A COMPOSICIONALIDADE ASPECTUAL REVISITADA Waniston Coelho Celeri Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em Lingüística da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Lingüística Orientador: Prof. Doutor Celso Vieira Novaes Rio de Janeiro Dezembro de 2008 2 Celeri, Waniston Coelho. A composicionalidade aspectual revisitada. / Waniston Coelho Celeri. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2008. Waniston Coelho Celeri Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, FL. 1. Sintaxe. 2. Aspecto. 3. Tese (Mestrado – UFRJ/FL) I. Título A composiectual revisitada 3 A composicionalidade aspectual revisitada Waniston Coelho Celeri Orientador: Celso Vieira Novaes Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Lingüística. Examinada por: _________________________________________________ Presidente, Prof. Doutor Celso Vieira Novaes _________________________________________________ Profa. Doutora Márcia Maria Dâmaso Vieira - UFRJ _________________________________________________ Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold – UFRJ _________________________________________________ Profa. Doutora Lilian Vieira Ferrari – PPG Lingüística – UFRJ, Suplente _________________________________________________ Profa. Doutora Márcia Atalla Pietroluongo – UFRJ, Suplente Rio de Janeiro Dezembro de 2008 4 Dedico esta dissertação aos meus pais. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, aos meus pais, à minha família, aos meus amigos, a quem me quer e me faz bem, ao meu orientador e ao Grupo de Estudos Biologia da Linguagem. 6 “Life is never that easy.” Noan Chomsky 7 CELERI, Waniston Coelho. A composicionalidade aspectual revisitada. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2008, 98 fls. Dissertação de Mestrado em Lingüística. RESUMO O objetivo principal desta dissertação foi contribuir para a compreensão de como está representada a noção de aspecto na mente humana por meio da investigação da proposta da composicionalidade aspectual. A proposta de Verkuyl (2003) de que um verbo de caráter mais eventivo associado a um complemento de cardinalidade mais especificada engendraria um enunciado de leitura mais terminativa foi a base de nosso estudo. Partindo de resultados obtidos em experimentos anteriores, elaboramos um experimento no qual acrescentamos a presença do adjunto como variável a ser investigada. Tal experimento consistiu de um teste de relacionamento de figura-sentença respondido por 16 informantes nativos do português do Brasil. A partir dos resultados obtidos, foi possível afirmar que: a) o adjunto adverbial tem um papel fundamental na composição aspectual de uma sentença e b) a proposta de Verkuyl (op. cit.) é falha ao considerar que apenas o verbo e seu complemento são o bastante para compor o aspecto de uma sentença. 8 CELERI, Waniston Coelho. A composicionalidade aspectual revisitada. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2008, 98 fls. Dissertação de Mestrado em Lingüística. ABSTRACT The main goal of this dissertation was contributing to the understanding of how the notion of aspect is represented in the human mind by investigating the aspectual compositionality approach. According to Verkuyl (2003), a non-stative verb plus a complement of specified cardinality would result in a sentence with a terminative reading. This assumption was the base to our study. Having as background the results from previous studies, we elaborated an experiment in wich we added the presense of an adverbial as a variable to be investigated. This experiment consisted in an picture-sentence relationing test which was answered by 16 individuals, native speakers of Brazilian Portuguese. Based on the results we have gotten, it was possible for us to assume that: a) a adverbial plays a fundamental role in the aspectual composicion of a sentence and b) the proposal made by Verkuyl (op. cit.) has a flaw since according to it, the verb and its complement would be enough to compose the aspect of a sentense. 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS A Sentença alvo ADD TO Traço de eventividade de um verbo Adj Adjunto Adv Advérbio AdvP Sintagma adverbial Agr Concordância AgrP Sintagma de concordância AP Sintagma adjetival AspP Sintagma aspectual Aux Auxiliar CE Conjunto experimental COMP Complementizador D Sentença distratora FF Forma fonológica FL Faculdade de Linguagem / Forma lógica FLB Faculdade da Linguagem no sentido amplo FLN Faculdade da Linguagem no sentido estrito GU Gramática Universal I Flexão Im Morfologia de imperfectivo INFL Flexão IP Sintagma flexional NEG Negação NEGP Sintagma de negação 10 NP Sintagma nominal NPext Sintagma nominal externo a VP NPint Sintagma nominal interno a VP PASS Passado Pe Morfologia de perfectivo PM Programa Minimalista PP Sintagma preposicional Quant Quantificador SPEC Especificador SQA Quantidade especificada TP Sintagma de tempo VP Sintagma verbal 11 LISTA DE SÍMBOLOS + Marcação positiva para um dado parâmetro – Marcação negativa para um dado parâmetro ○ Parâmetro inválido ou não relevante 1 Primeira conjugação verbal 2 Segunda conjugação verbal 3 Terceira conjugação verbal 4 Sentença composta por quatro (4) elementos 7 Sentença composta por sete (7) elementos 12 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - A Faculdade da Linguagem Figura 2 - Representação arbórea da estrutura sintagmática Figura 3 - Representação arbórea de sentença Figura 4 - Representação arbórea de sentença Figura 5 - Árvore sintática após a cisão do nódulo flexional Figura 6 - A Faculdade da Linguagem e os sistemas de desempenho Figura 7 - Diagrama de oposições aspectuais segundo Comrie Figura 8 - Classificação verbal verkuyliana Figura 9 - A Composicionalidade Aspectual Figura 10 - Exemplo de conjunto experimental alvo Figura 11 - Exemplo de conjunto experimental distrator Figura 12 - A Composicionalidade Aspectual – Representação modificada Gráfico 1 - Relação sentença-figura interna aos conjuntos experimentais alvo (CE) Gráfico 2 - Relação sentença-figura versus nível de escolaridade Gráfico 3 - Relação sentença-figura versus faixa etária Gráfico 4 - Relação sentença-figura Tabela 1 - Classificação verbal vendleriana Tabela 2 - Distribuição de informantes no experimento Tabela 3 - Verbos utilizados no experimento 13 SUMÁRIO | | INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15 | 1 | TEMPO E ASPECTO NA TEORIA DA GRAMÁTICA GERATIVA ...... 16 | 1.1 | A FACULDADE DA LINGUAGEM ............................................................................ 16 | 1.2 | A S PRIMEIRAS VERSÕES DA T EORIA DA GRAMÁTICA GERATIVA ....................... 19 | 1.3 | O SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO SINTÁTICA E A TEORIA X-BARRA .................... 20 | 1.4 | A CISÃO DO NÓDULO FLEXIONAL ......................................................................... 22 | 1.5 | O PM E A ELIMINAÇÃO DE A GR P DA ÁRVORE SINTÁTICA .................................. 24 | 1.6 | A ENTRADA DE A SP P NA ÁRVORE SINTÁCIA ........................................................ 27 | 2 | ASPECTO ............................................................................................................ 29 | 2.1 | TEMPO VERSUS A SPECTO ...................................................................................... 29 | 2.2 | A SPECTO G RAMATICAL VERSUS A SPECTO LEXICAL ............................................ 30 | 2.3 | A SPECTO G RAMATICAL ......................................................................................... 31 |2.3.1| Aspecto perfectivo versus aspecto imperfectivo ............................................................... 32 |2.3.2| Aspecto Neutro......................................................................................................... 33 | 2.4 | A SPECTO LEXICAL ................................................................................................. 34 |2.4.1| A classificação vendleriana......................................................................................... 34 |2.4.2| A classificação verkuyliana ........................................................................................ 36 | 3 | A NOÇÃO DE COMPOSICIONALIDADE ASPECTUAL ....................... 38 | 3.1 | V ERBOS E A COMPOSICIONALIDADE ASPECTUA L ................................................ 41 |3.1.1| O princípio-mais ....................................................................................................... 41 | 4 | DADOS ................................................................................................................. 46 | 4.1 | INFORMANTES ........................................................................................................ 46 | 4.2 | DESENHO DO TESTE .............................................................................................. 47 |4.2.1| As sentenças ............................................................................................................. 47 14 |4.2.2| Os verbos.................................................................................................................. 49 |4.2.3|As figuras.................................................................................................................. 49 |4.2.4|Organização e procedimento......................................................................................... 50 | 4.3 | R ESULTADOS .......................................................................................................... 52 | 5 | PROPOSTA DE ANÁLISE .............................................................................. 56 | 6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 60 | | REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 62 | | ANEXO A............................................................................................................. 64 | | ANEXO B ............................................................................................................ 68 | | ANEXO C ............................................................................................................ 