As Mudanças Na Composição Populacional e os Impactos Ambientais Na Região Centro Oeste The Population Composition Changes and The Environmental Impact In The Central West Region José Francisco Mendanha* Maria Lúcia de Sousa Silva** Resumo Esta pesquisa teve como objetivo analisar a relação das mudanças na composição populacional e os impactos ambientais na reg iã o cent ro oe ste d o Bra sil . Trata-s e de um Estud o Bibliográfico/Documental, segundo orientação empírica de produção e descrição do conhecimento. Utilizaram-se como instrumentos para coleta de dados de campo, documentação e publicações. Procurou-se compreender as trajetórias e concepções próprias das populações sobre suas práticas migratórias direcionando maior atenção para as formas historicamente de ocupação dos espaços e a forma de lidar com a gestão ambiental, avaliar o crescimento da fertilidade e fecundidade da população dessa região, advindos das práticas de relações sociais de ocupação dos espaços geográficos. Observou-se que a característica das relações sociais, na ocupação dos espaços, seque uma organização preexistente nos grupos migratórios que influenciou na organização de critérios e normas de gestão de ocupação nessa região. Além disso, pôde-se perceber que, em decorrência destas experiências migratórias as populações do centro oeste têm alcançado níveis cada vez mais baixo tanto de fertilidade quanto de fecundidade e diversos ganhos, tanto materiais, no que se refere a posse da terra e sua inserção no mercado e a geração de renda, quanto aos imateriais, que são os resultados em __________________________________________ *Prof. José Francisco Mendanha - Economista – Mestre em Ciências do Ambiente. **Profª. Maria Lúcia de Sousa Silva - Historiadora –Especialista em Educação Ambiental. Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - jan./dez. 2009 43 José Francisco Mendanha, Maria Lúcia de Sousa Silva termos de formação e de influência nas políticas públicas, cidadania. e de Palavras-chave: migração; população; ambiente. Abstract This research had as goal the analyzing the relationship in the changes in the population composition and the environmental impact in t h e c e n t r a l w e s t e r n r e g i o n o f B r a z i l . I t r e fe r s t o a Bibliographic/Documental Study, according to empiric orientation of knowledge production and description, and material used for collecting field information, documentaries and published articles. We tried to understand the trajectories and the self concepts of the population about their migratory practices giving more attention to the historic ways of the space occupation and the way of dealing with the environmental management, evaluating the fertility and fecundity of the population of this region, coming from the social relations of the geographic space occupations. It is observed that the personality of social relations, in the space occupations follow a preexisting organization in the migratory groups that influenced criteria organization and the management rules of the occupation in this region. Moreover, it could be noticed that, as a result of these migratory experiences of the middle west lower levels of fertility as well as fecundity have been reached and several gains, not only material, which refers to the ownership of land and its insertion in the income market and making more income, but also the non-material, that are the results resulting from graduating and the influence in the public offices, and of the citizenship. Key-words: migration, population, environment. 44 Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - p. 43-52 - jan./dez. 2009 As Mudanças na Composição Populacional e os Impactos Ambientais na Região Centro Oeste Introdução As mudanças ocorridas na composição populacional da região Centro-Oeste no Século XX, tem sido caracterizado-os por movimentos migratórios e taxas de fecundidade e seus impactos ambientais. Todas essas variáveis têm merecido atenção crescente por parte de instituições governamentais e não governamentais, voltadas a realizações de estudos e avaliações demográficas. A partir da segunda metade do Século XX, a Demografia passou a ter maior destaque, não só no meio acadêmico, mas como também dos governos e da sociedade em geral. Visto que vários encontros internacionais foram realizados nos últimos anos, dedicados ao debate das questões que envolvem os problemas populacionais e ambientais. Com destaque para a Conferência Mundial sobre População (Bucareste, 1974); Conferência Internacional de População (México, 1984); Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992); Conferência Internacional e Desenvolvimento (Cairo, 1994) e Conferência Mundial sobre a mulher (Beijing, 1996), todos estes encontros motivarão e despertarão para a importância de estudos e políticas públicas voltadas as questões demográficas e ambientais em todo o planeta. O cenário na região Centro-Oeste, não é diferente do que vem ocorrendo no Brasil e no Mundo. A migração teve, e continua tendo, uma certa importância, no que pese a contínua queda nas taxas de fecundidade e mortalidade. Esses efeitos têm gerado mudanças significativas na estrutura etária da população com