Uso de Órteses Tornozelo - Pé na Doença de Charcot-Marie

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Uso de Órteses Tornozelo - Pé na Doença de
Charcot-Marie-Tooth: Atualização da Literatura
USE OF ANKLE-FOOT ORTHOSES IN CHARCOT-MARIE-DISEASE: UPDATE
Kamila Peres Terêncio*, Renata Teles Vieira**
*Fisioterapeuta pela UEG, pós-graduanda em Fisioterapia Neurológica pela CEAFI-PUCGO.
**Fisioterapeuta pela UEG; Especialista em fisioterapia neurológica CEAFI-PUCGO; Mestre em
Ciências Biológicas-UFG; e Doutora em Ciências da Sáude-UFG.
___________________________________________________________________
RESUMO
Introdução: A Doença de Charcot-Marie-Tooth (DCMT) caracteriza-se por
atrofia e paresia progressiva distal, principalmente em membros inferiores,
provocando inúmeras alterações na marcha. Ainda não há tratamento genético ou
farmacológico para a patologia; sendo adotada então a reabilitação funcional com
prescrição de órteses e fisioterapia para melhorar a qualidade de vida desses
pacientes. Órteses tornozelo-pé (OTPs) são frequentemente prescritas; mas essa
população encontra resistência em adotar o equipamento em seu cotidiano.
Objetivo: Este estudo apresenta e discute resultados de pesquisas sobre os
benefícios da utilização de OTPs nos padrões de marcha de DCMT. Métodos: Foi
realizada uma atualização da literatura nacional e internacional nas seguintes bases
de dados: PubMed, SciELO, LILACS; com publicações entre os anos de 2006-2013,
utilizando como descritores: Doença de Charcot-Marie-Tooth, órteses tornozelo-pé,
marcha e seus equivalentes em inglês e português. Resultados: A busca revelou 25
artigos, mas somente 7 referiam-se especificamente ao uso de órtese na DCMT. As
pesquisas apontam para um melhor desempenho da cinemática da marcha e nas
reações de equilíbrio imediatamente após a colocação da órtese. Além de melhora
do controle postural, prevenção de quedas e maior independência. Conclusão: A
atualização da literatura sugere benefícios das OTPs, sendo excelentes auxiliares na
estratégia de estabilização do tornozelo evitando o derreamento do pé, alteração
mais comum na marcha dessa população. Esta revisão pode ser uma importante
ferramenta na orientação de profissionais envolvidos na prescrição de OTPs,
auxiliando-os também a estimular a adesão do equipamento de assistência por parte
dos pacientes.
Descritores: Doença de Charcot-Marie-Tooth; Órteses Tornozelo-Pé; Marcha.
ABSTRACT
Introduction: The disease Charcot-Marie-Tooth (CMT) is characterized
by progressive distal atrophy and paresis, especially in the lower limbs,
causing numerous changes in gait. There are no genetic or pharmacological
treatment for the pathology; and then adopted functional rehabilitation with
prescription orthoses and physiotherapy to improve the quality of life of these
patients. Ankle-foot orthoses (OTPs) are often prescribed; but this population
is resistance to adopt the equipment in their daily lives. Objective: This study
presents and discusses results of research on the benefits of using OTPs in
CMTD of gait patterns. Methods: an update of national and international
literature in the following databases was performed: PubMed, SciELO,
LILACS; publications between the years 2006-2013, using as descriptors:
Charcot-Marie-Tooth disease, ankle foot orthoses, gait and their equivalents in
English and Portuguese. Results: The search revealed 25 articles, but only 7
referred specifically to the use of bracing on CMT. Research indicates that the
improved performance of gait kinematics and the balance reactions
immediately after the placement of the stent. In addition to improved postural
control, prevention of falls and greater independence. Conclusion: The
update of the literature suggests benefits of OTPs, excellent assistants being
in the ankle stabilization strategy avoiding foot derreamento, most common
alteration in the march of this population. This review can be an important tool
in the guidance of professionals involved in prescribing OTPs, helping them
also to stimulate the adhesion of service equipment for patients.
