6º Fórum Insper de Políticas Públicas 2016 www.insper.edu.br/conhecimento pág.2 pág.4 Relatório indica a eficiência na gestão das cidades brasileiras O impacto da economia nos municípios e as soluções para fugir da crise 6º Fórum Insper de Políticas Públicas Evento fomenta debate entre especialistas a respeito da gestão e eficiência dos municípios brasileiros em tempos de crise R ealizado no dia 29 de agosto de 2016 no Auditório Steffi e Max Perlman, o 6º Fórum Insper de Políticas Públicas colocou em pauta a eficiência de gestão das cidades brasileiras. O evento foi organizado pelo Centro de Políticas Públicas (CPP) em parceria com o portal Meu Município (https://meumunicipio.org.br) e com o jornal Folha de S.Paulo, que elaborou um ranking inédito (REM-F) para medir a eficiência de 5.281 dos 5.569 municípios do país (95%). “Essa proposta da Folha de criar indicativos 6º Fó r u m I n s p e r d e P o l í t i c as P ú b l i c as da política local é mais do que bem-vinda. Ela é essencial”, disse Marcos Lisboa, presidente do Insper, na abertura do evento. A iniciativa é considerada uma boa ferramenta para a informação da população, principalmente em um ano de eleições municipais. Além de apontar e comentar informações importantes sobre os dados do índice, os palestrantes aproveitaram o debate para falar sobre o impacto da economia brasileira na gestão das cidades. Alternativas e precauções para driblar a crise e planejar uma boa gestão municipal foram os principais temas abordados. 1 2016 6º Fórum Insper de Políticas Públicas “Nosso objetivo ao criar o REM-F era mostrar à população quem faz mais com menos” Fernando Canzian, repórter especial da Folha de S.Paulo A importância de ranquear a eficiência das cidades Jorge Araújo/Folhapress Ranking da Folha de S.Paulo tem o intuito de mostrar quais municípios do país entregam mais saúde, educação e saneamento gastando menos Ranking de Eficiência dos Municípios Confira alguns dados do ranking elaborado pela Folha de S.Paulo Melhores cidades 1º Cachoeira da Prata (MG) 2º Lobato (PR) 3º Bom Jesus do Norte (ES) Naercio Menezes Filho, Rafael Terra e Fernando Canzian debatem relatório da Folha e gestões municipais do país O repórter especial Fernando Canzian apresentou no 6º Fórum Insper de Políticas Públicas a primeira versão do REM-F, divulgado pela Folha de S.Paulo na véspera do evento. A análise disponibilizada em versão impressa e online (acesse em http://goo.gl/gjPW2M) classifica os municípios brasileiros em um ranking de eficiência. Para chegar ao resultado final, o jornal analisou três áreas básicas: saúde, educação e saneamento. A partir daí, foi possível constatar uma relação histórica entre os municípios mais bem avaliados. As cidades que aparecem no topo da tabela contam com bases no setor industrial e de serviços. É o caso de Cachoeira da Prata, em Minas Gerais. O município número um do ranking teve forte influência de uma grande indústria têxtil. A empresa chegou a empregar 30% dos moradores, porém se encontra fechada atualmente, 6º Fó r u m I n s p e r d e P o l í t i c as P ú b l i c as o que pode acarretar grandes problemas para a cidade no futuro. Entre as capitais, o pior resultado foi apresentado por Porto Velho (RO). Assim como outras cidades brasileiras, o município sai em desvantagem devido às condições geográficas, ao alto número de funcionários públicos e à dependência de repasses públicos. No que se refere aos Estados, dois representantes da região Nordeste se destacaram por abrigar os Melhores capitais 40º Vitória (ES) 130º Florianópolis (SC) 342º João Pessoa (PB) municípios mais eficientes do país: Rio Grande do Norte e Ceará. São Paulo, Sergipe e Rio de Janeiro aparecem logo em seguida, enquanto Amapá e Rondônia estão nas últimas posições do ranking. Para Rafael Terra, professor adjunto na Universidade de Brasília, a simplicidade é um fator essencial para o sucesso do índice REM-F. Além de contar com vídeos e conteúdos complementares, o material é entregue em um formato que pode ser 2 Educação sem produtividade