também que “Embora um reforçador seja uma espécie
de estímulo, o reforço não é nem o estímulo, nem a resposta... a operação é efetuada sobre as respostas e, portanto, podemos falar tão somente de respostas reforçadas, não de organismos reforçados” (pág. 90).
O uso adequado dos termos, que descrevem o evento comportamental de
interesse, facilita a previsão e o controle do comportamento quer a relação
estabelecida (comportamento-conseqüência) tenha sido programada para estudos em laboratório, quer tenha sido planejad a em am bientes sociais
estruturados como a situação clínica, ou seja, observada nos ambientes naturais da vida cotidiana.
PRINCIPIO DO REFORÇAMENTO
POSITIVO NA TERAPIA
O princípio do Reforçamento Positivo pode ser considerado o mais fundamental dos princípios básicos que caracterizam a Análise Aplicada do Comportamento em clínica por estar presente em muitas técnicas e procedimentos
comportamentais, como modelagem, modelação, reforçamento diferencial,
para citar as mais comuns.
Está presente desde o início do processo terapêutico na formação do vínculo
entre terapeuta e cliente: “O poder inicial do terapeuta como agente controlador
se origina do fato de que a condição do paciente é aversiva e, portanto, qualquer
promessa de alívio é positivamente reforçadora” (Skinner, 1970, pág. 208).
Para que o terapeuta exerça com sucesso a sua função reforçadora, é importante que ele esteja atento para as variáveis relevantes que atuam na manutenção
da relação face a face com o cliente durante as sessões terapêuticas. Porém, as
histórias de contingências presentes na instalação e na manutenção dos comportamentos-problema que fizeram o cliente buscar ajuda é que devem ser alteradas
para promover a modificação comportamental desejada.
“A qualidade da relação terapeuta-cliente é diretam ente proporcional à com preensão conceituai que o terapeuta tem do seu cliente e d a sua habilitação
instrum ental e pessoal para lidar com as dificuldades trazidas por ele. A
com preensão conceituai perm ite ao terapeuta conhecer a problem ática do
clien te num nível qu e vai alem do expresso p elo p róp rio cliente. Isso
aprofu nda o vínculo” (Guilhardi, 2002, pág. 141).
44 ■ Terapia Comportamental
Levando-se em conta essa afirmação, a partir do princípio do Reforçamento
Positivo seguem algumas considerações sobre relações funcionais observadas
na prática clínica, os procedimentos terapêuticos derivados e os possíveis
correlatos teóricos.
QUANDO 0 REFORÇAMENTO OCORRE
Os critérios que especificam quando uma resposta produzirá reforçadores, quer
sejam programados ou observados, geram padrões comportamentais específicos.
Se uma dada conseqüência seguir todas as ocorrências de uma dada resposta,
esse critério é conhecido como esquema de reforçamento contínuo.
Esse arranjo entre comportamento e ambiente é particularmente possível em
ambientes controlados ou pode ocorrer quando há interesse específico em aumentar a freqüência de uma resposta que está sendo instalada e oferece alto valor
reforçador também para quem reforça.
Assim, na prática clínica, na relação face a face entre terapeuta e cliente, é
desejável que o reforçamento ocorra, em especial, na aquisição de classes de respostas emitidas durante a sessão, favorecendo o fortalecimento do vínculo e reduzindo a probabilidade de contra-controle típico das contingências aversivas.
No entanto, a vantagem do uso do procedimento de reforçamento contínuo é
restrita às condições iniciais de aprendizagem de um comportamento. É importante salientar que os comportamentos tornam-se mais resistentes quando mantidos em esquemas de reforçamento intermitente.
“O reforço de algum as respostas m as não de outras, ch am ad o de reforço intermitente ou parcial, é um a característica geral do com portam ento.(...) O
reforço contínuo ou regular, que é o reforço de cada resposta dentro d a classe
operante, é a exceção m ais do que a regrat} (Catania, 1999, pág. 177).
O esquema de reforçamento intermitente especifica quando uma resposta
será reforçada e quando o reforçador não estará disponível. Nesse caso, observa-se o reforçamento e a extinção, ou seja, não ocorrência do reforço em determinadas ocasiões.
Os esquemas de reforçamento intermitente mais comuns são:
Esquemas de razão:
Determinado número de respostas constantes (FR)
ou variáveis em torno de um valor médio (VR), deve
ocorrer antes que a resposta seja reforçada. O responder no esquema FR gera pausa após reforço seguida
de taxas relativamente altas e constantes e no VR as
pausas são reduzidas ou eliminadas e o responder
mantém-se em taxas altas e constantes.
Os esquemas de reforçamento em razão, geralmente, originam padrões de
comportamento bem estabelecidos. Por exemplo, se o número médio de reforços
nos esquemas de razão variável for favorável ao indivíduo, ou seja, a relação desem-
Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis ■ 45
penho-reforço gerar estados corporais agradáveis, poderá produzir padrões bem
fortalecidos que se manterão por longos períodos.
Esquemas de intervalo:
Determinado tempo mínimo constante (FI) ou variável
em torno de um valor médio (VI) deve transcorrer desde a ultima resposta reforçada para, então, a resposta
emitida ser reforçada. Em geral, o intervalo de tempo é
medido a partir do reforçamento anterior. Nos esquemas de FI, o desempenho típico é de pausa após
reforçador seguida por uma aceleração gradual ou
abrupta, atingindo uma taxa moderada de respostas. O
desempenho em VI gera taxa de respostas relativamente
constante entre os reforços.
O comportamento humano operante produz mais conseqüências nos esquemas de reforçamento em razão que em esquemas de intervalo, no qual um único
desempenho pode ser emitido para liberar o reforço.
Existem vários esquemas de reforçamento mais complexos que combinam critérios temporais e/ou número de desempenhos. Uma descrição detalhada de seus
efeitos sobre o comportamento pode ser encontrada em Catania (1999) ou em
Ferster, Culbertson e Perrot Boren (1982).