98 15 INTRODUÇÃO O fato é que falamos. Comunicamos. Externamos. Introjetamos. Fazemos uso consciente ou não de algo a que costumamos chamar linguagem, muitas vezes sem fazer qualquer reflexão sobre os mecanismos envolvidos nesse processo. Desde a infância, tendemos a não atentar para coisas simples, ou nem tanto, que nos cercam cotidianamente. É bem provável que a maioria de nós já tenha visto uma criança brincando com aqueles pequenos blocos coloridos, outrora, de madeira, hoje em dia, de plástico, que se espalham pelo chão e as entretêm por horas. As crianças montam, desmontam, remontam formas maiores ou menores, mais ou menos elaboradas, não se preocupando com o processo, mas com o resultado final de sua empreitada. Temos nos entretido com algo bastante semelhante ao jogo das crianças, menos lúdico, igualmente prazeroso, talvez um pouco mais complexo: temos investigado como blocos maiores ou menores se unem para formar diferentes estruturas lingüísticas. Mais especificamente, como traços, feixes de traços, palavras ou grupos de palavras se unem para formar a nuance aspectual de uma sentença. Nesta dissertação, dividida em seis capítulos, falamos um pouco desse fascinante jogo chamado linguagem. No capítulo um, falamos sobre como a linguagem é vista sob a perspectiva da Gramática Gerativa, dando especial atenção às noções de tempo e aspecto. A seguir, no capítulo dois, focamo-nos em Aspecto, para no capítulo três falar com mais detalhes da questão da Composicionalidade Aspectual, apresentando alguns estudos sobre delimitação, uma idéia indispensável à discussão proposta nesta dissertação. No capítulo quatro, apresentamos dados obtidos em um estudo que fizemos para dar conta da proposta que fazemos no capítulo cinco. Por fim, no capítulo seis, fazemos algumas considerações finais. 16 | 1 | TEMPO E ASPECTO NA TEORIA DA GRAMÁTICA GERATIVA | 1.1 | A FACULDADE DA LINGUAGEM Sentimo-nos tão à vontade com este portentoso sistema alcunhado de linguagem, que talvez nos passam desapercebidas questões como: estaria este sistema, dispositivo, mecanismo, disponível somente para os humanos ou para todas as espécies? Esteve este sistema sempre disponível para nossa espécie? Evoluiu? Como evoluiu? Ou talvez uma pergunta mais básica (ou muito mais complexa): o que é este sistema? Ainda não temos respostas definitivas – ainda bem, se assim fosse, não evoluiria a ciência – para tais perguntas, mas temos estudos bastante profícuos a este respeito. Não há evidências de que outras espécies possuam um sistema de linguagem parecido com o nosso, nem mesmos os primatas, com os quais compartilhamos tamanha similaridade genética. Os animais que apresentam o sistema que mais se aproxima do nosso, e isso não significa dizer que é semelhante, são os pássaros. O que poderia surpreender a algumas pessoas, haja vista a não proximidade na cadeia de evolução filogenética com nossos companheiros plumados. Essas e outras considerações têm levado estudiosos a refletirem sobre questões tais como as seguintes: haveria algo exclusivamente humano e algo compartilhado por outras espécies nesse sistema conhecido como linguagem? O que seria este algo exclusivo/compartilhado? Hauser et al. (2002) propõe um sistema dividido em duas instâncias: Faculty of Language in a Narrow sense (FLN) e Faculty of Language in a Broad sense (FLB), Faculdade da Linguagem em um sentido restrito e Faculdade da Linguagem em um sentido amplo, respectivamente. A FLN seria uma instância na qual estariam abrigadas informações especificamente lingüísticas. Já a FLB, seria uma instância na qual um sistema computacional, capaz de se comunicar com o sistema da FLN interagiria com outros 17 sistemas, dentre os quais, o sistema sensório-motor e o sistema conceitual-intencional. Abaixo, uma reprodução simplificada do esquema proposto em Hauser et al (2002): Ambiente externo Ambiente interno ao organismo Memória Digestão FLB Conceitualintencional Ecológico FLB Outros sistemas Físico FLN Recursividade Itens Lexicais Cultural FLB Sensório-motor Social Respiraçao Circulação Figura 1 – A Faculdade da Linguagem O pano de fundo para esse esquema é uma visão adotada por Chomsky em seus estudos sobre a linguagem há mais de meio século: a visão modularista de mente. Um dos pressupostos para o estudo da linguagem nesses moldes é tomar por verdadeira a assunção básica de que existe uma faculdade da linguagem, o que significa dizer que existe alguma parte de mente/cérebro dedicada ao conhecimento e uso da linguagem. Essa seria uma função particular do corpo; um tipo de órgão, poderíamos dizer, análogo ao sistema visual, que como qualquer órgão, também é dedicado a uma tarefa exclusiva, conforme diz Chomsky (1996), que ainda acrescenta ser essa, por hora, uma assunção, mas que há boa evidência de que essa proposição seja verdadeira. 18 Dessa forma, a faculdade da linguagem deveria ser estudada não apenas em sua relação com outros sistemas, mas também independentemente destes, a fim de que pudessem ser vistas também suas especificidades. Chomsky (1988) afirma que ao investigar tal sistema, deparamo-nos com uma série de questões, dentre as quais: 1) O que é o sistema de conhecimento?/O que há na mente/cérebro do falante de inglês, ou espanhol, ou japonês? 2) Como esse sistema de conhecimento surge na mente/cérebro? 3) Como tal conhecimento é posto em uso na fala? 4) Quais são os mecanismos físicos que servem de base material para o sistema de conhecimento e para o uso desse conhecimento? A observação, mesmo rápida, de tais questões permite notar que há pelo menos duas instâncias passíveis de investigação: uma instância física e uma instância abstrata. Chomsky em seus estudos investiga a linguagem em um nível de análise mental, tendendo à abstração do nível físico sem, contudo, desconsiderá-lo. 1 Em alinhamento com Chomsky, propusemo-nos a conduzir este trabalho olhando para a instância mental. É, portanto, fundamental a observância de uma importante distinção feita por Chomsky (op. cit.) que tangencia de alguma forma a primeira questão apresentada acima. É proposta a distinção entre desempenho e competência lingüísticos. Esta diria respeito a certos princípios inatos à mente/cérebro, compartilhados por todos os indivíduos. 2 Tais princípios seriam responsáveis, por exemplo, pela aquisição da língua à qual o indivíduo é exposto. A noção de desempenho, por outro lado, estaria relacionada à atuação de tais princípios inatos na produção 1 Para maiores detalhes, cf. Chomsky 1993. A este conjunto inato de princípios operativos de atividades lingüísticas, compartilhado por todos os seres humanos, chamou-se Gramática Universal – GU. 2 19 lingüística. Nas próximas páginas, olhamos com mais atenção para o tratamento desses princípios na teoria lingüística. | 1.2 | A S PRIMEIRAS VERSÕES DA T EORIA DA GRAMÁTICA GERATIVA Nos primeiros momentos do modelo de estudo que ficou conhecido como a Teoria da Gramática Gerativa, Chomsky fala da faculdade da linguagem como um sistema de regras, de dois tipos de regras: regras transformacionais e regras de reescrita categorial. Estas derivariam a “estrutura profunda”, uma espécie de sentença intermediária, sobre as quais atuariam as regras transformacionais, produzindo a “estrutura superficial”, que representaria a manifestação física, sonora da sentença (cf. Raposo, 1992). Este modelo ficou conhecido dentro dos estudos gerativos como a Teoria Padrão e recebeu destaque com a publicação de Chomsky (1965). Algum tempo depois, no início da década seguinte, um novo modelo da teoria é proposto, no qual aspectos gerais, comuns a regras particulares eram abstraídos e rotulados como princípios universais, atribuídos à Gramática Universal (GU). Essa teoria ficou conhecida como Teoria Padrão Estendida.3 Em uma nova versão da Teoria Padrão Estendida, as regras foram eliminadas, ficando o modelo composto apenas por princípios: princípios rígidos, invariáveis, comuns a qualquer língua, e princípios abertos, que seriam “marcados”, teriam seu valor estipulado apenas quando do processo de aquisição. Esses princípios “abertos” foram chamados de parâmetros, daí o nome: Teoria de Princípios e Parâmetros, proposta por Chomsky no início da década de 80. 3 Neste momento é proposta também a teoria X-barra, sobre a qual falaremos mais detalhadamente adiante. 20 | 1.3 | O SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO SINTÁTICA E A TEORIA X-BARRA A introdução da Teoria X-barra nos estudos da Teoria da Gramática Gerativa se deu quando da proposição da Teoria Padrão Estendida. Foi através da Teoria X-barra que Chomsky conseguiu reduzir drasticamente o número de regras categoriais de reescrita a um número bastante pequeno de opções. (cf. Raposo, 1992). Vale lembrar que a representação de sentenças nos moldes da teoria gerativa pode ser feita de forma arbórea ou por meio de colchetes (parentetização etiquetada, como chama Raposo (op. cit.)). Independentemente da representação escolhida, o ponto fundamental é que essas representações são feitas com base nos constituintes sintagmáticos das sentenças. Cada um destes constituintes é nucleado por um elemento que vai determinar lexicalmente a categoria sintática do constituinte sintagmático a que ele pertence. Em outras palavras, o constituinte sintagmático VP (sintagma verbal) tem como núcleo um verbo, o NP (sintagma nominal) tem por núcleo um nome, o AP (sintagma adjetival) tem por núcleo um adjetivo, o PP (sintagma preposicional) é nucleado por uma preposição e o AdvP (sintagma adverbial) é nucleado por um advérbio. O sistema proposto pela Teoria X-barra, conforme a descrição de Haegeman (1991), está resumidamente exposto abaixo, em uma representação arbórea da estrutura sintagmática e também de forma esquemática, na próxima página. XP Spec X’ X’ X YP YP Figura 2 – Representação arbórea da estrutura sintagmática 21 XP → Spec; X’ X’ → X’; YP X’ → X; YP Das representações expostas na página anterior e acima, lê-se que: complemento se une a X para formar a projeção X’; adjunto se une a X’ para formar outra projeção X’; o especificador se une à projeção X’ mais elevada para formar a projeção máxima XP. Tentou-se olhar para a estrutura sentencial sob o mesmo prisma com o qual se via a estrutura sintagmática. O resultado foi uma representação que não refletia os princípios da teoria X-barra, como mostra o exemplo de Haegeman (1991), transcrito abaixo. S’ Comp S NP Aux VP whether Poirot will abandon the investigation Figura 3 – Representação arbórea de sentença Para que a representação fosse adequada, S’ deveria ser a projeção máxima de um nódulo terminal, mas não o é, S não é nucleado por S. Além disso, S teria três constituintes, dois sintagmáticos e um auxiliar, quando um modelo no qual figurassem apenas dois elementos nessa instância era preconizado. Há também o fato de que nem todas as sentenças têm um auxiliar, muitas tem apenas uma marcação morfológica anexada ao verbo. Pensou-se então em substituir Aux por INFL na estrutura representada 22 acima, que abrigaria, então, traços de tempo e concordância, e daria conta também de sentenças infinitivas. Dessa forma, S passou a ser a projeção de I, sendo rotulado então de I’, estando abaixo da projeção S’, que passou então a ser rotulada de IP. A representação foi então revista e pode ser conferida no exemplo, também de Haegeman (1991), transcrito abaixo. IP NP I’ VP I V’ V Poirot NP will abandon the investigation -ed to Figura 4 – Representação arbórea de sentença | 