ASPECTO RADIOGRÁFICO DAS ALTERAÇÕES DA COROA DENTAL Analisando-se a imagem de um dente íntegro, todas as suas partes são facilmente identificáveis, pois já conhecemos sua escala de radiopacidade e posição no órgão dental. Estudamos os aspectos radiográficos das estruturas anatômicas da maxila e da mandíbula, suas variações e as superposições de imagens que podem ocorrer. Agora começamos a estudar as alterações do normal. Qualquer mudança na radiopacidade ou a existência de solução de continuidade das estr uturas que estão na coroa modificam suas imagens radiográficas. Tanto a imagem do esmalte quanto a da dentina evidenciam áreas radiolúcidas (a cárie), que contrastam perfeitamente com suas imagens fortemente transparentes. Podemos dizer ainda que, qualquer mudança para mais ou para menos no teor de cálcio das estruturas dentais produzirão modificações nas suas densidades radiográficas e, consequentemente, em suas imagens. Iniciaremos o estudo das alterações da coroa pela cárie dental, que ataca os tecidos mineralizados dos dentes. Encarada como problema de importância em saúde pública, existe a necessidade de se encontrar métodos de diagnóstico precoce assim como meios adequados para seu controle. Diz-se que a mais importante lacuna que a radiologia preenche u, associada à prática da Odontologia, foi sem dúvida a da pesquisa da cárie e a determinação do grau de destruição de cada lesão; como a anormalidade dental mais comum, é a responsável pelo grande número de exames radiográficos. A cárie dental, atacando os tecidos duros dos dentes, desmineraliza-os ou mesmo elimina parte desses tecidos e, como consequência, esses tecidos tornam -se radiolúcidos, deixando atravessar raios X que vão atingir o filme produzindo imagens opacas ( escuras com diferentes tons de cinza). Essas imagens podem ter bordos indefinidos e contornos irregulares porque a cárie não se propaga de forma uniforme e devemos lembrar que sempre há mais descalcific ação do que nos mostra a imagem; no entanto, quanto mais escura a imagem maior o grau de descalcificação. A utilidade do exame radiográfico reside no fato de que revela uma alta percentagem de cáries que de outro modo permaneceriam sem serem descobertas. Os graus de extensão da cárie (FIGURAS NA PÁGINA SEGUINTE) são (progressivamente): ao esmalte, a dentina, a polpa, a bifurcação (ou trifurcação no caso de molares superiores). Embora qualquer parte da coroa possa ser afetada, as áreas de sulcos e próximo à junção cemento -esmalte apresentam maior incidência. Em seguida atinge a dentina, menos mineralizada do que o esmalte; pode se estender chegando, em primeiro lugar, ao corno pulpar. Nesse caso, já atingiu a câmara coronária e é chamada cárie com extensão a polpa; invade o canal radicular, causando necrose pulpar e poderá atingir a bi ou trifurcação, caso o dente não seja restaurado como tentativa de deter a destruição causada. Poderemos algumas vezes observar áreas escuras sob restaurações que são as recidivas de cárie (FIGURAS NA PÁGINA SEGUINTE), que podem atingir tecido dental íntegro em uma das faces ou por mais de uma face do dente. RADIOLOGIA-FOA-UNESP-ARAÇATUBA 2013 CÁRIE: ESMALTE CÁRIE: POLPA CÁRIE: DENTINA CÁRIE: BIFURCAÇÃO 2 RECIDIVA DE CÁRIE OCLUSAL RECIDIVA DE CÁRIE MESIAL RADIOLOGIA-FOA-UNESP-ARAÇATUBA 2013 3 RECIDIVA DE CÁRIE DISTAL RECIDIVA DE CÁRIE + DE UMA FACE O exame radiográfico nunca deverá ser desvinculado do exame clínico e vice -versa, pois um complementa o outro. Algumas vezes, não é possível apenas pelo exame clínico avaliar o grau de extensão da cárie que se iniciou na superfície oclusal, pode ndo já ter destruído grande parte da dentina e só podemos constatar esse avanço através do exame radiográfico. Em contrapartida não se pode afirmar com segurança que existam cáries nos sulcos e fissuras sem recorrermos ao exame clínico. Essas são limitações do exame radiográfico, ao lado das restaurações de resina composta (radiolúcida), sem forramento, em dentes anteriores ou mesmo posteriores. Uma outra limitação diz respeito a cáries localizadas nas faces vestibular e lingual, cujas imagens se superpõem à imagem da câmara pulpar. Não poderemos afirmar se a polpa foi ou não atingida, porque a radiografia nos fornece apenas duas dimensões. Além da redução no tamanho da cavidade pulpar associada ao avanço da idade, existem certas condições que estimulam prematuramente a formação de dentina