1 PRÓ-REITORIA DE ENSINO 2014 COLETÂNEA FORMAÇÃO SOCIOCULTURA E ÉTICA Ensino Presencial (1º SEMESTRE) Ensino a Distância (MÓDULO 51) Segundo Eixo Temático Organizadoras Cristina Herold Constantino Débora Azevedo Malentachi Colaboradoras Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano Aline Ferrari Direção Geral Valdecir Antônio Simão 2 SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................... 04 Concepções de Leitura........................................................................................................ 05 TEXTOS SELECIONADOS................................................................................................. 10 Os indiferentes..................................................................................................................... 10 A política de Aristóteles........................................................................................................ 12 Liberdade, Democracia e Política........................................................................................ 13 1964: democrata e ditatoriais............................................................................................... 15 A questão democrática no Brasil......................................................................................... 16 Democracia direta e indireta................................................................................................ 19 Para que serve a ação política............................................................................................. 20 A sociedade é culpada......................................................................................................... 22 Ação Penal 470, S.T.F. volta atrás e absolve mensaleiros.................................................. 27 Churchill em dose dupla....................................................................................................... 30 Senado paga plano de saúde até de parlamentar cassado................................................. 32 Idas e vindas da Reforma Política....................................................................................... 34 Hino Nacional Brasileiro....................................................................................................... 36 SAIBA MAIS......................................................................................................................... 41 Qual a função do vereador?................................................................................................. 41 Qual a função do prefeito?................................................................................................... 43 Qual a função do governador?............................................................................................. 44 Qual a função do Deputado Estadual?................................................................................ 45 Qual a função do Deputado Federal?.................................................................................. 46 Qual a função do Senador?................................................................................................. 47 Qual a função do Presidente?.............................................................................................. 48 O que é um Estado fantoche?............................................................................................. 49 Infográfico............................................................................................................................ 50 A revolução dos bichos........................................................................................................ 51 Charges & Imagens.............................................................................................................. 52 Músicas................................................................................................................................ 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................. 72 3 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Temos de confessar a você, prezado aluno, que enfrentamos um impasse para o início desta conversa... Na verdade, ao introduzirmos o eixo Ética e Política podemos fazer uso de um discurso pessimista, realista ou idealista. Não tem sido nossa prática, entretanto, o primeiro tipo de discurso até porque temos por princípio apresentar a realidade não deixando de olhar para a possibilidade de um ideal, ainda que futuro. Nesta direção, não poderíamos deixar de considerar que este eixo viria entrelaçado com o nosso contexto de pós-carnaval... E, desta forma, deveríamos cumprir com o nosso objetivo de mantermos o compromisso de resgate da nossa realidade ético/política e de promovermos uma reflexão e análise críticas dessa realidade, o que pode representar para alguns brasileiros um “choque de realidade”. Por outro lado, observando sob a ótica do ideal, o nosso objetivo é levá-lo a sonhar, sim, um sonho possível, baseado em conhecimento, busca e leitura. Sonho que possa se traduzir em ações políticas ideais a curto, médio e longo prazos, a começar pelos núcleos menores, como a família, o estudo e o trabalho, atingindo a realidade regional e nacional. Com vistas a essa compreensão real e ideal da política (inter)nacional, consideramos oportuna a chamada de capa de uma das revistas Veja deste ano, cujo assunto será apresentado parcialmente nesta Coletânea. A capa faz alusão a uma marchinha carnavalesca dos finais dos anos 60 e início dos anos 70 - “Quanto riso, oh! Quanta alegria!” (confira na p. 61). Oportuna e inoportuna, ao mesmo tempo, se considerarmos que a ironia existente por trás dos risos e da alegria estão presentes num Brasil onde a impunidade e a corrupção marcham ou sambam livremente na “Sapucaí”. Infelizmente, neste sentido, somos levados a crer que “os palhaços no salão”, mencionados pela música, talvez sejamos nós. Ou, quem sabe, os bobos da corte. O fato é que esta alegoria escolhida para introduzir atualmente a política brasileira está bem longe da cena romanesca do Arlequim e da Colombina, exceto em se tratando da “mesma máscara negra que esconde o teu rosto”, sem deixar as ironias à parte e com todos os sentidos que pode caber à nossa política atual. Entretanto, não gostaríamos de limitar nossa palavra inicial referindo-nos às máscaras que rolam nesses “carnavais”. Afinal, a esperança, ainda que ferida, sobrevive. A ética, ainda que escassa, também deve permanecer. Nesse sentido, entendemos que “águas de março fechando o verão é (e deve ser), a promessa de vida no teu coração”. Sim, caro aluno leitor, você verá nesta coletânea que a política brasileira é um pouco de tudo o que você já deve ter constatado... É pau, é pedra, é caco, é vidro, é noite, mas também é sol, é laço, é anzol... Pode ser o fundo do poço, pode ser o fim do caminho, no rosto o desgosto, ser um pouco sozinho, pode ser um estrepe, um prego, uma ponta, um ponto, um pingo pingando, uma conta, um conto... No entanto, entendemos que, assim como as águas de março são prenúncio de dias melhores, que este tempo de leitura e de estudo traga possibilidades de reflexões mais profundas e análises mais pontuais que marquem a sua vida com novas e verdadeiras promessas suficientemente capazes para transformar sua mente, aquecer seu coração, movendo-o à ação necessária para a construção de uma política autêntica, realista, sim, mas também idealista e, portanto, jamais merecedora de comparações pejorativas. Tenha uma ótima leitura! Organizadoras 4 CONCEPÇÕES DE LEITURA Na Coletânea do eixo anterior, iniciamos a seção dedicada à leitura com este convite: avalie a leitura e se autoavalie enquanto leitor. Esse processo de autoavaliação é fundamental não apenas no percurso desta disciplina, mas, sobretudo, no percurso da toda a vida acadêmica, profissional e pessoal. Você já se colocou nesse processo? Já avaliou a si mesmo enquanto leitor? De que modo você lê? Quais estratégias emprega nas suas leituras? Quais as suas concepções de leitura? Insistimos em perguntas dessa natureza, pois a partir delas queremos estabelecer com você algumas reflexões pontuais e necessárias. Você sabia, por exemplo, que as ideias ou concepções que você tem a respeito da leitura influenciam a sua postura enquanto leitor e o modo como você se coloca frente aos textos? Vamos, então, ampliar ideias e avaliar algumas concepções, no intuito de aprimorar a sua visão, a sua postura, a sua vivência com a leitura. Para Leffa (1996), “Ler é [...] reconhecer o mundo através de espelhos”, “é, na sua essência, olhar uma coisa e ver outra”. Seria mais ou menos como fixar os olhos em um montante de dinheiro e ver uma casa luxuosa. Trata-se de um processo de “triangulação”. Segundo o autor, “sem triangulação não há leitura”, há somente uma tentativa de leitura. O leitor lê, mas não entende; olha, mas não vê. Quem já não passou por esta situação? Quantas vezes você já teve que confessar: “Li tudo, mas não entendi nada”? Em termos mais específicos, existem três linhas teóricas a respeito da leitura: alguns teóricos acreditam que ler é extrair significado do texto; para outros, atribuir-lhe significados; para o terceiro grupo, ler é interagir. Quem desempenha o papel mais importante? O leitor? O autor? Ou seriam ambos protagonistas do diálogo e da interação que se estabelece no percurso da leitura? Na primeira concepção, o texto tem maior importância, tem um fim em si mesmo, é a voz absoluta e precisa do leitor apenas para ser decodificado. O significado exato e completo está contido nas palavras do autor, cabendo ao leitor, simplesmente, a árdua tarefa de compreendê-las integralmente e, assim, descobrir esse significado. Na segunda concepção, o leitor ganha importância. Nessa acepção, a origem do significado de um texto está no leitor. “O mesmo texto pode provocar em cada leitor e mesmo em cada leitura uma visão diferente da realidade” (LEFFA, 1996, p. 14). Na terceira concepção, o sentido da leitura consiste, exclusivamente, da relação entre leitor e texto. Este não é mais importante que aquele, ou vice e versa. Ambos dependem um do outro e da interação entre eles, para que a atribuição de 5 sentidos ocorra de modo eficaz. A leitura é, portanto, um processo de interlocução entre leitor e autor, mediado pelo texto. Não se trata apenas de extrair informações da escrita, decodificando-a É um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção de significados do texto. palavra por palavra. E então? Qual a sua concepção de escrita? Você vai para o texto na esperança de acertar nas suas adivinhações e faz um esforço enorme na expectativa de extrair dali o sentido pretendido pelo autor? Ou sua relação com o texto denota seu interesse e capacidade em atribuir sentidos ao que lê a partir de seus conhecimentos e experiências prévias? Ou ainda, você “dialoga” com o autor, cuja voz se faz audível no texto escrito, e a partir dessa interação questiona a palavra do outro, complementando-a com a sua própria palavra, de modo a atribuir vários sentidos possíveis, verossímeis e coerentes a essa leitura? Lembre-se: o leitor que você é depende da concepção que você tem a respeito da leitura. Ainda com o intuito de pensar a leitura em seu sentido pleno, nos Parâmetros Curriculares Nacionais encontramos a seguinte definição: “A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. (...)” (Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos de ensino fundamental: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, pp. 69-70). Observe que, de fato, tal como nos ensinou Paulo Freire, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Isto é, toda leitura de mundo e outros elementos prévios que o leitor traz consigo contribuem, e muito, para que compreenda os conteúdos lidos. A partir da definição supracitada, vamos esmiuçar alguns desses elementos e acrescentar outros. Conhecimento sobre o assunto Sem conhecimento prévio sobre o assunto a ser lido, as dificuldades de compreensão são gigantescas, mas não intransponíveis. Se num curso de oratória somos convocados para falar ao público e altamente surpreendidos com o assunto sorteado, algo que desconhecemos totalmente ou sobre o qual temos pouco domínio, seria uma situação embaraçosa, não é mesmo? Não teríamos nenhuma chance nem mesmo tempo para buscarmos informações a respeito, a fim de conseguirmos, ao menos, meia dúzia de palavras que valem a pena serem ditas e ouvidas. Por outro lado, se nos for proposta a leitura de conteúdos sobre os quais não temos prévio conhecimento, a situação não será tão embaraçosa quanto a circunstância no curso de oratória, porque teremos tempo e condições para suprir essa lacuna por meio de uma série de leituras. O conhecimento prévio sobre o assunto possibilita ao leitor colocar em prática uma estratégia de leitura fundamental: levantar hipóteses inferir ou Não há leitura qualitativa no leitor de um livro. A qualidade (profundidade?) do mergulho de um leitor num texto depende – e muito – de seus mergulhos anteriores. (Geraldi) sobre o que será dito no texto antes mesmo de iniciar sua leitura. No percurso da leitura, caberá ao leitor confirmar ou refutar essas hipóteses. Mais adiante, trataremos sobre essa estratégia. 6 Quanto mais leituras qualitativamente realizadas, sobre conteúdos diversos – não apenas os exigidos pela academia – maior o repertório de conhecimentos do leitor, tanto o de mundo quanto o linguístico. Consequentemente, maiores as possibilidades de compreensão e interpretação de textos. É mais do que natural e até mesmo necessário ao nosso crescimento, em alguns momentos da vida, sermos desafiados a compreender algum texto que nos apresente assuntos completamente novos, ou velhos assuntos tratados sob um viés completamente inusitado. Isso significa que, provavelmente, aquele texto exigirá mais que uma leitura para que possamos compreendê-lo em sua totalidade. Releituras fazem parte do processo. Depende do grau de complexidade não apenas decorrente da novidade do assunto, mas, também, do estilo de quem o produziu. Alguns escritores utilizam uma linguagem bastante rebuscada, períodos muito extensos, inversão de classes gramaticais e outros fatores que podem, sim, exigir muito mais o empenho de seus leitores. Conhecimento linguístico Conhecer a língua e a gramática dessa língua também é importante para compreendermos os textos. Nesse sentido, nos inúmeros materiais de leitura sobre os quais você se debruça e foca a sua atenção, lance-lhes um olhar de detetive. Seja um detetive de palavras. Observe o estilo do autor, o emprego de regências e concordâncias. Atente para o modo como ele usa os pronomes. Se você não se lembra do que é regência, concordância; se não se lembra das regras além de ter em mãos um bom dicionário de língua portuguesa, adquira uma gramática e a consulte de vez em quando, para rever o que você já aprendeu em algum momento de sua vida escolar. básicas de colocações pronominais, sugerimos que, Olhe atentamente para a escrita de determinadas palavras, as que são novas para você e as que você não considera fáceis. Memorize-as e comece a usá-las com certa frequência, nas situações que julgar convenientes, seja na fala ou na escrita. Internalize-as. Identifique, também, as figuras de linguagem utilizadas por bons autores, como, por exemplo, as ironias e metáforas. Se você não se lembra das figuras de linguagem, busque revisá-las e aplicá-las na produção de seus próprios textos. As figuras de linguagem, quando bem empregadas, enriquecem a escrita. E quando você as identifica nos textos que lê, consegue perceber os significados implícitos nas entrelinhas. Conhecimento sobre o autor O conhecimento prévio sobre o autor – seu estilo de escrita, as ideias que defende ou as que contesta, suas crenças ou descrenças, seu posicionamento político e outros fatores – também garante ao leitor bagagem para compreender e inferir, por exemplo, o ponto de vista defendido por ele, suas ideias, seus argumentos e conclusões. 