Revista Cultivar – Página 35

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C
Cultivar
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVII • Nº 202 • Março 2016 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Nossa capa
Sustentabilidade pressionada - 26
A luta para manter a longevidade das ferramentas de controle químico da
ferrugem asiática, em um cenário favorável à doença e que vai exigir manejo intenso
Lucas Navarini
Índice
Insetos vorazes - 10
Como manejar de modo
adequado pragas que atacam
as plântulas de milho
Diretas
04
Poda no café adensado
08
Pragas de plântulas em milho
10
Nematoides em cana
14
Mancha alvo em algodão
18
Nematoide das galhas
24
Capa - Ferrugem asiática
26
Dessecação em soja
30
Diversificação sustentável de soja
32
Empresas - CBC Negócios
35
Lagarta-da-panícula em arroz
36
Mancha amarela em trigo
38
Coluna ANPII
40
Coluna Agronegócios
41
Mercado Agrícola
42
Observação atenta - 36
A necessidade de reforçar os
cuidados com a lagarta da
panícula em áreas de arroz irrigado
Expediente
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
COMERCIAL
CIRCULAÇÃO
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• Coordenação
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• Redação
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Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos
irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que
podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos
emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
diretas
Novos rumos
Manejo
Com 20 anos de carreira e após ocupar
vários cargos na Dow Agrosciences, Mozart
Fagundes Júnior retorna ao Brasil como
diretor de Sementes e Biotecnologia. Durante o Show Rural, o executivo destacou
que o país é um mercado prioritário para a
Dow, onde a empresa realiza investimentos
frequentes, como o laboratório localizado
em Cravinhos, São Paulo, e também o
Centro de Pesquisa em Melhoramento
e Conversão de Traits, em Sorriso, Mato
Grosso. “Com um portfólio robusto na área
de sementes e biotecnologia, as ações da
empresa são sempre focadas na necessidade
do agricultor e na melhoria do agronegócio”, afirmou Fagundes Júnior.
O manejo correto do controle das doenças com o portfólio da Basf
foi mostrado de forma prática no estande da empresa no Show Rural
Coopavel 2016, possibilitando ao agricultor conferir a performance do
fungicida Orkestra, recomendado no controle da ferrugem e da mancha
alvo em soja. Com um time formado por especialistas nos produtos, a
Basf acolheu os visitantes, tirando dúvidas, mostrando novas soluções
para pragas, doenças e invasoras.
Mozart Fagundes Júnior
Mark Woodruff
Mark Woodruff, Global
Corn Trait Project Leader
da Dow Agrosciences, esteve
presente pela primeira vez
no Show Rural Coopavel,
em Cascavel, no Paraná. O
executivo elogiou o evento
e também reafirmou a importância do Brasil para a
companhia.
Visita
Soluções
A Syngenta apresentou suas soluções e serviços para o público visitante
do Show Rural Coopavel. O destaque da marca ficou com o fungicida
Elatus, que apenas no primeiro ano já tratou 13 milhões de hectares
de soja, com média de aumento de produtividade de 3,25 sacas por
hectare, segundo o fabricante. Com o apoio de um vídeo wall e também
de óculos rift, os visitantes puderam ampliar o conhecimento sobre
o produto, seus benefícios e resultados. Além disso, o recém-lançado
aplicativo de Elatus, “Aplicou, Rendeu”, pode ser explorado em um
totem disponível no estande.
Híbridos
Durante o Show Rural Coopavel, a Morgan
Sementes e Biotecnologia lançou os híbridos
de milho MG600 e MG580. Os agricultores
que visitaram o estande tiveram a oportunidade de observar parcelas demonstrativas
com os dois híbridos já em ponto de colheita. “O MG600 alia alta produtividade
com estabilidade produtiva. Já o MG 580
é um híbrido versátil com alto potencial
produtivo, tanto para o verão quanto para
a safrinha”, explicou o gerente de Marketing
Denilson Anderson Rigonatto
Denilson Anderson Rigonatto.
Tridimensional
A UPL inovou na apresentação de seus produtos aos
visitantes do Show Rural 2016.
Com o Multissítio Experience,
a empresa mostrou através de
uma demonstração tridimensional com óculos de realidade
aumentada, como o fungicida
Unizeb Glory atua na célula do
fungo da ferrugem-asiática. Os
visitantes foram recepcionados
pelas já conhecidas personagens da campanha.
Sementes
Presença
Os principais executivos da Syngenta marcaram presença no Show
Rural Coopavel, em fevereiro, em Cascavel, no Paraná. A participação
reconhece a importância do evento, referência em agronegócio e um
dos mais importantes do Brasil.
04 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
Durante o Show Rural Coopavel, a Monsanto lançou a Refúgio Max, primeira marca de sementes para o refúgio do milho. Outro destaque foi a tecnologia
para a proteção da raiz da planta, VTPRO3. “Por meio da conscientização
e adoção das boas práticas agronômicas, o produtor certamente manterá o
incremento de produtividade e consequentemente melhor retorno econômico
sobre o seu negócio. Este é o principal objetivo da companhia”, afirmou o
gerente de Biotecnologia de Milho da Monsanto, Guilherme Lobato.
Tenda
A Dow AgroSciences levou ao Show Rural Coopavel a Tenda de Boas
Práticas Agrícolas. Lá foram apresentados três temas de forma interativa:
Tecnologia de Aplicação, com um Simulador de Deriva desenvolvido
em parceria com a Unesp; Manejo da Resistência de Plantas Daninhas,
através de uma plataforma digital, e Manejo de Resistência de Insetos,
que abordou aspectos importantes como o refúgio, que tem por objetivo
assegurar a gestão da biotecnologia e garantir sua longevidade.
Protetor
Unizeb Glory, nova tecnologia para proteção de soja e milho da UPL Brasil, foi
lançada no Show Rural Coopavel. De
acordo com o gerente de Marketing da
UPL Brasil Gilson Oliveira, o Unizeb
Glory é a primeira mistura de protetor
e solução sistêmica com ação multissítio
para manejo de resistência de fungos.
“Sua ação multissítio garante, além da
produtividade, um excelente controle
no manejo de resistência das doenças”,
afirmou Oliveira.
Gilson Oliveira
Percevejos
Mozart Fagundes Júnior
Destaques
Os grandes destaques da FMC durante o Show Rural Coopavel foram
o fungicida Authority - para controle da cercosporiose no milho, doença
que causa necrose foliar; e os inseticidas Talisman e Hero - para controle
de percevejos na soja e no milho. “O time FMC atendeu aos produtores
de maneira personalizada para as necessidades da sua região”, afirmou
o gerente de Marketing Sul da FMC, Claudinei Goi. No estande, os
visitantes puderam assistir a uma encenação, que, de forma divertida,
abordou a problemática do ataque de percevejos.
A Dow AgroSciences destacou no Show Rural Coopavel duas novas
alternativas de controle para as culturas de soja, milho e trigo. O inseticida Exalt, com tecnologia para o controle de lagartas em soja e milho e
altíssimo efeito de choque, e o herbicida Tricea, pós-emergente seletivo
para a cultura do trigo, com amplo espectro de controle de plantas
daninhas. Também destacou a tecnologia PowerCore, primeiro evento
em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil, que atua
contra as principais pragas e plantas daninhas desta cultura.
Reforço
Ricardo Calçavara e Marcelo Figueira
Monitoramento da ferrugem
O Consórcio Antiferrugem disponibiliza um aplicativo para produtores, técnicos e estudantes com a
finalidade de monitorar a dispersão da ferrugem asiática da soja
(Phakopsora pachyrhizi) no Brasil.
Utilizando-se de mapas de risco o
aplicativo demonstra a dispersão
da doença no decorrer das safras,
permite a pesquisa por cidades onde
houve focos e apresenta os detalhes
sobre cada ocorrência registrada. O
aplicativo está disponível na Apple
Store e na Google Play.
Com mais de 20 anos de experiência no mercado de defensivos
agrícolas, o engenheiro Marcelo
Figueira assumiu a gerência de
produtos fungicidas na empresa
UPL. “Chego com o objetivo de
dar continuidade aos projetos do
segmento de fungicidas da UPL,
que agora ganhou também mais
um produto, o Unizeb Glory,
para fortalecer ainda mais o portfólio”, projetou Figueira.
Feedback
Com foco no fungicida Orkestra, a Basf
recebeu um grande número de produtores
em seu estande no Show Rural Coopavel
2016, que tiveram a oportunidade de conferir os benefícios do produto aplicado. Para
o coordenador de marketing para Cultivos
Extensivos, Gustavo Bastos Alves, foi uma
grande satisfação receber os agricultores no
estande e obter feedback positivo em relação
à performance do produto. “Isto nos traz
alegria e motivação para continuarmos trazendo novas tecnologias que proporcionem
maiores rentabilidades para o agricultor.
Esse é o nosso compromisso”, enfatizou.
Gustavo Bastos Alves
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
05
Tecnologia
A Alta-América Latina Tecnologia Agrícola, empresa do grupo Agrihold,
participou pela primeira vez do Show Rural Coopavel. De acordo com
o gerente de Marketing e Vendas Ernesto Eugênio Belloto, a empresa
focou na sua linha de defensivos agrícolas, com ênfase no fungicida Evos
e demais produtos para o controle fitossanitário em milho. O gerente
também destacou o Vitasoil, complexo orgânico que nutre e estimula os
microrganismos benéficos no solo e nas plantas.
Fertilizantes foliares
A Spraytec esteve presente no Show Rural Coopavel, onde apresentou aos seus clientes e visitantes a sua linha de fertilizantes foliares.
O destaque foi o fertilizante foliar Ultrazeb Premium que tem como
função trabalhar em três conceitos: sanidade, tecnologia de aplicação e
nutrição. Segundo o consultor de vendas Eduardo Vasconcelos, o Ultrazeb Premium é recomendado para promover a proteção e favorecer
a sanidade das plantas. “Devido a sua composição inovadora e líquida é
rapidamente associado à calda e a outros produtos, possibilitando uma
melhor qualidade da aplicação e distribuição nas plantas", explicou.
Rede
A Bayer participou do Show Rural Coopavel 2016 com destaque para
a Rede AgroServices, plataforma digital de relacionamento que reúne
produtores, cooperativas, prestadores de serviço, pesquisadores e distribuidores. “A Bayer tem muito orgulho de liderar esta iniciativa e ajudar
a conectar importantes elos para mostrar a força e a importância do
agronegócio brasileiro”, destacou o gerente comercial da Bayer para a
região de Toledo, Paraná, Everton Queiroz. O objetivo é debater o desenvolvimento da agricultura brasileira, compartilhando visões, somando
conhecimentos e multiplicando possibilidades de negócios.
Lançamento
A Nidera Sementes participou do Show Rural Coopavel. “Na feira,
apresentamos o lançamento NS 6906 Ipro, cultivar de soja de alta
produtividade, com ampla adaptação geográfica, elevado peso de grão
e potencial para antecipação do plantio de safrinha. Já temos excelentes
resultados desta cultivar nas regiões Sul e Centro”, destacou Nélio Reis,
Marketing e Comunicação da Nidera Sementes.
06 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
Para o plantio
Quem visitou o estande da Brasmax no Show Rural Coopavel pôde
conferir os lançamentos Brasmax Lança Ipro e Brasmax Garra Ipro.
“A Brasmax Garra Ipro é adaptada para M1 e M2, possui estabilidade
em plantios antecipados e bom comportamento. Já a Lança Ipro, recomendada para M1 e Oeste Alto do Paraná, possui potencial produtivo
e arquitetura de planta semelhante à Brasmax Alvo RR”, afirmou o
supervisor comercial, Fernando Frehner.
Linha
Este ano, quem visitou o estande da Adama no Show Rural Coopavel
pôde conferir as novidades na sua linha de produtos voltados ao manejo
de pragas, doenças e plantas daninhas. “Reconhecemos a importância
do evento, já verificada durante os mais de dez anos em que participamos”, destacou o gerente de Marketing de Culturas, Fabrício Pacheco.
Safrinha
A marca Sementes Agroceres levou ao Show Rural Coopavel seus híbridos para região Sul e lançou duas tecnologias para a safrinha deste
ano - AG 9000 PRO3 e AG 8780 PRO3. O híbrido AG 9000 PRO3
apresenta potencial produtivo, superprecocidade e qualidade de grãos.
Já a cultivar AG 8780 PRO3 oferece teto produtivo, grãos pesados
e um rápido florescimento, o que ajuda na redução de riscos contra
secas e geadas.
Conceito
A Arysta aproveitou o Show Rural Coopavel 2016 para apresentar o Conceito Pronutiva: soluções com foco em proteção e nutrição dos cultivos.
Além disso, a equipe técnica da empresa ministrou palestras técnicas com
foco em Biosolutions e ervas resistentes. “Para a Arysta, a feira representa uma oportunidade de estar em contato com o produtor, levando as
informações necessárias para que ele atinja o melhor resultado na sua
colheita”, destacou o gerente de Produtos e Mercado, Marcus Bonafé.
Novidades
A BioGene levou suas novidades ao Show Rural Coopavel 2016. Durante
o evento, os produtores que visitaram o estande puderam conhecer o
Tratamento de Sementes Industrial com DuPont Dermacor, solução
para controle de corós e lagarta-do-cartucho-do-milho nas fases iniciais
da lavoura. “A nossa equipe de representantes e engenheiros agrônomos
apresentou também as novas tecnologias associadas às recomendações de
manejo para que os produtores possam atingir maiores produtividades”,
complementou o gerente de Conta da BioGene na região do Paraná e
Paraguai Marcos Gruzska.
Área tecnológica
Os produtores que visitaram a área tecnológica da DuPont Pioneer no
Show Rural Coopavel 2016 puderam conhecer toda linha de produtos
recomendados para o plantio na região Sul do País. “Para o verão lançamos
os híbridos P1680YH, P3271H e P3779H e, para a safrinha, os híbridos P3380HR e P3456H. Na soja, o destaque é a nova cultivar 95Y52,
produto com precocidade e alta produtividade”, explicou o gerente das
regiões do Paraná e do Paraguai, Gino Di Raimo Júnior.
Campanha
Durante o Show Rural Coopavel, a Monsoy reforçou a campanha de
20 anos da marca no Brasil, criada para fortalecer o relacionamento
com o produtor de sementes e o sojicultor. “O destaque para a feira foi
a variedade precoce M5705, que oferece grande amplitude de plantio,
além de proporcionar alto potencial produtivo e sanidade de planta”
destacou o representante de Licenciamento Monsoy, Edson Jatti.
Equipamento
A Limagrain levou ao Show Rural 2016 o NIRS, um equipamento
portátil para análise bromatológica de silagem. “O projeto LGNA tem
consolidado a Limagrain como líder mundial em silagem de milho, que
visa a obtenção de uma linha de variedades que combinam alto rendimento, com alta qualidade e valor nutritivo”, destacou o engenheiro de
Marketing e Desenvolvimento, Maico Silva.
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
07
Café
Fotos Divulgação
Como podar
Efeito de diferentes distâncias de corte dos ramos
laterais e tipo de esqueletamento em cafeeiros
conduzidos em sistema de plantio adensado
N
a cafeicultura de montanha, a
adoção de sistema de plantio
adensado é uma condição
essencial para a obtenção de elevada
produtividade e maior competitividade
em áreas onde não é possível mecanizar.
Nas lavouras adensadas ocorre rápido
fechamento das plantas nas entre linhas
e consequente dificuldade de manejo. A
solução mais usada nessas lavouras, para
facilitar os tratos culturais e recuperar as
plantas, tem sido a recepa, efetuada quando os cafeeiros já perderam a saia, sistema
que leva à redução de produção nos dois
anos seguintes.
A alternativa de uso da poda, denominada esqueletamento, é indicada para
a renovação da ramagem, com menores
perdas produtivas das plantas em curto
prazo. Restam, no entanto, dúvidas sobre
as distâncias de corte dos ramos laterais
em relação ao tronco, especialmente nas
lavouras muito adensadas.
No presente trabalho objetivou-se
estudar o tipo de esqueletamento mais
adequado em lavouras adensadas, mas
ainda sem perda de saia, a mesma que seria
aplicada em sistema safra zero.
08 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
Foi conduzido um ensaio no município de Martins Soares, Minas Gerais,
no Centro de Pesquisas Cafeeiras Eloy
Carlos Heringer (Cepec), pertencente
à Fertilizantes Heringer, em lavoura de
café Catuaí vermelho IAC 44, plantada
em 1993, no espaçamento de 1,50m
x 0,70m, recepada em 2008. Foram
montados seis tratamentos, sendo cinco
tipos de esqueletamento (tamanho de
corte dos ramos laterais e formato do
corte), mais a testemunha sem poda. O
decote, ou seja, o corte da haste principal da planta, foi feito a 1,50m nos
tratamentos 1 a 4, e no 5º (poda regional) foi usado decote a 1m, conforme
se utiliza na região para recuperação
de lavouras.
O ensaio foi instalado em blocos ao
acaso, com parcelas de quatro linhas, de
dez plantas cada, em um total de 40 plantas
por parcela. Foram implantadas quatro
repetições.
Os tratamentos de poda foram aplicados em setembro de 2010 e a área recebeu
os tratos usuais recomendados nesses
últimos quatro anos.
Muitas vezes restam dúvidas sobre as distâncias de corte dos ramos laterais em relação ao tronco,
especialmente nas lavouras de café conduzidas em sistema de plantio muito adensado
Para avaliação do efeito das podas
foram controladas até o momento três
safras, no período 2011, 2012 e 2013, com
a colheita e conversão de litros por planta
para sacas por hectare.
Resultados e conclusões
Os resultados de produtividade nas
três safras são demonstrados na Tabela 1.
Verificou-se que, na média das três
safras, o esqueletamento onde os ramos
foram cortados mais longos (50cm e 30cm)
ou em forma de árvore de Natal, resultou
em maiores produtividades. Onde houve
poda mais curta e com menor altura no
decote ocorreu perda de produtividade em
relação aos outros tipos de esqueletamento.
No que diz respeito à testemunha, não
houve melhoria produtiva pelo esqueletamento, como é comum, ainda mais em
função da primeira safra nas plantas deste
tratamento ter sido alta. O ensaio deverá
ser conduzido por mais duas safras.
Preliminarmente é possível concluir
que o esqueletamento com corte mais
longo dos ramos, possibilitando maior
brotação e multiplicação de novos ramos
produtivos, resulta em maior produtividaC
de em relação ao corte mais curto.
Gustavo Nogueira G. P. Rosa e
Henrique Maia Ribeiro,
Fertilizantes Heringer
José Brás Matiello,
Procafé
Sinésio Leite Filho,
Fazenda Heringer
Vinícius Vieira Cunha,
Cepec – Fertilizantes Heringer
Tabela 1 - Produtividade em cafeeiros adensados submetidos a diferentes tipos de esqueletamento, Cepec/
Fertilizantes Heringer. Martins Soares (MG), 2013
Tratamentos
Esqueletamento a 10cm
Esqueletamento a 30cm
Esqueletamento a 50cm
Esqueletamento em forma de árvore de Natal
Poda regional (corte a 10cm e decote a 1m)
Testemunha, sem poda
O esqueletamento é indicado para a renovação da ramagem
com menores perdas das plantas em curto prazo
2011
0
0
42,2
15,0
0
129,3
Produtividade (sc/ha)
2012
132,3
134,6
114,3
144,0
115,2
57,9
2013
68,5
75,5
81,4
75,3
87,6
87,3
2013
68,5
75,5
81,4
75,3
87,6
87,3
C
Ensaio foi conduzido no município de
Martins Soares, no estado de Minas Gerais
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
09
Milho
Insetos vorazes
Fotos Dirceu Gassen
Com a expansão do cultivo do milho para outras regiões agrícolas, no Brasil, cresceu também
o número de pragas que atacam as plântulas. É o caso da lagarta elasmo, lagarta rosca,
percevejo barriga verde, cigarrinha, tripes, lesmas e caracóis. O tratamento de sementes,
aliado a outras estratégias de manejo, está entre as principais ferramentas para o controle
destes insetos, capazes de resultar em severas perdas quando não manejados adequadamente
A
s plantas de milho podem ser atacadas por pragas desde a germinação
das sementes e emergência das
plantas até a fase de maturação fisiológica
dos grãos, sendo esses organismos maléficos
constituídos por insetos, moluscos, diplópodes
e ácaros. Essas pragas são classificadas como de
importância primária, regional ou secundária,
em função da sua frequência de ocorrência,
abrangência e do potencial de danos que
podem causar na cultura.
