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Martins et al.
Embolização de Prótese de Amplatzer® para Ventrículo Direito
Relato de Caso
Rev Bras Cardiol. 2012;25(6):498-500
novembro/dezembro
Relato
de Caso
2
Embolização da Prótese de Amplatzer® após Fechamento Percutâneo
de Comunicação Interatrial
Embolization of Amplatzer™ Occluder after Transcatheter Closure of Atrial Septal Defect
Gerez Fernandes Martins¹, Barbara Jessen¹, Claudio Roberto Assunção Cavalcanti²,
João de Deus Brito², Serafim Borges³, Kleiber Marciano Lima Bonfim¹
Resumo
Abstract
Relata-se o caso de paciente jovem, do sexo masculino,
sem nenhum antecedente de doença cardíaca. Durante
admissão em clube de futebol, detectou-se através de
exame clínico e análise ecocardiográfica a presença de
comunicação interatrial (CIA) tipo ostium secundum. Foi
realizado o fechamento por via percutânea, sendo
colocada prótese de Amplatzer®, sem intercorrências. No
terceiro dia após o procedimento, o paciente referiu
palpitações e procurou o Instituto de Cardiologia do
estado. Detectou-se a embolização da prótese para
ventrículo direito. Feito tratamento com cirurgia para
retirada da prótese e colocação de pericárdio bovino para
fechamento da CIA.
This is a case report on a young male patient with no
history of heart disease. During his admission to a soccer
club, a clinical examination and echocardiographic
analysis detected the presence of an atrial septal defect,
ostium secundum type. This was closed percutaneously,
placing an Amplatzer ™ prosthesis with no adverse
occurrences. On the third day after the procedure, the
patient complained of palpitations, and contacted the
State Cardiology Institute. The embolization of the
prosthesis into the right ventricle was detected. This was
treated through surgery to remove the prosthesis, using
a bovine pericardium to close the atrial septal defect.
Palavras-chave: Comunicação interatrial; Amplatzer®;
Embolização
Keywords: Interatrial communication; Amplatzer™;
Embolization
Introdução
ejetivo em foco pulmonar e segunda bulha com
desdobramento constante e fixo em criança com
crescimento pôndero-estatural normal. Classicamente,
na radiografia de tórax são encontrados área cardíaca
discretamente aumentada, hiperfluxo pulmonar e
abaulamento do tronco pulmonar. O eletrocardiograma
geralmente evidencia sobrecarga de ventrículo
direito4.
Os defeitos do septo interatrial constituem uma das
principais cardiopatias congênitas na população
brasileira. Predomina em pacientes do sexo feminino,
com prevalência de 1,5-3,5 mulheres para cada
homem. A CIA tipo ostium secundum representa cerca
de 75% dessa afecção, sendo os outros 25% decorrentes
de CIA tipo ostium primum, CIA tipo seio venoso e
defeito do seio coronariano3.
Apesar da pouca sintomatologia, o diagnóstico
geralmente é sugerido pela presença de sopro cardíaco
1
2
3
O tratamento cirúrgico da CIA vem sendo utilizado
há várias décadas. Murray descreveu a primeira
atriosseptoplastia, em 19485. Atualmente o fechamento
percutâneo da CIA ostium secundum com prótese vem
Serviço de Pós-operatório - Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC) - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Serviço de Cirurgia Cardíaca - Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro IECAC) - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Departamento Médico - Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Correspondência: Gerez Fernandes Martins
E-mail: [email protected]
Rua David Campista, 363 - Humaitá - 22261-002 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Recebido em: 29/05/2012 | Aceito em: 05/10/2012
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aumentando; surgiu em 1997 o dispositivo Amplatzer®,
desenvolvido por Kurt Amplat que, atualmente, é o
dispositivo de primeira escolha para fechamento
percutâneo da comunicação interatrial.
Algumas complicações podem ocorrer durante o
implante da prótese: embolia gasosa através da bainha
transeptal, embolização da prótese, perfuração da
parede atrial, derrame pericárdico e tamponamento
cardíaco. A complicação mais frequentemente relatada
durante o implante é a embolia do dispositivo. Os
riscos de deslocamento, embolização e má posição
variam de 1,4% a 20%6.
Relato do caso
Paciente do sexo masculino, 19 anos, pardo, futebolista,
sem nenhum antecedente de doença cardíaca. Durante
sua admissão em clube de futebol, foi detectada
comunicação interatrial tipo ostium secundum, através
de ecoDopplercardiograma bidimensional, após
suspeita clínica pelo exame físico realizado pelo
cardiologista do clube. A proposta terapêutica foi o
tratamento percutâneo da CIA, por meio da colocação
da prótese de Amplatzer ®. O procedimento foi
realizado sem intercorrências e com sucesso.
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pulmonar. Ausculta pulmonar limpa. Realizou-se
ecoDopplercardiograma transtorácico que mostrava
comunicação interatrial pérvia e a presença da
prótese de Amplatzer® solta, dentro do ventrículo
direito (Figura 1). O paciente foi submetido de
imediato à cirurgia cardíaca com retirada da prótese
do ventrículo direito (Figura 2) e posterior fechamento
da CIA, através da colocação de pericárdio bovino.
O paciente evoluiu bem e teve alta no quinto dia
pós-operatório.
Discussão
O relato está em acordo com a literatura, que descreve
a prótese de Amplatzer® como alternativa segura para
o tratamento do CIA tipo ostium secundum. Esse
procedimento apresenta baixo índice de complicações
hospitalares, com reduzido tempo de internação e
evolução satisfatória no seguimento a longo prazo7.
Na embolização da prótese para o ventrículo direito
aqui relatada, destaca-se a pobreza de sintomas
clínicos, como também a rapidez no diagnóstico da
complicação e sua resolução através do tratamento
cirúrgico convencional.
No terceiro dia após a colocação da prótese, o paciente
referiu palpitações, sendo, na oportunidade,
encaminhado ao IECAC. À admissão, o paciente
estava sem queixas, em bom estado geral, eupneico,
acianótico, normocorado. Na ausculta cardíaca
percebeu-se ritmo cardíaco regular, bulhas
normofonéticas, presença de desdobramento da
segunda bulha e sopro sistólico (2+/6+) no foco
Quando as raras complicações acontecem em
procedimentos menos invasivos e adiciona-se uma
terapêutica cirúrgica, deve-se considerar outras
complicações inerentes ao novo tratamento (derrame
pericárdico, arritmias, sangramento, infecções e
reoperação), elevando a morbimortalidade e o risco
de complicações maiores (embolia cerebral,
endocardite, morte relacionada ao procedimento,
necessidade de marca-passo definitivo7,8).
Figura 1
Ecocardiograma transtorácico evidenciando a prótese livre
na cavidade ventricular direita.
Figura 2
Retirada cirúrgica da prótese de Amplatzer® do ventrículo
direito.
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A literatura descreve dentre as possíveis e raras
complicações que a embolização da prótese pode
ocorrer dias ou meses após o implante8. No contexto
desse tratamento, torna-se relevante orientar o
paciente quanto à importância do retorno em busca
de assistência se mudanças súbitas ocorrerem,
facilitando assim o diagnóstico e o tratamento precoce.
Potencial Conflito de Interesses
Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes.
Fontes de financiamento
O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.
Vinculação Acadêmica
O presente estudo não está vinculado a qualquer programa
de pós-graduação.
Referências
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