o sentido da palavra crise

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O SENTIDO DA PALAVRA CRISE: UMA ANÁLISE DO EDITORIAL DO JORNAL
CORREIO DO ESTADO
Joana Margarete Saldivar Cristaldo Lera1 (UEMS)
[email protected]
Rosimar Regina Rodrigues de Oliveira2 (UEMS/FUNDECT/CNPq)
[email protected]
Resumo
Neste trabalho objetivamos apresentar uma análise do sentido da palavra “crise” em um texto publicado no
Editorial do Jornal Correio do Estado. Para o desenvolvimento da análise desse texto utilizaremos os
pressupostos teóricos da Semântica Histórica da Enunciação ou Semântica do Acontecimento. Tomamos o
texto como acontecimento de linguagem, ou seja, lugar de produção de sentido. Observamos que neste
acontecimento enunciativo a designação está relacionada ao modo como se procura justificar a situação
econômica e as atitudes tomadas pelos Governos Municipal e Estadual de Mato Grosso do Sul com relação à
sua economia e suas finanças, indicando vários fatores como determinantes, principalmente o “Governo
Federal”. Nesse sentido, embora saibamos da atual crise econômica e política do Brasil, observamos que há
outros sentidos que circulam afetando a determinação dessa palavra.
Palavras-chave: Semântica do acontecimento. Argumentação. Designação. Crise econômica.
Introdução
1
Aluna do Mestrado em Letras na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, sob orientação do prof. Dr. Marlon Leal
Rodrigues.
2
Professora colaboradora do Mestrado em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul; pesquisadora de pósdoutorado sob supervisão do prof. Dr. Marlon Leal Rodrigues.
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Neste texto observaremos de que forma a palavra “crise”, normalmente relacionada a “crise
financeira”, é significada na relação com os atrasos nos pagamentos, situação de penúria, etc., que, conforme
o jornal Correio do Estado, tomou conta do governo Municipal de Campo Grande/MS. Essa palavra será
observada no texto “A crise e seu efeito dominó” que foi publicado no Editorial do Jornal Correio do Estado,
em 04 de junho de 2015. Interessa-nos analisar que sentido a palavra “crise” apresenta nesse artigo, na
relação com a situação financeira do município.
O artigo que analisaremos nos chamou a atenção pelo fato de ter sido publicado no Editorial do
Jornal de Circulação Correio do Estado em pleno período de paralisação de servidores de vários segmentos
da Prefeitura Municipal da Capital e do Estado de Mato Grosso do Sul e, ainda, pelas inúmeras tentativas de
se justificar os atrasos de pagamento dos servidores públicos Estaduais e Municipais a partir da crise.
Conforme podemos observar nas diversas mídias de notícias, a palavra crise, principalmente se
referindo a crise econômica, tem estado notadamente presente nas mais diversas notícias e debates da
atualidade, seja envolvendo especialistas da área ou não. Nessa direção, no tocante à crise econômica,
Gonçalves (2015) afirma que,
a crise econômica é de conjuntura global, atinge vários países, está longe de ser uma questão
pontual. Assistiu-se a crise das economias nacionais e o aumento alarmante e cada vez mais
crescente do desemprego, gerando desiquilíbrio na economia, com reflexos na ordem
mundial, assentada na pobreza humana, na queda do poder aquisitivo e na destruição do
meio ambiente, com consequências desastrosas, não obstante o esforço comum desenvolvido
por setores da população.
Nesse sentido, considerando a afirmação de Gonçalves, percebe-se que a tão discutida crise tem
sido uma grande preocupação não só nacional, como de inúmeros outros países que também encontram-se
em dificuldade. Porém, nesse texto analisaremos o sentido do nome “crise” apenas no editorial do jornal
Correio do Estado, de 04 de junho de 2015. Ou seja, em um “espaço de enunciação” (GUIMARÃES, 2002)
específico, no Município de Campo Grande, estado de Mato Grosso do Sul, Brasil.
Para analisar o sentido dessa palavra é preciso antes esclarecer que o país passou, recentemente, por
um período de eleições presidenciais que ocorreu em dois turnos. No seu primeiro turno contou com vários
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candidatos; em seu segundo turno concorreram Dilma Roussef (PT – candidata à reeleição) e Aécio Neves
(PSDB). É preciso esclarecer que esses dois partidos são adversários, o PT representa a esquerda e o PSDB a
direita, na política brasileira. Tendo sido eleita, por uma pequena diferença de votos, a representante do PT.
