Características do indivíduo hipertenso

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J. Bras. Nefrol. 1995; 17(1): 13-20
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Características do indivíduo hipertenso
Paula Iamac Nomura, Luis Alberto Renjel Prudencio, Osvaldo Kohlmann Jr.
Nesta revisão procuramos os diferentes conceitos e teorias a respeito da personalidade do paciente hipertenso. Foi feito uma análise dos estudos realizados nos últimos 5 anos, além de alguns artigos publicados anteriormente a 1988. Estes estudos examinaram a relação entre os traços da personalidade, sexo, comunicação, stress, catecolaminas, resistência ao tratamento
farmacológico e até religião com a pressão arterial. Resumidamente o indivíduo hipertenso possui características específicas da personalidade como: hostilidade, agressividade, dificuldade em
lidar com as emoções, introspecção e outros mecanismos de defesa analisados na revisão. Finalmente, reunimos um conjunto de recomendações para auxiliar o tratamento e melhorar qualidade de vida do paciente hipertenso.
Disciplina de Nefrologia da Escola Paulista de Medicina.
Endereço para correspondência: Paula Iamac Nomura
Rua Jaceguai, 465 - apto 1801
01315-010 - Bela Vista - São Paulo
Hipertensão arterial, personalidade, ansiedade, qualidade de vida
Arterial hypertension, personality, anxiety, quality of life
Sabemos que a hipertensão arterial é um dos mais
importantes problemas de Saúde Pública em todo o
mundo e se apresenta como uma das principais causas
de óbito por doenças cardiovasculares, atingindo aproximadamente 15% da população adulta. 1
Desde o começo do século vem se tentando relacionar características específicas da personalidade e hipertensão arterial.
Em 1919, pesquisadores começaram a relatar estilos de personalidade distintos e propuseram uma associação com a doença. 2
Franz Alexander, em 1939, levantou a hipótese de
que hipertensão arterial poderia ser o resultado da inibição e inabilidade para lidar com sentimentos, como
por exemplo, a raiva. Desde então, inúmeros pesquisadores deram ênfase nesta área procurando uma resposta. 3
Vários pesquisadores verificaram uma forte sugestão de que os indivíduos hipertensos apresentavam
como características de personalidade a hostilidade e a
agressividade. Tais sentimentos deveriam ser devido a
incapacidade de lidar com os impulsos e como expressá-los reforçando assim a hipótese de Alexander
em 1939.
Porém estes achados não foram livres de críticas;
outros pesquisadores argumentaram que os achados
são conseqüência da exposição do diagnóstico ao indivíduo hipertenso. Alegam que caracterizar o paciente
como hipertenso pode desencadear vários sintomas
como depressão, desmotivação para o trabalho, diminuição do bem-estar físico e mental.4,5 Aparentemente,
o diagnóstico “ser hipertenso” tem um aspecto mais
negativo para o paciente saber ser do que para aquele
que desconhece ter a doença.
No presente artigo fizemos uma revisão dos textos
publicados dos últimos cinco anos abordando estes
aspectos, sendo também levantados e analisados alguns artigos publicados, anteriormente a 1988, como
complementares a este estudo.
Tr a ç o s d a p e r s o n a l i d a d e e
hipertensão arterial
A associação entre hipertensão arterial e hostilidade com impulsos agressivos foram registrados em diversos trabalhos.
Em um estudo com 165 pacientes hipertensos e
152 normotensos submetidos a vários questionários
como Eysenck Personality Inventory (EPI), Zung
Anxiety Scale (SAS), Beck Depression Inventor y (BDI)
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foi observado uma diferença significante entre os indivíduos hipertensos e normotensos. Os pacientes com
hipertensão arterial apresentaram altos graus de “neuroticismo”, ansiedade e depressão. 6
No questionário EPI os indivíduos hipertensos tiveram um aumento significante dos traços de “neuroticismo”. No SAS o nível de ansiedade total, subescala
cognitiva e vegetativa foram mais elevadas nos hipertensos. No questionário BDI houve um aumento significante nos escores dos indivíduos hipertensos quando
comparados com os indivíduos do grupo controle. As
subescalas analisadas foram: motivação, desilusão, sintomas físicos.