Em função da contingência, o comportamento, submetido a cada tipo de esquema em vigor, varia de maneira significativa e característica. Para identificar
o esquema vigente, o terapeuta precisa especificar o desempenho de interesse, o
reforçador que o segue e o mantém e a relação funcional entre eles. Conhecer
o padrão típico do desempenho em cada esquema facilita a tarefa.
Valores atribuídos pelo cliente ao seu próprio comportamento, por exemplo,
dizer que algum desempenho é fácil, sugere reforçamento contínuo, ou difícil,
indica reforçamento intermitente. Ambos oferecem pistas importantes para o levantamento de hipóteses explicativas e, conseqüentemente, para os procedimentos clínicos a serem adotados. O esquema de reforçamento vigente pode ser o
principal determinante para a explicação de uma queixa.
Muitos sentimentos (“estados corporais” produzidos pelas contingências) relatados pelos clientes estão relacionados com mudanças nos esquemas de
Reforçamento Positivo em vigor.
A “perda de confiança” é um sentimento que aparece com freqüência na prática clínica, e pode ser analisado como um estado corporal resultante da diminuição drástica do Reforçamento Positivo produzido anteriorm ente por um
comportamento reforçado continuamente.
Skinner (1974) refere-se à “expectativa frustrada” como uma condição gerada
quando o Reforçamento Positivo costumeiro deixa de ocorrer (extinção). A “saudade” é descrita como a ausência da ocasião apropriada para a emissão do comportamento anteriormente reforçado. A “abulia” (falta de “força de vontade”) é
proveniente de esquemas de razão fixa cuja relação entre resposta e reforço tenha
sido alta demais, tornando-se desfavorável para o organismo que se apresenta
inapto para reiniciar o responder ou seu desempenho ocorre em baixa freqüência
e o indivíduo passa a relatar incapacidade de agir e de tomar decisões.
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Outro efeito que pode ser nocivo gerado por esquemas de reforçamento em
razão é o comportamento de “jogar compulsivo” que se mantém a despeito
da razão variável, altamente desfavorável, entre desempenho e reforço. O desempenho se mantém em taxas altas, mesmo quando o reforçamento não é freqüente.
CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO POSITIVO
Em geral, os clientes buscam ajuda terapêutica em função de contingências
coercitivas presentes em sua vida e das dificuldades para eliminar, escapar ou evitar esses estímulos aversivos que geram sofrimento descritos, muitas vezes, como
respostas emocionais. Desse modo, os sentimentos como medo, ansiedade, culpa e
raiva indicam a presença de contingências aversivas na história de vida passada
e/ou atual do cliente e suas dificuldades para lidar com elas.
As contingências de Reforçamento Positivo, por sua vez, aparecem nas queixas quando estão escassas nas relações do indivíduo com seu ambiente. Aparecem nos relatos de sentimentos de angústia ou depressão, sugerindo diminuição
ou perda de Reforçamento Positivo em processos de punição negativa (perda de
agente reforçador, diminuição dos reforços etc.) ou extinção (comportamentos
que deixam de produzir reforçadores).
E importante salientar que as contingências de Reforçamento Positivo são fundamentais para promover sentimentos de auto-estima e de autoconfiança e facilitar a instalação de repertório de auto-observação, um pré-requisito para tornar
o cliente um agente de sua própria mudança.
Qualquer proposta terapêutica, em especial as embasadas no modelo de Terapia por Contingências (Guilhardi, 1997), precisa conter, entre seus principais
objetivos, procedimentos que façam o cliente identificar contingências de
Reforçamento Positivo operando em suas relações com o seu ambiente e promover para si e para os outros reforçadores positivos genuínos.
IDENTIFICANDO AS CONTINGÊNCIAS
“As pessoas usualm ente procuram a terapêutica m édica ou com portam ental
em fu n ção daquilo que estão sentindo. O m édico m uda o que elas sentem de
m aneiras m édicas; os terapeutas com portam en tais alteram as contingências das quais os sentimentos são fu n ção” (Skinner, 1991, pág. 114).
O cliente, ao procurar a terapia, descreve sua queixa usando os termos instalados pela comunidade verbal presente enquanto vigoravam as contingências das
quais seu comportamento é função.
uDiferentes com unidades geram tipos e quantidades diferentes de au toconhecim ento e diferentes m aneiras de um a pessoa explicar-se a si m esm a e
aos outros” (Skinner, 1974, pág. 186).
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A tarefa inicial do terapeuta é alterar possíveis descrições incompletas ou imprecisas e instalar um novo repertório que gere descrições acuradas das contingências relevantes ao comportamento a ser modificado.
Embora pareça uma questão simples, isso requer muita atenção por tratar-se
de desenvolver um repertório verbal que concorre com outros termos não técnicos,
reforçados pela comunidade social leiga.
IDENTIFICANDO OS REFORÇADORES
“A única m aneira de dizer se um dad o evento é reforçador ou não p ara um
d ad o organismo, sob d ad as condições, é fa z er um teste direto. O bservamos
a freqü ên cia de um a resposta selecionada, depois tornam os um evento a
ela contingente e observam os qualqu er m u dança na freqü ên cia” (Skinner,
1970, pág. 48).
O procedimento sugerido acima, para a classificação de um evento como
reforçador, é possível quando a atuação acontece em ambiente planejado para
o controle das variáveis relevantes. Em geral, são ambientes “de laboratório” onde o
rigor experimental exigido é possível.
Na prática clínica, o terapeuta tem disponível apenas o relato verbal do cliente sobre seus comportamentos-problema, uma pequena parcela das dificuldades,
em geral os déficits comportamentais ou excessos emitidos durante a sessão e,
principalmente, poucos reforçadores positivos, geralmente os eventos disponíveis nos episódios verbais, provenientes do falante e/ou do ouvinte, ou seja,
reforçadores sociais generalizados verbais tipo elogio e aprovação e não verbais
na forma de gestos, atenção, carinho etc.