Após as eleições, a crise econômica, que já vinha se fazendo sentir, tornou-se ainda mais acentuada,
pois não havia mais como manter as manobras realizadas pelo governo, já há algum tempo, para driblar essa
crise ou torna-la menos intensa. Desse modo, a população brasileira começou a sentir seus efeitos com a
dificuldade do governo para manter o
financiamento estudantil (FIES), redução do emprego, alta de
produtos, especialmente os importados, devido, principalmente a alta do dólar. Fatores que já eram sentidos,
há alguns anos, em muitos outros países da Europa e, mesmo, da América do Sul, mas que ainda não
afetavam o Brasil. Além disso, foi dada visibilidade a investigações de corrupção, propina, lavagem de
dinheiro e outros crimes cometidos por muitos políticos brasileiros, dos mais diversos partidos. Para muitos
eleitores e políticos brasileiros, esse cenário é de responsabilidade do governo. Conforme Nozak, 2015,
temos de um lado, vozes de apoio crítico ao governo Dilma, de outro lado, brados de
oposição e repulsa contra a presidenta e o PT [...]. Não podemos admitir, no entanto, a
explicação fácil de que esse planetário de problemas é culpa simplesmente da inabilidade
política da figura individual da presidenta, o quadro é bem mais complexo e parece explicitar
os limites do próprio sistema político-econômico e de representação.
Essas relações nos despertaram o interesse em analisar o sentido da palavra “crise” no contexto
atual. É preciso esclarecer que neste artigo não temos a pretensão de discutir ou discorrer sobre a atual crise
econômica, política ou social mundial ou do Brasil, mas, de analisar o sentido da palavra crise no texto
publicado pelo Jornal Correio do Estado. Nessa direção, tomando os pressupostos teóricos da Semântica
Histórica da Enunciação ou Semântica do Acontecimento, consideramos que o texto não é transparente, pois
os sentidos podem ser diversos.
A Semântica do Acontecimento
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Pelo viés da Semântica do Acontecimento, o sentido de uma palavra deve ser analisado na
enunciação, acontecimento do dizer. Sendo “enunciação” um conceito chave para compreender a
especificidade dessa teoria conforme desenvolvida no Brasil por Guimarães.
Para o desenvolvimento desta teoria3, no que se refere à enunciação, Guimarães (1989, 1996, 2001,
2002, 2004, 2005 etc.) sustentou-se nas formulações propostas anteriormente por Benveniste (1976), Ducrot
e Anscombre (1976) e Ducrot (1984). Sendo que em Benveniste a enunciação é o colocar a língua em
funcionamento por um ato individual de utilização (p.83). Desse modo, a enunciação é uma apropriação da
língua e isso é suficiente para que o indivíduo se constitua em sujeito (locutor) e o outro também seja
constituído em sujeito (alocutário). Assim, conforme Guimarães (2008, p. 72) em Benveniste “a
intersubjetividade é algo previsto no sistema da língua, não é uma construção da enunciação”.
Ao conceituar a enunciação, Ducrot e Anscombre (1976, p. 18) dizem que ela é “a atividade de
linguagem exercida por aquele que fala no momento em que fala”. Desse modo, assim como em Benveniste,
trata-se de uma ação do indivíduo relativamente à língua, mas diferentemente daquele autor, Ducrot e
Anscombre não fazem referência ao ato de um Locutor se apropriar da língua.
Em outro momento, Ducrot (1984/1987) define a enunciação como “o acontecimento constituído
pelo aparecimento de um enunciado”. Ele considera o surgimento do enunciado como um acontecimento
histórico, porém utiliza o conceito de história como cronologia, ou seja, considerando o seu caráter temporal.
As formulações desses autores são fundamentais para a constituição da abordagem dos estudos do
sentido desenvolvida por Guimarães. Esta abordagem da teoria da enunciação é uma posição particular que
toma a linguagem na relação com a exterioridade enquanto historicidade e apresenta o conceito de
enunciação caracterizando-o, socialmente. Sendo assim, “a significação é histórica, não no sentido temporal,
historiográfico, mas no sentido de que a significação é determinada pelas condições sociais de sua
existência. Sua materialidade é esta historicidade” (GUIMARÃES, 2005 p. 66).
