Universidade do Algarve Faculdade de Ciências e Tecnologia TRABALHOS LABORATORIAIS Química Geral Engª do Ambiente Química Inorgânica Lic. Oceanografia (1o Ano) 1º Semestre: 2005/2006 Índice I. Segurança no laboratório de química ......................................................................... 2 A. Regras de segurança essenciais .............................................................................2 II. Símbolos de perigosidade .............................................................................................3 III. Material de laboratório...................................................................................................5 IV. Medições de volumes e massas. .................................................................................6 A. Medição de volumes de líquidos ...............................................................................6 B. Medição de massas .................................................................................................9 V. Tratamento de resultados ...................................................................................... … 11 A. Tipos de erros ......................................................................................................... 11 B. Precisão e exactidão.............................................................................................. 12 C. Algarismos significativos ........................................................................................ 13 1. Regras de Arredondamento........................................................................... 14 2. Manuseamento dos dados experimentais ..................................................... 17 D. Intervalos de confiança ........................................................................................... 18 E. Determinação da” melhor recta “ que passa pelos pontos experimentais ............. 21 VI. Programação e calendarização .............................................................................. …26 VII. Folha de apontamentos laboratoriais .................................................................... …27 VIII. Relatórios ............................................................................................................. …29 IX. Trabalhos práticos .................................................................................................. …31 1. Preparação e diluição de soluções .................................................................... 31 2.Gravimetria: Determinação do resíduo de uma água ......................................... 35 3. Fotometria de chama de emissão: Determinação do sódio nas águas.............. 37 4. Volumetria de Precipitação: Determinação do teor de cloretos numa água ...... 40 5. Lei dos gases: Lei de Charles e Gay-Lussac ..................................................... 42 6. Termodinâmica: Entalpia de Vaporização ......................................................... 44 7. Volumetria Áido-base: Titulação de um ácido fraco com uma base forte .......... 46 8. Volumetria Áido-base: Titulação potenciométrica .............................................. 47 9. Volumetria de Complexação: Determinação da dureza de uma água ............... 50 10. Volumetria de Redução-Oxidação: Titulação do Ferro (II) com permanganato de potássio ............................................................................................................... 53 1 I. SEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE QUÍMICA A - Regras de segurança essenciais SEMPRE 1. Familiarize-se com os procedimentos de segurança. 2. Use óculos de protecção sempre que necessário. 3. Use roupa adequada e bata. 4. Lave as mãos quando terminar a aula. 5. Prepare a experiência antes de ir para a aula, sabendo a perigosidade dos compostos que irão ser utilizados, bem como os passos a executar durante o trabalho experimental; 6. Manuseie os químicos com cuidado. 7. Mantenha a sua área de trabalho sempre limpa. 8. Sempre que tiver alguma dúvida pergunte ao professor. NUNCA 1. Coma ou beba no laboratório. 2. Fume no laboratório. 3. Cheire ou prove nenhum produto químico. 4. Brinque ou distraia o seu colega. 5. Corra no laboratório. 6. Trabalhe sozinho. 7. Faça trabalhos experimentais não autorizados. Acima de tudo use BOM SENSO na forma como se comporta. 2 II. Símbolos de Perigosidade Perigo: Por contacto, destroem o tecido vivo bem como utensílios. Exemplos: Bromo, ácido sulfúrico. Cuidado: Não inalar os vapores e evitar o contacto com a pele, olhos e vestuário. Perigo: São substâncias que podem explodir sob determinadas condições. Exemplos: Permanganato de potássio, peróxido de sódio. Cuidado:Evitar qualquer contacto com substâncias combustíveis. Perigo: Podem desenvolver uma acção irritante sobre a pele, olhos e vias respiratórias. Exemplos: Solução de amoníaco, cloreto de benzilo. Cuidado: Não inalar os vapores e evitar o contacto com a boca e olhos. Perigo: A inalação, ingestão ou absorção através da pele provoca, na maior parte das vezes lesões muito graves ou mesmo a morte. Exemplos: Trióxido de arsénio, cloreto de mercúrio (II). Cuidado: Evitar qualquer contacto com o corpo e no caso de indisposição chamar o médico. Perigo: Quando absorvidas pelo corpo, por inalação, ingestão ou contacto, estas substâncias provocam lesões pouco graves. Exemplos: Piridina, tricloroetileno. Cuidado: Evitar qualquer contacto com o corpo humano, inclusive inalação de vapores, no caso de indisposição chamar o médico. 3 Perigo: Fácilmente inflamáveis, sensíveis à humidade ou água. Exemplos: Propano, acetona, hidreto de boro e sódio. Cuidado: Manter afastado de fontes de calor. 4 III. Material de Laboratório 5 IV. Medições de volumes e massas A. Medição de volumes de líquidos A. Material para medição de volumes: (1) Material de Vidro A medição de volumes é uma das acções mais frequentes num laboratório. Entre o material volumétrico existente, distinguem-se: Pipetas, existem dois tipos fundamentais: volumétricas e graduadas. Volumétricas - têm uma só marca indicadora do nível a que o líquido se deve ajustar de modo a que o valor vazado seja o valor fixo indicado na pipeta (mais rigorosas). Graduadas – têm uma escala que permite o vazamento de quantidades variáveis de líquido (menos rigorosas). Balões volumétricos, o volume final deve ser ajustado, com o solvente, até ao traço. Buretas, tubo cilíndrico graduado com uma “válvula” e com o qual é possível controlar o fluxo e a quantidade de líquido vazado. O volume é lido na escala da bureta. Provetas, graduadas de modo a permitir a medição de volumes variáveis e lidos até ao valor máximo da sua escala. 