1.4 | A CISÃO DO NÓDULO FLEXIONAL Entende-se que do modelo de representação exposto acima resultou uma árvore sintática composta de duas camadas: uma lexical e uma flexional. Um importante estudo a respeito dessa última camada foi o de Pollock (1989), no qual o autor propõe uma mudança no sistema de representação. Olhando para dados do francês e do inglês, a partir 23 do estudo de Emonds (1976), o autor faz uma proposta relacionada à questão da posição do verbo em relação ao advérbio, a partícula de negação e o quantificador nessas línguas. No que diz respeito à posição do verbo em relação à partícula de negação, o autor apresenta dados de ambas as línguas, indicando que no francês todos os verbos finitos aparecem à esquerda da partícula de negação; no inglês, por outro lado, apenas os auxiliares be (ser/estar) e have (ter) apareceriam nessa posição. Quanto aos verbos não-finitos, em ambas as línguas os verbos lexicais aparecem à direita da partícula de negação, mas os verbos auxiliares não finitos tanto no francês, quanto no inglês, podem aparecer à direita ou à esquerda da negação. No que tange à posição do verbo em relação ao advérbio e ao quantificador, Pollock sugere que todos os verbos finitos no francês aparecem à esquerda do advérbio/quantificador; já no inglês, apenas os verbos auxiliares be (ser/estar) e have (ter) poderiam aparecer à esquerda destes elementos. A análise da posição dos verbos não finitos em relação ao advérbio e ao quantificador foi decisiva no estudo de Pollock. Segundo o autor, em inglês, os verbos lexicais não finitos, à exceção dos auxiliares be (ser/estar) e have (ter), sempre aparecem à direita do advérbio/quantificador. Já no Francês, os verbos não finitos podem aparecer à direita ou à esquerda do advérbio/quantificador. Uma modificação no sistema representacional é então proposta e pode ser explicada em termos de movimento de constituintes. Em francês, os verbos finitos não lexicais apareceriam à esquerda do advérbio, o que indicaria um movimento em direção a IP. Entretanto, tais verbos não apareceriam à esquerda da partícula de negação. Pollock postula então um sítio para a aterrissagem do verbo entre a partícula de negação e o advérbio/quantificador. Este sítio seria o nódulo AgrP, que abrigaria as informações 24 sobre concordância verbal. O outro nódulo flexional, IP, abrigaria, portanto, as informações referentes a tempo e passou a ser chamado de TP. A respeito desse movimento para Agr, nomeado de Movimento curto do verbo, estaria licenciado para o francês por apresentar Agr “forte”. Já o inglês, que conta com uma morfologia pobre, teria Agr “opaco” à transmissão de papel temático, restringindo tal movimento aos auxiliares. A seguir, apresentamos um modelo de como a árvore sintática passou então a ser representada. TP NP T’ T NegP Neg’ Neg AgrP Agr’ Agr Adv/ quant VP V Figura 5 – Árvore sintática após a cisão do nódulo flexional | 1.5 | O PM E A ELIMINAÇÃO DE A GR P DA ÁRVORE SINTÁTICA É no início da década de noventa que Chomsky apresenta uma nova versão da Teoria Gerativa, mais ou menos nos moldes do modelo apresentado à página 17, essa 25 nova versão ficou conhecida como Programa Minimalista (PM). A Faculdade da Linguagem (FL) passa a ser concebida como um sistema inserido em uma estrutura de sistemas que interagem com ela, chamados de sistemas de desempenho. Na representação proposta por Chomsky em 1992, publicada em 1995, seriam os sistemas articulatórioperceptual e conceitual-intencional. Esses sistemas interagiriam com as representações produzidas pela linguagem, que seria composta por dois componentes básicos: o léxico e um sistema computacional. No léxico estariam armazenados itens/entradas lexicais, como verbetes de um dicionário. Nessas entradas, estariam especificadas características de ordem não apenas semântica, mas fonéticas e sintáticas. A essas informações, também chamadas de traços, são atribuídas as diferenças específicas às línguas individuais. O que diferiria nas línguas seriam as propriedades, os traços, presentes nas entradas lexicais, sendo as propriedades do sistema computacional universais a todas as línguas. O sistema computacional, em suas operações, chamadas de computações ou derivações, utilizaria as informações disponíveis no léxico segundo princípios de economia e condições de legibilidade. Os princípios de economia dizem respeito à complexidade das derivações, que devem envolver o menor número de operações possível, a fim de que sejam ótimas. Lembremos que falamos da interação de sistemas, logo as operações devem resultar em algo que possa ser interpretado, lido, por diferentes interfaces. Para que esse objetivo seja alcançado, devem ser satisfeitas as condições de legibilidade. Essas condições seriam responsáveis, por exemplo, pela eliminação de elementos supérfluos nas representações, a fim de que estas possam ser lidas pelos sistemas de desempenho. Os níveis que fazem interface com os sistemas de desempenho são a forma fonológica (FF) e a forma lógica (FL). Na próxima página, reproduzimos uma representação esquemática da faculdade de linguagem e dos sistemas de desempenho. 26 FL spell-out Léxico sintaxe aberta FF FL sistema articulatórioperceptual sistema conceitualintencional Figura 6 – A Faculdade da Linguagem e os sistemas de desempenho Dois tipos de operações são apresentados no sistema, a operação de concatenação e de movimento. Aquela é responsável pela concatenação de elementos lingüísticos na composição de objetos lingüísticos; esta, por checar traços presentes nas entradas lexicais nas línguas. Por exemplo: no sistema proposto por Pollock (1989), o movimento do verbo era necessário para que ao radical deste fossem incorporados afixos; já na proposta do PM, o movimento seria apenas para checar os traços já existentes na entrada lexical do verbo. Esses traços poderiam ser fortes, sendo assim não-interpretáveis nos sistemas de interface, ou fracos, sendo interpretáveis nas interfaces. Retomando a noção de legibilidade e economia do sistema, Chomsky (1995) propõe que os traços não interpretáveis devem ser eliminados na sintaxe aberta. Um dos traços tidos como não-interpretável é o traço de concordância, que apresentaria informação não motivada conceitualmente, logo, irrelevante para a interpretação de um dado verbo. 27 Dessa forma, só estariam presentes na representação sintática as categorias compostas por traços conceitualmente motivados, mais interpretáveis. O nódulo AgrP seria, então, eliminado da árvore sintática. Retomemos, contudo, a proposta de Pollock (1989) da necessidade de dois nódulos flexionais na estrutura das línguas. Dessa situação, estudos surgiram tentando dar conta deste nódulo tornado “esvaziado” pela proposta do PM. | 1.6 | A ENTRADA DE A SP P NA ÁRVORE SINTÁTICA A eliminação de AgrP da árvore sintática, ao mesmo tempo em que otimizou o sistema representacional em termos de processamento, criou outro problema: Pollock já havia demonstrado a necessidade de dois nódulos flexionais para dar conta da posição do verbo em relação ao advérbio e a negação em francês e inglês; sendo o nódulo AgrP eliminado, qual nódulo seria o sítio de aterrissagem para o movimento curto do verbo? Bok-Benemma (2001) propõe que um nódulo contendo informação aspectual seja inserido na árvore. Olhando para a posição do verbo em ralação ao advérbio do francês e do espanhol, a autora propõe a existência de um nódulo funcional (F1), sítio de aterrissagem para o movimento longo do verbo, bem como de um nódulo funcional (F2), sítio de aterrissagem do movimento curto do verbo. A autora propõe que F1 seja um nódulo contendo as informações de tempo: [±tempo], como Pollock (op. cit.), sendo essa marcação decorrente de uma diferença paramétrica entre as línguas. F2 seria um nódulo contendo as noções de aspecto e, embora sempre abaixo de F1, poderia ser anexado antes ou depois de alguns tipos de advérbio. Este nódulo seria caracterizado como [±perfectivo]. Desde então, alguns estudos têm apresentado evidência empírica em favor da proposta descrita acima, ou seja, a existência de um nódulo aspectual na representação sintática. 28 Novaes e Braga (2005) investigaram a questão aplicando testes de preenchimento de lacuna a uma paciente descrita como afásica de Broca. Nos testes, a paciente deveria empregar formas verbais em aspecto perfectivo e imperfectivo. Os dados revelaram uma dissociação na produção dos dois tipos de aspecto: a paciente tinha mais dificuldade na produção de verbos no aspecto imperfectivo do que no aspecto perfectivo. Da mesma forma, a paciente apresentou problemas com aspecto, mas não com tempo e concordância, o que parece endossar a proposição de que Asp poderia substituir Agr na árvore sintática. Na próxima sessão, tratamos com mais detalhes da noção de aspecto. 29 | 2 | ASPECTO | 2.1 | TEMPO VERSUS A SPECTO Ao estudar as noções de tempo e aspecto, é importante que seja observada uma distinção básica entre elas. Ambas dizem respeito à noção de temporalidade de eventos, mas relacionam-se a esta sob diferentes perspectivas. Enquanto tempo é uma categoria gramatical, dêitica, aspecto não o é. Tempo situa o evento do qual se fala em relação a uma outra referência temporal, presente passado ou futuro. Aspecto, por outro lado, diz respeito a uma visão sob o evento descrito em si mesmo, não o relacionando a uma outra referência temporal, sendo dessa forma uma categoria não-dêitica. Segundo Comrie (1976), pode-se dizer que “aspectos são as diferentes maneiras de se ver a constituição temporal interna de uma situação”. 4 Para exemplificar, vejamos os exemplos abaixo: a) Pedro está brincando. b) Pedro estava brincando. c) Pedro brincou. Se contrapusermos a) e b), observamos uma diferença quanto ao tempo, a referência é dêitica, o evento é apresentado em relação à outra referência temporal. Entretanto, se compararmos b) e c), a diferença observada diz respeito a aspecto, à forma como olhamos para o processo descrito pelo enunciado. 4 Tal definição tem base na definição proposta por Holt (1943:6, apud Comrie, 1976): les manières diverse de concevoir l’écoulement du procès même – as diferentes maneiras de se conceber o fluxo do processo em si mesmo. 