7 Caso o leitor conheça, por exemplo, boa parte das obras de Cecília Meireles, uma das grandes representantes da literatura brasileira, e, certo dia, depara-se com um poema de sua autoria que antes não conhecia, já a partir de seu título poderá inferir algumas hipóteses-temáticas: talvez o poema aborde a transitoriedade das coisas e da vida, ou então a fantasia; talvez, a solidão; quem as hipóteses possibilidades e, consequentemente, auxiliam na compreensão leitora. sabe, seja um poema marcado por apelos sensoriais. Enfim, antecipam Conhecimento sobre o gênero Uma bula de remédios exige uma leitura específica. Um gibi requer outra postura completamente diferente por parte do leitor. Não é possível ler um texto científico da mesma forma como se lê um artigo do jornal. É fundamental considerar as características específicas de cada gênero, pois esse tipo de conhecimento auxilia na compreensão. Ao ler um projeto acadêmico, por exemplo, é importante que o leitor conheça não apenas as especificidades do gênero e as partes que o compõem, mas, também, a função de cada uma dessas partes. Se não souber, por exemplo, em que consiste a introdução, a justificativa e os objetivos do projeto, encontrará grandes obstáculos para dialogar com o autor do projeto – via texto – e, por fim, terá sérias dificuldades para prosseguir a leitura, tornando-se impossível compreender o conteúdo em sua totalidade. Intenção e Motivação É muito importante que o leitor tenha a intenção de dedicar-se às leituras com mais afinco e que esteja motivado para colocar em prática o seu plano de intenção, ou de ação, de modo a realizálas da melhor forma possível, inclusive quando tratar-se daquelas que são obrigatórias, impostas por um sistema que requer a devolução de resultados para que lhe seja atribuído algum tipo de conceito ou nota. A intenção é um dos parafusos que compõem a mola propulsora da ação. A motivação é a chave que a mantém em funcionamento. Ter a intenção de ler um livro é um bom começo, mas não basta. Às vezes, há intenção, mas nenhum sinal da motivação. Se lhe faltar motivação, será mais difícil (não impossível) colocar os neurônios para trabalhar, já que, em se tratando de leitura, esta consiste em um “trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto”. Como encontrar motivação, por exemplo, para fazer a leitura de textos exigidos pela faculdade e que, embora abordem assuntos importantes para a sua formação acadêmica e profissional, não correspondem às suas preferências literárias? Se a motivação não vem de dentro, terá que buscála do lado de fora: nos objetivos! Objetivos Antes de iniciar qualquer leitura, é fundamental que tenhamos muito bem definido, ao menos, um objetivo para realizá-la. E, mais uma vez, a ideia da intenção e da motivação vem à tona. A intenção de ler para cumprir determinado objetivo, e a motivação para, de fato, não desistir até que seu objetivo seja atingido. Nossa Você já definiu, por exemplo, quais os seus postura frente aos textos, e também objetivos ao realizar as leituras propostas nesta nossa motivação, dependerá disso. Sem disciplina? Para que suas leituras acadêmicas motivação não saímos do lugar sejam de fato significativas, é muito importante que seus objetivos não se pautem em cumprir meras e sem objetivos não chegamos a imposições ou obrigações. Para que façam sentido lugar algum! e promovam aprendizagem, é fundamental que suas leituras estejam alicerçadas, sobretudo, em objetivos pessoais. 8 Seu sucesso enquanto leitor requer, pois, a soma de vários fatores, mas, sobretudo, de objetivos específicos pré-determinados antes da leitura, com vistas ao cumprimento de algum objetivo geral. Citamos, por exemplo, as leituras realizadas com fins para uma pesquisa acadêmica. Se, por solicitação do professor, o objetivo geral de uma pesquisa for investigar o nível de leitura dos brasileiros, o acadêmico terá como objetivo específico coletar informações nos textos que, previamente selecionados para a realização da pesquisa, apresentam os dados necessários. Nem sempre é o professor quem determina o objetivo geral. Na graduação, em especial, muitas vezes é o aluno quem terá que tomar todas as decisões: qual será a temática da sua pesquisa dentro de determinado eixo do conhecimento, qual será o objetivo geral, quais os objetivos específicos, quais livros deverá selecionar, e assim por diante. É importante considerar com atenção cada um dos elementos prévios apresentados dentro do seu contexto. Verifique, caro aluno, com que intensidade você tem atribuído qualidade às suas leituras a partir deles. A ausência ou escassez de qualquer um deles pode comprometer nossa leitura, limitando-a sobremaneira. Referências FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988. GERALDI, J.W. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. LEFFA, Vilson José. Aspectos da Leitura: uma perspectiva psicolinguística. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzato, 1996. VÍDEO A leitura é, também, o ponto de partida para a produção de textos. Neste vídeo, confira a importância de uma boa escrita em testes de seleção. O conhecimento da língua é, sem dúvida, um elemento importante de competitividade. http://globotv.globo.com/rede-globo/jornalhoje/t/quadros/v/especialista-fala-sobre-importancia-dodominio-de-portugues-e-ingles-na-busca-poremprego/3202644/ 9 TEXTOS SELECIONADOS O texto inicial afirma que o verdadeiro cidadão é aquele que se envolve e toma partido diante dos fatos. Não é indiferente. Não bastasse ao indiferente a passividade, o autor o coloca, também, como responsável pela fatalidade, o que é ainda pior... Desse modo, o indiferente caminha na contramão da história. Defensores de uma política partidária ou não, convém refletirmos a esse respeito e, minimamente, tomarmos partido contrário ou favorável às ideias trazidas no texto. Os Indiferentes Antonio Gramsci "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel, acredito que abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes. A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e, às vezes, os leva a desistir de gesta heroica. A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade. É aquilo com que não se pode contar. É aquilo que confunde os programas, que destrói os planos, mesmo os mais bem construídos. É a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heroico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo não se preocupa com isso. e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, 10 um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes, então, zangam-se, queriam eximir-se às consequências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam. A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero. Odeio os indiferentes, também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e, sobretudo, do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento. Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/gramsci/1917/02/11.htm Acesso em 12 mar 2014. (Adaptado. Grifos das organizadoras.) 11 VÍDEO Vale a pena ouvir o depoimento de jovens que, de uma forma ou de outra, procuram estar engajados em questões que dizem respeito ao universo da política e, por extensão, ao universo de cada um e toda a coletividade. Confira! https://www.youtube.com/watch?v=Csegx7iVbSQ Àqueles que acreditam que a filosofia é a mãe do conhecimento científico, o próximo texto nos apresenta fortes razões que confirmam essa tese, na medida em que propõe um retorno a Aristóteles a fim de melhor compreendermos a política e a ética, estabelecendo uma análise comparativa entre elas e a moral. Cá entre nós, são três concepções amplamente discutidas e não poucas vezes citadas sem o devido entendimento. Neste sentido, o artigo apresenta-se não apenas como fonte de informações básicas de ética e política, mas como oportunidade de enriquecimento da nossa visão de mundo. Vale a pena lê-lo! A política de Aristóteles Fernando Toscano A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos [...] meios necessários para isso. O estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. O estado, então, é superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior ao indivíduo, o bem comum superior ao bem particular. Unicamente no estado efetua-se a satisfação de todas as necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social, político, não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do estado. Quanto à forma exterior do estado, Aristóteles distingue três principais: a monarquia, que é o governo de um só, cujo caráter e valor estão na unidade, e cuja degeneração é a tirania; a aristocracia, que é o governo de poucos, cujo caráter e valor estão na qualidade, e cuja degeneração é a oligarquia; a democracia, que é o governo de muitos, cujo caráter e valor estão na liberdade, e cuja degeneração é a demagogia. As preferências de Aristóteles vão para uma forma de república democrático-intelectual, a forma de governo clássica da Grécia, particularmente de Atenas. No entanto, com o seu profundo realismo, reconhece Aristóteles que a melhor forma de governo não é abstrata, e sim concreta: deve ser relativa, acomodada às 12 situações históricas, às circunstâncias de um determinado povo. De qualquer maneira, a condição indispensável para uma boa constituição é que o fim da atividade estatal deve ser o bem comum e não a vantagem de quem governa despoticamente. Cérebro prodigioso e de saber enciclopédico, Aristóteles compôs dois grandes trabalhos sobre a ciência política: "Política" (Politeia) que provavelmente eram lições dadas no Liceo e registradas por seus alunos, e a "Constituição de Atenas", obra que só se tornou mais conhecida, ainda que em fragmentos, no final do século XIX, mais precisamente em 1880-1, quando foi encontrada no Egito; registra as várias formas e alterações constitucionais que ela passou por obra dos seus grandes legisladores, tais como Drácon, Sólon, Pisístrato, Clístenes e Péricles e que também pode ser lida como uma história política da cidade. A "Política" (Politeia) divide-se em oito livros, que tratam: da composição da cidade, da escravidão, da família, das riquezas, bem como de uma crítica às teorias de Platão. Analisa também as constituições de outras cidades, num notável exercício comparativo, descrevendo-lhes os regimes políticos. Aristóteles, por sua vez, não foge da tentação de também idealizar qual o modo de vida mais desejável para as cidades e os indivíduos, mas dedica a isso bem menos tempo do que seu mestre. Finaliza a obra com os objetivos da educação e a importância das matérias a serem ensinadas. A política com ciência Aristóteles utiliza-se do termo política para um assunto único: a ciência da felicidade humana. A felicidade consistiria numa certa maneira de viver, no meio que circunda o homem, nos costumes objetivo da política é, primeiro, descobrir a maneira de viver que leva à felicidade humana, isto é, sua situação e nas instituições adotadas pela comunidade à qual pertence. O material, e, depois, a forma de governo e as instituições sociais capazes de a assegurarem. As relações sociais e seus preceitos são tratados pela ética, enquanto que a forma de governo se obtém pelo estudo das constituições das cidades-estados, matéria pertinente à política. "Em todas as artes e ciências", disse ele, "o fim é um bem, e o maior dos bens e bem em mais alto grau se acha principalmente na ciência todo-poderosa; esta ciência é a política, e o bem em política é a justiça, ou seja, o interesse comum; todos os homens pensam, por isso, que a justiça é uma espécie de igualdade, e até certo ponto eles concordam de um modo geral com as distinções de ordem filosófica estabelecidas por nós a propósito dos princípios éticos." [...] Disponível em: http://www.portalbrasil.net/2006/colunas/politica/janeiro_01.htm Acesso em: 18 mar 2014. (Adaptado. Grifos das organizadoras.) Para quem não acredita na relação entre política, liberdade e democracia, o artigo a seguir é um convite ao esclarecimento. Na verdade, ele não apresenta soluções, mas propõe parâmetros basilares para reflexão e análise da (nossa) política, nossa democracia e seus desafios, nossa liberdade e seus deveres, à luz da premissa de Jean Jacques Rousseau. Confira! Liberdade, Democracia e Política 13 "Liberdade é obediência às leis que a pessoa estabeleceu para si própria." (Jean-Jacques Rousseau) No mundo político, a democracia é sem dúvida nenhuma o grande ganho das pessoas. Para nós é de fundamental importância a liberdade pessoal, porém não podemos confundir a liberdade pessoal do indivíduo, com o social. No âmbito do estado democrático de direito precisamos enquanto seres livres saber respeitar o coletivo. A liberdade do individuo termina quando começa a do outro. A liberdade e o interesse coletivo (onde existe a construção do espaço público) se sobrepõem ao individual. Um exemplo é a Lei que proíbe o uso do cigarro em ambiente público fechado. Como fica neste caso a liberdade e o estado de direito? Isso é perfeito no ambiente democrático, pois a lei não proíbe ninguém de fumar, o que ela proíbe é fazer com que o fumante faça o outro fumar (indiretamente), ou seja, a lei proíbe a terceirização da fumaça. A lei não proíbe ninguém de engordar, fumar, fazer mal à saúde, o que ela proíbe é você fazer o mal ao outro. Ao imaginarmos a vida numa democracia, já pressupomos que há regras, deveres. No âmbito político, a democracia proporcionou a liberdade no mundo todo. Países onde imperavam ditaduras hoje imperam a liberdade. Com efeito, há trinta anos a América Latina se livrou de todas as ditaduras. Tanto na Europa quanto na América as ditaduras de esquerda e de direita caíram, ou seja, houve uma transformação radical. A grande vitória das últimas décadas foi sem dúvida nenhuma a queda das ditaduras. Hoje, se você tem menos de 40 anos não tem a mínima noção do que foi a ditadura e não conhece o peso de uma repressão. Época em que muitos eram considerados “subversivos” e enfrentavam o horror da opressão – política, sexual, etc. Felizmente deixamos há 25 anos de viver sob a ditadura e conquistamos grande dose de liberdade. O grande mal a ser vencido no interior do ambiente democrático é a corrupção, pois desde a queda do muro de Berlim na Alemanha até a força das diretas, já no Brasil tivemos boa dose de equilíbrio das forças políticas, mas a corrupção, infelizmente, não a vencemos ainda. A corrupção foi menos visível na época da ditadura, mas existia. Então vivemos um paradoxo: num estado democrático com liberdade de expressão somos cada vez mais frágeis no combate à corrupção. Fazemos parte de uma geração que sofreu muito para conquistar a democracia e a liberdade, e agora estamos diante de quase que uma impotência para exterminar com a corrupção, mal de todos os males. Mas nem tudo está perdido e o desafio agora é fazer com que os jovens se interessem pela política com honestidade e incutidos de ética e transparência no trato do dinheiro e da coisa pública. Cortella e Ribeiro, no livro “Política para não ser idiota”, enfatizam bem este debate. o conceito de Aristóteles sobre o homem político está infelizmente invertido hoje. Para Aristóteles, o homem de bem era aquele que participava da política. Hoje, esse conceito está invertido, e o homem apolítico (que tem nojo da política) é tido como do bem (e é mesmo) e os políticos como do mal. Inferem que É precisamente este conceito que essa nova geração tem que mudar banindo da política esses tipos de pessoas ou as convertendo. Esta é a questão fundamental na política, propiciar um 14 ambiente partidário político saudável e conseguirmos uma relação de prazer na companhia alheia, como transformar os homens apolíticos em políticos se a grande maioria reclama de votar uma vez a cada dois anos? de convívio e crescimento coletivo. A grande pergunta é: Disponível em: http://www.jcrnet.