Desse modo, pelo viés da Semântica do Acontecimento, para analisar o sentido de “crise” é preciso
tomar como lugar de observação do sentido o enunciado que deve ser considerado na enunciação, no
acontecimento da linguagem. O acontecimento, conforme Guimarães (2011, p. 15), “faz diferença na sua
3
Essa questão está melhor abordada em Oliveira (2013).
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própria ordem”, pois ele constitui uma temporalidade específica: funciona por estar no presente da
formulação do locutor, além disso, projeta em si mesmo um futuro de sentidos e, por outro lado, tem um
passado, enquanto memorável de enunciações; é esta temporalidade que o faz significar. Deste modo, é o
acontecimento que constitui o tempo da enunciação, não o Locutor, conforme proposto por Benveniste
(1959). Nessa medida, o acontecimento é um espaço de temporalização, sendo o passado uma rememoração
de enunciações recortadas pelo acontecimento.
Nessa direção, Guimarães considera a enunciação como o acontecimento do funcionamento da
língua, em um espaço de enunciação, produzindo sentido. Deste modo, o acontecimento, produz sentido “por
expor a língua em funcionamento à sua exterioridade, sendo esta exterioridade significante, histórica, e não
física” (2006, p. 126). Nessas relações, é preciso considerar, ainda, a enunciação como um acontecimento no
qual ocorre a relação do falante, enquanto locutor, com a linguagem. Relação em que são produzidos os
textos, por exemplo, o editorial que será analisado neste artigo, e qualquer outro tipos de texto. Sendo os
textos considerados como unidades de significação integradas por enunciados.
Conforme Guimarães (2006) o enunciado é correspondente à frase, porém considerando a situação
em que o locutor fala, sendo, então, “um elemento linguístico próprio do acontecimento do funcionamento
da língua quando um locutor diz algo” (p.122). O autor diz ainda que o enunciado, na relação com as
sequências linguísticas de que faz parte, funciona por ter uma consistência interna e uma independência
relativa, pois há algo em cada enunciado (segmento), que é independente do funcionamento global.
Para Guimarães, o enunciado é o lugar em que o sentido de uma forma, como, por exemplo: “crise”
deve ser observado, pois, para apresentar o sentido de uma forma, é preciso analisar as relações que ela
constitui no enunciado e, ainda, que este enunciado funciona enquanto integrado a um texto. A relação do
enunciado com o texto é chamada por Guimarães (2002, 2006, 2011) de relação integrativa. Essa relação se
dá pela forma como um enunciado se reporta a outro, constituindo modos específicos de relação e,
consequentemente, de observação dos enunciados em cada texto/acontecimento em que eles ocorrem.
Estudar a enunciação inclui tratar aquele que enuncia, pois a enunciação é um acontecimento no
qual ocorre a relação do sujeito com a linguagem. Partindo dessa relação entre falante e língua é que
Guimarães desenvolve o conceito de espaço de enunciação, que “são espaços de funcionamento de línguas,
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que se dividem, redividem, se misturam, desfazem, transformam por uma disputa incessante”
(GUIMARÃES, 2002, p. 18).
Conforme Guimarães (ibidem) o espaço de enunciação é um espaço político, na medida em que é
neste espaço que ocorrem as relações entre as línguas e os falantes, esta é uma relação de disputa pela
palavra. De acordo com Guimarães (2002, p. 21) “estar identificado pela divisão da língua é estar destinado,
por uma deontologia global da língua, a poder dizer certas coisas e não outras, a poder falar de certos lugares
de locutor e não de outros, a ter certos interlocutores e não outros”.
O procedimento de análise
Para análise da palavra “crise”, conforme propusemos acima, é preciso estabelecer um Domínio
Semântico de Determinação que, conforme Guimarães (2007), é ser capaz de dizer da significação na língua,
mostrando “aquilo que acontece” ao analisar como a linguagem ““se reporta a”, “se relaciona a”, “diz de”
alguma coisa” (p.77), representando o sentido das palavras, como, por exemplo, “crise”.