Gráfico revela a evolução da produtividade na Coreia, país que investe em educação há anos, em relação ao Brasil 45 2010 Produtividade (USD 1.000 de 2005) 40 2005 35 2000 30 1995 25 1980 20 1975 15 1990 1985 1965 1970 1990 2010 1980 1970 10 2000 2005 1995 1985 1975 1965 5 0 0 Brasil Coreia facilmente compreendido pelo público. Entretanto, o especialista ressalta que é preciso tomar cuidado na hora de comparar cidades com condições geográficas distintas, já que os números relacionados a saúde, educação e saneamento podem estar ligados a fatores como urbanização, tamanho dos municípios e aglomeração. Canzian destacou que a ideia da Folha é continuar atualizando o ranking e implantando melhorias e novidades para torná-lo cada vez mais completo. A fórmula para evoluir Os especialistas que ministraram as palestras do evento acreditam que o ranqueamento de eficiência dos municípios tem potencial 2 4 6 8 10 12 Anos de Estudo O REM-F analisou três áreas básicas: saúde, educação e saneamento. A partir daí, foi possível constatar uma relação histórica entre os municípios mais bem avaliados para criar um impacto positivo na gestão pública. O REM-F permite que a população use as informações para cobrar melhorarias dos governantes. Além disso, a busca por um lugar mais alto na tabela e a inspiração em locais que estão indo bem servem como forma de incentivo. Naercio Menezes Filho, professor titular da Cátedra IFB e coordenador do Centro O Pa p e l das P o l í t i c as P ú b l i c as n o D e s e n vo lvi m e n t o d o Pa í s de Políticas Públicas do Insper, introduziu no debate o crescimento do sistema educacional brasileiro nos últimos anos. Para ele, a desigualdade de renda está caindo graças a um reflexo dessa melhora. Apesar da evolução, porém, o professor ressaltou que o fator ainda não ajudou a ampliar a produtividade das pessoas (confira o gráfico acima). “Nosso objetivo é aumentar o crescimento econômico com justiça social. Para alcançar isso, é fundamental investir em algumas áreas, como educação, saneamento e saúde. Esses três fatores fazem com que a produtividade dos cidadãos aumente e, consequentemente, levam ao crescimento econômico no longo prazo”, afirmou. O professor ainda destacou um estudo realizado pelo Center on the Development Child da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que mostra o desenvolvimento do cérebro humano ao longo da vida das pessoas. Ele indica que as funções mais importantes surgem no primeiro ano de vida. “Quem perde essa janela de desenvolvimento pode ter problemas futuros de aprendizado”, disse. Essa informação, segundo Menezes Filho, deve ser levada em conta pelo governo municipal, já que ele é o responsável por garantir um bom desenvolvimento de capital humano para a população. Logo no início da vida, as pessoas precisam de acesso a uma boa rede de saúde e de educação. 3 2016 6º Fórum Insper de Políticas Públicas em Números... 95% dos municípios brasileiros foram analisados pelo REM-F 24% 26% 72% das cidades são realmente eficientes dos brasileiros aprovam a gestão de suas prefeituras dos municípios dependem de repasses públicos A crise bateu à porta das cidades brasileiras Jorge Araújo/Folhapress Especialistas discutem impacto da recessão econômica nos municípios e alternativas para manter uma boa gestão Fabiana Rocha, Sol Garson e Enlinson Mattos durante o evento: o controle de possíveis ineficiências é fundamental para o crescimento das cidades A desaceleração econômica e o aumento da inflação afetaram não apenas o cotidiano doméstico dos brasileiros, mas também a administração dos municípios do país que, nos últimos tempos, viram o repasse de verbas estaduais e da União diminuir consideravelmente. Para Sol Garson, consultora em finanças públicas do portal Meu Município, esse cenário deve se manter por algum tempo. “A previsão é de que essas receitas continuem caindo enquanto o setor econômico estiver fraco”. A expectativa se agrava diante do fato de que a maioria dos municípios brasileiros depende de transferências