Mulheres não devem morrer ao darem a luz Por Thalif Deen, da IPS Nações Unidas, 17/10/2007 – Neste século, quando a ciência médica e o poder das mulheres vão aumentando, “nenhuma deveria morrer ao dar a vida”, afirmou Thoraya Ahmed Obaid, diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). “É inaceitável que uma mulher morra a cada minuto durante a gravidez e o parto quando existem maneiras provadas de impedir isso. Há milhões de vidas em jogo, e devemos agir agora”, afirmou. Obaid será participante-chave da conferência internacional que acontecerá de quinta-feira até sábado desta semana (18 a 21 de outubro de 2007) em Londres para exigir maiores investimentos nos cuidados com a saúde de mulheres, mães e recém-nascidos. Da conferência participarão mais de 1.500 pessoas, incluindo profissionais da saúde, delegados de alto nível e ministros de 35 países em desenvolvimento e nações doadoras, ativistas pelos direitos femininos e funcionários da Organização das Nações Unidas. “Pressionaremos todos os envolvidos para uma ação unificada a fim de melhorar as vidas e a saúde de mulheres, mães e recém-nascidos em todo o mundo”, disse Obaid à IPS. “Sabemos o que é preciso para salvar as mulheres da morte. Três intervenções simples: assistentes de parto qualificados, atenção obstétrica de emergência e planejamento familiar”, acrescentou. Jéssica Neuwirth, presidente da organização Equality Now (Igualdade agora), que defende os direitos femininos e tem sede em Nova Iorque, disse que “a enorme disparidade na mortalidade materna” entre países com diferentes níveis de desenvolvimento “dá uma dimensão política à perda de vida durante o parto”. Estas mortes podem ser prevenidas, e o fato de os governos não conseguirem isso é uma violação do direito da mulher à vida, o mais fundamental dos direitos humanos, acrescentou. “Os governos devem ser responsabilizados por sua mortal inanição na hora de abordar a mortalidade materna”, disse Neuwirth à IPS. June Zeitlin, diretora-executiva da não-governamental Organização das Mulheres para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Wedo), disse que os escassos avanços em matéria de mortalidade materna é outro sinal do abismo entre a retórica e a realidade em matéria de igualdade de gênero. Embora os governos e a ONU assumam muitos compromissos pela igualdade de gênero, entre eles os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, não os apóiam efetivamente com vontade política ou com os recursos necessários para conseguir este objetivo, ressaltou. “O fato de tantos países fracassarem na hora de cumprir seja o objetivo sobre reduzir a pobreza ou a respeito da mortalidade materna é, em parte, resultado de não levar em conta a necessidade de abordar a igualdade de gênero”, disse Zeitlin à IPS. A persistente discriminação e as desigualdades que enfrentam as mulheres estão intrinsecamente relacionadas com sua falta de recursos e dificultam sua capacidade de ter acesso a serviços de saúde. “Reduzir a mortalidade materna e a pobreza (em outras palavras, uma sólida política para o desenvolvimento) requer um investimento substancial para diminuir a desigualdade de gênero agora”, afirmou. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, definidos em 2000 pela Assembléia Geral, incluem reduzir pela metade a proporção de pessoas que sofrem pobreza e fome (em relação a 1990); garantir a educação primaria universal; promover a igualdade de gênero; reduzir a mortalidade infantil e a materna; combater a aids, malaria e outras doenças; assegurar a sustentabilidade ambiental e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento, tudo isto até 2015. Mas, sua implementação se viu frustrada principalmente pela falta de recursos e de vontade política. A conferência das mulheres em Londres, inditulada “Women Deliver”, terá o seguinte lema: “Invista em mulheres: dá resultado”. O Unfpa alertou na semana passada que a mortalidade materna do mundo (mortes em cada cem mil nascimentos vivos) diminui muito lentamente para que seja cumprido o quinto Objetivo do Milênio, que pretende melhorar a saúde materna e impedir que as mulheres morram durante a gravidez ou no parto. Embora para conseguir esse objetivo seja necessária uma queda de 5,5% na mortalidade materna até 2015 em relação aos valores de 1990, as últimas estatísticas divulgadas conjuntamente pela Organização Mundial da Saúde, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, e o Banco Mundial mostram uma queda anual abaixo de 1%. Em 2005, cerca de 536 mil mulheres morreram por causas ligadas à maternidade, em comparação com as 576 mil mortas em 1990. Noventa e nove por cento destas mortes ocorreram em países em desenvolvimento. A probabilidade de uma menina de 15 anos morrer de uma complicação relacionada com a gravidez e o parto durante sua vida é mais alta na África: uma em 26. Nas regiões industrializadas é de uma em 7.300. Dos 171 países e territórios estudados, Níger ocupa o posto de maior risco de vida, um em sete. Onze países apresentaram quase 65% das mortes maternas do mundo em 2005. A Índia teve a maior quantidade (117 mil), seguida de Nigéria (59 mil), República Democrática do Congo (32 mil) e do Afeganistão (26 mil), segundo as últimas estatísticas divulgadas pela ONU. A meio caminho do calendário para o cumprimento das Metas do Milênio, “é tempo de acelerar os investimentos em saúde e direitos femininos. É tempo de os governos fazerem da saúde reprodutiva uma prioridade”, disse Obaid. Segundo o Unfpa, é necessário um investimento adicional anual estimado entre US$ 5,5 bilhões e US$ 6,1 bilhões até 2015, tanto de fontes internas quanto internacionais, para cumprir o objetivo de melhorar a saúde materna. Também se precisará de financiamento adicional para conseguir a meta de acesso universal à saúde reprodutiva, contida no quinto objetivo. Estes investimentos também reduzirão a mortalidade infantil, ajudarão a reduzir a carga da malaria e minimizarão o HIV/aids através de seu efeito sobre a prevenção do vírus HIV (causador da aids) e a prevenção de gravidez não desejada entre portadoras deste vírus, segundo o Unfpa. Fonte: Envolverde/IPS, publicado em 17/10/2007. © Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.