Key words: Charcot-Marie-Tooth Disease, Ankle-Foot Orthoses, Gait
___________________________________________________________________
Introdução
A Doença de Charcot-Marie-Tooth (DCMT) é uma forma de neuropatia
periférica hereditária, com incidência mundial de 22:100.000 habitantes. 1 É a mais
frequente
desordem
neuromuscular
hereditária
e
pode
ser
dividida
em
desmielinizante (DCMT1) e axonal (DCMT2); outras classificações são baseadas no
padrão de transmissão e na sua base genética. De evolução lenta e progressiva,
caracteriza-se por amiotrofia, paresia, hipoestesia superficial e profunda e
hipo/arreflexia distal. Nos membros inferiores são afetados principalmente os
músculos do terço distal, provocando prejuízos funcionais na execução da marcha e
nas reações de equilíbrio. A fraqueza muscular crural, principalmente dos músculos
intrínsecos do pé, dá origem ao pé cavo e a marcha escarvante. Ainda não há
tratamento genético ou farmacológico para a patologia; sendo adotada então a
reabilitação funcional com prescrição de órteses e fisioterapia para melhorar a
qualidade de vida desses pacientes2.
Órteses tornozelo-pé (OTPs) são frequentemente prescritas para pacientes
com DCMT; e sua eficácia junto a outras condições neurológicas tem sido explorada
com melhorias na função, independência, confiança e redução de gasto energético
durante a marcha3. Atualmente, vários modelos têm sido desenvolvidos com
diferentes características mecânicas e usando avançadas tecnologias de fabricação,
como silicone, carbono, polipropileno e material elástico. As órteses plásticas podem
ser confeccionadas em material termoplástico ou termorrígido que se deformam com
o calor voltando a tornarem-se rígidos após resfriamento. As órteses elásticas
podem ser em confeccionadas em tecido elástico, neoprene, borracha, ou malhas,
aceitando certo grau de deformação e retornando a sua composição original. Tanta
variedade se dá de acordo com a necessidade de cada indivíduo, podendo se dividir
em: órtese tornozelo-pé, órtese joelho-tornozelo-pé, órtese quadril-joelho-pé, e
órtese para membros superiores. Em pacientes com DCMT, o tipo de órtese a ser
empregada só deve ser implementada após rigoroso diagnóstico cinético-funcional,
respeitando as particularidades da doença e do indivíduo 3.
Uma comparação entre as OTPs disponíveis atualmente revelou melhorias
em padrões proximais e distais da marcha desses indivíduos. As órteses tornozelopé confeccionadas em material plástico trouxeram resultados positivos no controle
postural, e até melhoria no desempenho aeróbio. A população portadora de Doença
de Charcot-Marie-Tooth encontra resistência em adotar o equipamento em seu
cotidiano. Os usuários relatam preocupação quanto à seu uso por imaginarem que
restrinja o movimento, que o equipamento possa ser pesado e/ou desconfortável o
que gera problemas de aceitação e utilização das mesmas. 3
O momento correto da intervenção com uso de OTP’s no tratamento de
pacientes com DCMT é um desafio, visto que os sintomas e a progressão da doença
variam muito entre os indivíduos. Há diferentes apresentações clínicas de modo que
uma excelente abordagem de ortetisação em um paciente pode ser ineficaz em
outro4.
Esse estudo pretende revelar e discutir com base na literatura atual os
resultados dos principais estudos envolvendo pacientes com DCMT e o uso de
órteses tornozelo-pé explorar principalmente as diferenças nas características de
deambulação desses indivíduos.
Metodologia
Foi realizada uma atualização da literatura nacional e internacional baseada
em artigos científicos publicados entre os anos de 2006-2013, sob análise descritiva
à respeito de doença de Charcot-Marie-Tooth e utilização de órteses tornozelo-pé.
Os artigos científicos foram obtidos a partir de pesquisas nas bases de dados
Literatura Latino-Americana e do Caribe e Ciências da Saúde (LILACS), Scientific
Eletronic Library (SciELO), e National Center for Biotechnology Information (PubMed
/ NCBI) com os seguintes descritores: Doença de Charcot-Marie-Tooth, Órteses
tornozelo-pé, Marcha e seus equivalentes em inglês e português. A busca eletrônica
foi realizada entre abril e setembro de 2014.