6 Rigor das medições: Pipetas volumétricas – Pipetas graduadas – Balões volumétricos – Buretas – Provetas + rigor − rigor As leituras de volume devem ser efectuadas tendo em conta a posição do menisco, considerando que o volume é o correspondente à sua base, tal como indicado na figura: (a) Procedimento para utilização de pipetas volumétricas: Ajustar uma "pompete" à ponta superior da pipeta, segurando sempre a pipeta pela ponta superior (e nunca pelo meio!). Mantendo a pipeta na posição vertical, mergulhá-la no líquido e enchê-la, por aspiração, utilizando a "pompete", até ligeiramente acima do traço superior. Remover quaisquer gotas de água aderentes ao exterior da pipeta, limpando-a num movimento descendente com papel absorvente. Deixar escorrer a água lentamente e ajustar convenientemente o menisco. Eliminar qualquer gota em excesso que se encontre na extremidade da pipeta, encostando-a à parede molhada dum recipiente. Assegurar-se que não existem gotas de água aderentes ao exterior da pipeta ou às paredes internas acima do menisco e que não há bolhas de ar nem espuma no líquido. Deixar escoar livremente o líquido contido na pipeta para o recipiente, mantendo a pipeta na vertical, com a extremidade encostada à parede interna do recipiente, sem a deixar escorregar. 7 Quando terminar o escoamento visível (o menisco deve permanecer imóvel ligeiramente acima da extremidade), manter a pipeta na mesma posição durante 3 segundos (ou, se a pipeta tiver tempo de espera, mantê-la durante o tempo indicado). (2) Micropipetas automáticas A necessidade de medição de pequenos volumes de líquidos, na gama do mililitro ou microlitros, levou ao desenvolvimento de uma gama de pipetas automáticas de pontas descartáveis. A fiabilidade destes sistemas depende em grande parte da qualidade do instrumento, mas também de outros factores como a qualidade das pontas, o ambiente e o operador. Pontas descartáveis - a forma, propriedades do material e o ajuste da ponta à pipeta influenciam o rigor da medição. É importante verificar que a ponta encaixa bem na pipeta, testar a forma como se molha, e verificar se ficam gotas remanescentes depois de escoar o líquido. Condições ambientais - As fontes de erro do meio ambiente incluem a temperatura (diferença de temperatura entre a pipeta, o fluido e a temperatura ambiente), a pressão atmosférica e a humidade do ar. A maior contribuição para os erros ambientais é a temperatura. É importante garantir que todos os componentes estão à mesma temperatura, dentro de ±1ºC. (a) Procedimento para utilização de micropipetas: Ajustar a ponta na pipeta e ajustar o volume a medir. Pressionar com o polegar o manípulo até à primeira paragem; Segurando a pipeta verticalmente, introduzir a ponta cerca de 2-3 mm na amostra; Soltar gradualmente o manípulo e observar o processo de enchimento (deve evitar-se a turbulência no interior da ponta, para minimizar o risco de formação de aerossóis). Quando o manípulo estiver na posição inicial, remover o polegar completamente (a ausência de pressão melhora a precisão). Lentamente, retirar a ponta da pipeta da amostra, e limpar quaisquer gotas de água que tenham ficado aderentes ao exterior. 8 Para escoar o volume medido, encostar a ponta da pipeta na parede do recipiente, num ângulo de 10-45º. Colocar o polegar sobre o manípulo e pressionar de forma uniforme até à primeira paragem. Esperar 1 segundo. Pressionar rapidamente até à segunda paragem. Cuidados a ter ao usar micropipetas: a pipeta e respectiva ponta devem ser escolhidas de forma a minimizar o espaço de ar entre o pistão e o líquido; a ponta deve ser mergulhada apenas à superfície da solução (2-3mm de profundidade); deve molhar-se previamente a ponta com a solução a medir, para melhorar a precisão e exactidão; deve segurar-se a pipeta na vertical; a aspiração deve ser feita de forma suave, e não bruscamente. B. Medição de massas Uma das operações mais frequentes num laboratório é a pesagem, operação pela qual se determina a massa de uma substância. O grau de exactidão e precisão que é necessário satisfazer numa pesagem dependem da sua finalidade. Uma balança analítica, muito rigorosa, ±0,0001 g, tem uma capacidade que pode variar de 50 a 200 g. Uma balança técnica é menos rigorosa, ±0,01 g, mas tem uma capacidade elevada que pode ser de ~1000 g. (a) Cuidados a ter durante as pesagens: A balança deve ser mantida sempre limpa, ou seja, não se devem colocar reagentes directamente no prato mas sim sobre uma cápsula de pesagem (ex: vidro de relógio). As substâncias voláteis ou corrosivas devem ser pesadas em recipientes fechados. 9 A temperatura do objecto a pesar deve ser razoavelmente próxima da temperatura da balança. As janelas da balança devem estar fechadas durante a pesagem. Cada passo na pesagem - taragem, colocação do objecto no prato, leitura - deve ser feito lentamente, dando tempo suficiente à balança para atingir o equilíbrio. O objecto a pesar deve ser cuidadosamente colocado no centro do prato da balança, para evitar erros de excentricidade. Terminada a pesagem, a balança deve ser limpa, se necessário, as janelas fechadas e desligada se não for utilizada de imediato. 10 V. Tratamento de resultados A. Tipos de erros Todas as medições experimentais estão sujeitas a erros. O resultado de uma análise pode ser quantitativo ou qualitativo. Quando o resultado é quantitativo, é extremamente importante fazer uma estimativa dos erros envolvidos na medição. Um resultado é inútil se não for acompanhado de uma estimativa dos erros envolvidos na sua medição. Podemos classificar os erros em três tipos: Grosseiros (irremediáveis); Aleatórios; Sistemáticos Erros grosseiros: Não entram no padrão normal dos erros associados a uma análise. Não devem ocorrer, e, se ocorrem e são detectados, normalmente é necessário repetir toda a análise. Ex: avaria de um instrumento; distracção do operador; contaminação macroscópica de um reagente, etc. Erros Aleatórios (ou Indeterminados): As suas fontes podem ser incerteza instrumental, do método ou do Não são elimináveis, mas podem minimizar-se com trabalho operador; cuidadoso; Reconhecem-se como uma dispersão dos valores em torno de uma Afectam a precisão; Podem quantificar-se pela medição da precisão (p. ex., através do média; desvio-padrão). 11 Erros Sistemáticos (ou Determinados): As suas fontes podem ser erros instrumentais, do método ou do Em princípio, são reconhecíveis e podem reduzir-se parcial ou operador; completamente; Reconhecem-se pelo afastamento entre o valor verdadeiro e o valor Afectam a exactidão; Podem quantificar-se pela medição da diferença entre o valor médio; verdadeiro e valor médio. B. Precisão e exactidão Exactidão: Concordância entre o valor obtido e o valor aceite como verdadeiro Precisão: Concordância entre os valores obtidos no mesmo ensaio repetido várias vezes. 12 repetibilidade precisão intermédia Precisão reprodutibilidade (1) Repetibilidade (a) Reprodutibilidade Precisão obtida nas mesmas condições: mesmo laboratório mesmo operador mesmo equipamento curto intervalo de tempo Precisão obtida fazendo variar as condições: diferentes laboratórios diferentes operadores diferentes equipamentos espaçamento no tempo C. Algarismos significativos O conceito de algarismos significativos permite introduzir de um modo simples a precisão de uma medida sem explicitar a sua incerteza. Este conceito permite também estimar a precisão de um valor que é calculado por combinação de diferentes tipos de medida, pois a incerteza de um valor é propagado em todas as contas que com ele forem feitas. 