Para Skinner (1991) “aqu ilo que o cliente fa z na clínica não é a preocupação
básica. O que lá acontece é um a preparação para um m undo que não está
sob o controle do terapeuta. Em vez de arranjar contingências correntes d e
reforçam ento, com o acontece no lar, na escola, no local de trabalho ou no
hospital, os terapeutas dão conselhos. (...) Ele p ode assum ir a form a de um a
ordem (...) ou p od e descrever contingências de reforçam ento(...)” (pág. 111).
Assim, o terapeuta parte do relato do cliente sobre suas interações sociais, ajudando-o a identificar as contingências de reforçamento, os reforçadores positivos
efetivos ou potenciais para o seu próprio comportamento ou para o comportamento de outros relevantes na sua vida.
Existem muitos textos básicos disponíveis na literatura que classificam e descrevem tipos de eventos que podem ter a função de reforçadores positivos.
Martin e Pear (1999) sugerem procedimentos para selecioná-los que são úteis
para os analistas do comportamento que atuam em instituições, nas escolas, na
área esportiva ou em clínica, diretamente com crianças ou orientação de pais.
No entanto, o procedimento mais apropriado é a observação das contingências detalhadamente, buscando as relações funcionais entre o desempenho e os
reforçadores que o mantém.
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Salienta-se que, sempre que for necessário utilizar como reforço um item ou
evento que não esteja disponível no ambiente do cliente, é desejável partir de operações estabelecedoras, considerando os interesses do cliente e não dos agentes
ou das agências controladoras.
Reforçadores sociais generalizados tipo atenção, aprovação, gestos carinhosos, demonstrações de afeto são exemplos relevantes nesse caso.
REFORÇAMENTO ARBITRÁRIO
NATURAL
“O terapeuta do com portam ento pod e usar reforçadores arbitrários ad equ adam ente, com o parte de um a estratégia terapêutica, m as esta estratégia estará condenada, a menos que h aja um plano viável para que os reforçadores
naturais possam substituir os arbitrários e m antenham os novos padrões
de respostas” (Ferster, 1982, pág. 281).
A necessidade de se atentar para a distinção entre arbitrário e natural surge
quando os princípios do comportamento passam a ser aplicados na situação clínica e aparecem as dificuldades para manter os comportamentos instalados na
terapia, fora dela.
Diferentemente da prática clínica, as condições de controle necessárias e os
critérios básicos exigidos para os estudos experimentais permitem, ao experimentador, utilizar reforçadores mais fáceis de manusear no laboratório, sem a
necessidade de considerar se ocorrem em ambiente natural ou não. São chamados reforçadores arbitrários.
O terapeuta deve estar sensível a esta questão e selecionar, pela observação
acurada feita por ele, em conjunto com o cliente, quando possível, reforçadores
que ocorrem em conseqüência do comportamento no próprio ambiente natural.
Agindo assim, terá o acesso aos reforçadores naturais.
Um dos aspectos mais importantes para a seleção de reforçadores naturais
está relacionado à noção de controle que, muitas vezes, é o centro de críticas para
a proposta comportamental. Ferster (1982) argumenta que os reforçadores naturais não dependem da intervenção arbitrária do terapeuta, não beneficiam o
controlador (terapeuta) em detrimento do controlado (cliente). São usados para
beneficiar o controlado, são úteis para manter os comportamentos imediatamente
ou a longo prazo e podem garantir a emissão do comportamento aprendido em
qualquer situação que gere reforçamento natural.
REFORÇAMENTO ACIDENTAL: ESTABELECENDO
RELAÇÕES SUPERSTICIOSAS
"Quando se diz que o reforçamento é contingente à resposta, isso significa
apen as que ele vem logo ap ós a resposta. P ode vir após a resposta em virtude de um a conexão m ecân ica ou devido à m ediação de outro organismo; m as presume-se que o condicionam ento ocorre por causa d a relação
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tem poral em termos d a seqü ên cia e d a p rox im id ad e d a resposta e do
reforçam ento” (Skinner, 1948).
Considerando-se que o fenômeno é temporal, observa-se que qualquer reforçador poderá aumentar a freqüência da resposta que o anteceda, mesmo que ela
não o produza, quer seja um evento determinado por alguma agência controladora,
por uma comunidade social ou apenas algo que ocorra imediatamente após.
O comportamento que resulta desse reforçamento, de tipo acidental, é chamado de comportamento supersticioso. Para Skinner, “no comportamento
operante supersticioso(.. o processo de condicionamento malogrou" (1970, pág.
56). Sugere-se que a imediaticidade foi selecionada como uma vantagem importante para a sobrevivência da espécie, mas, muitas vezes, traz prejuízos importantes para o indivíduo, dificultando a identificação de relações funcionais efetivas.
“Uma pessoa está bem consigo m esm a quando sente um corpo positivamente
reforçado. Os reforçadores positivos dão prazer. Dão prazer m esmo quando
acidentais (feliz, antigamente, significava \sortudo’) ”(Skinner, 1989, pág. 114).
O conceito de comportamento supersticioso, na prática clínica, é de fundamental relevância pois o cliente que descreve seu comportamento levando em
conta as relações supersticiosas, em geral, apresenta um repertório de autoconhecimento pobre, fundamentado em eventos que terá dificuldade em reproduzir no
futuro. Isso pode ser desanimador, levando-o mais freqüentemente a condições
de extinção ou a novas buscas explicativas em condições de privação, que o tornam mais vulnerável para estabelecer outras relações supersticiosas. Além disso,
ele terá dificuldades em estabelecer relações efetivas em seu ambiente social, pois
estará vulnerável aos controles espúrios que não favorecem o seu domínio sobre
o ambiente enquanto agente de sua própria história de vida.
“A terapia é freqüentemente um modo de destruir os efeitos reforçadores de
conseqüências acidentais” (Skinner, 1991, pág. 107). O terapeuta, nesse caso, deve
atuar como uma comunidade social que facilite a descrição de relações entre sentimentos, os comportamentos e o ambiente, quer sejam passadas, presentes ou
futuras, gerando um novo repertório de autoconhecimento e tornando o cliente
mais conhecedor das conseqüências que de fato atuam sobre seus comportamentos.