Resultados/Discussão
A busca revelou 25 artigos, dentre os quais 14 foram selecionados e
analisados, sendo 7 para fundamentação teórica e 7 para análise descritiva. Todos
os artigos estavam relacionados à DCMT ou órteses, no entanto somente 7
referiam-se especificamente ao uso de órteses em DCMT (Tabela 1). Os artigos que
não apresentavam clareza quanto aos métodos de avaliação e/ou intervenções
utilizadas e os resultados obtidos, assim como os estudos que eram conduzidos em
animais de experimentação, foram excluídos.
Pesquisadores
descreveram
duas
estratégias
compensatórias
mais
encontradas nessa população. A amostra foi dividida em dois grupos: Grupo (1)
indivíduos com fraqueza de dorsiflexores, e grupo (2) indivíduos com fraqueza de
dorsiflexores e flexores plantares. Para quantificar a força de dorsiflexores os
autores mediram o ângulo de dorsiflexão máxima ativa contra gravidade. O ângulo
entre 90° e 100° era classificado como queda do pé. Para avaliar flexores plantares
foi solicitado que ficassem na ponta dos pés, os indivíduos que não fossem capazes
de elevar pelo menos 2 cm do solo foram classificados como ausência dessa
musculatura5.
O grupo (1) possui padrão de marcha escarvante para compensar a flexão
plantar contralateral excessiva durante a fase de balanço e contato inicial. O
paciente caminha com exagerada flexão de quadril e joelho em fase de balanço,
essa estratégia motora aumenta o gasto energético, reduz a velocidade dessa fase e
também o tamanho da passada. O grupo (2) demonstra um conjunto diferente de
compensações, na ausência de flexores plantares eles adotam base alargada na
fase de balanço, para melhorar estabilidade. Flexão de quadril e joelho ficam
próximos ao considerado normal. Essas diferenças nos padrões de marcha podem
estar relacionadas tanto com os déficits motores primários quanto com os
mecanismos compensatórios secundários. Mas de fato essa musculatura afeta a
estratégia global da marcha desses pacientes5
Um estudo da University College London caracterizou as possíveis diferenças
na apresentação clínica e na função da marcha entre pacientes com DCMT que
faziam uso regular de OTP com aqueles que não as utilizavam. Os autores
mensuraram função da marcha através do teste de tempo de caminhada de 6min e
teste de 10 metros. Utilizaram as escalas de Berg e de Avaliação para CharcotMarie-Tooth (CMTES) para mensurar gravidade da doença, déficit sensorial e
esforço durante a tarefa. Os resultados mostraram que não houve diferença
significativa na velocidade média normal da marcha durante o teste de 6min e de
10m. Em contrapartida foram encontradas diferenças na velocidade máxima ao
longo do teste de 10m (1,31±0,34 m/s grupo OTP, e 1,54±0,26 m/s não OTP), no
esforço percebido durante a caminhada no teste de 6 min (135,62±51,84 m grupo
OTP, 105,00±15,26 m não OTP) e na percepção da capacidade de deambular
(grupo OTP 43 e não OTP 30). O estudo revelou que usuários de OTP tiveram maior
esforço percebido durante a caminhada e deambulavam de forma mais lenta. Tais
resultados foram justificados segundo o autor devido maior gravidade da doença no
grupo OTP, pois frequentemente pacientes que usam OTP têm apresentação clínica
mais grave e apesar do auxílio dos dispositivos não deambulam de forma tão
funcional quanto o grupo não OTP 6.
Outro estudo da mesma Universidade citada anteriormente teve como
objetivo investigar os diferentes impactos das OTPs no controle distal do membro
inferior e suas ações compensatórias a nível proximal. Um grupo de 14 pacientes
adultos com DCMT que utilizavam OTPs bilateralmente foi avaliado utilizando três
tipos de órteses, bem como a utilização de somente calçado comum 7. Os tipos de
órteses utilizadas foram (1) composta de fita presa ao tornozelo com elástico fixado
à ponta do calçado; a órtese (2) era composta por material esponjoso e rígido prémoldado, indo da panturrilha até o calcâneo, cobrindo face medial, posterior e lateral
do tornozelo, e a órtese (3) possuía uma tala posterior em polímero plástico que
permitia que o tornozelo se movesse em dorsiflexão. A deambulação realizada em
laboratório revelou na análise da marcha que cada OTP diminuiu significativamente
a flexão do quadril durante a fase de balanço, estabilizou o tornozelo e obteve
aumentos significativos na dorsiflexão dessa articulação em comparação com o uso
de calçados comuns. Todas as OTPs diminuíram significativamente a flexão do
quadril e o aumento da dorsiflexão do tornozelo em relação à condição somente do
uso do calçado. No entanto, não houve correlação significativa entre a redução da
flexão do quadril e do aumento da dorsiflexão do tornozelo 7.