impactos marcantes nas demandas sociais e ambientais. A Dinâmica Demográfica Regional Dados históricos mostram que, no início do Século XIX, a população das províncias de Mato Grosso e Goiás não ultrapassavam 75 mil pessoas, chegando à metade do século com 150 mil, este aumento se Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - p. 43-52 - jan./dez. 2009 45 José Francisco Mendanha, Maria Lúcia de Sousa Silva deu principalmente devido a migração ocorrida, para fazer frente ao desenvolvimento agropecuário, após o declínio da mineração. Os Censos Demográficos de 1872, 1890 e 1900 apontaram, respectivamente, populações da ordem de 220 mil, 320 mil e 372 mil pessoas, atestando o crescimento demográfico impulsionado pela nova fase da integração econômica da região. Em 1940 a população já havia atingido 1245 pessoas, distribuída por uma ocupação regional bem mais desagregada, onde as situações e atividades agropecuárias ocupavam quase 80% da população. A forma de organização social, ancorada nas grandes fazendas e nas relações de subordinação que caracterizam as categorias típicas dos chamados "moradores" ou, em alguns casos, os "parceiros", favoreceram o crescimento populacional, na medida em que estimularam a alta fecundidade inerente às populações camponesas com disponibilidade de terras para a subsistência familiar. Em relação à corrente migratória e o crescimento demográfico regional, convém assinalar que, nas primeiras décadas do século XX, frentes pastoris se dirigiam de Minas Gerais e São Paulo, passando pelo sul de Goiás e do Mato Grosso, estabelecendo relações comerciais e incentivando o povoamento. As áreas tradicionalmente ocupadas, como Cuiabá, Cáceres, Corumbá, Goiás Velho e adjacências, mantinham-se mais ou menos afastadas destes movimentos migratórios que vieram a preencher, posteriormente, importantes espaços no sul de Goiás e, através da criação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, desbravaram parte do atual Mato Grosso do Sul, consolidando a ocupação em espaços até então demograficamente vazios, inclusive dando origem à expansão do Município de Campo Grande. A partir de 1940, o crescimento demográfico da região CentroOeste passou a ser também impulsionado por políticas explícitas de ocupação, que influíram na dinâmica populacional neste período. Não cabe aqui a reconstituição deste ciclo, cabendo apenas mencioná-lo como fator primordial na trajetória do crescimento demográfico regional, conforme Tabela 1. 46 Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - p. 43-52 - jan./dez. 2009 As Mudanças na Composição Populacional e os Impactos Ambientais na Região Centro Oeste Como se percebe, a aceleração do crescimento demográfico, através dos fluxos migratórios, ocorreram a partir da década de 1950. As taxas de crescimento anual alcançaram valores em torno de 5% nos anos 1960. A fundação de Brasília, a abertura de estradas e as políticas de incentivo à ocupação fundiária, fizeram com que as taxas de crescimento regional fossem as mais altas de todo o período considerado. Na década de 1970, as migrações declinaram do Mato Grosso do Sul e Goiás, em função das características de ocupação da fronteira. Nos anos 90, a migração para o norte de Mato Grosso praticamente reduziu-se a volumes pouco expressivos, denotando, também, a repetição do fechamento de mais um ciclo de ocupação de áreas de fronteiras, onde a ocupação dos pequenos produtores em menos de uma geração vê-se suplantada pela chegada de médios e grandes produtores, em um contexto de valorização fundiária e integração produtiva. Em algumas regiões, as áreas de garimpo igualmente tiveram seu ciclo extrativo praticamente encerrado. Os resultados da Contagem Nacional da População de 1996 revelaram o esgotamento dos ciclos de migração e ocupação fundiária da Região Centro-Oeste e explicitaram as características predominantes dos migrantes que ainda se dirigem para a região, quais sejam, aqueles que se dirigiram a Goiás e Distrito Federal. Assim é que, os migrantes de outras regiões, especialmente nordestinos, que durante a década de 90 Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - p. 43-52 - jan./dez. 2009 47 José Francisco Mendanha, Maria Lúcia de Sousa Silva se fixaram nos municípios goianos do entorno de Brasília e nos novos bairros periféricos do Distrito Federal, não mais vieram em busca de terras ou oportunidades em áreas pioneiras, mas sim, buscaram condições de trabalho, moradia e acesso aos serviços públicos em áreas fortemente urbanizadas e prestadoras de serviços, tais como, a capital federal e Goiânia. A trajetória do crescimento demográfico regional está amarrado, portanto, na intensidade e dimensão dos fluxos migratórios. Porém, um outro componente teve importante papel no desenho da dinâmica demográfica local, não só evidenciando um novo tipo de comportamento sócio-cultural como, principalmente, contribuindo para a redução do ritmo de crescimento e a recomposição da estrutura etária da população como um todo. Trata-se da fecundidade que, a exemplo do que ocorreu nas demais regiões do Brasil, registrou um acentuado declínio em seus níveis durante as últimas décadas do século XX. As tabelas 2 e 3 permitem reconstituir o movimento da fecundidade nas últimas décadas. 