Diabetes Mellitus: Rotinas de seguimento Ricardo F. Arrais Diabetes: Breve Histórico • 1550 a.C - papiros de Ebers • II séc. d.C - Aretaeus da Capadócia descrição e denominação do “diabetes” (sifão) • V e VI séc. d.C - Susruta diferenciação de 2 tipos (magros com sobrevida curta, e obesos mais idosos) • séc. 17 – Thomas Willis “redescobriu” o doce sabor na urina, e Matthew Dobson associou ao açúcar sangüíneo e urinário • 1869 – Paul Langerhans descreve ilhotas pancreáticas • 1893 – Gustave Laguesse sugeriu função endócrina das ilhotas • 1889 - Minkowski e Mering relacionaram diabetes ao pâncreas • Início do século 20 - Tentativas de extratos pancreáticos • 1921 - Descoberta a “isletina” ou insulina, por Banting, Best, Collip e MacLeod no Canadá • 1922 - Primeiro paciente tratado com insulina • 1955 - Aparecimento de medicações hipoglicemiantes orais (sulfoniluréias) • Evolução da insulinoterapia (cristalina, lenta, NPH e análogos no final do séc. XX) • Aumento progressivo da sobrevida • Séc. XXI - Desafio do aumento na incidência (tipos 1 e 2) e a busca pela cura... Diabetes - Classificação • ADA/NIH (1997) • 1 - Tipo 1 – Imunomediado – Idiopático • 2 - Tipo 2 • 3 - Outros tipos específicos (MODY, mitocondrial, secundário, etc) • 4 - Gestacional Características • • • • • Tipo 1 Início súbito Sintomas severos Perda de peso Geralmente magro • Cetose espontânea • Peptídeo C ausente ou baixo • Com AC + • Tipo 2 • Início Gradual • Sintomas mais leves/assintomático • Ás vezes sem perda • Geralmente Obeso • Sem cetose • Peptídeo C + • Sem AC + • Tipo “1,5”/”LADY”* • Início variável • Sintomas iniciais de DMT1 mais leves • Perda de peso mais leve que o DMT1 • Geralmente Obeso • Sem Cetose/ou inicial • Peptídeo C + • Com AC + • Espectro grande: do DMT2 com AC+ ao DMT1 com RI * Reinehr e cols. Arch Dis Child 2006;91:473–477 Diagnóstico • DM: – Sintomas típicos + glicemia ao acaso>200mg/dL – Glicemia de jejum≥ 126mg/dL em 2 ocasiões – TTOG com glicemia de 2h > 200mg/dL • Intolerância à Glicose: – Glicemia entre 140-200 no TTOG • Glicemia de jejum alterada: – Entre 100 e 126mg/dL TRATAMENTO DMT1 • DCCT (DMT1) e UKPDS (DMT2): Importância do controle mais rigoroso • Objetivo Ideal: Prevenção primária – Identificação de suscetíveis (genética: genes HLA) – Tratamento profilático: Estudos preliminares (ENDIT, com nicotinamida), DPT-1 com insulina, dieta isenta de leite bovino (evitar exposição á BSA, seroalbumina bovina) por 9 meses, sem bons resultados... – Modelos animais: insulina ou GAD oral parecem prevenir desenvolvimento de DM1 (desenvolvimento de imunotolerância?) – Prevenção ainda não disponível na prática clínica. – Protocolo de intervenção mais efetivo seria a mudança de hábitos?? (Wilkin e Plymouth, 2004) Após instalação clínica do DMT1 • Avaliar “reserva” pancreática (individualizar necessidade insulínica) • Adequar ao paciente (estabelecer metas de controle viáveis...) • Reforçar e estimular a aderência ao plano traçado em comum acordo • Lembrar que o processo de perda da função da célula beta continua (ajustes periódicos) Recursos disponíveis • Insulinas: humanas, suínas e análogos rápidos (aspart e lispro) e lentos (glargina e detemir) • Monitorização: glicosímetros (cada vez mais sofisticados e menos incômodos) CGMS (Continuous Glucose monitoring System) • Insulinoterapia Tipo de insulina início pico duração Associação possível Regular 30-60 min 2-4 h 6-8 h NPH NPH 1-2 h 6-12 h 12-24 h Regular, lispro, aspart Lispro 15-30 min 0,5-1 h 2-5 h NPH Aspart 10-20 min 1-3 h 3-5 h NPH Detemir 0,8-2 h Sem pico relevante 18-24 h Não deve ser misturada Glargina 1-2 h Sem pico relevante 24 h (menos em doses abaixo de 20U) Não deve ser misturada Insulinoterapia • Como iniciar? – Em paciente recém diagnosticado: após compensação, introduzir insulina intermediária ou basal + rápida complementar ou apenas intermediária (respeitar capacidade do paciente e família na incorporação das condutas) – Convencional: NPH: 0,3-0,5U/kg/dia para iniciar (1x/dia), ajustando com controles, até progredir para 23x/dia. Progredir assim que possível para intensificação Tratamento Intensivo • Busca do mais fisiológico possível... • Esquema basal-bolus ou MDI: – NPH (3 ou mais doses) + regular 30-60 min antes das refeições – NPH + lispro/aspart nas refeições – Glargina/Detemir + lispro/aspart nas refeições • Só funcionam com monitorização glicêmica capilar freqüente... • Trabalhar com alvos: Alvos de controle Crianças Adolescentes/adultos Pré-refeição 100-140 mg/dL 70-110 mg/dL 1,5-2h após refeição 140-180 mg/dL 80-120 mg/dL Ao deitar 150-200 mg/dL 100-140 mg/dL 2-3h madrugada >130 mg/dL 80-120 mg/dL A1c (nl até 6%) 8% 7% Insulinoterapia: outras alternativas • SIC / Bomba de insulina: – Método potencialmente