13 Contagem do número de algarismos significativos: A contagem dos algarismos significativos é feita a partir do primeiro algarismo diferente de zero, da esquerda para a direita. Em alguns casos, se o primeiro algarismo da esquerda for maior ou igual a 5, conta como dois algarismos significativos. As potências de base 10 não contam como algarismos significativos. Valor Número de algarismos significativos Obs: 5,630 4 0,270 3 0,0004 1 1,0007 5 8,1 × 107 2 ou 3 ( se o primeiro Zero à direita da vírgula com significado Zero à direita com significado mas o zero à esquerda da vírgula sem significado Todos os zeros à esquerda da vírgula sem significado Todos os algarismos com significado Valor em notação científica. Apenas se consideram os algarismos antes do expoente algarismo da esquerda for maior ou igual a 5, conta como dois algarismos significativos) 2 × 10-7 3,60 ×102 3600 1 3 2 ou 3 ou 4 2,36 2 Os zeros podem estar apenas a indicar a posição da vírgula (ex. 36,0 × 102 O número em índice indica um valor estimado (ex. 2,36 cm medidos com uma régua graduada em mm) 1. Regras de arredondamento (de acordo com a norma Portuguesa NP-37/1961): Os arredondamentos devem ser feitos de acordo com o valor do algarismo seguinte ao qual se pretende arredondar, ou seja, quando se 14 arredondar um algarismo à casa de ordem n, deve ser ter-se em conta o algarismo que está na casa de ordem n-1. Se o algarismo correspondente à casa de ordem n-1 é menor que 5, o número arredondado mantém inalterado o algarismo de ordem n (ex.: 11341 arredondado às dezenas é 11340, ou 342,53 arredondado às décimas é 342,5). Se o algarismo correspondente à casa de ordem n-1 é maior que 5, o número arredondado tem o aumento de uma unidade no algarismo de ordem n (ex.: 11346 arredondado às dezenas é 11350, ou 342,57 arredondado às décimas é 342,6) Se o algarismo correspondente à casa de ordem n-1 é 5, e nas casas n-2, n-3... pelo menos um algarismo é diferente de zero, o número arredondado tem também o aumento de uma unidade no algarismo de ordem n (ex.: 11345,01 arredondado às dezenas é 11350, ou 342,552 arredondado às décimas é 342,6). Se o algarismo correspondente à casa de ordem n-1 é 5, e nas casas n-2, n-3... não há algarismos, ou são zeros, existem três modos de proceder ao arredondamento: (a) O valor a arredondar apresenta, com maior probabilidade, erro por excesso do que por defeito (é o caso dos valores resultantes de certos métodos de medida), neste caso o número arredondado mantém inalterado o algarismo de ordem n. (b) O valor a arredondar apresenta, com maior probabilidade, erro por defeito do que por excesso (é o caso dos valores resultantes de divisões, interrompidas quando ainda deixavam resto; e dos que resultam de certos métodos de medida), neste caso o número arredondado tem o aumento de uma unidade no algarismo de ordem n. (c) Não há motivos para supor que o valor a arredondar apresenta, com maior probabilidade, erro por excesso ou por defeito, neste caso o valor arredondado é obtido somando uma unidade ao algarismo de ordem n se este for ímpar (ex.: 11335 arredondado à dezenas é 11340; se 342,55 arredondado às décimas é 342,6; se 43,735 arredondado às centésimas é 43,74) ou mantendo inalterado o 15 algarismo de ordem n se este for par (ex.: 11345 arredondado à dezenas é 11340; se 342,65 arredondado às décimas é 342,6; se 43,745 arredondado às centésimas é 43,74). 16 2. Manuseamento dos dados experimentais (operações matemáticas elementares): Adição e subtracção: nos cálculos são utilizados todas as casas decimais, mas o número de casa decimais significativas do resultado não pode ultrapassar o menor número de casas significativas das parcelas. Ex.: Multiplicação e divisão: o resultado tem o número de algarismos significativos idêntico ao do factor com menor número de algarismos significativos 2 2 (ex.: 0,2x103,4 = 20,68 ou seja 0,2x10 ou 0,21x10 ; 0,2x140,7 = 28,14 ou seja 2 2 0,3x10 ou 0,28x10 ). Neste último caso é notário a informação dada pela numenclatura com índice. NOTA: os números inteiros quando multiplicados por reais não afectam o número de algarismos significativos, ou seja se um computador custar 6.000 euros, dois computadores custam 12.000 euros e não 1x104 euros... Logaritmos: o argumento do logaritmo e a mantissa do seu resultado deverão ter o mesmo número de algarismos significativos (ex.: log 2,02 = 0,305) 17 D. Intervalos de confiança É importante quantificar os erros aleatórios numa medição experimental. Isto faz-se determinando um intervalo de confiança para o resultado final. O intervalo de confiança representa-se como "x ± ∆x, para um nível de confiança de α %" e significa que há uma probabilidade α de o valor que medimos se encontrar entre x-∆x e x+∆x. A forma mais simples de estimar um intervalo de confiança é fazer a mesma medição repetidas vezes. Os erros aleatórios que ocorrem em cada medição serão diferentes. Uns serão por excesso, outros por defeito. Fazendo a média de todos os resultados, estaremos a compensar os erros por excesso com os erros por defeito, e, portanto, a minimizar os erros aleatórios de forma geral. Quanto mais medições fizermos, melhor. O valor médio de n repetições da mesma medição, xm, é uma estimativa do valor verdadeiro da propriedade que queremos medir (chamemos a este µ ). Se fosse possível fazer infinitas medições, conseguiríamos eliminar totalmente os erros aleatórios. Só nesse caso é que teríamos a certeza de que o valor médio das medições seria igual ao valor verdadeiro. Na prática, isto é impossível. Nunca conseguimos saber o valor µ com rigor absoluto. O melhor que podemos fazer é estimar um intervalo que tenha uma probabilidade elevada de o conter. Sabemos que o desvio padrão é uma medida dos erros aleatórios que ocorreram nas medições. A maior parte dos erros aleatórios obedece a um tipo comportamento estatístico, a que chamamos "distribuição normal" ou "distribuição de Gauss". Se representássemos num histograma1 infinitas medições sujeitas a erros aleatórios, este teria a forma de uma "boca de sino" designada por "curva de distribuição 1 Um histograma é um gráfico que traduz a frequência com que ocorre cada valor. No eixos das abcissas representam-se os valores, e no eixo das ordenadas o número de vezes que cada um ocorreu. 