Com o objetivo de identificar as características clínicas mais adequadas às
diferentes características mecânicas das OTPs e demonstrar em que medida esses
dispositivos melhoram a postura e o controle da marcha, pesquisadores avaliaram
três condições experimentais e randomizadas, onde 26 pacientes com DCMT
utilizaram calçado comum, calçado comum associado com OTP-Plástica, e calçado
comum associado com OTP-Elástica. Os autores identificaram alterações na força
muscular e nas modalidades sensitivas e, a partir dos achados clínicos,
selecionaram o modelo de OTP mais indicado para cada paciente. A escala desenvolvida pelo Medical Research Council (MRC) foi utilizada para testar força
muscular dos flexores plantares e dorsiflexores do tornozelo, flexores e extensores
do joelho e flexor e extensor do hálux. A plataforma de força PF02, (Equi +, France)
foi utilizada para avaliar a postura ereta e a análise da marcha foi realizada através
de tapete eletrônico (Gaitrite®)8.
O uso de OTP-Plástica ou OTP-Elástica associados com calçados comuns
melhorou o controle postural e a marcha, baseado na diminuição significativa da
área do centro de pressão e pelo aumento do comprimento do passo quando os
pacientes utilizavam as OTPs Plástica ou Elástica quando comparado somente com
Calçado Comum. Os resultados indicaram também que a OTP-Plástica é mais eficaz
para pacientes com déficits musculares mais graves enquanto a OTP-Elástica é
mais apropriada para pacientes com força muscular relativamente preservada na
parte distal crural. Os pacientes quando em uso da OTP-Plástica obtiveram um
melhor desempenho da marcha (houve aumento da velocidade da marcha e no
comprimento do passo). Em pacientes capazes de realizar movimento de flexão
plantar contra resistência, o uso da OTP-Elástica foi mais apropriado, aumentando a
velocidade da marcha8.
Um estudo de caso realizado por um grupo de pesquisadores italianos propôs
uma nova órtese visto que o indivíduo em questão tornou-se gradualmente incapaz
de usar suas OTPs, apresentando quadro grave da DCMT com envolvimento da
musculatura proximal e distal de membros inferiores. Os autores propuseram três
tipos de OTP’s e usaram por três anos:(1) OTP de silicone (OTP-S), (2) Calçado
ortopédico com suporte Codivilla e,(3)um novo dispositivo projetado exclusivamente
para esse paciente, o suporte macio para pé-caído (SMP). Trata-se de uma tala
interna localizada na parte posterior da perna e na face plantar do pé (soft footdrop
insert). A análise da marcha com a OTP-Silicone não foi realizada até o término do
estudo, por causa do quadro álgico relatado pelo paciente. Por essa limitação o
paciente usou seus sapatos comuns no lugar das OTP-S para realizar a avaliação9.
O uso do SMP forneceu bons resultados durante a análise instrumental da marcha,
foram eles: (a) a articulação do tornozelo exibiu dorsiflexão leve quando em contato
com o solo, seguido por plantiflexão. Os resultados, na fase de balanço da marcha,
foram mais expressivos com a utilização do calçado ortopédico com suporte
Codivilla e com o SMP, quando comparados aos sapatos comuns; (b) a articulação
do quadril apresentou um aumento na flexão durante a fase de apoio médio. Nessa,
os aumentos foram mais marcantes com o uso dos sapatos comuns, intermediários
com o SMP e menos marcantes com o suporte Codivilla. Durante a marcha foram
avaliadas: velocidade média, velocidade de balanço, cadência, duração da fase de
postura, comprimento das passadas direita e esquerda, largura dos passos direito e
esquerdo. Todos os dados foram coletados no mesmo dia com o valor médio de três
tentativas para cada condição. Ao final da análise, o novo dispositivo, SMP, provou
ser mais satisfatório para o paciente por não gerar dor e/ou compressão, além de
ser mais agradável esteticamente. O paciente também apresentou melhorias na
execução dos padrões da marcha, com realização de menos sinergias inadequadas
de movimentos9.
