Pró-Reitoria de Graduação A INFLUÊNCIA DA SUPLEMENTAÇÃO DE GLUTAMINA NA COMPOSIÇÃO CORPORAL EM PRATICANTES DE TREINAMENTO RESISTIDO Curso de Educação Física Trabalho de Conclusão de Curso A INFLUÊNCIA DA SUPLEMENTAÇÃO DE GLUTAMINA EM PRATICANTES DE TREINAMENTO RESISTIDO Autor: Gustavo Chagas Góes Viena Orientador: Profº Msc. Fábio Antônio Tenório de Melo Brasilia – DF 2011 1 INTRODUÇÃO A suplementação de glutamina, tem se tornado cada vez mais popular, nos últimos anos, principalmente entre os atletas de endurance. Dados publicados por (VARNIER et al., 1995), (CASTELL et al., 1996),demonstraram que pode haver algum efeito benéfico na ressíntese de glicogênio muscular e na resposta do sistema imunológico frente ao exercício, servindo também como substrato para a gliconeogênese no fígado, (VARNIER et al., 1995). Esse aumento poderia amenizar a quebra de aminoácidos da proteína muscular, diminuindo, assim, a perda de massa magra, um ponto positivo para praticantes de treinamento resistido com esse fim. A glutamina é o aminoácido livre mais abundante no plasma e no tecido muscular, compreendendo 20% dos aminoácidos livres no sangue e mais de 50% do pool de aminoácidos do músculo esquelético. É também encontrada em concentrações relativamente elevadas em outros tecidos corporais (MERO et al, 2009). Nutricionalmente é classificada como um aminoácido não essencial, uma vez que pode ser sintetizada pelo organismo a partir de outros aminoácidos (CRUZAT, 2009). Há autores (CURI et al. 2005) que a colocam como um aminoácido “condicionalmente essencial”, pois sua concentração no plasma pode diminuir em até 50% durante o estresse, causando uma condição de deficiência. A proliferação e desenvolvimento de células, em especial do sistema imune, o balanço acidobásico, o transporte da amônia entre os tecidos, a doação de esqueletos de carbono para a gliconeogênese, entre outros, são algumas das funções em que a substância está envolvida (ROWBOTTON et al, 1996; NEWSHOLME et al, 2003). E ainda, está ligada a manutenção das funções básicas de órgãos como os rins, o fígado, o coração, os intestinos, neurônios, linfócitos, macrófagos, neutrófilos, células beta do pâncreas, entre outros (NOVELLI et al. 2007). Segundo afirmam Rogero et al (2000), o principal tecido responsável pela síntese, estoque e liberação de glutamina é o tecido muscular, o qual apresenta atividade das enzimas glutamina sintetase e aminotransferase de aminoácidos de cadeia ramificada. Parece que a glutamina é um importante nutriente metabólico que afeta a síntese protéica, conforme estudos apresentados por Rennie et al. (1994),ocasionado possivelmente pelo aumento do volume e da pressão osmótica de acordo com dados apresentados por Low et al, (1996). Pesquisas de Rennie et al. (1994) e Castell et al. (1996), evidenciaram que a suplementação de glutamina pode promover o crescimento muscular e prevenir infecções do trato respiratório superior em atletas. Além disso, no meio intracelular, a glutamina pode sofrer hidrólise e elevar a disponibilidade de glutamato, que é essencial para a síntese do principal antioxidante celular, a GSH (glutationa) (ROGERO et al., 2007). 2 No sistema imunológico, a alta utilização de glutamina pelos linfócitos e macrófagos sugere que a disposição desse aminoácido é de suma importância para o funcionamento dessas células e também para o bom funcionamento da resposta imunológica (CALDER & YAQOOB, 1999). Furukawa e colaboradores (1997), observaram que culturas de neutrófilos tiradas de pacientes com queimaduras ou no pós-cirúrgico melhoraram a resposta defensiva antimicrobial dessas células quando adicionada glutamina a elas. Em exercícios intensos e de longa duração, a suplementação de glutamina demonstrou diminuir a incidência de infecções e melhorar a resposta das células do sistema imune (CASTELL et al. 1996). Em contrapartida, pesquisas realizadas por Rohde et al. (1998), indicaram que a suplementação de glutamina não exerceu efeitos sobre as células do sistema imune. Rossi et al (2000), afirmam que, durante o exercício, a oxidação dos aminoácidos não é a principal fonte