ALÉM DOS EFEITOS DE FORTALECIMENTO E DE PRAZER
Segundo Skinner o reforçamento tem dois efeitos: “o efeito de prazer e de fortalecimento. Eles ocorrem em diferentes momentos e são sentidos como coisas diferentes. Quando nós sentimos prazer, nós não estamos necessariamente sentindo uma
maior inclinação para agir da mesma forma(...) Por outro lado, quando nós repetimos o comportamento que foi reforçado, nós não sentimos o efeito do prazer que nós
tínhamos sentido no momento em que o reforçamento ocorreu” (1987, pág. 17).
Como o sentimento é o efeito que ocorre imediatamente, o que é sentido é
mais facilmente identificado como efeito do procedimento, do que a tendência
aumentada em se comportar da mesma maneira no futuro.
50 ■ Terapia Comportamental
Além disso, considerando-se novamente a imediaticidade como uma variável
poderosa, ela pode dificultar a identificação das causas “reais” do comportamento a ser analisado. O ambiente social leigo, enquanto comunidade verbal e as práticas terapêuticas mentalistas influenciadas pelo efeito do prazer, tendem a
fortalecer explicações que levam o cliente ä relatar o que sente a partir da observação de estados internos como as possíveis causas do seu comportamento.
O terapeuta, enquanto analista de comportamento, pode funcionar como
facilitador para descrições que diferenciem os dois efeitos, ampliando com isto o
repertório de auto-observação do cliente, ou seja, levando-o a relatar como sentimentos diferentes o estado corporal gerado pelo reforçamento negativo, prazer
do tipo alívio e o estado corporal de prazer típico das contingências de Reforçamento Positivo, como alegria, felicidade ou contentamento. Com isso, ele estará
também aumentando o repertório de autoconhecimento do cliente, em especial
ao ensiná-lo a identificar e descrever o fortalecimento do desempenho que produziu o reforçador, como o aumento da tendência em se comportar da mesma
maneira no futuro, quando condições semelhantes estiverem presentes.
Os dois efeitos do reforçamento podem ocorrer como conseqüência de qualquer comportamento que gere um reforçador, independente da adequacidade do
comportamento que o antecedeu ou do tipo de reforçador produzido.
“O efeito reforçador de um a conseqüência particular pode ter se desenvolvido
sob condições que j á não vigoram. Por exem plo, a m aioria de nós é forte mente reforçada por alimentos salgados ou doces, não porque grandes qu antidades são atualm ente boas para nós, m as porque alim entos salgados e
doces foram escassos na história da espécie" (Skinner; 1991, pág. 105).
A sensibilidade alterada de um organismo para o reforçamento por eventos com
alto valor evolucionário para a espécie humana pode facilitar a instalação e a manutenção de excessos comportamentais com graves conseqüências para a sobrevivência do indivíduo. O comer excessivo, o comer compulsivo, distúrbios como
diabetes, obesidade, hipertensão podem estar relacionados a essa questão.
uPor outro lado, há problemas que se originam do fato de alguns reforçadores
nunca terem tido nenhuma vantagem evolucionáriaC..) os efeitos reforçadores
do álcool, da heroína, da cocaína e de outras drogas são presumivelmente
acidentaisC *J A necessidade intensa de que padecem os toxicômanos é um
estado corporal devido a um reforçador an ôm alo” (Skinner, 1991, pág. 106).
Nesse caso, o efeito de prazer imediato é gerado a partir do uso de uma droga
e os efeitos nocivos podem aparecer somente após um determinado tempo, funcionando como uma conseqüência aversiva atrasada que, para controlar o comportamento que a gerou, requer a mediação de uma regra.
Assim, as dificuldades comportamentais que evidenciam mais especificamente
o efeito do prazer, podem ser modificadas partindo-se da construção de novas
regras que descrevam contingências mais favoráveis ao indivíduo e com o uso de
técnicas que promovam o autocontrole.
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Por outro lado, os excessos comportamentais que explicitam claramente o efeito do fortalecimento, tais como padrões de comportamento bem estabelecidos
que consomem muito tempo do indivíduo, podem ser modificados a partir de
procedimentos que reforcem padrões incompatíveis e/ou ampliem as classes
de comportamentos que possam promover Reforçamento Positivo.
QUANDO O REFORÇAMENTO POSITIVO PODE DIFICULTAR
Guilhardi (2002) afirma existir, pelo menos, três condições relacionadas às
contingências de Reforçamento Positivo que dificultam o processo de mudança
do cliente:
1. Reforçamento Positivo muito freqüente. “Desenvolve um repertório fraco
(os comportamentos entram facilmente em extinção, quando as condições
atuais provêem poucos e esporádicos reforçadores positivos ou quando são
aumentadas as exigências para obtenção dos reforços), muito sensível àfrustração (quando a densidade de reforços positivos cai, a pessoa apresenta
reações emocionais perturbadoras para ela e para os que a cercam)(...)”
2. Reforçamento Positivo muito infreqüente. “Sob este sistema de contingências, as pessoas têm alta tolerância à frustração. Às vezes, exageradamente
alta. Tendem a se mobilizar pouco para a mudança, uma vez que se habituaram a suportar condições adversas extremas(...) Mantém os padrões de comportamento praticamente inalterados, independente das conseqüências
aversivas que produzem... Quando entram em contato com contingências
reforçadoras significativas ou freqüentes, sentem-se culpadas(...)”
3. Reforçamento Positivo não contingente. “Nas relações não contingentes, o comportamento e o evento que se segue são associados apenas seqüencialmente primeiro um, depois o outro - e com proximidade temporal, um imediatamente após o outro. As relações não contingentes tendem a desenvolver padrões de
resposta supersticiosa.(...) Buscam soluções mágicas para suas dificuldades e
pouco se empenham em descobrir as possíveis relações entre seu próprio comportamento e as reações do ambiente que a cercam(...)” (pág. 136).