Os sistemas de produção de grãos da região Centro-Oeste constituem um ambiente
favorável para o estabelecimento de pragas,
pois prevalece o cultivo do milho em extensivas áreas tanto no período de verão quanto
na safrinha, além do cultivo de uma planta
de cobertura entre o cultivo de inverno e de
verão. Com a expansão da cultura do milho
para novas regiões agrícolas, tem-se observado
um número crescente de pragas que atacam
plântulas. O surgimento destes novos organismos pragas nos agroecossistemas de milho
pode ser explicado pela sua adaptação a esta
cultura, na ausência dos hospedeiros nativos
ou como consequência de uma ação seletiva
dos produtos químicos de amplo espectro
utilizados para controle de desfolhadores e
sugadores na cultura.
Lagarta-elasmo
A lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus
Zeller, é uma praga que pode danificar plantas jovens de milho, especialmente quando
o inseto já estiver presente na cobertura a
ser dessecada (exemplo trigo, aveia) para a
10 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
semeadura da cultura. O inseto é polífago,
ou seja, alimenta-se de diversas espécies de
plantas cultivadas, silvestres e daninhas, em
especial de gramíneas e leguminosas. O adulto
faz a postura nas plantas de milho, no solo ou
em restos culturais presentes na área. Após a
eclosão, as larvas alimentam-se inicialmente de
matéria orgânica ou raspam o tecido vegetal e,
em seguida, penetram no colo da planta, um
pouco abaixo do nível do solo, onde constroem
uma galeria ascendente. Próximo ao orifício de
entrada na planta, as larvas tecem um casulo
formado de excrementos, restos vegetais e
partículas de terra, sintomas que caracterizam
a presença da praga na área. Uma mesma
lagarta pode atacar até três plantas de milho
durante a sua fase larval, sendo do período da
emergência até os 30 dias de desenvolvimento
das plantas a fase da cultura mais suscetível
ao ataque da praga. Como consequência do
dano de elasmo nas plantas de milho surge
o sintoma denominado de “coração morto”,
caracterizado pelo murchamento das folhas
centrais, que se destacam facilmente quando
puxadas, causando a obstrução no transporte
de água e de nutrientes do solo para a parte
aérea da planta. Nestes casos, pode ocorrer
também o perfilhamento, o que torna a
planta improdutiva. A intensidade de danos
de elasmo no milho é maior e mais frequente
em condições de alta temperatura e de déficit hídrico no solo, especialmente em solos
arenosos ou mistos conduzidos em plantio
convencional, como eventualmente ocorre na
região do Cerrado.
Lagarta-rosca
Diversas espécies de lagarta-rosca ocorrem na cultura, sendo Agrotis ipsilon a mais
frequente. A denominação lagarta-rosca é
decorrente do hábito que este inseto possui de
se enrolar, tomando o aspecto de uma rosca,
quando tocada. De modo geral, a plântulade
milho é atacada pela lagarta-rosca quando
apresenta até 50cm de altura, manifestando
de acordo com Cruz et al (1987) três sintomas diferentes: a) Inicialmente evidencia
seccionamento parcial do colmo e, quando a
lesão é grande, provoca o sintoma conhecido
como “coração morto”; b) surgimento de
manchas semelhantes às causadas por deficiências minerais, quando a lesão é pequena
ou c) perfilhamento da planta, tornando uma
“touceira” improdutiva.
Percevejo barriga-verde
As espécies Dichelops melacanthus e D.
furcatus são relatadas como constituintes do
complexo de pragas secundárias da soja em
Planta de milho sob ataque da lagarta
Spodoptera cosmioides
várias regiões do Brasil. Todavia, em 1993
foi relatada pela primeira vez no Brasil a
ocorrência de D. melacanthus causando danos
em plântulas de milho no município de Rio
Brilhante, MS (Ávila & Panizzi, 1995). Desde
então, as espécies D. melacanthus e D. furcatus,
em ocorrência simultânea ou não, têm sido
encontradas em lavouras de milho do Brasil.
O inseto apresenta a parte dorsal marrom e a
ventral verde, daí o nome barriga-verde. Os
ovos, de coloração verde-azulada, são colocados sobre as folhas do milho ou até mesmo
de plantas daninhas. Durante a alimentação,
esses percevejos posicionam-se, normalmente, no sentido longitudinal da planta, com a
cabeça orientada para a região do colo. Se, no
processo de alimentação, o meristema apical
for danificado, as folhas centrais da plântula
murcham e secam, manifestando o sintoma
denominado “coração morto”, podendo
também ocorrer o perfilhamento da planta.
Quando o meristema apical não é danificado, as primeiras folhas que se desenrolam do
cartucho apresentam estrias esbranquiçadas
transversais, muitas vezes com perfurações
A lagarta-elasmo pode danificar plantas jovens,
quando já estiver presente na cobertura dessecada
de halo amarelado, provenientes das punções
que o inseto fez quando se alimentou na base
da planta ainda jovem. Quando as folhas
do cartucho não conseguem se desenrolar,
conferem um aspecto de “encharutamento”
da planta. Os danos causados pelo percevejo
barriga-verde no milho têm sido mais acentuados na época de cultivo safrinha, uma vez
que o inseto se multiplica no verão, ao final
do cultivo da soja.
Além do percevejo barriga-verde, outras
espécies de percevejo como Euschistus heros e
Nezara viridula podem eventualmente atacar
as plântulas de milho, porém com menor capacidade de causar danos que o barriga-verde.
Lesmas e caracóis
Presença de lagarta Spodoptera frugiperda
em área de cultivo de milho
As lesmas e os caracóis são moluscos da
classe Gastropoda, que ocorrem com maior
frequência em ambientes úmidos e frescos. As
lesmas apresentam o corpo nu, mas os caracóis carregam sobre o seu dorso uma capa ou
concha de carbonato de cálcio, que lhe confere
abrigo e proteção. Estes organismos são muito
sensíveis à desidratação e nos períodos secos
ficam inativos enterrados no solo ou sob a palhada de lavouras implantadas em semeadura
direta. Essas pragas apresentam maior abundância em solos com elevada quantidade de
palha ou de matéria orgânica e têm forte associação com plantas do grupo das leguminosas
e crucíferas (exemplo feijão, soja, ervilhaca,
nabo-forrageiro, serralha etc). Os ovos das
lesmas e dos caracóis são colocados geralmente
em grande número nas fendas do solo ou sob
restos vegetais em processo de decomposição.
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
11
O percevejo barriga verde (Dichelops melacanthus) tem sido
encontrado em lavouras de milho no Brasil há vários anos
Tanto as lesmas quanto os caracóis alimentam-se das folhas das plântulas de milho, sendo
as injúrias semelhantes a aquelas causadas por
insetos. Em Mato Grosso do Sul, as espécies
de caracóis e lesmas encontradas na cultura
domilho foram identificadas, respectivamente,
como Drymaeus interpunctus (Molusca: Bulimulidae) e Sarasinula linguaeformis (Molusca:
Veronicellidae).
Tripes
Os tripes, Frankliniella williamsi, são
pequenos insetos amarelados encontrados,
com frequência, entre as folhas de plântulas de
milho que ainda se encontram enroladas. Os
danos causados pelos tripes são frequentemente verificados em períodos de estiagens e que
prevalecem condições de baixa umidade relativa e temperatura elevada após a emergência
das plantas. Em função da raspagem do limbo
foliar, as folhas apresentam-se amareladas,
esbranquiçadas ou prateadas podendo, em
condições de alta infestação, afetar o rendimento da cultura.
Cigarrinha-do-milho
A cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis,
é um pequeno inseto cujos adultos medem
cerca de 3mm e apresentam coloração variável,
do amarelo ao palha. Por serem da família
Cicadellidae, apresentam a tíbia do terceiro
par de pernas com fileira de espinhos; são
muito ágeis e apresentam o comportamento
de deslocamento lateral quando molestadas.
A importância desta cigarrinha na cultura
do milho está no fato de ser vetor da doença
denominada “enfezamento”, associada a dois
patógenos conhecidos coletivamente como
molicutes, cuja incidência tem aumentado nos
últimos anos, especialmente em cultivos de
milho safrinha. As plantas de milho com sintomas desta doença ficam com aspecto marrom-avermelhado (fitoplasma) ou verde-claro
(espiroplasma), proporcionando a produção
de espigas pequenas, muitas vezes com pouco
ou ausência de grãos. Quanto mais precoce for
a infecção da planta pelo patógeno, maior será
a redução da produtividade do milho.
Manejo de pragas que
atacam plântulas de milho
No manejo da lagarta-elasmo, tem sido
comprovado que chuvas bem distribuídas,
durante os primeiros 30 dias de desenvolvimento da cultura, praticamente eliminam
a infestação do inseto nas lavouras. No
sistema plantio direto, que propicia melhor
conservação de umidade do solo, essa praga
tem ocorrido em menor intensidade quando comparado ao sistema convencional. A
pulverização de inseticidas na parte aérea do
milho tem proporcionado baixa eficiência de
controle da lagarta-elasmo (50%), em razão da
posição em que a praga fica alojada na planta.
Já o tratamento das sementes do milho com
inseticidas sistêmicos tem se mostrado uma
tática eficiente para o controle da lagarta-elasmo. Já para o controle da lagarta-rosca,
sugere-se realizar aplicações de inseticidas em
alto volume, sendo as pulverizações dirigidas
ao colo das plantas, de preferência ao entardecer, utilizando-se os mesmos produtos recomendados para o controle da lagarta elasmo.
O controle do percevejo-barriga-verde
pode ser realizado preventivamente, com
emprego de inseticidas via semente ou em
pulverização sobre a cultura. Trabalhos
conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste evidenciaram que o nível de dano para
o controle do percevejo-barriga-verde no
milho safrinha é inferior a um inseto para
cada cinco plantas de milho na lavoura. Os
inseticidas recomendados, em pulverização,
para o complexo de percevejos fitófagos da
soja são normalmente eficientes no controle
do percevejo barriga-verde, no milho. Antes de
realizar a semeadura do milho, recomenda-se
fazer uma inspeção na área em que a lavoura
será implantada para constatar a presença de
ninfas e de adultos do percevejo, para avaliar a
12 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
necessidade ou não de se tratar as sementes ou
até mesmo de efetuar uma pulverização com
inseticida logo após a emergência do milho. O
período de maior cuidado com o percevejo é
durante a fase inicial de desenvolvimento da
planta, quando o milho é mais suscetível ao
ataque do inseto, ou seja, da emergência da
planta ao surgimento da quarta folha aberta
(V4) que corresponde à idade entre 15 dias e
20 dias após a emergência das plantas.
Para o controle de lesmas e caracóis, produtos à base de metaldeído são sugeridos, mas
além de terem preço elevado, apresentam baixa
praticabilidade para uso em extensas áreas. A
dessecação prévia da cobertura infestada com
lesmas e/ou caracóis constitui uma medida
auxiliar para reduzir a sobrevivência dessas
pragas, uma vez que tal operação reduz a
umidade e o teor de água na superfície do
solo, além de extinguir a fonte de alimento.
Trabalhos preliminares conduzidos pela cooperativa Coamo, em Campo Mourão, Paraná,
evidenciaram que a mistura de abamectina +
leite integral, colocada em quirelas de milho,
constituiu uma isca eficiente no controle de
caramujos. Todavia, convém salientar que não
existe, até o momento, registro de produtos
para o controle de caracóis e lesmas na cultura
do milho. Em adição, sugere-se que as aplicações de inseticidas ou iscas nas lavouras de
milho para o controle de lesmas e caramujos
sejam realizadas durante a noite, período em
que essas pragas apresentam maior atividade
devido às condições favoráveis de umidade e
de temperatura e, dessa forma, maior vulnerabilidade à ação dos produtos químicos.
Para o controle de tripes, os inseticidas
sistêmicos aplicados nas sementes dão boa
proteção inicial contra o ataque dessa praga
no milho. Da mesma forma, pulverizações
das plantas, utilizando-se inseticidas de
“choque”, podem controlar eficientemente
o tripes, especialmente quando se adiciona
óleo mineral na calda inseticida. Para o controle da cigarrinha do milho, o tratamento
de sementes pode proteger as plantas na fase
C
inicial da cultura.
Crébio José Ávila,
Embrapa Agropecuária Oeste
Silvestre Bellettini,
UENP/CLM - Bandeirantes, PR
Lemas alimentam-se das folhas das plântulas de
milho e causam injúrias semelhantes às dos insetos
Cana
Vigiar e controlar
Fotos Romero Marinho de Moura
Favorável, por suas próprias características, ao estabelecimento e desenvolvimento de populações
de fitonematoides o sistema de cultivo de cana-de-açúcar demanda atenção e monitoramento
criterioso. Combater estes minúsculos organismos passa pelo controle químico, através de
nematicidas sistêmicos e pelo uso integrado de múltiplas técnicas de manejo
O
s nematoides são reconhecidos
em todos os países produtores
de açúcar e de álcool, tecnologicamente desenvolvidos, como importantes
problemas fitossanitários dos canaviais.
Esses países, por conseguinte, processam o
monitoramento sistemático das populações
desses parasitos e efetuam o controle, quando
necessário.
No Nordeste, como ocorre nas demais
regiões produtoras de açúcar e álcool do Brasil,
dois grupos parasitários de nematóides são
reconhecidos como indutores de reduções
significativas da produtividade agrícola da
cana-de-açúcar. São os endoparasitos sedentários, representados, em primeiro lugar, pelas
espécies Meloidogyne javanica e M. incognita,
igualmente disseminadas na região. Esses
nematoides são responsáveis pela doença
denominada meloidoginose, que afeta indistintamente as variedades de cana cultivadas no
Brasil. Os sintomas primários da doença são
galhas e engrossamentos das raízes, formações
semelhantes a tumores. Essas galhas podem
ocorrer isoladas ou associadas em aglomerados. Examinando-se em maior aumento
essas hipertrofias, podem também ser vistas
necroses, produzidas por micro-organismos
oportunistas, que se associam aos nematoides
nas síndromes, aumentando a severidade da
doença. Em áreas no campo onde ocorrem
meloidoginose podem ser vistas reboleiras,
ou seja, grupo de plantas da mesma idade,
porém com diferentes alturas. Entretanto,
em solos de adequada fertilidade e com a
presença de boas condições climáticas, as
plantas parasitadas apresentam os sintomas
primários sem a formação das reboleiras.
Outras espécies do gênero Meloidogyne têm
sido identificadas associadas à cana-de-açúcar
no Brasil. Entretanto, tais assinalamentos
têm sido esporádicos e as virulências dessas
espécies (capacidade de causar danos às
plantas) não reconhecidas. O parasitismo dos
nematoides das galhas pode ocasionar perdas
que podem atingir valores superiores a 80%
da produtividade de campo (toneladas de
colmo por hectare), principalmente quando as
14 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
condições climáticas e ambientais são desfavoráveis à hospedeira, a exemplo das deficiências
nutricionais e longas estiagens. O segundo
grupo parasitário de fitonematoides é o das
lesões radiculares, constituído pelas espécies
Pratylenchus zeae e P. brachyurus, sendo a
primeira a prevalente e a mais virulenta. Esses
nematoides causam a doença conhecida por
pratilencose e, igualmente à meloidoginose,
também incide sobre todas as variedades
cultivadas de cana. Seus sintomas primários
são lesões radiculares necróticas, de pequenas
dimensões (pouco milímetros), mas que podem confluir, formando extensas regiões de
coloração marrom ou negra, constituídas por
tecidos mortos. Nessas circunstâncias, o sistema radicular fica significativamente reduzido
em volume e o desenvolvimento da parte aérea
e do diâmetro do colmo reduzidos. Em análise
pouco atenciosa de campo, essa síndrome
pode ser confundida com a do raquitismo
das soqueiras, conhecida doença bacteriana,
muito frequente no Nordeste. Devido a essas
semelhanças, o diagnóstico deve ser feito em
condições laboratoriais, evitando-se o diagnóstico ocular de campo. Nas pratilencoses,
geralmente não são observadas reboleiras e
sim extensas áreas com plantas raquíticas e
portadoras dos demais sintomas da doença.
Igualmente aos nematoides das galhas, os das
lesões podem ocasionar perdas muito elevadas.
Nematoides versus danos
O sistema de cultivo da cana-de-açúcar
é muito favorável ao estabelecimento e ao
desenvolvimento de populações de fitonematoides no solo. Em primeiro lugar, pelo
tipo de plantio, feito em solos desestruturados
fisicamente e biologicamente, provocado
pela mecanização do solo no pré-plantio.
Esse processo dispersa a microfauna e a flora,
impedindo supressividade e manutenção de
equilíbrio populacional entre os componentes
das comunidades edáficas. Com isto, é permitido que os fitonematoides multipliquem-se
exponencialmente nos primeiros meses de
desenvolvimento da cultura, pela alta oferta de
alimentos e baixa competitividade biológica.
Por outro lado, a cana-de-açúcar é uma cultura
de longa permanência no campo, no mesmo
lugar, ano após ano. Essas condições fazem
com que os nematoides multipliquem-se em
escala logarítmica na rizosfera. Assim sendo,
as densidades populacionais médias (DPMs)
desses organismos no solo atingem valores
máximos e mantêm-se em níveis de dano ao
longo das sucessivas colheitas. Por ocasião da
renovação do canavial, devem ser analisadas
dez amostras de solo de rizosfera e dez amostras de raízes, colhidas nas mesmas touceiras,
distribuídas aleatoriamente, para diagnóstico
do campo. Os volumes das amostras e as alíquotas utilizadas nas análises laboratoriais são
padronizados. A média aritmética encontrada
com os resultados e que caracteriza a DPM
do hectare do talhão é enquadrada em níveis
denominados baixos, médios e altos. Esses
Agentes das principais fitonematoses da cana-de-açúcar:
esquerda: Meloidogyne sp., direita: Pratylenchus sp.
níveis foram estabelecidos no Brasil por W.R.T.
Novaretti, em 1997 (Quadro 1), no estado de
São Paulo. Mais tarde, este sistema foi alterado
por Moura, em 2005, procurando ajustá-lo
às condições do Nordeste. Muito embora os
valores numéricos desses níveis possam variar
com o clima, variedade, níveis populacionais
do nematoide e condições de fertilidade do
solo têm ajudado nos estudos epidemiológicos, diagnósticos e tomadas de decisão em
Nematologia da cana-de-açúcar. No Nordeste,
essas avaliações são conduzidas nos meses
de junho, julho ou agosto, quando as DPMs
atingem os mais altos níveis anuais, devido
ao favorecimento das condições climáticas,
especialmente chuvas e temperaturas do solo
mais amenas. Paralelamente à determinação
da DPM, devem ser feitas as avaliações das
produtividades das unidades de cultivo,
utilizando-se o procedimento amostral, padronizado para a cana-de-açúcar. De posse
desses dados, ou seja, DPM e produtividade,
efetuam-se os cruzamentos, para o estabelecimento do diagnóstico do campo, segundo o
Quadro 2, para posterior tomada de decisão.
Caso seja diagnosticada uma fitonematose
na unidade produtiva, deve-se programar o
controle populacional do agente causal.