Um índice global de angústia sintomática foi obtida pelo The Symptom Checklist 90 (revisão) (SCL-90R). As subescalas significantemente mais altas nos
hipertensos foram: somatização, atitudes obscessivascompulsivas, susceptibilidade interpessoal, ansiedade,
raiva, ansiedade fóbica e psicoticismo. Todos os achados verificaram diferenças significantes entre indivíduos hipertensos e normotensos. (Nenhum dos indivíduos estudados apresentava psicopatologia clinicamente importante).
Van der Ploeg e col. realizaram um estudo utilizando dois questionários alemães (The State-Trait Anger
Scale e The State-Trait Anxiety Inventor y) em pacientes
hipertensos e em um grupo controle. Foram analisados
para o trabalho 130 pacientes com hipertensão arterial,
a maioria sob controle da pressão arterial por muitos
anos e todos os pacientes conheciam o seu diagnóstico. Foi obtida uma diferença estatisticamente significante entre os indivíduos hipertensos e os controles. Os hipertensos apresentaram maiores índices na
ansiedade-expressa e nos traços de ansiedade quando
comparados com os controles. 7 No grupo dos homens,
tanto no grupo da raiva-expressa quanto no grupo de
traços de raiva foi encontrado um valor significantemente maior nos hipertensos que nos normotensos.
No grupo de raiva-expressa os hipertensos relatam ser
“mais bravos” quando comparados com o grupo controle. No grupo de traços de raiva os hipertensos relatam ser mais facilmente irritáveis.
Irvine em seu trabalho sugeriu que tipos de personalidade não são fundamentais para caracterizar o hipertenso, mas refletem a influência de exposição à
atenção médica ou conhecimento do status da hipertensão. 8 Neste estudo foram selecionados 80 indivíduos sabidamente hipertensos entre homens e mulheres e 82 indivíduos portadores de hipertensão arterial
que não tinham conhecimento da doença. O grupo
sabidamente hipertenso apresentou maior prevalência
de hipertensão na família do que o grupo dos que não
sabiam apresentar hipertensão arterial. A diferença parece refletir que o conhecimento do status hipertensivo dos membros da família entre os sabidamente hipertensos leva a uma maior prevalência de hipertensão
- 90% dos sabidamente hipertensos e 74% dos que não
sabiam ser hipertensos. O resultado do trabalho não
mostrou diferença entre as personalidades entre indivíduos hipertensos que não sabiam ter a doença comparado aos normotensos. Irvine com este resultado sugeriu que não há uma personalidade específica para o
hipertenso. Em contraste, diferenças foram encontradas
em certos parâmetros da personalidade nos indivíduos
que sabiam ser hipertensos. O grupo dos indivíduos
com conhecimento da doença apresentou valores significantemente maiores em “neuroticismo” e ansiedade.
Neste trabalho, Irvine concluiu que os resultados obtidos pode ser devido ao conhecimento do diagnóstico;
ser “classificado” como um indivíduo hipertenso ou,
alternativamente, pode refletir somente um subgrupo
de hipertensos que necessitem de maior atenção médica. Se os resultados deste estudo refletem os efeitos
devido a caracterização em saber ser hipertenso, eles
indicam que estes efeitos possam ser profundos, atuando no seu status de saúde e função, assim como de seu
próprio conceito, como sendo uma personalidade estereotipada.