secundária (n o 2 e Seta Azul na Figura de Recidiva de Cárie Mesial): cárie, abrasão, atrição e fraturas dentais. A imagem desta dentina reacional apresenta-se mais transparente ou detectamos sua ocorrência pela diminuição da imagem da câmara pulpar (n o 3 e Seta Verde na Figura de Recidiva de Cárie com extensão para mais de uma face) . Os materiais restauradores (Figura abaixo) tem diferentes graus de radiopacidade. Em ordem crescente de radiopacidade temos: resina acrílica, resina composta, cimento de óxido de zinco e eugenol (OZE), cimento óxido fosfato de zinco, amálgama e coroas metálicas fundidas. Todas as restaurações utilizadas como recurso para tornar a dar ao dente condições funcionais e os materiais usados como forramento (menos radiopaco, seta azul na Figura de Recidiva de Cárie Oclusal e seta azul na Figura de Resina Composta, abaixo à Esquerda, no 25. Na mesma figura abaixo observar recidiva de cárie distal e uma camada radiopaca fina de dentina secundária [seta verde]), são detectados radiograficamente. Assim temos as restaurações radiopacas e as radiolúcidas que devem ter sido feitas respeitando o contorno da face proximal restabelecendo o ponto de contato (Seta RADIOLOGIA-FOA-UNESP-ARAÇATUBA 2013 Vermelha pequena na Figura de Recidiva de Cárie com extensão para mais de uma face) entre dentes adjacentes; o excesso (seta azul abaixo, no 16 Figura da direita) marginal produz imagem facilmente observada em radiografias periapicais e interproximais. RESINA COMPOSTA AMÁLGAMA EXCESSO DE MATERIAL RESTAURADOR Recursos protéticos são usados para restaurar coroas bastante destruídas por cárie. Dentre esses temos as coroas metálicas totais (no 37 abaixo) que são utilizadas em casos de destruição muito extensa da coroa com ou sem vitalidade pulpar, que sendo feitas de ligas metálicas, apresentam-se bastante radiopacas. Essas coroas podem ser feitas com pino (no 14 e no 15 abaixo) e colocadas no interior de um canal com tratamento endodôntico para obtenção de um bom suporte. As coroas de jaqueta são um recurso em que se faz um preparo sobre o próprio dente ou utiliza-se núcleo metálico (Figuras abaixo); sobre esse colocamos uma coroa estética que o recobre. Torna-se necessário dizer que muitas vezes não conseguimos diferenciar a coroa dos seus respectivos núcleos na imagem radiográfica, a não ser que o núcleo esteja sem a coroa. COROAS COM PINO TOTAIS COROAS METÁLICAS RADIOLOGIA-FOA-UNESP-ARAÇATUBA 2013 PREPARO NOS TECIDOS DENTAIS NÚCLEO METÁLICO PREPAROS PARA COROA DE JAQUETA A atrição (Figura abaixo) é um desgaste que atinge mais os dentes anteriores do que os posteriores, resultado da oclusão e do deslizamento anormal (forçado) dos dentes superiores contra os inferiores, levando a uma perda de esmalte. A face incisal ou, mais raramente, a face oclusal, é diminuída em altura, apresentando-se radiograficamente como se tivesse sido desgastada uniformemente de um lado a outro, fazendo com que o esmalte seja visualizado somente nas faces proximais. ATRIÇÃO A abrasão é o desgaste que sofre o dente na sua região cervical causado por escovação defeituosa, grampos de prótese removível ou ingestão excessiva de alimentos ácidos. A abrasão é identificada radiograficamente por manchas escuras bem delimitadas, em torno do colo dental, podendo ser confundida com cárie que atingiu o cemento As fraturas coronárias são observadas no exame radiográfico periapical como um a linha radiolúcida (em caso de fratura parcial) na imagem da coroa ou mais comumente pela perda de RADIOLOGIA-FOA-UNESP-ARAÇATUBA 2013 parte da coroa; podem apresentar-se, segundo sua direção, como fraturas transversais, oblíquas ou longitudinais, sempre em relação ao longo eixo do dente. A s mesmas poderão comprometer ou não a polpa dentária, expondo-a aos meios bucais levando a sua necrose. Sua ocorrência é maior nos dentes anteriores superiores, em indivíduos jovens, causados principalmente por acidentes automobilísticos e pela prática de esportes. Na maior parte dos traumatismos observamos que o contorno da coroa está alterado em sua forma, pela perda do fragmento fraturado. FRATURAS DE COROA Por fim, algo que também tem modificado o aspecto radiográfico da coroa dental é a presença de aparelhos ortodônticos. Os braquetes metálicos são colados aos dentes e fios metálicos unem diversos braquetes. APARELHO ORTODÔNTICO (BRAQUETES METÁLICOS) RADIOLOGIA-FOA-UNESP-ARAÇATUBA 2013