30 | 2.2 | ASPECTO GRAMTICAL VERSUS APSECTO LEXICAL Vários estudos têm apontado para a existência de dois tipos de aspecto nas línguas: gramatical e lexical. O aspecto gramatical, também chamado de viewpoint aspect (aspecto relacionado ao modo de observação) em Smith (1991), estaria relacionado a distinções semânticas decorrentes da utilização de mecanismos lingüísticos tais como morfemas flexionais, verbos auxiliares etc. Para exemplificar: a distinção progressivo versus não-progressivo ou perfectivo versus não-perfectivo é uma distinção que diz respeito ao aspecto gramatical. Há, por outro lado, o aspecto lexical, também chamado de situation type (tipo de situação) por Smith (op. cit.) e semantic aspect (aspecto semântico) por Comrie (1976). Como a nomenclatura sugere, esse tipo de aspecto diz respeito a propriedades representadas na entrada lexical do verbo, sendo inerentes a este, e independentes de quaisquer outras marcações morfológicas. Os aspectos gramatical e lexical são independentes entre si. A seguir, um conjunto de alguns exemplos: a) Carlos passeou ontem. b) Carlos escreveu uma carta. c) Carlos está escrevendo uma carta. Ao compararmos a) e b), vemos que o aspecto gramatical empregado na construção de ambas as sentenças é o mesmo: aspecto perfectivo. Entretanto, no que diz respeito ao aspecto lexical, a sentença a) é provida do aspecto lexical atividade, enquanto a sentença b) apresenta o aspecto lexical accomplishment (atividade com final inerente). Quando a comparação é feita entre b) e c), vemos que ambas compartilham o mesmo aspecto lexical (accomplishment), mas diferem no que tange ao aspecto gramatical. 31 Em b) o aspecto gramatical empregado é o perfectivo, enquanto em c) o aspecto observado é o imperfectivo. | 2.3 | A SPECTO G RAMATICAL Lembremos que a noção de aspecto gramatical conforme proposta por Comrie (1976) está relacionada às diferentes formas de se ver a estrutura interna de uma situação. Sua classificação para a noção de aspecto gramatical é uma das mais aceitas. Em alinhamento com outros estudos já anteriormente apresentados, o autor propõe que a oposição aspectual básica nas línguas é a oposição perfectivo versus imperfectivo, este por sua vez, abrigaria outras noções aspectuais como habitual e progressivo. A seguir, o diagrama proposto por Comrie para ilustrar as oposições aspectuais nas línguas. Figura 7 – Diagrama de oposições aspectuais segundo Comrie 32 |2.3.1| Aspecto perfectivo versus aspecto imperfectivo De acordo com Comrie (1976), o aspecto perfectivo “vê a situação externamente, sem distinguir necessariamente nenhuma das estruturas internas da situação”, estando a perfectividade relacionada à ausência de referência explícita à constituição temporal interna da situação. A classificação proposta por Smith (1991) para o aspecto perfectivo se aproxima da de Comrie, podendo ser o emprego desse aspecto relacionado a uma forma de descrever uma situação como um todo, como algo “fechado”, que apresenta o início e o fim de uma dada situação. Além da noção de completude, da visão do evento como um todo, fechado, apresentadas acima, o perfectivo pode ser também empregado se o falante quiser enfatizar o término, a completude de um dado evento. (Cf. Smith, op. cit.). Abaixo, alguns exemplos: a) Henrique comeu um croissant. b) Henrique estava comendo um croissant. Enquanto em a) o aspecto perfectivo propicia uma visão da situação como um todo, vista em seu início e seu fim, o aspecto imperfectivo em b) permite uma leitura na qual a ênfase não é a completude do processo, e sim o processo em si. Dessa forma, o imperfectivo seria um aspecto que descreveria a situação internamente, estando diretamente relacionado à estrutura interna da situação, seguindo as palavras de Comrie (op. cit.). O emprego do aspecto imperfectivo confere uma noção de incompletude ao enunciado, uma vez que o foco não está na situação como um todo, tendo início e fim delimitados, mas sim no processo em si, ou em algum estágio do processo. Vejamos o exemplo a seguir proposto por Smith (op. cit.) para exemplificar a noção de “focar em algum estágio do processo”: 33 Maria estava vencendo a corrida. Consideremos que “vencer a corrida” refere-se ao exato momento em que a linha de chegada é transposta, esse seria, portanto, um enunciado com um verbo do tipo achievement, e representaria um evento instantâneo. Entretanto, segundo a autora, quando o aspecto imperfectivo é empregado com esse tipo de verbo, a informação depreendida do enunciado refere-se a momentos anteriores ou posteriores ao evento, mas nunca ao evento como um todo. Sendo assim, no que diz respeito ao exemplo no final da página anterior, sabemos que Maria estava próxima da vitória, mas não saberemos se ela, de fato, venceu a corrida. O ponto final referente ao evento descrito foi apagado pelo aspecto imperfectivo. |2.3.2| Aspecto neutro Smith (1991) acrescenta à proposta de Comrie (1976) uma outra nuance aspectual, a qual ela chama de aspecto neutro. Segundo a autora, as sentenças com aspecto indeterminado 5 pertenceriam a uma categoria de aspecto neutro. Tais sentenças apresentariam duas leituras possíveis, uma aberta e outra fechada, havendo sempre uma leitura preferencial. Segundo a autora, não haveria ocorrências desse aspecto em inglês, mas no francês sim. Castilho (1967) (apud. Finger, 2000), diz haver representação desse aspecto no português do Brasil. Segundo o autor, tal aspecto estaria presente em sentenças do tipo: A Terra gira em torno do sol. Ao usar esse tipo de sentença, o falante expressa sua intenção de apresentar o fato denotado pelo verbo, sem fazer qualquer referência à sua duração ou completude. 5 O termo empregado pela autora é aspectually vague sentences. 34 | 2.4 | A SPECTO LEXICAL Retomemos aqui a noção de aspecto lexical exposta anteriormente. Diferentemente do aspecto gramatical, que seria manifestado nas línguas por meio de afixações ou pelo uso de outros mecanismos lingüísticos como o emprego de auxiliares, por exemplo, o aspecto lexical estaria relacionado a um conjunto de propriedades inerentes ao verbo, especificadas em sua entrada lexical. Vejamos as classificações mais conhecidas... |2.4.1| A classificação vendleriana Um sistema de classificação do aspecto lexical dos verbos amplamente conhecido e aceito atualmente é aquele proposto por Vendler (1967). Segundo esse sistema, os sintagmas verbais poderiam ser alocados em quatro categorias distintas de acordo com o tipo de situação que expressam, conforme a tabela abaixo: EVENTOS Categoria Exemplos Estados Atividades Processos com fim inerente Eventos instantâneos amar desenhar desenhar um círculo começar desejar escrever escrever uma carta morrer saber nadar ler um romance nascer Tabela 1 - Classificação verbal Vendleriana 35 Uma primeira divisão pode ser feita entre os verbos que expressam estados e os verbos que expressam eventos. Um verbo que expressa estado dá conta de uma situação na qual durante algum período de tempo não há mudança na condição de certa entidade. Um verbo que expressa um evento, ao contrário, dá conta de uma situação na qual podemos observar alguma mudança num período de tempo. A classe de verbos que são usados para descrever eventos pode ser divida em três subclasses. Uma dessas subclasses é a classe de verbos que são empregados para descrever atividades. Tomemos o verbo nadar em a), abaixo: a) João está nadando. b) João nada mil metros. c) Pedro venceu a maratona. Quando lemos ou ouvimos uma sentença como a expressa em a), pensamos na atividade que está se desenvolvendo ao longo do tempo, sem levarmos em conta o fim de tal atividade. Mas, se a sentença é b), temos, então, um exemplo de outra subclasse, que comporta os verbos que dão conta de situações com um fim inerente. Ao pensarmos em “João nada mil metros”, temos a perfeita noção de que um processo se desenvolve durante algum tempo, mas possui um fim inerente. Há ainda uma subclasse na qual se alocam os verbos que representam eventos instantâneos como nascer ou morrer. Há uma mudança de estado, mas ela se dá num período de tempo muito curto, instantaneamente, como em c), em que o processo que levou Pedro a vencer a maratona pode ter sido longo, mas o evento vencer é instantâneo e se dá nos segundos em que o vencedor cruza a linha de chegada. 36 |2.4.2| A classificação verkuyliana Em oposição à classificação apresentada anteriormente, encontra-se aquela proposta por Verkuyl (2003). Segundo o autor, os verbos poderiam ser agrupados em apenas três grupos, de acordo com um diagrama de traços reproduzido a seguir. NP [± ±SQA] Estados V [-SQA] [+SQA] Processos Eventos [-ADD TO] [+ADD TO] Figura 8 – Classificação verbal Verkuyliana Na classificação apresentada acima, a classe Processos estaria relacionada à classe Atividades, proposta por Verkuyl. Já as classes Processos com fim inerente e Eventos instantâneos estão aqui representadas na classe Eventos. Segundo Verkuyl, os verbos agrupados nas duas últimas classes da classificação vendleriana são igualmente eventos, sendo a diferença na extensão do evento (se instantâneo ou alongado temporalmente) um dado não relevante lingüística, senão extralingüisticamente. Mas a classificação de Verkuyl difere da de Vendler não apenas pela quantidade de grupamentos, mas pelos critérios através dos quais estes são compostos. Vendler propõe uma classificação com base em traços inerentes ao verbo. Verkuyl, entretanto, conjuga traços verbais com traços dos argumentos internos dos verbos para definir a quais classes os verbos pertenceriam. No diagrama acima, o traço [±ADD TO] diz 37 respeito à natureza do verbo: se ele é um verbo estativo, possui o traço [-ADD TO]; se não, possui o traço [+ADD TO]. O traço [±SQA] diz respeito à cardinalidade do complemento verbal; se este é de cardinalidade especificada, possui o traço [+SQA]; se a cardinalidade do complemento for não especificada, o traço é –[SQA]. A organização tripartida desse sistema de classificação verbal contrasta com o esquema apresentado por Vendler (1976), por exemplo. A classificação vendleriana é composta por quatro (4) classes: State, Activity, Accomplishment e Achievement. Essas duas últimas foram colapsadas na classe Evento por Verkuyl. Para Vendler (1976), Accomplishments envolvem um processo que conduza a uma mudança de estado, enquanto Achievements não trazem essa noção de processo estendido, mas antes a idéia de uma transformação instantânea. Verkuyl argumenta em favor de sua classificação dizendo que a extensão do processo é consideração extralingüística, não tendo, portanto, conseqüências lingüísticas. O sistema de classificação apresentado por Verkuyl (2003) se insere em um modelo de estudo chamado de Composicionalidade Aspectual, a respeito do qual falamos com mais detalhes no próximo capítulo. 