A PRÁTICA DO TURISMO E SEUS IMPACTOS NO MORRO TRÊS IRMÃOS –TERRA RICA –PR. Patrícia Fernandes Paula – Universidade Estadual de Maringá – [email protected] Maria Eugênia Moreira Costa Ferreira – Universidade Estadual de Maringá [email protected] Margarida Peres Fachini – Universidade Estadual de Maringá - [email protected] RESUMO: O trabalho consiste em avaliar as características da vegetação do Morro dos Três Irmãos e os impactos gerados com o turismo, já que a área é o único ponto turístico do município de Terra Rica-PR, nas coordenadas de 22º 44’ latitude Sul e 52º 35’ longitude Oeste-GR. A área constitui uma elevação isolada, com três picos e cujo ponto mais elevado está a 639 m acima do nível do mar e 149 metros acima do nível geral do planalto. Aspectos climáticos e pedológicos condicionam a permanência da formação de Savana em uma região cuja vegetação clímax é a Floresta Estacional Semidecidual Submontana e Montana. Segundo MAACK (1950, 1968) as savanas do estado do Paraná classificam-se como formações relictuais. O enfoque é geográfico (fitogeográfico), visando à análise da cobertura vegetal, quanto à sua estrutura, distribuição espacial das espécies vegetais e os impactos causados ao longo da trilha. Outro aspecto é sobre a percepção da paisagem, e as condições geográficas percebida pelos visitantes para exercer atividades como ciclismo, passeio ecológico, vôos livres de parapente. Procurou-se relacionar a percepção da natureza e o conceito de topofilia - local agradável - na linha da Geografia da percepção identificando as relações de topocídio - depredação. A valorização das savanas do morro dos Três Irmãos é visto como uma área que não constitui uma unidade de conservação, sofrendo com exploração turística e de lazer predatórias, sem levar em conta conservação da cobertura vegetal. Portanto, justifica-se um maior conhecimento sobre a fitogeografia paranaense e pelo uso e conservação da paisagem, com práticas turísticas sustentáveis. Palavras-chave: Turismo predatório, percepção da natureza, fitogeografia da vegetação ABSTRACT:The work consists of evaluating the characteristics of the vegetation of the Hill of the Three Siblings and the impacts generated with the tourism, since the area is the only tourist point of the municipal district of Terra Rica-PR, in the coordinates of 22nd 44 ' South latitude and 52nd 35 ' longitude West-GR. The area constitutes an isolated elevation, with three picks and whose higher point is 639 m above the sea level and 149 meters above the general level of the plateau. Climatic and pedologic aspects condition the permanence of the formation of Savanna in an area whose vegetation climax is the Seasonal Forest Semidecidual Submontana and Montana. According to MAACK (1950, 1968) the savannas of the state of Paraná are classified as formations relictuais. The focus is geographical (fitogeográfico), seeking to the analysis of the vegetable covering, as for his/her structure, space distribution of the vegetable species and the impacts caused along the trail. Another aspect is about the perception of the landscape, and the geographical conditions noticed by the visitors to exercise activities as cyclism, ecological walk, parapente hang-glidings. He/she tried to relate the perception of the nature and the topofilia concept - pleasant place - in the line of the Geography of the perception identifying the topocídio relationships - depredation. The valorization of the savannas of the hill of the Three Siblings is seen as an area that doesn't constitute a conservation unit, suffering with tourist exploration and of predatory leisure, without taking in bill conservation of the vegetable covering. Therefore, he/she is justified a larger knowledge on the fitogeografia paranaense and for the use and conservation of the landscape, with maintainable tourist practices. keywords - Predatory tourism, perception of the nature, fitogeografia of the vegetation 1.INTRODUÇÃO A atividade voltada ao levantamento fitogeográfico e identificação dos pontos de impactos causados pela prática do turismo na área, consiste em percorrer uma trilha que se inicia na base do morro Três Irmãos e alcança o topo do mesmo, observando-se a variação altitudinal das