Controle químico:
nematicidas sistêmicos
A primeira opção que se apresenta para
o controle dos nematoides em canaviais é
o método químico, que se fundamenta no
Galhas e necroses observadas em cana-de-açúcar, produzidas por Meloidogyne incógnita (esquerda).
Uma larga área de reboleira em um canavial, consequência do parasitismo do nematoide (direita)
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
15
Quadro 1 - Valores referentes aos diferentes níveis populacionais dos fitonematoides
em cana-de-açúcar
FITONEMATOIDE
Meloidogyne incognita
Meloidogyne javanica
Pratylenchus zeae
Perdas (aumento médio em t/h com controle)
Nível populacional (50g de raízes)
Baixo
Médio
Alto
0 - 200
200-400
> 400
0 -300
300-600
> 600
0-2.500
2.500 -5.000
>5.000
05
10
15
Quadro 2 - Cruzamento de dados epidemiológicos para tomada de decisão sobre
renovação de canavial
NEMATOIDE
População de campo (níveis)*
BAIXA
MÉDIA
ALTA
*Fundamentado em W.R.T. Novaretti (1997), modificado por R.M. Moura (2005)
Fonte: Controle de Meloidogyne incognita, Meloidogyne javanica e Pratylenchus zeae em cana-de-açúcar com nematicidas,
associados ou não à matéria orgânica. W.R.T. Novaretti, Tese de doutorado, Esalq (USP), 1997
ficativos da brotação,
perfilhamento, desenvolvimento e produção de colmos na
colheita da cana-planta, gerando aumento
da produtividade. Este aumento pode ser da
ordem de até 50%, comparando-se plantas
tratadas com não tratadas. Entretanto, o uso
dos nematicidas em cana-de-açúcar apresenta
riscos e limitações epidemiológicas, que podem comprometer o sucesso das aplicações. A
primeira é relacionada com o desaparecimento
do efeito residual nematicida, que ocorre, em
média, 90 dias contados após a aplicação. Este
fato proporciona a volta dos nematoides para
um sistema radicular sadio e sem necroses.
Também, aos 90 dias, os inimigos naturais
ainda não estão presentes de modo efetivo na
rizosfera, fato que proporciona alta taxa de
reprodução do nematoide-alvo. Consequentemente, é comum serem encontradas DPMs
do nematoide mais altas em plantas tratadas
que em não tratadas, por ocasião da colheita
da cana-planta, a despeito da sua maior produtividade. Isto pode ser constado em Moura
e colaboradores em “Efeito da aplicação de
carbofuram em cana-de-açúcar variedade CB
45-3” (Fitopatologia Brasileira, p.503, 1998).
Este fato compromete a longevidade das socas. Para contornar essa dificuldade, algumas
empresas desenvolveram equipamentos para
aplicações de nematicidas sistêmicos nas
socas, após a colheita anterior. Entretanto,
devido aos custos da nova aplicação e a outras
implicações, sobretudo ambientais, e também
devido aos danos causados às socas pelos equipamentos, essa prática tem sido evitada. Um
Fotos Romero Marinho de Moura
uso de um nematicida sistêmico. Trata-se
de uma técnica especialmente buscada pelos
agricultores por trazer resultados objetivos,
em curto prazo (aumento da produtividade,
no mesmo ano, na colheita da cana-planta).
Os nematicidas podem ser granulados ou
líquidos, carbamatos ou organofosforados, e
a seleção do produto deverá ser coerente com
as previsões das condições climáticas do local
no momento da aplicação, ou seja, se é época
de chuvas ou de estiagem. Consideram-se
também as condições gerais do solo; se mais
arenoso ou argiloso. A aplicação do método
químico é mais indicada nos casos de populações em níveis médios, para serem reduzidas
para o nível baixo. Para populações em níveis
altos a aplicação de um nematicida sistêmico
passa a ser uma decisão de risco, com baixa
probabilidade de sucesso. Para a escolha do
nematicida, como armazená-lo e para as
recomendações de segurança na aplicação,
manuseio e destino das embalagens vazias, um
técnico especialista deve ser obrigatoriamente
consultado.
O controle químico dos dois grupos de
fitonematoides da cana-de-açúcar possui vantagens e desvantagens. A primeira vantagem
é a praticidade da aplicação do produto, que
é feita por meio de equipamentos acoplados
ao trator. Esses aplicadores depositam o
nematicida no fundo do sulco, no momento
do plantio, com controle de gastos. Quanto
aos resultados esperados, as pesquisas e o uso
comercial têm demonstrado aumentos signi-
Síndrome da pratilencose. (esquerda) Necroses e subdesenvolvimento do sistema radicular.
(direita) Extensa área formada por plantas raquíticas. Agente causal o nematoide Pratylenchus zeae
16 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
Nível populacional (50g de raízes)
BAIXA (<40t/h)
ALTA (> 40 t/h)
(1) renovar com outra variedade (2) Renovar simplesmente
(3) Não renovar
(4) Renovar
(5) Não renovar
(6)Não renovar
segundo problema que traz implicações diretas
quanto ao sucesso do uso do controle químico
é a ocorrência de chuvas durante os 40 dias,
contados após a aplicação. Ausência de chuvas
durante esse período impossibilita ou diminui
a taxa de liberação da molécula nematicida
para absorção pelas raízes, enquanto chuvas
torrenciais provocam lixiviação, com perdas do
produto e consequências ambientais negativas. No Nordeste é comum a ocorrência desses
dois fenômenos climáticos durante a época
do plantio da cana-de-açúcar. Somam-se a
essas dificuldades a relação custo-benefício do
método, pois os preços dos nematicidas sistêmicos estão associados às variações cambiais,
e os malefícios à saúde humana e ao meio
ambiente, causados pelos efeitos tóxicos dos
resíduos nematicidas. Todos os nematicidas
sistêmicos são da classe toxicológica 1, ou
seja, altamente tóxicos. Atualmente, admite-se como valor de referência na avaliação
do sucesso de uma aplicação de nematicida
sistêmico em cana-de-açúcar, um aumento
mínimo 25t/h. Essa relação pode variar com
as variações do preço do produto comercial
e da tonelada da cana. Em condições ideais
para a aplicação, este valor é facilmente obtido. A despeito dessas dificuldades, o controle
químico dos nematoides da cana-de-açúcar
por meio dos nematicidas sistêmicos continua
sendo recomendado para situações definidas,
conforme mostra o Quadro 2.
Controle integrado:
múltiplas técnicas associadas
O controle integrado dos nematoides da
cana-de-açúcar foi desenvolvido por Moura
e Oliveira, em 2009, (Nematologia Brasileira
67-73) e tem por objetivo recuperar canaviais
pouco produtivos, destinados à renovação.
São consideradas nesta categoria unidades
produtivas ou talhões com produtividades
iguais ou menores do que 40t/h, em solos
com populações de nematoides em níveis
altos. Na região Nordeste do Brasil, esses
diagnósticos devem ser feitos até o mês de
setembro, quando começam as moagens.
Após serem diagnosticados, tais canaviais
devem ser colhidos, de preferência no fim do
período de moagem, ou seja, janeiro-fevereiro.
O início do método de controle integrado se
dá por ocasião do início do período das chuvas
(março-abril). As áreas identificadas como
Demonstração de campo mostrando faixas tratadas com nematicidas à direita e
faixas não tratadas à esquerda, com evidentes sintomas de ganhos agronômicos
pouco produtivas, segundo o diagnóstico de
campo, devem ser limpas, com a retirada das
socarias, seguindo-se a destruição com fogo.
Em seguida, o solo deve ser preparado para o
plantio da Crotalaria juncea (geralmente no
início de abril), efetuando-se a incorporação da
cultura na primeira quinzena de julho, sempre por ocasião da floração. Trinta dias mais
tarde, após a mineralização da maior parte
do material orgânico incorporado, faz-se o
plantio da mucuna-preta (Mucuna aterrima)
(primeira quinzena de agosto), com incorporação em novembro, também por ocasião da
floração. Durante o período de novembro até
o início das chuvas do ano seguinte (março-abril), a área deve ser mantida em alqueive
químico (herbicidas) ou mecânico (aração
rasa e incorporação das ervas daninhas).
Conforme é costume, o plantio comercial da
cana-de-açúcar no Nordeste se dá no início
das chuvas. Nesse momento, um especialista
em nutrição de plantas deve ser consultado,
especialmente para verificar a necessidade de
calagem. Os benefícios com o controle integrado são muitos. Inicialmente, independentemente da presença de nematoides no solo,
o simples cultivo das duas leguminosas antes
do plantio da cana-de-açúcar pode aumentar
a produtividade desta gramínea em até 20%,
conforme atestam muitos trabalhos da Seção
de Leguminosas do Instituto Agronômico de
Campinas (IAC), a exemplo de “Efeito residual de leguminosas sobre o rendimento físico
e econômico da cana-planta”, de A.A. Mascarenhas et al, (1994) (Boletim Científico nº
32 e, também, o trabalho de Ambrosano et al,
1997, em “Leguminosas para adubação verde,
uso apropriado para rotação de culturas”, entre
outros. Os referidos autores constataram que
estas duas leguminosas superaram todos os
demais tratamentos experimentais com outras
leguminosas em termos de aumento da produtividade da cana-de-açúcar. Por outro lado,
as duas leguminosas, cultivadas em sequência,
atuam suprimindo diferencialmente populações de Meloidogyne spp. e Pratylenchus spp.
A ação de controle dessas leguminosas é am-
Parcela com Crotalaria juncea em
processo de corte para incorporação
plamente conhecida, conforme demonstraram
pioneiramente no Brasil Silva, G.S. em 1988
(tese de doutorado/UFV,MG.), seguindo-se
muitas outras publicações pertinentes.
Para operacionalização do sistema integrado de controle para nematoides da cana,
é fundamental que as usinas e destilarias
isoladas façam acompanhamento permanente das populações dos fitonematoides,
utilizando-se dos seus próprios laboratórios,
e de um nematologista bem treinado. Este
acompanhamento deve ser feito nos meses
mais favoráveis à biologia do parasito, dando
preferência às áreas destinadas à renovação.
Em nenhuma hipótese talhões improdutivos
devem ser colocados em pousio, pois esta prática pode manter populações de nematoides
em atividade, devido à diversidade botânica
das ervas invasoras, que aumenta a probabilidade de ocorrência de plantas hospedeiras
no campo.
Até o momento, não existem variedades
de cana-de-açúcar resistentes a nematoides.
Entretanto, observações de campo têm
revelado reações de tolerância em certas
variedades. Entende-se por tolerância em
Nematologia a capacidade de determinado
genoma proporcionar ao hospedeiro uma
resistência ao parasitismo de um fitonema-
toide, protegendo-o de danos significativos,
mas proporcionando a sua reprodução.
Do ponto de vista epidemiológico, o uso
da tolerância varietal em Nematologia não
deve ser incentivado para a prática rotineira
de controle, pois permite o aumento populacional do parasito no solo. Por meio deste
aumento populacional descontrolado, o caráter tolerância pode ser afetado, assim como
os índices de necroses radiculares, tornando
sem efeito o primeiro.
Igualmente ao método químico, o controle
integrado dos nematoides da cana-de-açúcar
possui vantagens e desvantagens. A grande
vantagem é se tratar de um método não poluidor e que enriquece o solo pelo uso dos adubos
verdes. As desvantagens residem no tempo
requerido (um ano) e na toxidez da crotalária
para os animais domésticos. A incorporação
das leguminosas, antes dificultada por falta de
equipamentos adequados, é feita com relativa
facilidade.
Muito embora outras técnicas possam ser
aplicadas no controle dos nematoides da cana-de-açúcar, as que foram discutidas parecem
ser as mais adequadas.
C
Romero Marinho de Moura,
Univ. Federal de Pernambuco
Orientações Gerais
1- Aparente reação de intolerância. O
campo deve ser renovado com outra variedade. Outro agente pode estar envolvido;
2- O solo encontra-se em supressividade e o campo pode ser renovado. Com
este nível populacional não haverá danos
mensuráveis. Não é necessário controle.
Se possível, usar o cultivo mínimo;
3- Reação de suscetibilidade. Aplicar
o sistema integrado de controle ou o
controle químico. Outro agente causal
pode estar envolvido;
4- Situação não definida de suscetibilidade ou tolerância. A renovação do
campo pode ser efetuada e a aplicação de
um nematicida tende a trazer benefícios
econômicos à cana-planta. O controle
integrado aplica-se ao caso.
5- Reação suscetibilidade. Deve-se
aplicar o sistema integrado de controle.
O controle químico passa a ser de risco
econômico.
6- Reação de tolerância. Deve-se
aplicar o sistema integrado de controle.
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
17
Algodão
Alvo manchado
Fotos Alfredo Riciere Dias
A mancha alvo (Corynespora cassiicola) é uma doença que tem granjeado importância ao
longo dos últimos anos na cultura do algodoeiro. Seu manejo exige a integração de vários
métodos de controle como genético, cultural, físico, químico e biológico
A
área destinada à cultura do algodoeiro não teve aumento nos últimos
anos. No entanto, a cultura pode
ser encontrada em diversas regiões do Brasil
e do mundo, devido à sua utilidade e ampla
diversidade de aplicações. O algodoeiro apresenta rendimento ao produtor desde que seja
cultivado com boa técnica cultural. Porém,
observa-se uma evolução e o agravamento de
doenças na cultura.
As doenças que afetam o algodoeiro são
várias, podendo ocasionar danos consideráveis
à produção. Sua importância depende de cada
local, sendo que algumas destas, consideradas
pouco expressivas em determinadas regiões,
podem reduzir significativamente a produtividade em outras.
Dentre as doenças que ocorrem no
algodoeiro, a mancha alvo vem ganhando
importância. Existem relatos da sua ocorrência
no ano de 2005, na cidade de Campo Verde,
Mato Grosso. Naquela ocasião o fungo causou
uma desfolha agressiva na cultura (Mehta et
al, 2005), sendo divulgada durante congresso
de Fitopatologia realizado no mesmo ano. A
partir de então, foi considerada como doença
secundária, devido à sua constatada incidência
em lavouras comerciais. Porém, não existem
relatos de impacto econômico neste estado.
No estado de Mato Grosso do Sul o
primeiro relato ocorreu durante a safra de
2011/2012. Foram detectados os primeiros
sintomas de mancha alvo no município de
Costa Rica, pelo engenheiro agrônomo André
Luiz Silva, do Grupo Schlatter. Desde então
a doença passou a ser monitorada e estudada
na região. Na safra 2012/2013, o mesmo fato
ocorreu, porém os sintomas na cultura do
algodoeiro começaram no mês de abril, e em
um número maior de áreas com os sintomas
de mancha alvo (Corynespora cassiicola).
Na safra 2013/2014 o fato se repetiu,
semelhante ao primeiro ano de identificação.
No entanto, ocorrendo no mês de março. Em
18 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
contínua parceria com a Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus
Chapadão do Sul, se confirmava a presença
do patógeno em mais áreas, atingindo ainda
a região sudoeste goiana (Chapadão do Céu,
Goiás).
O fato foi comunicado ao fiscal federal
da Delegacia do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) de Campo
Grande, Mato Grosso do Sul, Ricardo Hilman, que por sua vez encaminhou amostras
a um laboratório credenciado, no Rio Grande
do Sul, que comprovou oficialmente tratar-se
do fungo Corynespora cassiicola.
No mesmo ano, nas áreas de cultivo
monitoradas e na área experimental da Fundação Chapadão localizada no distrito Baús,
notou-se com mais clareza a ocorrência e a
agressividade da doença na cultura do algodoeiro. Foi comprovado que inicialmente os
sintomas são observados nas folhas do terço
inferior da planta de algodoeiro e que levam ao
amarelecimento da folha, causando desfolha
precoce. Este efeito poderá acarretar danos na
produtividade da cultura.
Já no decorrer da safra 2014/2015, a
Fundação Chapadão acompanhou áreas com
histórico da doença e no início do mês de
março já era possível constatar alguns campos
com sintomas de mancha alvo (Corynespora
cassiicola), no entanto, com um número menor de áreas. Atualmente os principais estados
brasileiros que cultivam algodoeiro relatam a
incidência do patógeno.
DIAGNOSE
A doença de mancha alvo é caracterizada
por sintomas de lesões pontuais de coloração
parda e halo amarelo. Com a evolução são
constatadas manchas grandes circulares, de
cor castanha, formando anéis concêntricos de
coloração mais escura, com uma pontuação
no centro da lesão. Inicialmente os sintomas
são observados nas folhas da metade inferior
da planta de algodoeiro, podendo ocorrer
também nas brácteas. A baixa severidade pode
levar ao amarelecimento da folha, causando
desfolha precoce e quando ocorrem condições
climáticas favoráveis, a cultura pode sofrer
desfolha severa, podendo, entre dez dias e 15
Gráfico 1 - Curva de progresso da Mancha alvo (Corynespora cassiicola), na cultura
do Algodão na região dos Chapadões
dias, ocorrer a queda das folhas infectadas.
Os sintomas iniciais são observados em
lavouras logo após o começo do fechamento
das entrelinhas, principalmente nas áreas em
que ocorre o maior crescimento de plantas,
seja pelo excesso de nutrientes, pelo uso
inadequado do regulador de crescimento
ou ainda devido à redução do espaçamento
entre linhas. Estas condições, associadas a
um período chuvoso e temperatura amena,
formam um microclima extremante favorável
ao desenvolvimento do patógeno, ocasionando
as primeiras infecções, que podem desencadear uma epidemia.
Tais características podem causar confusão, devido à semelhança dos sintomas iniciais
de outros patógenos, como, por exemplo, a
mancha de mirotécio, onde nas folhas, inicialmente, ocorrem manchas isoladas com anéis
concêntricos, circundadas por halo violeta,
que ao coalescer causa desfolha. No entanto,
as lesões causadas pelo patógeno Myrothecium
roridum apresentam esporodóquios, que são
estruturas de formas irregulares e negras
circundadas por hifas de cor branca. Os esporodóquios podem ser encontrados junto às
lesões, tanto na face inferior quanto superior
das folhas.
A mancha de alternaria, causada pelo
patógeno que sobrevive em restos culturais
Alternaria sp, também pode gerar confusão
com a mancha alvo no momento da diagnose.
Nas folhas, os sintomas parecem pequenas
manchas de formato circular com anéis concêntricos enegrecidos e centro marrom a cinza.
As lesões velhas apresentam o centro seco e
quebradiço. Com a evolução do número das
manchas ocorre queda das folhas.
Os sintomas de fitotoxicidez causados
pela adubação de fertilizantes também podem
apresentar semelhança ao sintoma causado
por diferentes patógenos. Assim, é necessária
muita atenção aos pequenos detalhes quando
realizado o monitoramento da lavoura. Os
sintomas podem conter formato irregular,
manchas isoladas com anéis concêntricos, com
aspecto de escorrimento, coloração variada
de acordo com a fonte do nutriente. O local
onde prevalecem os sintomas, seja na meta-
Gráfico 2 - Eficácia de fungicidas em relação a curva de progresso de Mancha Alvo na
cultura do algodoeiro. Colunas seguidas de cores iguais, não diferem estatisticamente
entre si pelo teste Skott-Knott a 5% de probabilidade. CV (%)= 27,86. Chapadão do
Sul (MS), safra 2014/2015. PNR Produto Não Registrado. Fundação Chapadão 2015
de inferior ou superior da planta, ajuda na
identificação, pois normalmente os sintomas
causados por fertilizantes são observados no
terço superior. Neste local dificilmente haverá
microclima favorável ao desenvolvimento de
patógenos aos quais estes sintomas possam
apresentar semelhança.