Del Bianco et al.10 compararam a função da OTP-Silicone com outro modelo
pré-fabricado composto por feixes de molas posteriores (OTP-Molas Posteriores) na
função da marcha de pacientes com DCMT. Como resultados os pesquisadores
apresentaram que as duas opções melhoraram o padrão de marcha quando
comparados somente ao uso de calçado comum. Mas a OTP-Molas Posteriores
melhorou os resultados para plantiflexão e dorsiflexão de tornozelo, se mostrando
eficaz na correção de desvios da marcha nas fases de apoio e balanço em
detrimento da OTP-Silicone que atuou somente na fase de balanço. Houve melhor
controle durante a fase de transição de apoio do membro inferior direito para o
esquerdo com o uso da OTP-Molas Posteriores quando comparado com a
deambulação sem órtese10.
Vinci,Gargiulo (2008) com objetivo de identificar os problemas ortopédicos e
psicológicos relacionados à aderência ao tratamento do pé caído grave com
utilização de OTPs, 25 pacientes foram investigados. Duas avaliações foram
realizadas no mesmo dia, a primeira por um médico fisiatra que consistia em
constatar a utilização ou não de OTP’s, seguida de registro fotográfico de membros
inferiores do paciente em posição ortostática usando suas próprias órteses, ou caso
não utilizassem somente seus calçados comuns. Os pesquisadores mensuravam o
ângulo entre o eixo da perna e a sola do pé para avaliar a presença de pé caído com
uso de um goniômetro. A segunda avaliação foi feita por um psicólogo que através
de entrevista qualitativa investigou fatores que comprometiam a qualidade de vida, e
analisava a relação do paciente com seu próprio corpo e com o dispositivo auxiliar 11.
O estudo demonstrou que pacientes graves têm baixa adesão ao tratamento. Os
indivíduos tinham mau relacionamento com o próprio corpo e alegaram
principalmente desconforto físico (dor/compressão) e psicológico. O que sugere que
a prescrição de OTP’s sejam acompanhadas de suporte psicológico 11.
Por fim, franceses da Université de la Méditerranée relataram caso clínico em
que utilizaram sapatos ortopédicos com objetivo de melhorar marcha e equilíbrio em
paciente com DCMT, também foi prescrita fisioterapia para manutenção de
amplitude de movimento do tornozelo. Os autores realizaram exame físico e
avaliação clínica da marcha quantificando parâmetros espaciais e temporais antes e
depois do tratamento com o sistema de medidas Gaitrite ®
12
. A primeira avaliação
registrou as queixas do paciente e identificou as deficiências neurológicas e
musculoesqueléticas existentes. Os sapatos foram confeccionados após intervenção
conjunta de um fisiatra e um técnico especializado, foram definidos os objetivos
terapêuticos, a descrição do material, a órtese plantar, o tipo de sola e o material de
fixação. O paciente passou pelo processo de moldagem e posterior correção do
calçado para eliminar áreas de pressão. A segunda avaliação foi realizada após um
mês de uso dos sapatos ortopédicos, o objetivo era analisar a eficácia do tratamento
e a tolerância do paciente em relação aos sapatos. Qualitativamente e
quantitativamente o resultado foi um sucesso o indivíduo relatou desaparecimento
no quadro de dor e melhora da estabilidade, com os sapatos foi capaz de subir e
descer escadas, atividades anteriormente não realizadas. Após o tratamento o
sistema Gaitrite® demonstrou aumento na velocidade (descalço: 0,38 m/s, SO: 0,54
m/s, valor normal: 0,8–1,0 m/s), na cadência (descalço: 66 p/min, SO: 74 p/min, valor
normal: 75 p/min) e no comprimento do passo (direito: descalço: 34,6 cm, SO: 43,1
cm; e esquerdo: descalço: 37,6 cm, SO: 43,8 cm, valor normal: 75 cm). A largura de
passo foi reduzida (direito: descalço: 14,3 cm, SO: 12,4 cm; e esquerdo: descalço:
13,7 cm, SO: 12,1 cm, valor normal: 10–12 cm). Os autores concluíram que os
sapatos ortopédicos apesar
de
não
alcançarem valores normais quando
comparados a um sujeito saudável são excelente meio de tratamento para as
alterações da marcha em pacientes com DCMT 12.