Moum e col. em seu trabalho observaram que indivíduos hipertensos, sendo submetidos a tratamento e
controle de suas pressões sangüíneas relatam maior
angústia psicológica entre os sabidamente hipertensos
que os normotensos. 9
Milne e col. obtiveram resultados semelhantes ao
trabalho realizado por Moum. O diagnóstico de hipertensão parece ter um significado desfavorável sobre o bem-estar psicológico do paciente. Pacientes
sabidamente hipertensos e sob tratamento referem
menor bem-estar psicológico do que aqueles indivíduos que não estão sob tratamento e desconhecem
apresentar a doença. Os resultados deste estudo sugerem que os indivíduos sob tratamento têm pior
percepção de seu estado de saúde e se aborrecem
mais com sua própria saúde que os indivíduos
nor motensos da mesma idade e sexo. Estes indivíduos são levados a se isolarem indevidamente de seu
meio social, recreacional e de suas atividades
ocupacionais. Eles também sugerem que no tratamento da hipertensão deva ser levado em consideração a
relação custo-benefício, particular mente naqueles indivíduos com hipertensão arterial leve, os quais parecem ter um benefício quase modesto. 10
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Cumes e col. perceberam em seu trabalho que os
indivíduos hipertensos relatam: não ocorrência de
eventos significantes em suas vidas, inabilidade para
novas experiências ou expressar sentimentos, possivelmente, como resultado de uma disfunção como a alexitimia (minimização perceptual onde um evento relativamente importante foi “amenizado” ou “esquecido”). Em relação à teoria da personalidade, uma associação entre os baixos relatos de acontecimentos e a
inabilidade em lidar com os sentimentos talvez seja a
ocorrência de repressão, pois negar uma situação pode
implicar numa preferência em não descobrir o que
está se passando. Então a chamada qualidade para a
alexitimia associada com hipertensão arterial pode ser
devido a preferência do indivíduo em não lidar com
informações que o incomodam. Assim, estas informações reprimidas se manifestariam somaticamente, da
seguinte forma: os indivíduos mais predispostos desenvolveriam hipertensão, enquanto, em outras pessoas talvez se desenvolva outro tipo de doença. 11
Sexo e hipertensão arterial
Ribeiro e Ribeiro estudaram 5000 indivíduos, na cidade de São Paulo, e verificaram que a prevalência de
hipertensão nos homens é quase três vezes maior que
nas mulheres, sendo esta diferença significante até aos
44 anos de idade. 12
Gary e col. realizaram um trabalho onde a proposta era a de examinar experiências de vidas descritas
durante o dia e seus efeitos na pressão sangüínea de
homens e mulheres. 13 Os resultados mostraram diferenças entre homens e mulheres. Foi relatado que nos
homens a pressão arterial tende a subir quando estes
estão submetidos a sentimentos como a raiva, nas mulheres a pressão arterial tende a aumentar na ansiedade. A diferença de respostas entre homens e mulheres
pode ser devida a alterações hormonais. Durante experiências emocionais, as respostas fisiológicas nas
mulheres incluem mudanças hormonais que podem
ser influenciadas pelo ciclo menstrual. Uma explicação
alternativa para a diferença entre homens e mulheres
talvez seja a diferença da socialização. Relatar e mostrar ansiedade é mais socialmente aceitável às mulheres do que demonstrar raiva e agressividade. Já em relação aos homens parece ser mais apropriado mostrar
raiva e agressividade. Estes fatores culturais provavelmente interagem com outras variáveis dos padrões psicológicos influenciando assim na pressão sangüínea.
Carmelli e col. realizaram um trabalho utilizando
uma subamostra de 543 casais (marido e mulher) de
uma ampla amostra de famílias em Utah, que foram
inicialmente selecionadas para um estudo determinante de fatores ambientais e genéticos para hipertensão. Foram excluídos os indivíduos sob medicação
e de maiores fatores de risco para hipertensão arterial.
A idade variou entre 21 a 83 anos e a maioria era de
origem caucasiana. A superfície corpórea e idade estavam significantemente relacionados com as pressões
sistólica e diastólica dos maridos. Para os maridos o
baixo nível de escolaridade estava relacionado com
elevação da pressão sistólica. Os autores verificaram
em seu estudo que as pressões sistólica e diastólica
foram menores nas esposas que nos maridos. Maridos
geralmente são mais velhos e com maior grau de escolaridade. As mulheres relatam excesso de trabalho,
mais tensão e mais depressão que os maridos. Os maridos relatam mais competitividade e impaciência. As
características das esposas associadas com elevação da
pressão sistólica incluia: relato de excesso de trabalho,
sentimento de depressão e ter no lar a função de
apoio social. 14
A comunicação e a hipertensão
arterial
Lynch e col. relacionaram o ato de falar, o aumento da pressão sangüínea e dos batimentos cardíacos.