de ATP, entretanto, sua utilização pelos músculos é bastante relevante para manter o fluxo de substratos no ciclo do acido cítrico. Atualmente há uma intensa procura por recursos ergogênicos que aumentem a síntese protéica (anabolismo) ou diminua a proteólise (catabolismo) quando combinado com o treinamento resistido (PEREIRA et al. 2003). E para tanto, a utilização da glutamina por praticantes dessa modalidade, tornou-se popular devido às propriedades desse aminoácido. O treinamento resistido tornou-se uma das formas mais conhecidas de exercícios, tanto para o condicionamento de atletas como para melhorar a forma física e a saúde de não atletas. O termo treinamento resistido abrange uma grande variedade de tipos de treinamento, segundo afirmam Fleck e Kraemer (2006). Combinado a hábitos nutricionais e de repouso apropriados, os resultados podem ser eficazes tanto no aumento quanto na diminuição do peso corporal e, com isso, modificar a composição corporal do indivíduo (BOMPA & LORENZZO, 2000). Diante do exposto o presente estudo terá como objetivo realizar uma revisão da literatura acerca dos efeitos da suplementação de glutamina em praticantes de treinamento resistido. MATERIAIS E MÉTODOS Esta pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica a respeito de treinamento de resistido e a utilização da glutamina como componente potencializador dos resultados. 3 Revisão de Literatura O aminoácido Glutamina A glutamina (C5H10N2O3) é um L-α-aminoácido, com características hidrofílicas e peso molecular de aproximadamente 146,1kda e pode ser sintetizada por todos os tecidos do organismo (CURI, 2000). Os primeiros a considerarem este aminoácido como sendo uma molécula com propriedades importantes foram Hlasiwetz e Habermann, em 1873 (TIRAPEGUI, 2009). Já em 1935, Krebs demonstrou que células possuam a capacidade de sintetizar ou degradar glutamina (HISCOCK et al, 2002). Duas enzimas são responsáveis pela síntese, a partir do glutamato, ou por sua degradação, também em glutamato: a glutamina-sintetase e a glutaminase, respectivamente (ROWBOTTOM et al, 1996). A primeira é responsável por catalisar a conversão do aminoácido a partir de amônia e glutamato, na presença de ATP. Já a glutaminase é responsável pela hidrólise, convertendo-a em glutamato e amônia (ROGERO et al, 2003). Indivíduos pesando aproximadamente 70 kg apresentam cerca de 70-80g de glutamina, distribuída pelo corpo. No sangue, a concentração (glutaminemia) é em torno de 500-700µmol/L. A concentração tecidual e a glutaminemia podem ser influenciadas pela atividade da enzima glutamina-sintetase ou glutaminase. Alguns tipos de células, tais como as do sistema imune, rins e intestino, apresentam elevada atividade de glutaminase, sendo assim considerados tecidos consumidores da substância. Por outro lado, os músculos esqueléticos, os pulmões, o fígado, o cérebro e, possivelmente, o tecido adiposo apresentam elevada atividade da enzima glutamina-sintetase, sendo assim considerados tecidos sintetizadores (D´SOUZA et al., 2004). Juntamente com os aminoácidos de cadeia ramificada, valina, leucina e isoleucina, a glutamina é considerada um dos aminoácidos mais abundantes no tecido muscular e um dos que possui maior importância energética e metabólica, conforme afirmam Ceddia et al (2000). Em termos de quantidade, o principal tecido de síntese, estoque e liberação é o tecido muscular esquelético. A elevada capacidade de síntese e liberação desse aminoácido, principalmente em situações em que há aumento na sua demanda por outros órgãos e tecidos, confere ao músculo esquelético um papel metabólico essencial na regulação da glutaminemia. A predominância do tipo de fibra muscular também pode influenciar na síntese deste aminoácido. Fibras do tipo 1 ou oxidativas, podem apresentar cerca de três vezes mais estoques de glutamina em comparação com fibras do tipo 2 ou glicolíticas. Essa diferença está relacionada com a maior atividade da enzima glutamina-sintetase e a maior disponibilidade de ATP para sua síntese em fibras oxidativas (ROWBOTTOM et al, 1996). Um estudo de Maclennan et al. 1987, em modelos animais, demonstrou que a suplementação e glutamina pode reduzir a degradação e aumentar a síntese protéica em tecidos musculares esqueléticos. 