Cada contingência de reforçamento anteriormente descrita requer um procedimento específico para alterar a história comportamental gerada e instalar repertórios alternativos que possam contrapor os efeitos indesejáveis dessas
contingências anteriores. No entanto, a relação comportamento-conseqüência
precisa ser alterada através da mudança gradual nos esquemas de reforçamento
vigentes nas três condições citadas.
Quando o reforço positivo foi muito freqüente na história de vida do cliente, o
procedimento indicado pode ser a mudança no esquema de reforçamento passando-o de “quase” reforçamento contínuo para um esquema intermitente, iniciado com uma densidade média de reforços bastante favorável para reduzir os
possíveis efeitos aversivos imediatos, que possam gerar reações emocionais típicas de contingências de punição negativa (perda de reforços).
52 ■
Terapia Comportamental
Ferster afirma que “a adolescência é o momento em que os esquemas de
reforçamento, que prevaleciam para o comportamento da criança, se alteram porque as práticas da comunidade mudam” (pág. 454).
Na clínica, muitas das dificuldades observadas no repertório comportamental
do adolescente são produtos do aumento das exigências para obtenção de reforços positivos. Além da transição para esquemas com menor densidade de reforços,
mudanças repentinas ou drásticas dificultam o fortalecimento de repertórios
alternativos.
A exposição a outras comunidades sociais além da família, tais como: mudança de escola, novos colegas, convívio com novos parceiros conjugais dos pais separados, mudança de cidade etc., também podem enfraquecer a variabilidade
comportamental e dificultar a seleção de comportamentos que possam repor os
reforços positivos perdidos.
Contingências de Reforçamento Positivo pouco freqüentes podem gerar além
de um repertório fraco em produzir reforçadores, sugerindo um déficit comportamental social importante, pouca familiaridade com sentimentos mediados
pelo comportamento de outras pessoas que acompanham os reforçadores do tipo
afeto, carinho, aprovação, amor.
Por outro lado, o Reforçamento Positivo não contingente implica praticamente no estabelecimento de relações entre comportamento e conseqüência que não
são produzidas naturalmente na vida cotidiana. Sendo assim, os repertórios são
construídos partindo-se de relações de contigüidade e se manterão dependentes
de um ambiente provedor.
As contingências de Reforçamento Positivo são poderosos instrumentos disponíveis para promover o bem-estar dos clientes, principalmente, em função da
imediaticidade de seus efeitos, em especial daquele que é sentido (efeito do prazer).
Portanto, atentar apenas para esse efeito pode gerar repertórios pobres e fracos na produção de reforçadores genuinamente prazerosos e com alto valor de
sobrevivência para o cliente.
Micheletto (1997), ao analisar o fazer humano do ponto de vista de Skinner,
afirma: “O problema da busca exclusiva do prazer, por exemplo, é que ele ocorre
quando pouca coisa é feita e um comportamento muito simples é reforçado. O
fato de culturas ocidentais criarem oportunidade para privilegiar o efeito de prazer nas práticas culturais em detrimento do efeito de força tem levado a ‘corrosão
das contingências de reforçamento’ (Skinner, 1986, pág. 569), uma vez que as pessoas perdem a inclinação para agir” (pág. 123).
PROMOVENDO OS EFEITOS DESEJÁVEIS DAS
CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO POSITIVO
. .Nem todo problema pode ser resolvido mediante a aplicação de uma regra,
sendo assim, os terapeutas precisam ir um passo àfrente e ensinar a seus clientes como construir suas próprias regras. Isso significa ensinar-lhes algo sobre a
análise do comportamento, uma tarefa usualmente maisfácil do que ensinálos a alterar seus sentimentos ou estados da mente” (Skinner, 1991, pág. 112).
Reforçamento Positivo: Princípio, Apíicação e Efeitos Desejáveis ■ 53
Ensinar o cliente a identificar e produzir contingências de Reforçamento Positivo para seu comportamento ou a reforçar positivamente o comportamento de
outros, pode se tornar uma tarefa simples para o terapeuta comportamental cujo
repertório tenha sido modelado por meio das conseqüências liberadas pelos seus
clientes ao aplicarem suas orientações e, também, pela atualização conceituai obtida mediante leituras científicas, cursos, discussão de casos, supervisão, participação em congressos etc.
Dessa forma, o terapeuta estará sob controle de comunidades diferentes
que levam-no a atentar para questões teóricas que o ajudem a gerar procedimentos com descrições tecnológicas (Baer, Wolf e Risley, 1968), que permitam
um leitor bem treinado replicar e reproduzir os mesmos resultados apenas pela
leitura da descrição.
Procedimentos cada vez mais efetivos do ponto de vista técnico-científico
podem garantir a ocorrência do efeito do fortalecimento em suas melhores condições, quando incluem as preocupações descritas anteriormente. Garantir que a
conseqüência tenha se revelado reforçadora por seus efeitos, imediata em sua
aplicação, contingente ao comportamento de interesse e naturalmente produzida por ele.
As contingências de Reforçamento Positivo são fundamentais para garantir o
fortalecimento de comportamentos, promover o aumento da variabilidade
comportamental e produzir sentimentos de auto-estima e autoconfiança. Guilhardi
(2002) apresenta procedimentos bem relatados para ensinar os pais a gerarem em
seus filhos bons sentimentos de auto-estima, produto de contingências de
Reforçamento Positivo de origem social e de autoconfiança, produto de contingências de Reforçamento Positivo e negativo de origem não social.
Se o terapeuta tiver acesso direto aos agentes reforçadores (por exemplo,
os pais) poderá orientá-los, fornecendo regras claras que descrevam contingências (e produzam as conseqüências nelas descritas), além de ensinar-lhes
conceitos da análise do comportamento que facilitem a seleção das variações
comportamentais para alterar as hipóteses explicativas.