38 | 3 | A NOÇÃO DE COMPOSICIONALIDADE ASPECTUAL A noção de composicionalidade traz em si uma idéia bastante simples e que está longe de ser nova: estruturas menores se unem na composição de estruturas maiores. Tal idéia já figurava há algum tempo em outros domínios do saber como a filosofia ou físicoquímica. Para exemplificar, parece-nos válida a noção de que moléculas são estruturas complexas formadas por átomos, e estes por componentes ainda menores e que cada um destes componentes tem especificidades e desempenham papéis singulares nessa composição. A idéia de composicionalidade na lingüística surge, então, propondo que a construção do sentido de sintagmas e frases seja vista a partir da união de seus componentes menores. No que se refere a aspecto, a idéia apresentada por Frege no início do século XX foi amplamente aceita e encontrou eco especialmente no campo de estudos da semântica. Verkuyl (2003) destaca que a noção de informação aspectual não atômica, já demonstrada por Poutsma e Jacobsohn (apud Verkuyl, op. cit.) no início do século, ganha novos ares nos anos 50. A noção de estrutura sintagmática/arbórea, disponibilizada em meados do século foi fundamental para uma mudança de foco, ou talvez para um melhor ajuste deste, nos estudos sobre composicionalidade aspectual. Segundo Verkuyl (op. cit.), a noção de recursividade proposta por Chomsky tem origem na mesma tradição lógica de adjungir estruturas menores para formar estruturas maiores. Entretanto, somente a partir da noção de estrutura sintagmática proposta por Chomsky, foi possível ver que os estudos sobre a composicionalidade deveriam ser conduzidos de modo a analisar a junção dos verbos com seus argumentos na formação de unidades maiores. Segundo a proposta da composicionalidade aspectual, a noção de aspecto seria entendida como uma propriedade não exclusiva ao verbo em si, mas composta a partir da 39 relação entre o verbo e seu argumento. Slabakova (1997) demonstra essa relação nos exemplos do inglês transcritos abaixo: a) Claire ate an apple. Claire ate the apple. Claire comerPASS uma maçã ‘Claire comeu/comia uma maçã.’ b) Claire ate three apples. Claire ate three apples. Claire comerPASS três maçãs ‘Claire comeu/comia três maçãs.’ c) Claire ate the apple. Claire ate the Claire comerPASS a ‘Claire comeu/comia a maçã.’ apple. maçã d) Claire ate a piece of cake. Claire ate a piece of cake. Claire comerPASS um pedaço de torta ‘Claire comeu/comia um pedaço de torta.’ e) Claire ate apples. Claire ate apples. Claire comerPASS maçãs ‘Claire comeu/comia maçãs.’ f) Claire ate cake. Claire ate cake. Claire comerPASS bolo ‘Claire comeu/comia bolo.’ Segundo a autora, as sentenças de a) a d) são terminativas, enquanto as demais são durativas. Uma vez que a forma verbal ate é a mesma, a diferença aspectual deve ser atribuída à diferença entre os sintagmas nominais que servem de argumento interno ao verbo. Estaríamos, então, presenciando a interação entre propriedades atemporais dos sintagmas nominais e propriedades temporal-aspectuais dos sintagmas verbais e frases. 40 Para dar conta da interação de tais propriedades, as quais chama de informação semântica, Verkuyl (2003) postula dois traços, um relacionado à natureza do complemento e outro à natureza do verbo. O primeiro traço, [±Specified Quantity of A] ([± Quantidade especificada de A]) ou [±SQA], está relacionado à cardinalidade do sintagma nominal. Se este denota algo que pode ser exaustivamente contado ou medido, trata-se de um sintagma de cardinalidade especificada como uma maçã, três maçãs, etc, diferentemente de maçãs, bolo, etc, que pertencem ao grupo de elementos de cardinalidade não especificada. O segundo traço proposto por Verkuyl (op. cit.), [±ADD TO], visa à distinção entre verbos estativos como querer, por exemplo, de verbos eventivos como comer. A propriedade [+ADD TO] do verbo expressaria um progresso dinâmico, mudança, nãoestatividade ou qualquer outro termo que o distinga de um verbo estativo, que teria um valor negativo para tal propriedade. A Figura 9 representa esquematicamente o sistema da composicionalidade aspectual proposto por Verkuyl (op. cit.). Sua idéia geral é que o verbo (V), especificado com um valor positivo ou negativo para uma dada propriedade semântica, [±ADD TO], une-se ao argumento interno (NPint ), também especificado com um valor positivo ou negativo para uma propriedade semântica, formando um sintagma verbal (VP) em um nível no qual um objeto semântico complexo é formado ([±T VP ]). Este objeto semântico complexo se une ao argumento externo (NPext ), gerando uma sentença sem marcação de tempo (S), que possuiria a informação aspectual complexa ([±TS ]), engendrada nos níveis mais baixos, representada por meio de um traço aspectual complexo. Este processo estaria então terminado e a sentença passaria a um domínio superior, nos quais outros princípios atuariam. Para marcar a transição entre esses dois domínios, o autor propõe a distinção entre aspectualidade interna e externa (Inner – Outer aspectuality). 41 S’ ... Outer aspectuality Inner aspectuality S [±TS] NPext [±SQA] VP [±TVP] V [±ADD TO] NPint [±SQA] Figura 9 – A Composicionalidade Aspectual A composicionalidade desses traços na produção de uma leitura durativa ou terminativa é governada pelo Princípio-MAIS (PLUS-Principle), sobre o qual falaremos mais detalhadamente na próxima seção, comentando também sua relação com a noção de constância do sentido dos verbos. | 3.1 | V ERBOS E A COMPOSICIONALIDADE ASPECTUAL |3.1.1| O princípio-mais Como vimos na seção anterior, é fundamental para a teoria da composicionalidade aspectual a relação entre o verbo (V) e seu argumento interno (NPint). Essas duas variáveis podem ser assinaladas com um valor positivo ou negativo para os traços [±ADD TO] e [±SQA], respectivamente, e é a partir da combinação dos valores 42 dessas variáveis que será produzida uma leitura terminativa ou durativa6 de uma dada sentença. Verkuyl (2003) exemplifica a proposta ao mesmo tempo em que chama a atenção para a constância do sentido do verbo: a) Mary walked three miles. Mary walked three miles. Mary andarPASS três milhas ‘Mary andou/andava três milhas.’ b) Mary walked miles. Mary walked miles. Mary andarPASS milhas ‘Mary andou/andava milhas.’ As sentenças poderiam ser representadas, em termos de traços, da seguinte maneira: a) V [+ADD TO] +NP int[+SQA] → [+TVP ] b) V [+ADD TO] +NP int[-SQA] → [-T VP ] Em ambas as sentenças, o valor referente ao verbo foi mantido. Entretanto, a modificação do valor referente ao complemento foi o bastante para a produção de duas leituras, uma terminativa a) e uma durativa b). No diagrama reproduzido na próxima página, Verkuyl apresenta outros exemplos das combinações dessas variáveis e as leituras produzidas, exemplificando a atuação do Princípio-MAIS em dois níveis: verbo mais argumento externo e verbo mais argumento interno. Neste trabalho, olharemos com mais atenção para a segunda relação. 6 Utilizamos a nomenclatura proposta por Verkuyl, segundo a qual terminativo faz referência à descrição de um evento compreendido em um espaço de tempo delimitado, enquanto durativo refere-se à descrição de um evento em um intervalo temporal aberto. 43 a) [S Mary [VP walk three miles]] [+T S [+SQA] [+T VP [+ADD TO] [+SQA]]] → terminativa b) [S Mary [VP walk [-TS [+SQA] [-T VP [+ADD TO] → durativa [VP walk three miles]] [+T VP [+ADD TO] [+SQA]]] → durativa c) [S Children [-T S [-SQA] d) [S Mary [VP save [-T S [+SQA] [-T VP [-ADD TO] miles]] [-SQA]]] three miles]] [+SQA]]] → durativa Os exemplos acima foram utilizados para exemplificar a formulação do que Verkuyl chamou de Princípio-MAIS, segundo o qual, para a obtenção de uma leitura terminativa, é necessário que tanto o verbo quanto seus argumentos estejam marcados positivamente [+ADD TO] e [+SQA], respectivamente. Em outras palavras, apenas uma marcação negativa [-], para qualquer um dos fatores, verbo ou argumento, seria o suficiente para gerar um [-T] no topo da representação apresentada na Figura 9. Smollet (2006), entretanto, argumenta que, com a devida contextualização, expressões compostas por um verbo do tipo [+ADD TO] e um complemento do tipo [+SQA] podem receber uma leitura télica ou atélica. A seguir, alguns exemplos: a) Thomas mixed the batter for 5 minutes. in 5 minutes. Thomas mixed the batter Thomas mexerPASS a massa ‘Thomas mexeu a massa por 5 minutos.’ for por 5 5 minutes. minutos Thomas mixed the batter Thomas mexerPASS a massa ‘Thomas mexeu a massa em 5 minutos.’ in em 5 5 minutes. minutos 44 b) Anne Marie polished the countertop for 15 minutes. in 15 minutes. Anne Marie polished the countertop Anne Marie lustrarPASS o balcão ‘Anne Marie poliu o balcão por 15 minutes.’ for por 15 minutes. 15 minutes Anne Marie polished the countertop Anne Marie lustrarPASS o balcão ‘Anne Marie lustrou o balcão em 15 minutes.’ in em 15 minutes. 15 minutes Em ambos os exemplos, as duas interpretações são possíveis. Segundo Smollet (2006), a relação entre o verbo e seu complemento não seria o suficiente para estabelecer um télos nesses enunciados. Acrescenta, ainda, que há outros elementos que podem ser considerados “verdadeiros delimitadores” tais como resultativos ou certas partículas, e apresenta outros exemplos do inglês: c) Anne Marie polished the countertop smooth. (resultativo) Anne Marie polished the countertop smooth. Anne Marie lustrarPASS o balcão liso/homogêneo ‘Anne Marie lustrou o balcão até que ele estivesse com um aspecto homogêneo.’ d) Anne Marie polished up the countertop. (partícula) Anne Marie polished up the countertop. Anne Marie lustrarPASS PARTÍCULA o balcão ‘Anne Marie lustrou o balcão.’ Estes seriam meios de expressar finitude em uma língua que não marca finitude morfologicamente. Tenny (1994, apud Smollet, op. cit.) sugere que mesmo o julgamento de verbos individualmente varia de falante para falante e atribui essa “confusão” ao fato de o inglês não possuir marcação morfológica para finitude. Em um estudo conduzido em português do Brasil, Celeri (2007) investigou como falantes dessa língua lidam com a noção de terminatividade. Foram elaborados oito testes nos quais as variáveis morfologia verbal e quantificação do complemento figuravam em contextos mais ou menos terminativos. Um pequeno texto servia de contextualização 45 para a sentença alvo. Ao final do texto, era perguntado ao informante se algo lhe soava mal. Os resultados revelaram um elevado grau de aceitação de combinações que contradizem as previsões de Verkuyl, como por exemplo: um complemento de cardinalidade menos especificada associado a um verbo de caráter mais eventivo em um contexto mais terminativo. Segundo o “princípio-mais” a combinação descrita acima engendraria, necessariamente uma leitura menos terminativa. Outro estudo, este conduzido em espanhol da Argentina, apresentou resultados que corroboram os descritos acima. Nesse estudo, Celeri (2008) utilizou um programa de conversas instantâneas para investigar as variáveis apresentadas acima. A cada informante eram expostas as oito condições experimentais. Novamente, o alto índice de aceitação das combinações, em princípio, impossíveis para Verkuyl, aponta para o fato de que um verbo eventivo [+ADD TO] acompanhado de complemento de cardinalidade especificada [+SQA], não engendra, necessariamente, uma interpretação télica. Tendo em vista o norte apontado pelos experimentos descritos, sentimo-nos compelidos à realização de um novo experimento, no qual investigamos a relação entre a presença de um adjunto e terminatividade de um enunciado. Nas próximas páginas, descrevemos esse experimento, apresentando também os resultados e algumas considerações. 