Uma correlação positiva foi encontrada entre a pressão
basal e a magnitude do aumento da pressão quando o
indivíduo está falando. Estes achados sugerem um elo
entre comunicação humana e controle da pressão arterial. Neste estudo todas as pessoas foram examinadas
individualmente e suas pressões sangüíneas foram repetidamente medidas entre períodos de silêncio e períodos de discussão. A pressão sangüínea e os batimentos cardíacos eram determinados pelo monitor
Dinamap, minuto a minuto. A pessoa permaneceu sentada e quieta por 2 a 5 minutos e então começava a
falar. No caso de crianças, estas liam em voz alta por 2
a 3 minutos. As pesquisas foram realizadas em quatro
locais: num laboratório clínico, num consultório médico, numa sala de aula, e no caso de ser criança, na
casa de um dos investigadores. Lynch verificou aumento da pressão sangüínea e dos batimentos cardíacos quando os indivíduos estavam falando, em qualquer lugar, independentemente do local, da idade ou
de ser hipertenso ou normotenso. 15
Friedmann e col. confirmam os achados de Lynch.
Em seu trabalho também verificaram o aumento da
pressão sangüínea e dos batimentos cardíacos durante
a verbalização. 16
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Em outro estudo Friedmann verificou o efeito de
presença de um animal amigável sobre a pressão
sangüínea e os batimentos cardíacos de crianças enquanto descansam e quando eram submetidas a verbalização. Os cachorros de pequeno a médio porte
eram animais de estimação dos colegas dos pesquisadores e foram recrutados devido ao caráter dócil e
amigável. Nenhuma tentativa foi feita para relacionar
as crianças e os animais, previamente ao estudo. A
presença do cachorro na sala resultou em menores
pressões sangüíneas nas crianças que descansavam e
nas que estavam lendo. A leitura afetou todos os
parâmetros da pressão sangüínea (PAM, PS, PS) e dos
batimentos cardíacos com aumento significante. Há
evidências psicológicas que a presença de um cachorro pode diminuir a ansiedade ou definir o local como
sendo menos hostil. Em resumo, Friedmann obser vou
que a presença de um animal reduzia a elevação da
pressão sangüínea durante a leitura ou o descanso,
sugerindo que pode haver a redução da ansiedade na
presença de um “animal de estimação”. 17
O estresse e a hiper tensão ar terial
A maioria dos pesquisadores acredita que o
estresse possa ser um dos mecanismos que contribua
para sua ocorrência, principalmente em associação
com outros fatores de risco. Quando o estresse se associa a fatores de risco da hipertensão arterial como
dieta hipersódica, raça, história familiar de hipertensão, variáveis sócio-econômica-culturais e a incapacidade em se adaptar ao estresse, seus efeitos sobre a
pressão arterial se tornam mais evidentes.
A história familiar de hipertensão arterial tem sido
avaliada em situações de estresse. Adolescentes normotensos, filhos de pais hipertensos, submetidos ao estresse provocado por exercícios matemáticos e competição em jogos eletrônicos apresentam maior aumento
da pressão arterial e da freqüência cardíaca, quando
comparados aos controles também normotensos porém sem antecedentes familiares de hipertensão arterial. Miller e col. sugerem que pode haver um distúrbio da regulação do sistema ner voso simpático em jovens normotensos com história familiar de hipertensão
arterial. 18
A importância dos fatores sócio-culturais, bem
como a reatividade individual frente ao estresse, tem
sido analisada em alguns estudos epidemiológicos.