É preciso considerar que a relação de determinação é construída na enunciação, no acontecimento
da linguagem, pois não há nada na natureza de uma expressão que a especifique como determinante para
qualquer outra. É nessa direção que a relação de determinação é estabelecida pelo modo como uma palavra
ou expressão se relaciona com outras que a determinam. São essas relações de determinação que apresentam
o sentido de uma palavra ou expressão. Essas relações são representadas com a utilização de alguns símbolos
específicos que compõem o DSD que são: ┤ ou ├ ou ┴ ou ┬ (estes significam “determina”, por exemplo,
Desaquecimento da Economia ┤ Crise no País, que se lê: Desaquecimento da Economia determina Crise
no País), e o traço dividindo o domínio ————, na posição horizontal, significa a existência de antonímia;
quando o domínio estiver dividido ao meio verticalmente significa que há uma relação entre dois domínios
(da mesma palavra) que se complementam.
Desse modo, não podemos considerar previamente nenhuma relação dessa palavra, que pelo
processo de referência é estabelecida, como neutra, mas que significa o que o seu DSD significa, ou seja, o
que o funcionamento enunciativo estabelece.
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Para estabelecer um DSD é preciso levar em consideração também dois procedimentos que, por
constituírem a enunciação, são fundamentais neste modelo de análise, são os procedimentos de articulação e
reescrituração:
a) Reescrituração é o procedimento pelo qual a enunciação de um texto rediz o que já foi dito e ao
redizer provoca um movimento de sentidos, produz significação para o termo reescriturado. Ou seja, trata-se
de uma relação de sentido em que uma palavra ou expressão ao se reportar a outra, ao reescriturar ou ser
reescriturada, pode ser interpretada como diferente de si. Uma das características dessa operação é que a
relação entre elementos normalmente se da à distância, podendo, eventualmente ocorrer por contiguidade.
b) Articulação trata-se de uma relação de proximidade entre elementos linguísticos. Este
procedimento se refere ao modo “como o funcionamento de certas formas afetam outras que elas não
redizem” (Guimarães, 2004a, p. 8).
É preciso considerar que o texto, como dito anteriormente, é opaco. Os sentidos podem ser variados.
Por isso, os procedimentos de reescrituração e articulação serão fundamentais para analisarmos as palavras,
não enquanto numa relação de referência, mas enquanto uma relação de designação, de significação.
A designação de “crise”
Conforme dissemos acima, buscaremos compreender o sentido da palavra “crise” presente no texto
intitulado “A crise e seu efeito dominó”, publicado no editorial do Jornal Correio do Estado, em 04 de junho
de 2015. Para desenvolvermos a análise apresentamos abaixo alguns enunciados em que observamos, no
acontecimento enunciativo, as reescriturações dessa palavra, conforme segue:
1 – Permitiu que uma crise econômica se instalasse no País neste ano.
2 – Enfrenta há quase um ano grave crise financeira.
3 – Causadora da penúria em que se encontra o município.
4 – A crise que tomou conta do País depois das eleições.
5 – Um terceiro fator que tem contribuído para a falta de dinheiro.
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6 – Será necessário bom senso para reverter este cenário de crise.
A primeira ocorrência da palavra “crise” se dá numa afirmação, da seguinte forma:
1. “As causas principais destes atrasos no pagamento dos salários são muitas, mas todas elas
estão ligadas aos atos dos governantes de todas as esferas, sobretudo a federal que permitiu que
uma crise econômica se instalasse no País neste ano”.
Nesse enunciado vemos a expressão “crise econômica” articulada a “atrasos no pagamento dos
salários”. Nessas relações, houve inoperância de todos “os governantes”, principalmente do governo
“federal”, que permitiu que uma crise financeira se instalasse no País. Ou seja, houve o “consentimento” de
alguém, nesse caso, do “governo federal” para que a crise, que é “econômica” se estabelecesse no Brasil.
Dessa forma podemos apresentar o seguinte Domínio Semântico de Determinação (DSD):
econômica
┴
Crise no país ┤ Atraso no pagamento dos salários municipais
No enunciado 2, temos o seguinte:
2.
“Mais próxima do problema, e responsável direta pelo pagamento de seus servidores, a
prefeitura tem sua parcela de culpa. Enfrenta há quase um ano grave crise financeira e, desde,
então, faz malabarismos todo fim do mês para honrar os salários”.