associações vegetais. A partir da elaboração do mapa representando a área correlata de pesquisa e coleta do morro Três Irmãos (fig. 01); fez-se a plotagem de vários pontos, das áreas onde apareciam espécies típicas do cerrado, com o uso do GPS, totalizando 36 pontos de coletas. Os mesmos representam o percurso ao longo da trilha, da base até o topo do morro. As espécies vegetais foram sendo coletadas ao longo da trilha, salientando que nos vários pontos, havia quantidades satisfatórias de espécies características do cerrado relictual, às vezes representadas por vários indivíduos. A área em estudo é um reduto deste bioma, também em transição com a floresta estacional que ainda se mantém na base do morro, porém com algumas espécies apresentadas em meio à vegetação do cerrado. Além das espécies típicas do cerrado, o morro Três Irmãos apresenta uma grande quantidade de cactáceas, de diferentes espécies, observadas no percurso da trilha. As cactáceas apresentam-se nos afloramentos rochosos do morro, não podendo estes afloramentos, ser encarados como stones lines de Ab’Sáber (2003), por serem pacotes maciços. O levantamento fitogeográfico indicou a composição e o arranjo espacial da cobertura vegetal, a presença de zonação altitudinal e as diversas adaptações fitoecológicas às condições do meio, que justificam a permanência dessa formação relictual de savana. 2. OBJETIVOS Objetivos: o trabalho consiste em uma atividade de levantamento fitogeográfico da trilha, com enfoque no turismo predatório, partindo da exploração de uma trilha em um encrave de vegetação relictual de savana/savana-estépica em um bioma cujo clímax atual é de floresta estacional semidecidual. 3. MATERIAIS E MÉTODOS O enfoque é geográfico (fitogeográfico), visando à análise da cobertura vegetal do local quanto à sua estrutura e à distribuição espacial das espécies vegetais ao longo da trilha. Fez-se a coleta e a herborização dos espécimes vegetais e a identificação das espécies (fig. 03 e 04) com base em bibliografia pertinente (FERRI, 1974, 1980; GOODLAND e FERRI, 1979; IBGE, 2004; LORENZI, 1992 e 2000; MAACK, 1981). Observou-se a variação altitudinal das associações, dependente das diferenças de temperatura, incidência dos ventos e luminosidade. Nessa atividade é valorizada a obtenção de registros de imagem, com a utilização de fotografias e de tomadas de vídeos. A trilha localizada no morro é um tanto íngreme, porém, pavimentado, possuindo uma largura de 3,80 metros e em alguns momentos apresenta-se com 5,80 metros; a vegetação é de floresta estacional semidecidual na base, dando lugar a uma vegetação de savana ou cerrado em direção ao topo. No percurso da trilha os turistas se deparam com uma vista encanta encantadora, podendo este conhecer o morro através de caminhadas ou ainda com carro/caminhonete, bicicletas. (figura 2). Procurou-se avaliar a percepção da natureza segundo os conceitos de topofilia e de topofobia/topocídio como entendidos por Tuan (1980): sendo a topofilia um sentimento positivo, uma forma de o indivíduo sentir o lugar visitado como agradável, passando a defendê-lo; já, a topofobia expressa à aversão ao lugar, que é tido como não agradável para seus freqüentadores, podendo ser degradado por não ter uma função clara aos seus usuários, constituindo esta ação o topocídio, ou seja, como esta é percebida pelos seus freqüentadores, já que a área em estudo é tida como ponto turístico, freqüentada por ciclistas, aficionados de parapente, de passeios ecológicos ou por simples lazer. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Tuan (1980) retrata aspectos que podem ser relacionados à paisagem, além da topofilia, como o conceito de topocídio: sendo o primeiro uma forma de expor seus sentimentos pelo local visitado, podendo voltar várias vezes por senti-lo como local agradável e até podendo passar a defendê-lo; já, o segundo, é tido como um lugar que não é agradável para seus freqüentadores, sendo degradado por não ter uma função clara aos seus usuários. As condições geográficas, segundo Filho (1999), determinam as atrações exercidas por um lugar turístico, gerando sentimentos topofílicos ou topocídicos para outros, já que em todas as paisagens há atos conservacionistas e atos de