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=6865&Itemid=0 Acesso em: 18 mar 2014. (Adaptado. Grifos das organizadoras.) Definitivamente não há como atingir o conhecimento acerca da política em sua essência se não trouxermos à luz um pouco da nossa história política. Até porque o que somos hoje, politicamente falando, é fruto ou produto de que tipo de história? Há quem diga que somos produto de revolução, de democracia, de ditadura, de associações e dissociações. Outras perguntas inspiradas pelo texto, e que repassamos a você: que tipo de história política temos a intenção ou pretensão de escrever? O que ou quem realmente somos na política nacional? Quem somos ou queremos ser? 1964: democratas e ditatoriais Emir Sader Os golpistas – incluída toda a imprensa, menos a Última Hora – insistiam em dizer que a data era 31 de março; nós, que era primeiro de abril. Ainda mais que eles tentavam dizer que tinha sido uma “revolução”, confessando o prestígio da palavra revolução – até ali identificado com a revolução cubana. O que são 45 anos – transcorridos desde aquele primeiro de abril até hoje? O que foi aquilo? O que restou daquilo? Medido no tempo, parece algo distante. Afinal, tinham transcorridos apenas 34 anos desde a revolução de 30 - o momento de maior ruptura progressista na história brasileira. Período que incluiu os 15 anos do primeiro governo de Getúlio e os 19 de democracia liberal, incluídos os 4 do novo mandato de Getúlio e os 5 do JK. Nem é necessário discorrer muito para dizer que se tratou de um golpe militar, que introduziu uma ditadura militar. Nem a “ditabranda” da FSP (Força Serra Presidente), nem o “autoritarismo” de FHC – todas tentativas de suavizar o regime. Um regime dirigido formal e realmente pela alta oficialidade das FFAA, que reorganizou o Estado em torno dessas instituições, tendo o SNI como seu instrumento de militarização das relações sociais. Um regime que atuou politicamente a favor da hegemonia do grande capital nacional e internacional. Para isso, entre suas primeiras medidas estiveram a intervenção militar em todos os sindicatos e o arrocho salarial – a proibição de qualquer campanha salarial, sonho de todo grande empresário. Para que se criasse um clima que desembocou no golpe militar, foi montada uma campanha de desestabilização que – hoje se sabe, pelas atas do Senado dos EUA – tinha sua condução diretamente naquele país, com participação direta do então embaixador norte-americano e a cumplicidade ativa dos veículos da grande mídia – que até hoje não fizeram autocrítica do papel ditatorial que tiveram, nem mesmo a FSP, que emprestou seus carros para ações repressivas da Oban -, somada às mobilizações feitas pela Igreja Católica e pelos partidos de direita – com o lacerdismo moralizante na cabeça. 15 Nunca como naquele período as grandes empresas privadas lucraram tanto. Foram elas as maiores beneficiárias da repressão – prisões arbitrárias, torturas, fuzilamentos, desaparições, entre outras formas de violência de um regime do terror. Foram o setor economicamente hegemônico durante a ditadura – ao contrário da visão inconsistente de FHC, de que uma suposta “burguesia de Estado” seria o setor hegemônico, para absolver os grandes monopólios nacionais e internacionais. O Brasil vinha vivendo um processo importante de democratização social, política e cultural. O movimento sindical se expandia, os funcionários públicos passavam a incorporar-se a ele, os militares de baixa graduação passavam a poder se organizar e se candidatar ao Parlamento, se desenvolvia a sindicalização rural, acelerava-se a criação de uma forte e diversificada cultural popular – no cinema, no teatro, nas artes plásticas -, um movimento editorial de esquerda se fortalecia muito. Foi para brecar a construção da democracia que o golpe foi dado. Com um caráter abertamente antidemocrático e fortemente antipopular – como as decisões imediatas contra os sindicatos e campanhas salariais demonstram -, foi um instrumento do grande capital e da estratégia de guerra fria dos EUA na região. 1964 se constituiu em um momento de forte inflexão na história brasileira. O modelo de desenvolvimento industrial passou a se centrar na produção para a alta esfera do consumo e a para a exportação, acentuando a concentração de renda e a desigualdade social, assim como a dependência. O Brasil que saiu da ditadura, 21 anos depois, era um país diferente daquele de 1964. As organizações democráticas e populares haviam sido duramente golpeadas. A imprensa havia sido depurada dos órgãos de esquerda. (Não esquecer que a resistência na imprensa foi feita pela chamada imprensa nanica, por si só uma denúncia da imprensa tradicional.) O país havia se transformado no mais desigual do continente mais desigual do mundo. Vários dirigentes da ditadura ainda andam por aí, junto com seus filhos e netos, dando lições de democracia, sendo entrevistados e escrevendo artigos na imprensa. A imprensa não dirá nada ou tentará, uma vez mais, se passar por vítima da ditadura, escondendo o papel real que desempenhou. (Que tal republicar as manchetes de cada órgão naquele primeiro de abril de 1964?) Na resistência e na oposição à ditadura se provou quem era e é democrata no Brasil. Disponível em: http://www.agenciacartamaior.com.br Acesso em: 12 mar 2014. (Adaptado. Grifos das organizadoras.) Agora, somos convidados a mergulhar na história da democracia, com a finalidade de analisar com mais propriedade a atual conjuntura eleitoral e, também, avaliar com mais criticidade o contexto sociocultural no qual estamos inseridos. Vale a pena reconstruir historicamente a democracia, sobretudo para que possamos efetivamente fazer uso consciente do nosso voto, favorecendo condições para que a justiça eleitoral seja cumprida no dia a dia, e não apenas nas urnas. A questão democrática no Brasil Rainer Sousa 16 Todo ano de eleição, vemos diversos veículos de comunicação realizando a cobertura das votações como momento significativo, onde temos a celebração da chamada “festa da democracia”. No entanto, [...] devemos aqui analisar os descaminhos e valores que a democracia assumiu em nossas terras ao longo dos séculos. A democracia e seus descaminhos no cenário político brasileiro tempos coloniais, observamos que o exercício dos direitos políticos se restringia a uma limitada parcela de proprietários de terra, conhecidos como Nos “homens bons”. No interior das câmaras municipais, eles decidiam quem ocuparia os cargos políticos mais importantes e quais leis teriam validade. Já nesse instante, a associação entre as elites e os direitos políticos se movia em favor da exclusão política. Atingindo o século XVIII, notamos que os ideais iluministas chegaram às terras brasileiras dando suporte a algumas das revoltas coloniais. Em alguns casos, como na Inconfidência Mineira, a possibilidade de organização de um governo republicano aparece como reivindicação. Apesar de sugerir direitos, não podemos elencar a busca pela democracia, tendo em vista que a escravidão seria mantida no novo regime. nossa independência, vemos que uma elite interessada em manter suas vantagens econômicas capitaneava o fim do pacto colonial. Desse modo, a escravidão foi Em mantida no Brasil e a instalação do voto censitário, homologado pela nossa primeira constituição, estabeleceu a participação política como uma regalia destinada aos privilegiados. Além disso, o poder moderador sacramentava um sistema político centrado na figura do rei. A partir de 1870, a onda republicana veio junto do abolicionismo. Entre diferentes projetos e interpretações, vemos que o fim da escravidão e da ordem imperial sequenciou os anos de 1888 e 1889. Naquele momento, o acesso ao voto e às instituições foi ainda mais reduzido quando, em um lugar carente de instituições de ensino, a alfabetização foi exigida como requisito na escolha de representantes políticos. 17 Primeira República, vemos que a exigência ainda se somou a um sistema eleitoral corrupto e contaminado por mecanismos que determinavam a alternância das Na chamada oligarquias no poder. Com o crescimento das cidades e do eleitorado urbano, essa situação começou a experimentar seus primeiros sinais de instabilidade. Foi daí que, em 1930, uma revolução colocou Getúlio Vargas no comando da nação. Ao mesmo tempo em que era severo crítico da corrupção eleitoral e da exclusão política, Vargas empreendeu manobras políticas que, nos quinze anos subsequentes, cristalizaram o seu nome no 1945, após ter lutado contra os regimes totalitários europeus, foi que Getúlio Vargas deixou o posto presidencial para que as eleições ocorressem mediante o exercício de cidadania de milhares de brasileiros. poder. Somente em de 1945 e 1964, observamos o desenvolvimento das instituições democráticas em uma fase na qual o desenvolvimento econômico nacional caminhava ao lado do agravamento das questões sociais. O aumento de nossa Entre os anos dívida externa e a demanda de nossas classes trabalhadoras entrava em choque com o tom populista dos governantes dessa época. Dessa forma, os movimentos sociais e partidos de esquerda passaram a reivindicar transformações mais significativas. Foi então que, em 1964, os militares organizaram um golpe militar que estabeleceu a drástica redução das liberdades democráticas no país. Alegando a ameaça de uma revolução de tom comunista, o regime militar se instalou promovendo a extinção do pluripartidarismo e a instalação de um sistema bipartidário que quase não abria brecha a uma oposição sistemática ao governo. Passados vinte e um anos, os militares saíram do poder ao permitirem a volta das eleições diretas e a livre organização partidária. Nesse momento, diversos partidos se formaram numa época em que as demandas da população se avolumavam em um período marcado pela instabilidade econômica e os terríveis índices inflacionários. De tal modo, experimentávamos o retorno da democracia sem ainda reconhecer sua importância e significado. Atualmente, milhares de brasileiros exercem a sua cidadania através do voto. Entre a descrença e o ceticismo de alguns, questiona-se frequentemente a existência do voto obrigatório para grande parte da população. Ao mesmo tempo, observamos que a crença nas ideologias e figuras políticas que se valem mais do carisma do que de uma convicção para angariar o nosso eleitorado. partidos políticos perdem espaço para o fácil elogio a Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/primordios-democracia-patria-tupiniquim.htm Acesso em: 11 mar 2014. (Adaptado. Grifos das organizadoras.) Mas, afinal, o que é democracia? Existem diferentes modelos de democracia? O artigo a seguir, ainda que breve, é apropriado para elucidar um pouco mais questões como essas. Então, informe-se e transforme essas informações em conhecimento! 18 Democracia Direta e Indireta Rainer Sousa Ao nos depararmos com o termo “democracia”, muitos logo apontam esse tipo de governo como sendo aquele que se guia por meio da vontade do povo. Nesse sentido, a população teria o direito de interferir nas escolhas e decisões que afetariam diretamente as suas vidas. Entretanto, o espaço político gerado pela democracia pode ser organizado das mais diferentes formas e deve atender à especificidade de cada povo. É daí que reconhecemos a existência dos modelos de democracia direta e indireta. A democracia direta e a democracia indireta expõem as mudanças e limitações do sistema representativo. democracia direta pode já ser vista como um tipo de sistema onde os cidadãos discutem e votam diretamente as principais questões de seu interesse. Na A Grécia Antiga, as assembleias populares reuniam a população das cidades-Estado democráticas na Ágora (praça), local onde as leis e principais decisões eram discutidas e resolvidas. Vale lembrar que nos moldes gregos, o exercício de opinião política estava restrito a uma parcela específica da população. Na medida em que as sociedades se alargavam numericamente e a organização social se tornava cada vez mais complexa, vemos que o sistema de democracia direta se mostrava inviável. Afinal de contas, como seria possível contabilizar o voto de toda uma população numerosa, na medida em que as questões a serem decididas não poderiam estar sujeitas ao registro do voto de cada um dos indivíduos? É nesse instante que temos a organização da chamada democracia indireta. democracia indireta estabelece que a população utilize do voto para a escolha dos representantes políticos mais adequados aos seus interesses. Desse modo, os A cidadãos teriam os seus direitos assegurados por vereadores e deputados que se comprometeriam a atender os anseios de seus eleitores. No entanto, observando o desenvolvimento da democracia indireta, vemos que esse compromisso entre os políticos e os cidadãos está sujeito a vários questionamentos. Visando escapar do afastamento à norma democrática, observamos hoje a organização de algumas iniciativas interessadas em reforçar o poder de intervenção do povo através do uso do 19 voto. Um desses exemplos pode ser visto na organização do chamado “ orçamento participativo”, sistema em que autoridades de um município anunciam a existência de uma determinada verba e conclamam a população de um bairro ou região para discutir e votar sobre qual a melhor destinação dos recursos. Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/democracia-representativa.htm Acesso em: 11 mar 2014. (Grifos das organizadoras.) Seguimos na direção daquele ideal mencionado no início desta Coletânea. Na verdade, se você, por algum momento, desacreditou em uma política cujo objetivo primeiro é servir à sociedade eticamente na construção do bem comum, sem dúvida o artigo a seguir foi escrito para você. Vale a pena conhecer, repensar, voltar a acreditar e agir! Para que serve a ação política Mauro Santayana O que fascina os historiadores, no exame do breve relâmpago que foi o sistema ateniense, é a A ação política, vista como exercício da ética, tinha como objetivo manter o Estado a serviço da sociedade, na construção do que se considerava ser o bem comum. As vicissitudes históricas destruíram a polis, a partir das derrotas militares, mas o fulgor descoberta, simultânea, e ali, das ideias da liberdade, da lógica, das artes e da justiça. do projeto permaneceu como inspiração recorrente da civilização ocidental. Os romanos foram os primeiros a assimilar alguns dos princípios estatais gregos (a legislação de Sólon). A elaboração do Direito Romano, ao longo dos séculos, e sua magnífica codificação no Digesto de Justiniano constituem o núcleo das ideias jurídicas modernas. Essas ideias tiveram que adaptar-se – sem prejuízo de seu sêmen ético – aos novos regimes de poder, a partir da razão elementar de que as sociedades fazem as leis. Os políticos gregos e romanos eram, em sua maioria, homens de ideias e de ação. Em carta notável, dirigida a Einstein, Benedetto Croce lembra que a filosofia não basta para fazer estadistas, e dá o exemplo de Sócrates: antes de discutir os problemas do Estado e da política, o filósofo combateu em Potideia. Mas, se a política é ação, ou práxis, ela se desenvolve melhor quando está fundada nas ideias. Em nossos dias contamos com Estados poderosos. Eles, ao contrário do que pregam os neoliberais, não minguaram nos últimos anos. A diferença é que o seu poder é exercido preferencialmente em favor do sistema capitalista de produção. Na ponta desse sistema sempre se encontram as empresas de produção bélica. Para que essa indústria, tida como indutora tecnológica de todas as outras, continue a crescer – valha o óbvio – é preciso que haja guerras. Foram Krupp e outros produtores de armas que instigaram o Kaiser em 1914, antes de açularem Hitler, logo depois. A tecnologia moderna, argumentam alguns, possibilitou, entre outros avanços, o da medicina, que dobrou a expectativa de vida nas últimas gerações. Esquecem outros números que fizeram do século 20 o mais sangrento de toda a História. A ciência, com Fleming, criou a penicilina, que a guerra 20 industrializou. A ciência, com Fermi e Einstein, entre outros, construiu a bomba atômica que assassinou centenas de milhares de civis em Nagasáki e Hiroshima, há 65 anos. O Estado moderno tem sido eficaz, na construção de grandes obras de infraestrutura, na criação de universidades, no adestramento e manutenção de exércitos, no incentivo às pesquisas científicas. Mas, com todo o seu poder, não consegue salvar as crianças e adolescentes das drogas, nem criar condições para evitar que se transformem em vulgares agressores de seus próprios colegas, em espancadores (e assassinos) de seus pais e, ainda pior, quando se tornam pais, em matadores de seus filhos. Os ecologistas falam em salvar o meio ambiente. Os desenvolvimentistas prometem acelerar a produção e a exportação de bens e serviços. Promete-se, da mesma forma, a segurança nas ruas e bons hospitais. Mas nada disso responde à angústia fundamental de nossa época. Mais do que salvar os animais silvestres, mais do que encontrar energia limpa e construir trens-balas, mais do temos que salvar o homem, retornar à ética e à justiça, refundar as escolas, recuperar a ideia de pátria como ato solidário. que reformar estádios para a Copa, [...] Disponível em: http://zelmar.blogspot.com.br/2010/08/para-que-serve-acao-politica.html Acesso em: 17 mar 2014. (Adaptado. Grifos das organizadoras.) 