CONTROLE
Desde a safra 2012, são vários os trabalhos desenvolvidos a campo pela Fundação
Chapadão e UFMS na busca por alternativas
para um controle integrado deste patógeno em
algodoeiro. Mas ainda pouco se sabe a respeito
do controle desta doença no algodoeiro. Em
um primeiro instante é importante que seja
realizado o monitoramento para identificar
quais talhões e propriedades apresentam
a incidência da mancha alvo (Corynespora
cassiicola) no algodoeiro e ao mesmo tempo
identificar seu comportamento de evolução
(Gráfico 1).
Ao analisar o gráfico da evolução dos sintomas de mancha alvo na área experimental
da Fundação Chapadão (Gráfico 1), nota-se
que a incidência ocorre simultaneamente ao
fechamento das entre linhas da cultura. É
neste momento que se tem a formação de um
microclima favorável ao desenvolvimento do
patógeno, permitindo o maior progresso dos
sintomas. No momento em que a severidade
na folha atinge níveis entre 25% e 30%,
começa a desfolha da planta em função das
infecções severas, resultando aparentemente
na redução dos sintomas. Essa desfolha proporciona condições desfavoráveis ao desenvolvimento de C. cassiicola, pois ocorrerá maior
incidência de luz, maior ventilação e menor
período de umidade, reduzindo seu progresso
e proporcionando ao monitor ou avaliador um
falso controle da mancha alvo.
São necessárias práticas de controle cultural para manipular as condições em que a
cultura é cultivada, antes, durante e após o seu
início, de modo a desfavorecer o desenvolvimento de patógenos e proporcionar o pleno
crescimento das plantas.
A planta de algodoeiro, por ser caracterizada com hábito de crescimento indeterminado
e contínuo, proporciona que as plantas cresçam e atinjam grande porte. Tal fator permite
que a planta produza grande quantidade de
Sintomas de Corynespora cassiicola
na cultura do algodoeiro
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
19
folhas, e desta forma impede que com que os
raios solares penetrem no interior do dossel da
planta acondicionando ambiente favorável ao
desenvolvimento do patógeno.
As condições ideais para o desenvolvimento da mancha alvo (Corynespora cassiicola)
são temperaturas em torno de 22°C e alta
umidade relativa do ar. Essas condições podem
ser alcançadas quando o manejo da altura de
plantas, juntamente com a sua densidade, é
realizado de forma inadequada. Desta forma
se torna importante efetuar o manejo da
altura de forma correta, com a utilização de
reguladores de crescimento, a fim de que se
obtenham plantas de porte médio com boa
aeração no interior do dossel. Já para o manejo
da densidade de plantas é importante seguir
a recomendação da população de planta
adequada. A realização desse manejo com
plantas de menores portes e a utilização da
quantidade ideal de semente por área fazem
com que o ambiente se torne menos propenso
ao desenvolvimento da doença.
Outra prática de controle que tem apresentado resultado interessante é a rotação
de cultura. Esta prática consiste no plantio
alternado de espécies diferentes ao longo
dos anos. Nas principais regiões produtoras,
em função das condições econômicas, o
sistema de produção é caracterizado pelo
cultivo de soja primeira safra seguida pelo
Gráfico 4 - Eficácia de fungicidas em relação a curva de progresso de Mancha Alvo na
cultura do algodoeiro. Colunas seguidas de cores iguais, não diferem estatisticamente
entre si pelo teste Skott-Knott a 5% de probabilidade. CV (%) = 19,97. Chapadão
do Céu (GO), safra 2013/2014. Fundação Chapadão 2015
algodão segunda safra. Este tipo de manejo
pode resultar em uma continuidade do ciclo
do fungo, aumentando a fonte de inóculo e
elevando seu potencial de dano na área de
cultivo. Uma das alternativas para enfrentar
esse tipo de problema seria a utilização de
espécies como milheto e milho, entre outras,
pois essas espécies não apresentam suscetibilidade ao patógeno da mancha alvo, o que
consequentemente poderá ajudar a reduzir
a quantidade de inóculo na área em questão.
Atualmente a principal doença da cultura algodoeira é a mancha de ramulária
(Ramularia areola), que há muitos anos
exige medidas de controle químico, na
região dos Chapadões. É necessário realizar ao menos sete aplicações de fungicidas
específicos para este fungo. Através dos
trabalhos efetuados na safra 2014/2015
com o objetivo de controle químico da
mancha de ramulária, ocorreu a incidência
de Corynespora cassiicola. Os resultados
mostram uma condição preocupante, onde
aqueles fungicidas comumente utilizados
na cultura do algodoeiro apresentaram
baixa eficácia na redução do progresso de
mancha alvo, ou seja, é possível destacar
que os fungicidas que proporcionam melhor
eficácia no controle da mancha de ramulária
não apresentam a mesma performance para
a mancha alvo (Gráficos 2 e 3).
Um dos trabalhos desenvolvidos pela
Fundação Chapadão teve como objetivo
avaliar o efeito de diferentes fungicidas
aplicados no início dos sintomas de mancha alvo na cultura do algodoeiro cultivado
na segunda safra em sistema adensado
(espaçamento de 0,45m entre linhas) em
condições de campo. Neste caso, os fungicidas apresentaram baixa eficácia no controle
de mancha alvo no algodoeiro, devido à
aplicação ter começado junto aos primeiros sintomas nas folhas, comprometendo
seu desempenho (Gráfico 4). No entanto,
houve incremento significativo na produtividade em função do controle químico de
C. cassiicola (Gráfico 5).
Diante destas condições, a mancha alvo
se faz presente no algodoeiro cultivado na
região dos Chapadões, sendo necessária a
integração de vários métodos de controle
de doenças como genético, cultural, físico,
químico e biológico, a fim de manter maior
sanidade da cultura, o que acarretará ganhos
de produtividade frente a este novo problema fitossanitário.
C
Alfredo Riciere Dias,
Fundação Chapadão
Hugo Manoel de Souza e
Gustavo de Faria Theodoro,
UFMS
Alfredo Riciere Dias
Gráfico 3 - Produtividade de algodão em caroço em função da aplicação de fungicidas.
Colunas seguidas de cores iguais, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
Skott-Knott a 5% de probabilidade. CV (%) = 3,51. Chapadão do Sul (MS), safra
2014/2015. PNR Produto Não Registrado. Fundação Chapadão 2015
Gráfico 5 - Produtividade de algodão em caroço em função da aplicação de fungicidas.
Colunas seguidas de cores iguais, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
Skott-Knott a 5% de probabilidade. CV (%) = 3,51. Chapadão do Céu (GO), safra
2013/2014. Fundação Chapadão 2015
Sintomas de Alternaria sp
na cultura do algodoeiro
20 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
Soja
Identificação
e manejo
Arquivo Embrapa Soja
Nematoides de galhas, principalmente das espécies
Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica, estão entre os
fatores que mais limitam a produção de soja no Brasil, com
relatos de perdas de até 56%. O uso de cultivares resistentes
é o método de controle mais eficiente, barato e de fácil
assimilação pelos produtores no combate a esse problema
N
o Brasil, os nematoides formadores de galha (Meloidogyne
spp.) estão entre os fatores que
mais contribuem para a queda do rendimento da soja. Apesar deste gênero compreender
um grande número de espécies, Meloidogyne
incognita e Meloidogyne javanica são as que
mais limitam a produção de soja no País.
Meloidogyne javanica tem ocorrência generalizada, enquanto M. incognita predomina
em áreas cultivadas anteriormente com café
ou algodão.
Levantamentos sistemáticos de perdas
por fitonematoides, envolvendo diversas instituições de pesquisa, não estão disponíveis no
Brasil. Entretanto, dados de perdas pontuais
em soja por conta de nematoides de galha são
comuns. Por exemplo, Antonio & Oliveira
(1989) registraram, em Pedrinhas Paulista,
São Paulo, perdas de 18% no rendimento da
cultura, em função do ataque de M. javanica.
Na safra anterior, em outras propriedades da
região, as perdas tinham sido de aproximadamente 56% (Antonio, 1988). Diferenças
anuais nos volumes de perdas causadas por
nematoides de galha são comuns e se devem,
principalmente, a variações nas condições
climáticas.
O ciclo de vida dos nematoides do gênero
Meloidogyne depende de alguns fatores, entre
os quais a temperatura é um dos mais importantes. A temperatura ótima para a maioria
das espécies oscila entre 15oC e 30oC. De
modo geral, a 27oC o ciclo completa-se em
24 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
25 dias, mas pode se tornar mais longo em
temperaturas mais elevadas ou inferiores
(Agrios, 1988). Fêmeas adultas, com formato
de pera e cor branco-pérola, são encontradas
com facilidade no interior de raízes de plantas
parasitadas. Cada uma produz, em média,
por partenogênese mitótica, cerca de 500
ovos. Esse número pode variar em função da
espécie de Meloidogyne, do estado nutricional
da planta e da densidade populacional do
patógeno na área (Ferraz & Mendes, 1992).
Todos os ovos são depositados em uma substância gelatinosa (massa de ovos) secretada
por glândulas localizadas no reto da fêmea.
Sua eliminação pelo ânus começa antes da
oviposição e continua à medida que os ovos
vão sendo produzidos. Esses, em diferentes
estádios de desenvolvimento, ficam envoltos
e protegidos pela matriz gelatinosa. O juvenil
de primeiro estádio (J1) sofre ecdise dentro do
ovo, tornando-se juvenil de segundo estádio
(J2). Após a eclosão, o J2 move-se no solo até
encontrar a raiz de uma planta e penetrá-la.
Dentro da raiz, o J2 migra para a região dos
vasos e, se a planta é suscetível, torna-se sedentário e começa a alimentar-se das células
em volta da sua região labial. Nelas, o nematoide insere o estilete e secreta substâncias
que estimulam o aparecimento das células de
alimentação, denominadas células gigantes.
Estabelecidos os sítios de alimentação, o
nematoide continua seu desenvolvimento,
sofrendo mais três ecdises até atingir a fase
adulta de macho ou fêmea. O macho, que é
vermiforme, não se alimenta e, normalmente,
não é necessário para a reprodução de M.
incognita ou de M. javanica. Entretanto, sua
participação assegura a variabilidade genética,
através da recombinação, além de ser um mecanismo de sobrevivência (Eisenback, 1985).
Nas lavouras de soja onde os nematoides
de galha estão presentes, são observadas
manchas em reboleiras, onde as plantas ficam
pequenas e amareladas. As folhas das plantas
afetadas normalmente apresentam manchas
cloróticas ou necroses entre as nervuras, caracterizando a folha “carijó”. Às vezes pode não
ocorrer redução no tamanho da planta, mas,
por ocasião do florescimento, nota-se intenso
abortamento de vagens e amarelecimento
prematuro da planta atacada. Em anos em
que ocorrem estiagens prolongadas, na fase de
enchimento de grãos, os danos tendem a ser
maiores. Nas raízes das plantas parasitadas,
se observam galhas em número e tamanho
variados, dependendo da suscetibilidade
da cultivar e da densidade populacional do
nematoide no solo. As galhas não devem ser
confundidas com nódulos de Bradyhizobium
japonicum, que se destacam facilmente da raiz,
o que não se dá com as galhas.
Para culturas de ciclo curto como a soja,
todas as medidas para o controle dos nema-
toides de galha devem ser executadas antes da
semeadura. Ao constatar que uma área está infestada, o produtor nada poderá fazer naquela
safra. Todas as observações e os cuidados deverão estar voltados para os próximos cultivos na
área. O primeiro passo é a identificação correta
da espécie de Meloidogyne predominante na
área. A partir do conhecimento da espécie,
monta-se um programa de manejo integrado,
que deve incluir várias estratégias. Entretanto,
as mais eficientes são a rotação/sucessão com
culturas não hospedeiras ou hospedeiras desfavoráveis e, quando disponíveis, a utilização
de cultivares de soja resistentes.
A rotação de culturas para controle dos
nematoides de galha deve ser bem planejada, uma vez que a maioria das espécies cultivadas pode ser atacada. Algumas plantas
daninhas e adubos verdes também possibilitam a reprodução e a sobrevivência desses
vermes. A escolha da rotação adequada deve
se basear, também, na viabilidade técnica
e econômica da cultura na região, sendo
bastante variável de um local para outro.
Para recuperação da matéria orgânica e da
atividade microbiana do solo e possibilitar
o crescimento da população de inimigos
naturais, também é importante incluir,
na rotação/sucessão, plantas utilizadas
como adubos verdes (crotalárias, brássicas,
mucunas, guandus etc) ou para cobertura
do solo (braquiárias, milhetos, aveias etc).
Como existe variação entre e dentro das
espécies vegetais com relação à capacidade
de multiplicar as diferentes espécies de Meloidogyne, somente a partir do conhecimento
da capacidade de cultivares e híbridos em
multiplicar a espécie predominante na área
é que se pode montar um esquema eficiente
de rotação/sucessão de culturas.
O método para o controle de nematoides mais eficiente, barato e de fácil assimilação pelos produtores é o uso de cultivares
resistentes. Um sistema radicular mais
agressivo e saudável é característico dos
genótipos de soja resistentes a nematoides
formadores de galha. Atualmente, mais
de 100 cultivares de soja resistentes ou
moderadamente resistentes a M. incognita
e/ou M. javanica estão disponíveis no
Brasil (Tabela 1). Todas descendem de
uma única fonte de resistência, a cultivar
norte-americana Bragg. Como os níveis de
resistência dessas cultivares não são muito
altos, em situações de populações muito
altas do nematoide no solo, antes de semear
uma cultivar resistente o agricultor deve
fazer rotação de culturas com uma espécie vegetal não hospedeira ou hospedeira
desfavorável.
C
Waldir Pereira Dias,
Embrapa Soja
Tabela 1 - Cultivares de soja brasileiras com resistência a nematoides de galha. Embrapa Soja, agosto de 2015
Obtentor
Brasmax
Brasmax
Brasmax
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Embrapa
Cultivar
BMX Impacto RR
BMX Titan RR
BMX Turbo RR
BRS 211
BRS 213
BRS 216
BRS 230
BRS 232
BRS 239
BRS 240
BRS 241
BRS 256RR
BRS 257
BRS 260
BRS 279RR
BRS 282
BRS 283
BRS 284
BRS 285
BRS 313 [Tieta]
BRS 316RR
BRS 317
BRS 318RR
BRS 326
BRS 8160RR
BRS 8560RR
BRS 8590
BRS Baliza RR
BRS Candeia
BRS Candiero
BRS Corisco
BRS Favorita RR
BRS Pétala
BRS Pirara
BRS Raimunda
BRS Silvânia RR
BRS Taura RR
BRS Tertúlia RR
BRS Valiosa RR
BRSGO 204 [Goiânia]
BRSGO 7360
BRSGO 7460RR
BRSGO 7760RR
BRSGO 7963
BRSGO 8061
BRSGO 8360
BRSGO 8560RR
BRSGO 8660RR
BRSGO 8661RR
BRSGO 8860RR
BRSGO 9160RR
BRSGO Caiapônia
BRSGO Chapadões
BRSGO Edéia
BRSGO Gisele RR
BRSGO Iara
M. incognita
Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Resistente
Resistente
Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Suscetível
Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Resistente
Suscetível
Suscetível
Resistente
Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Suscetível
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Resistente
Suscetível
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Suscetível
Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Resistente
M. javanica
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Suscetível
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Suscetível
Suscetível
Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
...Continuação
Cultivar
Obtentor
BRSGO Indiara
Embrapa
BRSGO Ipameri
Embrapa
BRSGO Jataí
Embrapa
BRSGO Juliana RR
Embrapa
BRSGO Luziânia
Embrapa
BRSGO Mineiros
Embrapa
Embrapa BRSGO Mineiros RR
BRSGO Paraíso
Embrapa
Embrapa BRSMG 68 [Vencedora]
BRSMG 740SRR
Embrapa
BRSMG 752S
Embrapa
BRSMG 790A
Embrapa
BRSMG 810C
Embrapa
BRSMG 811CRR
Embrapa
BRSMG 850GRR
Embrapa
BRSMG Garantia
Embrapa
Embrapa MG/BR 46 (Conquista)
CD 201
Coodetec
CD 202
Coodetec
CD 206
Coodetec
CD 208
Coodetec
CD 214
Coodetec
CD 216
Coodetec
CD 217
Coodetec
CD 218
Coodetec
CD 219RR
Coodetec
CD 224
Coodetec
CD 225RR
Coodetec
CD 226RR
Coodetec
CD 229RR
Coodetec
CD 230RR
Coodetec
CD 231RR
Coodetec
CD 232
Coodetec
CD 235RR
Coodetec
CD 236RR
Coodetec
CD 237RR
Coodetec
CD 238RR
Coodetec
CD 239RR
Coodetec
CD 240RR
Coodetec
CD 241RR
Coodetec
CD 246
Coodetec
CD 247RR
Coodetec
CD 248RR
Coodetec
CD 249RR
Coodetec
CD 250RR
Coodetec
CD 252
Coodetec
CD 254RR
Coodetec
M 7908RR
Monsoy
M 8109RR
Monsoy
NS 7490RR
Nidera
NS 8270
Nidera
P 97R01
Pionner
TMG 103RR
TMG
TMG 1188RR
TMG
W 810RR
Wehrmann
M. incognita
Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Resistente
Suscetível
Resistente
Resistente
Resistente
Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Resistente
Suscetível
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Mod. Resistente
M. javanica
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Resistente
Suscetível
Suscetível
Suscetível
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Mod. Resistente
Suscetível
Suscetível
Suscetível
Suscetível
Suscetível
Mod. Resistente
Resistente
Suscetível
Suscetível
Mod. Resistente
Suscetível
Resistente
Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Suscetível
Suscetível
Resistente
Resistente
Mod. Resistente
Resistente
Resistente
Resistente
Suscetível
Mod. Resistente
Continua...
*As informações sobre a resistência das cultivares foram obtidas a partir de materiais de divulgação dos respectivos obtentores.
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
25
Capa
Sustentabilidade
pressionada
Fotos Lucas Navarini
Favorecida pelo clima, a ferrugem-asiática chegou mais cedo às lavouras de soja do Sul do
Brasil, com aumento da pressão da doença e tendência de que a safra demande manejo mais
intenso e muita atenção por parte dos produtores. Ao mesmo tempo, cresce a preocupação
com a manutenção da eficiência dos fungicidas disponíveis no mercado e a busca pela
prevenção da resistência e da menor sensibilidade dos fungos à aplicação destes defensivos
26 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
O
cenário de doenças de soja está
sendo bastante atípico na safra
2015/16, principalmente em
função da distribuição irregular de chuvas nas
regiões, influenciada pelo fenômeno El Niño.
Do início da safra até dezembro, chuvas acima
da média ocorreram na metade Sul do País,
prolongando a semeadura e dificultando os
tratos culturais. Já nas regiões Centro-Oeste e
Norte, o baixo índice de chuvas até dezembro
dificultou o estabelecimento e desenvolvimento das lavouras, com necessidade de replantios
em algumas regiões. A ocorrência de doenças
está diretamente ligada a fatores climáticos,
especialmente umidade, necessária para a
infecção da maioria dos fungos.
Na região Sul, o excesso de chuvas teve
como consequência a ocorrência de morte
de plântulas na fase de estabelecimento da
lavoura, algumas vezes em decorrência da
morte de radicelas pelo excesso de umidade
e ambiente anaeróbico do solo, com posterior
colonização de tecidos mortos por fungos, e
também diretamente por patógenos, como
Phytophthora sojae, causador da podridão
radicular de Phytophthora. Mas o destaque
na região Sul ficou por conta da incidência
precoce da ferrugem-asiática, causada pelo
fungo Phakopsora pachyrhizi. O inverno pouco
rigoroso de 2015, também sob influência do
El Niño, aliado ao aumento do cultivo de soja
safrinha (semeaduras de janeiro), favoreceu a
sobrevivência de plantas de soja voluntárias
(guaxas ou tigueras) no Sul do Brasil (Figura
1). No mapa do Consórcio Antiferrugem
foram cadastradas ocorrências de soja voluntária nos estados do Rio Grande de Sul e de
Santa Catarina durante os meses de julho
e agosto. Esses dois estados não adotam o
vazio sanitário porque as geadas no inverno
geralmente matam a soja tiguera, o que não
ocorreu esse ano. O primeiro registro de ferrugem em lavoura comercial ocorreu em 6 de
novembro, em Tibagi, Paraná, pela Fundação
ABC, integrante do Consórcio Antiferrugem.
