X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis Sarau Literário: revelando o processo criador Autor Elzira Tischer de Lima Titulação Pedagoga – Orientadora Educacional Instituição de origem Centro Universitário Ritter dos Reis/Laureate International Universities Endereço eletrônico [email protected] Resumo: Dados do IBGE apontam o crescimento da população brasileira em fase de envelhecimento. Devido aos avanços da medicina e aos cuidados preventivos tornou a expectativa de vida cada vez mais expandida. Sendo assim, múltiplos são os fatores q ue contribuem para que um maior número de pessoas viva mais. Diversas ações, em nossa sociedade, estão sendo realizadas para que os indivíduos possam aliar prazer aos tempos vividos. O Centro Universitário Ritter dos Reis/Laureate International Universities oportuniza através do Projeto de Atenção Pedagógica em Educação de Adultos atividades de cunho pedagógico às pessoas do Grupo Revivendo a Vida que é composto por pessoas idosas moradoras do entorno da IES ou em bairros próximos. A atividade pedagógica denominada de Sarau Literário é realizada com o propósito de contribuir para a formação de leitores. O contato com livros de fábulas, poesias e contos de autores diversificados propiciou aos integrantes a familiarização com essas obras e desenvolveu a alegria de se tornarem autores de suas próprias produções. Priorizamos nessa atividade a leitura de mundo e os saberes prévios de cada integrante para, dessa forma, exercitar a autonomia na produção dos textos. Como premissa teórica incorporamos os ensinamentos de Paulo Freire (1996), em sua pedagogia humanizadora e transformadora. 1 Introdução Dados do IBGE nos apontam um crescimento na projeção da expectativa de vida dos indivíduos idosos. Para que isso se efetive, os avanços da medicina têm contribuído para que indivíduos vivam mais e melhor. O Centro Universitário Ritter dos Reis – Laureate International Universities propõe ações para garantir a esses sujeitos oportunidades através do Projeto de Atenção Pedagógica em Educação de Adultos com atividades diferenciadas que pretendem abordar os inúmeros interesses e necessidades dessas pessoas. O Grupo Revivendo a Vida, palco dessa e de outras Oficinas, completa doze anos de atividades ininterruptas nessa IES. Esse grupo se constitui de pessoas que estão construindo um novo jeito de envelhecer, com disposição para aprender, conviver, compartilhar seus saberes e suas histórias de vida. E, a cada ano, as atividades pedagógicas são adequadas às necessidades e desejos do grupo. X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação SEPesq – 20 a 24 de outubro de 2014 X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis O referido grupo iniciou suas atividades em 2002 com atividades artesanais atendendo somente aos moradores situados no condomínio em frente à Universidade. Porém, a partir de 2003 a pedido de uma moradora do condomínio que tinha o desejo de alfabetizar-se, o Grupo Revivendo a Vida inicia a turma com uma classe de alfabetização, contando com o apoio de uma monitora do curso de Pedagogia. A partir desse momento passa a ter um caráter educativo, passando a atender pessoas adultas e idosas do entorno da instituição. Em 2005, o grupo constituía-se de mais de trinta mulheres com mais de 60 anos que procuraram ampliar e atualizar seus conhecimentos. O Grupo atende atualmente indivíduos com idade de 45 a 92 anos e sua predominância continua a ser feminina. A atividade pedagógica denominada SARAU LITERÁRIO é ofertada desde 2013/1 a pedido dos integrantes que desejavam entrar no mundo fascinante da leitura. Com essa Oficina entramos em contato com diversos tipos de leitura e de autores para que todos integrantes do grupo fossem contemplados. Nesse sentido, Freire (1983, p. 107), propõe uma relação baseada no “diálogo” com os educandos para que ambos se tornem sujeitos no processo de aprendizagem. A partir deste momento fomos construindo junto com os alunos as referidas atividades de leituras e, consequentemente, a produção dos textos. Para contentar as atividades tomamos como pressupostos teóricos os referenciais de Dalla Zen (1997), com a utilização de diversos portadores de texto e também propusemos numa perspectiva humanística baseada nos referenciais de Freire (1996), com sua pedagogia transformadora. Este artigo apresentará a seguir aspectos do desenvolvimento da leitura realizada na sala de aula que contribuiu de forma eficaz para a devida formação do leitor. 2 Objetivos da nossa jornada A atividade pedagógica ofertada como SARAU LITERÁRIO está embasada na Pedagogia de Projetos e temos como intencionalidade primeira a formação de leitores participativos e integrados com este novo momento de suas vidas. Para que se efetive trouxemos aos alunos leituras diversificadas para que encontrassem prazer nas atividades que foram administradas ao longo do ano letivo. X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis Objetivos propostos: a) despertar e estimular nos participantes o gosto e o prazer da leitura; b) favorecer o progressivo amadurecimento dos integrantes quanto à consciência crítica de cada leitura; c) conscientizar aos participantes a relevância do domínio da linguagem para ler o mundo e melhor entendê-lo e poder atuar de forma autônoma; d) buscar a compreensão da igualdade humana através dos mais diversos portadores de texto, valorizando a cultura e a leitura de mundo de cada aluno; e) propiciar aos participantes autonomia para que se proponham a serem autores de seus próprios textos. 