públicas para sobreviver. Só a União, por exemplo, repassa 24,5% da arrecadação líquida do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Além disso, os Estados transferem 50% do IPVA e 25% do ICMS às cidades. De acordo com dados publicados pela Folha de S.Paulo, 72% dos municípios 6º Fó r u m I n s p e r d e P o l í t i c as P ú b l i c as brasileiros não se sustentam e dependem em mais de 80% dessas verbas. O grande desafio das prefeituras municipais é saber lidar com a crise e a consequente diminuição dos repasses sem prejudicar a administração da cidade. Apesar de não ser fácil, é possível manter uma gestão de qualidade mesmo com a diminuição das verbas. O segredo é elaborar um planejamento em longo prazo, algo que as cidades brasileiras não costumam fazer. “Os municípios pequenos dependem muito da União e do Estado. Quando os repasses diminuem, não dá para inventar muito. Não existe um mecanismo de manobra, o que é um grande erro”, afirmou Sol. Assim como ocorre em várias áreas do setor público e dos negócios, planejamentos evitam imprevistos. Se as cidades tivessem se programado para um possível cenário desfavorável, talvez estivessem mais preparadas para enfrentar a crise atual. 4 6º Fórum Insper de Políticas Públicas “Às vezes, os problemas não têm a ver com corrupção, mas com má gestão” iStock Fabiana Rocha, professora da USP “É preciso disponibilizar os dados de forma transparente e usá-los para cobrar os gestores dos municípios” Naercio Menezes Filho “Com a receita em queda e sem um plano concreto, a única saída dos municípios é cortar investimentos”, destacou a especialista, que também é professora colaboradora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sol acredita que o grande problema atual é a criação de estimativas muito otimistas. “O orçamento que não é realista abre a porta para as pressões. Dificilmente se encontra um estudo sério”, ressaltou. Como ser eficiente em tempos de crise A professora da USP, Fabiana Rocha, subiu ao palco para falar sobre as melhores formas de implantar uma gestão municipal eficiente. A palestrante tomou como base O segredo para garantir uma boa gestão municipal é contar com um planejamento em longo prazo o conteúdo do livro Avaliação da Qualidade do Gasto Público e Mensuração da Eficiência, lançado pelo Tesouro Nacional. A publicação está disponível gratuitamente no site da Secretaria da entidade (http://goo.gl/JVLUyU). Com a economia em crise é preciso saber economizar. Existem três formas de reduzir as despesas de uma cidade: deixar de prestar o serviço público, reduzir a qualidade desse serviço ou controlar possíveis ineficiências. A primeira opção pode prejudicar parte da população. A segunda pode até funcionar em curto prazo, mas traz problemas no futuro. “A última opção é a que preservaria o produto e a qualidade. Portanto, é ela que deveria ser escolhida se o governo, de 6º Fó r u m I n s p e r d e P o l í t i c as P ú b l i c as fato, tentasse levar em conta alguma racionalidade em casos de ajustamento fiscal”, afirmou Fabiana. A pesquisadora acredita que é possível fazer mais com menos e continuar preservando a qualidade dos serviços prestados. Para Fabiana, o uso dos gastos públicos nos municípios brasileiros ainda é muito desanimador. “Uma boa opção seria pegar a experiência dos locais que estão indo bem e distribuir esses fatores para as cidades que estão no caminho errado”, completou. Técnicas para medir a eficiência Enlinson Mattos, coordenador da pós-graduação acadêmica e professor adjunto (associado) da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, preparou uma palestra para completar o debate sobre boas gestões municipais realizado no Insper. O profissional mostrou trabalhos relacionados ao tema e apresentou os três principais métodos usados em pesquisa acadêmica para medir a eficiência de cidades: Free Disposable Hull (FDH), Data Envelopment Analysis (DEA) e Fronteira Estocástica. Todos eles, segundo Mattos, têm aplicações distintas e, inclusive, podem levar a resultados diferentes. 5