Docência Médica e Semiologia Pediátrica

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Docência Médica e Semiologia Pediátrica
Efigênia Vanda de Jesus 1
Palavras-chaves:
Resumo
Docência
O médico, ao compreender, estimular, orientar e interpretar, racionalmente,
a informação dada pelo paciente, estará diante de um momento crucial,
capaz de decidir o sucesso ou insucesso do ato médico, mantendo ou
não registro harmônico, articulado com o ensino, a consulta e o paciente.
Anamnese e exame físico são básicos para o desenvolvimento do raciocínio
diagnóstico, demonstrando que os médicos estabelecem correlação entre
o ensinado na disciplina de Semiologia e os conhecimentos efetivamente
utilizados, ao registrarem corretamente elementos da coleta de dados em
prontuário do paciente. Segundo autores consagrados da área administrativa
em saúde (Donabedian,in Ramirez, 1989), a atuação do pessoal hospitalar
se reflete indiscutivelmente na atuação do médico, da mesma forma que as
deliberações do médico repercutem invariavelmente nos resultados finais
dos programas em curso. Dessa forma, numa opção de qualidade no Ensino
Superior, esperamos formar bons profissionais para um mercado altamente
competitivo, mas bem conscientizados do seu papel na coletividade, com
aguçada consciência social.
Semiologia
Totalidade
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Registros
Sabetti (1991, p.252) enfatiza que as
raízes da medicina holística estão nas próprias
palavras relacionadas à medicina e à ciência
médica, pois um médico – do latim, physica,
ciência natural – é basicamente um estudioso
da natureza, ao passo que um doutor – do
latim, docere, ensinar – é um professor. A
prática da medicina – do latim, medi, cura,
equilíbrio, cina, substância ingerida – pode ser
vista como a arte de estudantes e professores
da natureza que facilitam a arte do equilíbrio,
sendo a ingestão de substâncias um de seus
fatores.
Aprofundando-se
ainda
mais,
descobre-se que a raiz sânscrita da palavra
medicina é medha, que significa sabedoria.
Então, trata-se de uma prática de sabedoria,
em que o equilíbrio (ou totalidade) da energia
vital pode ser ensinado e aprendido através do
estudo da prática dos processos da natureza e,
que embora muitos médicos ortodoxos tenham
esquecido que suas raízes estão no divino
(xamãs), no todo (Hipócrates), no ensinamento
(doutor), no equilíbrio (medicina), na unidade
das polaridades (Yin/Yang), nos princípios da
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Especialista - Ciências da Saúde – UniFOA
natureza (médico) e na lei dos semelhantes
(homeopatia), o movimento da harmonia
continua através da medicina ortodoxa, mesmo
que muitos dos que praticam a medicina
holística não sejam aceitos pelos poderes
constituídos. (SABETTI, 1997, p.255).
Denota-se que tanto a saúde como
a totalidade é um estado de ser que exige
uma consciência ativa, pois quando o corpo
físico, a expressão emocional e a atitude
mental estão em harmonia, a saúde é expressa
através de pensamentos, sentimentos e ações
sincronizadas, em que cada um nada mais
é do que a forma dos outros. Portanto, nas
atividades diárias, a harmonia reflete-se no
estado de saúde do ser; a totalidade é cura,
bem como promoção da saúde, visto que cada
parte do indivíduo é, em certo sentido, o todo,
um holograma que irradia o estado total de
saúde para todo o organismo.
Manter-se saudável, então, é um
processo ativo dependente da percepção
individual que o sustente como tal. Quando
não se está completamente consciente não
se pode ser pleno. Assim, ao permitir-se um
CÓSSIO, P. et al. Semiologia Médica. Argentina, Talheres e gráficos de Sebastián de Amorrortu e Hijos, 1955, in Rodrigues,
Rodrigues. Semiologia Pediátrica. Rio: Guanabara Koogan, 1999, p.1.
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aos valores humanos, para o exercício da
medicina.
Dessa maneira, aprender-se-á a decifrar
a linguagem das doenças e compreender a sua
repercussão sobre a Pessoa Humana, na sua
globalidade psíquica e somática, demonstrado
na qualidade dos registros médicos;
evidenciando se deram ênfase aos fatos
relevantes ao diagnóstico, anamnese e exame
físico, inclusive se houve pouco cuidado
na grafia e no modo de efetuar correções,
desvalorizando o prontuário como veículo de
comunicação interdisciplinar e articulador do
ensino com a consulta e o paciente.
