ISSN 0103-8559 Volume 26 • Nº 1 • Janeiro/Março 2016 Novos Rumos da Terapia Intensiva em Cardiologia Estágio C Estágio D NYHA IIIb/IV NYHA IV % 1 ano de sobrevida 100% 50% 7 NYHA III 6 25% 5 10% 4 0% 3 2 Limitaçâo Intolerância “Frequent Estável com Piora clínica ao exercício ao exercício Flyer” dobutamina progressiva 1 DMOS/ Óbito TX e DAV Não Indicados Bem Estabelecido Intervenção baseada em variáveis: nutrição e disfunção orgânica progressiva Elegível em semanas ou meses Elegível em poucas semanas Ponte p/ Decisão Intervenção nos próximos dias • INDICAÇÕES DE DISPOSITIVOS MECÂNICOS DE SUPORTE NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA REFRATÁRIA “Crash and burn” Benefício de DAV Não Estabelecido • ATUALIZAÇÃO NO MANEJO CLÍNICO DO CHOQUE CARDIOGÊNICO Intervenção nas próximas horas • TERAPIA DO CONTROLE DA TEMPERATURA PÓS-PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA • TERAPIA DIALÍTICA NO PACIENTE CARDIOPATA • ABORDAGEM CLÍNICA DA CONGESTÃO PULMONAR AGUDA NO CARDIOPATA • ATUALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Editora Chefe: Maria Cristina de Oliveira Izar www.socesp.org.br Plenance, agora com 90 comprimidos: ficou mais fácil viver uma vida plena. s rimido comp 1-5 Economia e conveniência para o paciente: maior adesão ao tratamento e garantia dos melhores benefícios de Plenance. 6-8 Plenance: a potência que só 1-4 o equipamento certo garante. PLENANCE - rosuvastatina cálcica - 10 mg em embalagens com 10 ou 30 comprimidos revestidos. 20 mg em embalagens com 30 comprimidos revestidos. Uso oral e uso adulto e pediátrico (acima de 10 anos de idade). Indicações: na hipercolesterolemia para reduzir os níveis de LDL-colesterol, colesterol total e de triglicérides, e aumentar o HDL-colesterol em pacientes com hipercolesterolemia primária, familiar e na dislipidemia mista. Em crianças e adolescentes (entre 10 e 17 anos de idade), Plenance® está indicado para pacientes com hipercolesterolemia familiar heterozigótica (HeFH). Contraindicações: contraindicado no caso hipersensibilidade à rosuvastatina, ou a qualquer componente da formulação; insuficiência hepática avançada. Não deve ser utilizado por pacientes grávidas, que estejam amamentando ou pretendam engravidar mas não utilizem método contraceptivo apropriado. Precauções e Advertências: Pacientes em uso de ciclosporina devem evitar o uso concomitante de Plenance®. Deve ser utilizado com cuidado na presença de: doença hepática leve a moderada; abuso de álcool; e com os seguintes medicamentos: varfarina, genfibrozila, inibidores da protease, ácido fusídico e antiácidos. É necessário cautela no uso concomitante de Plenance® com cetoconazol, espironolactona e cimetidina. Deve-se iniciar com dose menor de rosuvastatina, que deve ser titulada com cuidado. Não exceder 5 mg de Plenance® com ciclosporina, 10 mg com ritonavir/atazanavir e 20 mg com genfibrozila. Não se espera que Plenance® afete a capacidade de dirigir veículos e operar máquinas. Informe imediatamente seu médico se durante o tratamento sentir dores musculares não explicadas, sensibilidade ou fraqueza, particularmente se acompanhada de mal-estar ou febre, ou se há histórico de dor muscular. A rosuvastatina pode aumentar os níveis de glicose e a hemoglobina glicada no sangue, e induzir diabetes. Podem ocorrer alterações nos exames laboratoriais referentes às funções muscular e do fígado. Pode ser recomendado o monitoramento de enzimas do fígado ou musculares de acordo com a orientação médica. Em caso de doença grave ou internação, avise seu médico que está tomando Plenance®. Se você engravidar, deve parar o Plenance® imediatamente e comunicar seu médico. Este medicamento contém lactose (0,0916 g/comprimido de 10 mg e 0,1832 g/comprimido de 20 mg). Informe seu médico caso você tenha problemas de intolerância à lactose. Gravidez e lactação: categoria de risco: X. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas ou que possam ficar grávidas durante o tratamento. A segurança da rosuvastatina durante a gravidez e a lactação não foram estabelecidas. Mulheres com potencial de engravidar devem usar métodos contraceptivos apropriados. Interações com medicamentos, alimentos e álcool: a rosuvastatina não tem interação significativa com o citocromo P450. Mas, é substrato do transportador hepático de captação OATP1B1 e do de efluxo BCRP. A administração concomitante com inibidores destas proteínas pode resultar em maior concentração plasmática de rosuvastatina e em risco de miopatia. Interação com outros medicamentos: Antiácidos: a coadministração com hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio diminuiu a concentração plasmática da rosuvastatina em cerca de 50%. ácido fusídico: eventos musculares, incluindo rabdomiólise, foram relatados na experiência póscomercialização pela administração concomitante de rosuvastatina e ácido fusídico. Efeito da rosuvastatina sobre medicamentos coadministrados; varfarina: a coadministração pode resultar em aumento da razão internacional normalizada (INR). Recomenda-se a monitoração do INR. Fenofibratos / derivados do ácido fíbrico e ácido nicotínico: podem aumentar o risco de miopatia quando são em concomitância com estatinas; ciclosporina: a coadministração não resultou em alterações significativas na concentração plasmática de ciclosporina; outros medicamentos: não houve interação significativa com contraceptivo oral, anti-hipertensivos, antidiabéticos orais, terapia de reposição hormonal, digoxina, ezetimiba e fenofibrato. Reações Adversas e alterações de exames laboratoriais: Os eventos adversos observados são geralmente leves e transitórios. Reações comuns (≥ 1% e < 10%): cefaleia, mialgia, astenia, constipação, vertigem, náusea e dor abdominal; Reações incomuns (≥ 0,1% e < 1%): prurido, exantema e urticária. Reações raras (≥ 0,01% e < 0,1%): miopatia e miosite, reações de hipersensibilidade, angioedema, rabdomiólise e pancreatite. Efeitos laboratoriais: foi observado aumento das transaminases hepáticas, da CK, da HbA1c e de proteinúria pelo uso de Rosuvastatina Experiência pós-comercialização: as seguintes reações adversas foram relatadas após a comercialização. Distúrbios hematológicos: trombocitopenia. Distúrbios hepatobiliares: icterícia e hepatite. Distúrbios musculoesqueléticos: artralgia, miopatia necrotizante imunomediada. Distúrbios do sistema nervoso: perda de memória, neuropatia periférica. Distúrbios psiquiátricos: depressão e distúrbios do sono. Distúrbios do sistema reprodutivo e mamas: ginecomastia. Crianças e adolescentes de 10 – 17 anos de idade: elevações de CK > 10 x LSN e sintomas musculares após exercício físico foram observados com maior frequência em crianças e adolescentes. Posologia: a dose usual é de 10 a 40 mg, administrados por via oral em dose única diária. A dose máxima diária é de 40 mg. O ajuste de dose pode ser feito em intervalos de duas a quatro semanas. Crianças e adolescentes de 10 a 17 anos de idade: em crianças e adolescentes com hipercolesterolemia familiar heterozigótica, a dose usual não deve exceder 20 mg uma vez ao dia por via oral. A segurança e eficácia de doses maiores não foram estudadas nessa população. Populações especiais - idosos: utiliza-se a dose habitual; insuficiência renal: na insuficiência renal grave, a dose de Plenance® não deve exceder 10 mg uma vez ao dia; doença hepática: a dose habitual se aplica na insuficiência hepática leve e na moderada. Foi observado aumento da exposição sistêmica à rosuvastatina em pacientes com insuficiência hepática grave; o uso de doses acima de 10 mg deve ser cuidadosamente avaliado.Etnia: a dose máxima de 20 mg de rosuvastatina deve ser considerada para asiáticos e descendentes. Foi observado aumento da concentração plasmática de rosuvastatina em asiáticos. Polimorfismo genético: para pacientes com genótipo c.521CC ou c.421AA, recomenda-se a dose máxima de 20 mg/dia de Rosuvastatina. Conduta em caso de esquecimento de dose: Se o paciente se esquecer de tomar uma dose de Plenance®, não é necessário tomar a dose esquecida; orientar que tome apenas a próxima dose no horário habitual. Nunca deve ser usada uma dose dobrada para compensar uma dose perdida. Este medicamento não deve mastigado. Reg.MS 1.0033.0170/Farm. Resp.: Cintia Delphino de Andrade CRF-SP nº 25.125. LIBBS FARMACÊUTICA LTDA/ CNPJ 61.230.314/0001-75/Rua Alberto Correia Francfort, 88/Embu-das Artes - SP/Indústria Brasileira /PLENANCE-MB01-14/Serviço de Atendimento LIBBS: 0800-135044. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. A persistirem os sintomas, o médico deve ser consultado. Documentação Científica e informações adicionais estão à disposição da classe médica, mediante solicitação. Referências: 1.ROSENSON, R.S. Statins: actions, side effects, and administration. UptoDate[Online]. New York: Wolters Kluwer: Last uptodate Feb 05, 2015. 2.JONES, P.H. et al. Comparison of the efficacy and safety of rosuvastatin versus atorvastatin, simvastatin, and pravastatin across doses (STELLAR Trial). Am J Cardiol., v.92, p.152–60, 2003. 3.STONE, N.J. et al. 2013 ACC/AHA Guideline on the Treatment of Blood Cholesterol to Reduce Atherosclerotic Cardiovascular Risk in Adults, J Am Coll Cardiol, Nov 7, n.13, pii: S0735-1097, 2013. 4.FAERGEMAN, O. et al. ECLIPSE Study Investigators. Efficacy and tolerability of rosuvastatin and atorvastatin when force-titrated in patients with primary hypercholesterolemia: results from the ECLIPSE study. Cardiology, v.111, n.4, p.219-28, 2008. 5.RIDKER, P.M. et al. Rosuvastatin to prevent vascular events in men and women with elevated C-reactive protein. N Engl J Med., v.359, n.21, p.2195-207, 2008. 6.OHSFELDT, R.L. et al. Cost-effectiveness of rosuvastatin 20 mg for the prevention of cardiovascular morbidity and mortality: a Swedish economic evaluation of the JUPITER trial. J Med Econ, v.15, n.1, p.125-33, 2012. 7.VODONOS, A. et al. Statin adherence and LDL cholesterol levels. Should we assess adherence prior to statin upgrade? Eur J Intern Med, v.26, n.4, p.268-72, 2015. 8.GUIA DA FARMÁCIA. São Paulo: Contento, v.22, n.277, 2015. Suplemento Lista de Preços. Contraindicação: Doença hepática ativa. Interações: Não deve ser usado em associação com a genfibrozila. Responsável Técnico Dr. Luiz Carlos V. de Andrade – CRM 48277 Sala de cirurgia híbrida cardiovascular, para o tratamento de cardiopatias complexas com imagens tridimensionais altamente apuradas. HCor – Hospital do Coração/Diagnóstico – Unidade Paraíso: Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 147 – São Paulo – SP HCor – Edifício Dr. Adib Jatene: Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 130 – São Paulo – SP HCor Onco – Clínica de Radioterapia: Rua Tomás Carvalhal, 172 – São Paulo – SP HCor Diagnóstico – Unidade Cidade Jardim: Av. Cidade Jardim, 350 – 2º andar – São Paulo – SP Tels.: Geral: (11) 3053-6611 • Central de Agendamento: (11) 3889-3939 • Pronto-socorro: (11) 3889-9944 • www.hcor.com.br Todo o apoio que você precisa: uma equipe multidisciplinar e os mais avançados recursos tecnológicos. O HCor foi o hospital pioneiro na América Latina a conquistar duas certificações pela JCI para os Programas Clínicos de Infarto Agudo de Miocárdio (IAM) e de Insuficiência Cardíaca (IC). Essa mesma excelência também está presente na nova unidade do HCor, o edifício Dr. Adib Jatene. Agora, você e seus pacientes têm uma das mais completas e sofisticadas estruturas totalmente à disposição para que obtenham os melhores resultados em todos os tratamentos. Nós colocamos o coração em tudo. ESTEJA PREPARADO PARA SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA Participe dos cursos do Centro de Treinamento Com objetivo de treinar profissionais da saúde e a população leiga para reconhecer e lidar com situações de emergência cardíaca, os treinamentos ministrados pelo centro utilizam equipamentos e salas modernas, o que garante o máximo realismo à situação simulada. Os instrutores são altamente capacidados e credenciados, de acordo com as regras e especificações da American Heart Association (AHA). Conheça mais sobre os cursos e inscreva-se! ACLS – Suporte Avançado de Vida em Cardiologia ACLS EP (EXPERIENCED PROVIDER) BLS – Suporte Básico de Vida FIRST AID – Primeiros Socorros e Salva-Corações com DEA / DAE PALS – Suporte Básico de Vida em Pediatria SAVIC – Suporte Avançado de Vida em Insuficiência Cardíaca Saiba mais e inscreva-se em: WWW.SOCESP.ORG.BR/CENTRO_TREINAMENTO/ Credenciamento: ISSN 0103-8559 Indexada em: LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (www.bireme.br) Latindex – Sistema Regional de Información em Línea para Revistas Científicas de América Latina, El Caribe, España y Portugal (www.latindex.unam.mx) Editora Chefe: Maria Cristina de Oliveira Izar Álvaro Avezum Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Amanda G. M. R. Sousa Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Angelo Amato V. de Paola Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp São Paulo, SP, Brasil Antonio Augusto Lopes Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Antonio Carlos Pereira-Barretto Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Antonio de Pádua Mansur Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Ari Timerman Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Benedito Carlos Maciel Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto,SP,Brasil Bráulio Luna Filho Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo / Hospital Brasil, ABC São Paulo, SP, Brasil Bruno Caramelli Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Caio de Brito Vianna Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Carlos Alberto Buchpiguel Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Vinculação Acadêmica) São Paulo, SP, Brasil Carlos Costa Magalhães Cardioclin - Clinica e Emergência Cardiologica São José dos Campos , SP, Brasil. Carlos Eduardo Rochitte Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP / Hospital do Coração, HCOR / Associação do Sanatório Sírio, São Paulo, SP, Brasil Carlos V. Serrano Jr. Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Celso Amodeo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Dalmo Antonio R. Moreira Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Daniel Born Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP São Paulo, SP, Brasil Dante Marcelo Artigas Giorgi Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC FMUSP), São Paulo, SP, Brasil Dirceu Rodrigues Almeida Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Edson Stefanini Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Expedito E. Ribeiro Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Fabio B. Jatene Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Fausto Feres Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Felix J. A. Ramires Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Conselho Editorial Fernanda Marciano Consolim Colombo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Fernando Bacal Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Fernando Nobre Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, Ribeirão Preto, SP , Brasil Flavio Tarasoutchi Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Francisco A. Helfenstein Fonseca Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo São Paulo, SP, Brasil Francisco R. M. Laurindo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Henry Abensur Beneficência Portuguesa de São Paulo - Setor de ensino, São Paulo, SP, Brasil Ibraim Masciarelli F.pinto Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Ieda Biscegli Jatene Hospital do Coração - HCOR São Paulo, SP, Brasil João Fernando Monteiro Ferreira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil João Manoel Rossi Neto Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil João Nelson R. Branco Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Jorge Eduardo Assef Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil José Carlos Nicolau Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil José Carlos Pachón Mateos Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Universidade de São Paulo - USP, Hospital do Coração, Hospital Edmundo Vasconcelos, São Paulo, SP, Brasil José Francisco Kerr Saraiva Hospital e Maternidade Celso Pierro, São Paulo, SP, Brasil José Henrique Andrade Vila Hospital de Beneficência Portuguesa, São Paulo, SP, Brasil José L. Andrade Instituto de Radiologia (InRad) - Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina- USP, São Paulo, SP, Brasil José Soares Jr. Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Katashi Okoshi Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, Botucatu, SP, Brasil Kleber G. Franchini Departamento de Clínica Médica UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil Leopoldo Soares Piegas Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Lilia Nigro Maia Faculdade de Medicina de Rio Preto (FAMERP)/Hospital de Base São José do Rio Preto, SP, Brasil Luiz A. Machado César Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Luiz Mastrocola Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio (HCOR) e Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Luiz Felipe P. Moreira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Marcelo Jatene Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Marcelo Chiara Bertolami Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Marcelo Luiz Campos Vieira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Marcus Vinicius Simões Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP - Brasil Maria Cristina Oliveira Izar Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Maria Teresa Nogueira Bombig Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Dra. Maria Virgínia Tavares Santana Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Mauricio Ibrahim Scanavacca Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Max Grinberg Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Miguel Antonio Moretti Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Nelson Kasinsky Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Orlando Campos Filho Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Otavio Rizzi Coelho Disciplina de Cardiologia do Departamento de Clinica Médica da FCM UNICAMP, São Paulo, SP, Brasil Paola Emanuela Poggio Smanio Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Paulo Andrade Lotufo Faculdade de Medicina e Centro de Pesquisa Clínica Epidemiológica da USP, São Paulo, SP, Brasil Paulo J. F. Tucci Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Paulo M. Pêgo Fernandes Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Pedro Silvio Farsky Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Raul Dias Dos Santos Filho Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Renato Azevedo Jr Hospital Samaritano São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Romeu Sérgio Meneghelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia/Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil Rui Póvoa Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Ulisses Alexandre Croti Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto (FUNFARME) / Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto, SP, Brasil Valdir Ambrosio Moises Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/Fleury Medicina e Saúde, São Paulo, SP, Brasil Valter C. Lima Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil William Azem Chalela Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil DIRETORIA DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO / Biênio 2016 - 2017 Presidente Ibraim Masciarelli Francisco Pinto Vice-Presidente João Fernando Monteiro Ferreira 1° Secretário Ieda Biscegli Jatene 2° Secretário Roberto Kalil Filho 1° Tesoureiro José Luiz Aziz 2° Tesoureiro Juan Carlos Yugar Toledo Diretor Científico Álvaro Avezum Junior Diretora de Publicações Maria Cristina de Oliveira Izar Diretora de Regionais Lilia Nigro Maia Diretor de Qualidade Assistencial Múcio Tavares de Oliveira Junior Diretor de Tecnologia da Informação Ricardo Pavanello Diretor de Relações Institucionais Luciano Ferreira Drager Diretor de Promoção e Pesquisa Pedro Alves Lemos Neto Diretor do Centro de Emergências Agnaldo Pispico Coordenador de Pesquisa Otavio Berwanger Coordenador de Educação Virtual Pedro Silvio Farsky Coordenadores de Políticas de Saúde Edson Stefanini Jose Francisco Kerr Saraiva Coordenador de Memórias Alberto Francisco Piccolotto Naccarato A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (INSS 0103-8559) é Órgão Oficial da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, editada trimestralmente pela Diretoria de Publicações da SOCESP. Avenida Paulista, 2073 – Horsa I, 15° andar Conjunto 1512 - Cerqueira Cesar – São Paulo, SP CEP 01311-940 / Tel: (11) 3179-0045 / E-mail: [email protected] Website: www.socesp.org.br As mudanças de endereço, a solicitação de números atrasados e as cartas ao Editor deverão ser dirigidas à sede da SOCESP. É proibida a reprodução total ou parcial de quaisquer textos constantes desta edição sem autorização formal e expressa de seus editores. Para pedidos de reprints, por favor contate: SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo / Diretoria de Publicações Tel: (11) 3179-0045 / E-mail: [email protected] Impressão: Duograf Tiragem: 4.750 exemplares Coordenação editorial, criação, diagramação, revisão e tradução Atha Comunicação e Editora Tel.: 11 5087 9502 - [email protected] Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo São Paulo – SP, Brasil. V . 1 – 1991 – Substitui Atualização Cardiológica, 1981 – 91 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A) 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 4 (supl A), 4 (supl B), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 5 (supl B), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A) ISSN 0103-8559CDD16616.105 RSCESP 72594NLM W1 WG100 CDU 616.1(05) DIRETORIA DAS REGIONAIS DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Biênio 2016 - 2017 ABCDM CAMPINAS RIBEIRÃO PRETO Presidente Rogerio Krakauer Presidente Alessandro Franjotti Chagas Presidente Moyses de Oliveira Lima Filho Diretor Científico Roberto Andres Gomez Douglas Diretor Científico Fernando Piza de S. Cannavan Diretor Científico Marcelo Garcia Leal 1° Secretário Fernando Mello Porto 1° Secretária Samira Ubaid Girioli 2° Secretário Tiago Porto Di Nucci 2° Secretário Flavio Cantarelli Hiss FRANCA SANTOS Presidente Eduardo Maniglia Puccinelli Presidente Luiz Fernando Muniz Pinheiro Diretor Científico Rodrigo Tavares Silva Diretor Científico Carlos Alberto Cyrillo Sellera 1° Secretário Luiz Alfredo Husemann Patti 1° Secretário William da Costa 2° Secretário Hélio Rubens Crialezi 2° Secretário Sergio Paulo Almeida B. Camargo JUNDIAÍ SÃO CARLOS Presidente Luiz Anibal Larco Patino Presidente Hélio Araújo Cardoso Diretor Científico Marco Antonio Dias Diretora Científica Ana Cândida Arruda Verzola de Castro. 