depredação. Machado (1999) faz uma relação entre a percepção da natureza e a topofilia de Tuan (1980), observando como está pode ser descrita e sentida pelos diversos pesquisadores e até mesmo pelas pessoas que passam a conhecê-la, percebê-la ou a senti-la a partir do momento em que há um contato direto com a mesma, expressando suas atitudes e seus valores. Observa-se ainda que grande parte dos visitantes fique livre para depositarem o que desejarem no Morro, pois este não conta com nenhuma estrutura que garanta a organização da área, ou seja, como cita Bley (1999) “a paisagem e que essa passa a ter um valor pessoal e sentimental, conferindo-se à mesma cor e forma; quanto melhor estruturada for uma paisagem que visa o turismo, melhores serão os cuidados e a dedicação de seus freqüentadores”. A vegetação apresenta em alguns momentos degradados, assim como se observam latas de alumínio (refrigerantes), papéis e no topo restos de cigarros, assim como de alimentos. O cerrado encontrado no Morro é caracterizado por sua formação florística e seus aspectos fisionômicos como: herbáceas, arbustos, árvores com flores vistosas e folhas coriáceas protegidas por pilosidade. As espécies coletadas e identificadas foram: 1. Fabaceae (Machaerium brasiliense – sapuva), 2. Combretaceae cf. (Terminalia sp), 3. Liliáceas (liana), 4. Ulmácea (Tema macranta - pau-de-pólvora), 5. Vochysiaceae, Melastomataceae (Clidemia bulbosa), 6. Vochysiaceae (Vochysia divergens - cambará), 7. Anacardiaceae (Anacardium humile - Cajueiro – do –mato), 8. Mimoseaceae (Anadenanthera macrocarpa – Angico) 9. Cactaceae (Cereus sp – mandacaru), 10. Indeterminada 11. Indeterminada, 12. Sapindaceae (Serjania caracasance), 13. Pteridófita (Gleichenia sp), 14. Indeterminada, 15. Asteraceae (Senecio brasiliensis - Maria – mole), 16. Melastomataceae (Mecônio albicanes (sw.) Tr.), 17. Anacardiaceae (Anacardium cf. humile caju-do-cerrado), 18. Mimosaceae (Calliandra brevipes – esponja), 19. Melastomataceae (Miconia sp), 20. Combretaceae (Terminalia brasiliensis Camb. - cerne-do-cerrado, 21. Fabaceae (Dalbergia brasiliensis - caroba-brava), 22. Malpighiaceae (Banisteriopsis pubipetala - cipó-de-pomba), 23. Bignoniaceae (Pyrostegia venusta - cipó-de-são-joão). Todas essas espécies encontradas ajudam a formar a paisagem do morro Três Irmãos, tornando o local muito mais agradável ao passeio turístico, dando uma sensação de tranqüilidade e harmonia à área e aos seus freqüentadores. 6. CONCLUSÕES A valorização da savana e da savana estépica do morro dos Três Irmãos é importante, visto que esta área ainda não constitui uma unidade de conservação, desenvolvendo-se nela, formas de exploração turística e de lazer bastante predatórias, sem que se tome nenhum cuidado com a conservação da cobertura vegetal nativa. Portanto, a pesquisa justifica-se pelo maior conhecimento sobre a fitogeografia paranaense e também pelo aprofundamento do conhecimento sobre as flutuações climáticas e sobre a permanência de vegetação relictual em áreas isoladas, além das atividades turísticas e da percepção da vegetação como uma atividade em constante desenvolvimento. Referências bibliográficas: AB'SÁBER, A. N. A organização natural das paisagens inter e subtropicais brasileiras. São Paulo: Instituto de Geografia – USP: (Série Geomorfologia, 41), 1973. FERREIRA, M. E. M. C. Vegetação do Paraná: uma abordagem biogeográfica. Anexo: Metodologias e técnicas de levantamento biogeográfico. Exemplar do Laboratório de Geografia Física/Departamento de Geografia. Maringá, Paraná: Universidade Estadual de Maringá, 2002. FERRI, M. G. Ecologia: temas e problemas brasileiros. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1974. GOODLAND, R. J. A. & FERRI, M. G. Ecologia do cerrado. 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Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo, Difel, 1980. Figura 1: Hipsometria – morro Três Irmãos – Terra Rica – PR e localização dos pontos de coleta ao longo da trilha principal Elaboração: PAULA, F. P. Figura 2: Trilha no morro Três Irmãos Foto: PAULA, P. F., 2007. Figura 3: Rubiaceae (Psychotria carthagenensis Jacq.) Foto: PAULA, F. P., 2007. Figura 4: Cactaceae (Cereus spp. – mandacaru) Foto: PAULA, P. F., 2007.