Relatos subsequentes ocorreram em diversos
municípios do estado e também no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do
Sul (Figura 1).
Mesmo com clima mais favorável à ocorrência da ferrugem na região Sul, as lavouras
semeadas logo após o final do vazio sanitário
tiveram baixa incidência, mostrando que essa
ainda é uma das principais estratégias para
escapar da doença. Apesar de o produtor ter
se preparado para fazer o controle da ferrugem
com fungicidas, em alguns casos houve atrasos
nas aplicações e nas reaplicações em função
das chuvas. Em algumas lavouras, semeadas
após a segunda quinzena de outubro, o atraso nas primeiras aplicações comprometeu
o controle, mesmo com os fungicidas mais
eficientes.
O estado do Mato Grosso, que normalmente tem maior pressão de ferrugem em
função das chuvas mais regulares, esse ano
teve seu primeiro relato em lavoura comercial
somente em 4 de janeiro, em Primavera do
Leste, pela Ceres Consultoria, em lavoura
em estádio R7, já próxima à colheita. A partir
daí novos focos foram detectados quase que
diariamente, devido principalmente à volta
das chuvas no mês de janeiro, ocasionando um
aumento na pressão de ferrugem. Outro fator
que contribuiu para o incremento da doença
foi a intensificação da colheita das primeiras
lavouras, espalhando esporos nessa operação.
Próximo à maturação há um aumento na
produção de esporos do fungo devido à perda
de residual dos fungicidas. Todos esses fatores,
aliados ao atraso na semeadura, causado pela
irregularidade das chuvas no início da safra,
caracterizam atualmente um cenário bastante
sério quanto ao potencial de perdas que a ferrugem tem nessa safra no Mato Grosso, visto
que a maioria das áreas foi semeada a partir de
novembro. Pelos levantamentos que se têm,
as lavouras semeadas depois de 31 de outubro
têm maior risco de perdas pela ferrugem. Isto
por si só demanda uma maior atenção às
recomendações para um controle eficiente.
No Oeste da Bahia a semeadura da soja
em áreas de sequeiro, que tem início no final
de outubro/início de novembro, também
foi prejudicada nesta safra pelos veranicos
ocorridos na região neste período, e quando
associados às pragas iniciais, principalmente
a lagarta elasmo, comprometeram seu estabelecimento, resultando em replantios e atrasos
na instalação das lavouras. Essa situação
climática se prolongou pelo mês de dezembro e, assim, não foi observada alta pressão
das doenças comuns na região. As doenças
somente foram observadas com maior frequência e intensidade no mês de janeiro, que
foi chuvoso na região, dificultando o manejo
Figura 1 - Mapas com relatos de ferrugem-asiática cadastrados no site do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net), 2015/16. Círculos amarelos - soja voluntária; círculos vermelhos – lavouras comerciais.
e contribuindo para o seu aparecimento. A
ferrugem foi detectada pela primeira vez no
dia 25 de janeiro, no município de Barreiras,
sendo confirmada pela Agência Estadual de
Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) em soja
no estádio R6. A partir dessa data, a ferrugem
pôde ser encontrada nas lavouras com soja,
mas a evolução cessou com a redução das
chuvas em fevereiro. A presença de esporos na
região, mantidos pelo orvalho, ainda ameaça a
cultura que está fenologicamente mais nova,
necessitando atenção dos produtores com o
retorno das chuvas, o que pode demandar um
manejo mais intenso dessa doença.
Os fungicidas são uma ferramenta importante de controle e têm evitado perdas
com a ferrugem. No entanto, apesar de haver
119 fungicidas registrados no Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) para o controle da ferrugem, estes vêm
perdendo sua eficiência nos últimos anos em
decorrência da seleção de isolados do fungo
P. pachyrhizi menos sensíveis aos mesmos. Os
principais fungicidas sítio-específicos registrados para o controle da ferrugem pertencem a
três grupos químicos, atuando na biossíntese
de ergosterol, importante componente da
membrana celular dos fungos (IDM, triazois) e na respiração mitocondrial, como os
inibidores da quinona oxidase (IQo, estrobilurinas) e da succinato desidrogenase (ISDH,
carboxamidas). Desde 2003/04, os fungicidas
vêm sendo avaliados em uma rede de ensaios
cooperativos, coordenados pela Embrapa Soja,
pela empresa de Tecnologia Agropecuária
(Tagro) e pela Universidade de Rio Verde/GO
(UniRV). Dos 14 fungicidas avaliados pela
rede de ensaios em 2014/15, somente cinco
registrados apresentaram eficiência acima de
50% de controle (Tabela 1; tratamentos 6 a
10). As misturas triplas (triazol-estrobilurina-carboxamida; tratamentos 14 e 15), ainda em
fase de registro, também apresentaram boa
eficiência de controle, mas são combinações
dos modos de ação já em uso no campo. Os
ensaios em rede da safra 2015/16 estão no
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
27
Aplicativo do Consórcio Antiferrugem está
disponível na Apple store e Google play
problemas de resistência e podendo atrasar o
aparecimento nos que ainda não apresentam.
Resistência de fungos a fungicidas é uma
resposta evolutiva natural. Aplicações sequenciais de fungicidas com um mesmo modo de
ação podem selecionar indivíduos resistentes/
menos sensíveis, a exemplo do que ocorreu
com os triazóis. Uma das formas de reduzir
a pressão de seleção para resistência é limitar
o número de aplicações de fungicidas na
cultura. Como o aumento na necessidade de
utilização de fungicidas ocorre com o avanço
na época de semeadura, a definição de datas-limites de semeadura pode contribuir para a
redução do número de aplicações. Situações
de soja semeada próxima a lavouras em
maturação com alta infestação de ferrugem
podem ser observadas nesta safra (Figura 2).
Com a alta quantidade de inóculo do fungo
e incidência precoce da ferrugem, essas áreas
acabam demandando até sete aplicações de
fungicidas, impondo alta pressão de seleção
para resistência do fungo que vem de lavouras
semeadas mais cedo, onde já ocorreram em
torno de três aplicações.
Instruções normativas têm sido propostas
limitando a data de semeadura para reduzir a
pressão de seleção para resistência. Os estados
de Goiás e de Mato Grosso limitaram a semeadura da soja até 31 de dezembro e a mesma
Fotos Lucas Navarini
campo, mas não há nenhum modo de ação
novo em teste. Os fungicidas em teste são
novas combinações ou misturas prontas com
fungicidas multissítios.
Entre os fungicidas sítio-específicos, o
único modo de ação que ainda não teve sua
eficiência reduzida foram as carboxamidas,
em razão da recente entrada no mercado no
Brasil (2013). No entanto, casos de resistência
a carboxamidas já foram relatados para 14
patógenos no mundo, incluindo fungos como
Corynespora cassiicola (em pepino) e Sclerotinia
sclerotiorum (em canola), que também são
patógenos da soja. Em função da sua maior
eficiência, esses produtos tendem a ser mais
utilizados, resultando em maior pressão de
seleção para resistência a esses fungicidas.
Os fungicidas mutissítios ou protetores
tinham sido avaliados quando a ferrugem
entrou no Brasil. No entanto, em função da
menor eficiência de controle comparado aos
triazóis no início dos testes, foram descartados
para o controle da ferrugem. Com a redução
de eficiência dos triazóis e das misturas de
triazóis e estrobilurinas, fungicidas multissítios têm sido registrados para o controle de
doenças na soja e sua utilização aumentou
na última safra em associação aos fungicidas
sistêmicos.
Na safra 2014/15, a rede de ensaios avaliou pelo primeiro ano a eficiência de fungicidas multissítios. Esses fungicidas são antigos,
alguns com mais de 60 anos de mercado, e vêm
sendo reavaliados para aumentar as opções
no manejo de doenças. Nos ensaios em rede,
foram realizadas cinco aplicações de fungicidas
multissítios isolados, com intervalo médio de
dez dias entre reaplicação. A eficiência dos
melhores fungicidas multissítios variou de
59% a 69% (Circular Técnica 113), bastante
superior a triazóis e estrobilurinas isolados. Os
fungicidas multissítios têm sido vistos como
uma ferramenta importante em programas
de manejo da ferrugem na soja, aumentando
a eficiência de controle dos fungicidas já com
restrição entra em vigor no Paraná no final de
2016. O objetivo é reduzir as semeaduras que
necessitam de maior número de aplicações
para atrasar a resistência às carboxamidas.
Essas semeaduras após janeiro representaram
menos de 1% da área de soja no Brasil em
2014/15 (Figura 3), no entanto, o uso intensivo de fungicidas nessas áreas pode acelerar
a perda de eficiência dos fungicidas. Essa
medida só será efetiva se adotada por todas
as regiões produtoras, uma vez que o fungo
se dissemina de forma eficiente pelo vento de
uma região para outra.
Outra forma de atrasar o aparecimento
da resistência é adotando as estratégias
antirresistência em todas as semeaduras. As
estratégias gerais antirresistência para fungos
incluem rotacionar e empregar misturas comerciais de fungicidas com diferentes modos
de ação e sem resistência cruzada; utilizar
dose e intervalo de aplicação recomendados
pelo fabricante, ajustados para a epidemia da
doença, evitando extenso intervalo entre as
aplicações; aplicar preventivamente, monitorando a lavoura e acompanhando a situação
de inóculo na região, aplicando próximo ao
fechamento das entrelinhas da soja quando
a ferrugem já foi relatada na região. Quanto
aos produtos com carboxamidas, não devem
ser utilizados em mais que duas aplicações
por cultivo.
O grande risco de perder os fungicidas
atualmente disponíveis reside no fato de que
não há nenhum modo de ação novo para
entrar no mercado nos próximos anos. Em
função de ser um processo natural, é quase
certo que a resistência à maioria dos novos
fungicidas vai ocorrer. No entanto, a vida
útil pode ser prolongada com o uso racional
e a adoção de boas práticas culturais. Para
ferrugem, essas boas práticas devem incluir
todas as estratégias disponíveis como a adoção
do vazio sanitário, a utilização de cultivares
de ciclo precoce e semeaduras no início da
época recomendada, a redução da janela de
Figura 3 - Distribuição temporal da semeadura de soja no Brasil, na safra 2014/15
Figura 2 - Lavoura com alta infestação de ferrugem ao lado
de lavoura de soja em estádio vegetativo no Rio Grande do Sul
28 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
Tabela 1 - Severidade da ferrugem, porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtividade e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para
os diferentes tratamentos. Média de 21 ensaios para severidade e de 26 ensaios para produtividade. Safra 2014/15
Tratamento / Ingrediente ativo
1 testemunha
2 tebuconazol
3 ciproconazol
4 azoxistrobina1
5 azoxistrobina+ciproconazol2
6 picoxistrobina+ciproconazol3
7 trifloxistrobina+protioconazol4
8 picoxistrobina+tebuconazol1
9 piraclostrobina+fluxapiroxade5
10 azoxistrobina + benzovindiflupir2
11 azoxistrobina+ ciproconazol1,6
12 azoxistrobina+tebuconazol1,7
13 azoxistrobina+ tebuconazol1,7
14 piraclostrobina+epoxiconazol+fluxapiroxade5,7
15 bixafen+ protioconazol +trifloxistrobina4,7
C.V. (%)
Dose g i.a. ha-1
100
30
50
60+24
60+24
60+70
60+100
116,55+58,45
60+30
60+24
62,5+120
60+100
64,8+40+40
62,5+87,5+75
Severidade (%)
76,9 A
63,0 B
56,4 D
59,8 C
45,6 E
32,3 F
19,7 I
27,4 G
27,3 G
13,6 J
44,4 E
56,2 D
57,2 D
23,7 H
18,4 I
8,9
C (%) Produtividade kg ha-1 RP (%)
0
2278 J
40
18
2455 HI
34
27
2632 FG
28
22
2435 I
35
41
2764 E
23
58
2873 D
20
74
3237 B
7
64
2929 D
18
64
3078 C
13
82
3448 A
0
42
2709 EF
25
27
2582 G
30
26
2555 GH
31
69
3135 BC
11
76
3361 A
3
7,8
Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p=0,05). 1Adicionado Nimbus 0,5% v/v; 2Adicionado Nimbus 0,6 L ha-1 ; 3Adicionado
Nimbus 0,75 L ha-1; 4Adicionado Aureo 0,25% v/v; 5Adicionado Assist 0,5 L ha-1; 6Fungicida com registro especial temporário (RET) II; 7RET III. Circular técnica 111.
semeadura, o monitoramento da lavoura
desde o início do desenvolvimento da cultura,
a utilização de fungicidas no aparecimento
dos sintomas ou preventivamente e o uso de
cultivares resistentes.
Cultivares com genes de resistência vêm
sendo lançadas no mercado. Essas cultivares
apresentam lesões com menor quantidade
de esporos e não dispensam a utilização de
fungicidas. São ferramentas importantes de
manejo e podem ajudar a reduzir a pressão
de resistência aos fungicidas, mas, como
apresentam um ou no máximo dois genes
de resistência, o fungo pode vencer essa resistência de forma semelhante ao que ocorre
com os fungicidas.
Apesar da ferrugem parecer estar sob
controle nos últimos anos, falhas devido à
baixa eficiência curativa dos fungicidas em
áreas onde ocorreram atrasos de aplicações
foram observadas esse ano no Sul. Essas
situações tendem a se repetir no Cerrado em
anos com distribuição regular de chuvas. A
sustentabilidade da soja brasileira pode ser
ameaçada se os fungicidas continuarem a ter
eficiência reduzida por causa da resistência
e menor sensibilidade do fungo a esses
produtos.
C
Cláudia Vieira Godoy e
Maurício Conrado Meyer,
Embrapa Soja
Fabiano Siqueri,
Fundação Mato Grosso
Lucas Navarini,
IFRS
Mônica C. Martins,
Fac. Arnaldo Horácio Ferreira/
Círculo Verde Ass. Agron. e Pesq.
Soja
No tempo certo
Fotos CPA/Copacol
O fator-chave para que o produtor possa obter sucesso com a dessecação reside em acertar
o momento exato de realizá-la. Aplicações antecipadas podem reduzir significativamente a
produtividade da soja ao mesmo tempo em que as realizadas com atraso não apresentarão
bons resultados na antecipação da colheita, objetivo principal da operação
A
dessecação da soja foi muito utilizada no Brasil na década de 90.
Em função de falhas no manejo
de plantas daninhas, a colheita mecanizada
tornava-se uma prática muito difícil. Assim,
a dessecação era indispensável para facilitar
a colheita dos grãos e reduzir perdas. Após a
inserção no campo e expansão da soja RR, o
controle das plantas daninhas melhorou, reduzindo a necessidade da utilização da prática
de dessecação, com esta finalidade.
No cenário atual, a dessecação em soja
proporciona benefícios importantes para os
produtores, como: facilitar a colheita dos grãos,
Tabela 1 - Produtos registrados e com eficiência na dessecação da
soja RR
Ingrediente
Concentração Dose recomendada
Intervalo
ativo
g/L
L/ha
de segurança
glufosinato - sal de amônio
200
2,0
10 dias
paraquate
200
1,5 - 2,0
7 dias
paraquate
276
1,5 - 2,0
7 dias
paraquate
276
1,5 - 2,0
7 dias
glufosinato - sal de amônio
200
2,0
10 dias
paraquate
200
1,5 - 2,0
7 dias
paraquate
200
1,5 - 2,0
7 dias
diquate
200
1,0 - 2,0
7 dias
paraquate
200
1,5 - 2,0
7 dias
Fávero e Madalosso destacam
importância do momento da dessecação
Tabela 2 - Redução de produtividade estimada
em função de dias que antecedem a maturação de colheita (R8). Cafelândia (PR)
Dessecação
(dias até R8)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
30 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
Produtividade
(kg ha-1)
4283
4285
4283
4275
4262
4245
4222
4195
4162
4124
4082
4034
3982
3924
3862
3795
3722
3645
3562
3475
Redução de
produtividade (%)
0,0%
0,1%
0,2%
0,5%
0,9%
1,5%
2,1%
2,9%
3,8%
4,8%
5,9%
7,1%
8,4%
9,9%
11,5%
13,1%
15,0%
16,9%
18,9%
21,1%
escalonamento da colheita e semeadura (milho
2a safra) com consequente otimização do uso
de máquinas (colhedora e semeadora), uniformização da maturação, redução de impurezas
nos grãos, redução do custo de secagem dos
grãos, aproveitamento de melhores condições
comerciais da soja, antecipação da semeadura
do milho de inverno aumentando o potencial
produtivo e reduzindo o risco de perdas por
geadas e secas deste cultivo. Estima-se que na
região Oeste do estado do Paraná mais de 30%
das áreas são dessecadas anualmente. Na região de atuação da Copacol, na safra 2014/15,
foram dessecadas 45% das áreas comerciais de
soja. (Figura 1).
Os ativos mais utilizados e registrados
para dessecação de soja RR são: paraquat,
diquat e glufosinato de amônio, presentes
em diversas marcas comerciais (Tabela 1). A
aplicação destes produtos para dessecar a soja
representa acréscimo no custo de produção.
Na última safra, o custo médio do produtor
paranaense para dessecar um hectare de soja
foi de R$ 41,82. Esse custo já foi maior, porém
Visão geral das parcelas na data da dessecação,
20 dias (esq.), 15 dias (centro) e 10 dias (dir.)
Figura 1 - Percentagem da soja dessecada na região de atuação da Copacol em
função das safras
com o registro de diversas marcas de produtos
genéricos do paraquate houve um aumento da
oferta de marcas e diminuição do preço para
o produtor (Figura 2).
Diante deste cenário a equipe do Centro
de Pesquisa Agrícola da Copacol (CPA) elaborou um ensaio na safra 2014/15 para avaliar
o melhor produto e momento adequado para
dessecação da soja. O ensaio foi montado em
blocos ao acaso e delineamento de tratamentos
fatorial. Avaliaram-se três produtos distintos:
paraquate, diquate e glufosinato de amônio,
na dose de 2L/ha do produto comercial e três
momentos de dessecação: 20 dias, 15 dias e
dez dias antes da maturação de colheita da
soja, com quatro repetições.
A cultivar utilizada foi a BMX Alvo RR
que possui ciclo de aproximadamente 120
dias para a região. A semeadura ocorreu no
dia 12/10/2014, com a utilização de 330kg/
ha do fertilizante formulado 04-24-16 (N-P2O5-K2O) e espaçamento entre linhas de
45cm. Os tratos culturais foram realizados de
acordo com as recomendações oficiais para
cultivo da soja na região Oeste do Paraná. Em
23/1/2015 foram demarcadas as parcelas com
cinco linhas e dez metros de comprimento. Na
mesma data foram aplicados os tratamentos
na primeira época de aplicação (20 dias antes
da maturação de colheita). Nos dias 28/1/2015
e 2/2/2015 foram aplicadas a segunda e a
terceira épocas, 15 dias e dez dias antes da
maturação de colheita, respectivamente (Fi-
Figura 2 - Custo médio do dessecante para soja na região de atuação da Copacol
em função das safras
gura 3). As aplicações foram realizadas com
equipamento pressurizado a CO2, utilizando
ponta de pulverização XR 110 02, e 300L/
ha de vazão.
No dia 12/2/2015 todas as parcelas
foram colhidas, determinando a produtividade e massa de mil grãos (MMG). A massa
das parcelas foi corrigida para umidade de
13%. Os dados foram submetidos à Anova
utilizando-se teste de regressão para as épocas
de aplicação.