3 Sarau Literário: Origem Se outrora, como nos aponta Ariès (1981), os saraus faziam parte do cotidiano das famílias, na qual crianças e adultos compartilhavam os eventos sociais realizados nos alpendres residenciais, ou seja, nos espaços privados, atualmente estes eventos estão restritos a locais específicos e são realizados somente em espaços públicos e de forma esporádica, como por exemplo, nos eventos da Feira do Livro, evento anual característico da cidade de Porto Alegre/RS que promove o encontro do livro com seu leitor, dentre tantas outras atividades culturais. Na busca da origem da palavra SARAU, encontramos no dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1975, p.1274), a seguinte descrição: “Do gaulês: serão. 1. Festa noturna, em casa particular, clube ou teatro. 2. Conserto musical noturno. 3. Festa literária noturna, especialmente em casas particulares”. E, mais adiante, temos como significados para a palavra serão: “Do latim seranu <sérum, ‘ tarde’, [...], ‘noitinha’. 3. Tempo que decorre de logo após o jantar até a hora de dormir. 4. Sarau” (FERREIRA, 1975, p.1290). Após as significações dicionarizadas, podemos perceber que os saraus originalmente eram realizados após o trabalho, mais precisamente, ao entardecer e se prolongava até à noite. Porém, atualmente como ficaram restritos ao espaço público, os saraus geralmente acontecem durante o dia e não mais à noite, ainda mais se tratando do público idoso. X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis 3.1 Sarau Literário e seus leitores As atividades do Sarau Literário foram ofertadas em forma de oficina com atividades semanais no Grupo Revivendo a Vida. Nos caminhos percorridos nesta atividade pedagógica denominada de Sarau Literário, trouxemos leituras diversificadas para que os novos leitores conhecessem novos gêneros de leitura. A interação dos leitores com as leituras foi propiciada por diversos portadores de texto, ideais propostos por Dalla Zen (1997). Foram utilizados livros, revistas e jornais. Tanto a reportagem quanto as imagens fizeram parte das nossas aulas, assim como também o acesso à internet, especificamente a ferramenta intitulada youtube. A atividade de leitura dos livros foi feita ‘em voz alta’ para o grande grupo e após discutíamos sobre o texto ali apresentado pelos autores. Dalla Zen (1997, p.60) nos aponta que a partir de uma atividade individual, todos podem contribuir para o grande grupo, sendo que “o objetivo, a partir de então, foi ler, com os alunos, diferentes linguagens. A fala deixou de ser unitária. A posse da palavra foi concedida a quem também sabe: os alunos”. Utilizamos o Jornal Zero Hora, por ser o jornal de maior circulação no nosso estado, por conter reportagens diversificadas e, também por fornecer muitas imagens, na qual utilizamos para trabalhar a partir das imagens na produção de textos. Ressaltamos que a leitura realizada no grande grupo proporciona dialogar com o texto, e não somente decodificá-lo. Quando discutimos sobre o que acabamos de ler, e nos damos conta de que ele pertence a um determinado tempo/lugar/contexto nos sentimos fazendo parte daquele texto. Para Freire (1982, p.1), “A compreensão crítica do ato e ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”. Cabe ressaltar que em todas as atividades realizadas no Sarau Literário, priorizamos a leitura de mundo de cada integrante do grupo, como nos expõe Freire (1996, p.90), em sua pedagogia da autonomia. “Não posso de maneira alguma, nas minhas relações políticopedagógicos com os grupos [...] desconsiderar seu saber de experiências feito. [...]. É a sua presença no mundo”. A partir dos conhecimentos que os alunos nos apresentam é que devemos propiciar novos aprendizados. X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis Tivemos a oportunidade de trabalhar com as Fábulas de Esopo. Este tipo de literatura se caracteriza, conforme nos aponta Luiza Vilma Pires Vale (2001, p.43), como um texto de “narrativa curta com ações protagonizadas por vegetais, objetos, animais e seres humanos, que apresentando uma moral implícita ou explicita, tem como função divertir e instruir”. Cada leitura pode ser discutida e trazida para os tempos atuais. Nesta atividade, utilizamos também a ferramenta youtube, pois as fábulas foram transformadas em desenhos animados para o público infantil e juvenil, mas que adultos também podem conhecer e, quem sabe, gostar de assistir. Foi disponibilizado para os alunos revistas IstoÉ, da Editora Três, para que escolhessem para ler em casa durante a semana. Não foi solicitada nenhuma atividade de leitura com estas revistas. Porém, os alunos sempre traziam alguma reportagem da revista para compartilhar com os demais colegas. As imagens publicitárias destas revistas serviram para as produções de texto. Utilizamos também livros intitulados como autoajuda, como o livro “Um dia daqueles” e “Obrigado por existir”, de Bradley Trevor Greive, por ser de narrativas curtas e por ter predomínio de ilustrações, fato este que seduz o leitor iniciante. Para Vale (2001, p.48) por possuir “uma relação estreita entre a imagem e o texto escrito”, é favorecedor da leitura rápida. Para contemplar o gênero de