mais fisiológico atualmente disponível – Aparelhos programáveis: basais variados, bolus em diferentes formatos (estendidos, curtos, bifásicos...) – Custo ainda elevado ... SIC / Bomba de insulina • Indicações: – – – – – Hipoglicemias recorrentes/severas/assintomáticas Complicações precoces e evolutivas Instabilidade acentuada (“Brittle Diabetes”) Falhas nos esquemas de MDI apesar de boa aderência do paciente Paciente motivado por melhor flexibilidade • Perfil do candidato – – – – Motivado / responsável (pais, no caso de crianças pequenas...) Boa aceitação da doença Conhecimento da contagem de CH (CCH) Automonitorização regular da glicemia capilar SIC / Bomba de insulina • Programação: Iniciar com 60-70% da dose MDI (usar análogo rápido) – Se possível ou disponível, fazer o CGMS antes da instalação (avaliar melhor o perfil prévio) – Infusão basal: 50% da dose inicial (variadas velocidades programáveis) – Bolus alimentação: baseado na CCH e estimativa de relação U/gCH (regra de 500: dividir 500 pela dose total insulina MDI. Ex: paciente que usa 25U, 500/25= 20 ou seja, 1 U devem “metabolizar” 20g de CH) – Bolus de correção: baseada na sensibilidade à insulina (SI), calculada na regra de 1800: dividir 1800 pela dose total MDI. Ex: 25U, SI=1800/25=72mg/dL, ou seja, 1 U “diminuem” 72mg/dL da glicemia (varia bastante...) • Se a glicemia atual é 360mg/dL e temos como alvo 100mg/dL, dividimos a diferença (260mg) pela SI, e temos 260/72=3,6U. • Se o paciente vai ingerir um bolinho com 40g de CH, deverá fazer portanto 2U de bolus alimentação + 3,6U de correção, aferindo sua glicemia entre 1,5 a 2 horas após, para ajuste destes valores. Outras formas de insulinização • Inalável: ainda não aprovada para idades abaixo de 18 anos. • Oral/Sublingual • Transdérmica • Retal • Intranasal (todas ainda em fase experimental...) Pfizer - Exubera® Lilly/Alkermes Complicações Insulinoterapia • • • • Hipoglicemia Lipodistrofias (hipertrofia) Ganho de peso (tratamento intensivo) Alergia e hipersensibilidade/AC antiinsulina • SIC: hiperglicemia/CAD, infecções de pele Rotina Ambulatorial • Tratamento multidisciplinar – Foco na educação em diabetes (programa de palestras regulares) – Periodicidade: consultas a cada 3-4 meses – Pré-consulta de enfermagem: • Avaliação da técnica de auto-monitorização • Avaliação de técnica de auto-aplicação • Esclarecimento dos cuidados de manipulação e armazenamento da insulina Rotina Ambulatorial • Avaliação médica – Avaliar a aderência às recomendações prévias / intercorrências do período – Avaliar a aceitação da doença pelo paciente e familiares, e sua integração na comunidade (escola, amigos) – Determinar padrão de crescimento e ganho de peso – Atentar para co-morbidades (D.Celíaca?/Adrenalite AI?) – Avaliar controle metabólico atual (A1c e perfil de glicemias capilares) – Avaliar perfil lipídico, função renal (microalbuminúria), fundoscopia retiniana, função tireoidiana, ao menos anualmente – No exame clínico, aferir PA, estágio de maturação puberal (avaliar distúrbios menstruais), presença de lipodistrofias, rigidez articular, parestesias. – Avaliar e estimular atividade física regular – Avaliar o padrão e distribuição alimentar e registrar os erros – Observar estado vacinal (preconizar imunização ampliada) – Revisar terapêutica, planejar metas e agendar reavaliação Rotina ambulatorial • Atividade física: indicar atividade principalmente aeróbica 40-60 minutos no mínimo 2-3 vezes na semana. Cuidados com hipo/hiperglicemias • Avaliação nutricional – – – – – – Fundamental no planejamento: manter peso saudável Normocalórica e fracionada: 50-60% do VCT em CH complexos (↓ IG) 30% ou menos de gorduras (>7% saturadas) 10-15% proteínas (0,8-1g/kg/dia) Rica em fibras solúveis Rotina Ambulatorial • Suporte Social – Assistente social reforça vínculo do paciente aos cuidados em sua comunidade de origem – Orientação quanto ao apoio social (estatuto da criança e do adolescente) • Suporte Psicológico – Fundamental para o paciente e sua família, principalmente em fase inicial da doença – Atuação em atendimentos individuais ou em grupos por faixa etária (dinâmicas) Aspectos do Diabetes Tipo 2 (DMT2) em crianças • Subproduto da “Epidemia” de Obesidade • Incidência crescente (geralmente na adolescência) • Característica clínica insidiosa: Avaliar risco (indivíduo púbere, com acantose e histórico familiar +) • Triagem de suscetíveis importante • Prevenção: evitar excesso de peso e mudar hábitos • Objetivos do tratamento: – Normalização de glicemia e A1c (a cada 3 meses) • • • • Reeducação alimenar / atividade física, em caso de falha, Associar metformina. Na falha, Associar sulfoniluréia. Em caso de falha, Insulinoterapia Diabetes (ainda) não tem cura... • Mas tem controle! • Obrigado!!