Caso contrário, caberá ao terapeuta ensinar o cliente a identificar as conseqüências que seu comportamento produziu no passado, identificar as produzidas atualmente, buscar novas fontes de reforço positivo atentando para novos estímulos
discriminativos ou instalar novos comportamentos que possam produzir em reforços positivos ampliando a variabilidade comportamental.
A auto-observação promovida pelo terapeuta ao questionar o comportamento do cliente e o autoconhecimento (descrição das contingências identificadas)
são comportamentos fundamentais a serem modelados e mantidos durante todo
o processo terapêutico.
As contingências de Reforçamento Positivo estão disponíveis no ambiente
natural, mas podem atingir sua função selecionadora mais acuradamente durante a terapia, quando seus efeitos de fortalecimento e de prazer forem atingidos em
sua plenitude a partir da aplicação planejada e criteriosa.
“Ser reforçado pelo sucesso da nossa a çã o é especialm ente vantajoso na
m edida em que nos faz essencialmente seres agentes em relação ao meio, agentes controlados pelo efeito de nossa própria ação" (Micheletto, 1997, pág. 118).
54 ■ Terapia Comportamental
R ef er
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Reforçamento Negativo na
Prática Clínica: Aplicações
e Implicações
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C u n h a Th o m a z
As respostas são, decisivamente, influenciadas por suas
conseqüências. Segundo Skinner (1967), as conseqüências
de uma resposta podem retroagir sobre ela e, quando isso
acontece, alteram a probabilidade de ocorrência futura dessa resposta.
Os eventos que aumentam essa probabilidade são chamados de estímulos reforçadores e possuem duas características definidoras; (a) Um estímulo reforçador deve seguir
uma resposta; e (b) Fazer essa resposta ocorrer mais
freqüentemente, isto é, ser mais provável no futuro.
Skinner (1967) afirma que os eventos reforçadores são
de dois tipos. Os reforços que consistem na apresentação de
um estímulo pela emissão da resposta são denominados
positivos e aqueles que são removidos pela emissão da resposta são chamados negativos. O termo reforçador, referese, então, aos estímulos e a expressão reforçamento faz
referência a um processo ou uma operação de fortalecimento ou manutenção de uma resposta por um S.
O Reforçamento Positivo pode ser entendido como uma relação “se... então”, por exemplo: se resposta “X”, reforçador “Y”,
se resposta “não X”, não reforçador “Y” Essa noção de contingência (seguir-se a...) é fundamental ao conceito de reforçador.
No Reforçamento Positivo, a resposta de uma pessoa
aumenta de freqüência porque é seguida de um evento
que não existia antes. Exemplificando, a resposta de um
56 ■ Terapia Comportamental
rato de pressionar a barra é seguida de água no bebedouro ou a resposta de estudar de um sujeito é seguida de aprendizagem e boas notas nas provas.
Entretanto, grande parte das respostas não é mantida por conseqüências positivas. Encontram-se, também, respostas mantidas por Reforçamento Negativo.
O termo Reforçamento Negativo é definido como um procedimento no qual há a
retirada ou a evitação de um estímulo aversivo contingente a uma resposta, que
aumenta de freqüência posteriormente.
Existem, basicamente, dois tipos de operações que se caracterizam como
Reforçamento Negativo: fuga e esquiva. Respostas de fuga produzem o fim do contato com um estímulo aversivo e respostas de esquiva evitam o contato com esse
estímulo. Se estas respostas aumentarem de freqüência no futuro, considera-se
que foram reforçadas negativamente.
A idéia central a ser esclarecida é a de que o reforçamento sempre significa
aumento de freqüência de resposta e que o termo negativo refere-se ao fato de
uma resposta específica remover, ou eliminar, um evento aversivo.
Na vida, os estímulos aversivos são tão ubíquos quanto as respostas de fuga e
esquiva que produzem. Sempre que houver um estímulo aversivo, potencialmente ocorrerá alguma resposta que lhe dará término ou o evitará.
Procurar a sombra para sair do calor do sol, tomar um remédio para aliviar a
dor, estudar muito para evitar bronca e punição dos pais e procurar um terapeuta
para resolver um problema conjugal, são exemplos de respostas mantidas por
Reforçamento Negativo.
Especificamente em relação à situação clínica, parece que, freqüentemente, o
indivíduo procura um terapeuta porque encontra-se em alguma situação aversiva.
Conforme afirma Sidman (1995), uma pessoa mantida principalmente por
Reforçamento Negativo, ou seja, que escapa de estímulos aversivos e/ou os evita,
acaba tendo suas interações com outras pessoas influenciadas por esse tipo de
controle coercitivo, o que poderia alterar sua visão geral da vida. Nesse sentido,
além de se observar o controle por Reforçamento Negativo como uma variável
relevante da queixa da pessoa que procura a terapia, encontram-se, também, respostas mantidas por Reforçamento Negativo na história de vida dela e na sua
interação com o terapeuta.
De qualquer maneira, deve-se investigar o controle vigente em determinada
situação pois, segundo Sidman (1995), algumas vezes é difícil dizer qual é o controle: Reforçamento Positivo, Negativo ou ambos. Em uma situação de laboratório, determinados procedimentos poderiam demonstrar o controle em vigor mas,
fora desse ambiente, não é simples saber o que mantém a(s) resposta(s), apesar
da importância de se descobrir isso.
Uma história de vida caracterizada por controle aversivo leva ao desenvolvimento de um repertório de fuga-esquiva e de respostas emocionais decorrentes
da punição, como agressão, frustração e ansiedade.
Essas respostas emocionais são consideradas efeitos colaterais da punição e,
segundo Sidman (1995), freqüentemente, têm significação comportamental considerável como os efeitos principais.