Tabela 1-Resumos dos principais estudos que relatam o uso de OTP’s em DCMT
Autores
(data)
Tipos de
Pesquisa
OTP
Guzian et
al.(2006)
Quantitativa
Qualitativa
Sapato
Ortopédico
Vinci, Gargiulo
(2008)
Qualitativa
OTP-Plásticas
Del Bianco,
Fatone (2008)
Quantitativa
Vinci et al.
(2010)
Quantitativa
Guillebastre et
al. (2011)
Quantitativa
Ramdharry et
al. (2012)
Ramdharry et
al. (2012)
OTP-Silicone
X
OTP-Molas
Posteriores
OTP-Silicone
Codivilla
Suporte Macio
Pé CaídoSMP
Calçado+OTPPlástica
Calçado+OTPElástica
Tempo de
Uso
30 dias
Não
Relatado
OTPSilicone: 3
meses
OTP-Molas
Posteriores:
4 anos
3 anos
Não
Relatado
Quantitativa
OTP-Plástica
OTP-Elástica
Codivilla
Não
Relatado
Quantitativa
OTP-Silicone
OTP-Plástica
OTP-Elástica
Não
Relatado
Instrumentos
valiadores
N
Principais Resultados
Sapato Ortopédico é excelente meio
de tratamento para as alterações da
marcha.
A prescrição de OTP deve ser
acompanhada
com
suporte
psicológico.
Gaitrite®
Exame clínico
01
Exame Clínico
Avaliação
Psicológica
25
Exame Clínico
Análise de Marcha
Laboratório
(VACMARL)
01
OTP-Molas Posteriores promoveu
melhor controle durante a fase de
transição de apoio.
01
Suporte Macio para Pé caído melhora
os padrões da marcha.
26
A prescrição de OTP parece ser
relevante para a melhora do equilíbrio
e da marcha
14
OTPs reduzem a queda do pé
removendo a necessidade de ação
compensatória do membro inferior a
nível proximal.
32
As pessoas com DCMT usam
órteses quando sua condição se
agrava.
Exame Clínico
Análise de Marcha
Instrumentada em
Laboratório 3D de
Movimento
Escala Medical
Research Council
Plataforma de Força
PF02
Gaitrite®
Análise de Marcha
Instrumentada em
Laboratório 3D de
Movimento
Teste Caminhada
10m
Teste Caminhada
6min
Exame Clínico
Escala de Berg
CMTES(Escala
Charcot-Marie)
Conclusão
A atualização da literatura sugere benefícios das OTPs, auxiliando na
estratégia de estabilização do tornozelo evitando a queda do pé, alteração mais
comum na marcha dessa população. Os profissionais envolvidos devem avaliar a
progressão da doença principalmente no quesito função plantar. Isso irá ajudar a
ortetisar da melhor forma os déficits do paciente. Em última análise, na maioria dos
indivíduos, vai pesar a sua vontade de aderir ao tratamento com OTP’s, e o quanto
esses dispositivos auxiliarão na compensação de suas deficiências atuais. A decisão
de usar uma OTP pode ser mais influenciada por isso do que propriamente pelas
recomendações e incentivo dos profissionais de saúde. Esta revisão pode ser uma
importante ferramenta na orientação de profissionais envolvidos na prescrição de
OTPs, auxiliando-os também a estimular a adesão do equipamento de assistência
por
parte
dos
pacientes.
Novos
estudos,
principalmente,
ensaio
clínicos
randomizados, ainda são necessários para elucidar os efeitos reais do uso de OTPs
em pacientes com DCMT.
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