Não houve diferenças entre os produtos
aplicados, tanto para a produtividade, quanto para a MMG. Porém, ocorreu resposta
significativa em função da época de aplicação
dos produtos. Quanto maior a antecipação,
maiores foram as perdas de produtividade e
redução da MMG. Como pode ser visto nas
Figuras 4 e 5, a dessecação 20 dias antes da
maturação de colheita causou uma redução
de 904kg/ha (15sc/ha). Observa-se perda em
todas as épocas de dessecação, porém foram
menores abaixo dos dez dias (<5% de perdas).
A redução de produtividade está relacionada à prematura queda das folhas. A perda total
da área foliar cessa a produção e a translocação
de fotoassimilados das folhas para os grãos.
Com interrupção da translocação, ocorre redução na MMG, que é um dos componentes
de rendimento que interfere diretamente na
produtividade da soja. Na Figura 5, observa-se
que com a dessecação antecipada de 20 dias,
reduziu-se em 22,83g grãos1000.
Figura 3 - Produtividade da soja em função da dessecação com diferentes produtos
e dias antes da maturação de colheita
Na Tabela 2 está apresentada a estimativa
do percentual de perda diária (dias antes da
maturação de colheita), calculada a partir da
equação obtida no ensaio (Figura 4). Aplicações realizadas antes de sete dias da maturação
de colheita, possuem maior taxa de perda diária de produtividade. Portanto, os benefícios e
subtrações obtidos pela dessecação devem ser
devidamente calculados.
Avaliar a real necessidade da dessecação
é fundamental. Assim, entender a dinâmica
dos sistemas de cultivos (sucessão de culturas)
adotados na propriedade, oferta de máquinas,
espécies e quantidade de plantas daninhas
presentes, uniformidade da lavoura de soja
e previsão das condições climáticas que serão
enfrentadas são alguns dos pontos que devem
ser avaliados para tomar a decisão sobre a
necessidade da dessecação.
Quando adotada, o fator-chave de sucesso
da dessecação está em acertar o momento
correto de realizá-la. Aplicações antecipadas
podem reduzir significativamente a produtividade da soja, diminuindo assim a rentabilidade do produtor rural. Por outro lado, a
aplicação atrasada não apresentará resultados
significativos na antecipação da colheita, objetivo principal da operação, elevando custo de
produção sem o retorno esperado.
C
Fernando Fávero e
Tiago Madalosso,
CPA/Copacol
Figura 4 - Massa de mil grãos da soja em função da dessecação com diferentes
produtos e dias antes da maturação de colheita
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
31
Soja
Fotos Cultivar
Diversificação
sustentável
Manter e aperfeiçoar a produção de soja, de modo lucrativo e duradouro, requer encaixe
de seu cultivo como um dos componentes de espécies agrícolas no sistema de produção
de grãos, de modo a diversificar as espécies de plantas e evitar os efeitos negativos do
plantio isolado da mesma cultura
A
soja é hoje a maior fonte direta de
renda na agricultura de produção
de grãos no verão. O cultivo desta
oleaginosa no Rio Grande do Sul tem se
expandido nos anos recentes, por vezes, para
áreas agrícolas marginais ou com menor capacidade produtiva. O preço do grão é estável
e tem remunerado a atividade agrícola ano
após ano, contribuindo para mudar o cenário
agrícola de diversas regiões do estado. Pelas
significativas contribuições à sociedade do
meio rural e das cidades, é importante que a
soja também contribua para a sustentabilidade
econômica, ambiental e social dos sistemas de
produção de grãos. Neste contexto, manter e
aperfeiçoar a produção de grãos desta oleaginosa requer encaixe de seu cultivo como um
dos componentes de espécies agrícolas no
sistema de produção de grãos, sempre evitando
o cultivo isolado da soja e sem diversificação
de espécies de plantas.
Embora seja cultura plástica e com
adaptação de cultivo para ambientes de produção diversos, para alcançar desempenho
agronômico desafiador de 90sc/ha a 100sc/
ha, por exemplo, a soja requer solo fértil e estruturado, com capacidade de infiltração e de
armazenamento de água, além da ausência de
camada compactada, de doenças radiculares
e de nematoides. Diversificar os cultivos no e
entre anos, através da rotação e sucessão de
culturas no verão e inverno, é prática agronômica indicada e conhecida de técnicos e
agricultores, que ainda propicia alternância na
renda da propriedade agrícola por diversificar
os produtos colhidos e comercializados.
Estudos conduzidos nas últimas três décadas no Sul do Brasil têm evidenciado que,
a cada três ou quatro safras de verão, o milho
deve compor a rotação com a soja na safra de
verão, pois este cereal contribui com aporte de
carbono ao sistema, ajudando na estruturação
do solo pelo alto volume de resíduos decorrente de seu cultivo. No milho, facilmente
obtêm-se resíduos de colheita de 8t/ha -10t/
ha, ao contrário da soja, onde apenas cerca de
3t/ha de palha restam da colheita de 60sc/ha,
diferença exacerbada e preocupante pelo fato
32 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
dos resíduos da planta de soja colhida terem
alto teor de nitrogênio e, portanto, serem
rapidamente decompostos pela microbiota
do solo. Diversificar os cultivos de verão com
gramíneas como o milho, em contraparte ao
atual “mar de soja”, é urgente e necessário para
prolongar a duração do período recente de sucesso da agricultura e valorizar este importante
setor da economia brasileira e regional.
Além da diversificação dos cultivos no
verão, o alcance das características de solo e
de produtividade da soja é dependente do
cultivo de toda área agrícola durante o inverno, seguindo indicações técnicas decorrentes
de pesquisas. A diversificação de culturas no
inverno e no verão será avanço agronômico
expressivo a ser implantado efetivamente nas
próximas safras agrícolas. Segundo dados
publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Rio Grande
do Sul, enquanto as espécies de verão - soja
e milho - ocuparam 7,3 milhões de hectares
para produção de grãos em 2014, espécies
de inverno ocuparam apenas 1,4 milhão
de hectares (Figura 1). A situação se repete
nos demais estados da região Sul e também
no País, evidenciando que a relação de área
inverno/verão cultivada seguindo indicações
técnicas e preconizando a diversificação de
cultivos é inferior a 1:5, ou seja, menos de
20% da área cultivada no verão é efetivamente
cultivada no inverno para este propósito. A
este respeito, todavia, cabe ressaltar ausência
de estatísticas oficiais sobre o uso da terra com
plantas para cobertura vegetal e alimentação
animal, como, por exemplo, espécies utilizadas
exclusivamente como forrageiras (alfafa, trevo)
e lavouras de grãos destinados à forragem,
silagem ou pastagem e cobertura morta para
plantio direto (aveia preta, sorgo forrageiro,
cevada forrageira).
Solos agrícolas melhor estruturados e
com maior capacidade de armazenamento de
água e de sua oferta às plantas, aos animais e à
sociedade são alguns dos benefícios potenciais
deste novo sistema de produção de grãos a ser
estruturado, implantado e dispersado para
todas as regiões de cultivo de grãos, como
já o foi de forma mais equilibrada nos anos
1990 e início dos anos 2000. Tecnicamente,
uma agricultura com diversificação em cultivos de inverno e de verão contribuirá para
diminuir os efeitos adversos de eventos como
o El Niño ocorrente nos meses recentes. O
sistema de produção diversificado também
poderá atenuar os efeitos da ocorrência de La
Niña, caracterizado por limitação hídrica aos
cultivos de espécies anuais no Sul do Brasil
e que pode ter intensidade aumentada na
próxima safra de verão, caso se confirmem
recentes previsões de institutos de pesquisa
que estudam o fenômeno.
Um sistema de rotação e de sucessão de
culturas é proposto na Tabela 1, em que a área
de cultivo da propriedade é fracionada em três
glebas. No verão do primeiro ano, 1/3 da área é
semeada com a cultura do milho e 2/3 da área
com soja. Desta área com soja, metade deve
ser semeada no início da época indicada pelo
No inverno, a cultura do trigo deve ser semeada em 1/3 da área
intercalada com 1/3 de aveia preta e com 1/3 de aveia preta + ervilhaca
Zoneamento Agrícola de Risco Climático em
sucessão à aveia preta dessecada pelo menos
20 dias antes da data prevista para semeadura
da soja, enquanto o restante daquela área de
soja é semeado na resteva de trigo, que geralmente é colhido entre meados de novembro
e de dezembro.
No inverno, a cultura do trigo deve ser
semeada em 1/3 da área intercalada com 1/3
de aveia preta e com 1/3 de aveia preta +
ervilhaca. Por sua vez, o milho será semeado
durante o mês de setembro, em sucessão à
aveia preta + ervilhaca dessecada previamente, ajuste que permite colheita do cereal
no verão entre o final de janeiro ou durante
o mês de fevereiro. Com este manejo dos cultivos de inverno e verão, a colheita do milho
possibilita a implantação da terceira cultura
da safra agrícola. Esta chamada segunda safra
de verão, ou ainda safra de verão/outono, será
adotada principalmente para adicionar mais
carbono ao sistema, via palhada, que após
diversos processos biológicos e no longo prazo
será incorporado à matéria orgânica do solo,
culminando com melhoria na estruturação do
solo. Capim sudão e milheto são boas opções
de cultivo neste período de entressafra de
grãos. Dependendo da região, culturas também potenciais para o período de verão/outono
são o nabo forrageiro, pela contribuição na
reciclagem de nutrientes, e o feijão de segunda
safra, que agrega receita à propriedade, embora
ambas tenham relação carbono:nitrogênio
mais estreita que aquelas gramíneas. Em áreas
com histórico de ocorrência de doenças como
Sclerotinea sclerotiorum deve-se evitar fazer uso
destas duas alternativas.
Nas áreas da propriedade para cultivo da
aveia preta não há necessidade de semear esta
terceira cultura, pois, ao ser implantada após
a colheita da soja, pode ser mantida em vegetação até o período próximo ao de semeadura
Tabela 1 - Sistema de rotação de culturas a ser utilizado no cultivo de áreas no verão, outono e inverno, considerando
três anos de cultivo e divisão da propriedade em três glebas
Ano
2016
2017
2018
Área 1 (1/3)
Área 2 (1/3)
Verão
Outono*
Inverno
Verão
Outono*
Inverno
Ervilhaca + Aveia preta
Milho
Capim sudão Aveia preta Soja
Milho
Capim sudão
Aveia preta
Soja Nabo forrageiro**
Trigo
Soja Nabo forrageiro**
Trigo
Soja
Ervilhaca + Aveia preta
Área 3 (1/3)
Verão
Outono*
Inverno
Soja Nabo forrageiro**
Trigo
Ervilhaca + Aveia preta
Soja
Milho
Capim sudão
Aveia preta
* Nesta situação, pode ser utilizada cultura isolada em cobertura ou uma cultura no outono e outra no inverno. Espécies leguminosas contribuem com adição de
mais nitrogênio ao sistema, enquanto as gramíneas de outono, como o capim sudão, adicionam mais carbono ao sistema.
**Existem outras opções para culturas de outono que podem substituir ao nabo forrageiro, seja para adição de carbono e nitrogênio ao sistema, seja para a produção
de grãos. A decisão deve considerar também o manejo de cada gleba.
Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma
Economia de Baixa Emissão de Carbono na
Agricultura - Plano ABC. Este plano tem por
finalidade organizar e planejar as ações a serem
realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis, selecionadas com o objetivo de responder aos compromissos de redução
de emissão de gases de efeito estufa no setor
agropecuário assumidos pelo país. No setor
agropecuário, a ampliação da área sob Sistema
de Plantio Direto em oito milhões de hectares
é prática agrícola que contribuirá para atingimento da meta brasileira. Neste contexto, a
rotação de culturas figura como alicerce para
o cumprimento da meta de menor emissão de
gases do efeito estufa, onde a soja tem papel
preponderante, por ser cultura que, geralmente, tem grande participação para a viabilidade
financeira do sistema de produção anual nas
propriedades rurais. Além disso, a soja pode
contribuir em outra importante linha do Plano
ABC, a fixação biológica de nitrogênio, que é
o principal gás de efeito estufa da agricultura
de sequeiro, sendo emitido, principalmente,
devido à utilização da adubação nitrogenada. Aliás, é notório o destaque do Brasil no
desenvolvimento científico e tecnológico que
viabilizou a inoculação da semente de soja com
Bradyrhizobium, prática de baixo dispêndio
pelo agricultor, mas que dispensa a aplicação
externa de nitrogênio à cultura. Estudos recentes da Embrapa demonstram que a sucessão
trigo/soja, ou seja, o monocultivo de inverno
e verão, respectivamente, pode aumentar em
20% a emissão de óxido nitroso para a atmosfera, comparativamente a rotações de culturas
compostas por gramíneas (2/3) e leguminosas
(1/3) no inverno e mais 2/3 de soja no verão.
Não há dúvidas que a soja tem sido e
continua sendo o “seguro” da propriedade
rural. À cultura tem se atribuído muito do
sucesso pelo qual passa o setor agropecuário
atualmente. Não obstante os bons frutos
colhidos pelos produtores rurais, o monocultivo da soja em grande parte das áreas do Rio
Grande do Sul tem sido visto como risco para
a manutenção da qualidade do solo, pilar da
qualidade ambiental e da sustentabilidade
dos sistemas produtivos. A “boa notícia”, no
entanto, está no estabelecimento de opções de
cultivo que mantêm a rentabilidade do sistema
de produção, aliadas à preservação do meio
ambiente, sem observar e analisar somente os
C
dados isolados de cada cultura anual.
Paulo Fernando Bertagnolli,
Mércio Luiz Strieder,
Anderson Santi e
Genei Antonio Dalmago,
Embrapa Trigo
Charles Echer
da cultura de verão subsequente.
O sistema de rotação e de sucessão de
culturas apresentado na Tabela 1 preconiza
manter pelo menos uma cultura implantada
em todas as áreas durante todo ano, desfavorecendo a ocorrência de pousio vegetado ou
espontâneo (Figura 1), mesmo na entressafra
dos cultivos. Portanto, após a colheita da
cultura anterior ou o manejo desta via de
dessecação, deve ocorrer imediatamente a
semeadura da próxima cultura.
Os benefícios ambientais advindos da
rotação de culturas são bem conhecidos,
principalmente quando contextualizados no
âmbito do sistema plantio direto, pois este
contribui para a adição de matéria orgânica
ao solo, reciclagem de nutrientes, fixação
simbiótica de nitrogênio, retenção e infiltração
de água no solo, além de ter papel importante
para a redução do escoamento superficial e
no controle da erosão hídrica, resultando na
preservação dos recursos naturais.
Nas últimas décadas estudos têm reforçado as evidências de que a atividade humana
tem parte no aquecimento global experimentado pela Terra, sendo esse aquecimento
apontado como precursor de mudanças no
clima mundial. Em decorrência, os países
discutem alternativas locais e conjuntas para
mitigar a emissão de gases de efeito estufa,
considerados importantes contribuintes e
aceleradores destes eventos. Ademais, estes
estudos buscam identificar o nível de associação, a intensidade do fenômeno e os setores
(agrícola ou não) que poderão ser afetados
pelas mudanças climáticas e, principalmente,
identificar alternativas de adaptação de plantas
e a capacidade e eficiência destas em responder
aos impactos e cenários preditivos advindos
das mudanças climáticas.
Através do Decreto nº 7.390/2010, o
governo brasileiro regulamentou o Plano
Figura 1 - Área agrícola ocupada com lavouras temporárias no verão e inverno e
estimativa de área de pousio vegetado no inverno. (Elaborado a partir de dados
publicados pelo IBGE, referentes ao PAM 2014 – Produção Agrícola Municipal http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pam/2014)
O milho deve compor a rotação com a soja na safra
de verão, pois contribui com aporte de carbono
34 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
Empresas
Fotos CBC Negócios
Conectando o
agronegócio
Anunciada em 2011, a CBC Negócios é uma plataforma digital
concebida com o objetivo de conectar quem produz a quem
compra, de maneira eficiente e rápida
O
universo da comercialização de
commodities e insumos ganhou
uma nova ferramenta para auxiliar o produtor agrícola: a Central Brasileira
de Comercialização (CBC Negócios). O serviço, que está em operação há três meses, foi
anunciado em 2011 e vem sendo desenvolvido
desde o início de 2014. Com investimentos de
aproximadamente R$ 10 milhões em tecnologia, infraestrutura e treinamento de pessoas,
até o momento, a plataforma é a aposta para o
futuro das negociações do agronegócio.
Apesar de estar em operação há pouco
tempo, já conta com 800 cadastros ativos,
entre alguns dos principais players do agronegócio, que realizam transações diariamente no
mercado brasileiro. Esse espaço inclui os maiores exportadores agrícolas do país, além de empresas nacionais e internacionais. A novidade
não impediu o início das movimentações pela
plataforma: até agora, aproximadamente R$
2,5 milhões em negócios foram movimentados, incluindo negociações de farelo de soja,
algodão e leite em pó.
Segundo o conselheiro da CBC Negócios,
Sérgio Barroso, esse novo modelo de realizar
negócios é o que se pode esperar para o futuro
do setor. "Ainda estamos aprendendo com o
serviço a maneira que podemos nos inserir no
mercado, auxiliando da melhor forma. Nunca
imaginamos que nossa primeira transação
fosse ser com leite em pó, por exemplo",
brincou Barroso.
"Atualmente, nos encontramos em um
cenário em que temos um leque tecnológico
muito grande da porteira pra dentro. Já da
porteira pra fora ainda há obstáculos a superar,
até conseguirmos a melhor maneira de utilizar
a tecnologia a favor do produtor rural e do
Para Barroso modelo de realizar negócios é o
que se pode esperar para o futuro do setor
mercado agrícola. A CBC é o primeiro passo a
ser dado nessa direção", afirmou o conselheiro.
O diretor comercial da CBC, Eduardo
Fogaça, possui 17 anos de experiência na
área de comércio exterior e é especialista na
comercialização de grãos. Segundo Fogaça, por
meio da CBC é possível que os profissionais do
segmento fechem negócios de maneira rápida,
confiável e eficiente. "A venda de uma safra
pode girar o volume por três vezes ou mais entre os players do agronegócio, portanto, quanto
mais agilidade e confiabilidade no processo,
maior o volume de negócios bem-sucedidos",
exemplificou o diretor.
Depois de dois anos de desenvolvimento
e testes, a plataforma atingiu um patamar de
eficiência e abrangência que permite que o
produtor a acesse de qualquer local, 24 horas
por dia, sete dias por semana. "Sua capacidade
de receber usuários é infinita, com possibilidades técnicas de atuação global", explicou
o diretor. O objetivo é atender a todos os
profissionais atuantes no mercado, desde
produtores, corretores, tradings, indústrias, cerealistas e toda a cadeia produtiva do setor, no
Brasil e no restante do mundo. Não há limites
de valores das transações comerciais feitas via
plataforma, o que é um grande atrativo para
os grandes players do mercado.
O cadastro na plataforma é gratuito. "A
CBC cobra um percentual sobre negócios
fechados, calculado sobre cada transação, com
alíquotas que variam conforme os produtos,
mas se comparado aos métodos tradicionais,
representa a redução de, no mínimo, 50% dos
custos de operação", garantiu Fogaça.
Acesso e independência são objetivos
perseguidos pela plataforma. "Dar independência ao produtor, para que ele visualize de
que forma sua produção se insere no mercado,
com um serviço transparente e eficiente, é o
nosso grande objetivo", concluiu o diretor.
Mais informações podem ser obtidas em www.
C
cbcnegocios.com.br.