contos, utilizamos os livros de Sérgio Faraco e de Josué Guimarães com a leitura oral no grupo de textos previamente escolhidos. Por último e não menos importante foi utilizado o fascículo número seis da Coleção Pra Gostar de Ler com poesias de Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Mário Quintana e Vinícius de Moraes, livros estes que se constituem também de imagens alusivas aos textos, o que auxilia na sedução da leitura. A produção textual dos alunos foi realizada intercalada com as leituras. Inicialmente a participação foi bem tímida, mas com a socialização dos demais colegas todos puderam contribuir. Todos participantes utilizaram uma imagem com texto ou com um desenho para ilustrar seu trabalho. Juracy Assmann Saraiva nos apresenta uma importante reflexão, conforme explicita; X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis O ato de narrar manifesta-se não só através do recurso da linguagem oral ou à escrita, mas também por meio do desenho, da pintura, da fotografia, da dança, [...]; a utilização da narrativa pode ser constatada nas trocas de experiências do dia-a-dia [...] (SARAIVA 2001, p.51). 4 Considerações finais Constatamos que todos os participantes da Oficina do Sarau Literário, apesar do medo inicial e da negação dos primeiros dias de aula ao dizerem “eu nunca vou conseguir escrever nada”, superaram seus medos e aventuraram-se na escrita literária. Fato que não passou de um susto inicial, pois percebemos pelos trabalhos que foram produzidos muita imaginação e criatividade, mesmo sendo indivíduos que nunca tiveram acesso a uma poesia ou a qualquer outro tipo de texto literário. Em todas as atividades os alunos demonstraram autonomia ao reproduzir as histórias dos livros lidos e de dar o seu ponto de vista. Somos partidários de Freire (1996), quando alega que somos seres inacabados e, por isso, estamos em constante aprimoramento. Esse querer aprender mais é o que nos move enquanto educandos e educadores. Trabalhar com poesias e outros portadores textuais em turma de adultos nos propiciou um melhor entendimento sobre nós mesmos. Sobre a forma como encaramos a leitura e a escrita. A leitura na nossa turma possibilitou uma troca de experiências e de histórias de vida. Compartilhamos sofrimentos e sucessos. Assim fomos elaborando e (re) elaborando nossas atividades de leitura. E foi nesse caminho entre livros e leituras que nos tornamos leitores. E isso é só o começo da nossa trilha. Referências ARIÈS. Philippe. Historia Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1981. DALLA ZEN. Maria L. Histórias de leitura na vida e na escola: uma abordagem linguística, pedagógica e social. Porto Alegre: Mediação, 1997. X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis ESOPO. Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994. FARACO. Sérgio. Contos completos. Porto Alegre: Editora L&PM, 2011. FERREIRA. Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1975. FREIRE. Paulo. A importância do ato de ler: em três gêneros que se completam. São Paulo: Cortez, 1982. ______. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1983. ______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de janeiro: Editora Paz e Terra, 1996. GREIVE. Bradley Trevor. Um dia daqueles: uma lição de vida para aumentar o seu astral. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2000. _____. Querida mamãe: obrigado por tudo. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2001. _____. Em busca do príncipe encantado. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2002. _____. O sentido da vida. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2002. _____. A incrível verdade sobre as mães. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2003. _____. Preciosidades: a beleza em extinção de um frágil planeta. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2003. _____. O amanhã: aventuras em um mundo de incertezas. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2004. _____. Querido papai: pai, amigo e herói. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2005. _____. Simples verdades sobre o amor. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2007. _____. Amigos de verdade. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2008. _____. Uma pitada de coragem: palavras de incentivo para enfrentar as dificuldades. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2011. X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis _____. Obrigado por existir: uma declaração de amor e amizade para alguém especial. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2012. _____. Dieta faz mal ao cérebro: como perder peso sem perder a cabeça. Rio de Janeiro: Editora Sextante. 2013. GUIMARÃES. Josué. O gato no escuro. Porto Alegre: Editora L&PM, 1982. MEIRELES. Cecilia; LISBOA, Henriqueta; QUINTANA, Mário; MORAES, Poesias. São Paulo: Editora Ática, 1994. (Coleção Para Gostar de Ler, n. 6). Vinicius Revista IstoÉ, São Paulo, v. 2315, 05 abr. 2014. _____. São Paulo, v. 2316, 16 abr. 2014. _____. São Paulo, v. 2320, 14 mai. 2014. SARAIVA. Juracy Assmann. (Org.). Narrativa Literária: aspectos composicionais e significação. Literatura e alfabetização: do plano do choro ao plano de ação. Porto Alegre: Artmed, 2001. VALE. Luiza Vilma Pires. Narrativas Infantis. In: SARAIVA. Juracy Assmann (Org.) 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