21 O texto a seguir trata de uma entrevista com o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal, por meio da qual sua excelência expõe seu ponto de vista em relação a ações que verdadeiramente podem intervir para a melhor qualificação dos políticos nacionais. Faz-nos refletir acerca do nosso compromisso como cidadãos. Definitivamente não é a única opinião, contudo é um dos posicionamentos que devem ser analisados e pontuados. A SOCIEDADE É CULPADA Entrevista Marco Aurélio Mello O presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal afirma que mais importante do que reclamar nas ruas da ineficácia dos governos é ir para a urna escolher bem os governantes. “A sociedade não é vítima, é a culpada. Reclama do governo e se esquece de que quem colocou os políticos lá foi ela própria” (Foto: STF) Marco Aurélio Mello ocupa a presidência do Tribunal Superior Eleitoral pela terceira vez desde 1996. Nesse período, não viu avanços na qualidade dos políticos, que continuam mais preocupados em se beneficiar dos cargos. Mesmo se considerando um otimista, prevê uma eleição marcada pela troca de dossiês e aponta um enfraquecimento das instituições nos doze anos de governo do PT. Há 24 anos no Supremo Tribunal Federal, ele comemora o resultado do mensalão, mas teme que o julgamento dos recursos reverta boa parte das condenações: “O quadro me faz lembrar a frase final de um livro de John Steinbeck, O Inverno da Nossa Desesperança: ‘Quando uma luz se apaga, é muito mais escuro do que se jamais tivesse brilhado’”. O senhor foi presidente do TSE em 1996 e 2006 e agora ocupa o cargo pela terceira vez. A política melhorou nesse período? Infelizmente não. Continuamos com candidatos que buscam cargos não para servir à sociedade, mas para se servir dela. Nas eleições de 2010 houve 30% de votos inválidos. A insatisfação evidenciada nas manifestações indica que esse índice possa ser maior em 2014? O local de protesto por excelência é a urna. O eleitor precisa perceber que o voto dele tem um peso relativo, que é unitário, mas quando se soma a tantos outros resulta na escolha do 22 representante que praticará atos que repercutirão na vida dele — tenha ele comparecido ou não no dia da eleição. Não é mediante a apatia nem o protesto extremado que chegaremos no Brasil a dias melhores. Chegaremos com a participação de todos, escolhendo os melhores candidatos. Mais importante do que o “vem para a rua”, que virou moda, é o “vem para a urna”. O protesto eficiente não se faz queimando lixeiras, mas participando da vida pública. “‘Vem para a urna’. O protesto eficiente não se faz queimando lixeiras, mas participando da vida pública” Nos últimos meses, houve uma série de manifestações no Brasil. Agora, há rolezinhos em shopping centers. A sociedade e as autoridades estão sabendo lidar com essas situações? Aquela crença de que o brasileiro é pacífico é falsa. O brasileiro protesta, sim. A situação chegou a um limite extremo, os serviços prestados são tão ruins que há um inconformismo generalizado. Mas a sociedade não é vítima quando a situação política chega a esse ponto, ela é a culpada. Reclama do governo e se esquece de que quem colocou os políticos lá foi ela própria. A manifestação é uma maneira legítima de mostrar sua insatisfação com a vida nacional. Razões para protestar não faltam. Ainda mais com a carga tributária que temos, que mais parece um confisco. Mas todos precisam perceber que são culpados pela situação. O senhor teme que essa campanha seja marcada por troca de dossiês e agressões? Eu sou um homem otimista. Mas, infelizmente, o que se tem no horizonte é que será uma campanha conturbada. Aí o papel da Justiça Eleitoral cresce. E me dá uma nova preocupação, de que prevaleça a ótica do minimalismo judicial, da menor interferência possível nas campanhas. O Judiciário não pode se omitir e precisa agir para que prevaleçam as normas que tentam dar equilíbrio à disputa. Equilíbrio que já é bastante mitigado com o instituto da reeleição. O Supremo vai decidir se pessoas jurídicas poderão fazer doações a candidatos ou apenas pessoas físicas. O sucesso da campanha do PT para arrecadar dinheiro para pagar a multa dos mensaleiros não é um indício de que a restrição das doações beneficiará o partido que estiver no poder? O que se aponta é que o fim do financiamento por pessoas jurídicas prejudica a oposição e beneficia aqueles que estão na caminhada para a reeleição. Mas a consequência não pode ser potencializada em detrimento do meio. O que precisamos saber é se essas doações estão de acordo com a Constituição. E o que ocorre com essas doações? Alguém doa por causa da ideologia do candidato? Não! Não podemos acreditar em altruísmo. Essas doações visam a receber um troco depois que o político for eleito, por isso sai caríssimo para a sociedade. Eu sou 23 favorável ao financiamento estritamente público, com regras rígidas. Isso acabaria com esse troco, economizaria dinheiro público e poria fim a esse trunfo da esperteza. O mensalão foi um ponto fora da curva, como definiu seu colega Luís Roberto Barroso? Qual seria essa curva? A dos interesses nacionais? A dos direitos constitucionais? Então o julgamento estava dentro da curva. É uma expressão que não se coaduna com a realidade. O Supremo julgou a partir das provas do Ministério Público. Começou a se falar que alguém teria sido condenado apenas com base no domínio dos fatos. Não foi isso, muito embora quem tinha o domínio dos fatos, de fatos que implicavam em ruptura da ordem jurídica, também deveria ser condenado como coautor. Estive lá o tempo todo, prestando atenção aos votos, e posso garantir que nós julgamos de acordo com as provas. Qual a lição desse julgamento? Um alerta de que a lei é editada para viger de forma linear, alcançando todos os cidadãos, inclusive os poderosos. O julgamento dos embargos infringentes pode alterar o resultado do mensalão? Pode. E, pelas sinalizações dos atuais integrantes do tribunal, é provável que venham a ocorrer a reversão da condenação pelo crime de formação de quadrilha, prevalecendo a tese de coautoria; o afastamento da cassação de mandatos, como já ocorreu no recente caso de Ivo Cassol; a diminuição de algumas penas; e o cancelamento da condenação por lavagem de João Paulo Cunha. Então a sociedade ficará decepcionada. O quadro me faz lembrar a frase final de um romance de John Steinbeck, O Inverno da Nossa Desesperança: “Quando uma luz se apaga, é muito mais escuro do que se jamais houvesse brilhado”. O senhor acha que o julgamento do mensalão mineiro terá o mesmo final do mensalão petista? Processo para mim não tem capa, tem conteúdo. Estarei lá para ouvir o relator e o revisor. Votarei de acordo com a convicção que firmar. Penso que o tratamento será o mesmo da ação penal 470. A situação das prisões brasileiras é medieval. A falta de ação dos governos para melhorálas contribui para o aumento da criminalidade? Exatamente. A população carcerária provisória chegou ao mesmo número da população definitiva, quando se prega na Constituição que só se pode prender depois de assentada a culpa. Mas, no afã de dar uma satisfação vã à sociedade, transformou-se a regra — o cidadão responder ao processo em liberdade — em exceção. Com isso, o Estado não respeita a integridade do preso. As condições são desumanas e não há ressocialização dos presos. Por isso os índices de reincidência são altíssimos. O preso não sai reeducado para a vida em sociedade. Ele sai embrutecido. 24 “O Estado não respeita a integridade do preso. As condições são desumanas e não há ressocialização dos presos. Por isso os índices de reincidência são altíssimos. O preso não sai reeducado para a vida em sociedade. Ele sai embrutecido” (Foto: Maurício Borges / Gazeta do Povo) E como resolver esse problema crônico? Defendo a privatização dos presídios, o que sairia muito mais barato para a sociedade do que o estado atual. O PT está há doze anos no poder. Qual o legado que deixa para o país? O legado maior foi o aumento da assistência social, uma providência que a meu ver não pode ser tomada como definitiva. Essas bolsas criadas representaram um passo adiante. Mas precisamos ter em mente que o homem necessita acima de tudo de oportunidades. E a oportunidade passa em primeiro lugar pela educação e depois pelo mercado. Não só por assistencialismo. E quanto às instituições? Temos de admitir a realidade: houve um evidente desgaste institucional nesses doze anos de governo do PT. Com ataques inaceitáveis ao Ministério Público, ao Judiciário e à liberdade de imprensa. O senhor aprova a iniciativa do PT de propor uma Assembleia Constituinte para a reforma política? Há um vício no Brasil de acreditar que podemos ter melhores dias mediante novas leis. Mas nós não precisamos de novas normas. Precisamos é de homens, principalmente públicos, que observem as já existentes. O senhor está no Supremo há 24 anos. A qualidade do tribunal vem caindo ao longo desse período? Considero que com a velha guarda o Supremo era mais conservador. Ultimamente, passamos a atuar em temas que eram verdadeiros tabus. Por exemplo: a interrupção da gravidez no caso da anencefalia. Quando eu dei uma liminar afastando a punição à parturiente e à equipe médica que auxiliasse na interrupção da gravidez, em 2004, a decisão foi cassada. Anos mais tarde, levei o processo de novo ao plenário, já com um colegiado totalmente diferente, e a votação teve 8 votos a favor. Por isso, digo que hoje é um tribunal mais aberto e menos conservador. 25 Alguns advogados defendem a ideia de que os julgamentos de ações penais não sejam transmitidos pela TV Justiça. 0 senhor concorda? Tenho de defender a filha bonita: foi em minha gestão na presidência do Supremo que a TV foi criada. O aspecto positivo da TV Justiça é a publicidade das decisões. A pessoa que é envolvida em um processo tem a privacidade mitigada, porque pela Constituição o processo é público. O sigilo é exceção. Quando envolve homem público, que deve contas aos contribuintes, essa publicidade deve ser até maior. Eu não vejo a possibilidade de um retrocesso na transparência e na transmissão das sessões, o que levaria o Supremo ao campo nefasto do obscurantismo. O senhor considera que cenas como as trocas de ofensas entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski abalam a imagem do Judiciário? É claro que desgastam a instituição. É normal que em um colegiado com esse gabarito, com essa envergadura, haja discussões de ideias. E que reine ali a impessoalidade. Tenho de admitir que há um desgaste para a instituição. O ministro Ricardo Lewandowski, perante a população em geral, está muito desgastado depois das colocações feitas pelo ministro Joaquim Barbosa. É claro que nós não estamos ali para concordar com o relator. Mas, se vamos divergir, nós temos de nos policiar para manter a coisa em um padrão elevado. Somos todos iguais, o presidente é apenas um coordenador. E, ao coordenar, deve ser um algodão entre os cristais. O que não vem sendo o caso. O senhor acha que Joaquim Barbosa deixará o Supremo para se candidatar a presidente da República? Eu acho que ele não deveria sair do Supremo. Mas eu o vejo um pouco cansado do dia a dia do Judiciário. Posso cometer uma inconfidência porque ele não me pediu que guardasse reserva. Ao entrar para a sessão final do ano judiciário de 2013, ele me disse que já estava participando de uma sessão daquela pela 11ª vez. E afirmou que para ele já estava de bom tamanho. Eu respondi que estava entrando pela 24ª vez e não estava cansado nem insatisfeito. Por aqui se ventila muito que ele estaria para sair para se candidatar. Que ele seja muito feliz na nova seara. “Por aqui se ventila muito que ele [Joaquim Barbosa] estaria para sair para se candidatar. Que ele seja muito feliz na nova seara” (Foto: STF) 26 Seus críticos gostam de chamá-lo de “ministro do voto vencido”. Isso o incomoda? Jamais incomodou. Eu tenho de reconhecer que a atuação da TV Justiça foi muito boa para mostrar à cidadania em geral o meu papel como julgador. Por que fico vencido? Porque eu observo a minha ciência e consciência e nada mais. E acredito muito que, se há um colegiado, é para cada qual dar a sua colaboração. Eu nunca busco formar na corrente majoritária. O que busco até hoje, e já estou há 35 anos julgando, é a paz com a minha consciência. O senhor tomou várias decisões que foram criticadas, principalmente a concessão do habeas corpus que permitiu a fuga do banqueiro Salvatore Cacciola. Arrepende-se dessa decisão? Eu reafirmei a decisão quando o tema voltou ao plenário, e sempre estive com a consciência muito tranquila. Se precisasse, tomaria a mesma decisão novamente. Entrevista publicada na Revista Veja, impressa, 12 fev 2014. (Adaptado) Dias melhores virão! É no que preferimos crer quando presenciamos fatos como o da matéria que segue. São muitas as indagações, interpretações, objeções e outras ações... Talvez já estejamos saturados de ver e ouvir sobre este episódio em específico, entretanto, não podemos apagar da memória tamanha contradição promovida pelos detentores da justiça nacional. É neste sentido que propusemos o artigo a seguir e, assim, desafiamos a cada um que encontre nesta (re)leitura um motivo a mais para lutar contra a corrupção e a falta de ética! Ação Penal 470, S.T.F. volta atrás e absolve mensaleiros A maioria do Supremo Tribunal Federal decidiu que oito condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão, não cometeram crime de formação de quadrilha. Com o placar de seis votos a cinco, o entendimento que prevaleceu na sessão desta quinta-feira (27/2) foi de que os envolvidos não se reuniram para a prática de crime — condição para que a formação de quadrilha fosse caracterizada. Os ministros Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki e Rosa Weber votaram pela absolvição do crime de quadrilha e, portanto, pelo provimento dos Embargos Infringentes. Vencidos, então, os ministros Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Celso de Mello votaram pela condenação dos réus. Na prática, o entendimento diminui a pena estabelecida pelo Plenário no julgamento do caso e permite que fiquem de fora do regime fechado o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, cujas condenações transitadas em julgado somam menos de oito anos de prisão. Também foi descartada a imputação de crime de quadrilha ao publicitário Marcos Valério e a seus ex-sócios, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, além dos ex-dirigentes do Banco Rural Kátia Rabello e José Roberto Salgado. Todos já estão no regime fechado, mas a defesa conseguiu diminuir a pena fixada. O ex-presidente do PT José Genoino, também beneficiado, já havia sido condenado ao regime semiaberto. 