18 normal". Estas curvas são simétricas, e são definidas por dois parâmetros: a média (µ) e o desvio padrão (σ)2. Na figura seguinte representam-se duas curvas de distribuição normal com a mesma média (µ=200) e desvios padrão diferentes (σ1=1,0 e σ2=2,5). É de salientar que: - os valores ocorrem mais frequentemente próximo da média, e são progressivamente menos frequentes quando nos afastamos para os extremos (o máximo da curva está em µ); - quanto maior o desvio padrão σ (maior é a dispersão dos valores em torno da média µ) mais "larga" é a curva. Uma das propriedades mais úteis das curvas de distribuição normal é que, qualquer que seja µ e σ, cerca de 95% de todas as medições encontram-se no intervalo µ-2σ e µ+2σ. Da mesma forma, encontra-se sempre uma percentagem (p%) bem definida de todas as medições em qualquer intervalo µ±zσ. Isto significa que, quando faço uma medição x, há p% de probabilidade de o valor verdadeiro, µ, estar dentro do intervalo x±zσ. Os valores de z encontram-se tabelados em função da probabilidade (nível de confiança). Os mais vulgarmente usados são: 2 Passaremos a designar por µ e por σ a média e o desvio padrão de uma curva de distribuição normal, que seriam teoricamente obtidos através de infinitas medições e corresponderiam aos valores "verdadeiros", e por xm e por s a média e desvio padrão calculados com um conjunto finito de n pontos experimentais 19 Para calcular o intervalo de confiança, já só preciso de saber o valor de σ. Há duas hipóteses: - se fizer um número elevado de medições3, posso calcular o desvio padrão s e dizer que σ ≈ s. - se não for possível fazer um número suficientemente grande de medições, calculo o desvio padrão, s, e em vez de multiplicar por z multiplico por outro factor, o t de student. O valor t de student encontra-se tabelado em função do nível de risco, (100-p), e do número de graus de liberdade, gl. Este é dado por gl = n - 1 quando estamos a fazer uma média de n medições. Na Tabela 1 encontram-se alguns valores deste parâmetro4. 3 O que é um "número elevado de medições" varia, conforme os casos. Em geral, considera-se n>30 suficientemente elevado. 4 Também pode calcular-se t numa folha de cálculo excel (versão inglesa) com a função TINV(risco, gl). 20 O intervalo de confiança obtido para uma única medição x será então No entanto, geralmente fazem-se n medições (são necessárias para determinar s), e o valor médio dessas medições, xm, é uma aproximação melhor ao valor verdadeiro do que as medições individuais. Demonstra-se que o desviopadrão da média, sm é igual ao desvio-padrão dos valores individuais, s, dividido pela raiz quadrada do número de valores usados na média. O melhor intervalo de confiança que conseguimos assim obter com n medições será: E. Determinação da “melhor recta” que passa pelos pontos experimentais Frequentemente fazem-se medições de uma propriedade que varia linearmente com outra (por exemplo, a absorvência de uma solução pode variar linearmente 21 com a sua concentração, segundo a lei de Lambert-Beer). No entanto, as medições estão sempre sujeitas a erros aleatórios, pelo que, em geral, os pontos experimentais não coincidem com uma recta. Nestes casos, é necessário determinar a equação (y=mx+b) da recta que melhor se ajusta ao conjunto do dados experimentais. A este tipo de cálculo chama-se "regressão linear". Um dos métodos mais usados para fazer regressão linear é o método dos mínimos quadrados. Neste método, procura-se minimizar a distância "vertical" de cada ponto experimental x a uma recta teórica, mx+b (ver figura seguinte) O método parte de dois pressupostos muito importantes: 1. os erros aleatórios ocorrem apenas nas ordenadas (y), e não nas abcissas (x) 2. a ordem de grandeza dos erros aleatórios não varia ao longo da recta. Com estes pressupostos, o método calcula os "residuais", que são a distância, na vertical, de cada ponto experimental, yi, à recta: i y iy ) − (onde ýi representa o valor esperado de y, valor que yi teria se não tivesse erro, ou seja, se tivesse "caído" sobre a recta). A função U é a soma dos quadrados dos residuais, e é uma medida do afastamento de todos os pontos experimentais a uma recta teórica de declive m e ordenada na origem b: 22 Na função U, as incógnitas são m (o declive da recta) e b (a ordenada na origem). Pode calcular-se o mínimo desta função derivando e igualando a zero. O resultado deste cálculo dá as seguintes fórmulas para m e b: onde N é o número de pontos experimentais (xi, yi). Os parâmetros Sxx, Syy e Sxy podem calcular-se por: Da regressão linear retira-se outro parâmetro muito importante, o desvio padrão dos residuais, sy: O desvio padrão dos residuais é uma quantificação dos erros aleatórios que afastam os pontos da recta. Pode usar-se para determinar o desvio padrão do declive, sm e da ordenada na origem, sb: 23 Assim, podemos determinar a equação da recta que melhor passa pelos pontos experimentais, com intervalo de confiança para o declive e ordenada na origem: (Note-se que, neste caso, o número de graus de liberdade para o t de student é n2, e não n-1) Um parâmetro que traduz de forma simples se o ajuste da recta é bom ou não é o coeficiente de correlação. O cálculo deste pode ser feito utilizando a expressão: O coeficiente de correlação pode tomar valores entre +1 e –1, quando |r|=1 então existe uma relação linear entre x e y (os resultados experimentais podem ser descritos por uma recta), se r=0 existe uma independência completa entre os valores de x e y (os resultados não apresentam qualquer relação linear). Em métodos instrumentais de análise a regressão linear é frequentemente usada para construir com soluções padrão uma recta de calibração, que posteriormente é usada para determinar a concentração de uma amostra. Nestes casos, o desvio padrão sc associado à concentração C determinada a partir da recta é: 24 onde L é o número de réplicas da amostra que foram lidas, c é a média das L leituras da amostra, e é a média das leituras das N soluções padrão que foram usadas para construir a recta. O intervalo para a concentração da amostra será então C ± 2 s C, para 95% de confiança. 25 VI. Programação e calendarização das aulas práticas Aulas Data 1ª aula 22 de Setembro Introdução 2ª aula 29 de Setembro Preparação de soluções e Diluição de soluções 3ª aula 6 de Outubro 4ª aula 13 de Outubro Gravimetria Fotometria de chama de emissão: determinação de Na+ Volumetria de precipitação: Titulação de Cl- 5ª aula 20 de Outubro Lei de Charles 6ª aula 27 de Outubro Segurança em laboratórios 7ª aula 3 de Novembro Programa Determinação de ∆ H vap (Clausius – Clapeyron) 8ª aula 10 de Novembro Volumetria Ácido- base 9ª aula 17 de Novembro Potenciometria 10ªaula 24 de Novembro Volumetria de Complexação: Dureza da água 11ª aula 12 de Dezembro Teste prático 26 Data: ______________ Nome:_________________________________________________No:_________ _______ Curso:_____________________________Disciplina:_____________________ APONTAMENTOS LABORATORIAIS Título do trabalho: 1. Objectivo do trabalho: 2. Introdução: 3. Parte experimental: 3.1 Material utilizado 3.2 Reagentes utilizados 27 4. Resultados experimentais e cálculos: 5. Conclusões: 28 VIII. Relatórios Cada trabalho prático deverá ser: bem preparado, bem executado e bem discutido para ser avaliado como BOM. Preparação da aula: O estudante deverá preparar o trabalho prático. O estudante deverá relacionar o objectivo do trabalho prático com os aspectos teóricos da disciplina. Quais aspectos teóricos são abordados / demonstrados no trabalho prático? O estudante deverá utilizar o protocolo prático, os apontamentos das aulas, a bibliografia recomendada e outras fontes de informação a sua disposição afim de elaborar as secções 1-5: 1. Título do trabalho: breve e conciso, nome completo do estudante, número de inscrição. Data. 2. Objectivo: o objectivo pretendido. 