1° Secretário João Paulo de Mello Medeiros 1° Secretária Meliza Goi Roscani 2° Secretária Fatima Aparecida Lopes Pinto Denardi 2° Secretário Sergio Luis Berti MARILIA SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Presidente Alexandre Rodrigues Presidente Adriana Pinto Bellini Miola Diretor Científico Pedro Beraldo de Andrade Diretor Científico Gilmar Valdir Greque 1° Secretário Ronaldo de Oliveira Jr 1° Secretária Maria Helena Mani Dias Sardilli 2° Secretário André dos Santos Moro 2° Secretária Eliana Migliorini Mustafa PIRACICABA SOROCABA Presidente Juliana Barbosa Previtalli Presidente Fernando Cortes Remisio Figuinha Diretora Científica Celise Alessandra Sobral Denardi Diretor Científico Pericles Sidnei Salmazo 1° Secretário Rafael Prota 1° Secretária Juliana Buchmann Pereira BOTUCATU 2° Secretário Davi Bizetti Pelai 2° Secretário Marcelo Demarchi Presidente Ricardo Mattos Ferreira PRESIDENTE PRUDENTE VALE DO PARAÍBA Presidente Mozart Alves Gonçalves Filho Presidente Jorge Zarur Neto Diretor Científico Fernando Pierin Peres Diretor Científico Pedro Henrique Duccini Mendes Trindade 1° Secretário Osmar Marchiotto Junior 1° Secretária Fabiana Goulart Marcondes Braga 2° Secretário Adriano Oliveira Cavalheiro 2° Secretário André Zeraik Lima Chammas 1° Secretária Carla Janice Baister Lantieri 2° Secretário Kamal Yazbek Jr. ARAÇATUBA Presidente Celso Biagi Diretor Científico Carlos Roberto Bortoluci Etto 1° Secretário Paulo Francisco de Mesquita Barros 2° Secretária Monica Neri Shinsato ARARAQUARA Presidente Antonio Carlos Braga de Moraes Diretor Científico José Geraldo Bonfá 1° Secretário Hélio Marques Malavolta 2° Secretário José Candido M. da S. Machado ARARAS Presidente Antonio Carlos Assumpção Diretor Científico José Joaquim Fernandes Raposo Filho 1° Secretário Fernando Candido Martins 2° Secretário Agnaldo Pispico BAURU Presidente Alexandre Volney Villa Diretor Científico Plinio de Almeida Barros Neto 1° Secretário Nilcelio Leite Melo 2° Secretário João Quialheiro Abreu Diretor Científico Danieliso Renato Fusco 1° Secretário Marcos Mitsuo Seki 2° Secretário Guilherme de Castro Ribeiro NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo) é o órgão oficial de divulgação da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP). O Suplemento da Revista Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo é parte integrante da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e publica artigos nas áreas de saúde como enfermagem, fisioterapia, educação física, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social, farmacologia, entre outras). Trata-se de uma publicação trimestral indexada no LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e no Latindex (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal). Com o objetivo de disseminar o conhecimento na área de cardiologia e de outras áreas de saúde a Revista da SOCESP e seu Suplemento passam a partir de 2015 a ter acesso aberto. A publicação segue os requisitos de uniformização recomendados pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (www.icmje.org.br). Os artigos, para serem aprovados, são submetidos à avaliação de uma comissão de revisores (peer review) que recebem o texto de forma anônima e decidem se haverá sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao Editor Chefe. Os conceitos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabilidade dos autores. A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo segue na íntegra a tendência internacional do estilo Vancouver, disponível (www.icmje.org.br). Categorias de Artigos A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo recebe para publicação artigos de Revisão, Revisão Sistemática e Meta-análise. O Suplemento da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo recebe para publicação: Artigo Original, Revisão, Revisão Sistemática, Meta-análise, Artigo de Opinião, Artigo de Atualização e Relato de Caso. No caso de estudos clínicos e experimentais deverá haver referência explícita quanto ao cumprimento das normas éticas, incluindo o nome do Comitê de Ética em Pesquisa que aprovou o estudo. LIMITES POR TIPO DE PUBLICAÇÃO (Extensão): Os critérios abaixo recomendados devem ser observados para cada tipo de publicação. A contagem eletrônica de palavras deve incluir a página inicial, resumo, texto e referências. Os manuscritos enviados deverão estar em padrão PC com arquivos TXT ou DOC, espaço duplo, com margem larga, acompanhados pela carta de autorização de publicação assinada pelo autor, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. Certifique-se de que o manuscrito se conforma inteiramente às instruções. Ensaios clínicos: O periódico apoia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão aceitos para publicação, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE. Os endereços para esses registros estão disponíveis a partir do site do ICMJE (www. icmje.org). O número de identificação deve ser declarado no final do resumo. Conflito de interesses: Conforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000 os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros (comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação. Devem declarar e podem agradecer no manuscrito todo o apoio financeiro ao trabalho, bem como outras ligações para o seu desenvolvimento. Correção de provas gráficas: Logo que prontas, as provas gráficas em formato eletrônico serão enviadas, por e-mail, para o autor responsável pelo artigo. Os autores deverão devolver, também por e-mail, a prova gráfica com as devidas correções em, no máximo, 48 horas após o seu recebimento. O envio e o retorno das provas gráficas por correio eletrônico visa agilizar o processo de revisão e posterior publicação das mesmas. Direitos autorais: Todas as declarações publicadas nos artigos são de inteira responsabilidade dos autores. Entretanto, todo material publicado torna-se propriedade da Revista, que passa a reservar os direitos autorais. Portanto, nenhum material publicado na Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo poderá ser reproduzido sem a permissão por escrito. Todos os autores de artigos submetidos deverão assinar um Termo de Transferência de Direitos Autorais, que entrará em vigor a partir da data de aceite do trabalho. Organização do arquivo eletrônico: Todas as partes do manuscrito devem ser incluídas em um único arquivo. O mesmo deverá ser organizado com a página de rosto, em primeiro lugar, o texto, referências seguido pelas figuras (com legendas) e ao final, as tabelas (com legendas). Página de rosto: A página de rosto deve conter: a. o tipo do artigo (artigo original, de revisão ou atualização); b. o título completo em português e inglês com até 90 caracteres deve ser conciso, porém informativo; c. o nome completo de cada autor (sem abreviações); e a instituição a que pertence cada um deles; d. o local onde o trabalho foi desenvolvido; e. nome, endereço, telefone e e-mail do autor responsável para correspondência. Resumo: O Resumo deve ser estruturado em caso de artigo original e deve apresentar os objetivos do estudo Recomendações para Artigos submetidos à Revista da SOCESP: Tipo de Artigo Resumo Número de Palavras Referências Figuras Tabelas Original Estruturado com até 250 palavras 2.500 - Excluindo o resumo, referências, tabelas e figuras 20 10 6 Atualização / Revisão Não é estruturado com até 250 palavras 4.000 - Excluindo o resumo, referências, tabelas e figuras 60 3 2 Editorial 0 500 0 0 0 com clareza, dados históricos, métodos, resultados e as principais conclusões em inglês e português, não devendo ultrapassar 250 palavras. Resumos Gráficos (graphical abstract) serão aceitos. A informação deverá ser composta de imagem concisa , pictórica e visual das principais conclusões do artigo. Pode ser tanto a figura de conclusão do artigo ou uma figura que é especialmente concebida para este fim, que capta o conteúdo do artigo para os leitores em um único olhar . As figuras incluem todas as ilustrações, tais como fotografias, desenhos, mapas, gráficos, etc, e deve ser identificado com o nome do artigo. O envio de resumo gráfico (graphical abstract) é opcional e deve ser encaminhado em arquivo separado e identificado. O arquivo deve ter extensão .tif e/ou jpg. Também são aceitos arquivos com extensão .xls (Excel); .eps; .psd para ilustrações em curva (gráficos, desenhos e esquemas). Descritores: Deve conter no mínimo três palavras chaves baseadas nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) -http://decs.bireme.br. No inglês, apresentar keywords baseados no Medical Subject Headings (MeSH) - http://www.nlm. nih.gov/mesh/meshhome.html, no mínimo três e no máximo seis citações. Introdução: Deve apresentar o assunto e objetivo do estudo, oferecer citações sem fazer uma revisão externa da matéria. Material e método: Deve descrever o experimento (quantidade e qualidade) e os procedimentos em detalhes suficientes que permitam a outros pesquisadores reproduzirem os resultados ou darem continuidade ao estudo. Ao relatar experimentos sobre temas humanos e animais, indicar se os procedimentos seguiram as normas do Comitê Ético sobre Experiências Humanas da Instituição, na qual a pesquisa foi realizada ou de acordo com a declaração de Helsinki de 1995 e Animal Experimentation Ethics, respectivamente. Identificar precisamente todas as drogas e substâncias químicas usadas, incluindo os nomes genéricos, dosagens e formas de administração. Não usar nomes dos pacientes, iniciais, ou registros de hospitais. Oferecer referências para o estabelecimento de procedimentos estatísticos. Resultados: Apresentar os resultados em sequência lógica do texto, usando tabelas e ilustrações. Não repetir no texto todos os dados constantes das tabelas e ou ilustrações. No texto, enfatizar ou resumir somente as descobertas importantes. Discussão: Enfatizar novos e importantes aspectos do estudo. Os métodos publicados anteriormente devem ser comparados com o atual para que os resultados não sejam repetidos. Conclusão: Deve ser clara e concisa e estabelecer uma ligação entre a conclusão e os objetivos do estudo. Evitar conclusões não baseadas em dados. Agradecimentos: Dirigidos a pessoas que tenham colaborado intelectualmente, mas cuja contribuição não justifica coautoria, ou para aquelas que tenham provido apoio material. Referências: Citar as referências, restritas à bibliografia essencial ao conteúdo do artigo. Numerar as referências de forma consecutiva de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizando-se números arábicos sobrescritos. Incluir os seis primeiros autores seguidos de et al. Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo com o Index Medicus. a. Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do Periódico. ano; volume: página inicial - final Ex.: Campbell CJ. The healing of cartilage deffects. Clin Orthop Relat Res. 1969;(64):45-63. b. Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora; ano. Ex.: Diener HC, Wilkinson M, editors. Drug-induced headache. 2nd ed. New York: Spriger-Verlag; 1996. c. Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo Editor(es) do livro e demais dados sobre este, conforme o item anterior.Ex.: Chapman MW, Olson SA. Open fractures. In: Rockwood CA, Green DP. Fractures in adults. 4th ed. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1996. p.305-52. d. Resumos: Autor(es). Título, seguido de [abstract]. Periódico ano; volume (suplemento e seu número, se for o caso): página(s) Ex.: Enzensberger W, Fisher PA. Metronome in Parkinson’s disease [abstract]. Lancet. 1996;34:1337. e. Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto entre parênteses. f. Tese: Autor, título nível (mestrado, doutorado etc.), cidade: instituição; ano. Ex.: Kaplan SJ.Post-hospital home health care: the elderley’s access and utilization [dissertation]. St. Louis: Washington Univ.; 1995. g. Material eletrônico: Título do documento, endereço na internet, data do acesso. Ex: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis. [online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];1(1):[24 screens]. Available from: URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm Tabelas: As tabelas devem ser numeradas por ordem de aparecimento no texto com números arábicos. Cada tabela deve ter um título e, se necessário, uma legenda explicativa. As tabelas deverão ser enviadas através dos arquivos originais (p.e. Excel). Figuras (fotografias e ilustrações): As figuras devem ser apresentadas em páginas separadas e numeradas sequencialmente, em algarismos arábicos, conforme a ordem de aparecimento no texto. Para evitar problemas que comprometam o padrão da revista, o envio do material deve obedecer aos seguintes parâmetros: todas as figuras, fotografias e ilustrações devem ter qualidade gráfica adequada (300 dpi de resolução) e apresentar título e legenda. Em todos os casos, os arquivos devem ter extensão.tif e/ou jpg. Também são aceitos arquivos com extensão .xls (Excel), .eps, .psd para ilustrações em curva (gráficos, desenhos e esquemas). As figuras incluem todas as ilustrações, tais como fotografias, desenhos, mapas, gráficos, etc, e devem ser numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. Vídeos: O envio de vídeo é opcional, e irá acompanhar a versão online do artigo. Deve ser encaminhado junto com o artigo em arquivo separado e acompanhado de legenda. Os vídeos devem ser enviados em formato digital MP4. Legendas: Digitar as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações). Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo a cada figura, e na ordem em que foram citadas no trabalho. Abreviaturas e Siglas:Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto. No rodapé das figuras e tabelas deve ser discriminado o significado das abreviaturas, símbolos, outros sinais e informada fonte: local onde a pesquisa foi realizada. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. Reprodução: Somente a Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo poderá autorizar a reprodução dos artigos nelas contidos. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Os artigos enviados passarão a ser propriedade da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Submissão de artigos: A partir de janeiro de 2015 os artigos deverão ser enviados para Submissão para o email: revista @socesp.org.br para a Atha Comunicação e Editora a/c Flávia M. S. Pires e/ou Ana Carolina de Assis. Caso ocorra a necessidade de esclarecimentos adicionais, favor entrar em contato com a Atha Comunicação e Editora - Rua Machado Bittencourt, 190 - 4º andar - CEP: 04044-903 - São Paulo/SP, Brasil Tel: +55 11 5087-9502 / Fax: +55 11 5579 5308. Todo o conteúdo do periódico, exceto onde identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-tipo BY-NC. editorial Aos leitores da Revista da SOCESP Nesta primeira edição de 2016, o tema escolhido foi “Novos Rumos da Terapia Intensiva em Cardiologia”. A revista conta com revisões de aspectos relevantes sobre o manejo clínico do choque cardiogênico, as indicações para o uso dos dispositivos mecânicos de suporte em insuficiência cardíaca refratária, a terapia do controle da temperatura pós-parada cardiorrespiratória, a terapia dialítica no paciente cardiopata, a abordagem clínica da congestão pulmonar aguda no cardiopata e a atualização do diagnóstico e tratamento do tromboembolismo pulmonar. Estes temas são abordados por especialistas de elevado gabarito científico de forma didática, abrangente e atualizada. Temos certeza de que esta edição será de grande interesse para o cardiologista que se depara com um paciente crítico. Como parte das mudanças que vem ocorrendo no processo de indexação da Revista da SOCESP, e visando uma revista de qualidade crescente, além da revisão por pares, estamos iniciando processo de modificação na forma de convite aos autores. Nas próximas edições, os temas centrais também serão divulgados por meio de chamadas para publicações de artigos, ou call for papers. Estas chamadas serão enviadas por correio eletrônico, com antecedência, sendo, no entanto, mantida a forma tradicional de convite individualizado. Acreditamos que com isto a Revista da SOCESP tenha uma abertura maior, com maior alcance na promoção e divulgação do conhecimento científico, mas mantendo o seu caráter em publicar artigos de revisão sobre temas relevantes em cardiologia, que agrada ao nosso associado. Outras inovações são o envio opcional de resumo ou abstract gráfico, e de vídeo de algum aspecto de interesse dentro do tema abordado, para uso exclusivo na versão eletrônica. As submissões continuam sendo realizadas pelo email: [email protected]. Aproveito a oportunidade para desejar a todos um feliz 2016 e convido-os para esta agradável leitura. Maria Cristina de Oliveira Izar Editora Chefe SUMÁRIO/CONTENTS Novos Rumos da Terapia Intensiva em Cardiologia ATUALIZAÇÃO NO MANEJO CLÍNICO DO CHOQUE CARDIOGÊNICO......................................................................................................14 UPDATE ON CLINICAL MANAGEMENT OF CARDIOGENIC SHOCK Claudia Bernoche, Liliane Kopel, Leonardo Nicolau Geisler, Daud Lopes, Milena Frota Macatrão-Costa, Silvia G. Lage INDICAÇÕES DE DISPOSITIVOS MECÂNICOS DE SUPORTE NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA REFRATÁRIA..............................................21 INDICATIONS OF MECHANICAL SUPPORT DEVICES IN REFRACTORY HEART FAILURE Elias Knobel, Bruno Biselli, Paulo Manuel Pêgo Fernandes TERAPIA DO CONTROLE DA TEMPERATURA PÓS-PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA. . ........................................................................... 27 TEMPERATURE CONTROL THERAPY AFTER CARDIORESPIRATORY ARREST Claudia Bernoche, Liliane Kopel, Natali Schiavo Gianetti, Silvia G. Lage, Sergio Timerman Terapia dialítica no paciente cardiopata. . .....................................................................................................................................34 Dialysis therapy in patients with heart disease Celso Amodeo, Antonio Carlos Cordeiro, Saulo Barbosa Vasconcelos de Alencar ABORDAGEM CLÍNICA DA CONGESTÃO PULMONAR AGUDA NO CARDIOPATA. . ...................................................................................39 CLINICAL APPROACH TO ACUTE PULMONARY CONGESTION IN HEART DISEASE Edson Stefanini, Juscélio Trajano Filho ATUALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR.. .........................................................46 UPDATE ON DIAGNOSIS AND TREATMENT OF PULMONARY THROMBOEMBOLISM Antonio Cláudio do Amaral Baruzzi, Giuliano Generoso, Carlos Eduardo Prazeres, Renata Hames, Fernanda de Andrade Cardoso, Valter Furlan revisão/review ATUALIZAÇÃO NO MANEJO CLÍNICO DO CHOQUE CARDIOGÊNICO UPDATE ON CLINICAL MANAGEMENT OF CARDIOGENIC SHOCK Resumo Claudia Bernoche1 Liliane Kopel1 Leonardo Nicolau Geisler Daud Lopes1 Milena Frota Macatrão-Costa1 Silvia G. Lage2 1. Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Unidade Clínica de Terapia Intensiva. 2. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP, Unidade Clínica de Terapia Intensiva. 14 Correspondência: Claudia Bernoche. Unidade Clínica de Terapia Intensiva, Av. Éneas de Carvalho Aguiar 44, 2° andar sala 10. CEP 05403-000 São Paulo – SP E-mail: [email protected] O choque cardiogênico é uma síndrome clínica caracterizada por hipoperfusão tecidual secundária à disfunção cardíaca, na ausência de hipovolemia. A etiologia principal é o infarto agudo do miocárdio com falência de ventrículo esquerdo, embora existam outras causas relevantes, como complicações mecânicas do infarto, miocardites, evolução de cardiomiopatias, valvopatias agudas não isquêmicas e cardiomiopatia induzida pelo estresse, por exemplo. Apesar dos avanços terapêuticos, persiste como uma afecção de elevada mortalidade e sua incidência não se modificou significativamente nas últimas décadas. A instalação do choque em pacientes com síndromes coronarianas agudas ocorre mais frequentemente após a internação hospitalar, ressaltando a importância da identificação de preditores e da monitorização de sinais precoces de hipoperfusão tecidual para pronta intervenção. O diagnóstico é essencialmente clínico e alguns exames subsidiários, como eletrocardiograma, marcadores de necrose miocárdica, ecocardiograma e cineangiocoronariografia, que são importantes para a definição da etiologia, estratificação da gravidade e do prognóstico. O manejo adequado dos pacientes requer avaliação dos parâmetros de macro e micro-hemodinâmica. Os principais objetivos terapêuticos incluem a restauração precoce da perfusão tecidual sistêmica e a recuperação da função ventricular. O tratamento inclui medidas gerais para pacientes com choque como ajuste de volemia e adequação da perfusão tecidual com uso de inotrópicos, vasopressores e dispositivos de assistência ventricular, além de medidas específicas, direcionadas para a etiologia do choque, como a revascularização precoce nas síndromes coronarianas agudas. Descritores: Balão Intra-Aórtico; Infarto do Miocárdio; Choque Cardiogênico. Abstract Cardiogenic shock is a clinical syndrome characterized by tissue hypoperfusion secondary to cardiac dysfunction, in the absence of hypovolemia. Left ventricular failure complicating acute myocardial infarction is the main cause, although other relevant causes include mechanical complications of infarction, myocarditis, progression of cardiomyopathies, acute non-ischemic valvular heart disease, and stress-induced cardiomyopathies, for example. Despite therapeutic advances, it persists as a condition of high mortality, and its incidence has not changed significantly in the last decades. The onset of cardiogenic shock in patients with acute coronary syndromes frequently occurs after hospital admission, reinforcing the importance of identifying predictors and monitoring early signs of tissue hypoperfusion for prompt intervention. The diagnosis is essentially clinical plus some additional tests such as electrocardiogram, myocardial necrosis markers, echocardiogram, and coronary angiography, which are important for defining the etiology, stratification of severity and prognosis. Proper management of patients requires assessment of macro- and micro-hemodynamic parameters. The main therapeutic goals include early restoration of tissue perfusion and recovery of ventricular function. Treatment includes general medical care for patients with shock as optimizing volemia and adjusting of tissue perfusion with inotropic agents, vasopressors and ventricular assist devices, as well as specific interventions focused on the shock etiology, like early revascularization in acute coronary syndromes. Descriptors: Intra-Aortic Balloon Pumping; Myocardial Infarction; Cardiogenic Shock. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):14-20 ATUALIZAÇÃO NO MANEJO CLÍNICO DO CHOQUE CARDIOGÊNICO Introdução O choque cardiogênico é uma síndrome clínica caracterizada por hipoperfusão tecidual consequente à falência cardíaca, associada à alta mortalidade. O coração, na ausência de hipovolemia, é incapaz de manter o fluxo sanguíneo adequado para atender as necessidades metabólicas dos tecidos, ocorrendo disfunção orgânica progressiva e potencialmente irreversível. É a causa mais comum de morte após o infarto agudo do miocárdio (IAM). Apesar dos avanços terapêuticos na cardiologia atual, não houve redução significativa da sua incidência. Historicamente, a taxa de mortalidade do choque cardiogênico pós-infarto era de 80%-90%. Estudos recentes mostram redução significativa da mortalidade hospitalar para aproximadamente 50%. Acredita-se que esta melhora do prognóstico possa estar relacionada a terapias de reperfusão coronária precoce, promovendo redução no tamanho da área isquêmica.1 O reconhecimento de fatores reversíveis e o tratamento agressivo e precoce da fase aguda do quadro são de grande importância para melhora do prognóstico.2 Definição A definição do choque cardiogênico é determinada pela combinação de parâmetros clínicos e hemodinâmicos. Quando disponíveis, os dados hemodinâmicos obtidos com a utilização de cateter de artéria pulmonar são importantes. Os critérios mais utilizados são: • Pressão arterial sistólica (PAS) < 80-90 mmHg (ou um valor de 30 mmHg inferior ao nível basal, por 30 minutos sem resposta a reposição volêmica). • Índice cardíaco (IC) < 2-2,2 l/min/m2 com suporte inotrópico ou 1,8 l/min/m2 sem suporte terapêutico. • Pressão de oclusão da artéria pulmonar (POAP) > 18 mmHg. • Diferença arteriovenosa de oxigênio (CAV) > 5,5 ml/dL. A utilização de metodologia não invasiva empregando-se o ecocardiograma pode ser útil na ausência de monitorização invasiva com o cateter de artéria pulmonar. Permite o diagnóstico de aumento das pressões de enchimento e mensuração do grau de disfunção ventricular esquerda e direita. Os parâmetros clínicos evidenciam sinais de má perfusão periférica, incluindo oligúria, extremidades frias e alterações neurológicas. Mais recentemente, uma classificação criada a partir do registro americano INTERMACS (Interagency Registry for Mechanically Assisted Circulatory Support), definiu sete perfis clínicos para portadores de insuficiência cardíaca, tendo como objetivo melhor caracterizar esses pacientes e identificar aqueles com doença avançada que possam se beneficiar de suporte circulatório mecânico. Pacientes em choque cardiogênico podem ser enquadrados nos seguintes perfis:3,4 INTERMACS 1: choque cardiogênico crítico com hipotensão persistente, necessidade crescente de suporte inotrópico, presença de hipoperfusão tecidual crítica e acidose metabólica. INTERMACS 2: situação de deterioração clínica progressiva, apesar de suporte inotrópico endovenoso, podendo haver piora da função renal, retenção de fluidos e comprometimento do estado nutricional. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):14-20 INTERMACS 3: pacientes estáveis, porém, dependentes de suporte inotrópico endovenoso para manter pressão arterial, perfusão tecidual e estado nutricional. Demonstram falências repetidas nas tentativas de retirada dos inotrópicos com hipotensão sintomática. Etiologia Diversas causas podem comprometer o desempenho cardíaco com consequente redução da oferta de oxigênio aos tecidos e surgimento do estado de choque cardiogênico (Tabela 1). A etiologia mais comum do choque cardiogênico é o IAM com incidência estimada de 5 a 8%. Esta complicação poderá ocorrer consequente a qualquer tipo de síndrome coronária aguda, porém mais frequentemente no IAM com elevação do segmento ST.5 A extensão do infarto, com comprometimento maior que 40% da massa muscular do ventrículo esquerdo está associada ao surgimento de choque cardiogênico. Complicações mecânicas do infarto também são causa de choque. Ruptura do septo interventricular, ruptura da parede livre do ventrículo esquerdo e ruptura do músculo papilar com instalação de insuficiência mitral aguda. Os diagnósticos destas complicações mecânicas são muito importantes uma vez que medidas terapêuticas específicas devem ser instituídas imediatamente. Tabela 1: Principais etiologias do choque cardiogênico Infarto Agudo do Miocárdio Perda de massa ventricular Falência de ventrículo direito Complicações mecânicas Ruptura de músculo papilar com insuficiência mitral aguda Ruptura do septo interventricular Ruptura da parede livre do ventrículo esquerdo Cardiomiopatia Descompensação aguda Evolução da doença Miocardite Disfunção miocárdica Pós-circulação extracorpórea Pós-retorno à circulação espontânea Sepse Obstrução de via de saída do ventrículo esquerdo Estenose aórtica Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva Obstrução de via de entrada do ventrículo esquerdo Estenose mitral Mixoma de átrio esquerdo Insuficiência aórtica aguda Tromboembolismo pulmonar Hipertensão pulmonar evolutiva ou aguda Taquiarritmias Taquicardiomiopatias Bradiarritmias 15 O reconhecimento da participação da falência do ventrículo direito como contribuinte do choque cardiogênico é fundamental, pois nestes casos há uma dependência hemodinâmica de pré-carga adequada para melhor desempenho cardíaco. Em paciente portadores de insuficiência cardíaca crônica, a instalação do choque cardiogênico pode estar associada à presença de fatores de descompensação, tais como infecções, arritmias, embolia pulmonar, isquemia, insuficiência renal, anemia dentre outros, ou ser a manifestação da evolução da doença de base. Outras causas de choque cardiogênico devem ser destacadas: valvopatias agudas secundarias a dissecção da aorta (insuficiência aórtica), endocardite infecciosa, afecções degenerativas (insuficiência mitral aguda em prolapso da valva mitral), cardiomiopatia induzida pelo estresse emocional ou respiratório (Takotsubo), que se apresenta com dor torácica, elevação do segmento ST e aumento de enzimas cardíacas na ausência de lesão coronária obstrutiva.6,7 FISIOPATOLOGIA 16 O choque cardiogênico é uma situação clínica na qual existe progressiva deterioração da função cardíaca juntamente com má perfusão sistêmica e insuficiência funcional de órgãos. Trata-se de uma síndrome que envolve todo o sistema circulatório, com complexos mecanismos neuro-hormonais participando da gênese de sintomas. A disfunção miocárdica que se instala (sistólica e diastólica) ocasiona hipotensão, redução do débito cardíaco e redução da pressão de perfusão coronária, com perda progressiva da função miocárdica e aumento da pressão diastólica final do ventrículo esquerdo com consequente congestão pulmonar e hipóxia. Estabelece-se assim um ciclo vicioso com queda progressiva do débito cardíaco, piora da perfusão tecidual e do próprio coração, particularmente na presença de doença coronária obstrutiva. Dentro deste ciclo vicioso, há também a participação de mecanismos neuro-hormonais ativados com objetivo inicial de manutenção da perfusão para órgãos vitais. Há aumento da atividade do sistema nervoso simpático e do sistema renina-angiotensina-aldosterona, desencadeando vasoconstricção periférica e aumento da pós-carga além de retenção de sal e água aumentando o volume intravascular e a pré-carga. Nesta condição, os mecanismos ativados tornam-se inapropriados e acarretam piora progressiva do desempenho ventricular.5,8,9 Novas evidências sugerem que, paralelamente, ocorre uma resposta inflamatória sistêmica, com ativação do sistema do complemento, liberação de citocinas inflamatórias, produção de óxido nítrico e inapropriada vasodilatação periférica, sendo este mais um fator envolvido na redução da perfusão sistêmica e coronária.2 Vale ressaltar também que em situações de choque ha priorização de fluxo sanguíneo para o coração e o cérebro, em detrimento de órgãosesplâcnicos, gerando isquemia da mucosa intestinal. Este componente facilita a translocação bacteriana e o surgimento de infecção. A ocorrência de culturas positivas pode chegar a mais de 70% nestes pacientes, devendo ser considerados valores diminuídos da resistência vascular sistêmica como sinalizadores de sepse adicional. FATORES DE RISCO Os fatores associados a maior chance de evolução para choque cardiogênico pós IAM são: idade, infarto da parede anterior, presença de elevação do ST, história prévia de angina, infarto e/ou insuficiência cardíaca, doença coronária multiarterial, pacientes com diabetes mellitus. Nos estudos GUSTO I10 e GUSTO III,11 os principais fatores preditores de choque cardiogênico foram: idade, frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e classe funcional de Killip.12 Com relação ao tempo como fator de ocorrência de choque cardiogênico, vale ressaltar que apenas 20% dos choques pós-infarto estão presentes na admissão hospitalar. Por isso, durante a internação deve-se manter contínua observação do paciente, visando o reconhecimento precoce de sinais clínicos e laboratoriais indicadores de choque.13 Algumas vezes, pacientes com IAM apresentam durante a evolução inicial complicações como arritmias, congestão pulmonar, hipertensão arterial sistêmica e dor. O tratamento instituído para estas complicações poderá precipitar a instalação do choque nos pacientes de risco. ASPECTOS CLÍNICOS O quadro clínico é de insuficiência cardíaca associada à hipotensão arterial, na ausência de hipovolemia. O diagnóstico do choque cardiogênico é essencialmente clínico. Exames complementares podem oferecer indícios da existência de cardiopatia de base e da presença de isquemia miocárdica, além de fornecerem informações prognósticas. Na avaliação clínica, algumas características, apesar de não específicas, são importantes:2 • Distensão venosa jugular importante sugere aumento da pré-carga cardíaca e elevação de pressões de enchimento. • Pacientes com insuficiência cardíaca crônica podem apresentar pulmões sem estertores crepitantes, mesmo em situações de congestão e elevadas pressões de enchimento. Este fenômeno é explicado por mecanismos compensatórios do sistema linfático pulmonar. • Cianose de extremidades pode refletir baixo débito cardíaco e aumento da resistência vascular periférica. • Redução da pressão de pulso (diferença entre as pressões sistólica e diastólica), podem refletir estados de baixo débito cardíaco. A hipotensão arterial sistêmica é um dos aspectos mais importantes na caracterização da síndrome do choque cardiogênico. Os valores de corte mais comumente utilizados para definição de hipotensão são PAS<80 - 90 mmHg. A repercussão dos níveis pressóricos é decorrente da condição cardíaca de base do indivíduo e também do método de mensuração da pressão arterial, tendo em vista que, em pacientes críticos, a pressão não invasiva pode subestimar os valores em até 40 mmHg. O diagnóstico de choque cardiogênico pode ser realizado em paciente com sinais de hipoperfusão tecidual associado à pressão arterial sistólica > 90 mmHg em algumas situações: • Necessidade de medicações e/ou dispositivos são necessários para manter parâmetros hemodinâmicos dentro da normalidade. • Presença de hipoperfusão sistêmica associada a baixo débito com pressão arterial preservada devido à vasoconstrição. • Queda 30 mmHg da pressão arterial média em pacientes previamente hipertensos. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):14-20 ATUALIZAÇÃO NO MANEJO CLÍNICO DO CHOQUE CARDIOGÊNICO MONITORIZAÇÃO HEMODINÂMICA E METABÓLICA Associada à anamnese e ao exame físico detalhado, os parâmetros hemodinâmicos e metabólicos são de grande utilidade para avaliação do choque de origem cardíaca (Tabela 2). A monitorização hemodinâmica deve incluir a mensuração invasiva da pressão arterial sistêmica, medida de pressão venosa central, medidas do cateter de artéria pulmonar. O conjunto de dados obtidos da monitorização hemodinâmica e laboratorial pode ser agrupado em parâmetros de macro-hemodinâmica e micro-hemodinâmica global, esta última refletindo o estado perfusional e metabólico do paciente. Parâmetros de Macro-hemodinâmica • Pressão arterial. • Perfusão periférica/tempo de enchimento capilar. • Diurese. • Pressão venosa central. • Débito cardíaco. • Pressão de oclusão de artéria pulmonar. Parâmetros de Micro-hemodinâmica • Saturação venosa central. • Lactato arterial. • Excesso de bases. • CAV. Macro-hemodinâmica Apesar da decrescente utilização, a monitoração invasiva com cateter de artéria pulmonar (Swan-Ganz) ajuda no diagnóstico diferencial de causas de baixo débito, auxiliando no manejo dos pacientes, além de fornecer informações quanto ao prognóstico. Os parâmetros com maior impacto prognóstico são o débito cardíaco e a POAP. Muitos estudos clínicos utilizam parâmetros obtidos pelo cateter de Swan-Ganz para definição e diagnóstico de choque cardiogênico, com valores muitas vezes variáveis. Podemos considerar como valores discriminatórios de choque cardiogênico o índice cardíaco (IC) 2,2 l/min/m2 para os pacientes com algum suporte circulatório (inotrópico, vasopressor ou dispositivo circulatório) e IC 1,8 l/min/m2 para aqueles sem suporte. A Tabela 2 sumariza os critérios hemodinâmicos mais utilizados para definição de choque cardiogênico. Vale lembrar que cerca de 20% dos pacientes com choque cardiogênico pós IAM apresentavam características de inflamação sistêmica, sendo a baixa resistência vascular sistêmica não relacionada à infecção.1,13,14 O uso do cateter de artéria pulmonar no manejo do choque cardiogênico não tem indicação rotineira, mas pode auxiliar em alguns casos: pacientes com hipotensão persistente, pacientes com refratariedade ao tratamento farmacológico, quando as pressões de enchimento do ventrículo esquerdo são incertas, e no diagnóstico de complicações mecânicas associadas às síndromes coronárias agudas. Estudo clínico randomizado, multicêntrico, avaliou 433 pacientes com insuficiência cardíaca grave e comparou um grupo com estratégia guiada pela cateterização da artéria pulmonar e outro, guiado apenas pelos dados clínicos. Foi observado que a mortalidade ao final de 30 dias e após seis meses não foi diferente entre grupos. Assim, o uso do cateter pulmonar foi tão seguro quanto o tratamento baseado em dados clínicos, porém, não melhorou os resultados finais.15 O ecocardiograma com Doppler permite o diagnóstico diferencial das etiologias do choque cardiogênico. Identifica valvopatias, pericardiopatias, miocardiopatias, comprometimento da função do ventrículo direito, muitas vezes responsável por quadros de choque secundário a tromboembolismo pulmonar.13 Micro-hemodinâmica A saturação venosa central de oxigênio reflete o balanço entre oferta e consumo de oxigênio a nível sistêmico. Quando o consumo estiver aumentado e o conteúdo arterial de oxigênio for normal, uma saturação venosa de oxigênio baixa expressa maior taxa de extração de oxigênio do leito arterial para suprir a demanda aumentada e manter a homeostase celular. A saturação venosa de oxigênio diminui quando a oferta de oxigênio está reduzida ou a demanda sistêmica se eleva, excedendo a oferta, sendo um marcador indireto de fluxo e não um marcador de disóxia. Esta pode ser obtida da veia cava superior (ScvO2) ou da artéria pulmonar (SvO2) com valores de normalidade de 65% e 70%, respectivamente. Nos cardiopatas crônicos, os valores de normalidade podem variar entre 50%-60% devido ao aumento da taxa de extração pelos tecidos, sem representar hipoperfusão tecidual. Para melhor interpretação da SvcO2 ou da SvO2 é necessária complementação da análise metabólica com o lactato sérico e déficit de bases.16,17 Em estados de choque persistente, a má perfusão miocárdica e dos tecidos periféricos desencadeia um desequilíbrio entre a oferta e consumo de oxigênio o que favorece o metabolismo anaeróbico e resulta acidose Tabela 2. Sinais clínicos e parâmetros hemodinâmicos no choque cardiogênico. Baixo débito Congestão Sinais clínicos Confusão mental Agitação psicomotora Diminuição da diurese Pele fria Cianose de extremidades Sudorese Enchimento capilar lento Parâmetros hemodinâmicos PAS < 90 mmHg Exame físico Hipotensão IC 1,8 l/min/m2 Taquicardia RVS > 2000 dyn s/cm5 Pulsos finos CAV > 5,5 ml/dl Dispneia - POAP > 18 mmHg B3 Taquipneia Estertores pulmonares Estase jugular PAS: pressão arterial sistêmica, IC: índice cardíaco, RVS: resistência vascular sistêmica, CAV: diferença arteriovenosa de oxigênio, POAP: pressão de oclusão da artéria pulmonar. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):14-20 17 lática. O lactato sérico é produzido a partir do metabolismo celular intermediário da glicose e é um marcador de estresse metabólico. Níveis de lactato séricos elevados (acima de 2-4 mmol/l) são indicadores de pior prognóstico e refletem a cascata final do desacoplamento entre oferta e demanda de oxigênio. O excesso de bases padrão obtido a partir de gasometrias fornece informações do equilíbrio ácido básico.18 Na vigência de função renal normal, a ocorrência de negativação progressiva do excesso de bases é decorrente da hipoperfusão tissular e consequente metabolismo anaeróbico, acumulando ânions fortes e ácidos. Valores abaixo de -4 estão relacionados a pior prognóstico. TRATAMENTO Medidas Gerais 18 Choque cardiogênico é uma emergência médica, requerendo tratamento imediato pelo potencial de irreversibilidade das lesões aos órgãos vitais. Além das medidas de suporte geral imediato, é necessária a identificação da causa do choque para que medidas específicas sejam aplicadas. Outras intervenções também são importantes, como a profilaxia de trombose venosa profunda e de sangramento gastrointestinal (especialmente quando o paciente estiver em ventilação mecânica por mais de 48 horas ou com discrasia de coagulação). Inicialmente, deve-se proceder como a conduta em qualquer choque: realizar reposição volêmica - desde que não há congestão pulmonar clínica e radiológica - visando a correção da hipovolemia e da hipotensão, oferecer oxigenoterapia e ventilação adequadas, corrigir possíveis distúrbios eletrolíticos e/ou metabólicos e arritmias potencialmente comprometedoras do débito cardíaco. A glicemia deve ser mantida entre 150-180 mg/dL. O uso de inotrópicos no choque cardiogênico deve ser iniciado nos pacientes com inadequada perfusão tecidual e volemia adequada. A droga mais utilizada é a dobutamina, que possui ação inotrópica positiva pelo efeito beta-adrenérgico predominante e a dose a ser empregada pode alcançar até 20mcg/kg/min. Nos pacientes muito hipotensos, usar inicialmente um agente vasopressor (dopamina ou noradrenalina) porque a ação de vasodilatação periférica da dobutamina pode piorar a perfusão coronariana. De maneira geral, os inotrópicos promovem melhora hemodinâmica em curto prazo; porém, intensificam a isquemia e o consumo de oxigênio no miocárdio.19 No caso de hipotensão arterial grave (PAS < 70 mmHg), o agente a ser empregado é a noradrenalina, pois sua ação beta-adrenérgica promove aumento da contratilidade miocárdica, do cronotropismo e, devido ao efeito alfa-agonista preponderante, há incremento significativo da resistência arterial sistêmica, com elevação da pressão arterial média, apesar de elevar o consumo de oxigênio e aumentar o trabalho cardíaco. Recentemente, foi publicado um estudo20 que comparou a eficácia entre dopamina e noradrenalina em diversos tipos de choque. No subgrupo com choque cardiogênico houve melhores desfechos com o uso da noradrenalina, sendo ainda necessários estudos adicionais para esta validação. Os inibidores da fosfodiesterase (milrinone) possuem efeito inotrópico semelhante à dobutamina, porém, com efeito vasodilatador associado. Por isso, atenção especial deve ser dada ao risco de piora da hipotensão e aumento da ocorrência de arritmias. Alguns estudos avaliaram os efeitos da administração do levosimendan, droga sensibilizadora de cálcio, no baixo débito pós-infarto com resultados favoráveis.21 Os vasodilatadores atuam de forma benéfica na fisiopatologia do choque cardiogênico pela redução da pós-carga aumentando, assim, o débito cardíaco. Quando a pressão estiver estabilizada (PAS > 85-90 mmHg) considerar o uso de vasodilatadores sistêmicos, principalmente os de ação arterial e venosa, como o nitroprussiato de sódio. Eles são a principal estratégia terapêutica no paciente com volemia otimizada. Nos casos de pacientes com síndromes isquêmicas agudas preferir o uso de nitroglicerina. Na evidência de edema pulmonar com a perfusão adequada, associar diuréticos, sempre lembrando que diurese excessiva pode resultar em depleção intravascular grave, mantendo hipotensão, hipoperfusão, extensão do infarto, isquemia, acrescentando disfunção ao já comprometido ventrículo esquerdo. Dentre os dispositivos de assistência circulatória mecânica, o balão intra-aórtico (BIA) é o dispositivo mais utilizado e disponível na prática clínica. Seu efeito hemodinâmico ocasiona diminuição da pós-carga ao ventrículo esquerdo, aumento do débito cardíaco, aumento da pressão de perfusão diastólica coronária e consequente melhora do fluxo sanguíneo coronariano. Ao contrário dos agentes inotrópicos e dos vasopressores, o benefício da terapia com BIA ocorre sem aumento do consumo de oxigênio miocárdico. O BIA é indicado para pacientes com volemia ajustada, em uso de doses plenas de inotrópicos (muitas vezes com associação de inotrópicos), e que persistem com sinais de má perfusão tecidual. Pode ser usado como suporte até a realização de terapia definitiva (revascularização miocárdica, transplante cardíaco, por exemplo), ou como suporte até a resolução dos fatores precipitantes, tratamento cirúrgico de valvopatias ou complicações mecânicas do IAM. Apesar da utilização rotineira do BIA há décadas no tratamento do IAM complicado com choque cardiogênico, não se pode afirmar que esta estratégia está associada à melhora da sobrevida destes pacientes.22,23 O estudo retrospectivo de 223 pacientes com insuficiência cardíaca refratária que foram tratados com BIA na Unidade Clínica de Terapia Intensiva do Instituto do Coração, HC-FMUSP, no período de 5 anos, evidenciou que em 93% dos casos a indicação foi síndrome do baixo débito cardíaco. O BIA foi utilizado por um tempo médio de 19 dias em pacientes com disfunção do ventrículo esquerdo importante, fração de ejeção média de 24%. Após 48 horas da passagem do BIA, houve melhora significativa dos parâmetros laboratoriais de avaliação micro-hemodinâmica, com redução do lactato sérico, aumento da SvO2 e dos níveis de bicarbonato. O BIA mostrou ser importante intervenção terapêutica como ponte para o transplante cardíaco.24 Nos pacientes que persistem com quadro de hipoperfusão tecidual apesar do uso de inotrópicos, vasodilatadores, BIA e de procedimento de revascularização miocárdica, quando houver indicação, há a opção do uso de outro dispositivo de assistência ventricular, considerado ponte para transplante cardíaco, para recuperação, para decisão terapêutica, ou ainda, servir como terapia de destino. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):14-20 ATUALIZAÇÃO NO MANEJO CLÍNICO DO CHOQUE CARDIOGÊNICO Medidas Específicas Como a principal causa de choque cardiogênico é o IAM, a abordagem fundamental é a rápida terapia de reperfusão miocárdica, por angioplastia ou via abordagem cirúrgica. Esta medida foi bem estabelecida no estudo SHOCK1. Neste, pacientes com idade inferior a 75 anos, que se encontravam dentro das primeiras 36 horas do início do IAM e em até 18 horas do início do choque cardiogênico se beneficiaram da terapia de reperfusão miocárdica, com aumento da sobrevida em 13% após um ano de seguimento. Sabe-se que 40% dos pacientes com choque cardiogênico pós-infarto apresentam idade acima de 75 anos. Porém, para esta população de idosos, há controvérsias quanto a melhora da sobrevida com revascularização precoce quando comparada a estratégia conservadora do tratamento clínico inicial. No estudo SHOCK não houve diferença de mortalidade no subgrupo de pacientes com idade acima de 75 anos. O julgamento clínico é importante na decisão da indicação de intervenção coronária percutânea nos idosos com IAM e choque cardiogênico. Devemos considerar a presença de comorbidades com disfunção orgânica como insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca, doenças hematológicas e quadros demências para melhor decisão terapêutica.1,2 A escolha entre angioplastia percutânea ou cirurgia de revascularização miocárdica é um tema controverso na vigência de choque cardiogênico. A cirurgia representa a opção nos casos com complicações mecânicas (comunicação interventricular, insuficiência mitral aguda e rotura de parede livre de ventrículo esquerdo) e naqueles com contraindicação ou falha do tratamento percutâneo. Entretanto, a análise do estudo SHOCK1 mostrou evolução semelhante entre os grupos submetidos à revascularização, apesar dos pacientes do grupo cirúrgico terem apresentado maior incidência de diabetes, lesão de tronco de coronária ou lesões triarteriais. Em centros onde não há serviço de angiografia de emergência, é recomendada a transferência do paciente para locais com disponibilidade do procedimento. Se para isso houver uma longa demora, principalmente nos casos com menos de 3 horas de evolução do IAM, é aconselhável o início precoce de trombolíticos, apesar do impacto na mortalidade de pacientes com choque cardiogênico pós-IAM não estar claramente definido com o uso destas medicações. Quando agentes trombolíticos são utilizados, associar drogas vasoativas e/ou BIA na tentativa de normalizar pressão de perfusão coronária, já que a trombólise é relativamente ineficaz quando administrada em pacientes hipotensos. Medidas rotineira no tratamento do IAM como uso do ácido acetilsaliscílico, clopidrogel, outros antiagregantes plaquetários, terapias como o uso de heparinas devem ser instaladas de acordo com as diretrizes do tratamento do IAM. Betabloqueadores e antagonistas dos canais de cálcio não devem ser utilizados em pacientes em choque cardiogênico devido efeito inotrópico negativo.5,25,26 CONSIDERAÇÕES FINAIS A melhora do prognóstico de pacientes com choque cardiogênico secundário ao IAM foi obtida com a utilização de estratégias de reperfusão coronária precoce e vem incentivando cada vez mais uma abordagem agressiva na população de risco para o desenvolvimento de choque cardiogênico, para que, desta forma, talvez se consiga, no futuro, a redução da incidência e das ainda elevadas taxas de mortalidade deste quadro clínico. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 1. Hochman JS, Sleeper LA, Webb JG, Sanborn TA, White HD, Talley JD, et al. Early revascularization in acute myocardial infarction complicated by cardiogenic shock. SHOCK Investigators. Should We Emergently Revascularize Occluded Coronaries for Cardiogenic Shock. 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Dr Enéas Carvalho de Aguiar, 44. [email protected]. A insuficiência cardíaca refratária e o choque cardiogênico estão relacionados a elevadas taxas de mortalidade e a baixa qualidade de vida. As estratégias de tratamento para esses pacientes foram limitadas, nos últimos anos, às terapias farmacológicas que pouco modificaram a evolução da doença. Entretanto, com o desenvolvimento tecnológico em dispositivos mecânicos de suporte circulatório, diversas modalidades terapêuticas utilizando diferentes tipos de tecnologia proporcionam melhor suporte hemodinâmico, diminuição e reversão de disfunções orgânicas causadas pela insuficiência cardíaca. Esses dispositivos quando indicados corretamente melhoram os desfechos clínicos de pacientes que aguardam transplante cardíaco e dos que não são candidatos a transplante. Atualmente, observam-se indicações cada vez mais precoces de dispositivos de suporte circulatório, tornando-os uma terapia essencial no manejo de pacientes com insuficiência cardíaca refratária ou choque cardiogênico. Esta revisão abordará os principais tipos de dispositivos disponíveis em nosso país e suas indicações. Descritores: Coração Auxiliar, Circulação Assistida, Suporte Circulatório Mecânico, Insuficiência Cardíaca, Choque Cardiogênico, Transplante de Coração. 21 Abstract The refractory heart failure and cardiogenic shock are related to high rates of mortality and poor quality of life. Treatment strategies for these patients have been limited in the last years to pharmacological therapies that change only slightly the evolution of the disease. However, with technological advances in mechanical devices for circulatory assistance, various therapeutic modalities using different types of technology provide better hemodynamic support, reduction and reversal of organic dysfunction caused by heart failure. When properly indicated, these devices can provide better clinical outcomes of patients on heart transplantation waiting list and those who are not candidates for transplantation. Contemporarily, indications for mechanical support devices are occurring increasingly earlier, making them an essential therapy in the management of patients with refractory heart failure or cardiogenic shock. This review covers the different types of devices available in our country and its indications. Descriptors: Heart-Assist Devices, Assisted Circulation, Mechanical Circulatory Support, Heart Failure, Cardiogenic Shock, Heart Transplantation Introdução Nos últimos 20 anos diversas terapias farmacológicas e dispositivos como cardiodesfibrilador implantável e terapia de ressincronização melhoraram significativamente o prognóstico dos pacientes com insuficiência cardíaca (IC) crônica. Porém, apesar dessa terapia otimizada, nota-se em alguns pacientes uma progressão de sintomas e refratariedade ao tratamento, com comprometimento hemodinâmico e múltiplas hospitalizações.1 Essa refratariedade ao tratamento clínico otimizado é referida como IC refratária ou avançada e seus critérios são descritos na Tabela 1.2 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):21-6 A IC avançada representacerca de 10% dos pacientes com insuficiência cardiaca e está relacionada a uma baixa qualidade de vida e múltiplas internações. Nos últimos 15 anos, nenhuma droga nova mostrou beneficio em reduzir a mortalidade desse tipo de paciente e a progressão da doença ainda parece ser inevitável acarretando um prognóstico pior em relação aos pacientes com IC estáveis.3 A taxa de mortalidade desses pacientes gira em torno de 50% em 1 ano e o cenário é ainda mais dramático naqueles internados e dependentes de inotrópicos cuja a mortalidade anual chega a mais de 75%.4,5 O transplante cardíaco (TC) é o único tratamento definitivo Tabela 1. Critérios de insuficiência cardíaca avançada. Em pacientes com terapia farmacológica otimizada são necessários que todos abaixo estejam presentes: IC classe funcional da New York Heart Association III ou IV. Congestão pulmonar e/ou sistêmica; e/ou de redução de débito cardíaco em repouso com hipoperfusão periférica. Evidência objetiva de disfunção cardíaca importante: Fração de ejeção de ventrículo esquerdo < 30%, ou Comprometimento importante diastólico do ventricular esquerdo com padrão restritivo ou pseudonormal, ou Pressão média de enchimento de ventrículo esquerdo (capilar pulmonar) > 16 mm Hg ou pressão média de átrio direito > 12 mm Hg, ou Aumento importante dos níveis de BNP ou NT-ProBNP. Importante comprometimento de capacidade física com incapacidade para realizar exercício: Teste de caminhada de 6 minutos < 300m, ou Consumo de oxigênio durante exercício máximo < 14 ml/kg/minuto. História de pelo menos uma hospitalização nos últimos 6 meses. IC: insuficiência cardíaca 22 para esses pacientes com IC refratária. Está associado a uma melhora significativa da qualidade de vida, com taxas de sobrevida próximas a 85% em 1 ano e sobrevida média maior que 10 anos. Entretanto, a falta de doadores limita o número de procedimento no mundo inteiro tornando-o estável nos últimos 25 anos e muito aquém da necessidade em relação ao número de pacientes com IC avançada.3,6 Nesse cenário, cresceu o interesse por dispositivos mecânicos de suporte circulatório (DMSC) que em pacientes candidatos a TC mantêm a estabilidade hemodinâmica, revertem disfunções orgânicas causadas pela IC avançada e aumentam a sobrevida enquanto aguardam um doador compatível, resultando em diminuição do risco de complicações peri-operatórias do transplante.5,6 Além disso, os DMSC são utilizados em pacientes possivelmente candidatos ao TC; em situações com potencial melhora da função cardíaca após a descompressão do ventrículo esquerdo (VE); e em pacientes selecionados não elegíveis ao TC com objetivo de melhora na qualidade de vida e sobrevida.7 Uma crescente melhoria na tecnologia e na disponibilidade dos DMSC, tornaram esses equipamentos menores, mais duráveis e fáceis de serem implantados. Nos últimos anos, observa-se uma mudança no perfil de implante de dispositivos para pacientes com IC avançada havendo uma tendência de serem indicados em estágios mais precoces da doença. Tipos de dispositivos mecânicos De maneira geral, os DMSC podem ser divididos em dispositivos temporários e dispositivos de longa permanência de acordo com o tempo de uso do suporte. Os dispositivo temporários são utilizados para o resgate e suporte hemodinâmico em pacientes com choque cardiogênico refratário. Os objetivos de terapia dos dispositivos temporários são: Ponte para TC: pacientes com choque cardiogênico refratário e candidatos ou em fila de espera para TC na qual a expectativa de transplante não seja prolongada; Ponte para recuperação: destinado a pacientes com choque cardiogênico refratário nos quais existe possibilidade de recuperação da função ventricular como por exemplo: após infarto agudo do miocárdio (IAM), miocardite fulminante, miocardiopatia por stress (Takotsubo), periparto e pós cardiotomia; Ponte para decisão: quando há necessidade de suporte circulatório hemodinâmico imediato por choque cardiogênico refratário e alto risco de mortalidade precoce, porém ainda não é possível definir qual estratégia de tratamento. Ou quando o paciente é um potencial candidato a TC ou implante de um dispositivo de longa permanência, porém apresenta no momento da indicação da assistência circulatória, condições clinicas proibitivas (ex: hipertensão pulmonar, neoplasias com potencial cura, disfunção orgânica significativa) e que se forem modificadas poderiam permitir a candidatura desse paciente ao transplante ou ao dispositivo de longa permanência; Procedimentos de alto risco: alguns dispositivos como balão intra-aórtico (BIA), Impella® e Tandem Heart® podem ser utilizados como terapia de suporte hemodinâmico adjuvante durante procedimentos cardíacos de alto risco (cirurgia cardíaca, procedimentos percutâneo coronariano, valvares ou ablativos). As situações que elevam o risco de procedimentos percutâneos nos quais se deve considerar o uso desse tipo de DMSC são pacientes de alto risco (ex: idade avançada, disfunção ventricular importante), lesões coronarianas importantes (ex: lesões de tronco de coronária esquerda, lesões ostiais, lesões de bifurcações) e procedimentos durante apresentação clínica de choque cardiogênico ou IC descompensada8. Os dispositivos temporários disponíveis no Brasil e suas principais características estão descritos na Tabela 2. Os dispositivos de longa permanência são utilizados para estabilização hemodinâmica, melhora na qualidade de vida e sobrevida de pacientes com IC avançada. Esses dispositivos possibilitam a reversão de disfunções orgânicas, normalizam a ativação neuro-hormonal, permitem a desospitalização e podem diminuir a hipertensão pulmonar, evitando a progressão da disfunção do ventrículo direito (VD) e melhorando a probabilidade de sucesso de um futuro TC6 . Tabela 2: Tipos e características de dispositivos temporários disponíveis no Brasil. BIA Mecanismo ECMO Tandem Impella Centrimag® Excor® Heart® CP® Pneu- Centrífu- CentrífuAxial mático go go Centrífugo Percutâneo / Cirúrgico Via de Percu- Cirúrgi- Percutâ- Percupor toracoAcesso tâneo co por neo tâneo tomia toracotomia Suporte 0,5 l/ hemodimin nâmico 3,7 l/ > 4,5 l/ 4 l/min min min Tempo Dias Dias de Su- -sema- -Sema- Dias porte nas nas Dias Pulsátil Cirúrgico por toracotomia Até 8 – 10 Até 8 l/ l/min min Semanas -meses Semanas -meses BIA: balão intra-aórtico; ECMO: oxigenação por membrana extracorpórea. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):21-6 INDICAÇÕES DE DISPOSITIVOS MECÂNICOS DE SUPORTE NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA REFRATÁRIA Os objetivos de implante de dispositivos de longa permanência são: Ponte para TC: em pacientes com IC avançada e expectativa de espera em fila de TC prolongada. Em centros experientes, devido o tempo de espera em fila de TC longo e os resultados positivos de implante de DSCM de longa permanência, muito pacientes com IC avançada são referenciados para o implante destes ao invés de suporte circulatório mecânico de curta permanência como ponte para TC. Dados recentes reportam que as taxas de sobrevida em 1 ano com o dispositivo de fluxo continuo de longa permanência HeartMate II como ponte para TC giram em torno de 85%9. Terapia de destino: para pacientes selecionados não elegíveis para TC devido idade ou comorbidades com objetivo de promover suporte circulatório permanente, melhorar a qualidade de vida, sobrevida e prognóstico em relação o tratamento clínico exclusivo.10 O estudo ADVANCE, utilizando o dispositivo de fluxo contínuo HeartWare como terapia de destino, reportou uma sobrevida de 92% em seis meses e 84% em 1 ano em pacientes com IC avançada.11 Graças a melhora de tecnologia e resultados de desfechos superiores em relação ao tratamento clínico, um número crescente desses dispositivo de longa permanência vêm sendo implantados, principalmente nos países desenvolvidos, superando inclusive o número anual de TC realizados.12 Atualmente, mais de 95% dos dispositivos de longa permanência implantados são de fluxo contínuo. No Brasil, a experiência com esses dispositivos ainda é incipiente.13 Os DMSC podem ser classificados ainda em univentricular (esquerdo ou direito) ou biventricular. O suporte biventricular está indicado quando há disfunção ventricular direita importante prévia a um implante de suporte mecânico esquerdo ou quando o paciente evolui com disfunção de VD após o implante da assistência esquerda. Na ECMO veno-arterial o suporte circulatório é biventricular e o dispositivo permite o suporte ventilatório por uso de membrana de oxigenação.8 Classificação INTERMACS No contexto da IC avançada, a classificação clinica da New York Heart Association (NYHA) deixa de ser útil em relação ao prognóstico e indicação de terapias avançadas como DMSC, visto que abrange uma grande variedade de situações clínicas (desde pacientes ambulatoriais estáveis até internados com choque cardiogênico refratário). Assim, com o objetivo de classificar mais adequadamente os pacientes com IC avançada, facilitando o entendimento do estado hemodinâmico, predizendo o tempo em que a intervenção deve ser realizada e estratificando o risco do implante, a Interagency Registry of Mechanically Assisted Circulatory Support (INTERMACS) criou a classificação INTERMACS composta de 7 perfis clínicos (Figura 1).14 Apesar de prático, observou-se que a classificação INTERMACS nem sempre caracterizava o perfil hemodinâmico proposto em alguns pacientes. Assim, com objetivo de melhorar essa classificação, sugeriu-se aplicar aos perfis três variáveis clínicas que potencialmente aumentam a gravidade dos pacientes: arritmias ventriculares/presença Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):21-6 de CDI (cardioversor desfibrilador implantável), presença de DMSC de curta permanência e hospitalizações frequentes.14,15 O ultimo registro INTERMACS aponta que a maioria dos pacientes que implantaram DMSC de longa permanência estavam em perfil hemodinâmico 2 (38,4%). Cerca de 28% em perfil 3 e 14% em perfis 1 e 4. Entretanto, nota-se que existe uma tendência nos últimos anos de aumento de número de implantes em pacientes menos graves (perfis 3 e 4).12 Indicações de dispositivos mecânicos de suporte circulatório A indicação de implante de dispositivos temporários (extracorpóreo ou percutâneo) ou longa permanência é determinada pela progressão da IC, o estado clínico do paciente e a expectativa em relação a indicação (ponte para TC, ponte para recuperação, ponte para decisão ou terapia de destino). Em algumas circunstâncias, como no caso de um choque cardiogênico súbito (ex: pós infarto agudo do miocárdio, pós parada cardiorrespiratória, miocardite fulminante), não é possível determinar a elegibilidade para um TC ou a expectativa de recuperação ventricular. Nessas situações, os DMSC temporários são preferíveis, possibilitando a estabilização hemodinâmica, reversão de disfunções orgânicas e recuperação neurológica, sendo indicados com ponte para decisão ou recuperação. Eventualmente, pacientes elegíveis ao TC em que a expectativa de espera por um doador compatível seja rápida, o suporte com DMSC temporários pode ser utilizado com ponte para TC (Figura 2).16 Apesar de não haver critérios hemodinâmicos específicos para o implante de um DMSC, pacientes com índice cardíaco < 2,0 L/min/m2, apesar do uso de inotrópicos, devem ser considerados para o suporte mecânico prontamente. Outros parâmetros como piora clínica hemodinâmica, necessidade de aumento de doses de inotrópicos ou necessidade de vasopressores para manter pressão arterial em pacientes com IC avançada são importantes para uma decisão rápida em relação ao implante de um DMSC.3 Em cenários de choque cardiogênico grave com hipotensão refratária e disfunção orgânica múltipla, é menos provável que o BIA propicie suporte hemodinâmico necessário, devendo-se considerar rapidamente a instalação de outros dispositivos circulatórios percutâneo que permitem maiores fluxos (ex: Impella®, Tandem Heart® ou ECMO).8 Dispositivos de longa permanência devem ser considerados em pacientes com IC avançada em que a recuperação de função ventricular é improvável e o estado do paciente não possibilite a manutenção hemodinâmica normal e função orgânica preservada sem um dispositivos de assistência ventricular7 ECMO Critérios utilizados para o implante de dispositivos de longa permanência em estudos randomizados foram pacientes com disfunção sistólica de VE importante, com limitação funcional significativa (classe funcional NYHA IIIb ou IV persistente ou VO2 pico < 14 ml/kg/min) ou aqueles internados com dependência de inotrópicos por mais de 14 dias, uso de BIA por mais de 7 dias.3,5,10 23 Estágio C Estágio D NYHA IV NYHA IIIb/IV % 1 ano de sobrevida 100% 50% 7 25% 6 NYHA III 5 Limitaçâo ao exercício Intolerância ao exercício 10% 4 “Frequent Flyer” 3 Estável com dobutamina 0% 2 Piora clínica progressiva 1 DMOS/ Óbito “Crash and burn” Benefício de DAV Bem Estabelecido Não Estabelecido TX e DAV Não Indicados Intervenção baseada em variáveis: nutrição e disfunção orgânica progressiva Elegível em semanas ou meses Elegível em poucas semanas Ponte p/ Decisão Intervenção nos próximos dias Intervenção nas próximas horas Figura 1: Classificação INTERMACS. IC avançada Listado para transplante Choque cardiogênico ou elegibilidade para TC incerta Inelegível para transplante BIA, ECMO, CENTRIMAG TAMDEN HEART, IMPELLA 24 Ponte para tc Terapia de destino DMSC de curta permanência Ponte para decisão Recuperação DMSC de longa permanência Transplante possível terapia de destino Recuperação Terapia de destino Possível transplante Figura 2: Fluxograma de implante de DMSC A figura 2 mostra uma sugestão de fluxograma para implantes de DMSC.16 Nos últimos anos, além de um maior número de implantes de DMSC de longa permanência em pacientes menos graves (INTERMACS 3 e 4), existe uma tendência de aumento de número de implantes como terapia de destino (14,7% dos implantes entre 2006-2007 versus 41,6% entre 20112013), ocorrendo também uma diminuição de pacientes em fila de transplante suportados por DMSC nesse período (42,4% versus 21,7% respectivamente).12 Devido ao prognóstico da doença, pacientes com critérios de IC avançada devem ser considerados para avaliação de DSCM e TC. Entretanto, não existe critérios validados e nem consenso sobre o momento exato de implante de um dispositivo. Critérios prognósticos para IC como VO2 pico, Heart Failure Survival Score e Seattle Heart Failure Model, juntamente com avaliação do status do pacientes, presença de disfunções orgânicas (incluindo caquexia cardíaca), dependência de inotrópicos e parâmetros hemodinâmicos invasivos podem ajudar a predizer os pacientes que se beneficiariam de um DMSC.4,5,7,17 Recentemente o estudo ROADMAP avaliou o implante do dispositivo HeartMate II em indivíduos com IC avançada, ambulatoriais, classe funcional NYHA IIIb-IV (INTERMACS 4 a 7) comparado com terapia farmacológica otimizada. O desfecho primário, teste de caminhada de 6 minutos em 1 ano, foi significativamente melhor no grupo DMSC comparado com a terapia farmacológica (39% versus 21%; p = 0,012). As taxas de mortalidade também foram menores no grupo dispositivo (80 ± 4% versus 63 ± 5%; p = 0,022), apesar do número maior de eventos adversos.18 Os resultados desse estudo podem ampliar ainda mais as indicações de implante de DMSC de longa permanência para pacientes com IC avançada ambulatoriais. A tabela 3 resume as principais indicações de DMSC. De modo geral, as contraindicações para implante de DMSC incluem condições extra-cardíacas que limitam o prognóstico do indivíduo como neoplasias com expectativa de vida curta, doença hepática ou pulmonar crônicas irreversíveis, doenças neurológicas ou psiquiátricas e impossibilidade de anticoagulação. A presença de insuficiência arterial periférica significativa é uma contraindicação para os dispositivos percutâneos. Outras contraindicações específicas de cada tipo de dispositivo estão descrita na tabela 4. Seleção do candidato a DSCM O fator mais importante no sucesso do implante de DMSC é a seleção adequada do paciente. Naqueles candidatos ao suporte circulatório, além de excluir potenciais causas reversíveis de IC, deve-se realizar conjuntamente toda a avaliação para TC, salvos os pacientes considerados para terapia de destino por contraindicação formal ao transplante (ex: idade). Uma avaliação psicossocial direcionada deve ser sempre realizada em candidatos a implante de DSCM de longa permanência. A seleção do candidato a DMSC deve envolver uma avaliação criteriosa de aspectos que influenciarão no sucesso do implante. Preditores de pior prognostico pós -operatório como INTERMACS 1 e 2, idade, desnutrição, Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):21-6 INDICAÇÕES DE DISPOSITIVOS MECÂNICOS DE SUPORTE NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA REFRATÁRIA Tabela 3. Indicações de implante de DMSC. DMSC de curta permanência8 DMSC de longa permanência7, 16 Choque cardiogênico refratário a Choque cardiogênico sem possibiliterapia farmacológica em dade de recuperação ventricular ou pacientes com IC crônica recuperação ventricular improvável descompensada. sem DMSC de longa permanência. Choque cardiogênico pós-IAM. Choque cardiogênico suportado com DMSC de curta permanência, sem possibilidade de descontinuação do suporte mecânico ou inotrópico. Choque cardiogênico por Dependência de inotrópico (> 14 cardiomiopatias reversíveis dias) e expectativa de espera em fila (miocardite fulminante, miocar- de TC prolongada. diopatia por stress, periparto) INTERMACS 1-2 como ponte Dependência de inotrópico em papara TC ou ponte para implante ciente não elegível para TC (terapia de DMSC de longa permanência. de destino). Complicações mecânicas IC avançada com sobrevida menor pós-IAM . que 1 ano por modelos prognósticos. Procedimentos cardíacos ou Disfunção orgânica devido IC (inpercutâneo coronariano, valvar cluindo caquexia cardíaca). ou ablativos de alto risco. Pós-cardiotomia. VO2 pico < 14 ml/kg/min. Disfunção aguda de enxerto Critérios de IC avançada (Tabela1). cardíaco pós TC. Disfunção aguda de VD (TEP, IAM de VD, Pós-implante de DSCM esquerda). Arritmias refratárias. DMSC: dispositivos mecânicos de suporte circulatório; IAM: infarto agudo do miocárdio; TC: transplante cardíaco; VD: ventrículo direito; TEP: trombo embolismo pulmonar. Tabela 4. Contraindicações específicas para implante de DMSC. DMSC de curta permanência8 DMSC de longa permanência7, 16 BIA Choque cardiogênico com Insuficiência aórtica moderada impossibilidade de recuperação de ou importante. disfunção orgânica. Dissecção de aorta. Impella® Prótese valvar aórtica. Presença de trombo em ventrículo esquerdo. Estenose ou insuficiência aórtica. Defeito de septo interventricular. Limitação psicossocial (ex: não aderência medicamentosa prévia, abuso de substâncias ilícitas, ausência de suporte familiar/ social). ECMO Insuficiência aórtica. Idade > 80 anos para terapia de destino. Disfunção de VD importante. Obesidade ou desnutrição. Malformação vascular intestinal que predispõe a sangramentos. Infecção sistêmica ativa. BIA: balão intra-aórtico; ECMO: oxigenação por membrana extracorpórea; VD: ventrículo direito Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):21-6 disfunção hepática e renal, disfunção de ventrículo direito, coagulopatias, infecção ativa, insuficiência respiratória e uso suporte mecânico de curta permanência devem ser considerados durante a seleção.3,4 A avaliação estrutural cardíaca é de extrema importância. O ecocardiograma deve avaliar existência de valvopatias aórtica, mitral e tricúspide, presença de shunts e trombos intracavitários, e a função do ventrículo direto. Diversos escores de risco identificaram variáveis preditoras de morte após implante de DMSC de longa permanência. Alguns desses estão descritos na tabela 5.19-21 Esses escores identificam pacientes de alto risco cirúrgico e possibilitam a otimização terapêutica visando essa diminuição de risco (ex: melhora de função de VD, melhora nutricional, de função renal). Assim, um indivíduo com risco proibitivo no inicio de uma avaliação, após otimização terapêutica e melhora clínica, pode se tornar um candidato aceitável. Por outro lado, se não apresentar melhora do escore de risco Tabela 5. Escores preditores de risco pós-implante de DMSC. Escore Escore de risco HeartMate II Escore de risco póspara terapia escore de risco -operatório em UTI de destino Referência Lietz et al.19 Cougar J et al.20 Klots et al.21 Preditores Plaq < 148.000/ Idade (por 10 Transfusão > 10 CH e/ anos): OR: 1.32 ou PFC: 6 pts µl: 4 pts Albumina < 3.3 Albumina: OR: Inotrópico: 5 pts Lactato>3 mg/dl: 5 pts 0.49 mg/dl: 2 pts INR > 1.1: 2 pts Creatinina: OR: LDH>500 U/L ou CK> 200 e/ou Troponina > Uso de vasodi- 2.1 latador: 1 pto INR: OR: 3.11 20 ng/ml: 5 pts PCR > 8 e/ou Leuco > Volume de PMAP < 25 mmHg: 1 pto implantes do 13000: 4 pts Re-esternotomia: 4pts AST > 45 U/mL: centro < 15: DMSC pré-op: 4pts OR: 2.24 1 pto Ventilação mecânica: Ht < 34%: 1 4 pts pto Creatinina > 1,5 ml/dL Ureia > 109 e/ou Ureia > 85 mg/dl mg/dl: 1 pto e/ou HD: 3 pts Sem InotrópiImplante de cos: 1 pto. emergência: 3 pts Parada cardiorrespiratória pre-implante: 2 pts Miocardiopatia isquêmica : 2 pts FC >100 bpm: 1 pto Plaq < 100.000 µl: 1 pto Hb< 12 g/dL e/ou HT < 35%: 1 pto Idade > 50 anos:1 pto Risco Sobrevida em Mortalidade 90 Mortalidade em UTI. 1 ano. dias após implante. ≤ 15 pontos: 15, 8% 0-8 pts: 81% Baixo risco: 16-30 pontos: 48,2 % 9-16: 62% 4-8% > 30 pontos: 65,2 % 17-19: 28% Moderado >19: 11% risco: 11-16% Alto risco: 25-29% Plaq: plaquetas, pts: pontos, INR: índice internacional normalizado, PMAP: pressão média de artéria pulmonar, AST: aspartato transaminase, HT: hematócrito, OR: odds ratio, CH: concentrado de hemácias, PFC: plasma fresco congelado, LDH: desidrogenase láctica, CK: creatina quinase, PCR: proteína C reativa, DMSC: dispositivo mecânico de suporte circulatório, HD: hemodiálise, FC: frequência cardíaca, Hb: hemoglobina 25 com tratamento agressivo, a sobrevida após o implante do dispositivo de longa permanência é improvável. Considerações finais O manejo contemporâneo de pacientes com IC refratária e avançada condiciona o uso de diversos tipos de DMSC, que comparados com o tratamento medicamentos exclusivo, possibilitam um melhor restabelecimento hemodinâmico, diminuição e reversão de disfunções orgânicas causas pela IC e possibilitam em ultima análise um melhor prognóstico para pacientes que aguardam por um TC ou em pacientes não candidatos ao transplante, uma melhora na qualidade de vida e sobrevida. A seleção apropriada de um candidato a suporte circulatório é o principal fator para o sucesso de um implante de DMSC. Para isso, uma avaliação minuciosa das indicações (tabela 3), contraindicações (tabela 4), fatores e escores de risco (tabela 5) e condições que interferem nos desfechos após implante de um dispositivo (principalmente a avaliação função do VD) deve ser sempre realizada. A indicação precoce de implante de DMSC de curta permanência ou longa permanência em IC avançada é uma tendência nos últimos anos. No nosso meio, com a melhora na tecnologia, maior disponibilidade e experiência na indicação e manejo de pacientes com desses dispositivos, a terapia com suporte mecânico será fundamental no tratamento de pacientes com IC avançada e choque cardiogênico. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 26 1. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, Rodrigues de A, et al. [Updating of the Brazilian guideline for chronic heart failure - 2012]. Arq Bras Cardiol. 2012;98(1 Suppl 1):1-33. 2. Metra M, Ponikowski P, Dickstein K, McMurray JJ, Gavazzi A, Bergh CH, et al. Advanced chronic heart failure: A position statement from the Study Group on Advanced Heart Failure of the Heart Failure Association of the European Society of Cardiology. 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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):21-6 revisão/review TERAPIA DO CONTROLE DA TEMPERATURA PÓS-PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA TEMPERATURE CONTROL THERAPY AFTER CARDIORESPIRATORY ARREST Resumo Claudia Bernoche1 Liliane Kopel1 Natali Schiavo Gianetti2 Silvia G. Lage1,3 Sergio Timerman2,4 1. Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Unidade Clínica de Terapia Intensiva. 2. Instituto do Coração do Hospital da Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Laboratório de Treinamento e Simulações em Emergências Cardiovasculares. 3. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). 4. Escola de Ciências da Saúde e da Escola de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi – Laureate International Universities. Correspondência: Dra. Claudia Bernoche. Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar 44, 2° andar sala 10. CEP 05403-000 São Paulo – SP. E-mail: [email protected] O processo fisiopatológico secundário à parada cardiorrespiratória (PCR) com retorno da circulação espontânea (RCE), determina a síndrome pós-PCR, com lesão cerebral, disfunção miocárdica e reperfusão, em resposta à isquemia orgânica. A terapia do controle da temperatura (TCT) oferece mecanismos neuroprotetores, limitação da lesão miocárdica e redução da resposta inflamatória sistêmica. Dúvidas existem em relação aos benefícios, início e duração da TCT, porém, há evidências que apoiam a melhora da sobrevida e do prognóstico neurológico em populações selecionadas. Recomenda-se a TCT por 24 horas, com controle da temperatura na faixa de 32 °C a 36 °C para adultos que sobrevivem à PCR extra-hospitalar e permanecem em coma com ritmos iniciais de fibrilação/taquicardia ventricular, o que também é sugerido para os sobreviventes de PCR extra-hospitalar com ritmo inicial não chocável e de PCR intra-hospitalar em qualquer ritmo inicial. O início do resfriamento deve ser feito o mais precocemente possível, de preferência, até 12 horas após o RCE. O controle da temperatura corpórea deve ser incorporado aos cuidados dos pacientes críticos pós-PCR, a fim de reduzir as taxas de mortalidade e de sequelas neurológicas. Descritores: Hipotermia, Alterações na Temperatura Corporal, Parada Cardíaca. Abstract The secondary pathophysiological process to cardiorespiratory arrest (CRA) with return of spontaneous circulation (ROSC), determines the post-cardiorespiratory arrest syndrome with brain injury, myocardial reperfusion and dysfunction in response to systemic ischemia. The temperature control therapy (TCT) provides neuroprotective mechanisms, limitation of myocardial injury and reduction of systemic inflammatory response. There are still some questions regarding the benefits, timing and duration of TCT, however, there is evidence supporting improved survival and neurological outcome in selected populations. TCT is recommended for 24 hours, with temperature control in the range of 32 to 36 °C for comatose adults who survive after out-of-hospital cardiorespiratory arrest with initial rates of fibrillation/ ventricular tachycardia, which is also suggested for extra-hospital cardiorespiratory arrest survivors with early pace not shockable and intra-hospital cardiorespiratory arrest in any initial rate. The beginning of the cooling should be done as early as possible, ideally up to 12 hours after ROSC. The control of body temperature should be incorporated into the care of the post-CRA critically ill patients in order to reduce mortality and neurological sequelae. Descriptors: Hypothermia, Body Temperature Changes, Cardiac arrest. Introdução O sucesso do retorno à circulação espontânea (RCE) é o passo inicial na recuperação de um evento fatal. O processo fisiopatológico que se segue a isquemia secundária a parada cardiorrespiratória (PCR), com subsequente reperfusão durante a reanimação até o retorno a circulação, determinam a síndrome pós-PCR.1 Trabalhos mostram que entre 15 e 46% das vítimas de PCR se recuperam rápida e totalmente. Contribuem Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):27-33 para estas estatísticas programas de educação oferecidos a população para o reconhecimento de situações de PCR, times de resposta rápida hospitalares e fácil acesso a desfibriladores. Mas uma porcentagem significativa permanecerá sob ventilação mecânica e em uso de drogas vasoativas.2 De acordo com a causa da PCR e a severidade da síndrome pós-PCR, muitos necessitam de cuidados intensivos visando melhor condição neurológica futura. Após o RCE os pacientes devem ser removidos para um 27 hospital com serviço de hemodinâmica para diagnóstico de possível síndrome coronariana aguda e com unidade de cuidados intensivos onde o início da terapia do controle da temperatura (TCT) deve ser considerada e se indicada, prontamente iniciada.3 FISIOPATOLOGIA DA SÍNDROME PÓS-PCR 28 Esta condição se refere a um processo no qual pacientes que evoluem com RCE podem vir a apresentar disfunção de múltiplos órgãos. O grau de acometimento é dependente da causa, tempo de PCR e das doenças preexistentes. O tempo é fator determinante na recuperação funcional do paciente, cada 1,5 minutos de atraso no RCE acarreta uma redução de 14% na chance de uma boa recuperação.1 O sistema nervoso central é particularmente sensível à hipóxia, de modo que redução da perfusão por períodos maiores que 5 minutos são suficientes para causar dano cerebral.4 Além da lesão celular causada pela isquemia da PCR o RCE induz a uma série de alterações fisiopatológicas que levam a síndrome pós-PCR.4,5 Os principais mecanismos envolvidos são: • falha na reperfusão global ou multifocal (no-reflow), perpetuando o processo de isquemia e depleção dos estoques de adenosina trifosfato intracelulares; desvio do metabolismo aeróbio para glicólise anaeróbia, aumento da produção de lactato e consequente acidose intra e extracelular; • lesão tecidual induzida pela reperfusão: liberação de radicais livres do oxigênio (peróxido de hidrogênio, superóxido e peroxidonitrito) com disfunção mitocondrial e liberação de neurotransmissores excitatórios; • discrasias sanguíneas, com formação de fibrina, bloqueio da microcirculação e déficit de perfusão tecidual. O aumento da temperatura corporal após o RCE potencializa esses mecanismos, especialmente a liberação de glutamato no cérebro e ativação de seu receptor (N-metil-d-aspartato) na fenda sináptica, com maior influxo de cálcio no neurônio e posterior ativação de endonucleases e fosfolipases, levando à neurodegeneração.4,6,7 Tal fenômeno é exacerbado por aumentos de temperatura superiores a 0,5 °C ou quando a temperatura atinge mais de 37,0°C.4 Os radicais livres de oxigênio lesam as membranas celulares dos neurônios, o que gera edema citotóxico e quebra da barreira hematoencefálica, desencadeando hipertensão intracraniana em um ciclo vicioso de isquemia cerebral. O dano oxidativo é tanto maior quanto maior for a temperatura.7 Considerando estes dados fisiopatológicos a TCT contribui através de mecanismos neuroprotetores. Estas ações podem ser evidenciadas por: • diminuição da demanda metabólica neuronal e otimização da relação oferta-consumo de oxigênio; a cada 1°C de redução na temperatura corporal, observa-se uma redução de 6-8% no metabolismo cerebral; • redução da pressão intracraniana com melhora na perfusão cerebral; • menor liberação de radicais livres de oxigênio e preservação da integridade das membranas celulares; • Inibição da biossíntese e liberação de neurotransmissores excitatórios; • menor formação de fibrina e melhora do fluxo sanguíneo na microcirculação; • redução da resposta inflamatória.4,5,7 A TCT exerce uma série de efeitos em todo o organismo, sendo os principais descritos na figura 1, como aumento da resistência vascular sistêmica e redução da frequência cardíaca.8-10 APRESENTAÇÃO CLÍNICA DA SÍNDROME PÓS-PCR Nesta síndrome podem ser reconhecidos quatro componentes principais: o dano cerebral, a disfunção miocárdica, Figura 1: Efeitos sistêmicos da Terapia do Controle da Temperatura. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):27-33 TERAPIA DO CONTROLE DA TEMPERATURA PÓS-PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA a reperfusão orgânica em resposta ao tempo de isquemia e a patologia precipitante do evento.1 PCR breves costumam não deixar sequelas. O grau de comprometimento cerebral pode variar desde alterações do comportamento e personalidade até apresentações clínicas mais graves como: mioclonias, convulsões, estados de coma, até morte encefálica. O dano cerebral é responsável por dois terços dos óbitos dos pacientes admitidos pós-PCR extrahospitalar. A perda da auto-regulação, o surgimento de edema e a neurodegeneração pós-isquêmica são os facilitadores principais.11 A disfunção cardíaca depende da patologia precipitante do evento, como nos casos de síndromes isquêmicas agudas secundárias a oclusão coronária e consequente disfunção ventricular. A recuperação da função é possível, porém, depende do tempo de oclusão da artéria coronária, tamanho do infarto e da persistência de miocárdio viável pós-isquemia. O binômio isquemia-reperfusão que sobrevêm a PCR é responsável pela liberação de fatores inflamatórios, complemento, ativação da cascata da coagulação, favorecendo um estado de disfunção multiorgânica e condições para o desenvolvimento de infecção. Estados de supressão adrenal podem estar associados. Na identificação da causa precipitante é importante ressaltar que as síndromes coronárias agudas são causa frequente de PCR extra-hospitalar. Uma prevalência de 59 a 71% de achados de lesão coronária aguda é esperada nas vítimas de eventos, quando as causas cardíacas não podem ser afastadas. Na evidência após o RCE no eletrocardiograma (ECG) de elevação do segmento ST ou de bloqueio do ramo esquerdo novo, a cinecoronariografia de urgência esta indicada. Nesses casos os achados compatíveis com lesão coronária aguda chegam a 80%.12,13 Mas muitas vezes o ECG pode apresentar alterações inespecíficas, como nos casos de reanimação prolongada. Nestas situações clínicas a presença de fatores de risco para doença coronária como idade, tabagismo e diabetes, bem como a instabilidade hemodinâmica refratária e persistente devem ser considerados para indicar a realização de estudo invasivo da circulação coronária.14 Entre os métodos diagnósticos o ecocardiograma a beira leito oferece informação adicional quanto à função ventricular, doenças valvares associadas, derrame pericárdico e afecções da aorta. Informações trazidas pelas equipes de resgate, assim como antecedentes pessoais, uso de medicamentos e drogas ilícitas, podem ser determinantes na estratégia diagnóstica e na tomada de decisões. Além das causas cardíacas para justificara a PCR, é necessário descartar afecções primárias do sistema nervoso. A realização de tomografia computadorizada do crânio está indicada em todos os casos nos quais há evidência ou suspeita de trauma crânio encefálico, isquemia ou sangramento. Quando a doença coronária for afastada e na falta de evidência de lesão do sistema nervoso central, as doenças pulmonares agudas devem ser consideradas. A avalição clínica seguida da aquisição de uma angiotomografia das artérias pulmonares está indicada. O tromboembolismo pulmonar agudo é causa de morte súbita com uma incidência Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):27-33 2 a 10%. Outras afecções pulmonares como asma, pneumopatias causadoras de hipóxia aguda e infecções podem ser causas desencadeantes de uma PCR.15 CUIDADOS APÓS O RCE Os cuidados oferecidos em unidades de emergência e de terapia intensiva podem variar desde observação clínica e monitorização, até o uso de suporte neurointensivo e dispositivos de assistência circulatória no paciente crítico. Oxigenação e ventilação Após o RCE a concentração de oxigênio no sangue arterial deve ser monitorada pela saturação arterial de oxigênio a fim de manter níveis entre 94-98%. A suplementação de oxigênio nos pacientes que tiveram rápida recuperação pode se limitar ao uso de cateter e máscara. A hiperóxia no período pós-PCR esta associada em modelos de estudo em animais a um prognóstico neurológico comprometido em relação a normoxemia.3,16,17 Em pacientes admitidos com infarto agudo do miocárdio sem hipóxia com elevação do segmento ST, onde se comparou a manutenção em ar ambiente com a suplementação com oxigênio, o último grupo apresentou aumento da extensão da lesão, recorrência da isquemia e maior incidência de arritmias.3 Muitos dos sobreviventes em decorrência do estado neurológico ou da instabilidade hemodinâmica, necessitam de intubação orotraqueal e ventilação mecânica. A estratégia da ventilação deve ser protetora, com volume corrente de 6 a 8 ml/kg (peso ideal) e uma pressão expiratória final positiva de 4 a 6 cm de H2O. Limitações à dinâmica respiratória ideal podem surgir, como instabilidade da caixa torácica secundária as manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e distensão abdominal pelo acúmulo de ar durante a ventilação. O risco de pneumotórax associado deve ser prontamente descartado e se necessário drenado. Uma sonda gástrica deve ser providenciada a fim de remover o ar acumulado no estômago.1,3,15,18 A sedação deve ser titulada com cautela para não comprometer a condição hemodinâmica nos pacientes instáveis. O uso de bloqueadores neuromusculares pode ser considerado para adequar a sincronia com a ventilação, mas há limitações ao seu uso, por comprometer a avaliação neurológica continua e por mascarar complicações, como por exemplo convulsões. Manejo hemodinâmico Após o RCE os cuidados devem seguir as orientações de acordo com o fluxograma de reanimação do ACLS (Advanced Cardiac Life Support).19 Os pacientes devem ser monitorizados inicialmente de modo não invasivo a fim de obter: ritmo cardíaco, oximetria de pulso, pressão arterial e temperatura. Eletrocardiograma de 12 derivações e radiografia de tórax devem ser realizados. Exames de laboratório adicionais: enzimas cardíacas (iniciais e seriadas), níveis de lactato, gasometria, eletrólitos e hemograma podem oferecer informações adicionais. A disfunção miocárdica que se segue à PCR com instabilidade hemodinâmica se manifesta pela presença de hipotensão, arritmias e baixo débito cardíaco. O grau de 29 disfunção e da reação inflamatória sistêmica são variáveis. A volemia deve ser adequada para cada paciente. O uso de inotrópicos deve ser iniciado nos casos de instabilidade com sinais de baixo debito cardíaco e disfunção ventricular. Drogas vasopressoras estão indicadas na presença de hipotensão severa, por vezes secundária à vasoplegia pós-RCE.3,18,20,21 A monitorização invasiva deve ser ampliada de acordo com o grau de instabilidade e inclui pressão arterial invasiva, pressão venosa central e da saturação venosa central do oxigênio contínua. Cateteres que ofereçam informações de débito e saturação venosa contínuas podem ser empregados quando disponíveis. O uso de antiarrítmicos deve estar direcionado para o ritmo da PCR, não há evidência para o uso profilático de amiodarona ou lidocaína endovenosas após o RCE. Nos casos de PCR decorrente de fibrilação e/ou taquicardias ventriculares (FV/TV) seu uso está bem indicado.15,18 Na presença instabilidade crítica à custa de disfunção, devem ser consideradas medidas adicionais como uso de balão intra-aórtico e de dispositivos de assistência circulatória.21 Terapia do controle da temperatura 30 O dano cerebral e a instabilidade cardiovascular são fatores determinantes da sobrevida após o RCE. O controle da temperatura tem como finalidade conter a síndrome pós-PCR com diminuição de consumo de oxigênio cerebral, limitação da lesão miocárdica e sistêmica. Os estudos desenvolvidos em hipotermia terapêutica iniciados na década de 80 e 90, apresentaram limitações principalmente relacionadas à dificuldade no controle da temperatura, ocorrência de sangramentos e infecções. Este cenário apresentou mudanças com o surgimento de dispositivos e cuidados que permitem controlar a temperatura com segurança. Dois estudos multicêntricos desenvolvidos na Europa e na Austrália ganharam repercussão em publicações no inicio de 2002. A hipotermia terapêutica foi uma intervenção que demostrou oferecer melhora na recuperação neurológica pós-PCR e na mortalidade. A hipotermia foi realizada em sobreviventes que apresentavam incapacidade de reconhecer comandos após o RCE.9,22 O estudo europeu, conhecido como HACA (The Hipotermia After Cardiac Arrest Study Group) randomizou 275 pacientes com idades entre 18 e 75 anos, com tempo até o início do atendimento de 5 a 15 minutos, ritmo de FV/TV, tempo de RCE de até 60 minutos. Os sobreviventes foram divididos em dois grupos: para receber cuidados convencionais ou serem submetidos à hipotermia com temperatura alvo 34 a 32°C durante 24 horas. Ao termino do estudo no grupo hipotermia 55% dos pacientes apresentaram boa recuperação neurológica na alta hospitalar, comparados a 39% do grupo que recebeu cuidados convencionais (p<0,05). A taxa de mortalidade na análise de subgrupos revelou redução no grupo hipotermia (p<0,05).22 No estudo australiano, os critérios de inclusão foram semelhantes ao europeu. Os resultados evidenciaram redução no risco de sequela neurológica (49% no grupo controle versus 26% nos submetidos à hipotermia (p=0,046).9 Em 2010 o ILCOR (International Liaison Committee on Resuscitation) estabelece a hipotermia dentre os cuidados após o RCE de eventos extra-hospitalares e mantém a recomendação para o controle de temperatura ideal de de 34 a 32°C. O método vem ganhando aceitação e seu emprego se estende para outros ritmos de PCR e para o ambiente intra-hospitalar.23 Nielsen e colaboradores publicam em 2013 dados de um estudo randomizado com uma coorte composta por 939 indivíduos que evoluíram comatosos após o RCE extra-hospitalar e foram submetidos à hipotermia com temperaturas alvo de 33°C ou de 36°C. O objetivo primário foi avaliar a mortalidade por todas as causas em ambos os grupos e o secundário um evento combinado de deficiência neurológica ou morte em 180 dias. Em termos de mortalidade o grupo submetido ao controle tradicional de 33°C apresentou taxa de óbito de 50% comparada com 48% do grupo hipotermia a 36°C (p<0,05). No desfecho combinado foram observadas taxas de 54% vs 52% (p=0,78) para o controle tradicional e o controle com temperatura de 36°C respectivamente. Portanto, o controle mais agressivo da temperatura (33°C) não beneficiou esta população.24 Esta publicação desencadeou um posicionamento imediato dos grupos formadores de opinião internacionais, sendo a mais evidente apoiada no fato de ser uma publicação isolada e que abriria frente a controvérsias quanto aos benefícios do controle de temperatura ideal, já reconhecida e instituída. Um dos alvos das críticas vem a reforçar o benefício do rápido reconhecimento da PCR e do inicio das manobras de RCP, já que o estudo em questão foi desenvolvido na Escandinávia onde a uma divulgação em massa do suporte básico de vida resultou em uma alta taxa de 73% de RCP pelo público em geral. Devemos ressaltar também que neste estudo houve um controle ativo da temperatura em ambos os grupos, limitando o surgimento de temperatura acima de 36°C.25,26 MÉTODO A TCT mostrou ser uma intervenção capaz de oferecer melhora na recuperação neurológica e deve ser considerada para os paciente incapazes de atender a uma ordem verbal após o RCE. Os critérios de seleção de pacientes que se favorecem da TCT estão descritos na tabela 1. Pacientes que atingirem estabilidade hemodinâmica após o RCE, à custa de inotrópicos e vasoconstritores poderão iniciar o tratamento. Situações especiais como a da gestação deverão ser individualizadas. Há relatos isolados na literatura de casos bem sucedidos com idade gestacional de até 20 semanas. É importante considerar as orientações do ACLS quanto às decisões a serem tomadas de acordo com a idade gestacional e o tempo de PCR. O método para a TCT pode ser dividido em três fases: indução, manutenção e reaquecimento. Indução Ao iniciar a TCT é necessário aferir e monitorar a temperatura central (termômetro esofágico, cateter vesical ou cateter de termodiluição). Nesta fase, três cuidados fundamentais devem guiar a terapêutica: iniciar precocemente Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):27-33 TERAPIA DO CONTROLE DA TEMPERATURA PÓS-PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA Tabela 1. Criterios de seleção para Terapia do Controle da Temperatura. Critérios de inclusão: 1. Idade: 18 a 75 anos 2. PCR presenciada 3. Tempo de reanimação < 45 minutos 4. Ausência de resposta adequada aos estímulos 5. Acesso ao atendimento primário entre 5 e 15 minutos após o início da PCR. 6. Intervalo de tempo pós-PCR de até 12 horas Limitações para o inicio da TCT: critérios de exclusão 1. Portadores de coagulopatias – exceto as induzidas 2. Choque cardiogênico refratário à terapêutica 3. Choque séptico. 4. Discrasias sanguíneas. 5. Recorrência de PCR prolongada após admissão 7. Pacientes conhecidamente portadores de doença terminal 8. Gestantes PCR: parada cardiorrespiratória, TCT: terapia do controle da temperatura o resfriamento, preferencialmente no local do evento ou se possível no transporte - desde que não comprometa o diagnostico e o tratamento. Na sequência, a prioridade é a atingir a temperatura alvo o mais rapidamente possível e para esta finalidade devem se associar ao menos dois métodos 1,3,15,18,27. Resfriamento de superfície: • Uso de pacotes de gelo nas regiões axilar, inguinal e cervical, realizando rodízio do gelo para prevenir lesões de pele. • Colchões e mantas térmicas; • Roupas térmicas: perneiras, coletes e capacetes com serpentinas de água gelada no seu interior. Cuidados para evitar lesões de pele devem ser tomados, atender as especificações do fabricante e cobrir ao menos 40% da superfície corpórea. Resfriamento por sonda gástrica: • Instalar uma sonda gástrica, confirmar a localização e após aspirar o conteúdo do estomago infundir solução salina fisiológica a 4 °C em bolus de 250 ml até um máximo de 30 ml/kg. Resfriamento endovenoso: • Infundir solução salina fisiológica endovenosa a 4°C, rapidamente. O volume total a ser administrado é de 30 ml/ kg até um máximo de 2000 ml. Pacientes com limitação à oferta de volume tem restrição a este método. A infusão deve ser interrompida se houver queda na oximetria de pulso< 94%. • Uso de trocadores de calor endovenosos, alocados através de punção venosa femoral ou na veia subclávia, apresentam vantagens como a da indução rápida e controlada. • Uma vez atingida a temperatura alvo se inicia a fase de manutenção e começa a contagem do tempo com duração ideal de 24 horas. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):27-33 Manutenção Os métodos de resfriamento rápido usados na indução devem ser descontinuados e mantidos apenas os recursos de superfície e os dispositivos endovenosos quando disponíveis. Os cuidados nesta fase são direcionados a fim de evitar o hiperresfriamento (temperatura central < 32 °C) e a controlar as tentativas de reaquecimento como os tremores. A monitorização hemodinâmica, respiratória e neurológica deve ser intensiva e os controles aferidos de hora em hora.1,3,7 A hipotermia pode facilitar surgimento de bradicardias e poliúria, situações que devem ser evitadas para não comprometer ainda mais a condição hemodinâmica. Os distúrbios hidroeletrolíticos como hipofosfatemia, hipomagnesemia e hipocalemia podem desencadear arritmias quando não detectados e tratados.7,18,28 O controle glicêmico deve ser rigoroso, já que há uma perda da sensibilidade a insulina e diminuição da sua produção. Sangramentos podem estar aumentados por defeitos na coagulação e da agregabilidade plaquetária, decorrentes da baixa temperatura e facilitados por ação medicamentosa. Vigilância infecciosa deve ser instituída e na ausência de foco aparente, culturas devem ser obtidas na 12a hora. Quanto ao suporte respiratório, é importante salientar que a fim de viabilizar a ventilação mecânica o uso de sedativos e bloqueadores neuromusculares esta indicado. A orientação de manter estes últimos em infusão continua ou intermitente ainda não está determinada. O clearence destas drogas encontra-se reduzido durante a hipotermia em até 30%. O surgimento de tremores é esperado como uma tentativa de reaquecimento e devem ser inibidos através do aumento da sedação ou por meio do uso de bloqueadores neuromusculares. Mioclonias e convulsões devem ser prontamente identificadas e tratadas. O diagnóstico diferencial deve ser feito com eletroencefalograma e se possível manter a análise contínua. Não há evidência para sustentar o uso preventivo de anticonvulsivantes.1,3,18,29 Reaquecimento Ao término das 24 horas da TCT o reaquecimento poderá ser iniciado. Os métodos usados durante a fase de manutenção devem ser lentamente removidos considerando que a faixa de reaquecimento ideal deve contemplar um aumento de 0,25 a 0,5ºC por hora. A vasodilatação súbita pode desencadear hipotensão com a necessidade do uso de soluções endovenosas para sua reversão. As suplementações de potássio devem ser descontinuadas e um rigoroso controle da glicemia capilar deve ser estabelecido naqueles em uso de insulina. O controle da temperatura rigoroso deve se estender por ao menos 72 horas do evento para a prevenção ativa da ocorrência de febre.15,18 ESTADO ATUAL DA TCT Dúvidas existem em relação à seleção de pacientes que possam se beneficiar da TCT, qual o momento ideal para seu inicio e por quanto tempo devem ser mantidas as medidas da TCT. Estes questionamentos foram abordados na publicação do comitê executivo da American Heart Association em se- 31 32 tembro de 2015 e reproduzidos na publicação do Conselho Europeu para cuidados pós-ressuscitação.3 Após cuidadosa análise de estudos multicêntricos, alguns pontos devem ser salientados: • O uso de hipotermia atua como supressor das vias facilitadoras da morte cerebral e da apoptose; • Há uma diminuição de 6% na taxa de metabolismo cerebral de oxigênio na redução da temperatura corpórea a cada 1°C; • Há evidência de uma diminuição dos radicais livres durante o controle da temperatura; • Há um bloqueio à ação intracelular da exposição às exitotoxinas (acionadas pelo aumento do cálcio e do glutamato) reduzindo a resposta inflamatória na síndrome pós-PCR. As orientações divulgadas através do The Advanced Life Support Task Force of the International Liaison Committee on Resuscitation se resumem: • O termo “terapia do controle da temperatura” passou a ser preferível ao termo “hipotermia terapêutica” anteriormente empregado. • Manter uma faixa de 32 a 36°C quando o controle da temperatura for indicado. • Em algumas subpopulações, o benefício associado a baixas temperaturas com faixas de 32 a 34°C ou a temperaturas mais elevadas de 36°C, permanece incerto e novos estudos devem ser analisados. • Recomenda-se o controle da temperatura para os adultos sobreviventes de PCR extra-hospitalar com ritmo inicial FV/TV e que permanecem em coma após o RCE. • Sugere-se o controle da temperatura para os adultos sobreviventes de PCR extra-hospitalar com ritmo inicial não chocável e que permaneçam em coma após o RCE. • Sugere-se o controle da temperatura para os adultos sobreviventes de PCR intra-hospitalar em qualquer ritmo inicial e que permaneçam arresponsivos após o RCE. • Se o controle da temperatura for iniciado, sugere-se mantê-lo 24 horas. PERSPECTIVAS A divulgação do conhecimento ao público favorecendo o reconhecimento das situações de PCR e da necessidade do início das manobras de RCP, associados a estruturas que ofereçam atendimento rápido, trouxe melhora da sobrevida e qualidade de vida aos pacientes que evoluíram com RCE. Apesar disto na prática, a partir dos critérios de inclusão fica evidente que o número de pacientes elegíveis para TCT é significativamente inferior ao total dos admitidos pós-PCR nos serviços de emergência. A terapia do controle da temperatura certamente é um dos tópicos que deverá ocupar um maior espaço no tratamento de pacientes sobreviventes a PCR. A valorização de um parâmetro simples: a temperatura corpórea deve ser incorporada nos cuidados médicos a pacientes críticos pós-PCR cujas altas taxas de mortalidade buscamos reduzir. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 1. 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Intensive Care Med. 2004;30(5):757-69. 33 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):27-33 revisão/review Terapia dialítica no paciente cardiopata Dialysis therapy in patients with heart disease Resumo Celso Amodeo¹ Antonio Carlos Cordeiro¹ Saulo Barbosa Vasconcelos de Alencar² 1. Seção de Hipertensão e Nefrologia – Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP. 2. Real Hospital Português de Beneficência em Pernambuco. Correspondência: Rua das Gardêneas, 22, São Paulo, SP. Cep 04047-010. [email protected] A otimização das medidas para controle volêmico tem papel preponderante na abordagem de pacientes com disfunção cardíaca e renal combinada, uma vez que alterações crônicas ou agudas em um desses órgãos, em geral, induzem ou perpetuam anormalidades (funcionais e/ou estruturais) no outro. Esta revisão de literatura propõe uma análise sobre as principais medidas terapêuticas no cardiopata com disfunção renal. Descritores: Síndrome Cardiorrenal; Revisão; Terapêutica. Abstract Optimizing the methods used in the control of volemia is very important in the treatment of patients with combined heart and renal dysfunction, as chronic or acute changes in either of these organs generally induces or perpetuates abnormalities (functional and/or structural) in the other. This literature review analyzes the main therapeutic methods used in heart disease with renal dysfunction. Descriptors: Cardio-Renal Syndrome; Review; Therapeutics. 34 Introdução A presença de disfunção cardíaca e renal combinadas é relativamente comum nas unidades de terapia intensiva, uma vez que alterações crônicas ou agudas em um desses órgãos, em geral, induzem ou perpetuam anormalidades (funcionais e/ ou estruturais) do outro; sendo esta a base fisiológica de uma entidade clínica denominada síndrome cardiorrenal (SCR).1,2 Pacientes com SCR são classificados, de acordo com o mecanismo básico de início da síndrome, em 4 tipos:1 • SCR tipo I: Insuficiência cardíaca (IC) aguda levando à lesão renal aguda (LRA). • SCR tipo II: IC crônica levando à doença renal crônica (DRC). • SCR tipo III: LRA levando à IC aguda. • SCR tipo IV: DRC levando à IC crônica. A incidência da síndrome cardiorrenal é bastante elevada nos doentes internados por insuficiência cardíaca, estimando-se que 25 a 33% destes pacientes venham a desenvolvê-la,3,4 o que além de aumentar significativamente o custo da internação também tem importante impacto prognóstico nesta população.2 Dentro deste contexto, a mortalidade de pacientes com SCR que desenvolvem choque cardiogênico varia de 50 a 80% em diferentes estudos5,6 e é interessante ressaltar que o risco de morte associado à SCR é maior que o projetado para pacientes que desenvolvem insuficiência renal ou cardíaca isoladamente.2 Uma metanálise que avaliou 16 estudos, num total de 80.098 pacientes com IC, evidenciou que a mortalidade em um ano variou de 26% nos pacientes sem comprometimento renal para 42% naqueles com algum grau de disfunção renal e 51% nos pacientes com insuficiência renal moderada a grave.7 Neste estudo, a piora da função renal se associou a um aumento de 47% no risco de morte, calculando-se que para cada elevação de 1 mg/dL na creatinina sérica havia um aumento de 33% na mortalidade.7 A hipervolemia é extremamente prevalente em portadores de insuficiência cardíaca,8 mesmo naqueles aparentemente euvolêmicos,9 e impacta negativamente o prognóstico destes pacientes, além disso, é agravada sobremaneira pelo desenvolvimento da disfunção renal. Desta forma, a otimização das medidas para controle volêmico tem papel preponderante na abordagem desta população. Estas medidas incluem desde o uso adequado de diuréticos até a utilização das diferentes modalidades de terapia dialítica, foco da presente revisão de literatura. Ultrafiltração A sobrecarga de volume e os sintomas congestivos são algumas das maiores dificuldades no manejo de pacientes com SCR aguda e crônica. Em doentes com refratariedade ao tratamento com diuréticos, a ultrafiltração é uma estratégia alternativa para auxiliar no controle volêmico. Uma vantagem teórica deste método é a remoção de líquido em taxa controlada, que geralmente não deve ultrapassar 15ml/kg/min, com o intuito de permitir a retirada de líquido do espaço intravascular de modo que haja equilíbrio com o extravascular. Dessa maneira, pode-se evitar ativação neuro-humoral, cujo impacto é negativo tanto na doença Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):34-8 Terapia dialítica no paciente cardiopata renal quanto cardíaca. Outro benefício é a menor indução de distúrbios hidroeletrolíticos, como hipocalemia, hipernatremia e hipomagnesemia, além de permitir maior remoção de sódio, tendo em vista que o ultrafiltrado é isotônico em relação ao plasma, enquanto que a urina é habitualmente hipotônica quando do uso de diuréticos.10 Em geral, nas unidades de terapia intensiva, quando se deseja realizar apenas a redução volêmica, emprega-se a ultrafiltração contínua lenta (SCUF). O método consiste em conduzir o sangue por meio de acesso venoso para circuito extracorpóreo, removendo-se líquido por meio de gradiente pressórico (hidrostático) entre o sangue e uma membrana semipermeável. A SCUF não prevê o clearance de solutos e, portanto, não utiliza soluções de diálise ou reposição.11 Diversos estudos têm sido realizados para avaliar o uso de ultrafiltração para controle volêmico na IC. Em 2005 foi publicado o RAPID-CHF, em que 40 pacientes com IC descompensada foram randomizados para tratamento usual ou sessão de ultrafiltração com 8 horas de duração. O volume removido após 24 horas foi maior no grupo submetido à ultrafiltração, tendo havido, também, tendência a maior perda de peso neste grupo.12 Resultados semelhantes foram observados no estudo UNLOAD, em que 200 pacientes com IC descompensada foram randomizados para ultrafiltração ou diuréticos intravenosos, sendo observada maior perda de peso e remoção de líquidos no grupo submetido à ultrafiltração após 48 horas de tratamento; adicionalmente, a necessidade de reinternações por IC em 90 dias também foi menor neste grupo. Com relação à mortalidade, não houve diferença significante entre os grupos.13 Críticas frequentes a estes estudos são não focar especificamente em doentes com síndrome cardiorrenal e a terapia farmacológica não escalonada. Neste contexto, o CARRESS-HF randomizou 188 pacientes com IC descompensada e LRA (definida como o aumento ≥ 0,3mg/dL na creatinina sérica em relação ao basal) e congestão persistente para receber terapia farmacológica escalonada ou ultrafiltração. Ao final de 96 horas houve uma piora discreta, mas significante na creatinina sérica no grupo ultrafiltração, sem diferença significativa na perda de peso. Além disso, houve maior frequência de eventos adversos graves, decorrentes principalmente de sangramento e complicações relacionadas ao cateter nos pacientes submetidos à ultrafiltração.14 Apesar de induzir perda de peso e melhora em parâmetros hemodinâmicos como pressão venosa central e índice cardíaco em pacientes com IC, a utilização da SCUF é associada ao risco mais elevado de conversão para TRS e mortalidade intra-hospitalar nos doentes refratários ao tratamento medicamentoso para controle volêmico, o que provavelmente reflete a gravidade da doença cardíaca.15 Em resumo, o uso de ultrafiltração para controle volêmico em contexto de IC descompensada é efetivo, entretanto não existe forte evidência que seu uso resulte em melhores resultados que aqueles obtidos com tratamento farmacológico otimizado. Visto que pode se associar a maior taxa de complicações relacionadas ao acesso venoso, desenvolvimento de lesão renal aguda e maior custo, deve ser encarada como ferramenta terapêutica de resgate naqueles doentes refratários a uso de diuréticos em doses otimizadas. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):34-8 Terapia hemodialítica Métodos contínuos Devido à alta incidência de LRA em pacientes admitidos com IC descompensada,16 frequentemente se faz necessário, além do controle volêmico, o controle metabólico. Desta forma, a realização de ultrafiltração exclusiva não é suficiente, sendo necessário o emprego de modalidades que proporcionem, também, o clearance de solutos. Os métodos terapia renal substitutiva (TRS) podem ser classificados em intermitentes ou contínuos. Apesar de seu impacto na mortalidade de doentes com LRA ser discutível, os métodos contínuos têm sido a forma de TRS mais frequentemente recomendada e utilizada para doentes instáveis hemodinamicamente,17,18 pois proporcionam a remoção hídrica mais lenta, o que se associa a maior pressão arterial média e provavelmente menor evolução para doença renal crônica que as modalidades convencional e estendida.19 Outro possível benefício das terapias contínuas é o uso do clearance convectivo, em que moléculas maiores são removidas, sendo sugerido que esse pode ser um dos mecanismos associados à melhora hemodinâmica ocasionalmente observada nessa modalidade. Em cardiopatas, existe descrição de melhora da responsividade a diuréticos após sessões de hemodiafiltração, que pode estar relacionada à redução dos níveis de citocinas inflamatórias, como a interleucina-8 e a MCP-1 (monocyte chemoattractant protein-1) nestes pacientes.20 A seleção do método, entretanto, deverá ser sempre individualizada, observando-se as características do paciente. A dose de efluente a ser oferecida nas terapias substitutivas contínuas deve ser de 20 a 25 ml/kg/h, levando-se em conta que é comum haver perda de 20% entre as doses prescrita e ofertada. Para anticoagulação do sistema extracorpóreo, é possível se usar heparina ou citrato regional, sendo que o uso do citrato tem as vantagens de permitir a realização de procedimentos invasivos, já que não leva a anticoagulação sistêmica, e aumentar a sobrevida da membrana usada na terapia.18 Alguns fatores são associados a piores desfechos nos doentes com IC que necessitam de terapia dialítica. A gravidade da LRA por si é marcador de pior prognóstico nos doentes com SCR tipo 1. No estudo de Patarroyo, quando apenas ultrafiltração contínua foi empregada para controle volêmico, a mortalidade intra-hospitalar observada foi de 12%, entretanto quando houve disfunção renal com necessidade de conversão para diálise contínua no curso da ultrafiltração, a mortalidade aumentou para 43%.15 O perfil hemodinâmico do paciente no início da terapia dialítica também tem impacto no prognóstico. Em estudo envolvendo 37 doentes com SCR tipo I em uso de vasopressor e/ou inotrópico e indicação de diálise contínua por piora de função renal, foi observada mortalidade de 62% e sobrevida média de 15,5 dias após início da terapia dialítica. Piora hemodinâmica foi comum nestes indivíduos, sendo necessário o aumento da dose de vasopressor em 68% dos doentes para induzir balanço hídrico negativo. Após correção de fatores de confusão, maior mortalidade foi descrita em quem precisou de vasopressor após o início da terapia contínua.21 35 36 O tratamento substitutivo renal de pacientes com IC descompensada e lesão renal aguda que evoluem com choque cardiogênico tem sido questionado, dada à alta mortalidade destes doentes, que pode chegar a 88% quando há a necessidade de uso de inotrópicos e vasopressores em contexto de terapia dialítica.21 Alguns autores sugerem que em caso de choque cardiogênico e lesão renal aguda grave, o tratamento substitutivo renal seja oferecido apenas quando terapia definitiva, como transplante cardíaco, está sendo planejada. Nestas situações, o uso de ECMO (Extracorporeal Membrane Oxygenation) vem aumentando como suporte hemodinâmico no choque cardiogênico, como em doentes com miocardites e em pós-operatório de cirurgia cardíaca, com relatos de sobrevida de 20 a 50% nestas situações. A incidência de LRA nesse grupo de doentes é em torno de 70-85%22,23 e a necessidade de TSR chega a 60% dos doentes.24 A associação entre ECMO e terapia contínua foi recentemente avaliada em revisão sistemática incluindo 19 estudos. Os doentes em ECMO que precisaram de tratamento substitutivo renal tiveram uma mortalidade intra-hospitalar quase seis vezes maior que aqueles que estiveram apenas em ECMO. Entre os sobreviventes que realizaram os dois procedimentos, observou-se um menor balanço hídrico acumulado e taxa de recuperação de função renal sem necessidade de manutenção de diálise após a alta hospitalar superior a 90%.25 Os diferentes métodos disponíveis se diferenciam pelos mecanismos de clearance empregados, conforme descrito abaixo: 1. Hemodiálise venovenosa contínua (CVVHD): Baseia-se no mecanismo de clearance por difusão e consiste na infusão da solução de diálise em mecanismo de contra-corrente com o sangue do paciente. Desta forma, o movimento de solutos através da membrana dialítica é guiado pela diferença de concentração dos mesmos entre o sangue e a solução de diálise.11 2. Hemofiltração venovenosa contíua (CVVH): Esta técnica se baseia no mecanismo de clearance por convecção e consiste na remoção de grandes quantidades de água através de um gradiente de pressão transmembrana (PTM). A água removida, leva consigo os solutos a serem depurados. O ultrafiltrado é substituído por uma solução de reposição que pode ser infundida na linha de influxo (pré-diluição) ou na linha de fluxo de saída do hemofiltro (pós-diluição).11 3. Hemodiafiltração venovenosa contínua (CVVHDF): É a modalidade de terapia que associa os mecanismos de clearance por difusão e convecção no mesmo procedimento, utilizando ao mesmo tempo as soluções de diálise e de reposição.11 Métodos híbridos Apesar dos benefícios dos métodos contínuos em paciente instáveis hemodinamicamente, algumas peculiaridades do método como a necessidade de anticoagulação contínua, enfermagem especializada e o alto custo envolvido para sua realização inviabilizam sua aplicação em vários centros. Nesse contexto, desde a década de 1990, adaptações das máquinas de hemodiálise convencionais para métodos “semicontínuos” vêm sendo descritas, visando agregar a estabilidade cardiovascular e o clearance efetivo das terapias contínuas com as facilidades operacionais e custos reduzidos das terapias intermitentes.26 Na literatura, descrevem-se os seguintes métodos híbridos: 1. Hemodiálise diária estendida (EDD): Modalidade que estende a terapia dialítica a períodos maiores do que a hemodiálise convencional (em geral 6 a 8 horas), utilizando, também, fluxos de sangue e solução de diálise mais baixos (respectivamente 200 ml/min e 300 ml/min).11 2. Hemodiálise estendida de baixa eficiência (SLED): O tempo de tratamento é mais longo que o da EDD (6 a 12h) e o fluxo de sangue mais lento (50 a 200 ml/min), visando reduzir a taxa de ultrafiltração e a eficiência de remoção de solutos, com o objetivo, respectivamente, de otimizar o controle hemodinâmico e minimizar o desequilíbrio eletrolítico/metabólico.11 Diálise peritoneal Nesta modalidade dialítica, as trocas são feitas entre o sangue contido nos capilares peritoneais e a solução de diálise infundida na cavidade peritoneal. As trocas ocorrem entre os capilares peritoneais e a solução de diálise, simultaneamente, por dois mecanismos distintos: difusão (guiada pelo gradiente de concentração entre o sangue e a solução de diálise) e ultrafiltração (guiada pelo gradiente osmótico, neste caso, determinado pela concentração de glicose da solução de diálise).27 A ultrafiltração também pode ser promovida por gradiente coloidosmótico, quando em vez da glicose é empregado um polímero de glicose com elevado peso molecular, a icodextrina.27 O primeiro registro do emprego da diálise peritoneal (DP) para tratamento de paciente cardiopata com hiepervolemia refratária data da década de 40,28 desde então uma série de estudos tem demonstrado os benefícios da DP no tratamento de pacientes com IC. Levando-se em consideração a fisiopatologia síndrome cardiorrenal, utilização da DP é particularmente atrativa em pacientes com o tipo 2.29,30 Nesta população, o ponto de partida da disfunção é a redução no débito cardíaco, levando a três alterações principais: a queda no volume sanguíneo efetivo, congestão venosa e ativação neuro-humoral (ativação simpática, ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e aumento da liberação de arginina-vasopressina). A ativação neuro-humoral resulta no desbalanço entre fatores vasodilatadores e vasoconstrictores que vão levar, em última instância, à vasoconstricção renal e aumento na reabsorção tubular proximal de sódio e água, contribuindo para o desenvolvimento da hipervolemia com consequente agravamento da IC e redução ainda maior do débito cardíaco. Além da piora na função cardíaca, a função renal se deteriora progressivamente, não apenas pela hipoperfusão, mas também pelo desenvolvimento de glomeruloesclerose e fibrose intersticial secundárias à ativação neuro-humoral.29 Os benefícios da DP em pacientes com IC têm origem multifatorial. Em primeiro lugar, a ultrafiltração contínua e lenta proporcionada pelo método reduz os riscos de episódios de hipotensão.30 Outro benefício vem do fato do mecanismo de ultrafiltração do método (no qual o ultrafiltrado vem dos Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):34-8 Terapia dialítica no paciente cardiopata microvasos peritoneais) ser mais próximo do fisiológico, expandindo a superfície vascular para trocas e reduzindo de forma mais efetiva o edema intersticial. Esta característica em particular vai de encontro a um importante princípio terapêutico na insuficiência cardíaca crônica, a redução da congestão venosa renal e central.30 O terceiro benefício viria dos efeitos metabólicos da DP, quais sejam, a absorção da glicose presente na solução de diálise e a correção da acidose, favorecendo a correção do estado nutricional e da anemia.31 Em quarto lugar, a remoção de toxinas e citocinas pró-inflamatórias pelo dialisato traria efeitos benéficos à função cardíaca.32 Por fim, por promover a UF mais lenta, a diálise peritoneal é capaz de preservar por mais tempo a função renal residual, uma vez que se associa ao menor risco de hipotensões e menor ativação simpática e do sistema renina-angiotensina-aldosterona.28 Apesar da teórica vantagem de DP em comparação à hemodiálise em pacientes com doença cardíaca, a questão é controversa, com alguns estudos evidenciando uma maior mortalidade em pacientes com IC submetidos à DP,33,34 contudo, há de ser ressaltado que estes estudos avaliaram pacientes com SCR tipo 4. Por outro lado, quando se avaliam os efeitos da DP em pacientes com SCR tipo 2 os resultados são diferentes, havendo farta evidência dos efeitos benéficos da diálise peritoneal nesta população, entre eles: a melhora da função cardíaca e da classe funcional (redução de 2 classes pela classificação da “New York Heart Association” em até 65% dos pacientes),35,36 a redução no número de hospitalizações,37-39 a redução na necessidade de diuréticos40 e a melhora na qualidade de vida.35,41,42 As principais modalidades de DP são: 1. Diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD): Caracte- riza-se pela infusão e drenagem manuais da solução de diálise na cavidade peritoneal. Habitualmente são realizadas três trocas diurnas com permanência de 5 a 6 horas e uma troca noturna com permanência de 6 a 8 horas.27 2. Diálise peritoneal automatizada (APD): Caracteriza-se pela infusão e drenagem automáticas, através de máquina cicladora acoplada ao cateter peritoneal. Em geral são realizadas de três a seis trocas no período da noite, enquanto o paciente dorme. Os tipos mais empregados de DPA são: 3. Diálise peritoneal cíclica contínua (CCPD): Três a seis trocas noturnas, mantendo-se solução de diálise na cavidade peritoneal durante o dia.27 4. Diálise peritoneal intermitente noturna (NIPD): Três a seis trocas noturnas, como na DPCC, porém com a cavidade peritoneal vazia durante o dia.27 5. Diálise Peritoneal de Alto Volume (HVPD): Caracteriza-se por sessões que duram 24 horas, havendo grande número de trocas de solução de diálise em cada sessão (entre 18 e 22 trocas com um volume de dialisato aproximado de 36 a 44 litros) e tempo de permanência de cada bolsa na cavidade peritoneal variando entre 35 e 50 minutos, sendo realizada na maioria das vezes por meio de cicladora. Esta modalidade tem o objetivo de obter um clearance aumentado de pequenos solutos e é geralmente empregada em pacientes com lesão renal aguda43. 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[email protected] A congestão pulmonar aguda no paciente com doença cardíaca é uma manifestação clínica de extrema gravidade, ocorrendo em aproximadamente 25% dos casos de insuficiência cardíaca aguda. O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado na anamnese e exame físico. Os exames complementares não devem retardar o início do tratamento na sala de emergência. Descontrole pressórico, progressão da doença valvar, infarto do miocárdio e arritmias são fatores desencadeantes frequentes para edema agudo de pulmão. O tratamento inicial fundamenta-se na suplementação de oxigênio e suporte ventilatório, administração de opioides, diuréticos e vasodilatadores endovenosos. Inotrópicos estão indicados na presença de instabilidade hemodinâmica com disfunção orgânica. Descritores: Edema Pulmonar; Insuficiência Cardíaca; Dispneia. Abstract Acute pulmonary congestion in patients with cardiac disease is a clinical manifestation of extreme severity, occurring in approximately 25% of cases of acute heart failure. Diagnosis is essentially clinical, based on history and physical examination. Complementary tests should not delay the start of treatment in the emergency room. Uncontrolled blood pressure, progression of valvular disease, myocardial infarction, and arrhythmias are common triggers for acute pulmonary edema. Initial treatment is based on supplemental oxygen and ventilatory support, administration of opioids, intravenous diuretics, and vasodilators. Inotropic agents are indicated in the presence of hemodynamic instability with organ dysfunction. Descriptors: Pulmonary Edema; Heart Failure; Dyspnea . INTRODUÇÃO A congestão pulmonar aguda ou edema agudo pulmonar é caracterizada pelo aumento anormal de líquido extravascular nos pulmões decorrente do movimento de fluidos do intravascular para o interstício e alvéolos. É uma situação clínica de extrema gravidade, que requer definição diagnóstica rápida, para uma conduta terapêutica de emergência, caso contrário, ocorre deterioração clínica progressiva do paciente e mesmo evolução para morte imediata. Pode se apresentar no paciente já previamente cardiopata ou que desenvolve um quadro de comprometimento agudo do coração, mas também está presente como complicação cardíaca por disfunção ventricular esquerda nos quadros infecciosos com importante resposta inflamatória sistêmica. Na insuficiência cardíaca aguda, o edema agudo pulmonar está presente como a principal manifestação clínica em aproximadamente 25% dos casos.1 Após o entendimento básico dos aspectos fisiopatolóRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):39-45 gicos, procuraremos abordar os itens fundamentais para o diagnóstico e terapêutica desta situação clínica. FISIOPATOLOGIA O espaço intersticial interposto entre alvéolos e capilares, é formado por tecido conectivo que envolve os bronquíolos terminais, arteríolas e vênulas e apresenta vasos linfáticos cuja função é remover fluidos e solutos provenientes do espaço intravascular.2 Com o aumento da pressão hidrostática capilar (para valores acima de 25 mmHg) decorrente principalmente da insuficiência ventricular esquerda aguda, ocorre a filtração de fluidos e proteínas através do endotélio da microcirculação até o interstício. Nestas circunstâncias, a precária drenagem linfática, leva ao edema intersticial pulmonar. Em situações em que a pressão oncótica intravascular é reduzida, pode ocorrer extravasamento de fluidos para o interstício com pressões hidrostáticas mais baixas. A presença de líquido extravascular determina alte- 39 rações na relação ventilação/perfusão dos pulmões consequente ao aparecimento de áreas perfundidas, mas hipoventiladas, levando à hipoxemia. A estimulação dos receptores “J” no interstício pulmonar, leva a taquipneia com redução da pCO2 arterial. O aumento da frequência respiratória leva à exaustão física e pode ocorrer hipoventilação com retenção de CO2.2 ETIOLOGIA E FATORES DESENCADEANTES 40 No cardiopata, a congestão pulmonar é decorrente da sobrecarga pressórica do átrio esquerdo e a consequente elevação da pressão hidrostática capilar pulmonar com extravasamento para o interstício e alvéolos pulmonares. Quadros infecciosos, não exclusivamente nos pulmões, com evolução ou não para sepse, podem alterar a permeabilidade capilar pulmonar e, só esse fenômeno, pode resultar em congestão aguda. Naturalmente, ocorrendo no cardiopata, a infecção pode se constituir num cofator para o quadro de congestão pulmonar. Outra ocorrência não infrequente é a hiperexpansão volêmica no portador de cardiopatia que está no limite da hipertensão venocapilar por dificuldade de esvaziamento do átrio esquerdo, muito comum no idoso com complacência prejudicada do ventrículo esquerdo. Entre as causas mais frequentes de congestão pulmonar aguda incluem-se as síndromes isquêmicas miocárdicas agudas, particularmente o infarto agudo do miocárdio em que o edema agudo pulmonar pode ser a primeira manifestação clínica em 10 a 20% dos casos. Na hipertensão arterial o quadro de congestão pulmonar aguda caracteriza uma emergência hipertensiva. Entre as miocardiopatias destaca-se a miocardite aguda como causa de edema agudo pulmonar. As valvopatias, particularmente as estenoses, mitral e aórtica e também as taquiarritmias ou bradiarritmias podem desencadear congestão pulmonar aguda. O “flash” edema agudo pulmonar é uma forma característica de congestão pulmonar manifesta de forma súbita por aumento rápido e importante da pressão de enchimento diastólico do ventrículo esquerdo. Constitui cerca de 3% das formas de apresentação clínica da insuficiência cardíaca aguda.1 Geralmente é secundário a uma isquemia aguda miocárdica com ou sem infarto, à insuficiência mitral aguda, à crise hipertensiva, à insuficiência aórtica aguda ou à cardiomiopatia de estresse (cardiomiopatia de Takotsubo). ABORDAGEM DIAGNÓSTICA Uma criteriosa avaliação clínica do paciente que apresenta um acentuado desconforto respiratório agudo, assim como a utilização de exames subsidiários de rápida e fácil realização a beira do leito e de baixo custo, propicia uma orientação diagnóstica segura na maioria dos pacientes. A identificação do principal mecanismo desencadeante do quadro de congestão pulmonar aguda facilita uma adequada intervenção terapêutica no atendimento inicial e estabelece a prioridade para a indicação de métodos propedêuticos mais complexos, buscando um diagnóstico definitivo.3 Habitualmente os pacientes encontram-se intensamente graves e a demora na instituição do tratamento pode trazer prejuízos bastante significativos. Assim, ao mesmo tempo em que se obtêm as informações, atitudes terapêuticas imediatas devem ser tomadas, como oxigenação e ventilação. Apresentação clínica Os pacientes apresentam-se habitualmente adotando uma postura de decúbito elevado ou mesmo sentado, com intenso desconforto respiratório, taquipneia, tosse seca que pode vir acompanhada de expectoração rósea espumosa. A saturação arterial de oxigênio neste momento apresenta-se abaixo de 90%.4 Exame físico No paciente com edema pulmonar agudo, apresentam-se com crepitações bilaterais, podendo estender-se até os ápices pulmonares. Aproximadamente um terço dos pacientes idosos com edema agudo de pulmão apresentam sibilos na ausculta, o que pode estar associado à hipercapnia embora não determine maior mortalidade.5 Uma acurada ausculta cardíaca pode mostrar: terceira bulha ou ritmo de galope, diagnosticando insuficiência miocárdica; e a presença de sopros, que pode revelar uma valvopatia crônica ou complicações mecânicas do infarto agudo do miocárdio, sugerindo uma insuficiência mitral aguda por ruptura ou disfunção de músculo papilar ou uma comunicação interventricular por ruptura do septo. Outros achados do exame físico direcionam o raciocínio, como a presença de estase jugular, que é importante sinal de insuficiência cardíaca congestiva. Exames Complementares A obtenção de informações através de exames subsidiários realizados à beira do leito e de algumas dosagens laboratoriais, enquanto se tomam as primeiras atitudes terapêuticas, contribuem muito para o diagnóstico e para a orientação do tratamento. Assim, com estes instrumentos e o raciocínio clínico desenvolvido pela anamnese e o exame físico, pode o médico socorrista prescindir, na maioria das vezes, de métodos mais complexos, de mais alto custo, e que podem ser realizados num momento de maior estabilidade do paciente. A obtenção dos sinais vitais, pressão arterial e frequência cardíaca, além da monitorização do ritmo cardíaco e ainda pela oximetria de pulso a saturação da oxihemoglobina (SatO2) no sangue arterial no início do atendimento, fornecem informações importantes para o diagnóstico de fatores desencadeantes e da repercussão da congestão pulmonar aguda. Exames Laboratoriais Bioquímica geral: Amostras sanguíneas devem ser obtidas para realização de alguns exames bioquímicos essenciais: como o hemograma para diagnóstico de infecção ou anemia, eletrólitos, glicemia, função renal e hepática, úteis para complementação da avaliação das condições clínicas gerais do paciente. Outros, como a gasometria arterial, marcadores de necrose miocárdica e o peptídeo natriurético do tipo B (BNP) podem contribuir para o diagnóstico. Marcadores de Necrose Miocárdica: A troponina e a Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):39-45 ABORDAGEM CLÍNICA DA CONGESTÃO PULMONAR AGUDA NO CARDIOPATA CK-MB massa, contribuem para o diagnóstico e prognóstico de uma síndrome coronária aguda particularmente o infarto agudo do miocárdio. Apresentam alta sensibilidade e especificidade nas dez horas subsequentes ao quadro clínico,6 No entanto, devem ser analisadas com cautela, apesar de ajudarem muito no diagnóstico dos quadros isquêmicos miocárdicos, vale lembrar que a elevação dos mesmos revela morte celular, não necessariamente por mecanismos isquêmicos secundários a aterosclerose coronária. Qualquer situação em que haja sofrimento do músculo cardíaco, incluindo tromboembolismo pulmonar, taquiarritmias, insuficiência cardíaca descompensada, ou até mesmo na sepse. BNP e NP-Pro BNP: O peptídeo natriurético do tipo B (BNP) foi isolado primeiramente no cérebro de macacos e por isso é também denominado peptídeo natriurético cerebral (Brain Natriuretic Peptide). O BNP e o NT-pro BNP são liberados de forma precoce e contínua na circulação em resposta ao aumento das pressões de enchimento e seus níveis sanguíneos aumentam em relação direta com a expansão de volume e a sobrecarga de pressão nos ventrículos cardíacos. Apesar de auxiliar no diagnóstico diferencial dos quadros de dispneia aguda, os peptídeos natriuréticos ainda não têm seu papel definido no diagnóstico sindrômico e etiológico do edema agudo pulmonar.4 Para definição de insuficiência cardíaca aguda são considerados valores de BNP acima de 400pg/mL. Quando se utiliza NT-pró BNP, acima de 1800 pg/mL para pacientes com 75 anos ou mais e acima de 900 pg/mL quando abaixo desta idade. O valor preditivo negativo é o ponto mais forte deste marcador, portanto, capaz de excluir as causas de origem cardíaca nos quadros de dispneia aguda, pelo menos as que cursam com hipervolemia e aumento das pressões de enchimento ventriculares. Nos testes rápidos, em que os resultados podem ser obtidos em 10 a 20 minutos, valores acima de 400pg/mL tornam muito provável a causa cardíaca da dispneia, ao passo que valores abaixo de 100pg/ mL praticamente a exclui. Valores intermediários requerem avaliação adicional.7 Contudo, o BNP possui algumas limitações e deve ser utilizado com cautela, considerando todo o conjunto de informações sobre o quadro clínico do paciente. Ema algumas situações clínicas os níveis de BNP podem estar acima de 500 pg/mL mesmo na ausência de disfunção de ventrículo esquerdo, entre elas incluem-se: sepse, insuficiência renal crônica, fibrilação atrial de alta frequência, hipertensão pulmonar, entre outras. Eletrocardiograma O eletrocardiograma, assim como a radiografia do tórax, é um exame que, realizado rapidamente à beira do leito, pode trazer informações importantes, para o diagnóstico etiológico, e mesmo para avaliação de fatores desencadeantes da congestão pulmonar aguda. A presença de alterações do segmento ST e da onda T, embora com baixa especificidade, pode sugerir ou confirmar a presença de uma síndrome isquêmica miocárdica aguada. Alterações crônicas, sugestivas de sobrecargas de câmaras, arritmias, como a fibrilação atrial, entre outras, podem revelar a presença de cardiopatia estrutural. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):39-45 Radiografia do tórax Os achados radiográficos na congestão pulmonar aguda podem variar, desde uma redistribuição da vascularização para os ápices pulmonares, até um infiltrado pulmonar intersticial bilateral extenso, associado a uma cardiomegalia. O achado mais característico de edema pulmonar agudo na radiografia de tórax é o infiltrado alveolar peri-hilar bilateral, constituindo a imagem típica de “asa de borboleta”. As chamadas linhas B de Kerley também são uma característica da congestão pulmonar. Ecodopplercardiograma O ecodopplercardiograma também realizado à beira do leito, num momento em que o paciente se encontre mais estável, pode ser um exame de grande importância no contexto clínico de um quadro de dispneia aguda em que o exame físico, o eletrocardiograma e o RX de tórax não são suficientes para sugerir o diagnóstico etiológico. Através da análise da função ventricular, das estruturas e dos fluxos cardíacos, podemos confirmar ou até mesmo excluir uma determinada doença. Nas síndromes isquêmicas miocárdicas agudas, as alterações segmentares da contratilidade do ventrículo esquerdo são os achados mais característicos. Vale ressaltar a alta concordância dos achados de disfunção ventricular através do ecocardiograma transtorácico quando comparados aos dados hemodinâmicos obtidos à beira do leito.8 Quando encontramos uma fração de ejeção abaixo de 40%, está claro o diagnóstico de congestão pulmonar aguda por insuficiência sistólica de VE. Com fração de ejeção normal, a causa do edema agudo pode ser por disfunção diastólica do VE ou por doença valvar. Cinecoronariografia Dados clínicos, evidências eletrocardiográficas e a presença de alterações contráteis segmentares de no ventrículo esquerdo no ecocardiograma, podem sugerir quadro isquêmico miocárdico agudo como causa de congestão pulmonar aguda. Nesta situação está indicada a realização de uma cinecoronariografia e planejamento do tratamento definitivo, de revascularização miocárdica ou manutenção do tratamento clínico. TRATAMENTO O foco do tratamento do edema agudo pulmonar deve ser direcionado para os seguintes objetivos:4,9 1. Ações de proteção: Monitorização, acesso venoso periférico, suplementação de oxigênio. 2. Redução da pré-carga (pressão venosa central); diuréticos/ultrafiltração/vasodilatadores. 3. Redução da pós-carga (resistência vascular periférica): vasodilatadores. 4. Suporte inotrópico nos casos de baixo débito. 5. Suporte ventilatório (quando não se consegue manter oxigenação adequada). Oxigenação e Ventilação Oxigênio úmido deve ser instituído por cateter ou máscaras nasais assim que o paciente é admitido no serviço de emergência. A finalidade é corrigir a hipoxemia que acom- 41 panha os quadros de congestão pulmonar aguda e manter uma saturação adequada de O2c arterial. Nas situações mais graves quando não se obtém sucesso só com a oxigenação por cateter, deve-se proceder à assistência ventilatória não invasiva com máscaras especiais que permitem a manutenção de pressão positiva em vias aéreas (CPAP-continuous positive airway pressure). A ventilação não invasiva permite redução do trabalho respiratório, e da congestão pulmonar, mantem pérvias as vias aéreas que correm o risco de colabar pelo excesso de líquido melhorando as trocas gasosas. Em extensa revisão de 31 estudos, que incluiu 2916 pacientes, Vital e colaboradores, concluíram que em pacientes com edema agudo pulmonar, a utilização de assistência ventilatória não invasiva associada à terapia padrão, reduziu de forma significativa a mortalidade e a necessidade de intubação endotraqueal, com consequente redução nos tempos de permanência em UTI e no hospital.10 Naturalmente, se ocorrer exaustão por aumento acentuado do trabalho respiratório ou intolerância ao CPAP, é preciso proceder à intubação endotraqueal do paciente e instalação de assistência ventilatória invasiva. Morfina 42 A morfina atua nos receptores opioides do sistema nervoso central produzindo sedação e analgesia, além de apresentar efeito ansiolítico. O conjunto destas ações produz redução da atividade do sistema nervoso simpático e consequente diminuição da pressão arterial, frequência cardíaca e pressões de enchimento ventriculares. Este último é o principal benefício da droga em pacientes com congestão pulmonar.11 Apesar do efeito vasodilatador, descrito na literatura como potencial benefício do uso de morfina em paciente com insuficiência cardíaca descompensada, os trabalhos envolvem um número pequeno de pacientes e tem resultados controversos.12 Recomendam-se a administração de bolus intravenoso de 2,5 a 5 mg assim que o acesso periférico for obtido. Estas doses podem ser repetidas conforme necessidade, tolerabilidade e evolução do paciente. Atentar para situações em que este fármaco deve ser utilizado com cautela, ou mesmo evitado, como na presença de hipotensão ou depressão respiratória.13,14 O maior estudo até o momento envolvendo a administração de morfina e edema agudo de pulmão é uma análise retrospectiva com mais de 147.000 pacientes internados por insuficiência cardíaca descompensa nos Estados Unidos. Peacock e colaboradores verificaram que, a administração de morfina foi um fator independente para aumento de mortalidade [OR = 4,84 IC (95%: 4,52 - 5,18; p <0,001)]. Também foi encontrada associação significativa da administração deste fármaco com aumento da frequência de admissão em unidade crítica, necessidade de intubação orotraqueal e internações mais prolongadas.15 Outros estudos de menor porte publicados posteriormente, apesar de demonstrarem deterioração clínica dos pacientes após administração de morfina, não encontraram associação significativa entre o medicamento e mortalidade.16 Apesar de ainda recomendada para pacientes com edema agudo de pulmão, há necessidade de novos estudos prospectivos que possam afastar as dúvidas que existem quanto aos benefícios e risco de morte, atribuídos a morfina nos últimos anos.17 Diuréticos A sobrecarga de volume é um dos pontos centrais da fisiopatologia na maioria dos episódios de insuficiência cardíaca descompensada. Assim, o alívio da congestão pulmonar e dos sintomas relacionados a ela dependem, fortemente, da terapia diurética.18 Os diuréticos de alça têm destaque, em detrimento dos demais, pois produzem significativamente mais natriurese, mesmo em pacientes com clearance de creatina reduzido. Agem inibindo o cotransportador Na+/K+/2Cl- no segmento espesso da alça ascendente de Henle, diminuindo a reabsorção de sódio e promovendo natriurese. Também induzem a síntese de prostaglandinas, resultando em relaxamento da musculatura lisa vascular, produzindo venodilatação.19,20 A furosemida é o diurético de alça mais comumente utilizado no cardiopata com congestão pulmonar aguda. Inicialmente, é utilizada na dose de 1 mg/kg por via endovenosa e tipicamente resulta em rápido efeito diurético (em torno de 30 minutos), levando a diminuição das pressões de enchimento ventriculares e melhora dos sintomas na maioria dos pacientes com insuficiência cardíaca descompensada.21 Até hoje prosperam dúvidas, quanto à administração de altas doses de diurético de alça. Estudos observacionais demonstraram no passado associação com insuficiência renal, progressão da insuficiência cardíaca e morte. O que ocorre é a controvérsia entre um efeito deletério do diurético sobre a doença cardíaca versus a necessidade progressiva no aumento da dose, devido à piora da cardiopatia.22 Além de dúvidas sobre a dose, há incerteza sobre o melhor modo de administração. Pequenos estudos sugeriram que existem potenciais benefícios da infusão contínua, em comparação aos bolus intermitentes, com base, principalmente, nas propiedades farmacodinâmicas e farmacocinética dos diuréticos de alça.23 O estudo propectivo e randomizado DOSE (Diuretic Optimization Strategies Evaluation) comparou a administração de furosemida intravenosa em bolus contra infusão contínua, bem como altas doses versus baixa dose. Não foram encontradas diferenças significativas quanto à forma de administração (bolus versus infusão contínua) e dose (alta versus baixa). A estratégia de alta dose foi associada a uma maior diurese e resultados mais favoráveis em algumas variáveis secundárias, porém, com piora transitória da função renal.24 O inconveniente envolvendo o uso crônico de diuréticos de alça, no tratamento da insuficiência cardíaca ao longo do tempo, é a resistência desenvolvida a terapia, o que produz a necessidade de doses cada vez mais altas. Há adaptações funcionais e estruturais do néfron que resultam em uma maior reabsorção de sódio e consequente redução do efeito natriurético. Neste caso, a administração de furosemida em infusão contínua, em lugar de bolus intermitentes, ou, a adição de um diurético tiazídico, podem ser estratégias eficazes.18,19 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):39-45 ABORDAGEM CLÍNICA DA CONGESTÃO PULMONAR AGUDA NO CARDIOPATA Ultrafiltração Vasodilatadores Em alguns casos, a administração de diurético por via endovenosa, em pacientes com insuficiência cardíaca descompensada, pode contribuir diretamente para piora da função renal.25 Neste contexto, Jaski e colaboradores apresentaram um sistema de ultrafiltração veno-venosa (UF), que consiste na inserção de dois cateteres venosos de 16 a 18 G nos membros superiores, permitindo a remoção de até 2,6 litros de volume em menos de oito horas, sem maiores problemas, em 21 de 26 sessões.26 O estudo UNLOAD randomizou 200 pacientes com insuficiência cardíaca descompensada (disfunção renal grave e instabilidade hemodinâmica foram critérios de exclusão) para receber diurético endovenoso ou UF em até 24 horas da admissão. O grupo submetido à UF perdeu uma quantidade maior de volume e consequentemente peso em 48 horas, sem alterações significativas na pressão arterial ou níveis de creatinina sérica. Houve também, uma redução de 53% no risco de re-hospitalização.27 Os resultados positivos do UNLOAD alavancaram ainda mais a utilização da ultrafiltração, a ponto de muitos defendê-la como terapia de primeira linha em detrimento dos diuréticos. Pacientes com pressão arterial sistólica abaixo de 90 mmHg ou, necessidade de droga vasoativa, foram excluídos, exatamente um grupo com potencial de maior risco para UF. Também foi questionado o motivo de pacientes receberem uma dose menor de diuréticos do que a planejada inicialmente. E, apesar de não significativo, houve uma tendência à elevação dos níveis de escórias em pacientes submetidos a ultrafiltração.28 O estudo multicêntrico CARRESS-HF recrutou indivíduos com insuficiência cardíaca descompensada e congestão pulmonar apesar do tratamento convencional, e os randomizou para receberem tratamento diurético ou ultrafiltração de resgate. Os pacientes submetidos à UF, não só tiveram uma perda de peso menor que o outro grupo, como também apresentaram um aumento significativo dos níveis séricos de creatinina e eventos adversos graves como sepse, levando a interrupção do estudo após os primeiros 188 pacientes incluídos.29 Muitas dúvidas são levantadas quanto ao estudo; os pacientes do grupo UF foram privados do uso de vasodilatadores e inotrópicos; também não puderam personalizar a taxa de UF (fixa em 200 ml/h), diferentemente daqueles que receberam terapia diurética, nos quais a dose e o intervalo de administração puderam ser ajustados conforme a evolução. Além disso, a perda de peso no primeiro dia foi mais acentuada no grupo UF, o que pode justificar o aumento dos níveis de creatinina sérica.28 A maioria dos estudos publicados posteriormente apresentam resultados conflitantes e têm deficiências graves (pequeno número de pacientes, curto seguimento, falta de uniformidade das amostras, protocolos diferentes de ultrafiltração ou terapia diurética não convencional) limitando a aplicabilidade de seus achados.28 As diretrizes europeias de 2012, sugerem a utilização de ultrafiltração apenas para pacientes com insuficiência cardíaca e congestão pulmonar que não respondem a terapia diurética ou que apresentam resistência a esses fármacos.13 Já, nas diretrizes norte-americanas de 2013 para insuficiência cardíaca, a UF pode ser considerada para pacientes com óbvia sobrecarga de volume (IIb B) ou com congestão pulmonar refratária as medidas habituais (IIb C).14 A maioria dos vasodilatadores atuam via guanosina monofosfato cíclica (cGMP), resultando em aumento do cálcio intracelular, relaxamento da musculatura lisa vascular e consequente vasodilatação, promovendo redução da pré e pós carga e melhora da contratilidade ventricular.30 A nitroglicerina e o nitroprussiato de sódio são usados há mais de 30 anos em pacientes com insuficiência cardíaca descompensada; na última década o nesiritide foi acrescentado como opção a terapêutica.30 As diretrizes europeias de 2012 e as norte-americanas de 2013, assim também como as diretrizes nacionais, orientam para o uso de vasodilatadores na insuficiência cardíaca aguda, apenas para pacientes já em uso de diuréticos, com congestão pulmonar e pressão arterial sistólica acima de 110 mmHg, na ausência de estenose mitral ou aórtica importante. Durante a infusão, deve-se ter o cuidado de monitorizar o paciente e estar atento a sinais de baixo debito cardíaco.13,14,31 A nitroglicerina endovenosa deve ser iniciada em doses baixas de 10 a 20 µg/min e pode ser titulada a cada três ou cinco minutos, até a dose máxima de 200 µg/min;13 é importante destacar que habitualmente há o desenvolvimento de tolerância ao medicamento e necessidade de ajustes frequentes na dose após vinte e quatro horas de infusão.32 O nitroprussiato de sódio pode ser adimistrado em doses iniciais de 0,3 µg/kg/min e titulado até 5 µg/kg/min.13 Os efeitos adversos incluem hipotensão arteria, possível roubo de fluxo coronariano – logo, evitado em pacientes com suspeita de síndrome coronariana aguda – e roubo de fluxo pulmonar, provavelmente devido à dilatação arteriolar pulmonar em áreas não ventiladas. É sensível à luz e deve ser protegido com capa protetora durante a infusão. Taquifilaxia não é uma consideração, mas toxicidade por cianeto pode ocorrer com infusões prolongadas, alem de 72 horas, ou na presença de disfunção renal.32 O nesiritide é a forma recombinante do peptídeo natriurético atrial humano do tipo B. Caracteristicamente reduz as pressões de enchimento ventricular, mas tem efeitos variáveis sobre o débito cardíaco, débito urinário e excreção de sódio. Deve ser administrado inicialmente em bolus de dois µg/kg mais infusão endovenosa de 0.01 µg/kg/min.13 O estudo VMAC demonstrou redução mais rápida da pressão de capilar pulmonar e melhora da sensação de dispneia com esse fármaco, quando comparado ao placebo, mas não encontrou diferenças significativas em relação a nitroglicerina. Duas metanálises publicadas posteriormente questionaram a segurança na adminitsração do nesiritide em pacientes com insuficiência cardiaca, atribuindo ao medicamento pontencial risco para insuficiência renal e mortalidade, provavelmente relacionado à hipotensão mais persistente produzida por ela.33 Um estudo mais recente, o ASCEND-HF, um ensaio clínico multicêntrico, randomizado e duplo-cego comparou nesiritide com placebo em pacientes internados por insuficiência cardíaca. Embora os pacientes que receberam nesiritide experimentaram diminuição da sensação da dispnéia, a diferença não atingiu significância estatística. Também não foram encontradas diferenças relevantes quanto a rehospitalização ou morte em 30 dias, ou alteração da função renal.34,35 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):39-45 43 Inúmeras drogas com efeito vasodilatador estão em avaliação para pacientes com insuficiência cardíaca descompensada. Podemos citar outros peptídeos natriuréticos como o carperitide (semelhante ao nesiritide mas com efeito natridiurético mais pronunciado), o urodilatin (uralitide, precursor pró-ANP, atua no tubo coletor renal aumentando a excreção de sódio e água, além de gerar cGMP produzindo vasodilatação) e o CD-NP ou ‘‘cenderitide’’ (Quimera sintetizada a partir do CNP e DNP, com efeito venodilatador e de natriurese). Também há inibidores do sistema renina-angiotensina que podem ser administrados por via endovenosa como o enalaprilat (semelhante ao enalapril). Outro destaque é o relaxin, um peptídeo sintético análogo recombinante a relaxin-2 que é liberado durante a gravidez produzindo aumento do debito cardíaco, da perfusão renal e redução da pós-carga por vasodilatação.36 Inotrópicos Devem ser reservados apenas para pacientes com congestão pulmonar aguda com redução importante do débito cardíaco nos quais a perfusão de órgãos vitais esteja comprometida. Em algumas situações, mesmo sem um quadro acentuado de choque, mas o paciente evoluindo com hipotensão, fármacos inotrópicos devem ser utilizados.13,14,31 Apesar da melhora hemodinâmica alcançada, diversos trabalhos não conseguiram demonstrar redução de eventos ou mortalidade após administração destes fármacos. Entre os efeitos deletérios, aumentam a frequência cardíaca e podem induzir isquemia miocárdica além de arritmias.37-39 Os agentes mais comumente utilizados são: Dobutamina - Agonista ß1 adrenérgico com ação também em ß2 e α1. Dose 2-20 µg/kg/min. Levosimendan – Agente sensibilizador de cálcio. Dose bolus de 12 µg/kg em 10 minutos (opcional) e infusão contínua de 0.1 µg/kg/min que pode ser reduzida a 0.05 µg/kg/min ou aumentada a 0.2 µg/kg/min. Milrinone - Inibidor da fosfodiesterase III. Dose bolus de 25 a 75 µg/kg em 10 a 20 minutos e infusão contínua de 0.375-0.75 µg/kg/min. CONSIDERAÇÕES FINAIS A congestão pulmonar aguda é um evento clínico muito frequente na apresentação do paciente com insuficiência cardíaca aguda. O diagnóstico é fundamentalmente clínico, e o início do tratamento, com oxigenação adequada, opiaceos e diuréticos endovenosos, além de vasodilatadores, não pode ser retardado em função da realização de exames subsidiários, importantes para elucidação do diagnóstico etiológico e de fatores desencadeantes. Nas situações em que o paciente evolui com hipotensão acentuada, claramente por disfunção do ventrículo esquerdo, estão indicada a administração de fármacos inotrópicos. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. 44 REFERÊNCIA 1. Weintraub NL, Collins SP, Pang PS, Levy PD, Anderson AS, Arslanian-Engoren C, et al. Acute Heart Failure Syndromes: Emergency Department Presentation, Treatment, and Disposition: Current Approaches and Future Aims. 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JAMA. 2007;297(17):1883-91. 45 revisão/review ATUALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR UPDATE ON DIAGNOSIS AND TREATMENT OF PULMONARY THROMBOEMBOLISM Resumo Antonio Cláudio do Amaral Baruzzi1 Giuliano Generoso1 Carlos Eduardo Prazeres1 Renata Hames1 Fernanda de Andrade Cardoso1 Valter Furlan1 1. Unidade de Terapia Intensiva, Hospital TotalCor - São Paulo, SP Brasil Correspondência: Antonio Claudio do A. Baruzzi Al. Santos 764 - Cerqueira Cesar – São Paulo – SP. Brasil CEP: 01418-970 e-mail: [email protected] A embolia pulmonar e a trombose venosa profunda são doenças com mesma base fisiopatogênica, denominada tromboembolismo venoso. Em 90% dos casos, os trombos originam-se no sistema da veia cava inferior, especialmente acima dos joelhos e pelve, alojando-se em ramos principais e segmentares dos pulmões, geralmente nos lobos inferiores. Nos Estados Unidos, é a terceira causa de óbito cardiovascular (seguida do infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral isquêmico), com incidência anual estimada de 500.000 casos e 100.000 óbitos. A mortalidade hospitalar varia de 1% a 30%, dependendo das repercussões hemodinâmicas e da condição clínica do paciente. O diagnóstico e tratamento precoce reduzem a mortalidade hospitalar (disfunção e falência do ventrículo direito/hipoxemia) bem como suas principais complicações tardias: hipertensão pulmonar crônica, síndrome pós-trombótica, flegmasia alba dolens e cerulea dolens. O prognóstico poderá ser modificado adotando-se medidas preventivas, identificação e tratamento em tempo hábil, além da anticoagulação oral por período adequado. Descritores: Embolia pulmonar, tromboembolismo venoso, fibrinolíticos, anticoagulantes. 46 Abstract Pulmonary embolism and deep vein thrombosis are diseases with same physiopathogenic base, called venous thromboembolism. In 90% of cases, thrombi originate in the inferior vena cava system, especially above the knees and pelvis, lodging in the main and segmental branches of the lungs, usually in the lower lobes. In the United States, it is the third leading cause of cardiovascular death (followed by myocardial infarction and ischemic stroke), with estimated annual incidence of 500,000 cases and 100,000 deaths. The hospital mortality rate ranges from 1% to 30%, depending on the hemodynamic effects and clinical condition of the patient. Early diagnosis and treatment reduce hospital mortality (dysfunction and failure of the right ventricle/hypoxemia) and its main late complications: chronic pulmonary hypertension, post-thrombotic syndrome, phlegmasia alba dolens and cerulea dolens. The prognosis may be modified by adopting preventive measures, identification and treatment in a timely manner, as well as oral anticoagulation for an adequate period. Descriptors: Pulmonary embolism, venous thromboembolism, fibrinolytics, anticoagulants. FATORES PREDISPONENTES Vários fatores têm sido identificados, sendo o médico patologista Dr. Rudolf Ludwig Karl Virchow (Universidade de Berlim) o primeiro a descrever, há mais de um século, os principais mecanismos envolvidos no tromboembolismo venoso: estase venosa, estados de hipercoagulabilidade e lesão endotelial, conhecida como tríade de Virchow.1 O trombo venoso é rico em fibrina, hemácias, plaquetas e neutrófilos, motivo pelo qual alguns autores consideram o tromboembolismo venoso e a doença aterosclerótica uma síndrome cardiovascular sistêmica onde mediadores pró-inflamatórios, disfunção endotelial, baixa tensão oxigênio e o estresse oxidativo atuam de forma sinérgica na ativação da cascata da coagulação e consequente trombose2 Os fatores predisponentes conhecidos podem ser classificados conforme odds ratio (Tabela 1).1 Mutação homo ou heterozigótica fator V Leiden, mutação do gene da protrombina, deficiência da antitrombina III, proteína C e S, síndrome anticorpo antifosfolípide, elevada concentração fatores VIII, IX e X. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 ATUALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Tabela 1. Fatores predisponentes para o tromboembolismo venoso1. Fatores fortes (odds ratio > 10) Fratura dos membros inferiores Hospitalização por insuficiência cardíaca ou flutter/fibrilação atrial (<3 meses) Prótese de joelho ou quadril Traumas graves Fatores moderados (odds ratio 2 - 9) Artroscopia do joelho Infarto do miocárdio (< 3meses) Tromboembolismo venoso prévio Lesão corda espinhal Insuficiência cardíaca e/ou respiratória Doenças auto-imunes Eritropoetina Hemotransfusão Terapia substituição hormonal Cateteres centrais, marca-passo, desfi- Fertilização in vitro briladores/CDI Quimioterapia Infecções respiratórias, urinárias e HIV Doença inflamatória intestinal Período pós-parto Câncer Trombose venosa superficial Contraceptivos orais Trombofilias* Imobilidade após acidente e-trombose (várias vascular cerebral isquêmico horas sentado frente ao computador) Fatores fracos (odds ratio < 2) Repouso no leito > 3 dias Cirurgia laparoscópica Diabetes mellitus Obesidade Hipertensão Gravidez Idade > 50 anos Varizes Poluição/tabagismo Síndrome nefrótica Viagens > 4 horas (posição sentado) Síndrome metabólica *Mutação homo ou heterozigótica fator V Leiden, mutação do gene da protrombina, deficiência da antitrombina III, proteína C e S, síndrome anticorpo antifosfolípide, elevada concentração fatores VIII, IX e X. FISIOPATOGENIA A embolia pulmonar determina uma série de repercussões hemodinâmicas decorrente da sobrecarga pressórica aguda ao ventrículo direito. A depender do percentual da área pulmonar ocluída, liberação de mediadores neuro-humorais (vaso e broncoconstritores), disfunção/dilatação do ventrículo direito e da redução da pré-carga das câmaras esquerdas, poderá haver um efeito cascata que se não revertido, poderá culminar com hipotensão e óbito3 (Figura 1). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas do tromboembolismo pulmonar são inespecíficas e requerem diagnóstico diferencial com outras doenças. Deve ser considerada quando houver dispneia súbita ou de início recente, dor torácica tipo pleurítica e tosse. Os principais sinais e sintomas são:3 Sinais: taquipneia, taquicardia, febrícula, ritmo de galope do ventrículo direito, hiperfonese da segunda bulha no foco pulmonar, insuficiência tricúspide e estase jugular. Sintomas: dispneia, tosse, dor torácica, dor e edema na panturrilha, hemoptise e síncope. Dentre os diagnósticos diferenciais, destacam-se: pleurite, pneumonia, pneumotórax, asma brônquica, síndrome coronária aguda, pericardite, insuficiência cardíaca, condrites, fratura de costela, dor musculoesquelética, neoplasia torácica, colecistite, dissecção aguda da aorta, hipertensão pulmonar idiopática, infarto esplênico, sepse e ansiedade.4 Ressalte-se que em quase 50% dos casos, os achados clínicos da trombose venosa profunda nem sempre estão presentes, o que dificulta o seu diagnóstico. EXAMES LABORATORIAIS E MÉTODOS GRÁFICOS3 Eletrocardiograma Os achados eletrocardiográficos são inespecíficos e incluem: alterações do segmento ST e onda T na parede Embolia pulmonar Obstrução anatômica Fatores neurohumorais ↑ Tensão parede VD ↑ Sobrecarga pressórica VD ↑ Consumo O2 VD Dilatação/Disfunção VD Isquemia/infarto VD Desvio SIV D→E ↓ Débito VD ↓ Perfusão coronária ↓ Pré-carga VE ↓ Débito VE Figura 1. Repercussões hemodinâmicas da embolia pulmonar. VD- ventrículo direito, VE- ventrículo esquerdo, SIV- septo interventricular, D - direito, E- esquerdo. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 ↓ Oferta O2 VD ↓ Perfusão sistêmica Hipotensão/ choque 47 anterior (isquemia do ventrículo direito), arritmias atriais e bloqueio de ramo direito. O padrão clássico de cor pulmonale agudo (S1Q3T3, P pulmonale) é um achado mais raro5 (Figura 2). I aVR v1 v4 É um subproduto da degradação da fibrina. Quando acima 500ng/mL FEU (unidades equivalentes de fibrinogênio) apresenta alta sensibilidade (97%) para embolia pulmonar, porém baixa especificidade (42%). Eleva-se em qualquer condição onde há formação e lise da fibrina (gravidez, trauma, pós-operatório, câncer, hospitalizações, estados inflamatórios e sepse). Um teste negativo apresenta probabilidade de 95% de não haver tromboembolismo venoso (valor preditivo negativo), atingindo 99% quando a probabilidade clínica também for baixa. O método por ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) é o de melhor acurácia. Como nos pacientes > 50 anos é comum observar-se elevação natural dímero-d, alguns autores sugerem aumento do cut-off multiplicando-se a idade x 10ng/mL FEU, com incremento da especificidade entre 30% a 40% e sensibilidade acima 97%.7 II aVL v2 v5 Troponina, BNP/pró-BNP Radiografia de tórax Inespecífico para o diagnóstico de embolia pulmonar, porém auxilia no diagnóstico diferencial. Os achados mais comuns são a atelectasia laminar, derrame pleural, infiltrado pulmonar e elevação de cúpula diafragmática. Sinais clássicos: 1. Sinal de Hampton (infiltrado pulmonar em cunha com base pleural o que sugere infarto pulmonar), 2. Sinal de Westermark (oligoemia focal com artéria pulmonar proeminente) e 3. Sinal de Palla (dilatação da artéria pulmonar)6 (Figura 3). III aVF v3 v6 II Equip: 48 Dímero-d Veloc: 25 mm/s Membro: 10mm/mV Tórax 10mm/mV F60~ 0,15-150 Hz PHOS P? Figura 2. Cor pulmonale agudo – SiQ3T3 e inversão da onda T na parede anterior Elevações de troponina I ou T e do peptídeo natriurético cerebral (BNP), são biomarcadores que relacionam-se, respectivamente, com graus variados de necrose e disfunção e do ventrículo direito. Níveis elevados conferem pior prognóstico. Outros biomarcadores têm sido estudados, porém sem aplicação prática (NGAL – neutrophil gelatinase-associated lipocalin, cistatina C, HFABP – heart-type fatty acid-binding protein). Tomografia helicoidal do tórax Após infusão endovenosa de contraste (90 a 120ml), realizam-se cortes seriados para detecção de falhas de enchimento nos diversos segmentos da luz arterial (vasos até sexta ordem). A sua sensibilidade é de 80% e especificidade 95%. O mesmo exame pode detectar trombos no sistema venoso profundo dos membros inferiores, pélvis e veia cava inferior (Figura 4). A relação dos diâmetros diastólicos dos ventrículos direito e esquerdo: DVD/DVE > 0,9 na imagem de quatro câmaras estratifica os pacientes com maior risco de óbito em 30 dias8 (Figura 5). Cintilografia pulmonar (ventilação/ perfusão) Figura 3. Tronco da artéria pulmonar prominente (Sinal de Palla), hipertransparência e ausência de sombras vasculares no campo pulmonar esquerdo (Sinal de Westermark) - vide setas. Gasometria arterial O padrão típico é a hipoxemia (PaO ≤ 90mmHg) de² corrente do desequilíbrio da relação ventilação/perfusão e hipocapnia (hiperventilação reflexa). A hipercapnia pode ser observada nos casos de embolia pulmonar maciça. A ausência de hipoxemia não descarta o diagnóstico. Macroagregados de albumina marcadas com tecnécio99m são injetados em veia periférica, combinado com a inalação gás xenônio133 ou partículas de aerossóis marcadas com tecnécio99m. O diagnóstico é baseado na presença de áreas hipoperfundidas, porém normoventiladas, particularmente se a radiografia do tórax for normal. A sua especificidade é de 97% e sensibilidade de 41% naqueles com alta probabilidade clínica de embolia pulmonar. Quando a probabilidade clínica é baixa e a cintilografia normal, exclui-se embolia pulmonar. Nos casos intermediários, outros exames complementares auxiliarão no diagnóstico.9 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 ATUALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR angiografia com subtração digital utiliza menor volume de contraste e detecta falhas de enchimento em vasos periféricos de até 1 a 2mm. É reservado quando o diagnóstico não pode ser afastado ou confirmado com exames menos invasivos (Figura 6). A Ultrassom doppler venoso dos membros Exame não-invasivo, considerado positivo na presença de trombos ou redução da compressibilidade das veias pelo transdutor. Tem sensibilidade e especificidade acima de 90% quando a trombose venosa é proximal e certa limitação para o diagnóstico de trombose venosa distal (abaixo dos joelhos) pela dificuldade anatômica (Figura 7). B C Figura 4. Tomografia helicoidal. A. Trombos em ambas as artérias pulmonares, B. Veia femoral esquerda e C. Veia cava inferior (setas) detectadas no mesmo exame. 49 Figura 6. Extenso trombo artéria pulmonar direita. VD VE Figura 5. Tomografia helicoidal (quatro câmaras) - mensuração axial das cavidades ventriculares (plano valvar). VD – ventrículo direito, VE – ventrículo esquerdo. Angiografia pulmonar A angiografia confirma ou exclui o diagnóstico de embolia pulmonar com acurácia praticamente plena. É o padrão ouro para tal diagnóstico. Com os recursos atuais, tornou-se um procedimento seguro, recomendando-se cautela naqueles com hipertensão pulmonar moderada a importante, devido o risco de agravar a hipoxemia e causar arritmias. A Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 Figura 7. Trombo venoso em segmento não compressível ao transdutor. Ecocardiograma doppler colorido Realizado à beira-do-leito, capaz de aferir os níveis pressóricos da artéria pulmonar e sinais de disfunção do ventrículo direito: dilatação, alteração da contratilidade, desvio do septo interventricular da direita para a esquerda (efeito Boerheim inverso), regurgitação da valva tricúspide, dilatação da veia cava inferior e sua ausência de colapso inspiratório. Por vezes identificam-se trombos intracavitários e nos ramos proximais da artéria pulmonar (Figura 8). A dilatação/disfunção ventrículo direito é caracterizada por: LA T RA Tabela 2. Escore de Wells simplificado. Parâmetros Pontos Não há diagnóstico alternativo mais provável que TEP 1 Sinais e sintomas de TVP (edema, dor) 1 Taquicardia (FC >100bpm) 1 Imobilização >2 dias ou cirurgia recente (< 4 semanas) 1 História de TEV 1 Hemoptise 1 Câncer ativo < 6 meses ou metástases 1 Embolia pulmonar pouco provável: 0-2 pontos Embolia pulmonar provável: ≥ 3pontos LA LV RV T T H Suspeita embolia pulmonar História, exame físico, rx tórax, ECG Figura 8. Ecocardiograma transesofágico em portador de cateter venoso central de longa permanência. A e B. Trombo átrio direito. C e D. Lise do trombo pós-trombólise. AD – átrio direito, AE – átrio esquerdo, VD – ventrículo direito, AV – ventrículo esquerdo, T - trombo. 50 • Relação dos diâmetros diastólicos dos ventrículos: DVD/ DVE > 0,9 em imagem de quatro câmaras ou > 0,6 na imagem no maior eixo paraesternal; • Hipocinesia e dilatação do ventrículo direito (>30mm); • Hipertensão pulmonar: velocidade de regurgitação tricúspide > 2,8 m/s; • Tempo de aceleração ejetivo do ventrículo direito < 90 ms; • Gradiente-pico da insuficiência tricúspide (GPIT) > 30mm. Quando realizado a intervalos regulares (24/24 horas), permite monitorar a queda dos níveis pressóricos da artéria pulmonar, especialmente quando é utilizada a terapia fibrinolítica. Auxilia também no diagnóstico diferencial do infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, pericardite, tamponamento, valvopatias e doenças da aorta.10,11 Probabilidade clínica Probabilidade clínica não elevada Probabilidade clínica elevada D-dímero < 500ng/mL > 500ng/mL EP excluída Tomografia helicoidal tórax Normal Positiva EP excluída Tratar Figura 9. Algoritmo baseado no escore de Wells simplificado. D-dímero e tomografia helicoidal. EP – embolia pulmonar. Embolia pulmonar Estraficação de risco ALGORITMO DIAGNÓSTICO Avaliação clínica Extrensão anatômica Disfunção/dilatação VD Biomarcadores cardíacos Como a apresentação clínica e os exames laboratoriais iniciais, tais como o ECG, radiografia do tórax e a gasometria arterial são inespecíficos para o diagnóstico de TEV, Wells e cols.12 elaboraram e posteriormente simplificaram um rápido escore de probabilidade pré-teste a ser aplicado naqueles com suspeita desta doença. Os pacientes são classificados de acordo com a pontuação aferida: probabilidade não elevada (0-2 pontos) e probabilidade elevada (≥ 3 pontos) (Tabela 2). O uso combinado da história clínica, exame físico, radiografia do tórax, ECG, escore de Wells, d-dímero e tomografia helicoidal do tórax aumentam a acurácia diagnóstica13 (Figura 9). Embora os algoritmos auxiliem no diagnóstico, não devem subestimar o raciocínio clínico. A doença apresenta elevada letalidade e a sua confirmação ou exclusão são de suma importância. Figura 10. Estratificação de risco conforme achados clínicos, biomarcadores e imagem. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Alto Risco A estratificação de risco baseia-se em três componentes chaves: 1) critérios clínicos, 2) biomarcadores séricos e 3) função do ventrículo direito. O objetivo é identificar pacientes com elevado risco de óbito em 30 dias e instituir o tratamento mais apropriado. A estratificação é dividida em: alto risco e baixo risco14 (figura 10). Pacientes polissintomáticos, apresentam-se com hipotensão arterial e/ou choque obstrutivo, definido PAS < 90mmHg ou sua queda > 40mmHg em intervalo de tempo superior a 15 minutos e não relacionada à hipovolemia, sepse, arritmia ou medicamentos, sinais disfunção/ dilatação do ventrículo direito (ecocardiograma ou tomogra- Alto risco Polissintomáticos Choque, hipotensão Disfunção/dilatação VD Embolia extensa Baixo risco O ligossintomáticos Biomarcadores isolados +/Embolia não extensa Ausência disfunção VD Biomarcadores - troponina, BNP, Polissintomáticos - hipaxemia, taquicardia, taquipnéia, DV - ventrículo direito. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 ATUALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR fia computadorizada) e extenso comprometimento arterial. O risco de óbito em 30 dias varia de 10 a 25%. Tratamento embolia pulmonar Baixo Risco Pacientes oligossintomáticos, ausência disfunção/dilatação do ventrículo direito, embolia pulmonar segmentar ou periférica, biomarcadores (troponina e/ou BNP) positivos de forma isolada ou mesmo negativos. O risco de óbito em 30 dias é abaixo 2%. Pelo caráter dinâmico e recorrente do TEV, um determinado paciente poderá ser inicialmente classificado de baixo risco e evoluir para um estado de alto risco. Neste caso, a conduta terapêutica será de acordo com esta nova condição clínica. Alguns autores propõem a estratificação conforme o risco de óbito em 30 dias adotando-se o escore PESI Pulmonary Embolism Severity Index15 (Tabela 3). Tabela 3. Pulmonary Embolism Severity Index – risco óbito em 30 dias. Parâmetro idade Sexo masculino Câncer Insuficiência cardíaca crônica Doença pulmonar crônica Frequência cardíaca > 100bpm Pressão arterial sistólica < 100mmHg Frequência respiratória > 30/min Temperatura < 36.C Estado mental alterado Saturação hemoglobina < 90% * Versão ** Versão original simplificada Idade em 1 ponto anos (>80 anos) + 10 pontos + 30 pontos 1 ponto + 10 pontos 1 ponto + 10 pontos + 20 pontos 1 ponto + 30 pontos 1 ponto + 20 pontos + 20 pontos + 60 pontos + 20 pontos 1 ponto *Versão original: risco de óbito tem 30 dias; Classe I (≤ 65 pontos) – muito baixo = 0 a 1,6%; Classe II (66 – 85 pontos) – baixo = 1,7 a 3,5%; Classe III (86 – 105 pontos) – moderado = 3,2 a 7,1%; Classe IV (106 – 125 pontos) – elevado = 4 a 11,4%; Classe V (> 125 pontos) – muito elevado = 10 a 24,5% **Versão simplicada: risco de óbito tem 30 dias; Baixo risco (zero pontos) = 1%; Alto risco (≥ 1 ponto) = 10,9%. TRATAMENTO O tratamento do TEV baseia-se na anticoagulação, seja com uma das modalidades de heparina (não-fracionada, baixo peso molecular ou pentassacarídeo) ou algum dos anticoagulantes orais. Dentre estes, temos a varfarina (utilizada há décadas) ou a opção de um dos novos anticoagulantes orais (rivaroxabana, apixabana, edoxabana e dabigatrana).16 Os pacientes de alto risco são inicialmente tratados com fibrinolíticos (estreptoquinase, alteplase ou tenecteplase). A embolectomia percutânea ou cirúrgica estão indicadas para os que não apresentam melhora clínica ao fibrinolítico ou na vigência de contraindicação (p.ex. cirurgia recente). Os de baixo risco são medicados com heparina e/ou anticoagulação oral. A decisão baseia-se na estratificação do risco (Figura 11). Segundo as diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia para o tratamento da embolia pulmonar, os pacientes também podem ser classificados:17 1. Alto risco (choque ou hipotensão) – administrar fibrinolíticos. 2a.Moderado-alto risco (ausência hipotensão, porém há Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 Alto risco Fibrinolítico (SK, tPA, TNK) Embolectomia Baixo risco HNF, Enoxa, Fonda Varfarina, NACOs SK - estreptoquinase, tPA - alteplase, TNK - tenecteplase, HNF - heparina não fracionada, NACOs - novos anticoagulantes orais. Figura 11. Tratamento da embolia pulmonar conforme estratificação de risco. disfunção VD e aumento troponina/ BNP) – administrar fibrinolíticos. 2b.Moderado-baixo risco (ausência hipotensão, porém associada a somente um dos seguintes: disfunção isolada VD ou aumento isolado troponina/BNP ou ambos negativos) – administrar heparina, anticoagulação oral. 3. Baixo risco – administrar heparina, anticoagulação oral. Alguns pacientes necessitam de assistência ventilatória, drogas vosoativas e expansores volêmicos. O rápido restabelecimento da perfusão pulmonar deve ser prioritária. HEPARINA NÃO FRACIONADA (HNF) A heparina é uma mistura heterogênea de cadeias de polissacarídeos com pesos moleculares variando entre 3.000 e 30.000 dáltons e extraída do intestino suíno. Ao ativar a antitrombina, inibe a ação dos fatores II, VII, IX, X e XI. A infusão é endovenosa, dose ajustada mantendo-se TTPa (Tempo de tromboplastina parcial ativada) entre 1,5 e 2,5 vezes o controle. Valores < 1,5x aumentam recorrência de eventos embólicos. Nomograma baseado no peso do paciente auxilia no ajuste da dose18 (Tabela 4). Nos casos de sangramento grave, o antídoto é a protamina EV (1mg para neutralizar 100 UI HNF), acompanhandose com TTPa, para avaliar a resposta de reversão. Seu nível terapêutico baseia-se na atividade anti-Xa (0,3 - 0,7UI/ml). Tabela 4. Dose da heparina ajustada ao peso. 80 U/Kg (bolus), seguido de 18U/Kg/h 80 U/Kg em bolus, aumentar TTPa < 35 s (< 1,2 x controle) infusão em 4U/Kg/h 40 U/Kg em bolus, aumentar TTPa 35-45 s (1,2 – 1,5 x controle) infusão em 2U/Kg/h TTPa 46-70 s (1,5 – 2,3 x controle) Não alterar TTPa 71-90 s (2,3 – 3,0 x controle) Diminuir infusão em 2U/Kg/h Parar infusão por 1 hora, diTTPa > 90 s (< 3,0 x controle) minuir infusão em 3 U/Kg/h Dose inicial HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR (HBPM) As HBPM são fragmentos da heparina não fracionada, produzidas por processos enzimáticos ou despolimerização química, com peso molecular entre 4.000 e 6.000 dáltons. 51 Vantagens sobre a HNF: • O efeito anticoagulante (atividade anti-Xa) correlacionase com o peso, permitindo efeito previsível após administração de dose fixa. • Monitoração laboratorial do TTPa desnecessária; • Baixa ligação às proteínas plasmáticas e células endoteliais; • > biodisponibilidade; • > duração do efeito, permitindo uma ou duas administrações diárias; • Raro risco de plaquetopenia auto-imune; Em nosso meio utilizamos a enoxaparina, na dose 1 mg/Kg 12/12 horas SC ou 1,5mg/Kg 24/24 horas SC. Não deve ser utilizado naqueles com clearance da creatinina < 30mL/min. A atividade sérica anti-Xa, em amostra obtida 4 horas após a última administração, auxilia na monitorização terapêutica em casos selecionados. Essa atividade varia conforme a dose: 0,6-1,0UI/mL (1mg/Kg 12/12 h) e 1,02,0UI/mL (1,5mg/Kg 24/24 h).19 Antídoto: 1mg protamina neutraliza 1mg enoxaparina quando esta for aplicada < 8 horas da última dose. Se entre 8-12 horas, utilizar 0,5mg para cada 1mg enoxaparina. PENTASSACARÍDEO (FONDAPARINUX) 52 Fondaparinux é uma heparina sintética, composto por uma cadeia de pentassacaride, sítio ativo das heparinas. Inibe o fator Xa, apresenta meia-vida longa (17 horas) e não causa plaquetopenia. É administrada em dose única diária, conforme o peso do paciente: < 50Kg = 5mg, 51-100Kg = 7,5mg, > 100Kg = 10mg SC/dia. Não deve ser utilizada com clearance da creatinina < 20mL/min e entre 20-50mL/ min, reduzir a dose 1,5mg/SC/dia.20 ANTICOAGULANTES ORAIS O anticoagulante oral mais utilizado é a varfarina, o qual inibe a síntese hepática dos fatores de coagulação dependentes da vitamina K (fatores II, VII, IX e X). É administrado na dose diária de 5 a 15mg mantendo-se o RNI (relação internacional normalizada) entre 2,0 - 3,0 durante dois dias consecutivos antes de suspender qualquer uma das modalidades de heparina. A primeira dose deve ser concomitante com a heparina, e mantida a heparina até atingir o pico terapêutico (3-5 dias), para então retirar a heparina. Alimentos ricos em vitamina K reduzem o seu efeito anticoagulante, devendo-se orientar os pacientes para que a ingestão dos mesmos se dê de maneira regular. Quando houver risco de sangramento grave pela varfarina, a infusão de complexo protrombínico (50UI/Kg) em 30 minutos, reverterá tal ação. A variabilidade da dose da varfarina, observada com certa frequência, tem sido atribuída a dois genes: citocromo CYP2C9 e epóxido redutase. Esta análise genética é reservada em casos selecionados e carece de ampla aplicação prática.21 NOVOS ANTICOAGULANTES ORAIS Os novos anticoagulantes orais inibem diretamente o fator Xa (rivaroxabana, apixabana, edoxabana) ou a trombina (dabigatrana). Quando comparadas à varfarina, apresentam rápido início de ação, curta duração, não necessitam de controle laboratorial, não-inferiores quanto a eficácia e menor risco de sangramentos maiores (segurança), especialmente do sistema nervoso central, embora estas observações tenham sido descritas para pacientes com fibrilação atrial. Estas drogas devem ser utilizadas com cautela com clearance creatinina < 30mL/min e contraindicadas se < 15mL/min22,23 (Tabela 5). Estas drogas foram testadas em diferentes estudos, sendo rivaroxabana e apixabana administradas sem uso prévio à enoxaparina ou fondaparinux. A duração do tratamento variou de 3 a 12 meses e prolongado por mais 6 a 12 meses conforme o risco de recorrência (Figura 12). Nos casos de reversão do efeito anticoagulante, preconiza-se:39 1. Complexo protrombínico ativado (FEIBA®) – para a reversão dabigatrana 2.Complexo protrombínico (Prothromplex®, Beriplex®) – para a reversão rivaroxabana, apixabana, edoxabana. Antídotos específicos têm sido desenvolvidos para a dabigatrana (idarucizumab) e para os demais inibidores fator X (alfa-andexanet). Embora se preconize terapêuticas para reversão dos efeitos anticoagulantes, sua utilização é ainda motivo de debate na literatura. Tabela 5. Novos anticoagulantes orais. Fator inibido Pró-droga Biodisponibilidade Pico de ação (horas) Meia-vida (horas) Controle laboratorial Administração diária Absorção com alimentos Eliminação renal Ligação proteica Dispepsia Interação warfarina Síntese hepática II, VII, IX, X Não 95% 72 - 96 40 Sim Ajustada RNI Interferência alimentos ricos Vitamina K Não 90% Não Citocromo P3A Citocromo 1A2 Citocromo 2C9 rivaroxabana Xa Não 80% 2-4 7 - 11 Não 1x apixabana Xa Não 65% 3 8 - 15 Não 2x edoxabana Xa Não 50% 1-3 9 - 11 Não 1x dabigatran Ila Sim 6% 1-2 9 - 13 Não 2x Aumento 40% Não interfere Não interfere Não interfere 35% 90% Não Citocromo P3A Glicoproteína 25% 90% Não Citocromo P3A 35% 90% Não Citocromo P3A Glicoproteína 80% 5% 5 - 10% Glicoproteína Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 ATUALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Estudo Duração 5 dias HBPM/FONDA 3 - 12 meses Clássico varfarina Einstein - TVP/EP rivaroxabana (15mg 2x/dia x 21 dias + 20mg/dia) Prolongado 3 - 12 meses 6 meses Amplify apixabana (10mg 2x/dia x 10 dias + 5mg 2x/dia) 5 - 10 dias Re-cover I - II HBPM/FONDA 6 meses dabigatrana (150mg 2x/dia) 5 - 10 dias Hokusai HBPM/FONDA 3 - 12 meses edoxabana (60mg 2x/dia) HBPM – heparina baixo peso molecular, FONDA - fondaparinux. Figura 12. Esquemas terapêuticos utilizados nos diferentes estudos. DURAÇÃO DO TRATAMENTO Nos pacientes com TEV cujo fator etiológico é identificado e reversível a duração do tratamento preconizado é de três meses. Nos casos idiopáticos ou recorrentes e portadores de neoplasias, o tratamento será postergado por anos ou por tempo indeterminado.23 Alguns autores recomendam a mensuração ambulatorial seriada do dímero-d para a manutenção ou não da anticoagulação em portadores de eventos tromboembólicos de causa não identificada. A elevação de seus níveis após a suspensão do anticoagulante é forte recomendação para seu uso continuado.41 Aqueles que não toleram ou há alguma contraindicação para anticoagulação oral, pode-se utilizar a aspirina 100mg/dia, com redução 30 a 40% de eventos em quatro anos. Tabela 6. Dose dos fibrinolíticos. Fibrinolítico Ataque Manutenção Estreptoquinase 250.000 UI X 30min ou 1.5000.000 UI X 2 h (Streptase®) 100.000 UI/h x 24 a 120 h rt-PA (Actylise®) 10 mg bolus 90 mg x 2 h TNK (Metalyse®) 30 a 50 mg bolus* ajustados ao peso ___ < 60kg = 30mg ≥ 60kg < 70mg = 35mg ≥ 70kg < 80mg = 40mg ≥ 80kg < 90mg = 45mg ≥ 90kg = 50mg * Pacientes > 75 anos, reduzir a dose em 50%. FIBRINOLÍTICOS Indicado para o paciente de alto risco, o objetivo é reverter a pressão sistólica da artéria pulmonar para níveis ≤ 40mmHg, estimado a intervalos regulares de tempo pelo ecocardiograma à beira-leito.24,25 Quanto mais recente o evento, ou seja, trombos não organizados, maiores as chances de sua lise. Os pacientes com horas ou dias do evento, poderão beneficiar-se com qualquer um dos esquemas propostos. Quando a história de tromboembolismo venoso situa-se entre uma e quatro semanas, preconizamos a estreptoquinase em infusão contínua por até 120 horas, promovendo a lise lenta e progressiva do trombo. Os fibrinolíticos aumentam o risco de sangramento, inclusive os fibrino-específicos (alteplase e TNK-tenecteplase), especialmente naqueles > 75 anos. Quando for utilizado tenecteplase, a dose poderá ser reduzida em 50% para esta faixa etária, conforme estudo PEITHO26 (Tabela 6). Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 Punções vasculares e passagem de sondas desnecessárias deverão ser evitadas, minimizando-se os riscos de sangramento. Ao término da trombólise, a anticoagulação é iniciada com heparina seguida de varfarina ou com um dos novos anticoagulantes orais, assegurando-se níveis TTPa < 1,5x controle e o fibrinogênio > 100mg/mL. Pacientes sexo feminino, peso ≤ 50Kg, idade ≥ 75 anos apresentam maior risco hemorrágico cerebral (1-3%). A redução em 50% da dose tem sido sugerida, bem como a não administração concomitante de heparina. Embora rara, as complicações hemorrágicas graves devem ser precocemente identificadas e tratadas: 1. Criopreciptado - 10 unidades EV (rico em fibrinogênio) 2. Plasma fresco – 4 unidades EV (rico fatores da coagulação) 3. Ácido épsilon-aminocapróico (Ipsilon®) – 4 g EV 60 min 4. Reposição hemácias – controle da anemia 53 As contraindicações dos fibrinolíticos são: Absolutas: acidente vascular cerebral hemorrágico, acidente vascular cerebral isquêmico < 6 meses, neoplasia sistema nervoso central, trauma ou cirurgia < 3 semanas, sangramento interno ativo < 4 semanas. Relativas: hipertensão arterial não controlada (PAS > 180mmHg), cirurgia, biópsia ou punção de vasos não compressíveis < 10 dias, plaquetas < 100.000/mm,3 alergia aos fibrinolíticos, doença hepática avançada, ressuscitação traumática, endocardite infecciosa. FILTRO DE VEIA CAVA INFERIOR O filtro é posicionado na veia cava inferior, abaixo das veias renais via punção femoral ou jugular, dificultando a migração de tromboêmbolos provenientes do sistema cava inferior27 (Figura 13). As principais indicações são: 1. Contraindicação absoluta aos anticoagulantes, Embolia pulmonar recorrente em paciente sob adequada anticoagulação. 2. Trombose do filtro e mal posicionamento são algumas complicações descritas. Figura 14. Angiojet®. Cateter posicionado na artéria pulmonar direita: aspiração e fibrinólise química concomitante. EMBOLECTOMIA 54 A embolectomia percutânea ou cirúrgica está indicado nos pacientes com embolia pulmonar de alto risco na vigência de alguma contraindicação ao fibrinolítico ou mesmo nos casos de insucesso terapêutico.27,28 Dentre os dispositivos percutâneos disponíveis, citam-se: Pronto® - cateter siliconizado, onde o trombo é aspirado sob pressão negativa de uma seringa; Aspirex® - aspiração do trombo sob alta rotação; Trombólise ultrassônica e infusão fibrinolítico; Angiojet® - aspiração do trombo sob efeito Venturi e infusão concomitante de fibrinolítico (Figuras 14 e 15). Nas tromboses iliofemorais a fibrinólise in locus via cateterização seletiva percutânea ou embolectomia (Angiojet®) tem sido preconizado. A embolectomia cirúrgica é reservada como resgate nos casos de falha da terapia fibrinolítica ou da embolectomia percutânea. Indicação precoce e equipe cirúrgica habilitada são fatores de melhor prognóstico. Figura 15. Trombólise mecânica - sala radiologia intervencionista CONSIDERAÇÕES FINAIS O tromboembolismo venoso é a terceira causa de óbito cardiovascular em ambiente hospitalar. O seu diagnóstico baseia-se em critérios clínicos, elevação dímero-d e angiotomografia pulmonar. A presença de choque ou hipotensão arterial, disfunção do ventrículo direito e elevação de BNP/troponina correlacionam-se com pior prognóstico. Nos casos mais graves, preconiza-se a administração de fibrinolíticos ou lise mecânica na vigência de alguma contraindicação. Os novos anticoagulantes orais apresentam eficácia similar à varfarina e maior segurança quanto aos eventos hemorrágicos. Apresentam meia-vida curta, não há interferência com os alimentos e nem necessidade de controle laboratorial de seu efeito anticoagulante. Conflitos de interesse Figura 13. Filtro de Greenfiled na veia cava inferior Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):46-55 ATUALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR REFERÊNCIAS 1. Goldhaber SZ. Risk factors for venous thromboembolism. J Am Coll Cardiol. 2010;56:1-3 2. Goldhaber SZ. Pulmonary embolism. In: Braunwald E, Zippes, editor. Braunwald’s Heart disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine (15th edition). New York: Elsevier, 2015:1664-8. 3. Goldhaber SZ, Bounameaux H. Pulmonary embolism and deep venous thrombosis. Lancet. 2012;379:1835-46. 4. Agnelli G, Becattini C. 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