A Restrição Política ao Crescimento Econômico Marcos de Barros Lisboa Insper O Desafio Fiscal Brasileiro A Restrição Imediata Em 2014, Brasil teve déficit primário de 0,6% do PIB. Estabilização da dívida sobre PIB requer primário de 2,5% a 3,5%. Orçamento federal tem pouca flexibilidade, com mais de 90% das despesas mandatórias. Despesas correntes podem crescer perto de 4% acima da inflação. Em decorrência da recessão, arrecadação pode decrescer em 2015. Teremos um ajuste fiscal baseado sobretudo em corte de investimento e aumento de impostos? A Qualidade do Ajuste Medidas que reduzem distorções foram anunciadas em dezembro. Porém, na contramão do que foi prometido na campanha e requerem aprovação no Congresso, provavelmente com ajustes. Diversas medidas dispersas que aumentam algumas às custas da eficiência econômica. arrecadação, A restrição política. Como aprovar medidas na contramão do compromisso político e ausente uma crise aguda? A restrição econômica. Se todas as medidas fossem aprovadas como propostas, primário entre 0,6% e 0,8%, caso a receita ficasse estável. Entretanto, esse não deve ser o caso. Mais impostos? As Restrições de Longo Prazo Brasil tem, historicamente, baixo crescimento da produtividade, menor do que muitos emergentes, e mesmo do que os EUA. Nos anos 2000, porém, produtividade no nível da fronteira do mundo. Além disso, benefício do bônus demográfico econômico. Duas más notícias. 1 – Produtividade parou de crescer depois de 2010. 2 – O bônus demográfico econômico acabou. Isso significa crescente pressão fiscal nos anos à frente, e baixo crescimento. Uma inevitável agenda de aumentos recorrentes de impostos? Produto por trabalhador 1983 - 2013 Fonte: José Alexandre Scheinkman Crescimento da PTF em comparação com EUA (1990--‐2013) Fonte: José Alexandre Scheinkman A Agenda Difícil No curto prazo, um ajuste fiscal, mesmo de baixa qualidade, é preferível à alternativa. Risco de crise aguda por piora do risco país se reduziu recentemente. Ocorrerá um ajuste fiscal mínimo necessário? No médio prazo, retomada do crescimento requer mais do que ajuste macroeconômico, requer Agenda de Produtividade: 1 – Liberalização comercial, revisão das regras de conteúdo nacional e incentivo à competição. 2 – Melhor regulação para induzir investimento privado em infraestrutura. 3 – Reforma Tributária. As Restrições Políticas Ajuste fiscal requer a revisão de diversas políticas públicas, incluindo políticas sociais e de proteção setorial, e enfrentar a resistência dos grupos de interesse. Protestos populares têm duplo significado. Por um lado, melhores serviços públicos e contra a corrupção. Por outro, preservar e ampliar a concessão de benefícios públicos a grupos selecionados. Qual a capacidade política de enfrentar uma agenda contrária ao discurso de campanha e que reverta o nacionaldesenvolvimentismo dos últimos seis anos, que beneficiou grupos selecionados? Perspectiva Histórica Não é a primeira vez que o país enfrenta tempos difíceis em decorrência de governos que prometem mais do que podem entregar, ou de uma agenda que se propõe desenvolvimentista e que se revela carregada de atraso e que resulta em estagnação. Eventualmente, o país faz o ajuste, ainda que em geral apenas após uma crise aguda. Populismo, de esquerda e de direita, tem sido uma característica da América Latina. Nos anos 1900, a estabilidade macroeconômica foi obtida depois de anos de graves desequilíbrios fiscais e estagnação. O Bom Passado Fatores domésticos e externos permitiram maior crescimento na década de 2000. A bendita herança: estabilidade a partir de 1994, reformas (privatização, abertura comercial, mercado de crédito, LRF), os ganhos de produtividade no agronegócio e em algumas atividades de serviço. O entorno favorável: a forte expansão da economia mundial na década passada. O bom desempenho da economia e do mercado de trabalho decorrentes das boas condições domésticas e externas, em conjunto com algumas políticas públicas permitiram o forte crescimento da renda e a queda da desigualdade. O Retrocesso e o Desafio Entretanto, a partir da crise de 2008 assistiu-se ao retrocesso, com a retomada do populismo e do nacional desenvolvimentismo. O resultado foi a estagnação da produtividade, uma queda do crescimento maior do que nos demais países emergentes, e o desequilíbrio fiscal, comprometendo o crescimento econômico e os avanços sociais obtidos desde a estabilização. O desafio da transparência democrática: quais políticas foram bem sucedidas e devem ser expandidas, quais fracassaram e devem ser revistas? Finalmente saberemos quem recebe privilégios públicos e suas consequências? E os créditos subsidiados? E as proteções setoriais? Será dessa vez diferente? Ajuste fiscal antes de uma crise aguda? E as difíceis reformas para retomar o crescimento? www.insper.edu.br