27 Argumentos a formação de quadrilha existe mesmo se os envolvidos se reuniram a princípio para fins legais. Para ele, os condenados associaram-se em um “projeto deliquencial” e sabiam da divisão de tarefas dos demais integrantes para manipular o Legislativo. Segundo Fux (foto), relator dos infringentes, O ministro Teori Zavascki foi o primeiro a ler o diferença entre formação de quadrilha e cooperação para o crime e decidiu que, no processo do mensalão, houve reunião de pessoas para práticas criminosas. “Um crime cometido por três ou cinco voto nesta quinta-feira (27/2). Ele apontou a pessoas não significa que tenha sido cometido em quadrilha”, disse o ministro. Ele votou pela absolvição dos réus. Em seguida, e com o mesmo entendimento de Zavascki, a ministra Rosa Weber disse que continuava convencida de que não houve crime de formação de quadrilha. Segundo ela, formação de quadrilha requer que a união de pessoas se faça para a prática de crime. Ela aceitou os recursos pela absolvição dos réus pelo crime de formação de quadrilha por atipicidade de conduta. A partir daqui, mesmo faltando os votos de três ministros, a maioria no STF já havia decidido pela derrubada do crime de quadrilha. “Chega de ironia e de blasfêmia”, disse o ministro Gilmar Mendes ao votar com a certeza de que houve o crime de formação de quadrilha. Para ele, a gravidade dos fatos atenta contra a paz pública, por isso as penas deveriam servir para retribuir o mal causado e impedir a prática de novos crimes. O ministro afirmou ainda que o Brasil saiu “fortalecido” do julgamento do mensalão. Durante o voto, Gilmar Mendes (foto) comparou o caso do mensalão ao do deputado federal Natan Donadon, condenado à prisão pela prática dos crimes de formação de quadrilha e peculato em 2013 na Ação Penal 396 e que teve o seu mandado cassado pela Câmara. “Certamente seríamos forçados a conceder Habeas Corpus de ofício ou levar ao Juizado de Pequenas Causas”, ironizou. Logo em seguida, o ministro Marco Aurélio afirmou 28 que houve formação de quadrilha, mas votou pela diminuição da pena. Ele fundamentou o voto no sentido de que houve a “permanência, estabilidade e entrosamento” quanto à prática do crime. Marco Aurélio criticou a atual composição da corte que, segundo ele, fez “do dito pelo não dito”, já que, na primeira fase do julgamento — com os ministros Ayres Britto e Cezar Peluso —, os réus foram condenados por formação de quadrilha. E agora, com os ministros Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, a decisão da maioria levou à absolvição do crime. No mesmo sentido, Celso de Mello votou pela condenação dos réus por formação de quadrilha — crime que, segundo ele, por sua simples existência, constitui “agressão permanente contra a sociedade civil”. O ministro disse que os réus são “delinquentes, agora condenados travestidos então da condição de altos dirigentes governamentais”. Por último, o presidente da corte, ministro Joaquim Barbosa, disse que foi formada uma “maioria de circunstância” para acabar com o julgamento anterior. Segundo ele, o objetivo foi de “reduzir a nada” o trabalho que fora feito. Ele disse que os crimes contra o sistema financeiro nacional de corrupção ativa e passiva e peculato estão provados e documentados. “Como sustentar que isso não configura quadrilha?”, questionou. Barbosa chamou de “argumentos espantosos” aqueles que entenderam que não houve formação de quadrilha e que se “basearam apenas em cálculos aritméticos e em estatísticas totalmente divorciadas da prova dos autos, da gravidade dos crimes praticados e documentados”, afirmou. Em relação ao “entendimento implícito” dos ministros de que para haver a formação de quadrilha os membros devem viver do crime, Barbosa afirmou então que esse tipo penal só poderia ser cometido por “desempregados” ou “marginais”. Embargos Infringentes Os oito réus tiveram direito aos Embargos Infringentes porque, no julgamento sobre o mérito da AP 470, haviam conseguido ao menos quatro votos a favor da absolvição especificamente para o crime de quadrilha. A maioria dos advogados seguiu o argumento de que não há provas de quadrilha nos autos e que os clientes se reuniram para atividades lícitas, seja um partido ou uma empresa. Marcelo Leonardo (foto), defensor de Marcos Valério, afirmou que as agências de publicidade DNA e SMP&B desenvolviam trabalhos regulares, com propagandas premiadas. Ainda está na pauta do STF a análise de Embargos Infringentes que questionam a condenação por lavagem de dinheiro do ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP), do ex-assessor do PP João Cláudio Genu e de Breno Fishberg, ex-sócio da corretora Bônus Banval — que, segundo o Ministério Público Federal, foi usada para a prática de lavagem. Bate-boca O julgamento havia começado na quarta-feira (26/2) e a sessão foi encerrada com quatro votos a favor da absolvição e apenas um contrário. Na ocasião, o presidente do STF, ministro Joaquim 29 Barbosa, abriu um bate-boca no Plenário após o ministro Luís Roberto Barroso apresentar tese de que o crime de quadrilha já prescreveu. Disponível em: http://www.advogadocriminalemsp.com.br/acao-penal-470-s-t-f-volta-atras-e-absolvemensaleiros/ Acesso em: 18 mar 2014. (Grifos das organizadoras.) Quem foi Winston Churchill? Muitos o consideram o maior estadista do século XX. O texto que segue traz comentários acerca da pessoa de Churchill a partir de dois livros que procuram descrever a figura deste estadista, narrando fatos e feitos em pleno século XX. Combatente, destemido, comprometido, ágil, audacioso, vigoroso... Um ás da política no sistema inglês. O que isto quer dizer? Leia você e entenda um pouco mais sobre esta figura histórica da política internacional. Churchill em dose dupla Dois livros recentes narram passagens extraordinárias de dois momentos da vida do maior estadista do século XX Alguns poucos acham indevido que Winston Churchill seja celebrado como o maior estadista do século XX. Basta tomar um dia qualquer do nosso tempo e sempre haverá algum evento crucial relacionado a ele. Se isso é uma boa medida da estatura insuperável do inglês, então aqueles poucos estão errados. Na quarta-feira passada, 5, fez 68 anos o “Discurso da Cortina de Ferro”, no Westminster College, alma mater do presidente americano Harry Truman, em Fulton, no Missouri. “De Stetin, no Báltico, a Trieste, no Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre a Europa”, disse Churchill, abrindo, pela primeira vez, os olhos do Ocidente para o totalitarismo territorialista da União Soviética. O império comunista se dissolveu em 1991, mas seus escombros continuam assombrando [...] com a tensão crescente em torno da Crimeia. Ali, em 1854, os russos derrotaram os ingleses na Batalha de Balaclava, eternizada pelo poema de Alfred Tennyson sobre a funesta Carga da Brigada Ligeira (“Gannofl lU ttgn: ot them / cannon to Iett ot them / cannon in ttont of thetn”) Em 1895, Churchill se juntaria ao 4º Regimento de Hussardos da Rainha, um dos que lutaram em Balaclava, e, três anos mais tarde, lá estava ele, jovem oficial, em Omdurman, no Sudão, junto ao 21º Regimento de Lanceiros, participando daquela que seria a I última carga de cavalaria da história. “Dos 20 aos 26. Aqueles foram os anos”, registrou Winston Churchill em sua autobiografia, escrita em 1930. O adulto olhava para trás e via o jovem que, antes de completar 26 anos, já combatera em três continentes, recebera quatro condecorações, escrevera cinco livros, adquirira fama internacional e uma vaga no Parlamento. É desse fenômeno precoce de comprometimento, ação e coragem que trata um dos dois recentes livros biográficos: Churchü~ o Jovem T!tã, de Michael Shelden, tradução de Gleiíber Vieira, Globo Livros, 400 páginas, 49,90 reais. O outro foca um período posterior, o da II Guerra Mundial, tão ou mais extraordinário: Churchill e Três Americanas em Londres, de Lynne Olson, tradução de Joubert de Oliveira Brízida, Globo Livros, 520 páginas, 54,90 reais. É prazeroso repassar a formação do moço inglês que aos 39 anos era ministro da Marinha na I Guerra Mundial, aos 50 anos ministro das Finanças entre as duas guerras, aos 66 anos um senhor primeiro-ministro vitorioso na li Guer- La Mundial, o conflito que formou o mundo em que hoje vivemos. Churchill foi um ás da política no sistema inglês, em que só existe um caminho para o poder: ser eleito e depois, 110 Parlamento, ser escolhido por seus pares para líder de um partido que 30 tenha feito a maioria da Câmara dos Comuns em eleições gerais. Democracia irretocável e, vale notar, sem independência entre os poderes, o que costuma ser apontado, erradamente, como fundamento do regime democrático. No sistema inglês, o poder é formado na Câmara dos Comuns. Quando aceitam um convite para fazer parte do gabinete – ou seja, do Executivo -, os parlamentares não pedem licença nem renunciam ao cargo para o qual foram eleitos. Ao contrário. Só pode ser ministro quem tem e mantém o mandato. Algo difícil de entender no Brasil. Mas é fácil ver que o sistema inglês é mais coerente. Lá todo o esforço é feito em função de garantir que a maioria no Parlamento governe - e, mais estranho ainda neste Brasil de hoje, que a minoria faça oposição. O livro sobre o jovem Churchill gira em torno do preparo para o futuro líder de um rapaz audacioso e vigoroso: oficial de cavalaria na Índia, amores avassaladores, jornalista correspondente de guerra em campanhas coloniais, prisioneiro e fugitivo posto a prêmio na Guerra dos Bôeres, derrotado em várias tentativas eleitorais, levando uma vida de celebridade impulsionada pela publicação de livros com narrativas maravilhosas - e lucrativas – de cada aventura. Teve uma subida política incomum e logo uma queda não menos espetacular. Não lhe faltou nem o pecado mortal de trocar de partido em 1904, passando de deputado conservador para ministro do PartidoLiberal na bancada adversária, o outro lado do plenário. Pior ainda, Churchill “destrocou” de partido em 1925, voltando para o Partido Conservador. Sobre essas viravoltas, ele declarou com aquela dose industrial de autoconfiança que enlouquecia os adversários: “Qualquer um sabe trair (rat), mas é preciso certa engenhosidade para trair de novo (rerat)”. A segunda obra já trata do Winston Churchill que todo mundo conhece: o velhote corpulento, mordendo o charuto, levantando o moral do povo com discursos desafiadores, fazendo o V da vitória com os dedos e comandando sob terrível desvantagem a luta contra a Alemanha názi. Ele sabia que só tinha chance de vencer se os Estados Unidos entrassem na guerra a seu lado. Fez inúmeras viagens a Washington com esse intuito. Hospedava- se na Casa Branca, jogava sobre o presidente Franklin Roosevelt madrugadas de conversa, a ponto de mais tarde dizer que “nunca namorado nenhum correu tanto atrás da amada como eu corri atrás do presidente Roosevelt”. “Churchill e Três Americanos em Londres” conta a história de homens essenciais para a costura da aliança. O primeiro é Edward Murrow, chefe da CBS News em Londres, cujos programas radiofônicos narrando os bombardeios aéreos alemães incendiaram a imaginação do povo americano, até então predominantemente isolacionista a respeito da guerra europeia. É de Murrow a observação histórica de que Churchill, com seus discursos, “alistou a língua inglesa nas Forças Armadas e a mandou para o campo de batalha como ponta de lança de esperança para a Inglaterra e o mundo”. Completam o trio o empresário Averell Harríman, administrador do programa de ajuda americana aos ingleses antes de entrar na guerra, e Gil Winant, embaixador dos Estados Unidos em Londres. É saboroso ver que a vida continuava em todos os seus aspectos naquela Londres sob bombardeios, sempre mais devastadores à noite. Nasceram nesse ambiente intrincados romances dos três americanos. O relacionamento de Harriman com Pamela, nora de Churchill, começou em um abrigo antiaéreo numa das piores noites de bombardeio. O caso deu voltas e mais voltas. Ed Murrow aproveitou uma delas e se envolveu com Pamela, depois que Averell foi nomeado embaixador em Moscou, em 1943. Após a guerra, Pamela se tornou a senhora Harriman e, poderosa, reaparece na história embaixadora americana em Paris, onde morreria três anos depois, de derrame, na piscina do Hotel Ritz. Winant e Sarah, a filha 31 predileta de Churchill, tiveram um ardoroso romance, que murchou quando emudeceram os canhões. Era com dois dos americanos, Winant e Harriman, que Churchill jantava em sua casa de campo de Chequers na noite de 7 de dezembro de 1941, um domingo, quando os japoneses resolveram para ele o mais difícil de seus problemas ao atacarem a base naval americana de Pearl Harbor, no Pacífico, obrigando os Estados Unidos entrar no conflito. Correram para o telefone, e Churchill ouviu eufórico a voz vinda da Casa Branca, do outro lado do Atlântico: “Agora estamos todos no mesmo barco”. Aproveitando o fuso horário a favor, Churchill declarou imediato apoio aos Estados Unidos e guerra ao Japão antes que o sol nascesse em Washington. A aliança transatlântica se tornara irreversível. Disponível em: http://atendimiti.wordpress.com/2014/03/12/churchill-em-dose-dupla/ Acesso em: 18 mar 2014. (Adaptado) A próxima matéria nos faz retomar aquele tom melancólico da política nacional que pode ser “ouvido e sentido” quando dos fatos que se apresentam nitidamente contrários à ética. Até quando? Felizmente podemos registrar, divulgar e denunciar os absurdos da política brasileira... ainda que comuns... Quiçá nos comprometamos com a dignidade e honestidade! Senado paga plano de saúde até de parlamentar cassado As benesses oferecidas pelo plano de saúde do Senado, pago exclusivamente com dinheiro do contribuinte, são estendidas até mesmo a senadores que foram cassados por suspeita de envolvimento em corrupção. Documentos obtidos pelo Estado mostram que nas tabelas de reembolso constam três notas fiscais apresentadas em nome do ex-senador Demóstenes Torres que somadas chegam a R$ 5.362,80. Na planilha a data referente aos recibos é de 20 de dezembro de 2012, cerca de seis meses após o parlamentar ter perdido o mandato no plenário da Casa por quebra de decoro. Outro caso de político que deixou o cargo sob suspeita de desvios é o do ex-senador Expedito Júnior (PSDB-RO). O tucano teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral sob acusação de compra de votos e abuso de poder econômico nas eleições de 2006. Em junho de 2009 a decisão foi confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e em outubro do mesmo ano pelo STF. Senado gasta R$ 6,2 milhões com plano de saúde Bancado exclusivamente pelo contribuinte, o plano de saúde do Senado paga despesas que incluem implantação de próteses dentárias com ouro e até sessões de fonoaudiologia para melhorar a oratória e driblar a timidez. Alguns senadores chegam a gastar até R$ 70 mil por tratamento dentário. 32 Plenário do Senado, em Brasília Júnior foi reembolsado em R$19.238,60 pelo Senado após apresentar em junho de 2012 notas referentes a um tratamento médico e odontológico para ele e a esposa. "Fiz uma cirurgia de hemorroida. Foi só essa cirurgia e minha esposa fez um check-up. Mas foi autorizado, passou antes por uma junta médica e foi feito. Acho que o Senado que pagou, né", afirmou ao Estado o tucano. O ex-senador Demóstenes foi procurado na sexta-feira e no fim de semana, mas os dois celulares que habitualmente utiliza estavam fora de área de cobertura. Muito melhor O plano de saúde vitalício da Casa também agracia ex-senadores e cônjuges que ocupam cargos públicos em órgãos que oferecem plano médico. O deputado federal Francisco Escórcio (PMDBMA) em 2011 apresentou ao Senado três notas que totalizam R$ 1.800. "Utilizei até 2011 porque não tinha uma definição, que era feita por mim. Ou podia usar a Câmara ou o Senado. Não tinha nenhuma determinação contrária a isso. Preferi o plano de saúde do Senado, que era muito melhor do que o da Câmara. Mas hoje só uso a Câmara", afirma o peemedebista. O deputado Esperidião Amin (PP-SC) também recorreu ao Senado para o pagamento de R$15 mil referentes a tratamentos médicos e odontológicos dele e da mulher, Angela Amin. "Se o exsenador tem direito, por que o ex-senador investido momentaneamente em um mandato de deputado federal perde o direito?", ponderou Amin. "Eu digo que tenho o direito. E desafio, como advogado, que alguém escreva que eu não tenha. Quero ver escrever." Os documentos também mostram que há casos em que algumas mulheres de senadores, mesmo no cargo de deputadas federais, também preferem ser atendida no plano do Senado. Entre março de 2012 e setembro de 2013, a deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) fez despesas em hospitais e clínicas de referência no País que chegam a somar R$18 mil. Janete é casada como o senador João Capiberibe (PSB-AP). Por meio da assessoria, a deputada informou que só faz uso da assistência à saúde do Senado quando o procedimento não pode ser feito no Departamento Médico da Câmara ou quando seu plano particular não cobre. 