Pesquisas com células-tronco embrionárias As pesquisas com células-tronco adultas — existentes após o nascimento — trazem vantagens sobre as embrionárias. Estas, além de serem terapeuticamente ineficazes, utilizam métodos abortivos. O debate sobre o aspecto moral da ampliação legal do aborto no Brasil está envolto num clima de confusão. Ao mesmo tempo, começam a surgir os primeiros sinais de uma campanha visando a legalização da eutanásia. Falsos argumentos dos mais radicalmente contrários à moral católica têm, infelizmente, livre curso e contam com vultoso apoio de certos setores da sociedade. E metódica campanha de desinformação, abordando aspectos científicos do assunto, é promovida por meios de comunicação social. Intimamente ligadas à questão do aborto, em particular, e ao valor sagrado da vida, em geral, situam-se as pesquisas referentes às “células-tronco”, com finalidade terapêutica. A propaganda em torno do assunto tem sido muito grande. Nesse terreno, verifica-se verdadeira barafunda quanto à divulgação científica posta ao alcance de leigos no assunto. Para esclarecer a referida temática de grande importância para nossos leitores, entrevistamos abalizada especialista na matéria. Lílian Piñero Eça é doutora em Biologia Molecular pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP) e diretora científica do Centro de Atualização em Saúde (CAS), sediado na capital paulista. Embora as convicções da Profª. Dra. Lílian Piñero Eça encontrem fundamento nos princípios morais, ela quis apoiar seus argumentos somente na ciência que constitui sua especialidade, a Biomedicina. Os dados fornecidos pela entrevistada revelam quanto é deformada –– quando não silenciada –– a verdade científica no que diz respeito a um dos temas essenciais para a sobrevivência de nossa cultura e civilização de raízes cristãs. O ex-procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, tendo ouvido a argumentação de especialistas, entre os quais a Dra. Lílian Piñero Eça, protocolou no dia 30 de maio último, no Supremo Tribunal Federal, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra o artigo da Lei de Bio-segurança que permite pesquisas com células-tronco embrionárias, congeladas por pelo menos três anos em clínicas de fertilização in vitro, por atentarem contra a vida de um ser humano –– o embrião. A Profª. Dra. Lílian Piñero Eça recebeu amavelmente a reportagem de Catolicismo em seu escritório no Centro de Atualização em Saúde, em São Paulo. * * * Catolicismo — O que são as células-tronco, numa formulação sintética? Dra. Lílian Piñero Eça — As células-tronco embrionárias humanas (CTEH) são as existentes no blastocisto do embrião, estrutura formada após sete dias da fecundação, e são totipotentes, isto é, têm a capacidade de se transformar nos 256 tecidos do organismo humano. As células-tronco adultas (CTAH) são as células indiferenciadas existentes após o nascimento; por exemplo, as do cordão umbilical e as existentes nos vários tecidos humanos para a reposição das células mortas do nosso organismo. As células-tronco, especialmente as adultas, são objeto de intensas pesquisas hoje, pois podem funcionar como células substitutas em tecidos lesados ou doentes, como nos casos de Alzheimer, Parkinson e doenças neuromusculares em geral, ou ainda no lugar de células que o organismo deixa de produzir por alguma deficiência, como no caso de diabetes. Catolicismo — Quais as desvantagens e os perigos na utilização de célulastronco embrionárias com fins terapêuticos? Dra. Lílian Piñero Eça — A propósito da discussão referente à Lei de Bio-segurança recentemente aprovada, fui convocada a depor em comissão da Câmara dos Deputados pelo líder do governo, deputado petista Arlindo Chinaglia, participando de um debate com a articuladora da dita lei, Dra. Mayana Zatz. Apresentei as 12 principais razões pelas quais se deve recusar a utilização das células-tronco embrionárias, por serem nocivas e perigosas. Cada uma das razões que expus foram apoiadas com a apresentação de comunicações científicas. A posição contrária não fez o mesmo. Mencionemos alguns dos perigos da utilização de CTEH: Primeira razão: os partidários das CTEH alegam que elas curam doenças. Isso é falso. As CTEH até o presente momento não curaram nenhuma moléstia. Segunda: tais células tendem a produzir tumores, chamados teratomas. São tumores embrionários que formam vários tecidos de forma desordenada, como unhas, cabelos e outros. Na China, por exemplo, a utilização dessas CTEH produziu graves acidentes: injetadas no cérebro de parkinsonianos, começaram a produzir