3. Introdução e fundamento teórico: descrição da natureza do problema, o âmbito e método. Discussão da metodologia. geral da investigação (max A4). 4. Material: listas de material corrente de laboratório podem ser colocadas no anexo. A preparação das soluções e reagentes utilizados assim com as suas concentrações e volumes utilizados e aparelhos utilizados devem constar nesta secção. 5. Procedimento: deve ser escrita de modo completo e explícito de forma a que um investigador competente possa repetir as experiências. Este trabalho será apresentado no início da aula laboratorial. Pode ser apresentado como “documento de trabalho” ou seja 1ª versão. A versão definitiva será entregue em conjunto com o relatório final. Trabalho em laboratório Os estudantes deverão apresentar-se com batas, pontualmente no laboratório às horas indicadas no horário, e iniciar o trabalho prático preparado, respeitando sempre as normas de segurança e de utilização dos laboratórios. 29 Relatórios (cont.) A versão definitiva das secções 1-5 será entregue em conjunto com o relatório final. O estudante deverá utilizar o protocolo prático, os apontamentos das aulas, a bibliografia recomendada e outras fontes de informação a sua disposição afim de elaborar as secções 6-11: 6. Resultados: dados apresentados em tabela, cálculos utilizados, tratamento estatístico dos dados, gráficos, breve descrição dos pontos notáveis. 7. Resultados: tentar explicar os resultados obtidos, relacionar os resultados com o objectivo, discutir os problemas, comparar os resultados com os de outros grupos práticos, e/ou publicados na literatura. 8. Conclusão: resumo dos itens mais importantes da discussão. 9. Bibliografia: normalizada, citando todas as fontes de informação utilizadas na preparação da aula e do relatório. É imprescindível que toda a bibliografia citada no texto conste nas referências bibliográficas e vice-versa. 10. Anexos: listas etc 11. Resumo: uma condensação muito breve do trabalho, o que foi feito, os processos gerais usados, os principais resultados e conclusões. (Max. 300 palavras). 12. Assinatura. Este relatório deverá ser entregue no início da aula laboratorial seguinte, dactilografado (tamanho 12 ou 14) a espaço e meio em papel A4, folhas soltas, numa só face e com margens de aproximadamente 3cm de cada lado. Os gráficos deverão ser apresentados em papel milimétrico. 30 IX. Trabalhos práticos 1. Preparação e Diluição de Soluções Objectivo: Familiarizar os alunos com o manuseamento de material volumétrico, balança analítica e preparação de soluções Introdução: Uma solução é uma mistura homogénea de dois ou mais componentes, o facto de ser homogénea significa que a sua composição é a mesma em todos os pontos. Chama-se solvente ao componente predominante na mistura, e solutos aos componentes existentes em menor quantidade. Concentração de uma solução é a a quantidade de soluto presente numa dada quantidade de solução. A concentração pode exprimir-se em várias unidades, sendo as mais comuns: Molaridade Molalidade moles de soluto M, mol/L ou mol.dm-3 volume de solução moles de soluto massa de solvente moles de soluto massa de solvente Percentage m em massa do soluto m ou mol/kg Molalidade massa de soluto volume de solvente Massa de soluto 100% Massa do soluto massa de solvente mg/L (ou ppm), g/L, g.dm-3 31 Em geral, para preparar uma solução de concentração conhecida, dissolve-se uma quantidade pré-determinada de soluto num volume rigoroso de solvente. Se o soluto for um padrão primário e as medições de massa e volume forem rigorosas, a concentração da solução será rigorosamente conhecida. Podemos preparar soluções diluídas por diluição de soluções mais concentradas. Neste caso, para obter uma solução de concentração C2 é necessário pipetar um volume V1 da solução mais concentrada (de concentração C1) para um balão de volume V2, e completa-se o volume deste até ao traço com o solvente. Sempre que se fazem diluições é válida a relação: C1.V1 = C2.V2 Neste trabalho, pretende-se preparar uma solução de concentração de NaCl por pesagem e dissolução, e soluções menos concentradas por diluição desta. Observações: 1) A quantidade de soluto a ser pesada deve ser calculada de acordo com a concentração pretendida. 2) Verter para um recipiente pequeno e limpo (copo), uma quantidade suficiente de composto, será desse copo que serão retiradas as quantidades previstas. NOTA: Não deve introduzir qualquer espátula ou similar dentro do frasco que contém o composto. 3) O NaCl e o KCl são padrões primários. Devem ser previamente secos na estufa, para remover quaisquer moléculas de água de hidratação. 4) Para pesar quantidades rigorosas deve usar-se uma balança analítica de precisão ±0,0001 g. (Nota: Para pesagens menos rigorosas pode usar-se uma balança técnica de precisão ±0,01 g). 5) Na pesagem deve ser utilizado um copo especial ou papel de filtro. 32 Procedimento experimental: a) Soluções de NaCl: 1) Num copo de 100 mL, pese rigorosamente a quantidade de NaCl necessária para preparar 250 mL de uma solução aquosa 0,250 M. 2) Com a ajuda de uma vareta de vidro, dissolva todo o NaCl usando a menor quantidade de água destilada possível. 3) Quando todo o sólido estiver dissolvido, transfira o líquido para um balão volumétrico de 250 mL. Lave cuidadosamente o copo várias vezes com um esguicho de água destilada, deitando as águas de lavagem no balão, de modo a transferir quantitativamente todo o NaCl. Tenha o cuidado de não deixar nível do líquido ultrapassar o traço do balão volumétrico. 4) Tape o balão e agite para homogeneizar a solução. 5) Adicione cuidadosamente água destilada com o esguicho, até ajustar exactamente o nível de líquido à marca do balão. Tenha atenção para não cometer erros de paralaxe. 6) Homogeneíze novamente a solução. 7) Identifique o balão. Preparação de soluções diluídas: Por diluição da solução anterior, prepare soluções de concentração: 2x10-3 M 2x10-2 M 5x10-2 M 0,1 M 0,2 M. Calcule os volumes mais adequados a cada diluição, sabendo que existem no laboratório pipetas volumétricas de: 1, 2, 3, 5, 10, 20, 25 e 50 mL; e ainda balões volumétricos de: 10, 20, 25, 50, 100, 200, 250, 500 e 1000 mL. Sugestão: para cada solução, escolha primeiro o balão que pretende usar, e calcule depois o volume que é necessário pipetar. 33 Cálculos: Calcule rigorosamente a concentração das soluções que preparou, em molaridade e em mg/L. Bibliografia: [1] R. Chang, Química, 1994, 5ª Edição, Alfragide-Portugal, p 7-34; 525-568. [2] J. E. Brady e J. R. Holum, Chemistry - The study of matter and its changes, 1993, 1ª Edição, New York, p. 404-457. 