33 De 2010 a até setembro de 2013, a deputada Nice Lobão (PSD-MA) gastou R$ 9mil como dependente do marido e ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que é senador licenciado. Em nota, a assessoria do ministro afirma que o ressarcimento de despesas médicas de Nice está de acordo com a legislação. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,senado-paga-plano-de-saude-ate-deparlamentar-cassado,1139024,0.htm Acesso em: 18 mar 2014. “Tempo de despertar... e reformar!” O texto, na sequência, apresenta em linguagem simples e objetiva uma explanação geral do que seria e como seria realizada a reforma política. Para podermos criticar é preciso conhecer. Sem esse conhecimento, não há como ser convincente em nossas cobranças, muito menos como saber se, afinal, haverá mesmo uma reforma... Idas e vindas da reforma política As manifestações de protesto que se espalharam pelo Brasil a partir de junho de 2013 recolocaram em pauta um assunto de que se fala há anos, mas que pouco avançou: a reforma política. O objetivo dessa reforma seria modificar as normas e o funcionamento das instituições nacionais, visando a aprimorar o sistema democrático. Como resposta às manifestações de junho, a presidente Dilma Rousseff (PT) propôs cinco “pactos”. Um deles estabelecia a convocação de um plebiscito popular para instituir uma Constituinte exclusiva encarregada de fazer a reforma política. A lógica da proposta era a de que, se a população não confia em seus atuais representantes políticos no Congresso Nacional – alvos de ira nas ruas –, teria a possibilidade de eleger outros especificamente para reformar as instituições. Essa iniciativa, porém, não prosperou, particularmente em virtude da oposição do PMDB, que preside as duas casas legislativas e é o principal partido aliado ao PT, inclusive na vice-presidência, com Michel Temer. Dilma recuou rapidamente, e o governo passou então a negociar com representantes dos poderes Legislativo e Judiciário a convocação de um plebiscito para alterar as regras das eleições de 2014. Nesse plebiscito, os eleitores brasileiros seriam consultados sobre questões como as formas de financiamento das campanhas eleitorais, o fim do voto secreto nas votações do Congresso e as regras para as coligações partidárias nas eleições legislativas. A proposta tampouco avançou, por falta de apoio dos parlamentares, tanto da oposição quanto da situação. Oficialmente, a alegação foi a de que não haveria tempo hábil para que as decisões do plebiscito valessem para 2014. A Câmara dos Deputados criou, em julho de 2013, um grupo encarregado de elaborar uma proposta de reforma política. Os resultados dessa comissão, apresentados em novembro, foram transformados numa Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para tramitação no Congresso. Propostas de reforma Uma das principais mudanças previstas na PEC é a proposta de instituição do voto facultativo, em lugar da obrigatoriedade de voto atualmente em vigor. Outra é o fim da possibilidade de 34 reeleição do presidente da República, governadores e prefeitos. Propõe também que, a partir de 2018, haja coincidência de datas nas eleições em todos os níveis – municipal, estadual e federal. Para tanto, prefeitos e vereadores a serem eleitos em 2016 teriam mandatos menores, de apenas dois anos em vez de quatro. abolir a vinculação entre as candidaturas em nível nacional, estadual e municipal. Mas, de acordo com a Nas coligações eleitorais, há a proposta de se proposta, os partidos que se coligarem para as eleições proporcionais, ou seja, para vereadores, deputados estaduais e deputados federais, deverão, até o fim da legislatura, integrar o mesmo bloco parlamentar na casa legislativa para a qual seus candidatos foram eleitos. Sobre o tema do financiamento de campanhas eleitorais, uma das questões mais polêmicas, o texto não define um modelo único. Cada partido poderia optar entre o financiamento privado (contribuições de indivíduos ou empresas), público (recursos do Estado distribuídos segundo regras definidas por lei) ou misto. Em relação à fidelidade partidária, prevê-se a perda de mandato de políticos que se desligarem do partido pelo qual foram eleitos. A criação de partidos seria facilitada, pois a exigência de assinaturas de apoio cairia de 0,5% para 0,25% dos eleitores. Um partido também poderia ser formado por 5% dos deputados, sem precisar de assinaturas de eleitores. O grupo de trabalho propõe que, caso a PEC seja aprovada pelo Congresso, passe depois por referendo – tipo de consulta popular em que os eleitores aprovam ou rejeitam uma nova lei. Outros pontos em debate não foram apreciados pelos deputados. Um deles é a introdução da lista fechada nas eleições a cargos proporcionais. Neste modelo, os partidos definem a ordem de seus candidatos e, de acordo com as vagas obtidas após a votação recebida, os parlamentares eleitos são definidos pela colocação na lista, e não entre os mais votados pelo eleitor. A intenção é estimular o voto no partido e não personalizá-lo nos candidatos. Discute-se também o voto distrital. Atualmente, os candidatos a deputado podem ser votados por qualquer eleitor do estado. Pelo voto distrital, cada unidade da federação seria dividida em distritos eleitorais e o mais votado de cada distrito seria o eleito. Como isso valorizaria políticos com força regional e prejudicaria os que têm força eleitoral distribuída pelo estado, há também a proposta de sistema distrital misto, em que parte das vagas seria definida por distrito e outras, pelo conjunto do eleitorado. Partidos O Brasil tinha, em dezembro de 2013, 32 partidos políticos registrados. Um projeto aprovado pela Câmara, em abril, dificultava o acesso das novas legendas ao Fundo Partidário – verba destinada por lei aos partidos – e ao tempo de propaganda gratuita na TV. A proposta, patrocinada pelo governo, era vista como uma tentativa de esvaziar a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, possível candidata a presidente em 2014. Pelos critérios anteriores, um novo partido, ao atrair deputados federais, obtinha automaticamente os valores e o tempo de TV correspondentes ao número de parlamentares de sua bancada. O que a nova lei estabelece é que os partidos precisarão eleger os deputados, e não apenas filiá-los, para ter direito à verba e aos minutos de televisão. Em 2012, o Fundo Partidário distribuiu quase 350 milhões de reais aos 30 partidos então existentes. Em 2013, até outubro, foram 297 milhões de reais. 35 O Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a conceder liminar suspendendo a tramitação do projeto, mas em junho liberou a sua votação. Aprovado também pelo Senado Federal, foi sancionado em novembro pela presidente Dilma Rousseff. Antes disso, em outubro, a própria Rede Sustentabilidade teve o seu registro partidário negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por não ter obtido as 492 mil assinaturas de eleitores em apoio à criação do partido. Disponível em: https://almanaque.abril.com.br/materia/idas-e-vindas-da-reforma-politica Acesso em: 06 mar 2014. (Grifos das organizadoras.) “Cantar e cantar e cantar...” Por que, para quê, onde? O que nos move ou deve nos mover? Em se tratando do Hino Nacional, um dos grandes e fortes símbolos da nação brasileira, deveria ser o foco de mais reflexões e discussões. Acreditamos que a matéria a seguir pode nos direcionar para o cumprimento de tal objetivo e nos levar a leituras mais críticas de nós mesmos como cidadãos quando nos deparamos com toda a poesia, verdades, metáforas, idealismo e realismo presentes no Hino Nacional. Afinal, qual o nosso maior compromisso com a nação? Respeitar os símbolos ou respeitar os cidadãos? Reverenciar a bandeira ou reverenciar a ética? Cantar o heroísmo ou ser efetivamente um filho que não foge à luta frente às injustiças? Leia, reflita e cante! Hino Nacional Brasileiro Introdução Será que ficou fora de moda cantar o hino nacional? Ou será que ele tem uma letra difícil de ser compreendida e memorizada? O desinteresse por um dos mais importantes símbolos nacionais pode ser observado na manifestação mais popular do país: o futebol. Na hora da execução do hino, a sensação é que muitos jogadores apenas movem os lábios e outros nem ousam fingir que sabem a letra. Enquanto isso, boa parte da torcida sequer presta atenção, canta outra coisa ou simplesmente conversa. Mas isso nem sempre foi assim. O hino nacional foi um dos símbolos usados na formação da identidade brasileira. Sua parte musical já existia e era tocada, por exemplo, durante a Guerra do Paraguai (1864-1870) para motivar os cerca de 80 mil combatentes brasileiros que participaram da campanha. A música composta entre 1822 e 1823 por Francisco Manuel da Silva chamava-se “Marcha Triunfal” e celebrava a Independência do país. Antes de chegar à versão atual, ele teve duas letras diferentes durante o Império. De lá até o período da ditadura militar (1964-1985), o hino foi, ou por conta de um genuíno sentimento nacionalista ou em função da imposição oficial, tratado como algo “sagrado” e saber sua letra e como se portar durante sua execução era uma obrigação patriótica. No mundo inteiro, os hinos junto com as respectivas bandeiras têm sido os principais símbolos de uma nação. Isso acontece desde o surgimento dos estados nacionais, entre os séculos 18 e 20, para expressar o patriotismo, a união e o orgulho de um povo. O teor das letras e o tom das músicas têm variado desde um espírito mais guerreiro, como a Marselhesa, o hino nacional francês, até uma elegia ecologicamente correta das riquezas naturais, como no caso do hino brasileiro. Os mais antigos hinos nacionais do mundo são o japonês e o holandês. O primeiro teve sua letra escrita no século IX, mas só foi musicado em 1860, e o segundo foi composto na segunda metade do século XVI [fonte: National Anthems of the World Organisation]. 36 © istockphoto.com / Duncan Walker Mas o caso de respeito ao hino no Brasil parece ser atípico. Se tomarmos as mais populares competições esportivas como exemplo, podemos observar que, salvo raras exceções, o descaso com este símbolo nacional parece ser mais frequente nas terras tupiniquins. E aparentemente há algumas razões históricas e sociais para isso. Uma delas é a associação do hino ao ufanismo cívico imposto pelos regimes totalitários no país, principalmente no período ditatorial de Getúlio Vargas e no regime militar pós-1964. Outra razão é como o brasileiro tem lidado com sua cidadania, que por deficiências educacionais e culturais anda bastante combalida. No caso brasileiro, há também questões práticas como a quantidade de versos e a dificuldade de se pronunciar e compreender atualmente alguns dos vocábulos utilizados. Para se ter uma ideia, um dos mais famosos hinos do mundo, o “God Save the Queen” ou “God Save the King”, entoado nos países do Reino Unido, é composto por 21 versos, enquanto o hino brasileiro apresenta 50. Além disso, várias palavras não fazem mais parte do repertório médio da população, o que dificulta sua compreensão e memorização. A atual música do hino nacional é a mesma que foi composta por Francisco Manuel da Silva, entre 1822 e 1823, para celebrar a Independência do país. No período do Império, ela recebeu duas letras diferentes. Após a proclamação da República, em 1889, com a intenção de apagar os principais símbolos do período monárquico, foi feito um concurso para a criação de um novo hino. Mas a reação contra essa ideia foi tal que o novo governo republicano voltou atrás e manteve a música composta por Francisco Manuel da Silva como a oficial. Um novo concurso foi feito então apenas para alterar a letra. Em 1909, os versos compostos por Joaquim Osório Duque-Estrada foram os escolhidos. A letra foi oficializada em 1922, por ocasião das comemorações do centenário da Independência. Quem foram os autores O compositor Francisco Manuel da Silva (1795-1865) estudou música desde criança com o padre José Maurício Nunes Garcia. Ele teria composto o hino sob o nome de “Marcha Triunfal”, em 37 celebração à Independência entre 1822 e 1823, mas o teria executado pela primeira vez somente em 1831, por ocasião da abdicação de D. Pedro 1.º. Além de outros hinos, compôs música instrumental e um extenso repertório de música sacra. Mestre Compositor da Capela Imperial, foi também diretor de vários teatros e companhias líricas. Joaquim Osório Duque-Estrada (1870-1927) escreveu poesias, dramaturgias, livros didáticos e traduções, além de colaborar para jornais do Rio de Janeiro. Abolicionista e republicano atuou ao lado de importantes nomes desses movimentos como José do Patrocínio e Silva Jardim. Em outubro de 1909, elaborou o seu “Projeto de Letra para o Hino Nacional Brasileiro”, cujos versos deveriam se adaptar à música composta por Francisco Manuel da Silva. Em 1915, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Se comparado aos hinos inspirados em cantos de guerra, que geralmente trazem letras curtas, práticas e simples, os cinquenta versos composto por Duque-Estrada formam um poema complexo. Além do problema da sua extensão, há ainda uma série de palavras que caíram em desuso e não fazem parte do vocabulário da população. Termos como “plácidas”, “fúlgidos”, “florão” e “lábaro”, entre outros, dificultam a compreensão do sentido dos versos e consequentemente a memorização e a pronúncia. Pode bater palma Quando o Hino Nacional Brasileiro é executado devem ser obedecidos alguns procedimentos protocolares estabelecidos pela legislação. A Lei n.º 5.700, de 1971, definiu que durante a sua execução “todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio, os civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência, segundo os regulamentos das respectivas corporações”. A Lei ainda diz que é vedada qualquer outra forma de saudação durante a execução, assim como apresentar quaisquer arranjos vocais ou instrumentais que não sejam os oficiais, sem prévia autorização do presidente da República. A legislação não faz nenhuma menção a como se comportar após a finalização do hino. Assim, se você quiser bater palmas, pode bater. A letra do hino brasileiro faz principalmente uma ode às belezas e riquezas naturais do país. Fatos históricos como a declaração da Independência, mencionada na primeira estrofe, e a coragem patriótica do povo são emolduradas por uma natureza encantadora. Esse teor da letra e o tom da música compõem uma obra animada, fazendo dele um dos mais alegres hinos nacionais do mundo, segundo o jornal britânico “The Guardian”. Apesar do elogio dos ingleses, o descaso com o Hino Nacional Brasileiro parece aumentar na terra adorada. Não bastassem as dificuldades que oferece para ser memorizado, ele ainda enfrenta o preconceito de ser um dos símbolos usados pelas ditaduras no país, o que gerou certo grau de aversão a ele, além de um desinteresse das novas gerações com os instrumentos tradicionais do nacionalismo em um mundo em que há uma crescente internacionalização e interação das culturas. 38 Decifrando o Hino Nacional Confira a letra completa do Hino e um breve glossário que revela o significado das palavras menos comuns encontradas nos versos: Parte 1 Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó liberdade, Desafia o nosso peito a própria morte! Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece. Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Parte 2 Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; "Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida" no teu seio "mais amores." 39 Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula - "Paz no futuro e glória no passado." Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Glossário Plácidas: serenas, tranquilas, pacíficas, brandas, sossegadas Brado: clamor, grito Retumbante: refletir o som com estrondo, ecoar, ressoar Fúlgidos: cintilantes, brilhantes Penhor: garantia, segurança, prova Vívido: luminoso, brilhante Límpido: claro Resplandece: brilha Impávido: intrépido, destemido Colosso: objeto de enormes dimensões, descomunal Fulguras: resplandece, brilha Florão: peça de ouro ou pedras preciosas, à feição de flor, no centro de uma coroa Garrida: alegre, brilhante, viva Lábaro: estandarte dos exércitos romanos Ostentas: mostrar ou exibir com orgulho Flâmula: bandeira Clava: pau pesado usado como arma Disponível em: http://pessoas.hsw.uol.com.br/hino-nacional1.htm Acesso em: 18 mar 2014. (Adaptado. Grifos das organizadoras.) 40 SAIBA MAIS Por falar em lutas e desafios, e ainda do ritmo da canção e do sentimento patriótico, convém investir tempo na leitura dos textos a seguir. Quanto mais informações, mais críticos seremos daquilo que vemos e ouvimos, e mais parâmetros teremos diante da responsabilidade do voto. Qual a função do vereador? Os interesses da coletividade devem ser objeto de análise dos vereadores e de seus assessores na elaboração de projetos de leis. Em tempos de eleição, não faltam promessas. No pleito pelos cargos públicos, sejam eles em esfera municipal, estadual ou federal, o apelo e a tentativa do convencimento por meio de promessas é um dos mecanismos mais usados pelos candidatos. E nessa busca pelo voto, pelo apoio, os candidatos podem se perder em meio às promessas de ações impraticáveis, seja pela complexidade do assunto, seja pela própria limitação das atribuições legais daquele cargo almejado. No entanto, no afã pela vitória, não apenas se fala demais, mas se promete absurdos, como se vê nas eleições para vereador a cada quatro anos. Nesse sentido, conhecer as atribuições e verdadeiras funções do cargo legislativo municipal é fundamental não apenas aos que almejam ocupar tais cargos, mas principalmente para os eleitores, os quais munidos de algumas noções facilmente poderão identificar falácias, mentiras e uma sorte de discursos eleitoreiros absolutamente descolados da realidade. Mas, o que faz o vereador? Enquanto agente político, ele faz parte do poder legislativo, sendo eleito por meio de eleições diretas e, dessa forma, escolhido pela população para ser seu representante. Esta noção de representante da sociedade está entre as noções mais caras dentre suas funções, pois as demandas sociais, os interesses da coletividade e dos grupos devem ser objeto de análise dos vereadores e de seus assessores na elaboração de projetos de leis, os quais devem ser submetidos ao voto da assembleia (câmara municipal). Dessa forma, são responsáveis pela elaboração, discussão e votação de leis para a municipalidade, propondo-se benfeitorias, obras e serviços para o bem-estar da vida da população em geral. Os vereadores, dentre outras funções, também são responsáveis pela fiscalização das ações tomadas pelo poder executivo, isto é, pelo prefeito, cabendo-lhes a responsabilidade de acompanhar a administração 41 municipal, principalmente no tocante ao cumprimento da lei e da boa aplicação e gestão do erário, ou seja, do dinheiro público. Quanto à dinâmica das discussões e votações nas sessões, os vereadores organizam-se entre partidos que são considerados da base do governo (não apenas aquele do qual o prefeito faz parte, mas também outros que aderem ao modelo de governo da atual gestão) e os que são considerados de oposição. Vale dizer que o fato de um vereador ser da oposição não significa que ele sempre se posicionará contra as medidas propostas pelo prefeito ou pelos partidos de base. O contrário também é verdadeiro, uma vez que a base poderá não aprovar alguma medida do poder executivo. O que se espera, pelo menos em tese, é que o posicionamento dos parlamentares sempre seja pautado pelo interesse da coletividade (isto é, pela racionalidade na análise dos projetos), e não apenas em termos partidários, da disputa política. As características gerais do processo de eleição dos vereadores também devem ser compreendidas. Diferentemente dos candidatos ao cargo executivo de prefeito, os quais são considerados candidatos majoritários, os interessados nos cargos de vereador são candidatos proporcionais. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na eleição para os cargos proporcionais não são eleitos, necessariamente, os candidatos que conseguem obter a maioria dos votos. Depende-se de cálculos específicos, os quocientes eleitoral e partidário, conforme determina o Código Eleitoral brasileiro. O quociente eleitoral trata-se do resultado da divisão do número de votos válidos no pleito (todos os votos contabilizados excluídos brancos e nulos) pelo total de lugares a preencher em cada parlamento, isto é, em cada câmara municipal, no caso de vereadores. Após a realização do quociente eleitoral (número de votos por cadeira do legislativo), calcula-se o quociente partidário, o qual determinará a quantidade de candidatos que cada partido ou coligação terá na câmara. Para este cálculo, divide-se o número de votos que cada partido/coligação obteve pelo quociente eleitoral. Assim, como aponta o TSE, quanto mais votos as legendas conseguirem, maior será o número de cargos destinados a elas. Os cargos devem ser preenchidos pelos candidatos mais votados de partido ou coligação, até o número apontado pelo quociente partidário. Por isso, muitas vezes, estranha-se por que algum candidato com certa notoriedade ou visibilidade mais destacada (muito bem votado) não tenha conseguido se eleger, em detrimento de outro, menos conhecido e menos votado. A resposta poderia estar no fato de que o primeiro (embora mais votado) seria de um partido e coligação que não alcançou o quociente eleitoral, diferentemente do segundo que, por conta de sua coligação, foi “puxado” para dentro, sendo eleito. Ainda segundo o TSE, para as eleições do próximo dia 7 de outubro de 2012, registra-se que 449.756 candidatos disputam 57.434 vagas de vereadores disponíveis em todo o Brasil, o que significa que o número de interessados é de quase 8 (oito) vezes o de vagas. Infelizmente, o crescimento do número de candidaturas por todo o Brasil talvez seja um indicador de como muitas pessoas são atraídas à vida política menos por engajamento e conscientização que por interesses escusos e de promoção pessoal. Se por um lado faz parte da realidade brasileira um maior amadurecimento político da sociedade, o fortalecimento da democracia, bem como um processo eleitoral moderno copiado pelo mundo afora (quando pensamos nas urnas eletrônicas), pelo outro, ainda existem indivíduos que veem na política a possibilidade da ascensão econômica e do prestígio social, distanciando-se dos verdadeiros propósitos da vida pública. Obviamente, as generalizações são sempre equivocadas e por isso é certo ponderar que existem muitos candidatos sérios e comprometidos. No entanto, a história da política brasileira confirma a existência permanente de políticos de ocasião, oportunistas e de caráter duvidoso. Estes, na ânsia 42 da realização de seu projeto pessoal de carreira política, acabam prometendo até mesmo fazer chover. Daí a necessidade do desenvolvimento de uma consciência política cada vez mais apurada e aguçada, pronta para descartar o voto nestes indivíduos e para confirmar o apoio aos que realmente desejam uma cidade melhor para todos. Por isso, votemos conscientes. Paulo Silvino Ribeiro - Colaborador Brasil Escola - Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP Universidade Estadual de Campinas - Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/funcoes-vereador.htm Acesso em: 17 mar 2014. Qual a função do Prefeito? Cabe ao prefeito não apenas sancionar as leis aprovadas em votação pela câmara, mas também vetar e elaborar propostas de leis quando achar necessário. A cada quatro anos no Brasil, em um domingo do mês de Outubro, um evento tem se repetido: os brasileiros vão às urnas escolher novos chefes para o poder executivo de seus municípios. Assim como votar para presidente, governador e deputados, eleger um prefeito para o mandato de quatro anos é algo de extrema importância e, ao mesmo tempo, de responsabilidade por parte de cada eleitor, pois o futuro da cidade estará nas mãos de quem vencer. Dessa forma, vale a pena refletirmos um pouco sobre as atribuições e funções da figura política do prefeito municipal. A elaboração de políticas públicas para saúde, educação, habitação, entre outros fatores pertinentes ao bem-estar e qualidade de vida dos munícipios estão entre suas ações. Como representante do poder executivo, é o prefeito quem encabeça a administração da cidade, empreendendo a gestão da coisa pública, do controle do erário ao planejamento e concretização de obras, sejam elas em termos de construção civil ou da área social. Logo, pode parecer redundante, mas é preciso frisar a ideia de que o poder executivo é de fato aquele quem executa, coloca em prática um conjunto de intenções do governo, realiza determinada obra, projeto, programa ou política pública. Além disso, cabe ao prefeito não apenas sancionar as leis aprovadas em votação pela câmara, mas tanto vetar quanto elaborar propostas de leis quando achar necessário. Contudo, o prefeito não governa sozinho, e por isso depende de apoio político da câmara municipal, assim como de outras esferas governamentais, ou seja, do governo estadual e federal. A ajuda destes dois últimos se dá através de repasses de verbas, convênios e auxílios de toda natureza para a realização de obras e implantação de programas sociais, os quais, principalmente 43 no caso de prefeituras de pequenos municípios, tornam-se fundamentais para o atendimento das demandas locais. Quanto ao processo eleitoral, diferentemente das eleições para vereador, aquele que disputa um cargo de prefeito é classificado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como um candidato majoritário, isto é, para a vitória nas urnas, ele deverá obter a maioria absoluta dos votos. Segundo o TSE, caso o município tenha mais de 200 mil eleitores, a decisão do pleito pode vir a ocorrer em dois turnos. Dessa forma, para ser eleito já no primeiro turno, é preciso alcançar a maioria absoluta dos votos válidos, ou seja, mais de 50% na primeira eleição. Se no primeiro turno nenhum candidato atingir esse limite mínimo de votos, é realizado o segundo turno do pleito entre os dois candidatos mais votados, quando será eleito quem tiver a maioria dos votos. Na eventualidade de um segundo turno, os candidatos já derrotados podem ou não manifestar apoio a um dos candidatos que ainda está no pleito, fato que certamente pode influenciar no eleitorado, tornando-se assim um fator decisivo em muitas eleições. Ainda segundo dados do TSE, em 2012, há possibilidade de ocorrer segundo turno em 83 cidades, sendo contabilizados 15.588 candidatos a prefeito que concorrem a 5.568 vagas. Dessa forma, dada a importância da figura do prefeito municipal como chefe do poder executivo, o voto consciente enquanto fruto direto da avaliação dos candidatos e coligações é uma arma importantíssima no enfretamento à corrupção, ao desmando, à coisa mal feita e à falta de capacidade administrativa, tão maléficos ao bem da coletividade. Assim, votar sem consciência equivale, em um jogo de futebol, a chutar para o gol sem se preocupar com questões básicas como direção da bola e força do chute. Em muitos casos, pior do que chutar para fora, é marcar um gol contra. Paulo Silvino Ribeiro Colaborador Brasil Escola Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/funcoes-prefeito.htm Acesso em: 14 mar 2014. (Grifos das organizadoras) Qual a função do Governador? Sarah Palin no exercício de seu cargo de governadora do Estado do Alasca, nos Estados Unidos. 44 Ao falarmos da figura do governador, devemos primeiro salientar que esse tipo de cargo executivo é bem mais antigo que o aparecimento dos regimes republicanos e federativos. Já na Antiguidade, os grandes reinados e impérios contavam com a figura de administradores de confiança que executavam as ações do governo central e resolviam as questões imediatas. Nesse aspecto, os governadores tinham por função essencial dinamizar o processo administrativo e o cumprimento das leis. Observando a organização política de diferentes nações e civilizações, podemos ver que o cargo de governador apareceu com o uso de outros nomes ao longo do tempo. No Brasil Contemporâneo, o cargo de governador é posto como o de líder máximo do Poder Executivo de um Estado da federação. Na condição de chefe, ele deve representar o seu Estado nas mais importantes questões políticas, administrativas e jurídicas que envolvam os interesses da mesma região. O mandato de um governador do Brasil dura quatro anos e pode se estender por igual período se o mesmo for reeleito pelo voto direto. Nos Estados Unidos, a escolha de um governador acontece a partir da votação em um conjunto de delegados que representam a intenção de voto em determinado concorrente. Mesmo não sendo democrática, a China também tem seus governadores. Nesse caso, cada um deles é indicado pelo presidente do país. No regime político brasileiro, o governador tem autonomia para organizar um secretariado que trata das mais variadas questões de seu Estado. Assim como um presidente da República, ele tem autonomia para tomar diversas decisões e oferecer projetos de lei estaduais, desde que esses não firam os princípios postulados pela Constituição Federal. Caso não administre bem as finanças de seu Estado, o governador pode ser julgado por crime de improbidade. Em termos práticos, a ação governamental estabelece um processo de descentralização do poder político capaz de acelerar várias questões políticas, econômicas e sociais de âmbito regional e local. Apesar de sua utilidade, o exercício do cargo de governador pode estabelecer situações de conflito político, quando o mesmo não segue ou concorda com as diretrizes do governo central. De tal modo, o governador deve ser hábil no equilíbrio entre as demandas de seu Estado e as exigências da federação. Por Rainer Sousa - Graduado em História Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/governador.htm Acesso em: 17 mar 2014. Qual a função do Deputado Estadual? Assembleia Legislativa Estadual, lugar onde trabalha o deputado estadual 45 Recebe o nome de deputado o candidato que foi eleito pelo povo para ser seu representante no parlamento. Segundo a Constituição Federal de 1988, deputado estadual é um detentor de cargo político que tem a incumbência de representar o povo na esfera estadual. Para um candidato ser eleito é considerada a votação de seu partido político ou coligação de partidos, além da votação recebida pelo candidato. O deputado Estadual desenvolve suas funções na Assembleia Legislativa Estadual. Em situações normais, seu mandato é de quatro anos. Entretanto, o candidato pode concorrer à reeleição diversas vezes, sem haver uma quantidade limitada de mandatos. Sua função principal no exercício do cargo é legislar, propor, emendar, alterar e revogar leis estaduais. Além de fiscalizar as contas do governo estadual, criar Comissões Parlamentares de Inquérito e outras atribuições referentes ao cargo. Por Eduardo de Freitas Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/deputado-estadual.htm Acesso em: 17 mar 2014. Qual a função do Deputado Federal? Câmara dos Deputados O Poder Legislativo do Brasil é formado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados. O deputado federal é o representante do povo no Congresso Nacional e seu mandato é de 4 anos, não havendo limite para a reeleição. Para se candidatar a esse cargo é preciso atender os seguintes requisitos: - Ter idade mínima de 21 anos; - Estar inscrito em algum partido político; - Ter nacionalidade brasileira; - Possuir domicílio eleitoral no estado pelo qual está concorrendo ao cargo; - Ter pleno exercício dos direitos políticos. A Câmara dos Deputados é composta por 513 membros, que recebem um salário mensal de aproximadamente R$ 16.000,00. A quantidade de deputados é estabelecida no ano anterior às eleições, pois o número de representantes por cada estado é fixado conforme o quantitativo de habitantes de cada unidade federativa. Nesse sentido, estados mais populosos elegem mais 46 deputados federais. No entanto, o número máximo de deputados por estado é de 70 e o número mínimo, 8. A principal função desse cargo é a elaboração de leis. Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil, outras importantes atribuições dos deputados federais são: - Elaborar seu regimento interno; - Fiscalizar os atos do Poder Executivo; - Autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado; - Proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; - Eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII. Por Wagner de Cerqueira e Francisco – Graduado em Geografia Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/deputado-federal.htm Acesso em: 17 mar 2014. Qual a função do Senador? Senado Federal O Senado Federal, juntamente com a Câmara dos Deputados, compõe o Congresso Nacional, que é o Poder Legislativo do Brasil. Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil, para se candidatar ao cargo de senador é necessário ter nacionalidade brasileira; idade mínima de 35 anos; estar inscrito em algum partido político; possuir domicílio eleitoral no estado pelo qual está concorrendo ao cargo e ter o pleno exercício dos direitos políticos. O senado brasileiro é composto por 81 representantes, sendo 3 de cada unidade federativa do Brasil, inclusive do Distrito Federal. A cada quatro anos, elege-se alternativamente um ou dois senadores por estado, e o mandato tem duração de oito anos, não havendo limite para a reeleição. Atualmente (2010), o salário de um senador é de aproximadamente R$ 16.000,00, além de uma série de benefícios: salários extras (13°, 14° e 15°), auxílio moradia, cotas aérea, verbas para gastos no escritório e contratação de funcionários, entre outros. 47 Entre as principias atribuições dos senadores estão: - Elaborar seu regimento interno; - Processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, Membros do Conselho de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, Procurador-Geral da República, Advogado Geral da União, Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; - Aprovar a escolha de: Ministros do Tribunal de Contas indicados pelo Presidente da República; Presidentes e Diretores do Banco Central; Governador de Território; Procurador-Geral da República; Titulares de outros cargos que a lei determina; - Autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; - Fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; - Aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato. Por Wagner de Cerqueira e Francisco - Graduado em Geografia - Equipe Brasil Escola Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/senador.htm Acesso em: 17 mar 2014. Qual a função do Presidente? Palácio da Alvorada: residência do presidente do Brasil O presidente exerce a função de chefe do poder Executivo e também de chefe de Estado (autoridade máxima) em uma nação cujo sistema de governo é o presidencialismo. No Brasil, ele é eleito pelo voto direto, sendo o representante do povo no âmbito federal. O mandato tem duração de 4 anos, podendo se estender por mais 4 anos, através de novas eleições. A moradia oficial é o Palácio da Alvorada, em Brasília, no Distrito Federal. [...] 48 Os critérios para se candidatar ao cargo político de maior responsabilidade do país seguem a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. - Ter idade mínima de 35 anos; - Ser brasileiro nato; - Ter o pleno exercício de seus direitos políticos; - Ser registrado em algum partido político; - Ter domicílio eleitoral no Brasil; - Não ter substituído o atual presidente nos seis meses antes da data marcada para a eleição. Quando eleito, o presidente da República tem, entre outras, as seguintes funções: - Nomear e exonerar os Ministros de Estado; - Conduzir a política econômica; - Exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção da administração federal; - Editar medidas provisórias com força de lei em caráter de urgência; - Aplicar as leis aprovadas; - Vetar projetos de lei, total ou parcialmente; - Manter relações com Estados estrangeiros e indicar seus representantes diplomáticos; - Decretar o estado de defesa e o estado de sítio; - Decretar e executar a intervenção federal; - Exercer comando supremo das Forças Armadas, nomear Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhe são privativos; - Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, quando autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele; - Enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas previstas nesta Constituição; - Exercer outras atribuições previstas na Constituição da República Federativa do Brasil. Acesso em: http://www.brasilescola.com/politica/presidente.htm Disponível em: 17 mar 2014. O que é um Estado Fantoche? Estado fantoche é um termo usado na política para designar os países que foram criados em razão da influência direta de outras nações mais poderosas e que são totalmente dependentes e influenciadas pelas mesmas. Um Estado fantoche possui a legalidade de um Estado, mas não possui legitimidade, isto é, a capacidade moral de implementar suas próprias políticas; também não é democrático, uma vez que depende da opinião de outra nação, de outro povo. Atualmente, o conceito de Estado fantoche é bastante utilizado de forma equivocada. Geralmente, é utilizado para designar países bastante dependentes de outros e que cedem à maior parte de seus interesses. Entretanto, o que caracteriza um Estado fantoche é, justamente, sua total dependência, que se inicia desde sua fundação. Os principais exemplos de Estado fantoches do século XX foram os países socialistas europeus que se alinharam à União Soviética durante a Guerra Fria. Disponível em: http://www.brasilescola.com/politica/estado-fantoche.htm Acesso em: 11 mar 2014. (Adaptado.) 49 INFOGRÁFICO Visite este infográfico para saber como um cidadão comum pode se engajar mais diretamente na política. Relembre, também, alguns dos elementos básicos que compõem o funcionamento da política, dentre eles, os três poderes que atuam nesse universo. http://imgms.almanaque.abril.com.br/1/info-pag-72e73.jpg?1322734891 50 A REVOLUÇÃO DOS BICHOS Um conto de fadas George Orwell Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética. Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A revolução dos bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto. Depois das profundas transformações políticas que mudaram a fisionomia do planeta nas últimas décadas, a pequena obra-prima de Orwell pode ser vista sem o viés ideológico reducionista. Mais de sessenta anos depois de escrita, ela mantém o viço e o brilho de uma alegoria perene sobre as fraquezas humanas que levam à corrosão dos grandes projetos de revolução política. É irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha recorrido aos animais como personagens. De certo modo, a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens. Escrito com perfeito domínio da narrativa, atenção às minúcias e extraordinária capacidade de criação de personagens e situações, A revolução dos bichos combina de maneira feliz duas ricas tradições literárias: a das fábulas morais, que remontam a Esopo, e a da sátira política, que teve talvez em Jonathan Swift seu representante máximo. "A melhor sátira já escrita sobre a face negra da história moderna." Malcolm Bradbury "Um livro para todos os tipos de leitor, seu brilho ainda intacto depois de sessenta anos." Ruth Rendell Disponível em: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12374 Acesso em: 12 mar 2014. 51 CHARGES & IMAGENS http://etica-bioetica.zip.net/ http://bacharelandodireito.blogspot.com.br/ 52 http://www.satirinhas.com/2012/08/entendendo-a-politica/ http://www.dynamiteinfo.com.br/portal/view_coluna_antiga.cfm?materia=428 53 https://blogdoonyx.wordpress.com/2011/05/18/conflito-de-interesses-alem-de-palocci-outros-5-ministrospossuem-empresas-de-consultoria/ http://botekovermelho.blogspot.com.br/2011/02/as-limitacoes-de-uma-eventual-reforma.html 54 http://www.bloginforma.com.br/vamos-falar-de-politica/ http://www.cadernodobairro.com.br/santana/politica/102-politicajunho.html 55 http://www.luizberto.com http://www.outrafrequencia.org/2012/02/charge-democracia-pavel-constantin.html 56 vidanovazores.blogspot.com/ www.pauloteixeira13.com.br/?p=720 http://www.satirinhas.com/2012/08/como-nao-amar-a-mafalda/ 57 MÚSICAS Toda Forma De Poder Engenheiros do Havaí Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada e eu começo a achar normal que algum boçal atire bombas na embaixada se tudo passa talvez você passe por aqui e me faça esquecer tudo que eu fiz (2x) toda forma de poder é pura forma de morrer por nada toda forma de conduta se transforma numa luta armada a história se repete, mas a força deixa a história mal-contada se tudo passa talvez você passe por aqui e me faça esquecer tudo que eu fiz (2x) o fascismo é fascinante, deixa a gente ignorante fascinada é tão fácil ir adiante e esquecer que a coisa toda tá errada eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada se tudo passa talvez você passe por aqui e me faça esquecer tudo que eu fiz (2x) http://letras.mus.br/engenheiros-do-hawaii/12895/ 58 Gabriel O Pensador Não adianta olhar pro céu Com muita fé e pouca luta Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer E muita greve, você pode, você deve, pode crer Não adianta olhar pro chão Virar a cara pra não ver Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer! Até quando você vai ficar usando rédea? Rindo da própria tragédia Até quando você vai ficar usando rédea? Pobre, rico ou classe média Até quando você vai levar cascudo mudo? Muda, muda essa postura Até quando você vai ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ser saco de pancada? Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente O seu filho sem escola, seu velho tá sem dente Cê tenta ser contente e não vê que é revoltante Você tá sem emprego e a sua filha tá gestante Você se faz de surdo, não vê que é absurdo Você que é inocente foi preso em flagrante! É tudo flagrante! É tudo flagrante! Refrão A polícia Matou o estudante Falou que era bandido Chamou de traficante! A justiça Prendeu o pé-rapado Soltou o deputado E absolveu os PMs de Vigário! 59 Refrão A polícia só existe pra manter você na lei Lei do silêncio, lei do mais fraco Ou aceita ser um saco de pancada ou vai pro saco A programação existe pra manter você na frente Na frente da TV, que é pra te entreter Que é pra você não ver que o programado é você! Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar O cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude estudar E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que eu saiba falar Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá Consigo um emprego, começa o emprego, me mato de tanto ralar Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinar Não peço arrego, mas onde que eu chego se eu fico no mesmo lugar? Brinquedo que o filho me pede, não tenho dinheiro pra dar! Escola! Esmola! Favela, cadeia! Sem terra, enterra! Sem renda, se renda! Não! Não! Refrão Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente A gente muda o mundo na mudança da mente E quando a mente muda a gente anda pra frente E quando a gente manda ninguém manda na gente! Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura Na mudança de postura a gente fica mais seguro Na mudança do presente a gente molda o futuro! Refrão http://www.vagalume.com.br/gabriel-pensador/ate-quando.html 60 Máscara Negra Marchinhas de Carnaval Quanto riso, oh, quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão Arlequim está chorando Pelo amor da Colombina No meio da multidão Quanto riso, oh, quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão Arlequim está chorando Pelo amor da Colombina No meio da multidão Foi bom te ver outra vez Tá fazendo um ano Foi no carnaval que passou Eu sou aquele Pierrô Que te abraçou e te beijou, meu amor Na mesma máscara negra Que esconde o teu rosto Eu quero matar a saudade Vou beijar-te agora Não me leve a mal Hoje é carnaval Vou beijar-te agora Não me leve a mal Hoje é carnaval http://letras.mus.br/marchinhas-de-carnaval/473881/ 61 Águas de Março Elis Regina É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol É peroba do campo, o nó da madeira Caingá candeia, é o Matita-Pereira É madeira de vento, tombo da ribanceira É o mistério profundo, é o queira ou não queira É o vento ventando, é o fim da ladeira É a viga, é o vão, festa da cumeeira É a chuva chovendo, é conversa ribeira Das águas de março, é o fim da canseira É o pé, é o chão, é a marcha estradeira Passarinho na mão, pedra de atiradeira É uma ave no céu, é uma ave no chão É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão É o fundo do poço, é o fim do caminho No rosto um desgosto, é um pouco sozinho É um estepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto É um pingo pingando, é uma conta, é um conto É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando É a luz da manha, é o tijolo chegando É a lenha, é o dia, é o fim da picada É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada É o projeto da casa, é o corpo na cama É o carro enguiçado, é a lama, é a lama É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um resto de mato na luz da manhã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto do toco, é um pouco sozinho É uma cobra, é um pau, é João, é José É um espinho na mão, é um corte no pé São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração 62 É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um belo horizonte, é uma febre terçã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho Pau, pedra, fim do caminho Resto de toco, pouco sozinho Pau, pedra, fim do caminho Resto de toco, pouco sozinho Pedra, caminho Pouco sozinho Pedra, caminho Pouco sozinho Pedra, caminho É o toco... http://www.vagalume.com.br/elis-regina/aguas-de-marco.html 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS Promessa de vida! É essa a voz que desejamos internalizar e eternizar ao final desta Coletânea... As promessas feitas nos palanques e não cumpridas nos mandatos não são o motivo da nossa desistência. A corrupção ainda predominante neste universo de máscaras não é razão para afundar nosso coração na lama da completa descrença. A escassez de ética na conduta dos nossos governantes, ainda que assustadora, não pode arrancar de nós a esperança. Seja qual for a proporção, dimensão e intensidade desses desvios que persistem na política nacional e internacional, e que tanto nos atingem, direta ou indiretamente, a boa nova é esta: no meio do joio, há o trigo! Portanto, que sejamos capazes de avaliar e discernir as ações dos nossos representantes e os acontecimentos políticos que nos acercam, de modo a não desacreditarmos, não desistirmos, não descrermos, nem nos desesperançarmos. Antes sirvam como mola propulsora de nossas ações, a começar pelas pequenas atitudes em benefício do próximo, sendo nós os primeiros a dar exemplo de amor, ética e cidadania, passando, sobretudo, pelo voto consciente e, quem sabe, levando-nos a patamares maiores... Esperamos que ao final deste material você se sinta corresponsável pela política que temos e fazemos! Obrigada pela preciosa companhia! Organizadoras 64