Nessa enunciação a expressão “problema” está reescriturando, por substituição, a expressão “crise
financeira” que vive a “prefeitura”. É possível observar na enunciação que foram empregadas as expressões
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“parcela” e “próximo”. “Parcela” no sentido de que apenas parte da culpa deve ser creditada a “prefeitura”.
Quanto à palavra “próxima” se refere à condição de proximidade com o problema, em que está a
“prefeitura”, por ser a responsável por efetuar os pagamentos. Nessas relações, se há alguém ou alguma
coisa próxima é porque existe alguma coisa ou alguém distante provocando essa situação, no caso,
impedindo a prefeitura de possuir dinheiro suficiente para pagar suas contas em dia. As relações
apresentadas nos levam a considerar uma crise que não está no nível municipal, mas nacional. O que permite
considerar:
financeira
┴
Grave ┤ crise da prefeitura ├ Crise nacional
┴
não pagamento dos salários dos servidores municipais
Dando prosseguimento a nossa reflexão vejamos o enunciado 3 a seguir:
3.
“A queda da receita não é só um problema de planejamento do primeiro escalão da
prefeitura da Capital. Há uma outra vilã ainda maior, causadora da penúria em que se encontra o
município: a presidente Dilma Rousseff e sua política econômica”.
Observemos agora que “queda da receita”, “penúria” e “crise” estão funcionando, como reescritura,
por sinonímia, uma da outra. Nessa relação encontramos como causadora dessa penúria “uma outra vilã
maior”. Esse sintagma nominal ocorre reescriturado por “a presidente Dilma Roussef e sua política
econômica”. Desse modo é possível compreender que a falta de planejamento do primeiro escalão da
prefeitura não foi a maior causa da crise. A “penúria” foi provocada na esfera Federal e por alguém
específico “a presidente Dilma Roussef”, cuja “política econômica” é mal planejada. O advérbio de exclusão
“só” é uma forma de minimizar a responsabilidade da prefeitura com relação a crise, em que há “um
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problema de planejamento”, mas que esse problema não é o principal responsável pela “queda da receita”, o
principal responsável é “a presidente Dilma Rousseff e sua política econômica”. Diante dessas, observações
temos o seguinte DSD:
problema de planejamento do primeiro escalão da prefeitura da Capital
┴
Queda da receita do município ├ Penúria ‒ Crise ├ a presidente Dilma Roussef
Por essas relações, se “a presidente Dilma Rousseff” determina a “penúria/crise” e a “penúria/crise”
determina a “queda da receita do município”, então a “presidente Dilma Roussef” também determina a
“queda da receita do município”.
No enunciado a seguir verificamos a palavra “crise” reescriturada por expansão por “a crise que
tomou conta do país depois das eleições de outubro do ano passado”. A palavra crise ocorre numa expressão
definida “a crise” e numa oração explicativa “que tomou conta do país depois das eleições de outubro do ano
passado”, ou seja, não se trata de uma “crise” qualquer, mas de uma crise específica ocorrida após as
eleições do ano passado. Essa expressão está sendo predicada por “enxurrada de números negativos
divulgados desde e então” e determinada por “desaquecimento da economia”. Essa “crise” afeta a
arrecadação de impostos o que reflete “no caixa da prefeitura”.
4.
“A crise que tomou conta do país depois das eleições de outubro do ano passado,
demonstrada pela enxurrada de números negativos divulgados desde então, reflete-se diretamente
no caixa da prefeitura, que depende do aquecimento da economia para arrecadar seus impostos”.
Então temos a seguinte relação de determinação em que as eleições de outubro passado determinam
a crise na Prefeitura de Campo Grande/ MS. Desse modo, podemos considerar as seguintes determinações
para a crise.
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Eleições de outubro de 2014
┴
Crise (nacional) ├ Desaquecimento da Economia
┴
Queda na arrecadação de impostos da prefeitura
Aquecimento da Economia
Essa relação de determinação aponta como antonímia da palavra “crise” a expressão “aquecimento
da economia”. Por essas relações, a falta de dinheiro nos caixas da prefeitura está determinada pelo resultado
das eleições de 2014.