34 2. Gravimetria “Determinação do resíduo de uma água” Material: placa de Petri balança pipeta volumétrica de 25 ml Solução Padrão de NaCl preparada na aula anterior banho Maria ou estufa exsicador Procedimento experimental: 1. Pesar metade de uma placa de Petri. 2. Pipetar 25 ml da solução de NaCl que preparou na aula anterior. 3. Aquecer até evaporação total. 4. Deixar arrefecer em exsicador. 5. Pesar. 6. Repetir 3-5 até obter dois pesos consecutivos iguais. 7. Determinar o peso do resíduo. Peso da placa (g) Peso placa + resíduo Peso resíduo Concentração da sol. padrão g/l Concentração determinada g/l Concentração da sol. padrão M Concentração determinada M 35 8. Calcular a partir dos dados da experiência a concentração da solução inicial em g/l e M. 9. Compare os valores obtidos na experiência aos valores da aula anterior. 36 3. Fotometria de Chama de Emissão “Determinação do Sódio em Águas” Objectivo: Utilização da técnica de fotometria de chama de emissão para determinar os teores em sódio (Na) em águas. Introdução: O modelo actualmente aceite para a estrutura do átomo indica que este é constituido por um núcleo (de protões e neutrões) e por electrões. Os electrões distribuem-se em torno do núcleo, ocupando cada electrão um nível bem definido de energia. Os electrões podem ser excitados (passando para níveis de energia superiores) por absorção de um quanta de energia, emitido por uma chama ou por uma descarga eléctrica. Quando os mesmos electrões passam de novo para o estado de energia mais baixo (estado fundamental) podem, dependendo do tipo de decaimento, emitir também um quanta de energia sob a forma de um ou vários fotões [1]. Eh (estado excitado) e Eh fotão e E1 (estado fundamental) (Absorção de energia) E1 (Emissão de energia) A energia do fotão (Efotão) é igual à diferença entre os dois níveis de energia, e inversamente proporcional ao comprimento de onda do fotão (), de acordo com a seguinte equação: E = Eh – E1 = Efotão = hc/ = h em que c é a velocidade da luz, 3.00x108 m/s, h é a constante de Planck, 6.63x1034 J.s/fotão e a frequência do fotão ( = c/). 37 A emissão de mais de um fotão por cada quanta de energia absorvido é devido ao facto de para cada electrão serem possíveis vários níveis de energia excitados, deste modo pode ser obtido um espectro de riscas com diferentes de emissão. Efotão (1) Efotão (2) Efotão (3) Cada elemento tem um espectro de riscas característico. Esta propriedade pode ser usada para determinar a concentração de sódio e potássio na água do mar, usando um fotómetro de emissão de chama. Sendo a intensidade da radiação emitida a um dado proporcional à concentração do elemento na solução. Este trabalho tem como objectivo a determinação dos teores em sódio (Na) e potássio (K) na água do mar, utilizando como técnica de análise a fotometria de chama de emissão. A existência destes elementos em quantidades elevadas em águas subterrâneas pode ser indicativa de poluição por actividades humanas ou animais, em especial tratando-se de zonas onde não existem minerais contendo sódio (sal gema). Estações de tratamento de esgotos e a actividade agrícola contribuem normalmente para a existência de sódio nas águas superficiais. Por outro lado, próximo da costa, a proliferação dos furos subterrâneos pode baixar o nível freático abaixo do nível da água do mar, causando a contaminação dos poços e furos com água salina e o aumento do nível de sódio nestas águas [2], como acontece na costa algarvia. 38 Procedimento experimental: Utilize as soluções de NaCl preparadas na última aula. Estas soluções servirão de padrão para calibrar o fotómetro de chama. a) Soluções de amostra Prepare a amostra diluindo a amostra de água Fotómetro de Chama 1:200. b) Determinação dos teores em sódio em água Calibração do fotómetro de emissão de chama com filtro de sódio: 1. Utilizando água destilada pura (branco) calibra-se o aparelho para ler o valor 0 (zero) e com a solução de NaCl mais concentrada o valor 100. 2. Efectuar as medidas para as soluções de NaCl diluídas e para a amostra. Cálculos: 1) Calcule rigorosamente a concentração das soluções de NaCl que preparou, em molaridade e em mg/L. 2) Traçar as rectas log I/I0 versus Concentração para as soluções de sódio. 3) Calcular os teores em sódio e da água analisada. Bibliografia: [1] J.A. Bevan, Laboratory Manual for principles of General Chemistry, 5th Ed., John Wiley & Sons, 1994. [2] S. E. Kegley, J. Andrews, The Chemistry of Water, University Science Books, 1998. [3] R. Chang, Química, 1994, 5th Ed., Alfragide-Portugal, p 7-34; 525-568. [4] J. E. Brady, J. R. Holum, Chemistry - The study of matter and its changes, 1th Ed., 1993,New York, p. 404-457. 39 4.Volumetria de Precipitação “Determinação do teor em cloretos de uma água” Introdução: O teor em cloretos de uma solução pode ser determinado, por volumetria de precipitação, sendo a detecção do ponto de equivalência feita pela formação de um precipitado vermelho de cromato de prata (método de Mohr). Neste método é feita a titulação dos iões cloreto com o nitrato de prata, de que resulta a formação de um precipitado branco de cloreto de prata (Kps = 1,8 x 10-10, a 25 ºC). Ag+ (aq) + Cl - (aq) AgCl (s) Esta titulação é feita em presença de ião cromato, que actua como indicador e confere à solução uma coloração amarela. Quando o ião cloreto tiver sido completamente consumido, a adição de um excesso de titulante terá como consequência a reacção dos iões prata com o ião cromato presente na solução, formando um precipitado vermelho de cromato de prata (Kps = 1,1 x 10-12, a 25 ºC). A precipitação deste sal, dada a sua maior solubilidade, só ocorre após o consumo do ião cloreto, o que permite a sua utilização como indicador, mas só se verifica quando a sua solubilidade for atingida, o que acarreta a necessidade de realização de um ensaio em branco. 2 Ag+ (aq) + CrO4 2- (aq) Ag2CrO4 (s) Neste processo é importante que o pH da solução se mantenha entre 6,5 e 10, a fim de evitar reacções secundárias. O acerto do pH faz-se mediante a adição de carbonato de cálcio ou de ácido nítrico. Aplicação: A maioria das águas contém iões cloreto dissolvidos provenientes de contaminação por água do mar ou da adição de cloro como desinfectante. A determinação destes iões faz-se, segundo a NP-423, pelo método descrito neste trabalho. 40 Parte experimental: 1. Determinação da concentração da solução de nitrato de prata: - Deitar num gobelé 10 cm3 da solução-padrão de NaCl e verificar o seu pH, com papel indicador. - Se a solução apresentar pH inferior a 6,5 , adicionar CaCO3 (s) puro. - Se a solução apresentar pH superior a 10, adicionar HNO 3, até pH inferior a 6,5 e em seguida ajustar como no caso anterior. - Adicionar 1 cm3 de K2CrO4 a 5% e preparar uma bureta com a solução de AgNO3 a titular. - Titular a solução de NaCl com a solução contida na bureta, até obtenção de uma coloração vermelha, persistente à agitação. - Fazer mais dois ensaios iguais ao anterior; nos cálculos, usar a média dos volumes obtidos. - Efectuar um ensaio a branco, usando como titulado 10 cm3 de água destilada. - Determinar a concentração da solução de nitrato de prata, usando o valor corrigido de volume de titulante gasto. 