*Karine Gobbi viajou a convite da
CBC Negócios
Fogaça destaca negócios de maneira rápida,
fácil e eficiente com a plataforma
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
35
Arroz
Observação atenta
Fotos Irga/Unitec
De importância secundária ao longo de muito tempo na cultura do arroz, a lagarta-da-panícula
detém atualmente o status de uma das principais pragas que atacam as lavouras orizícolas do Rio
Grande do Sul. O monitoramento deste inseto é de extrema importância, pois a demora na sua
identificação é proporcional ao agravamento da população e dos danos
A
s lavouras do arroz irrigado do Rio
Grande do Sul, em geral, sofrem o
ataque de vários insetos-praga que
contribuem para a redução da produtividade
e o aumento dos custos de produção. Nos
últimos dez anos, alguns insetos ocorriam nas
lavouras de arroz irrigado, mas não causavam
danos. É o caso da lagarta-da-panícula (Pseudaletia spp.), antes de importância secundária
e ocorrência esporádica, mas que nas últimas
safras tem sido uma das principais pragas do
arroz irrigado no estado. Esta denominação
praga é dada a partir do momento em que se
dá aumento da densidade populacional do inseto causando prejuízos. A lagarta-da-panícula
ocorre todos os anos atacando mais de 40%
da lavoura e causando perdas. Muitos produtores, por não realizarem o monitoramento,
desconhecem sua ocorrência. Esta demora na
identificação da lagarta favorece o aumento da
população e dos danos.
A lagarta-da-panícula sempre esteve disseminada por todo o estado gaúcho, porém
nas regiões da Depressão Central, Fronteira
Oeste, Campanha e Planície Costeira Externa, as populações e os danos eram maiores.
Nas duas últimas safras na região da Planície
Costeira Interna, lavouras apresentaram altas
infestações e alguns produtores acharam que
o dano foi causado por granizo.
As causas do aumento da população da
lagarta-da-panícula estão associadas às condições favoráveis na lavoura de arroz irrigado e
também pelo hábito de suportar temperaturas
mais baixas. Assim, após a colheita, o inseto
continua a reproduzir-se na entressafra, permanecendo na área.
Como as populações estão altas no Rio
Grande do Sul, é importante o produtor realizar observações periódicas, ou seja, monitorar
a lavoura.
ESPÉCIES E BIOLOGIA
No Rio Grande do Sul ocorrem duas espécies, a Pseudaletia adultera e a P. sequax, ambas
conhecidas também como lagarta-do-trigo. As
lagartas dessas espécies são semelhantes nos
primeiros estágios de desenvolvimento. A partir do quarto instar, a diferenciação é possível,
pois as lagartas de P. adultera são escuras e as
da espécie P. sequax, são rosadas.
Na fase adulta a identificação é mais fácil
por serem de cor pardo-acinzentada, e o adulto
de P. adultera é uma mariposa que apresenta
ao centro de cada asa anterior um ponto de
coloração escura.
36 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
A fêmea realiza as posturas nas folhas e
colmos colocando até mil ovos. Passados oito
dias, nasce a lagartinha que apresenta ciclo em
média de 28 dias. A seguir a fase de pupa, com
coloração marrom-avermelhada, desenvolvida
nas partes inferiores das plantas ou no solo,
sendo o ciclo em média de 14 dias. Após,
surgem os insetos adultos.
No estágio inicial as lagartas se alimentam das folhas e posteriormente atacam as
panículas.
HÁBITOS
Em função do hábito noturno, as lagartas ficam abrigadas durante o dia nas partes
inferiores das plantas. Logo, existe grande dificuldade para determinar sua ocorrência. Ao
final da tarde ou em dias nublados, as lagartas
sobem para atacar as panículas.
Esta praga permanece na lavoura após a
colheita, sendo encontrada principalmente
na fase de lagarta, até o mês de junho nos
restos culturais.
OCORRÊNCIA E DANOS
Esta lagarta mudou o seu comportamento, pois tem ocorrido antes da emissão da
panícula, na fase de afilhamento, ou seja, a
partir dos 60 dias após a emergência, e em
geral ataca as folhas. Também nesta fase, por
conta das lagartas serem pequenas, os danos
são menores. A maior incidência se verifica a
partir da emissão da panícula, ocorrendo até a
fase final da cultura, no estádio de maturação
dos grãos, quando a lagarta corta as panículas.
Muitos produtores percebem a presença da
lagarta em um estágio avançado do ataque,
quando já ocorreram os danos, pois panículas
praticamente inteiras são cortadas.
Na região da Fronteira Oeste, a lagarta-da-panícula ocorre nos meses de janeiro e
fevereiro e nas demais regiões orizícolas, de
fevereiro a abril, períodos de maiores densidades populacionais. Esta elevação do número
de indivíduos por área vai aumentar o nível
de dano.
Estudos realizados mostram que com a
ocorrência de uma lagarta/m-2, pelo período
de uma semana, as perdas no rendimento de
grãos podem ser superiores a 2%, que em altas
populações com mais de oito lagartas/m-2, após
cinco dias a redução no rendimento de grãos
pode chegar a 350kg/ha. O produtor deve
vistoriar a lavoura e, se necessário, realizar o
controle antes que ocorram danos à cultura.
MONITORAMENTO
As estratégias de manejo devem começar
com o adequado monitoramento da lavoura
por parte do produtor. Conhecer os sinais do
ataque, os hábitos do inseto e os locais mais
prováveis de sua atividade são requisitos básicos para que o produtor saiba o local e o momento de procurá-las. O monitoramento deve
ser iniciado no período do afilhamento, mas se
deve dar maior atenção ao florescimento e durante o enchimento de grãos. As observações
devem começar principalmente pelas taipas e
para determinar a sua incidência, o produtor
deve realizar um exame minucioso abrindo
as plantas e observando se há as lagartas ou
os seus resíduos na base das plantas. O dano
é fácil de ser identificado, pois as panículas
cortadas ficam caídas no solo entre as plantas.
As avaliações para determinar a população
do inseto e os sintomas devem ser realizadas
Lagartas de Pseudaletia sequax possuem como
característica a coloração rosada
a cada sete dias, determinando o início da
infestação e a ocorrência de lagartas pequenas,
ideal para adoção de medidas de controle.
MANEJO DO INSETO
Eliminação da resteva
A destruição dos restos culturais pode
auxiliar na redução da população do inseto ao
tornarem o ambiente desfavorável a algumas
de suas formas, como as lagartas e pupas e
também expondo-as ao ataque de inimigos
naturais, no caso dos pássaros.
A redução das plantas espontâneas que
servem de abrigo e alimento para as lagartas no
período de entressafra ajuda na diminuição da
população para a safra seguinte. Estas medidas
podem ser adotadas por meio de pastoreio e
pelo preparo antecipado do solo.
Rotação de culturas
O método de rotação de culturas com
a eliminação do alimento, pela ausência da
planta hospedeira cultivada provoca a redução
da população inseto-praga. Portanto, a rotação
com soja mostra-se eficiente, pois a lagarta-da-panícula não ataca essa cultura.
Manutenção da lâmina de irrigação
O manejo da irrigação, através da manutenção de lâmina de água uniforme em todo
o quadro, sem a existência de coroas ou partes
da lavoura sem água, pode reduzir ou retardar a infestação de lagartas. As partes secas,
incluindo as taipas, são as primeiras áreas a
serem atacadas. Também manter a irrigação
até a colheita ou próxima, vai manter as lagartas apenas nas taipas, diminuindo os danos.
um controle natural, podendo manter a população abaixo do nível de dano econômico.
O uso inadequado de inseticidas, como de
produtos não registrados ou em doses e frequência mais alta que a recomendada, elimina
tais espécies do ambiente, causando além do
desequilíbrio imediato, problemas como ressurgência, que é o aumento da população de
insetos secundários e a resistência a inseticidas.
Controle químico
O uso de inseticidas na lavoura orizícola
do Rio Grande do Sul é muito frequente. Porém, sua adoção deve ser realizada de maneira
correta, sem comprometer a biodiversidade
ocorrente nas lavouras de arroz. Devido às
lagartas localizarem-se nas partes inferiores
das plantas, este comportamento dificulta o
seu controle.
Existem produtos registrados para o controle da lagarta-da-panícula na cultura do arroz
no estado. O princípio ativo clorantraniliprole
tem apresentado ótima eficiência. Não devem
ser utilizados produtos químicos sem registro,
para o seu controle na cultura do arroz irrigado.
Como as lagartas sobem ao final do
dia, este é o período adequado para realizar
o controle, pois o produto vai atuar por
contato e ingestão. Estudos mostram que
48 horas após a aplicação do inseticida, a
mortalidade das lagartas pode atingir 100%
C
de controle.
Jaime Vargas de Oliveira,
Unitec
Danielle Almeida,
Carlos Eduardo M. de Souza e
Tailor Pivoto Perufo,
Irga
Inimigos naturais
A lavoura de arroz é um ambiente riquíssimo em espécies de predadores como aranhas,
libélulas, vespas e tesourinhas, que realizam
Pseudaletia adultera, apresenta ao centro de
cada asa anterior um ponto de coloração escura
Lagarta flagrada em situação de ataque à
panícula de arroz
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
37
Trigo
Folhas amareladas
Deuner, C.C.
A mancha amarela é limitante da cultura do trigo, principalmente em sistema de plantio direto
e monocultura, em regiões mais frias, com chuvas frequentes, dias encobertos e alta umidade
do ar, como ocorre no Sul do Brasil. A aplicação foliar de fungicidas, em especial triazóis e
estrobilurinas, associada a outras estratégias de manejo, tem se tornado essencial nos últimos
anos ante ao aumento da intensidade da doença e das dificuldades de controle
N
o Sul do Brasil, o clima contribui
para a ocorrência e o aumento da
intensidade de doenças, pois durante o desenvolvimento da cultura observa-se
de forma frequente excesso de chuva, acúmulo
de dias encobertos e alta umidade do ar.
Nesse cenário, a mancha amarela da folha do
trigo ganha importância, principalmente nas
regiões mais frias em que o trigo é cultivado
em monocultura e sistema de plantio direto,
alcançando um potencial de danos de até 48%.
A doença é causada pelos fungos Drechslera tritici-repentis (Died.) Shoemaker e
Drechslera siccans (Drechsler) Shoemaker. Os
primeiros sintomas aparecem nos estádios
iniciais da planta, geralmente nas folhas
próximas ao solo. Uma vez no interior da
planta, o fungo secreta toxinas que podem
causar amarelecimento e necrose dos tecidos,
originando pequenas lesões ovaladas com halo
amarelado e centro necrótico. Essas lesões
evoluem, através de um processo chamado
expansão de lesão, podendo coalescer e tomar
grande proporção do tecido foliar. Esse processo é menos dependente do ambiente, por
isso as manchas foliares tendem a evoluir sob
condições adversas à esporulação, dispersão do
inóculo e indução de novas infecções.
As principais formas de sobrevivência
do patógeno de uma safra para outra se dão
através de sementes infectadas e restos culturais. Nos restos culturais, o patógeno forma
estrutura de sobrevivência, que libera esporos
sexuais no início da safra sob condições favoráveis, começando o ciclo da doença em sistema
de plantio direto com monocultura. Durante
o desenvolvimento da cultura, sob condições
favoráveis e sem adoção do controle químico,
esporos assexuais são formados sobre as lesões
e permitem que a doença se expanda e se torne
mais agressiva. Dentro desse contexto, medidas integradas para diminuir a quantidade
de inóculo em sementes e restos culturais são
importantes. A intenção é atrasar o início da
doença no campo e, assim, diminuir os danos
sobre a cultura e as perdas para o agricultor.
Em áreas com problemas de mancha
amarela, a rotação de culturas com espécies
não hospedeiras por pelo menos um ano, como
aveia, nabo forrageiro e canola, pode ser eficiente para reduzir a quantidade de inóculo no
campo, assim como a utilização de sementes
com boa qualidade sanitária. Deve-se optar
sempre que possível por cultivares menos
suscetíveis à doença, sendo esta informação
oferecida em dias de campo, instituições de
38 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
pesquisa e informativo técnico da cultivar
desejada. O tratamento de sementes com
fungicidas é outra ferramenta importante, e
deve ser realizado sempre que houver presença
do patógeno na área ou na semente. Por fim,
a aplicação foliar de fungicidas junto às outras
medidas de manejo da doença é essencial,
devido ao aumento da intensidade da doença
e à dificuldade de controle nos últimos anos
no Sul do Brasil.
Tendo em vista que a mancha amarela é
de difícil controle, a Universidade de Passo
Fundo (UPF), através dos professores Carlos
Forcelini e Carolina Deuner e orientandos,
desenvolvem trabalhos nesse sentido. As
respostas de rendimento de trigo à aplicação
foliar de fungicida é altamente variável, sendo
influenciada pela resistência genética da cultivar à doença, quantidade de doença presente
no campo, época, dose e número de aplicações,
tecnologia de aplicação, rendimento potencial
da cultura, condições climáticas durante o
ciclo da cultura e virulência do patógeno.
A maioria dos fungicidas foliares utilizados
para o controle de mancha amarela possui o
grupo químico triazol ou estrobilurina, ou
a mistura de ambos. Em trabalho realizado
na área experimental da UPF, safra 2013, foi
Fotos Ranzi, C.
Tabela 1 – Eficiência de controle (%) e rendimento de grãos (kg/ha) dos
diferentes tratamentos após três aplicações de fungicidas foliares. UPF,
Passo Fundo (RS). 2013
Tratamento
1 - Testemunha
2 - 3x (Pira+epoxi)1
3 - 1x (Pira+epoxi + (Propi)2) + 2x (Pira+epoxi)
4 - 1x (Pira+epoxi + (Epóxi)3) + 2x (Pira+epoxi)
5 - 3x (Azox+cipro)4
6 - 1x (Azox+cipro + (Propi)) + 2x (Azox+cipro)
7 - 1x (Azox+cipro + (Epoxi)) + 2x (Azox+cipro)
8 - 3x (Triflox+protio)5
9 - 1x (Triflox+protio + (Propi)) + 2x (Triflox+protio)
10 - 1x (Triflox+protio + (Epoxi)) + 2x (Triflox+protio)
C. V.= 9,19%
Sintomas da mancha amarela do trigo com expansão de lesão
a partir do ponto de infecção. UPF, Passo Fundo (RS). 2013
Rendimento
(Kg/ha)
3885,0 b6
5034,1 a
5072,5 a
4616,6 ab
4877,5 ab
4694,1 ab
4934,1 ab
4778,3 ab
4955,0 a
4317,5 ab
piraclostrobina + epoxiconazol (66,5+25 g i.a./ha); 2propiconazol (100); 3epoxiconazol (62,5); 4azoxistrobina + ciproconazol (60+24); 5trifloxistrobina + protioconazol (60+70). 6Médias seguidas pela mesma
letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey 5% de probabilidade.
1
foi o 9, e todos os outros, exceto os tratamentos
5 e 7, que apresentaram um controle regular,
com eficiência variando de 58% a 66%.
Os maiores rendimentos foram observados nos tratamentos: 2 - três aplicações
da mistura piraclostrobina + epoxiconazol
(5.034,1kg/ha); 3 - mesma mistura com
adição de propiconazol na primeira aplicação (5.072,5kg/ha); 9 - aplicações de
trifloxistrobina + protioconazol, com propiconazol adicionado na primeira aplicação
(4.955,0kg/ha).
A testemunha produziu 1.147,1kg/ha a
menos em relação ao tratamento 2, que apresentou a maior produtividade. Isso reforça a
importância de uma boa condução da lavoura
e auxílio de fungicidas que se mostram como
uma ferramenta importante para minimizar
os danos causados pelas doenças, sendo uma
medida emergencial, rápida e eficiente. Para
que a cultura do trigo seja sustentável, é necessário manter altos patamares de rendimento
de grãos. Nesse sentido, os fungicidas devem
ser aplicados segundo critérios que assegurem
o retorno econômico, considerando o ciclo
biológico do patógeno, o comportamento das
cultivares e as condições climáticas.
As pesquisas que têm como objetivo o manejo integrado de manchas foliares devem ser
intensificadas e contínuas, com o objetivo de
orientar o manejo dos agricultores para reduziDivulgação
avaliado o desempenho de fungicidas sobre o
controle de mancha amarela. A cultivar utilizada foi TBio Pioneiro, suscetível à mancha
amarela. Os fungicidas empregados foram
piraclostrobina + epoxiconazol (66,5 + 25g
i.a./ha), azoxistrobina + ciproconazol (60 +
24), trifloxistrobina + protioconazol (60 +
70), propiconazol (100) e epoxiconazol (62,5)
nos estádios de perfilhamento, elongamento
e florescimento.
A porcentagem de controle da mancha
amarela variou entre os tratamentos (Tabela 1). A melhor eficiência de controle foi
constatada para o tratamento 9, primeira
aplicação de trifloxistrobina + protioconazol
com adição do propiconazol e as duas subsequentes de trifloxistrobina + protioconazol,
com eficiência de 72%. Os dois tratamentos
que apresentaram a menor eficiência foram
o 5 e o 7 (34%), ambos com aplicações de
azoxistrobina + ciproconazol, porém, o
tratamento 7 teve adição do fungicida epoxiconazol a esta mistura somente na primeira
aplicação. Uma possível explicação para o
resultado de menor eficiência de controle,
apresentado pelos dois tratamentos, é a
menor quantidade de triazol na formulação,
24g i.a./ha comparado, por exemplo, com o
tratamento 9, que tem 70g i.a./ha. As manchas
foliares são melhor controladas pelos triazóis,
respondendo positivamente à adição de mais
triazol à mistura (triazol + estrobilurina). Esse
procedimento é fundamental em cenários
favoráveis a manchas foliares, como cultivares
suscetíveis, monocultura de trigo e condições
ambientais favoráveis. Segundo a indicação
técnica da pesquisa do trigo (Reunião, 2006),
considera-se bom controle quando o fungicida
apresenta eficiência superior a 70%, e controle
regular quando a eficiência fica entre 50% e
70%. Portanto, o tratamento que apresentou
bom controle, conforme os critérios descritos,
Eficiência de
controle (%)
¬60
60
58
34
66
34
60
72
60
Grupo de pesquisa da UPF liderado pelos
professores Carlos Forcelini e Carolina Deuner
rem danos na triticultura. Há a necessidade de
que sejam desenvolvidos novos fungicidas ou
reposicionados os fungicidas do mercado para
atenuar o problema de controle da mancha
amarela. Porém, isso deve estar associado a
outras estratégias de manejo, como resistência
C
genética e rotação de culturas.
Victória V. Bertagnolli,
Camila Ranzi,
Valéria C. Ghissi,
Pedro Bertagnolli Neto,
Giovani Pastre,
Gustavo Visintin e
Carolina C. Deuner,
Univ. Federal de Passo Fundo
doenças fungicas
O
trigo (Triticum spp.) é o segundo cereal mais produzido no
mundo, com significativa importância
na alimentação humana e na economia
agrícola global. O cereal é cultivado nas
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do
País, sendo o Sul responsável por mais
de 90% da produção nacional.
A produção brasileira de trigo
supre aproximadamente metade da
demanda nacional. No entanto, é de
conhecimento geral que o Brasil possui
imenso potencial para produzir trigo
sem exigir a incorporação de áreas ainda
não cultivadas com grãos. Sendo assim,
dentre os componentes que limitam o
potencial produtivo da cultura, as doenças de origem fúngica se destacam,
pois comprometem a qualidade e o
rendimento de grãos.
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
39
coluna anpii
Marketing correto
É preciso auxiliar o agricultor a perceber os produtos biológicos como
insumos altamente tecnificados, que agregam valor à sua atividade,
seja do ponto de vista de rentabilidade ou de sustentabilidade
O
s produtos biológicos no
Brasil sempre padeceram
de uma grande dificuldade:
seu posicionamento. Em marketing,
entende-se por posicionamento a forma
como se deseja que o mercado veja, perceba, um produto. Assim, se o produto
é para atender um mercado de baixa
renda, nunca poderá ser posicionado
como sofisticado, que possa levar à percepção de que se trata de um produto
caro. Por outro lado, se o produto for
voltado para um público de mais alta
renda, deve-se partir justamente para
o contrário, evitando conotações mais
populares na sua embalagem, divulgação, pontos de venda etc.