Um outro efeito colateral da punição é possibilitar, a qualquer sinal de punição, a capacidade para punir por si mesmo. Isso acaba por aumentar, para uma
Reforçamento Negdtivo na Prática Clínica: Aplicações e Implicações ■ 57
pessoa, o número de eventos ambientais aversivos, o que tornaria a vida menos
satisfatória, uma vez que a pessoa possivelmente irá se deparar com mais estímulos que os sinalizam e, por encontrar eventos aversivos com freqüência,
aprenderá que é mais seguro ficar quieta e fazer o mínimo possível. Então, o Reforçamento Negativo pode limitar o repertório comportamental, ao tornar o ambiente coercitivo.
Alguns efeitos da exposição a eventos aversivos, conceituados como formas
de medo e de ansiedade, envolvem atos de esquiva desnecessários. Assim, o
terapeuta não deve desviar a atenção dos eventos observáveis causadores dos estados internos e das respostas abertas.
Um exemplo característico de Reforçamento Negativo pode ocorrer na
interação verbal entre o terapeuta e o cliente, durante a sessão. O terapeuta pergunta sobre um determinado assunto, que é aversivo para o cliente e esse, ao invés
de falar sobre o tema, muda de assunto. Nesse caso, poder-se-á supor que a resposta do cliente, ao mudar de assunto, talvez tenha sido reforçada negativamente
porque ela eliminou a estimulação aversiva de falar sobre aquele assunto. Isto é,
se o terapeuta permite que cliente deixe de falar sobre o assunto supostamente
aversivo, a R “mudar de assunto” mudou este S supostamente aversivo e foi, portanto, reforçada negativamente.
O terapeuta, sabendo que a cessação da estimulação aversiva reforça negativamente a resposta, deveria descrever esse tipo de controle para o cliente e explicar para ele a função da terapia que, nesse caso, não é a de repetir o padrão do
mundo frente a isso, mas a de, por exemplo, investigar e discutir as contingências
consideradas aversivas.
Outro padrão de respostas do cliente que indicaria uma estimulação aversiva
na relação terapeuta-cliente ocorre quando há faltas e/ou atrasos repetidos, indicando uma possível esquiva. Portanto, o terapeuta também deveria descrever a
contingência e analisá-la, identificando o evento aversivo presente na terapia, conforme descrito anteriormente. Em geral, não é a relação com o terapeuta (a
interação) a variável aversiva (em ambos os casos), mas o assunto no qual a terapia chegou. Então, cabe ao terapeuta propor a análise desse tema na vida do cliente
e as alternativas de respostas excluindo as de fuga-esquiva.
Uma outra situação clínica na qual aparece o Reforçamento Negativo seria,
por exemplo, quando um cliente queixa-se que a situação presente é aversiva. Essa
se caracteriza quando o cliente, por exemplo, relata que a vida está aversiva, isto é,
vários aspectos da vida, como relação com o marido, os filhos e o chefe, são
aversivos.
Frente a esse tipo de situação, o terapeuta investigaria, em um primeiro
momento, como ocorre a relação do sujeito com o mundo. O cliente poderia
relatar, por exemplo, suas queixas constantes para o marido, que não dá atenção
a ela. Caberia ao terapeuta mostrar que o marido pode não prestar atenção porque ela, freqüentemente, se queixa e, a resposta dele (de não ir para
casa, por exemplo), pode ser negativamente reforçada pela eliminação do evento aversivo “mulher reclamando’'. Além disso, poderia mostrar que a resposta
de se queixar pode ser reforçada negativamente e que isso não produz uma
mudança no mundo (reforçador positivo). Discutiria, então, quais os refor-
58 ■ Terapia Comportamental
çadores positivos disponíveis na vida da cliente pois, aparentemente, pode-se
supor que não há muitos. A partir disso, o terapeuta deveria planejar contingências para a instalação de um novo repertório comportamental, fazendo com
que as respostas incompatíveis com o “queixar-se” ocorram e produzam
reforçamentos positivos.
Mais um exemplo de situação em que o Reforçamento Negativo aparece na
prática clínica é quando o cliente relata uma história de vida com presença constante de eventos aversivos. As descrições a seguir ilustram este caso.
C., um cliente de 28 anos, procurou por terapia queixando-se ser muito agressivo e possuir muito medo de ficar sem ninguém (amigos, namorada etc.), porque
a namorada traiu-o com um homem que conheceu na Internet e ele não queria
abandoná-la para não ficar sozinho, afirmando que ela cometeu a traição por causa
da agressividade dele e, por isso, o relacionamento não estava bom.
Quando investigada a história de vida de C., descobriu-se que a mãe abandonou o pai e levou C. (na época com 8 anos) e sua irmã menor para outra cidade. C.
relata que gostava muito de ficar com o pai e sentiu a sua falta. Ele encontrou com
o pai novamente quando tinha 16 anos e, até então, a mãe afirmava que o pai os
tinha abandonado. Quando o pai encontrou-os (com a ajuda da justiça), tentou
restabelecer um contato com os filhos, mas esses não aceitaram a volta dele por
acreditarem na mãe. C. afirma que, somente por volta de 21 anos, voltou a falar
com o pai e entendeu o que aconteceu, mas a sua relação atual com ele era distante graças a essa história.
Desde que passou a morar com a mãe e a irmã em outra cidade, ele disse que a
mãe sempre foi mais próxima da irmã e lhe dava atenção quando fazia algo que
ela considerava errado (como brincar com o vizinho, por exemplo). Aos 18 anos,
mudou-se de estado para fazer faculdade e a mãe, em vez de lhe dar dinheiro para
suas necessidades, pagava previamente suas contas (como república e alimentação) e qualquer outra necessidade de C. deveria ser comunicada a ela. Dessa forma, a mãe o mantinha sob o seu controle econômico, sempre reclamando e criando
punições quando ele pedia dinheiro extra.
Aos 22 anos, arrumou emprego em São Paulo e resolveu “cortar relações” com
a mãe. Essa não aceitou a mudança do filho e o fez assinar notas promissórias de
tudo o que ela já havia gasto com C. e ele assinou.
Até então, observa-se que as respostas de C. (mudar de Estado, sair de casa.
assinar as notas) tinham como função eliminar um evento aversivo: a mãe.