4 A glutamina é ativamente transportada para dentro das células através de um sistema dependente de sódio, resultando em gasto de energia. O transporte dessa substância através da membrana da célula muscular é rápido e sua velocidade é superior a de todos os outros aminoácidos (WOODGATE et al, 2002). Klassen et al, (2000) apud (CRUZAT et al. 2007; ROGERO et al. 2003), relacionam glutamina com volume celular e demonstram que o transporte para o meio intracelular promove elevação na captação de sódio, modificando o volume da célula. Esse aumento pode ser considerado um sinal anabólico, pois altera o turnover proteico, aumentando a síntese de proteínas e aumentando a disponibilidade de substratos para os sistemas envolvidos no processo de recuperação e reparação tecidual. Segundo Rogero e Tirapegui (2003), as diversas funções atribuídas ao aminoácido no organismo humano reforçam o papel relevante deste, tanto em estados normais quanto em estados fisiopatológicos. Dentre as principais funções o autor cita: precursora de nitrogênio para a síntese de nucleotídeos; manutenção do balanço ácido-base durante acidose; transferência de nitrogênio entre órgãos; detoxificação de amônia; crescimento e diferenciação celular; fornece energia para células de rápida proliferação, como enterócitos e células do sistema imune; fornece energia aos fibroblastos, aumentando a síntese de colágeno; aumenta a resistência à infecção por aumento da função fagocitária; estimula a síntese de citrulina e arginina. O intestino é o principal órgão de utilização, em especial, o delgado (células de rápida renovação no organismo – os enterócitos) (FONTANA et al. 2003). Essa regulação do balanço nitrogenado pode trazer benefícios aos praticantes de treinamento resistido, por induzir um estado anabólico e/ou reduzir um estado catabólico, além disso, a boa saúde da função intestinal pode garantir uma melhor absorção de nutrientes oriundos da dieta. Glutamina e atividade física Rogero e colaboradores (2007), em um trabalho de revisão, destacaram estudos demonstrando que a prática de exercício intenso e prolongado pode ocasionar significativas alterações na concentração plasmática de alguns aminoácidos, principalmente de glutamina e dos aminoácidos de cadeia ramificada. Dentre as possíveis causas relacionadas à diminuição, podem-se destacar alguns dos diversos órgãos e células que promovem a captação e a utilização, durante e após o exercício (GARCIA & CURI, 2000). Quanto mais intenso o exercício, maior é a produção de íons de hidrogênio e, consequentemente, maior é o trabalho dos rins para conseguir contrabalancear a acidose provocada, utilizando glutamina para fornecer amônia. Esse processo pode explicar a direta relação entre a diminuição da glutaminemia e a intensidade e duração do exercício (GARCIA et al; 2000). 5 O fígado a utiliza como precursor gliconeogênico. Garcia e Curi (2000), citam estudos recentes que enfatizam a importância deste aminoácido no processo gliconeogênico hepático em seres humanos. Outra hipótese para o aumento da captação no fígado seria a utilização para a síntese de glutationa, um antioxidante; o aumento da produção de radicais-livres pelo exercício pode estimular as vias de síntese de antioxidantes. Rennie e colaboradores (2001), observaram uma diminuição de 34% da concentração muscular em humanos logo após uma sessão de exercício com duração de duzentos e vinte e cinco minutos a 50% do VO2max. Um outro estudo realizado por Bergstrom et al , utilizando um exercício de intensidade a 70% do VO2max, observou um aumento do conteúdo muscular nos primeiros dez minutos (de 18,9 para 23,6 mmol/L), seguido de diminuição com o decorrer do exercício. Esses dois estudos sugerem que ocorre aumento na síntese dessa substância, porém sua liberação supera esta síntese e, no decorrer do exercício, a concentração intracelular tende a diminuir. Esse aumento da formação e da liberação pelos músculos ocorre como um recurso para prevenir