2. Determinação do teor em cloretos de uma água: - Medir para um gobelé 100 cm3 da água em análise e verificar o seu pH, ajustando-o se for caso disso. - Titular com a solução-padrão de AgNO3, na presença de 1 cm3 de K2CrO4 a 5%, até obtenção de coloração vermelha persistente à agitação. - Fazer mais dois ensaios iguais ao anterior; nos cálculos, usar a média dos volumes obtidos. - Efectuar um ensaio a branco, usando como titulado 100 cm3 de água destilada. - Calcular o teor em cloretos da água analisada expresso em mg/dm 3 de Cl-. 41 5. Leis dos gases: Lei de Charles e Gay-Lussac Objectivo: Determinar o efeito da temperatura no volume de uma dada massa de gás a pressão constante. Introdução: Um dos factos notáveis no comportamento dos gases é que, apesar das diferenças nas suas propriedades químicas, todos obdecem ao mesmo conjunto de leis físicas: Leis dos gases. As grandezas mensuráveis importantes de um gás são: volume (V), pressão (P), temperatura (T) e massa (m). As relações entre estas quatro grandezas foi determinda numa série de experiências sucessivas das quais será feita referência nesta breve introdução apenas a duas. Robert Boyle (1627-1691) determinou experimentalmente que que o volume de um gás varia na razão inversa da pressão (de notar que o volume de um gás é sempre igual ao do seu contentor, uma vez que os gases se expandem para ocupar todo o espaço que está disponível). Assim, P1V1=P2V2 A relação entre a pressão e o volume de um gás com uma determinada massa, mantendo a temperatura constante é expressa como a lei de Boyle: PV=constante. A relação entre o volume de uma amostra de gás, a pressão constante, e a sua temperatura absoluta pode ser expressa através da Lei de Charles. Segundo esta lei os gases aproximam-se do comportamento da lei de Charles quando a um aumento de temperatura, a pressão constante, corresponde a um aumento do seu volume. V1/V2=T1/T2 42 Procedimento experimental: a) Introduzir cerca de 750 mL de água desionizada num copo de precipitação de 1L b) Colocar cerca de 6 mL de azeite numa proveta graduada de 10 mL. c) Introduzir a proveta de boca para baixo no copo. d) Colocar o termómetro dentro do copo. Aguardar alguns minutos e verificar qual a temperatura da água e registar o volume de ar existente na proveta (levantar o menisco do azeite até à superfície da água para efectuar a leitura). e) Colocar a barra de agitação no copo. f) Colocar o sistema sobre uma placa de aquecimento com agitação, já quente. g) Ligar o sistema de agitação. h) Registar o volume ocupado pelo ar na proveta, para cada incremento de 5 ºC, até a temperatura atingir 70 ºC. Cálculos e discussão de resultados: 1) Registar num gráfico o volume ocupado pelo ar em função da temperatura. 2) Traçar uma recta prolongando-a até cortar o eixo dos xx. 3) Interpretar os resultados obtidos. Bibliografia: [1] R. Chang, Química, 1994, 5th Ed., Alfragide-Portugal, p 7-34; 525-568. 43 6. Termodinâmica: Entalpia de vaporização Objectivo: Aplicação das leis da termodinânica para determinar a entalpia de vaporização da água. Introdução: As moléculas de um líquído não estão numa rede rigída, estando portanto em movimento constante. A cada temperatura existe sempre energia suficiente para que uma determinada quantidade de moléculas passe do estado líquído ao gasoso (processo de vaporização). Assim, a pressão de vapor de um líquido (ou de um sólido) pode ser representada como função da temperatura, num diagrama que permite identificar os equilíbrios que se estabelecem entre as diferentes fases. Na figura seguinte está representado esquematicamente o diagrama de fases para a água pura: subli P maç gasoso ão sólido fus ão vaporiza ção líquido T Figura 1 – Diagrama de fases para a água pura A entalpia de vaporização (Hvap) é uma medida da força com que as moléculas estão ligadas num liquído (força intrermolecular) e pode ser definida como a energia necessária para vaporizar uma mole de um liquído (entalpia de vaporização molar). A grandeza Hvap pode ser determinada experimentalmente utilizando a equação de Clausius-Clapeyron, que relaciona a pressão de vapor de um líquido (P) com a temperatura absoluta (T): H v ap 1 C ln P R T 44 Esta equação tem a forma da equação linear (y=mx+b) considerando: y=lnP, m=(-Hvap/R), x=(1/T) e b=C. Procedimento experimental: Para calcular a entalpia de vaporização da água: 1) Registar a pressão atmosférica. 2) Encher uma proveta de 10 mL até ~2/3 do seu volume com água destilada. Tapar com o dedo e inverter a proveta para um copo de 500 mL, previamente cheio com água destilada (Nota: uma amostra de ~4 a 5 mL de água destilada deve ficar retida na proveta). 3) Aquecer até 80 ºC, com agitação o copo contendo a proveta. Registar o volume de ar na proveta. 4) Deixar arrefecer a água, com agitação constante, registando em intervalos de 5 ºC a temperatura da água e o volume correspondente de ar, até 40 ºC. 5) Arrefecer rapidamente até ~1 a 5 ºC, com gelo. Registar o volume correspondente. Cálculos: a) Elaborar um gráfico lnPvap versus 1/T. b) Calcular o número de moles de ar na proveta (PV=nRT, R=0.0821 L.atm.K 1.mol-1) c) Calcular a entalpia de vaporização (R=8,31 J.K-1.mol-1) Bibliografia: [1] R. Chang, Química, 1994, 5ª Edição, Alfragide-Portugal, p 223-265. [2] J. E. Brady e J. R. Holum, Chemistry- The study of matter and its changes, 1993, 1ª Edição, New York, p. 136-169. 45 7. Volumetria ácido-base “Titulação de um ácido fraco com uma base forte” Encher a bureta com uma solução de NaOH de concentração conhecida. Ensaio preliminar: Pipetar para um erlenmeyer um pequeno volume (1-5ml) do ácido a analisar. Adicionar 1 gota de fenolftaleina (indicador). Titular até virar o indicador (rosa pálido). Ensaio definitivo: A partir do resultado do ensaio preliminar, determinar o volume a pipetar para se utilisar quase uma bureta inteira de solução titulante. Pipetar o volume adequado de ácido a analisar para um erlenmeyer. Adicionar 1 gota de fenolftaleina (indicador). Titular até virar o indicador (rosa pálido). Repetir a experiência. Calcular a concentração do ácido. 