46 | 4 | DADOS Na feitura desse experimento, buscamos um modelo experimental no qual as sentenças pudessem ser analisadas de maneira mais precisa, em outras palavras, tentamos reduzir o contexto textual apresentado anteriormente. Em vez da contextualização lingüística, optamos pelo emprego de figuras, como será explicado detalhadamente mais adiante. | 4.1 | INFORMANTES Foram selecionados para participação neste experimento 19 (dezenove) falantes nativos do Português do Brasil. Com o objetivo de evitar possíveis interferências por efeito de variação diatópica, controlamos também a naturalidade dos informantes: todos eram cariocas e residentes no Rio de Janeiro. Os informantes foram alocados em diferentes grupos de acordo com os seguintes critérios: faixa etária, nível de escolaridade e sexo. Foram estabelecidas duas faixas etárias. A faixa etária I abrigou indivíduos de dezoito (18) a vinte e oito (28) anos, já na faixa etária II foram abrigados os informantes com idades ente vinte e nove (29) e trinta e nove (39) anos. A idade média na primeira faixa etária foi de vinte e quatro (24) anos e na segunda de trinta e um (31) anos de idade. Com relação ao nível de escolaridade, também foram criados dois grupos. Em um deles, foram alocados os indivíduos com no mínimo o ensino superior completo. Esse grupo foi chamado de grupo com alta escolaridade. No outro grupo, foram alocados os indivíduos com no máximo o ensino médio completo. Esse grupo foi chamado de grupo com escolaridade média. No que diz respeito ao sexo, foram formados dois grupos, um com oito (8) indivíduos do sexo feminino e outro com oito (8) indivíduos do sexo masculino. A fim de que houvesse maior sistematização quanto ao número de indivíduos em cada grupo, foram descartados aleatoriamente, dentro de seus respectivos grupos, os formulários de 47 três (3) informantes. A distribuição de informantes segundo os critérios já expostos pode ser sistematizada conforme segue. Faixa etária I (entre 18 e 28 anos) Faixa etária II (entre 29 e 39 anos) 2 homens 2 homens 2 mulheres 2 mulheres 2 homens 2 homens 2 mulheres 2 mulheres Alta escolaridade Média escolaridade Tabela 2 – Distribuição de informantes no experimento | 4.2 | DESENHO DO TESTE Nosso intento nesse teste foi investigar a relação entre a noção de terminatividade e o sintagma verbal, bem como, a possibilidade de essa relação ser alterada pela presença de locuções adverbiais. Para tanto, foram elaboradas sentenças que julgamos ter caráter mais terminativo e sentenças com caráter menos terminativo. Como dito anteriormente, buscamos reduzir o contexto lingüístico nesse experimento. Dessa forma, a verificação dessas sentenças foi feita por meio de figuras representativas de ações em desenvolvimento e de ações já terminadas. |4.2.1| As sentenças Foram elaboradas para o experimento quarenta e oito (48) sentenças, das quais metade eram sentenças alvo e metade, sentenças distratoras. Dentre as sentenças alvo, doze (12) eram compostas por quatro (4) palavras (sujeito, verbo e objeto direto) e as demais eram compostas 48 por sete (7) palavras (sujeito, verbo, objeto direto e locução adverbial). O mesmo número de palavras foi respeitado para as sentenças distratoras. Locuções adverbiais foram empregadas em metade das sentenças alvo para conferir às sentenças um caráter mais ou menos terminativo. Sendo assim, como sentenças alvo, figuraram no experimento: sentenças de quatro (4) palavras, ensejando leituras mais e menos terminativas, e sentenças de sete (7) palavras, com um adjunto adverbial, também ensejando leituras mais e menos terminativas. As sentenças distratoras diferiam das sentenças alvo, em princípio, pelo tipo de verbo, que era mais eventivo nestas e menos eventivo naquelas. Além disso, o tipo de adjunto empregado nas sentenças distratoras não implicava em uma mudança de leitura quanto à terminatividade. A tarefa dos informantes nos conjuntos experimentais distratores era semelhante à tarefa nos conjuntos experimentais alvo. Entretanto, o conhecimento subjacente à resposta ao experimento não era de caráter aspectual, mas lexical, uma vez que o informante tinha de relacionar à sentença a figura que apresentasse um objeto, gesto ou idéia que o remetesse à idéia expressa na sentença. Sendo assim, os grupos experimentais distratores serviriam primordialmente para criar a demanda por outros mecanismos de pensamento e evitar que o informante percebesse o que estava sendo investigado no experimento. Entretanto, alguns grupos experimentais distratores foram selecionados e constituídos de elementos verificadores. Três (3) grupos localizados no início, no meio e no fim do experimento foram analisados a fim de verificar o grau de atenção do informante. Se o informante relacionasse, por exemplo, a sentença “Maria sentiu muita alegria durante sua vida.” à figura de uma mulher triste e a sentença “Maria sentiu muita tristeza.” à figura de uma mulher sorrindo, é muito provável que o indivíduo estivesse respondendo ao experimento aleatoriamente7. Nesse caso, o formulário desse informante seria descartado. Todas as sentenças utilizadas no experimento estão disponíveis no ANEXO. 7 Tal comportamento não foi verificado entre os informantes. 49 |4.2.2| Os verbos Foram escolhidos para a elaboração das sentenças alvo verbos de caráter mais eventivo8, uma vez que um verbo de caráter mais estativo não serviria ao propósito de investigar ações terminadas ou em andamento. Verbos estativos foram empregados nas sentenças distratoras. Em ambos os casos, foi escolhido um verbo de cada conjugação, conforme exposto abaixo. Além da questão das terminações verbais, atentamos também para o fato de que em português dispomos de uma rica morfologia, a qual está bastante associada à idéia de terminatividade. Sendo assim, das vinte e quatro (24) sentenças alvo e distratoras, em doze (12) figurava morfologia verbal normalmente associada ao imperfectivo (como em cantava) e em doze (12) figurava morfologia verbal normalmente associada ao perfectivo (como em cantou). Tipo de sentença Tipo de verbo 1a Conjugação 2a Conjugação 3a Conjugação Alvo [+] eventivo recortar comer corrigir Distratora [–] eventivo amar saber sentir Tabela 3 – Verbos utilizados no experimento |4.2.3| As figuras Foram feitas quarenta e oito (48) figuras que estavam diretamente relacionadas às sentenças elaboradas para o experimento. No caso das figuras que se referiam a sentenças alvo, uma figura apresentava uma ação em desenvolvimento e sua correspondente, a ação já terminada. Quanto às figuras referentes a sentenças distratoras, elas traziam algo, uma expressão facial, um objeto, que de alguma forma era representativo do exposto nas sentenças a elas relacionadas. 8 Conforme descrito no capítulo 2, à pagina 36. 50 |4.2.4|Organização e procedimento As sentenças e figuras foram agrupadas em vinte e quatro (24) conjuntos experimentais, dos quais doze (12) eram conjuntos experimentais alvo e doze (12) eram conjuntos experimentais distratores. Em cada página do experimento foram dispostas duas (2) figuras e (2) sentenças que estavam relacionadas entre si, conforme mostram as Figuras 11 e 12. A ordem para a disposição dos conjuntos experimentais, bem como das figuras e das sentenças foi aleatória, para dificultar que o informante formulasse qualquer tipo de “esquema” para resposta ao experimento com base na seqüência dos elementos apresentados. Ao informante eram apresentadas as instruções da forma escrita na primeira página do experimento. Uma página de treinamento seguia a página de instruções. Nesse momento, instruções verbais eram dadas e quaisquer dúvidas quanto à resposta ao experimento eram sanadas. Seguindo a página de treinamento, uma página exibia a pergunta: “Podemos iniciar o experimento?”. Após doze (12) conjuntos experimentais, era perguntado ao informante se ele gostaria de parar por alguns minutos ou se era possível seguir com o experimento. O objetivo era permitir algum descanso aos informantes, em caso de eles se sentirem cansados, para que o cansaço não interferisse nos resultados. Aos informantes era dito que em cada página do experimento eles veriam duas sentenças e duas figuras. Sua tarefa seria ler as sentenças, observar as figuras e dizer as relações entre as sentenças e as figuras, que deveriam ser expressas em frases do tipo: “A sentença ‘x’ corresponde à figura ‘y’” ou similares. 51 Figura 10 – Exemplo de conjunto experimental alvo Figura 11 – Exemplo de conjunto experimental distrator 52 | 4.3 | R ESULTADOS Esperávamos que os resultados desse experimento se alinhassem com os resultados obtidos por CELERI (2006, 2007). O que significa dizer que: esperávamos que com a devida contextualização, independentemente da natureza do complemento (se de cardinalidade especificada ou não), ou da morfologia empregada (se perfectivo ou imperfectivo), uma frase poderia receber uma leitura mais ou menos terminativa. Os resultados, expostos a seguir em diferentes análises, parecem apontar que nossa expectativa estava correta. Gráfico 1 – Relação sentença-figura interna aos conjuntos experimentais alvo (CE) % 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 CE2 CE3 CE5 CE8 CE9 CE11 CE13 CE14 CE17 CE18 CE20 CE21 No gráfico acima está representado o número de informantes que fez a relação sentença-figura conforme havíamos previsto: a sentença de leitura menos terminativa associada à figura representativa de uma ação em desenvolvimento e a sentença com leitura mais terminativa associada à figura representativa da ação completada. Essas combinações foram feitas pelos informantes nas seguintes proporções: nos conjuntos experimentais 5, 8 e 9 tal associação foi feita por cem por cento (100%) dos informantes. Nos conjuntos 3, 11 e 21, noventa e três vírgula setenta e cinco por cento (93,75%) dos informantes fizeram a associação supracitada. Para os conjuntos 2, 14, 17 e 18, o índice foi de oitenta e sete vírgula cinco por cento (87,5%) e para os 53 conjuntos 13 e 20, o índice foi de oitenta e um vírgula vinte e cinco por cento (81,25%). Os resultados mostram que a associação ora descrita aconteceu em grande escala, o que nos leva a crer que tal relação deve ser tratada com atenção. Gráfico 2 – Relação sentença-figura versus nível de escolaridade % 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Alta escolaridade Média escolaridade O gráfico acima nos mostra que os informantes com mais anos de escolaridade fizeram mais freqüentemente a associação entre uma sentença menos terminativa e uma figura representativa de uma ação em desenvolvimento, mais precisamente, tal associação foi feita por esse grupo em noventa e um vírgula sessenta e seis por cento (91,66%) dos casos. Entretanto, a diferença entre as duas faixas de escolaridade não se mostrou relevante: dois por cento (2%). O Gráfico 3, representativo da relação sentença-figura de acordo com a faixa etária dos informantes, nos mostra resultados que corroboram os anteriores, não comprometendo a análise proposta, mas tráz um dado novo que pode apontar para um possível estudo de caráter sociolingüístico. 