48 Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - p. 43-52 - jan./dez. 2009 As Mudanças na Composição Populacional e os Impactos Ambientais na Região Centro Oeste Os estados da Região Centro-Oeste apresentavam até 1970, taxas de fecundidade total (TFT) elevadas e tendencialmente estáveis, entre 6,4 e 6,9 filhos, em média, por mulher. Somente durante a década de 1970 iniciou-se o declínio da fecundidade na região, temporalmente tardio em relação ao processo que já vinha se desenvolvendo desde a década anterior em algumas áreas das Regiões Sudeste e Sul. Na década de 1990, os níveis de fecundidade da Região CentroOeste (2,36 filhos por mulher em 1995) tem sido bastante próximos aos encontrado nas Regiões Sul (2,32) e Sudeste (2,18), respectivamente. Em Goiás (2,21) e Distrito Federal (2,10) os níveis de fecundidade já apontam perfeitamente compatíveis com os padrões de baixa fecundidade que vem sendo condizentes com os principais centros urbanos do País. A Dinâmica Demográfica e seus Impactos Ambientais Impactos ambientais são todas as alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente agridam a saúde, a segurança e o bem-estar da Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - p. 43-52 - jan./dez. 2009 49 José Francisco Mendanha, Maria Lúcia de Sousa Silva população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais. O homem, como um ser social, sempre interferiu nos recursos naturais para garantir a sua sobrevivência, criando novas situações ao construir e reordenar os recursos físicos na implantação de cidades, estradas, desmatamentos, atividades agrícolas, dentre outras. A ocupação humana na região Centro-Oeste se deu, inicialmente, pelo extrativismo e, em seguida, pelo uso do solo em diversas atividades, ocasionando os primeiros impactos ambientais aos recursos naturais minerais e às populações nativas que habitavam a região. Com a decadência da mineração e a ampliação das atividades agrícolas, garimpos e a fundação de Brasília, as correntes migratórias se intensificaram. Na década de 60 a migração da região teve um índice 5,36%, enquanto a do país era de 2,99%. Simultaneamente a essa fase considerada desenvolvimento, aconteceram grandes impactos ambientais em consequência das construções de estradas, hidrovias, hidrelétricas, desenvolvimento das cidades e principalmente da adaptação tecnológica para o enriquecimento do solo com uso de agrotóxicos. Atualmente, a região Centro-oeste conta com um fluxo significativo de migrantes, principalmente sulistas, atraídos pela expansão da fronteira agrícola da soja, pecuária extensiva e o turismo. Esse novo sistema de produção denominada alta tecnologia, empregando as mais modernas técnicas de produção, tem provocado uma discussão acerca da questão ambiental e da sustentabilidade. A relação entre a dinâmica migratória e os impactos ambientais parte-se do pressuposto que numa etapa mais avançada da transição demográfica que se principia neste início de século, a migração será o componente mais dinâmico da dinâmica demográfica. Em consequência das reduzidas taxas de fecundidade e de mortalidade serão os movimentos migratórios que alterarão o tamanho e estrutura da população. 50 Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - p. 43-52 - jan./dez. 2009 As Mudanças na Composição Populacional e os Impactos Ambientais na Região Centro Oeste As determinantes e consequências da mobilidade populacional assumem, nesse novo contexto, um papel fundamental na matriz das relações econômico-demográfico-ambientais. Este novo regime demográfico emerge em um momento de outra transição secular - a do paradigma da relação homem-natureza. Cada vez mais, as atividades humanas são limitadas e limitam os recursos naturais. Considera-se que há um intrincado elo de relações entre o homem e a natureza, com impactos recíprocos. Propugna-se, portanto, por mudanças e transformações capazes de levar a população para o âmbito de políticas compreensivas, com visão de totalidade, que possa ampliar a inclusão da massa na cidadania plena, o que implicará melhor acesso aos bens e serviços socialmente constituídos, como educação, moradia, serviços de saúde e meios de consumo coletivo. Garantir a qualidade de vida hoje implica em harmonizar a distribuição da população e das suas atividades econômicas com a preservação e o uso sustentável dos recursos naturais. Referências Bibliografias Bertan, Paulo. "Uma Introdução à História Econômica do Centro-Oeste do Brasil". Goiânia: Universidade Católica de Goiás/CODEPLAN-DF; Brasília, 1988. Volpato, Luiza Rios Ricci "A Conquista da Terra no Universo da Pobreza Formação da Fronteira Oeste do Brasil, 1719- 1819", Hucitec/INL, São Paulo, 1987. Palacin, Luis e Morais, Maria Augusta de Sant'Anna, "História de Goiás", 4a edição, UCG, Goiânia, 1986. IBGE, "Estatísticas Históricas do Brasil", Cap. 1, Demografia, 2a edição, 1990. Oliveira Luiz Antônio Pinto e Simões Celso Cardoso da Silva, "Padrões Demográficos e Situação Social na Região Centro-Oeste,"Boletim Demográfica, abril/junho, 1995, Ano I, no 2, CODEPLAN, Distrito Federal Revista São Luis Orione - v. 1 - n. 3 - p. 43-52 - jan./dez. 2009 51