o acúmulo de amônia e intoxicação dos miócitos, durante o exercício (GARCIA & CURI, 2000). No exercício prolongado e intenso, o sistema imune é influenciado pela diminuição da concentração plasmática de glutamina. Isso devido às células desse sistema (linfócitos, macrófagos e neutrófilos) utilizar este aminoácido como substrato energético e como precursor para síntese de proteínas e de bases nitrogenadas (BRUGGER, 1998; ROHDE, 1996). O treinamento intenso e o exercício exaustivo podem ocasionar imunossupressão em atletas por meio da diminuição da concentração plasmática (Rogero, 2002). Isso sugere que a suplementação pode ser benéfica para alguns indivíduos por aumentar a disponibilidade deste aminoácido para o sangue. Bowtell e colaboradores (1999) demonstraram que a suplementação parece aumentar a concentração de glicogênio intramuscular no exercício intenso e prolongado agindo como substrato para a gliconeogênese no fígado. Esse aumento do glicogênio muscular pode, potencialmente, atenuar a perda de aminoácidos pelo músculo esquelético, o que pode levar a uma redução do catabolismo. Suplementação de Glutamina e Treinamento Resistido A suplementação tornou-se popular, recentemente, pois foi demonstrado um efeito benéfico na ressíntese de glicogênio muscular (BOWTELL et al. 1999) e na resposta do sistema imunológico (CASTELL & NEWSHOLME, 1998) de atletas de endurance. Fundamenta-se, também, pelo possível aumento da síntese proteica e/ou redução da proteólise (catabolismo) (MACLENNAN et al. 1987). Além de poder aumentar o volume celular muscular (CRUZAT et al. 2007; ROGERO et al. 2003). Sabendo que o treinamento resistido pode causar uma depleção de glicogênio (ROY & TARNOPOLSKY, 1998) e uma elevação do turnover protéico 6 (MACDOUGALL et al. 1995) a suplementação de glutamina pode ser benéfica para os praticantes desta modalidade. Antonio et al. (1999) e Ziegler et al. (1990), apud Fontana (2006), demonstraram que a suplementação com creatina ou glutamina, é segura, desde que administradas com cautela e por profissionais. Na busca da performance ou até mesmo em relação aos aspectos estéticos, cada vez mais os adeptos das academias recorrem aos recursos da suplementação alimentar. Aliando o treinamento resistido a essas combinações, o intuito é adquirir resultados rápidos e significativos. O treinamento resistido, também conhecido como treinamento com pesos ou treinamento de força, tornou-se uma das formas mais conhecidas de exercícios, tanto para o condicionamento de atletas como para melhorar a forma física de nãoatletas. É um tipo de exercício que requer que os músculos se movam (ou tentem se mover) contra uma força de oposição, normalmente representada por algum tipo de equipamento. O termo treinamento de força abrange uma grande variedade de tipos de treinamento. O treinamento com pesos é normalmente utilizado para se referir ao treinamento com resistência normal que usa pesos livres ou equipamentos de peso (FLECK & KRAEMER, 2006). Ainda segundo Fleck e Kraemer (2006), tipos diferentes de modalidades de resistência (exercícios isocinéticos, resistência variável e exercícios isométricos, por exemplo) podem produzir aumentos significativos em força ou hipertrofia muscular enquanto o sistema continuar a apresentar um efetivo estímulo para o músculo. A efetividade de um tipo específico de modalidade de força ou sistema de treinamento depende de seu uso correto dentro da prescrição total de exercícios ou programa de treinamento e da fidelidade em se manter alguns princípios básicos. Estes princípios aplicam-se independentemente da modalidade de força ou do sistema de treinamento usado. As pessoas que participam de um programa de treinamento de força esperam que este produza alguns benefícios, tais como o aumento de força, aumento de tamanho dos músculos, melhor desempenho esportivo, crescimento da massa livre de gordura e diminuição da gordura corporal. Um programa de treinamento de força bem planejado e executado de forma consistente pode produzir todos estes benefícios (FLECK & KRAEMER, 2006). Um indivíduo com uma vida sedentária provavelmente terá