A palavra semiologia vem do grego
semeyon: sinal e, logos: discurso. Cóssio
(1999)1 diz que é o estudo dos sinais das
doenças [...] é a arte e a ciência metodizada
do diagnóstico médico, requisito indispensável
para a terapêutica e para o prognóstico. É a
parte da Medicina que estuda os sintomas
das doenças; estudo ou tratado acerca
dessa matéria, destinada à procura do exato
significado dos sinais e sintomas, facilitando
ou orientando os diagnósticos.
Ressalta-se, também, a importância
da Propedêutica e Semiogênese – que consiste
em conhecer e buscar os sintomas, os sinais,
compreender sua gênese, aprender a coletar os
dados da anamnese e do exame físico – passos
indispensáveis na formação do estudante; para
o futuro médico, quando a ênfase dispensada a
tais dados norteará todo o embasamento teórico
da relação médico-paciente; e da elaboração
diagnóstica, refletindo-se nas anotações feitas
pelo profissional no prontuário do paciente.
Assim, a premissa essencial assumida
nesse estudo de avaliação do prontuário
refere-se à análise qualitativa dos registros
disponíveis, em um determinado período, do
tipo auditoria. Reforçando essa idéia, Ramirez
(1989, p. 3 – 25) definiu que a auditoria
médica é a qualidade da atenção médica
refletida nas histórias clínicas. Partindo-se
do pressuposto de que se algum procedimento
não foi registrado é porque não foi realizado,
sendo indubitável a importância dos registros
médicos na prática clínica e sua influência nos
processos de cuidado do paciente.
Além do enfoque na área da Ética,
orientando o estudante a (...) aprender,
desenvolver-se e exercitar-se nos fundamentos
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desvio da atenção, corre-se o risco de adoecer,
pois, a totalidade e a saúde são manifestações
de harmonia e de bem-estar, e, qualquer
perturbação da totalidade acabará gerando
algum tipo de desarmonia ou doença; do que
se depreende que, na verdade, é a distorção
da totalidade que provoca a doença, que se
incompatibiliza com a harmonia.
Hipócrates, quando a atividade
médica era tida como algo superior, e exercida
de maneira mística e até mesmo divina, por
curandeiros, pajés, feiticeiros e sacerdotes,
substituiu a superstição que envolvia o processo
saúde-doença, pelo espírito científico. Através
da observação diagnóstica e do tratamento
clínico, deu à medicina os seus ideais éticos,
pois, observava os sintomas e a natureza do
mal que afligia o paciente, ao invés de atribuir
aos deuses a culpa pelas enfermidades.
Com ele, rompem-se os laços da
medicina com a magia e o misticismo e,
surgem os fundamentos da medicina racional,
desenvolvendo uma abordagem prática de
saúde baseada na história clínica, no relato
ordenado dos sintomas e das condições
de vida do paciente, a que denominou
de anámnesis – aná: recordar, trazer de
volta; mnesis: memória – estabelecendo sua
importância na descrição dos sinais, sintomas
e evolução dos padecimentos do doente. Assim
sendo, a anamnese é a etapa fundamental no
combate à doença e em sua prevenção, quando
se estabelece o contato entre o médico e o
doente, durante o qual este apresenta e transmite
àquele as suas queixas e, as preocupações
que lhe angustiam, em linguagem própria,
conforme o seu temperamento.
Sem o domínio da comunicação, a
capacidade de ouvir, sentir, relatar e apreender
a história colhida do paciente, certamente
estará comprometida, e, conseqüentemente, a
interpretação dos fatos. Portanto, estimular e
valorizar as habilidades da realização de uma
anamnese e exame físico, bem feitos, requer o
ensino médico, predominantemente, junto ao
paciente. De tal modo que virtudes como as
apregoadas por Hipócrates na caracterização
do médico autêntico, tais como: fidelidade
à verdade, promoção da justiça social,
compaixão, prudência, disponibilidade
e generosidade, sejam enfatizadas como
elementos de uma vocação de respeito
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da base ética dos fenômenos, fatos e situações
de natureza médica, para saber equacionar
os dilemas éticos no exercício da profissão.
(MARCONDES, 1998, p.135).