46 8. Volumetria ácido-base “Titulação potenciométrica” Objectivo: Estudo da curva de variação do pH Introdução: Uma medida da concentração de iões H+ numa solução é o pH. Define-se como pH = -log (H+) em que (H+) é a actividade dos iões H+ em solução. O pH de uma solução pode ser medido usando um medidor de pH. Este é constituído por um eléctrodo combinado de vidro e um potenciómetro, e mede uma diferença de potencial que é directamente proporcional ao pH. O ponto de equivalência de uma titulação ácido-base pode ser detectado seguindo a evolução do pH à medida que o titulante é adicionado - titulação potenciométrica. Numa titulação de HCl com NaOH, o pH inicial da solução de HCl é baixo. À medida que se adiciona NaOH, todo o OH- reage com o ácido, e o pH começa a subir gradualmente. Quando o número de moles de base adicionados iguala o número de moles de ácido inicialmente presentes, pequenas adições de base causam grandes variações de pH. Perto do ponto de equivalência, a variação de pH com a adição de base é muito brusca e a curva de titulação torna-se praticamente vertical. Depois de todo o ácido ser consumido, a adição de mais base sobe o pH cada vez mais lentamente, até que o pH da solução seja semelhante ao da base (Figura 1a). O ponto de equivalência pode ser determinado por métodos gráficos. Um método é o método da primeira derivada. O ponto de equivalência é o ponto de inflexão da curva de titulação, e ocorre quando o seu declive é máximo. Portanto, podemos determinar o ponto de equivalência calculando o declive em cada ponto da titulação próximo do ponto de equivalência. Para calcular o declive em cada 47 ponto faz-se a diferença de pH entre duas adições sucessivas de base e divide-se pH pela diferença de volumes correspondente (Figura 1b). 12 10 8 6 4 18 19 20 21 22 V (ml) Veq=20,6 ml Figura 1 - Exemplo de uma curva de titulação ácido-base (a) e curva da primeira derivada (b). Procedimento experimental: 1) Pipetar para um copo de 250 mL, 20 mL de ácido clorídrico. 2) Pôr no copo um agitador magnético 3) Encher uma bureta com NaOH 0,1M e colocar num suporte sobre o copo. 4) Introduzir os eléctrodos do aparelho de pH no copo (adicionar água à solução de modo a que os eléctrodos fiquem mergulhados) 5) Ligar o aparelho e agitador e registar o pH inicial. 6) Adicionar pequenos volumes de base e registar o pH. Quando as variações de pH se mostrarem mais acentuadas, passar a adicionar volumes de base mais pequenos (cerca de 0,1 mL). Quando as variações de pH novamente se mostrarem menos pronunciadas passar a adicionar volumes de cerca de 0,5 mL. Dar por terminadas as variações quando por adição de base não se verificar variação sensível do pH. 48 Cálculos: a) Fazer o gráfico pH versus volume de base adicionada. b) Determinar o volume de base gasto até ao ponto de equivalência, pelo método da primeira derivada. c) Calcular a concentração de ácido. Bibliografia: [1] R. Chang, Química, 1994, 5ª Edição, Alfragide-Portugal, p 671-737-755. [2] J. E. Brady e J. R. Holum, Chemistry- The study of matter and its changes, 1993, 1ª Edição, New York, p. 680-736. 49 9. Volumetria de Complexação “Determinação da dureza de uma água” Introdução: O teor de uma solução em iões cálcio pode ser determinado por volumetria de complexação com EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) ou com o seu sal dissódico (1), por este ser mais solúvel em meio aquoso, na presença de indicadores metalocrómicos (Negro de Eriocrómio T (2) - Ério T - ou Murexide, consoante a determinação). OH N N Na+ - OOC Na+ - OOC OH H2C N CH2 H2C CH2 COOH CH2 N CH2 COOH HO3S (1) NO2 (2) azul a 6,3 < pH < 11,5 O sal dissódico do EDTA forma com os iões cálcio complexos estáveis, de acordo com a equação: Ca 2+ + H2(edta) 2- Ca(edta) 2- + 2H+ Quanto ao indicador, também ele complexa os iões cálcio, formando compostos de cor distinta da que apresenta quando livre em solução. No entanto, estes são menos estáveis do que os complexos de EDTA, pelo que a adição deste reagente à solução provoca a sua destruição, libertando o indicador. O final da titulação é assim indicado pelo aparecimento de uma coloração azul, reveladora de que o indicador se encontra livre, isto é, de que todos os iões cálcio existentes na solução se encontram complexados com o EDTA. 50 Aplicação: A dureza total de uma água é devida à presença de catiões cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+), bem como de quantidades vestigiais de catiões Fe2+, Al3+, Cu2+, sob a forma de carbonatos, hidrogenocarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos. Estes iões não são particularmente tóxicos, sendo os VMA (valores máximos admitidos por lei) relativamente elevados; no entanto, a sua presença numa água pode torná-la imprópria para certos usos industriais já que as águas duras apresentam grande dificuldade em fazer espuma com detergentes, impossibilitando a sua utilização para lavagens, e grande tendência em formar incrustações nas tubagens, canalizações e recipientes com que contacta. Por vezes, interessa conhecer a dureza cálcica de uma água, apenas devida aos iões cálcio, o que se consegue precipitando os iões magnésio, sob a forma de Mg(OH)2, por adição de NaOH: Mg 2+ (aq) + 2 OH - (aq) Mg(OH)2 (s) Ambas as durezas se exprimem em mg.dm -3 ou em ppm de CaCO3, por se considerar que a dureza total da água se deve essencialmente à presença deste. Considera-se dureza temporária de uma água, a dureza associada à presença de iões HCO3-, que se eliminam por ebulição: 2 HCO3- (aq) CO32- (aq) + CO2 (g) + H2O (l) CO32- (aq) + Ca2+ (aq) CaCO3 (s) A dureza permanente de uma água será, portanto, a dureza devida aos sais de cálcio e magnésio não eliminados por ebulição (sulfatos, cloretos, etc.) e corresponderá à diferença entre a dureza total e a dureza temporária: Dureza total = Dureza permanente + Dureza temporária As normas vigentes na determinação da dureza de águas são as NP-506 e NP-507 e pressupõem que a mesma seja feita pelo método aqui descrito. 51 Parte experimental: 1. Aferição da solução de EDTA: - Deitar, num erlenmeyer, 25 cm3 de solução-padrão de Ca2+ 0,01 M e diluir com 25 cm3 de água desionizada - Adicionar 2 cm3 da solução tampão de NH4+/NH3 e 3 gotas da solução de Ério T. - Preparar uma bureta com a solução de EDTA e titular a solução contida no erlenmeyer até obtenção de uma cor azul, persistente à agitação. - Fazer mais dois ensaios iguais ao anterior. 2. Determinação da dureza de uma água: - Medir, para um erlenmeyer, 100 cm3 da água em estudo e adicionar-lhe 4 cm3 da solução tampão de NH4+/NH3 e 6 gotas da solução de Ério T. - Preparar uma bureta com a solução padrão de EDTA e titular a solução contida no erlenmeyer até obtenção de uma cor azul, persistente à agitação. - Fazer mais dois ensaios iguais ao anterior. - Calcular a dureza da água expressa em mg/dm3 e em ppm de CaCO3. 52 10. Volumetria de Redução-oxidação “Titulação do Ferro (II) com Permanganato de Potássio” Introdução: O Fe(II) duma solução será oxidado a Fe(III) pelo MnO4- em meio ácido de acordo com a reacção: 5Fe2+ + MnO4- + 8H+ 5Fe3+ + Mn2+ +4H2O Procedimento experimental: 1. Pipetar para um Erlenmeyer 10 mL da solução a titular. 2. Adicionar um volume duplo de H2SO4 0.2 M (20 mL) e 1 mL de ácido fosfórico concentrado (esta solução deve ser titulada de imediato). 3. Titular com a solução padrão de permanganato de potássio até que a solução adquira uma tonalidade rosa pálido. 4. Repetir o ensaio três vezes. Cálculos: a) Calcular a concentração de Fe(II) em solução. b) Calcular a média e o desvio padrão. Bibliografia: [1]. R. Chang, Química, 1994, 5ª Edição, Alfragide-Portugal 53 Alice Newton 28/05/2017 54