os processos fisiológicos de circulação, respiração e função glandular mais lentos; além da atrofia gradual do sistema muscular. O treinamento resistido estimulará e trará melhora dessas funções corporais, além de conseqüente melhora da autoestima e da saúde em geral. A maioria dos indivíduos que aderem a um programa de treinamento resistido, na maioria das vezes, não o busca com grandes pretensões atléticas, mas com algum objetivo estético e/ou melhora do condicionamento físico geral. Há também aqueles em que o treinamento resistido é utilizado como meio de reabilitação ou como mecanismo profilático para alguma patologia (PRESTES et al. 2002). 7 O treinamento resistido é associado a um aumento da síntese protéica póstreino (PHILLIPS et al. 1997), com isso podemos modular essa síntese através da ingestão de proteína ou de aminoácidos. Isso justifica o aumento na utilização de suplementos por praticantes de treinamento resistido visando aumento da massa muscular. Mero et al. (2009), em um estudo duplo-cego em que foram examinados os efeitos agudos de uma sessão de treinamento resistido em nove indivíduos fisicamente ativos, com duração de 1 hora, na concentração plasmática de aminoácidos após a ingestão de 4g de glutamina, não observou alterações na glutaminemia. Várias alternativas de suplementação aplicadas antes, durante e após o exercício têm sido estudadas, visando à reversão da diminuição da concentração plasmática e tecidual deste aminoácido que ocorre após o exercício intenso e prolongado (GARCIA & CURI, 2000). De acordo com Castell et al. (1996), a ingestão oral de L-glutamina dissolvida em água na dose de 0,1kg/kg de massa corporal, ou uma dose única de 5g, aumentou em 100% a concentração no plasma 30 minutos após a ingestão, sendo que a glutaminemia retornou aos valores basais duas horas após a suplementação. Diante da capacidade de promoção do aumento da glutaminemia, a partir da suplementação desse aminoácido, vários estudos investigam o possível papel da suplementação dessa substância em relação a imunocompetência, força, rendimento e ressíntese de glicogênio em atletas (NOVELLI et al, 2007). Castell e colaboradores (1996) observaram que uma dose de 5g de glutamina, em 330 ml de água, oferecida para corredores de média distancia, maratonistas, ultramaratonistas e remadores, administrada imediatamente e 2 horas após a competição ou sessão de treinamento intenso, foi suficiente para diminuir a incidência de infecções nos sete dias posteriores ao exercício. Entretanto, segundo Garcia e Curi (2000), outros estudos foram realizados com a suplementação deste aminoácido e alguns deles não demonstraram nenhum efeito positivo ou efeito pouco significativo sobre a imunocompetência de atletas submetidos a exercícios ou treinamentos intensos e prolongados. Segundo Rohd et al (1996), a suplementação com quatro doses de Lglutamina (100mg/kg de massa corporal) administradas à zero, trinta, sessenta e noventa minutos após uma maratona, manteve a glutaminemia próxima aos valores verificados antes do exercício. Um estudo expôs o efeito da suplementação oral com 8g de glutamina em 330ml de água sobre a concentração do glicogênio muscular e a glutaminemia após a prática de exercício exaustivo, o qual promoveu a depleção dos estoques de glicogênio (ROGERO & TIRAPEGUI, 2003). Foi observado um aumento de 46% da glutaminemia durante o período de recuperação, considerando a probabilidade de uma proporção substancial da glutamina administrada oralmente não ter sido utilizada devido à absorção por parte das células da mucosa intestinal e da captação 8 pelo rim e fígado. Diante desse resultado, verificou-se que a ingestão de glutamina estimulou a ressíntese do glicogênio muscular durante o período de recuperação. Valencia e colaboradores (2002), observaram um aumento da concentração tanto de glutamina quanto de glutamato no plasma, durante 24 horas, em três indivíduos sedentários que receberam 0,3g/kg/dia da substância durante 10 dias. A dosagem usual suplementada observada em é em torno de 3,5 a 5g diários de glutamina pura, tomadas geralmente com água (CRUZAT