Na prática clínica observa-se a
interação médico-paciente, na qual o médico,
através de um processo de investigação
semiológica, colhe um conjunto de dados do
paciente, que serão organizados e interpretados
à luz do conhecimento existente, objetivando
o diagnóstico. No entanto, há uma dissociação
ente o discurso e a prática dos médicos no
que concerne aos seus registros. Eles sabem
e declaram, quando questionados, o valor das
anotações em prontuário para a qualidade
no cuidado aos pacientes e para a produção
do conhecimento; mas no momento em que
deveriam efetuar o registro do ato médico
praticado, tem-se a impressão de que o tempo
a ser gasto deveria estar sendo mais bem
utilizado, talvez pela tensão constante entre o
tempo disponível e a quantidade de pacientes
a serem atendidos, o que, de qualquer forma,
não justificaria tal desrespeito ao outro ser sob
seus cuidados.
Considerando
que
afetividade
seja uma necessidade humana básica, não
prescindida por nenhum avanço tecnológico
e, que funciona como motivação do indivíduo
para a aprendizagem, carecendo de vínculos
entre professores e alunos para o seu sucesso
– visto ter-se a dedicação e a capacidade
dos docentes como os mais importantes
instrumentos pedagógicos; pode-se afirmar
que o processo de aprendizagem refere-se ao
crescimento e desenvolvimento de uma pessoa
em sua totalidade, abrangendo minimamente
três grandes áreas do ser humano: a do
conhecimento, a de habilidades e a de
atitudes ou valores.
Desse modo, espera-se que os
egressos de uma escola de medicina promovam
encontros entre médico e paciente de forma
apropriada, pois se isso não ocorrer não haverá
o que registrar. Faz-se mister a produção do
conhecimento através da observação sistemática
da realidade; o desenvolvimento de habilidades
para reconhecer os dados significativos ao
cuidado do paciente pela elaboração diagnóstica
e terapêutica; e, o aprimoramento de atitudes ou
valores para que nada deixe de ser registrado,
reproduzindo-se nos prontuários do paciente a
estrutura proposta para o processo diagnóstico
e terapêutico em si.
Prepondera a Relação MédicoPaciente como parte fundamental do
atendimento médico, a influenciar diretamente
a qualidade técnica da consulta, pois muitos
dos problemas começam na forma como é
elaborada a anamnese e nas discussões das
propostas de tratamento. Inclusive, a adesão do
paciente às condutas médicas e a continuidade
do tratamento é dependente do relacionamento
que se estabelece entre este profissional e o seu
assistido; destacando-se a comunicação para
promover esse entendimento com o paciente e
a habilidade do médico para efetivá-la, como
fundamental na obtenção da história clínica
de qualidade e na interação com o paciente, o
que favorece a aproximação do médico para a
realização do exame físico.
É notória uma inadequação dos
currículos do ensino médico à realidade, sem a
preocupação com a formação do pensamento,
visto que objetiva lidar com pessoas, excluindo
o estudo da Filosofia, das Ciências Humanas
e, assim, deixando de atingir os objetivos da
missão universitária, como Ortega y Gasset,
filósofo e sociólogo espanhol, a definiu: (...)
formar homens e mulheres cultos, capazes de
possuir uma noção clara da concepção física
do mundo, do caráter e limites da ciência e da
evolução histórica da humanidade.
Acredita-se que só através da cultura
o médico elevar-se-á para além do fenômeno
orgânico, permitindo-se perceber o homem
doente em toda a sua complexidade biológica,
psicológica e, social, buscando entender o
que a doença – entidade nosológica estudada
e diagnosticada – representa para o paciente,
distinguindo-a do estar doente – a vivência da
doença por parte do paciente.
Têm-se hospitais de ensino, aulas
práticas, teórico-práticas, mas falta a essência
da Teoria – a conscientização do papel do
profissional de educador, que será vital para
a sua atuação com qualidade, como agente
de mudança e o que promove saúde; o que
possibilitaria a ênfase ao estudante de que a
compreensão do paciente em todos os seus
aspectos auxilia o médico a realizar um melhor
diagnóstico e, conseqüentemente, a aumentar
sua eficácia terapêutica. Ao atingir o mundo
do paciente, não estará lidando apenas com
uma enfermidade, mas sim com o indivíduo
doente, que é onde a doença existe de fato,
personalizada em alguém.
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Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
JESUS, E. V.. Docência Médica e Semiologia Pediátrica, Volta Redonda, ano III, edição especial, outubro. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/especiais/pmvr/26.
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