Um ano depois, C. procurou pela mãe para resolver o problema e ela mandou
o pastor da cidade dizer a C. que ele estava errado porque as mães nunca erram.
Além disso, a mãe deu queixa na polícia (depois que C. saiu da cidade), dizendc
que havia duas pessoas em determinado carro (da amiga que acompanha C.) que
estavam traficando drogas na região, eles foram parados na estrada e foram para £
delegacia. Só saíram horas depois quando o acontecimento e a autora da queixa
foram esclarecidos.
C. resolveu nunca mais procurar a mãe (provavelmente por conta da puniçê:
dessa resposta) e foi morar com a namorada em São Paulo. Ele relatou que os dc:^
se falavam pouco, que mantinham relações sexuais com pouca freqüência e qut
ele trabalhava muito, estando sempre cansado.
Reforçamenio Negativo na Prática Clínica: Aplicações e Implicações ■ 59
Dentre os diversos aspectos que foram discutidos na terapia, mostrou-se a C.
que na vida dele houve diversos eventos aversivos, como as punições da mãe na
infância e na adolescência, as notas promissórias e a ausência do pai e que muitas
de suas respostas tiveram a função de eliminar ou evitar estímulos semelhantes.
O mesmo ocorreu com o seu namoro, no qual o que, aparentemente, mantinha a
resposta de ficar casado era a possível evitação do estímulo aversivo “ficar sozinho”, caracterizando um Reforçamento Negativo. Ainda, responder para evitar e/
ou eliminar eventos aversivos prejudicava a aprendizagem de outros repertórios.
Além disso, explicou-se que a agressividade é um provável produto da história da
sua vida e que ele agiu, durante todo esse tempo, da maneira mais adequada para
o momento, ou seja, isto foi o que ele pôde fazer para “continuar em frente”.
Outra questão discutida com C. foi o efeito da submissão a eventos aversivos
independentemente da resposta do sujeito que seriam, além de sentimentos descritos como ansiedade, a falha na aprendizagem das conseqüências como produtos de respostas das pessoas.
Pretendeu-se, então, discutir com C., dada a sua realidade, quais os repertórios
comportamentais que deveriam ser aprendidos e quais respostas poderiam ser
emitidas para que determinadas conseqüências reforçadoras fossem produzidas.
Além disso, foi ensinado a ele um relaxamento e planejaram-se respostas incompatíveis àquelas “agressivas” nas situações que provocavam agressividade.
Com o decorrer do processo terapêutico, C. foi morar sozinho, mudou de emprego e foi trabalhar em algo que ele gostava (o salário também aumentou) e iniciou um outro relacionamento. Pode-se afirmar que o cliente começou a responder
em função de reforçadores positivos.
M., uma cliente de 32 anos, procurou terapia queixando-se de timidez, de solidão e de rejeição por partes dos homens, dizendo “Me usavam para conseguir o
que queriam e depois me abandonavam.” Ao fazer a análise da sua história de
vida, o terapeuta encontrou inúmeros episódios de punição: sua mãe biológica a
abandonara, a mãe adotiva a repreendia dizendo “Ninguém te quis, nem sua mãe
de verdade. Seja boa, senão eu te ponho na rua.” Na escola, aos 6 anos, pediu para
ir ao banheiro, a professora não permitiu, ela não conseguiu se controlar e urinou
na calça. Foi punida pela professora e motivo de chacota para seus colegas. Na
adolescência, passou a ser boazinha, correspondendo a tudo que as colegas pediam, fazendo suas lições, dando-lhes o seu lanche, parecia que ela adivinhava
o que os outros queriam e sempre era agradável e solícita. Quando adulta, percebeu que era uma profissional competente - secretária - e bem-aceita pelos colegas porque sempre estava à disposição deles, fazendo hora extra, oferecendo
carona, ajudando-os no trabalho etc., mas que eles nunca a convidavam para sair
ou tinham com ela uma relação de amizade. Era uma moça atraente e se envolveu
sexualmente com vários rapazes, que, no entanto, nunca estabeleciam uma relação mais duradoura com ela.
Na terapia, foi analisado como as suas respostas de submissão e disponibilidade eram os padrões que ela desenvolveu para ser aceita nos grupos e não ser
“jogada na rua”. Essa cliente aprendeu com a terapia que podia ser firme, colocar
seus limites e necessidades de forma tranqüila e que podia emitir uma série de
respostas assertivas e ser reforçada por isso. Seus colegas de trabalho, em princípio,
60 ■ Terapia Comportamental
estranharam sua mudança (o terapeuta já havia lhe advertido sobre esta possibilidade), mas depois estabeleceram com ela outro tipo de relacionamento, mais
verdadeiro e não apenas de “uso”. Também com os rapazes começou a se colocar
de forma mais firme e arrumou um namorado que a respeita como ela é. Sua terapia continua, porém, as suas mudanças são muito reforçadoras para ela e para a
sua terapeuta.
Parece importante ressaltar que o Reforçamento Negativo não é uma técnica
terapêutica, mas uma operação comportamental presente nas relações sujeitoambiente. Eventos aversivos estão presentes no ambiente natural e têm efeitos
sobre as respostas dos sujeitos. Frente a (ou a possibilidade de) um evento aversivo,
o sujeito aprende a emitir determinada resposta que cessa ou evita a apresentação dele e, assim, a resposta aumenta de freqüência graças ao seu efeito no mundo. A função dessa resposta é um fato cotidiano e as pessoas as apresentam em
virtude da adequação ao ambiente. Apresentar algumas dessas respostas é altamente adaptável e mantém a sobrevivência.
A função da terapia é, portanto, dar condições para o cliente analisar como e
por que ele emite determinados padrões comportamentais (autoconhecimento)
e, a partir desse conhecimento, eleger os que aumentem os reforçadores em sua
vida cotidiana (autocontrole).
R ef er
ê n c ia s
SIDMAN, M. Coerção e suas Implicações. Campinas: Editorial Psy, 1995.
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1967.
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