Infelizmente os inoculantes, os
produtos biológicos de mais largo uso
na agricultura, foram posicionados
desde o início de sua comercialização
como produtos baratos, alternativos,
sem ressaltar sua essencialidade para
elevadas produtividades e seu elevado
benefício em relação ao custo. A venda desde seu início centrou-se mais
no preço baixo que nas vantagens do
produto. E este erro mercadológico
permaneceu ao longo dos anos, mesmo quando a agricultura mudou de
patamar e passou a ser uma atividade
altamente tecnificada e rentável.
Na esteira do inoculante os demais
produtos biológicos, inclusive os de
controle biológico, entraram nesta
trilha. Muitas vezes são posicionados
como produtos “alternativos” e não
como de primeira escolha. Este posicionamento errado tem trazido muitas
dificuldades tanto para o ingresso destes produtos no mercado, como para
que se possa precificá-los de maneira
justa, proporcional à sua tecnologia e
ao seu custo/benefício.
Ao observar os inoculantes sob o
ponto de vista custo/benefício, observa-se que não existe na agricultura, talvez
em nenhum segmento da economia,
um produto tão desequilibrado nesta
relação. O fornecimento de nitrogênio
para as leguminosas, em especial a
soja, é fundamental para a obtenção de
elevadas produtividades. Para produzir
3.000kg, a soja necessita de 250kg a
300kg de nitrogênio, equivalente a
600kg ou 800kg de ureia. Isto custaria
mais de R$ 1.000,00. Esta mesma
quantidade de N é obtida pelo uso de
uma dose de inoculante ao custo de R$
5,00. A princípio pode-se pensar que
isto seja uma grande vantagem para
o agricultor, pois compra um produto
barato que resulta em um grande retorno. Analisando no imediatismo, de fato
parece haver razão neste raciocínio.
Entretanto, pensando no longo prazo,
a atividade produtiva de inoculantes
pode passar a ser de baixíssima rentabilidade e diminuir a concorrência no
mercado, bem como impedir um investimento em pesquisa e desenvolvimento. Este aspecto, o do desenvolvimento,
é de capital importância, pois a agricultura se moderniza a passos rápidos e,
Infelizmente
os inoculantes,
os produtos
biológicos de
mais largo uso na
agricultura, foram
posicionados
desde o
início de sua
comercialização
como produtos
baratos
em paralelo, aumentam as ameaças por
conta da instabilidade climática que,
independentemente de suas causas,
veio para ficar por um longo tempo.
Sabendo-se que o déficit hídrico é uma
das grandes ameaças às altas taxas de
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN),
é importante trabalhar fortemente no
aumento da resistência do sistema
simbiótico a estes estresses que vêm
ocorrendo com muito maior frequência.
Este é apenas um dos exemplos de que
o investimento em P&D deve se elevar
cada vez mais para que não se percam
os grandes ganhos de nossa agricultura
com o uso de inoculantes. E isto só se
conseguirá com empresas fortes, saudáveis economicamente, que possam
investir em pesquisa e desenvolvimento
e apoiar trabalhos das entidades oficiais.
O importante é que se trace um planejamento de marketing para posicionar o inoculante, bem como os demais
produtos biológicos, como insumos essenciais para uma agricultura altamente
produtiva, como “primeira escolha” e
não como “alternativos”. Logicamente
que os aspectos ambientais que estes
produtos apresentam são de grande
importância, fundamentais mesmo
para uma agricultura sustentável, mas
pontos como custo/benefício, aumento
de produtividade e outros ligados ao dia
a dia do agricultor devem ser ressaltados. É preciso auxiliar o agricultor a
perceber os produtos biológicos como
insumos altamente tecnificados, que
agregam valor à sua atividade, seja do
ponto de vista de rentabilidade ou da
sustentabilidade.
A ANPII, através de suas ações de
marketing, vem trabalhando para que
esta linha de produtos seja, cada vez
mais, percebida como fundamental
para a prática agrícola, fazendo com
que o agricultor agregue valor à sua
atividade pelo uso de produtos de eleC
vada qualidade.
Solon C. de Araujo,
Consultor da ANPII
40 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
coluna agronegócios
A
Polinizadores, néctar e pólen
polinização é o ato sexual das
flores, o processo que promove
a união dos gametas masculino
e feminino das plantas, a formação do fruto
e das sementes. Há dois grandes tipos de
polinização, a autopolinização, em que a
flor somente abre (por vezes sequer abre)
após ocorrer a polinização com pólen da
mesma flor; e a polinização aberta, em que
existe a possibilidade de pólen de outras
flores, de plantas da mesma espécie, vir a ser
depositado no estigma – o que é chamado de
polinização cruzada. No sistema aberto, o
pólen pode ser transportado entre flores pelo
vento (polinização anemófila) ou por insetos
(entomófila), embora outros animais (aves,
morcegos) possam atuar como polinizadores,
além dos insetos (mariposas e borboletas,
besouros), sendo as abelhas os principais
agentes polinizadores.
Quando a estratégia é aumentar a taxa
de polinização cruzada, em plantas de polinização entomófila, há que atrair os polinizadores – um processo de sedução, encanto
e fidelização. A orientação ocorre em duas
etapas, sendo a primeira de uma distância
relativamente grande até a proximidade
da flor, e a segunda governa a orientação
a curta distância, quando a abelha pousa e
prova o néctar. As abelhas são primeiramente
atraídas pela cor e/ou forma da flor, através
de sinais visuais detectados por dois tipos
de canais paralelos, situados atrás da retina.
Um canal é usado para identificar as cores;
o outro é monocromático e orienta a abelha
até as bordas de um item do campo visual.
Experimentos demonstraram que as abelhas
diferenciam entre cores o que deve estar
associado com as cores das flores preferidas
para seu forrageamento.
Quando a abelha já se encontra próxima
à flor, começa a segunda parte do processo
de orientação, pela detecção de substâncias
voláteis emitidas pela flor. Os voláteis podem
ser liberados pela secreção do néctar, ou
provir das pétalas ou ainda de outras partes
da flor. As abelhas têm um grande número
de sensilas nas antenas, que são os principais
quimiorreceptores para aromas (voláteis)
florais. A amputação parcial das antenas
indicou que a acuidade da percepção do perfume das flores pelas abelhas varia de acordo
com o número de sensilas intactas restantes
na antena. Alguns autores sugerem que o
olfato desempenharia um papel até mais
importante no recrutamento das forrageiras
do que as manobras de dança, observadas em
colônias de abelhas.
Fidelidade é fundamental
Não basta atrair e seduzir, é necessário
fidelizar, e os aromas florais são fundamentais
para tanto. Já foi demonstrada a importância de substâncias voláteis, como ocimeno,
mirceno, limoneno e linalol para manter a
fidelidade das abelhas. O exame de 150 espécies de orquídeas demonstrou a existência
de um espectro volátil complexo, que envolve
mais de 50 compostos diferentes. A produção
de voláteis florais em orquídeas é específica
de cada espécie, e é fundamental para a
polinização, uma vez que seus principais
polinizadores, as abelhas da tribo Euglossini,
discriminam entre espécies de orquídeas por
olfação. A emanação de voláteis segue um
ritmo cíclico durante o dia, provavelmente
associado a mudanças na composição e na
quantidade de néctar disponível na flor.
No entanto, chegar a uma flor de uma
determinada planta não é suficiente, como
em qualquer relação, a fidelidade exige um
reforço contínuo, que vai além dos voláteis.
Para tanto, as flores oferecem pólen e néctar
em quantidades que superem a capacidade
de forrageamento de cada abelha, individualmente. Este limiar de forrageamento é
considerado a recompensa mínima aceitável
para as abelhas, devendo superar em abundância e qualidade a recompensa de outras
espécies de plantas próximas, que competem
pela visitação das abelhas. Trata-se de uma
questão de eficiência e de consumo mínimo
de energia para o máximo de coleta dos
produtos, os quais servem de alimento para
si e para a colônia.
Pólen e néctar,
alimentos das abelhas
O pólen é o repositório do gameta
masculino, composto quase exclusivamente
por proteínas, que é coletado pelas abelhas
como alimento, e assim ganha a chance de
fecundar as flores que são visitadas durante
o forrageamento. O néctar é uma secreção
doce e aquosa de uma planta, que medeia as
interações com polinizadores e defensores, às
vezes protegendo contra usurpadores ou microrganismos devido à presença de compostos secundários e proteínas antimicrobianas
na sua composição. Trata-se de um complexo
de carboidratos, uma solução de frutose,
glicose e sacarose em água, com quantidades
menores de muitos outros compostos, como
outros hidratos de carbono, aminoácidos,
proteínas, íons minerais, ácidos orgânicos,
vitaminas, lipídios, antioxidantes, glicosídeos,
alcaloides e flavonoides. O conteúdo de hidratos de carbono no néctar pode variar de 4% a
60%, dependendo das espécies de plantas e das
condições ambientais. Estudos demonstraram
que, tanto a concentração de açúcares, quanto
a proporção entre eles é fundamental para
atração e fidelidade de polinizadores.
Segundo alguns autores, a abelha doméstica prefere soluções de sacarose na faixa de
30%-50%, e pode discriminar entre concentrações de sacarose diferindo entre si por valores
tão baixos quanto 5%. Eles mostraram que as
abelhas podem distinguir entre 50% e 45%,
mas não entre 50% e 47,5% ou entre 47,5% e
45% de sacarose.
A quantidade de néctar e a sua qualidade
podem desempenhar um papel importante
na determinação do forrageamento das abelhas, embora não esteja claro se as abelhas
adaptam suas estratégias de forrageamento
considerando as flutuações nas características do néctar, entre dias ou entre horários,
dentro de um mesmo dia. Essas alterações
afetam a atratividade dos polinizadores e a
sua fidelidade.
Apesar de os açúcares do néctar serem
100-1000 vezes mais concentrados que os
aminoácidos, podem afetar significativamente
a atratividade de néctar. Enquanto pássaros e
morcegos podem obter nitrogênio de outras
fontes, muitos insetos adultos alimentam-se
apenas de líquidos. Portanto, as flores polinizadas por insetos devem possuir mais aminoácidos em seu néctar que as flores polinizadas
por vertebrados.
Estima-se que 80% das plantas superiores necessitem de polinização para produção
de frutos e sementes. Sem o serviço ambiental de polinização entomófila, a maioria dos
alimentos que chega à nossa mesa não existiria, assim como muito da flora nativa também não existiria. Conhecer os meandros
dessa intrincada relação é fundamental para
estabelecer uma consciência da necessidade
de adaptarmos nossos sistemas de produção
agrícola e tomarmos atitudes claras para
favorecer os polinizadores e outros insetos
benéficos, a fim de que toda a sociedade
C
possa usufruir de seus benefícios.
Decio Luiz Gazzoni
O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
www.revistacultivar.com.br • Março 2016
41
coluna mercado agrícola
Produtores melhoraram tecnologia, driblaram o clima e colhem uma boa safra
A safra registra bom ritmo de colheita, com a soja com desempenho melhor que em anos anteriores no Centro-Oeste e no Paraná. O resultado está sendo melhor
que o esperado. Houve problemas para plantar, com chuvas escassas ou a falta total de precipitações nos meses de setembro a novembro. Com isso ocorreu atraso
em muitos casos e aqueles que plantaram sofreram com o clima. Mas o sucesso do setor veio com a boa tecnologia empregada. Desta forma, as plantas responderam
bem e mesmo com adversidades se vislumbra uma grande safra de soja, com recorde de produção, que deve superar com facilidade os 98 milhões de toneladas e com
fôlego até para bater os 100 milhões de toneladas. Um ganho de produção frente à safra passada, que teve colheita de pouco mais de 94 milhões de toneladas. Mas é
preciso lembrar que neste ano houve aumento da área plantada e assim a produtividade não será recorde, pois o El Niño causou problemas em grande parte do país. Já
no caso do milho da primeira safra, o que ocorreu foi avanço da produtividade, porque houve forte queda de plantio, com redução de 20% na área da primeira safra,
destinada à soja. O ano tinha tudo para resultar em perdas ainda maiores, mas como o cereal está com boas cotações e aponta para lucros, houve bons investimentos,
com boas sementes, boa adubação e tratamento adequado das lavouras, que seguiram com sanidade até o final do ciclo. O que se observa em milho são lavouras com
alta produtividade e recorde histórico em determinados casos. Os ganhos têm sido maiores que os alcançados com a soja. Deste modo, a queda da área vista no milho
nos últimos anos pode enfrentar uma reviravolta neste novo plantio de 2016/17. Com todos os grandes grãos indicando lucros, o setor vem para esta colheita com
otimismo e deve proporcionar melhor capitalização para os produtores enfrentarem os anos que virão.
MILHO
Milho com recorde de exportação
O mercado do milho teve um excelente ano e tudo
indica que vem outro período bom pela frente. As exportações de janeiro a dezembro de 2015 superaram os 28,9
milhões de toneladas, com recorde histórico. Em 2016 já
começa com mais de dois milhões de toneladas exportadas em janeiro e em fevereiro caminha para mais de 5,5
milhões de toneladas exportadas, com bons indicativos
de que irá fechar o ano comercial também com recorde
histórico. Com cotações excelentes, os produtores têm alcançado grande margem de lucratividade. Os que vinham
colhendo a safra de verão já estavam vendendo e exercendo os lucros para fazer caixa e quitar dívidas. Muitos
anteciparam pagamentos de dívidas com o faturamento
do milho e conseguiram, além de descontos, vender o
produto em alta. Desta forma, o quadro segue positivo e
animador para o plantio da safrinha, que avança em ritmo
forte e também mostra recorde de área plantada, maior
que em anos anteriores, principalmente no Centro-Oeste
e no Paraná, que dominam a área e a produção. Há menor
potencial de área somente nas regiões Nordeste e Norte,
que tiveram problemas com falta de chuvas para plantar a
soja e estão perdendo a janela do milho safrinha. Mas, no
plano global o Brasil vem com potencial de uma produção
de mais de 60 milhões de toneladas nesta segunda safra,
o que pode resultar em uma safra total de 85 milhões
de toneladas, suficiente para atender e manter grandes
exportações, além de proporcionar o abastecimento do
mercado interno, que tende a ter crescimento da demanda pelo setor de ração. Já há quase 50% da nova safrinha
negociada de forma antecipada. Um fato inédito, porque
nos anos anteriores quase não havia negócios antecipados
com o milho porque no plantio não se vislumbravam
lucros aos produtores. Agora, o quadro já começa com
indicativos de lucros.
feijão
Segue forte
O mercado do feijão começou em alta, com safra menor
que a demanda, em ano em que os brasileiros estão voltando
ao consumo de alimentos básicos nos domicílios. Se houvesse,
no Brasil, volumes de feijão para negociar, seria este o ano
do feijão com arroz, prato diário do brasileiro. Mas como há
pouco produto, será o ano do feijão valorizado. Como existem
dificuldades para importar o produto, com cotações do dólar
soja
acima de R$ 4,00, o mercado caminha com indicativos firmes
Colheita surpreende com boa produtividade
e favoráveis aos produtores internos, principalmente para o
Os produtores estão em colheita da safra e nos produto bem conduzido e de alta qualidade.
estados que já colheram boa parte das lavouras, como
Centro-Oeste e Paraná, a produtividade esteve acima
arroz
do esperado. Há perdas no potencial produtivo, mas são
Forte demanda e boas cotações
menores do que estavam sendo apontadas. Tudo camiA safra chega com produção menor que a do ano
nha para uma safra cheia e níveis acima de 98 milhões passado, devendo ficar na faixa de 11 milhões de toneladas
de toneladas. Mais de 55% desta soja está negociada e ou pouco acima deste patamar, para um consumo que
os indicativos são de que os produtores vão usar parte certamente irá ultrapassar 12 milhões de toneladas. Como
do que resta como ativo financeiro e deixar para negociar o país tem exportado bons volumes do produto nacional (na
a partir da metade do ano, em busca de cotações me- casa de 10% da produção), vai necessitar de importações e
lhores. Os fretes subiram forte e, com isso, tiram parte neste ano, com o dólar acima de R$ 4,00, o arroz importado
dos ganhos dos produtores, que dão preferência para não chegará ao mercado brasileiro abaixo de R$ 45,00 por
atender a entrega dos contratos e o restante deixam a saca. Neste momento de colheita ocorrerá pressão de baixa
fixar para negociações futuras. Com boas expectativas de 10% a 15% nos indicativos frente aos bons momentos do
de ganhos depois de maio, quando entram em cena começo do ano. A partir de abril e maio os níveis tendem a
a safra dos EUA e seus riscos e pressão positiva, que apresentar recuperação. A demanda seguirá forte, neste ano
poderão vir de Chicago.
de crise econômica.
CURTAS E BOAS
TRIGO - O mercado já está reagindo e como a safra que passou teve boa parte
da colheita destinada ao setor de ração, haverá menos trigo nacional em oferta,
o que obrigará os moinhos a maiores importações. Esse produto continuará
chegando com valores altos, porque o dólar não dá sinais de que irá ceder a barreira de R$ 4,00. Com isso, o produto importado tende a atingir patamares de
R$ 1.100,00 a R$ 1.300,00 a tonelada, o que servirá de fator de valorização do
grão nacional. Com a expectativa de final do El Niño e indicativos de chuvas em
volumes menores, este pode se transformar em um bom ano para o trigo, que se
adapta melhor a períodos mais secos, principalmente na fase final das lavouras.
china - As compras foram mais fracas nestes primeiros dois meses de 2016
porque o país tinha importado em ritmo acelerado em 2015. Mas a expectativa
sobre a soja em grão, que teve 81,7 milhões de toneladas importadas no ano
passado, é de que agora possa chegar à marca de 86 milhões de toneladas. Os
mais otimistas falam em até 87 milhões de toneladas, com a China aproveitando as boas cotações, do período de grãos baratos que o mundo ainda vive.
Nos próximos anos tudo aponta para uma fase de alta dos indicativos, porque
a produção mundial de grãos vem sendo menor que a demanda. Isso pode ser
um ciclo que está começando e favorecerá aumento das cotações. Os chineses
normalmente gostam de trabalhar com grandes estoques e pouco risco. Por isso
poderão comprar mais.
argentina - As estimativas da safra já apontam avanços, com a soja podendo
alcançar 58 milhões de toneladas. Em milho há mais otimismo ainda, porque o
plantio cresceu e agora a Bolsa de Buenos Aires estima uma colheita de 25 milhões
de toneladas do Cereal, frente a níveis de 22 milhões de toneladas projetados
anteriormente. Além de tirar o imposto de exportação do milho e de baixar o da
soja para 30% frente aos 35%, o novo governo levou otimismo aos agricultores e
isso tende a favorecer a produção local.
eua - Os produtores se encontram diante do dilema de produzir com riscos de
não ganhar nada ou reduzir a área plantada para forçar alta nas cotações. O fato
é que por enquanto boa parte das pesquisas mostra poucas alterações no quadro
da área plantada e até há quem projete crescimento da soja e do milho. Mas, o
que se percebe a respeito dos produtores é que mesmo reduzindo o custo com
investimentos menores, terão de colher altas produtividades para conseguir obter
lucros. É o caso do milho, em que é necessário colher mais de 14,5 toneladas/
hectare para ganhar, e da soja, que precisa ultrapassar quatro toneladas/hectare
para gerar lucros. Níveis estes muito acima da média nacional americana. Ou
seja, ainda existem indefinições que irão até as vésperas do plantio, no final de
C
abril e começo de maio.
Vlamir Brandalizze
[email protected]
42 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br
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