Em (5), a seguir, a palavra “crise” está sendo reescriturada por substituição por “falta de dinheiro”,
que nesse caso é “no município” de Campo Grande.
5.
“Um terceiro fator que tem contribuído para falta de dinheiro no município é a perda de
espaço da capital na divisão com outras cidades do estado, dos recursos arrecadados por meio do
Imposto de Circulação de mercadorias e Serviços (ICMS), tributo estadual que também enfrenta
queda de receita”.
Nesse enunciado é apresentado um outro fator também responsável pela crise no município “a
queda na receita do estado”. Por essas relações não é somente o município que está tendo dificuldade
financeira, o Estado também. Porém, a situação do município é pior, uma vez que ele tem que dividir a
arrecadação dos impostos com “outras cidades do estado”.
Podemos dizer que a “crise” Estadual e
Municipal são determinadas pelo desaquecimento da economia que leva à diminuição de recursos advindos
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por meio do “Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)”, que é um tributo estadual. Essa
relação de determinação pode ser apesentada como segue:
Desaquecimento da Economia
┴
Crise - Falta de dinheiro no Município ├ Queda de Receita estadual
Desse modo, o desaquecimento da economia nacional, como vimos acima, reflete na queda da
receita e afeta os governos estaduais e municipais.
Já no enunciado (6), abaixo, a palavra “crise” é reescriturada por repetição, mas enquanto
especificação de “cenário”, que é “de crise” e precisará ser revertido com “bom senso”.
6. “Será necessário bom senso para reverter este cenário de crise, pois, infelizmente, não há
máquina para imprimir dinheiro nos governos Estaduais e Municipais”.
Por essas relações, podemos observar que, nesse enunciado, a oração “não há máquina para
imprimir dinheiro” refere-se à falta de dinheiro dos governos Estaduais e Municipais. Desse modo, está
subentendido que o governo Federal tem essa “máquina”.
Esse enunciado, considerado metaforicamente, indica que o governo Federal é o responsável pela
“crise” e é ele que pode mudar este “cenário de crise”, uma vez que é ele que tem a máquina de imprimir
dinheiro. Desse modo, os governos Estaduais e Municipais encontram-se diante da impossibilidade de
reverter essa situação. Temos, então, o seguinte DSD:
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cenário de Crise – falta de dinheiro
máquina de imprimir dinheiro
Governo Estadual e Municipal
Governo Federal
Essas relações nos permitem observar que há um “cenário de crise” que está afetando os “governos
Municipais e Estaduais” e, por oposição a isso, há uma “máquina de imprimir dinheiro” que é algo da ordem
do governo Federal. Desse modo, o governo federal está significado por oposição aos outros governos, uma
vez que, ao contrário dos demais, tem a máquina de imprimir dinheiro, sendo capaz de reverter o “cenário de
crise”.
Algumas considerações
A partir das análises desenvolvidas acima podemos observar que todos os Domínios Semânticos de
Determinação (DSDs) apresentam a palavra “crise” determinando a falta de dinheiro no município; e quase
todos os DSDs apontando o Governo Federal, especificamente a presidente Dilma Roussef, como
responsável e, até mesmo, como determinante dessa crise. Desse modo, é interessante ressaltar que o sentido
“crise”, ainda que se tratando de uma dificuldade financeira ou problema financeiro do município, está
sempre em relações de determinação com “crise nacional” e governo Federal.
Quase todos os DSDs apontam o atraso de pagamento dos salários municipais, a queda na
arrecadação como sendo determinados pela crise econômica do País, pela inoperância, principalmente do
Governo Federal que permitiu que uma crise se instalasse no País. Acompanhando essa afirmação
encontramos a “penúria” da Prefeitura, reescrevendo “crise” e sendo provocada por alguém específico, no
caso a Presidente Dilma Roussef, e ainda, as eleições de outubro do ano passado, 2014, determinando a crise
na Prefeitura Municipal de Campo Grande/MS, entre outras.
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É importante observar que, ao longo de todo o texto, quando se refere à responsabilidade pela crise
municipal, em nenhum momento se faz referência ao prefeito ou ao governo municipal, mas à “prefeitura” e,
até mesmo, ao “primeiro escalão da prefeitura da Capital”, ou seja, nesse caso, o governo municipal é
isentado de qualquer responsabilidade.
Referências Bibliográficas
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