et al. 2009). Já Candow e colaboradores (2001), utilizaram duas doses de 0,9g/kg/dia tomadas logo após a sessão de treinamento resistido e antes de dormir e não observaram nenhum efeito colateral negativo, sustentando a segurança do uso da substância em humanos. Em um estudo onde 12 praticantes de treinamento resistido com experiência superior a 12 meses, Uchida et al (2006), observaram que a glutaminemia sofreu uma queda em relação à pré e pós-treino. Isso sugere que a suplementação poderia reduzir a queda da concentração sanguínea, aumentando a síntese protéica por causar um balanço nitrogenado positivo. Já Blomstrand et al (2008), observaram que uma única sessão de treino no Leg press foi capaz de causar alterações na concentração de certos aminoácidos tanto nas fibras do tipo I quanto nas do tipo II. A maior alteração se deu com o glutamato, o qual a concentração diminuiu em ambos os tipos de fibras. A glutamina apresentou uma diminuição nos dois tipos de fibra 2 horas após o exercício. Fontana (2006), observou em seu trabalho duplo-cego placebo controlado, que tinha como objetivo a hipertrofia muscular, que o treinamento com exercício resistido com ou sem a suplementação de creatina ou glutamina durante oito semanas não demonstraram efeitos significativos na potência anaeróbia, medida pelo teste de Wingate. Apesar de apresentarem um aumento das reservas de ATPCP e aumento da massa muscular, estes não foram suficientes para alterar a potência anaeróbia medida. Mas as alterações podem ser vistas como um efeito benéfico da suplementação juntamente com o treinamento resistido. Em outro estudo, Candow e colaboradores (2001), observaram que a suplementação de 0,9g/kg/dia em 31 indivíduos adultos praticantes de treinamento resistido, que realizaram quatro ou cinco séries de 6 a 12 repetições em intensidades variando entre 60% a 90% de 1 repetição máxima, não apresentou nenhum efeito benéfico nas adaptações advindas do treinamento avaliadas (performance muscular, composição corporal ou quebra de proteína muscular) talvez porque esse tipo de treinamento não seja intenso o suficiente, como um exercício de endurance, para ser beneficiado pela ingestão dessa substância. Sugeriram, também, que futuras pesquisas sejam feitas para observar a influência da suplementação de glutamina em diferentes protocolos de treinamento que levem a um maior estresse fisiológico, como a combinação de treinamento resistido e exercício de endurance. 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS O aminoácido glutamina está envolvido em uma série de vias metabólicas e na manutenção do normal funcionamento de vários órgãos e tecidos. Em situações de elevado catabolismo muscular, como pós-exercícios físicos intensos e prolongados, traumas, câncer, sepse, cirurgias entre outros, a concentração desse aminoácido pode tornar-se reduzida, diminuindo a sua disponibilidade para as células. Essa diminuição se dá pelo aumento da taxa de captação e utilização por diversos tecidos a qual supera a taxa de síntese e liberação pelo músculo esquelético. Isto justifica o uso da substância como suplemento alimentar por pessoas que desejam os efeitos benéficos, como aumento de massa muscular, diminuição do percentual de gordura corporal e modificação da estética corporal, induzidos pelo treinamento resistido. A maioria dos estudos encontrados relacionam a suplementação de glutamina à atividade de endurance, sendo assim necessários novas pesquisas, para que se observem os efeitos da ingestão desse aminoácido em praticantes de treinamento resistido. 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONIO, J. et al. The effects of high-dose glutamine ingestion on weightlifting performance. J Strength Cond Res. 2002;16(1):157-60. ANTONIO, J; STREET, C. Glutamine: a potentially useful supplement for athletes. Can J Appl Physiol.1999; 24(1):1-14. BLOMSTRAND E., ESSÉN-GUSTAVSSON B. Changes in amino acid concentration in plasma and type I and type II fibres during resistance exercise and recovery in human subjects. Amino Acids. 2008 Oct 19. 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