54 Gráfico 3 – Relação sentença-figura versus faixa etária % 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 29-39 anos de idade 18-28 anos de idade Em ambos os grupos, o nível de relacionamento entre sentença terminativa e figura de ação já concluída foi bastante elevado. Note-se que enquanto os indivíduos no grupo de maior idade associaram figuras e sentenças terminativas e vice-versa em noventa e oito vírgula noventa e seis por cento (98,96) dos casos, o grupo de menor idade fez tal associação em oitenta e dois vírgula três por cento (82,3%), um valor também alto, mas representativo de uma diferença de dezesseis vírgula sessenta e seis por cento (16,66). Falando em termos absolutos, no grupo de maior idade em apenas um grupo experimental observou-se a associação sentença mais terminativa e figura representativa de ação em desenvolvimento. No gráfico a seguir, apresentamos a análise geral dos dados obtidos, ou seja, o número total de informantes versus o número total de grupos experimentais. Os resultados mostram que a relação que esperávamos que acontecesse, de fato, aconteceu – e em número expressivo. Em noventa vírgula sessenta e dois por cento (90,62%) dos casos, a associação feita foi de uma sentença de caráter menos terminativo a uma figura representativa de uma ação em desenvolvimento e de uma figura de caráter mais terminativo a uma figura de uma ação já completada. Em apenas nove vírgula trinta e oito por cento (9,38%) dos casos a associação contrária foi feita. 55 Gráfico 4 – Relação sentença-figura % 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sent. [+] Term. - Fig. [+] Term. Sent. [+] Term. - Fig. [ - ] Term. 56 | 5 | PROPOSTA DE ANÁLISE Os dados apresentados nos capítulos anteriores se alinham e apontam para uma mesma direção: na composição da nuance aspectual de uma sentença, há que se atentar para a relação entre o verbo e seu complemento, mas não apenas. Em sua proposta, Verkuyl afirma que para a obtenção de uma leitura mais terminativa em uma sentença bastariam além de um sujeito de cardinalidade especificada, um verbo de caráter eventivo e um complemento também de cardinalidade especificada. É ignorado, entretanto, o importante papel que os adjuntos podem desempenhar. Autoras como Slabakova (2000) e Smollet (2006) pontuaram a questão de que apenas o verbo e seus argumentos não bastariam para compor o aspecto de um enunciado, usando para tal, exemplos do inglês no qual figuram partículas chamadas de resultativas, por exemplo. Em ambos os trabalhos supracitados, bem como em alguns outros, o valor dos adjuntos não foi considerado. Ao olharmos para tal questão, investigando dados do português do Brasil, produzimos um estudo a esse respeito. Os resultados encontrados nos permitiram algumas constatações bastante interessantes no que tange a essa língua e em última instância à representação mental da noção de aspecto. Retomemos agora a noção de composicionalidade aspectual proposta por Verkuyl (2003), cujo modelo foi reproduzido na página 41 e a seguir para facilidade de consulta. Segundo tal esquema e de acordo com o Princípio-MAIS, seria necessária apenas uma marcação negativa, seja no sujeito, no verbo, ou no complemento, para que uma sentença tivesse uma leitura menos terminativa. Tal proposta nos parece bastante atraente, mas tal qual foi formulada, não prevê a ocorrência de adjuntos. Sendo assim, somos levados a propor uma análise que dê conta da inserção do adjunto no modelo de composicionalidade apresentado até então. 57 Poderíamos, então, assumir que o NPint se une ao verbo formando V’ e a este se uniria o adjunto, formando um complexo VP. Seguindo a análise aqui proposta, o Princípio-MAIS seria, a priori, invalidado, uma vez que, segundo tal princípio, bastaria uma marcação negativa para que a interpretação da sentença fosse menos terminativa, mas com a inserção de um adjunto, ainda que o NPint apresente um valor negativo, é possível obter uma leitura mais terminativa. Apresentamos abaixo dois exemplos de sentenças retiradas de nosso experimento: a) Maria recortou algumas fotografias. NPext [+SQA] [+ADD TO] NPint [- SQA] Leitura: - Terminativa b) Maria recortou algumas fotografias NPext [+SQA] [+ADD TO] NPint [- SQA] antes de escrever. Leitura: + Terminativa A proposta de Verkuyl dá conta da leitura menos terminativa obtida na sentença apresentada em a). Tal proposta foi corroborada pelos resultados obtidos em nosso experimento, em se tratando de sentenças semelhantes a essa. Entretanto, vemos que em b), a despeito da marcação negativa no argumento interno, a leitura preferida em nosso experimento foi a mais terminativa. Dessa forma, os resultados obtidos em nosso experimento apontam para a necessidade de uma revisão do Princípio-MAIS. Tal princípio, que a priori seria invalidado em face da sentença b), pode ser, contudo, salvo se assumirmos que: a) o Princípio-MAIS é operante em sentenças desprovidas de adjuntos; e b) em sentenças nas quais figuram um adjunto, a informação quanto à terminatividade fornecida pelo adjunto9 poderia ter primazia sobre a marcação do NPint. 9 A natureza da informação aspectual oferecida pelo adjunto não foi escopo de nosso trabalho. Pesquisas ulteriores poderão mostrar de que forma o tipo de adjunto se relaciona à informação com a qual ele contribui na composição do aspecto de uma sentença. 58 A marcação proposta por Verkuyl diz respeito apenas à quantificação do complemento. Com a adjunção de uma locução adverbial, por exemplo, tal marcação (do complemento) torna-se irrelevante e o esquema apresentado na Figura 9 teria de ser modificado. A seguir, reproduzimos a Figura 9 e apresentamos na Figura 12 uma proposta de modificação da representação do sistema da composicionalidade aspectual na qual é prevista a possibilidade da adjunção de um elemento que mudaria a marcação desse complexo. A proposta que fazemos contempla os resultados obtidos em experimentos nos quais figuravam adjuntos. Dessa forma, julgamos ser o esquema apresentado na Figura 12 mais adequado para dar conta das expressões lingüísticas do que o esquema proposto por Verkuyl, uma vez que na representação ora proposta, é prevista a ocorrência de adjuntos e fica patente a importância do adjunto na composição do aspecto da sentença. S’ ... S [±TS] Outer aspectuality Inner aspectuality NPext [±SQA] VP [±TVP] V [±ADD TO] NPint [±SQA] Figura 9 – A Composicionalidade Aspectual 59 S’ ... Outer aspectuality Inner aspectuality S [±TS] NPext [±SQA] VP [±TVP] Adj/Adv V’ V [±ADD TO] NPint[±SQA] Figura 12 – A Composicionalidade Aspectual – Representação modificada 60 | 6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS A motivação de nossos estudos tem sido compreender um pouco mais sobre como esse fascinante sistema ao qual chamamos de linguagem está representado na mente/cérebro do ser humano. Dessa forma, foi extremamente profícua e prazerosa nossa breve expedição em solos da questão que tem norteado nossos estudos: a representação mental da noção de tempo e em especial da noção de aspecto. Falamos da proposta da visão modularista de mente/cérebro, segundo a qual a Faculdade da linguagem seria um sistema que interagiria com outros sistemas, chamados de sistemas de desempenho, como os sistemas sensório-motor e conceitual-intencional. Falamos ainda de uma forma específica de se investigar a questão da linguagem humana, olhando para a representação da linguagem em um nível mental. Desta feita, falamos da Teoria da Gramática Gerativa, mostrando como essa teoria evoluiu desde suas primeiras versões até o Programa Minimalista, que apresenta hoje um modelo de linguagem como sistema ótimo, segundo uma abordagem computacional. Paralelamente à descrição dessa evolução, falamos das diferentes formas de como as noções de tempo e aspecto foram vistas ao longo dessa trajetória. Focamo-nos, então, na noção de aspecto, apresentando algumas tendências para o estudo dessa noção. Concentramo-nos na proposta segundo a qual, tal noção seria engendrada a partir da composição de vários elementos como o verbo e seus argumentos. Por fim, com base nos dados obtidos em nossos experimentos, que se alinham com dados obtidos em outros trabalhos, mostramos que a presença ou ausência do adjunto adverbial é de extrema relevância na composição do aspecto de uma sentença. Tal assunção abre caminho para outros estudos a respeito do tema, como por exemplo, estudos nos quais a questão da quantificação do argumento externo seja investigada. 61 Igualmente, nos parece ser profícua a investigação a respeito de quais tipos de adjunto encerram traços capazes de engendrar uma leitura mais ou menos terminativa. Cabe, ainda, destacar que tomamos para estudo e apresentamos evidência em favor de um modelo no qual se assume que parte da informação aspectual seria engendrada em níveis baixos da representação arbórea. Tal afirmação pode incitar à discussão a respeito de pressupostos e modelos consagrados na Teoria Gerativista como, por exemplo, a presença de informação flexional na camada dita lexical. Sendo assim, e tendo em vista os achados e possíveis desdobramentos apresentados neste trabalho, esperamos ter contribuído de alguma forma para fazer avançar os estudos lingüísticos, tão importantes para a compreensão da mente humana. 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Braga, M. (2004) O traço aspectual no agramatismo: reformulando a hipótese da poda da árvore. Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Letras. Dissertação de Mestrado em Lingüística. Bok-Bennema, R. (2001) in Oosterdorp, Mark van and Elena Anagnostopoulou Progress in Grammar. 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New York: Academic Press. 63 Finger, I. (2000) Acquisition of L2 English verb morphology: The aspect hypotesis tested. Rio Grande do Sul. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Tese de doutorado. Haegeman, L. (1991) Introduction to government and binding theory. Oxford: Blackwell Publishers Inc. Hauser, M.; Chomsky, N.; Fitch, W. (2002) The evolution of language faculty: Clarifications and implications. Cognition, 97, 179-210. Novaes, C.; Braga, M. (2005) Agrammatic aphasia and aspect. Brain and Language, 95, 121-122. Pollock, J. (1989) Verb movement, universal grammar and the structure of IP. Linguistic Inquiry, 20, 365-424. Raposo, E. (1992) Teoria da Gramática. A Faculdade da Linguagem. Lisboa: Caminho. Rodrigues, F. (2007) Dissociação de tempo e aspecto no processamento sintático on-line. Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Letras. Dissertação de Mestrado em Lingüística. Slabakova, R. 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Dordrecht: Kluwer. 2003. 64 ANEXO A – SENTENÇAS UTILIZADAS NO EXPERIMENTO Índices das referências das sentenças [ A|1|4|P|+|+] a b c d e f a – Natureza da sentença: Alvo ou Distratora b – Conjugação do verbo: Primeira, Segunda ou Terceira c – Número de elementos da sentença: quatro (4) ou sete (7) d – Morfologia empregada no verbo: Morfologia de Perfectivo ou de Imperfectivo e – Especificação quanto à quantificação do complemento: Mais ou Menos especificada f – Leitura esperada, no tangente a terminatividade: Mais ou Menos terminativa Exemplo: Sentença 1 - Maria recortou o texto. Sentença Alvo Verbo de primeira conjugação [A|1|4|Pe|+|+] Composta por 4 elementos [ A | 1 | 4 | Pe | + | + ] Morfologia de Perfectivo Complemento quantificado Mais Terminativa 65 Sentenças na ordem de apresentação do experimento Sentença 1 - Maria amava fazer cartões. [D|1|4| Im |○|○] Sentença 2 - Maria amava fazer cartões com papéis coloridos. [D|1|7| Im |○|○] Sentença 3 - Maria comeu alguns biscoitos antes de sair. [A|2|7|Pe|–|+] Sentença 4 - Maria comeu alguns biscoitos. [A|2|4|Pe|–|–] Sentença 5 - Maria recortava uma revista. [A|1|4| Im |+|+] Sentença 6 - Maria recortava uma revista enquanto ouvia notícias. [A|1|7| Im |+|–] Sentença 7 - Maria sabia fazer bananadas. [D|2|4| Im |○|○] Sentença 8 - Maria sabia fazer sobremesas com creme chantili. [D|2|7| Im |○|○] Sentença 9 - Maria corrigiu o exercício. [A|3|4|Pe|+|+] Sentença 10 - Maria corrigiu o exercício quase por inteiro. [A|3|7|Pe|+|–] Sentença 11 - Maria sentia muita dor. [D|3|4| Im |○|○] Sentença 12 - Maria sentia muita alegria ontem à tarde. [D|3|7| Im |○|○] Sentença 13 - Maria soube das notícias. [D|2|4|Pe|○|○] Sentença 14 - Maria soube das notícias lendo o jornal. [D|2|7|Pe|○|○] Sentença 15 - Maria corrigia um teste enquanto ouvia música. [A|3|7| Im |+|–] Sentença 16 - Maria corrigia um teste. [A|3|4| Im |+|+] Sentença 17 - Maria recortou algumas fotografias. [A|1|4|Pe|–|–] Sentença 18 - Maria recortou algumas fotografias antes de escrever. [A|1|7|Pe|–|+] Sentença 19 - Maria sentiu muita tristeza. [D|3|4|Pe|○|○] Sentença 20 - Maria sentiu muita alegria durante sua vida. [D|3|7|Pe|○|○] Sentença 21 - Maria recortou o texto. [A|1|4|Pe|+|+] Sentença 22 - Maria recortou o texto quase por inteiro. [A|1|7|Pe|+|–] Sentença 23 - Maria sabia fazer pizza. [D|2|4| Im |○|○] Sentença 24 - Maria sabia fazer moquecas com bastante camarão. [D|2|7| Im |○|○] 66 Sentença 25 - Maria recortava algumas fotos. [A|1|4| Im |–|–] Sentença 26 - Maria recortava algumas fotos antes da colagem. [A|1|7| Im |–|+] Sentença 27 - Maria corrigiu alguns exercícios. [A|3|4|Pe|–|–] Sentença 28 - Maria corrigiu alguns exercícios antes de digitar. [A|3|7|Pe|–|+] Sentença 29 - Maria soube fazer café. [D|2|4|Pe|○|○] Sentença 30 - Maria soube fazer café com a cafeteira. [D|2|7|Pe|○|○] Sentença 31 - Maria sentia muita saudade. [D|3|4| Im |○|○] Sentença 32 - Maria sentia muita saudade de sua família. [D|3|7| Im |○|○] Sentença 33 - Maria comia uma maçã. [A|2|4| Im |+|+] Sentença 34 - Maria comia uma maçã enquanto lia revistas. [A|2|7| Im |+|–] Sentença 35 - Maria comia alguns cereais. [A|2|4| Im |–|–] Sentença 36 - Maria comia alguns cereais antes do suco. [A|2|7| Im |–|+] Sentença 37 - Maria amou os panfletos. [D|1|4|Pe|○|○] Sentença 38 - Maria amou as fotografias tiradas na viagem. [D|1|7|Pe|○|○] Sentença 39 - Maria corrigia algumas provas. [A|3|4| Im |–|–] Sentença 40 - Maria corrigia algumas provas antes da leitura. [A|3|7| Im |–|+] Sentença 41 - Maria comeu a maçã. [A|2|4|Pe|+|+] Sentença 42 - Maria comeu a maçã por uns segundos. [A|2|7|Pe|+|–] Sentença 43 - Maria amou os chocolates. [D|1|4|Pe|○|○] Sentença 44 - Maria amou os presentes que recebeu ontem. [D|1|7|Pe|○|○] Sentença 45 - Maria sentiu muita pena. [D|3|4|Pe|○|○] Sentença 46 - Maria sentiu muita alegria com as notícias. [D|3|7|Pe|○|○] Sentença 47 - Maria amava ler livros. [D|1|4| Im |○|○] Sentença 48 - Maria amava ler revistas nas horas vagas. [D|1|7| Im |○|○] 67 Classificação das figuras utilizadas em conjuntos experimentais alvo Figura 3 - [–] Terminativa Figura 4 - [+] Terminativa Figura 5 - [+] Terminativa Figura 6 - [–] Terminativa Figura 9 - [+] Terminativa Figura 10 - [–] Terminativa Figura 15 - [+] Terminativa Figura 16 - [–] Terminativa Figura 17 - [+] Terminativa Figura 18 - [–] Terminativa Figura 21 - [+] Terminativa Figura 22 - [–] Terminativa Figura 25 - [+] Terminativa Figura 26 - [–] Terminativa Figura 27 - [+] Terminativa Figura 28 - [–] Terminativa Figura 33 - [+] Terminativa Figura 34 - [–] Terminativa Figura 35 - [–] Terminativa Figura 36 - [+] Terminativa Figura 39 - [+] Terminativa Figura 40 - [–] Terminativa Figura 41 - [–] Terminativa Figura 42 - [+] Terminativa 68 ANEXO B – CONJUNTOS EXPERIMENTAIS Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras - Centro de Letras e Artes Programa de Pós-graduação em Lingüística - EXPERIMENTO - 69 Instruções para o experimento Em cada página do experimento você verá: - 2 sentenças - 2 figuras - um indicativo numérico de ordem Sua tarefa é: - ler as sentenças - observar as figuras - dizer a qual figura corresponde cada sentença A próxima página é apenas um treinamento. 70 Maria falava ao telefone enquanto corrigia trabalhos. Sentença 49 Figura 49 Sentença 50 Figura 50 Maria falava ao telefone. 25 71 Podemos iniciar o experimento? 72 Maria amava fazer cartões. Sentença 1 Figura 1 Maria amava fazer cartões com papéis coloridos. Sentença 2 Figura 2 1 73 Maria comeu alguns biscoitos antes de sair. Sentença 3 Figura 3 Maria comeu alguns biscoitos. Sentença 4 Figura 4 2 74 Maria recortava uma revista. Sentença 5 Figura 5 Maria recortava uma revista enquanto ouvia notícias. Sentença 6 Figura 6 3 75 Maria sabia fazer bananadas. Sentença 7 Figura 7 Maria sabia fazer sobremesas com creme chantili. Sentença 8 Figura 8 4 76 Maria corrigiu o exercício. Sentença 9 Figura 9 Maria corrigiu o exercício quase por inteiro. Sentença 10 Figura 10 5 77 Maria sentia muita dor. Sentença 11 Figura 11 Maria sentia muita alegria ontem à tarde. Sentença 12 Figura 12 6 78 Maria soube das notícias. Sentença 13 Figura 13 Maria soube das notícias lendo o jornal. Sentença 14 Figura 14 7 79 Maria corrigia um teste enquanto ouvia música. Sentença 15 Figura 15 Sentença 16 Figura 16 Maria corrigia um teste. 8 80 Maria recortou algumas fotografias. Sentença 17 Figura 17 Maria recortou algumas fotografias antes de escrever. Sentença 18 Figura 18 9 81 Maria sentiu muita tristeza. Sentença 19 Figura 19 Maria sentiu muita alegria durante sua vida. Sentença 20 Figura 20 10 82 Maria recortou o texto. Sentença 21 Figura 21 Maria recortou o texto quase por inteiro. Sentença 22 Figura 22 11 83 Maria sabia fazer pizza. Sentença 23 Figura 23 Maria sabia fazer moquecas com bastante camarão. Sentença 24 Figura 24 12 84 Estamos na metade do experimento. Você gostaria de parar alguns minutos e retomar em seguida ou podemos continuar? 85 Maria recortava algumas fotos. Sentença 25 Figura 25 Maria recortava algumas fotos antes da colagem. Sentença 26 Figura 26 13 86 Maria corrigiu alguns exercícios. Sentença 27 Figura 27 Maria corrigiu alguns exercícios antes de digitar. Sentença 28 Figura 28 14 87 Maria soube fazer café. Sentença 29 Figura 29 Maria soube fazer café com a cafeteira. Sentença 30 Figura 30 15 88 Maria sentia muita saudade. Sentença 31 Figura 31 Maria sentia muita saudade de sua família. Sentença 32 Figura 32 16 89 Maria comia uma maçã. Sentença 33 Figura 33 Maria comia uma maçã enquanto lia revistas. Sentença 34 Figura 34 17 90 Maria comia alguns cereais. Sentença 35 Figura 35 Maria comia alguns cereais antes do suco. Sentença 36 Figura 36 18 91 Maria amou os panfletos. Sentença 37 Figura 37 Maria amou as fotografias tiradas na viagem. Sentença 38 Figura 38 19 92 Maria corrigia algumas provas. Sentença 39 Figura 39 Maria corrigia algumas provas antes da leitura. Sentença 40 Figura 40 20 93 Maria comeu a maçã. Sentença 41 Figura 41 Maria comeu a maçã por uns segundos. Sentença 42 Figura 42 21 94 Maria amou os chocolates. Sentença 43 Figura 43 Maria amou os presentes que recebeu ontem. Sentença 44 Figura 44 22 95 Maria sentiu muita pena. Sentença 45 Figura 45 Maria sentiu muita alegria com as notícias. Sentença 46 Figura 46 23 96 Maria amava ler livros. Sentença 47 Figura 47 Maria amava ler revistas nas horas vagas. Sentença 48 Figura 48 24 97 Muito Obrigado! 98 ANEXO C – FICHA DE CONTROLE DE INFORMANTES E RESPOSTAS Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras – Centro de Letras e Artes Programa de Pós-graduação em Lingüística Controle de informantes e respostas ao experimento Informante: ___________________________________________________________________ Idade: _______________________________________________________________________ Grau de escolaridade: ___________________________________________________________ Ocupação/Formação: ___________________________________________________________ Naturalidade: __________________________________________________________________ Sentença [ 1 ] - Figura [ ] Sentença [ 25 ] - Figura [ ] Sentença [ 2 ] - Figura [ ] Sentença [ 26 ] - Figura [ ] Sentença [ 3 ] - Figura [ ] Sentença [ 27 ] - Figura [ ] Sentença [ 4 ] - Figura [ ] Sentença [ 28 ] - Figura [ ] Sentença [ 5 ] - Figura [ ] Sentença [ 29 ] - Figura [ ] Sentença [ 6 ] - Figura [ ] Sentença [ 30 ] - Figura [ ] Sentença [ 7 ] - Figura [ ] Sentença [ 31 ] - Figura [ ] Sentença [ 8 ] - Figura [ ] Sentença [ 32 ] - Figura [ ] Sentença [ 9 ] - Figura [ ] Sentença [ 33 ] - Figura [ ] Sentença [ 10 ] - Figura [ ] Sentença [ 34 ] - Figura [ ] Sentença [ 11 ] - Figura [ ] Sentença [ 35 ] - Figura [ ] Sentença [ 12 ] - Figura [ ] Sentença [ 36 ] - Figura [ ] Sentença [ 13 ] - Figura [ ] Sentença [ 37 ] - Figura [ ] Sentença [ 14 ] - Figura [ ] Sentença [ 38 ] - Figura [ ] Sentença [ 15 ] - Figura [ ] Sentença [ 39 ] - Figura [ ] Sentença [ 16 ] - Figura [ ] Sentença [ 40 ] - Figura [ ] Sentença [ 17 ] - Figura [ ] Sentença [ 41 ] - Figura [ ] Sentença [ 18 ] - Figura [ ] Sentença [ 42 ] - Figura [ ] Sentença [ 19 ] - Figura [ ] Sentença [ 43 ] - Figura [ ] Sentença [ 20 ] - Figura [ ] Sentença [ 44 ] - Figura [ ] Sentença [ 21 ] - Figura [ ] Sentença [ 45 ] - Figura [ ] Sentença [ 22 ] - Figura [ ] Sentença [ 46 ] - Figura [ ] Sentença [ 23 ] - Figura [ ] Sentença [ 47 ] - Figura [ ] Sentença [ 24 ] - Figura [ ] Sentença [ 48 ] - Figura [ ]