unhas, cabelos, dentes... Terceira: esses teratomas facilmente transformam-se em tumores cancerosos, dos mais malignos que existem. Quarta: as células-tronco embrionárias são muito inadequadas para fins de pesquisa, pois, quando congelados os embriões (a menos 193º), eles se “metilam”, isto é, “silenciam” o gene a ser estudado. Quinta: diz-se que existem no Brasil 30.000 embriões congelados prontos para pesquisa. Isso é falso. Existem apenas 3.219 embriões congelados. Quando forem descongelados, 40% deles morrerão. Restariam assim 1.600 embriões. Desses, ainda seria necessário descontar aqueles cujos pais recusarão que sejam utilizados para pesquisa. Restariam uns 1.000 embriões? Isso significa, no máximo, o número suficiente para um ano de pesquisas. O que será feito quando esses 1.000 acabarem? Onde encontrarão novos embriões? Pretende-se produzir novos, com fins de pesquisa, violando a lei? Sexta: acho mais grave o fato de que, para cultivar essas células embrionárias, é necessário fazê-lo sobre uma “cama” de células feitas de lâminas de fetos vivos de qualquer idade, que são vendidos em dólares, nos EUA. Estas não podem ser de rato, como se afirma, porque as proteínas desses animais contaminarão as células humanas, e isso é muito perigoso. Sétima: a rejeição é outro dos inconvenientes. Ela ocorre porque o DNA do enxerto é diferente do DNA do receptor. Oitava: o blastocisto tem 100 células. Para fazer um tratamento, por exemplo, de uma cardiopatia, é necessário um milhão de células por mililitro. Sendo indispensáveis uns quarenta mililitros para injetar no paciente, esse volume conterá 40 milhões de CTEH. Logo, isso exigiria uns 400.000 embriões! Catolicismo — Qual a conclusão que se tiraria, então? Dra. Lílian Piñero Eça — Atualmente, não há uma saída científica para as células-tronco embrionárias. Catolicismo — A Sra. foi à luta para quebrar o silêncio por parte dos meios de comunicação sobre as vantagens da pesquisa com CTAH e os perigos que apresenta a utilização das CTEH? Dra. Lílian Piñero Eça — Sim, pois os partidários da lei tentam transmitir ao público a idéia de que seria só aprovar a lei, que as pessoas já estariam, no dia seguinte, deixando a cadeira de rodas. A mídia efetua uma manipulação da opinião pública, criando falsas esperanças em relação às pesquisas com células-tronco embrionárias. Catolicismo — E os tratamentos com células-tronco adultas têm obtido bons resultados? Dra. Lílian Piñero Eça — Com as células-tronco adultas, já se têm alcançado resultados muito positivos no tratamento de cardiopatias graves, Parkinson, diabetes infantil, certas doenças imunológicas. As células-tronco adultas têm um gene, chamado “Oct 4”, que é uma espécie de “chave molecular”. Colocado em um meio adequado, consegue-se desativálo, e as células-tronco adultas passam a comportar-se como se fossem células-tronco embrionárias, sem apresentar os seus inconvenientes. Ademais, sua manipulação é muito mais simples no laboratório. E, sobretudo, a utilização das células-tronco adultas não exige a destruição da vida de um novo ser, que é o embrião. Isso significa que não há necessidade de recorrer ao “mercado negro” da vida (nos EUA, paga-se cerca de 400 dólares por um óvulo feminino), nem de ativar o “mercado negro” do aborto, legalizando-o. Existem certas proteínas, chamadas “sinais” das células, que criam o ambiente favorável ao desenvolvimento ou não das enfermidades. Tais proteínas devem ser estudadas, e no futuro a chave das pesquisas terapêuticas não serão sequer as CTAH, mas essas proteínas, os “sinais celulares”. As células-tronco serão um meio para se poder estudar quais são esses fatores. Sendo eles descobertos, não será mais preciso utilizar sequer as CTAH do próprio paciente. Talvez até seja possível industrializá-los, e então injetá-los diretamente na pessoa doente, evitando-se assim o sempre complicado processo de obtenção, ativação e desenvolvimento das CTAH. Catolicismo — Haverá outros motivos menos manifestos aos olhos da opinião pública, na insistência em estudar as células-tronco embrionárias? Dra. Lílian Piñero Eça — Com efeito, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Humberto Costa, declarou — logo após o projeto de lei ter sido sancionado pelo presidente Lula, em 24 de março de 2005 — que a Lei de Bio-Segurança é o primeiro passo. O segundo deverá ser a clonagem terapêutica, que é uma fonte de muitos lucros. Depois será o aborto, e o quarto passo a aprovação da eutanásia. Os defensores desse processo perfilham uma “linha da morte”, e não da cura, como pretendem fazer crer. www.catolicismo.com.br