Nos EUA, em um estudo realizado entre operários de
uma mesma fábrica, constatou-se que aqueles que se
encontravam insatisfeitos com a função exercida, ou
não anteviam melhores perspectivas no trabalho, apresentavam maior prevalência de hipertensão arterial. 19
A participação de fatores culturais na indução de
hipertensão arterial foi também evidenciada em membros de tribos africanas e neozelandesas que emigraram para o meio urbano. Esses indivíduos apresentaram maior prevalência de hipertensão do que aqueles
que per maneceram em seu local de origem. Não
obstante a mudança de hábitos alimentares possa representar um fator importante no aparecimento de hipertensão arterial nessa população, o conflito cultural
pode ser um componente importante, com participação ativa no desenvolvimento e manutenção dos
maiores níveis tensionais observados. Os migrantes japoneses para os EUA não apresentam maior predisposição à hipertensão arterial, entretanto eles mostraram aumento sérico do colesterol e grande aumento
na prevalência de doenças coronarianas quando comparados com os japoneses em sua terra natal. As mudanças do sistema cárdiovascular depois da migração
pode refletir a dieta ou exercícios na urbanização,
como descritos acima para a tribo africana e os neozelandeses. 20
Mann e col. comentaram também que a urbanização da sociedade tem sido responsável pela falência
de grupos protegidos em seu meio rural e sociedades
primitivas. A urbanização com uso de moradias pequenas e lotadas, o baixo nível econômico urbano (com
isso levando a um aumento da criminalidade), a migração aos grandes centros promovendo excesso de
contigente populacional e, consequentemente a falta
de emprego para todos, são fatores que contribuem
para a elevação do nível de estresse 21 .
A indução de estresse em animais de laboratório
tem possibilitado alguns avanços da fisiopatogenia da
hipertensão arterial. Os modelos mais utilizados com
esse objetivo são: choque elétrico aplicado nas patas,
restrição do movimento, privação do sono paradoxal,
natação em água fria e conflito, no qual o animal recebe uma descarga elétrica ao tentar se alimentar ou beber água. Além destes, existe o estresse psicossocial,
cujo principal representante é aquele induzido pela
agregação social. Nesta modalidade de estresse colocam-se vários animais em um sistema de caixas
intercomunicantes, onde a alimentação e a água são
depositadas no centro do sistema. Com esse procedimento, os animais são obrigados a estabelecer uma relação de dominância-subordinação ao compartilhar os
alimentos. 22
Quando se associam fatores como a predisposição
genética, parece haver potencialização e aumento de
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duração do efeito hipertensor do estresse. Isto foi demonstrado por Lawler e col., em ratos de pai nor motenso e com mãe hipertensa (ratos boderline = BHR),
submetidos ao conflito por choque elétrico. Estes animais permaneceram hipertensos por várias semanas
após a suspensão do procedimento. 23
Outros autores demonstraram que ratos Dahl sensíveis ao sal apresentavam maior aumento da pressão
arterial quando submetidos ao estresse induzido pelo
conflito por choque elétrico associado a privação de
alimentos. Neste trabalho foi constatado que alguns
animais permaneceram hipertensos por um período de
13 semanas após o término do procedimento. 24
Além da carga genética, outro fator que pode
potencializar a ação hipertensora do estresse é o sal. À
semelhança do que ocorre em humanos, a dieta rica
em sal potencializa a resposta pressórica ao estresse
em cães.
Assim, tanto do ponto de vista clínico como do experimental parece que o estresse é capaz de causar hipertensão arterial e que, em condições especiais, esta
elevação da pressão arterial pode ser mais intensa ou
persistir mesmo após a descontinuação do estímulo.
Uma possiblidade melhor estudada é a hiperatividade do sistema nervoso simpático. Diversos são os
trabalhos demonstrando o aumento da atividade simpática como causa de hipertensão arterial verificada
em situação de estresse. A participação do sistema nervoso simpático na indução e manutenção da hipertensão arterial pode ser avaliada, entre outras maneiras,
pela medida direta da velocidade de condução nervosa (atividade do ner vo simpático); pela realização do
bloqueio farmacológico e pela dosagem de catecolaminas plasmáticas. Melamed realizou um trabalho
com indivíduos que participavam de estudos para fatores de risco para doenças cárdiovasculares. Estas pessoas foram submetidas a uma escala de reatividade
emocional. A escala apresentava uma séries de situações e o indivíduo respondia de acordo com sua vontade. Concluiu que pessoas que apresentavam uma
hiper-reatividade emocional à estímulos estresseantes,
apresentavam também magnitude e duração da reação
cardiovascular maior que os indivíduos controles. 25
Catecolaminas e hipertensão arterial
Netter e col. relacionaram níveis de catecolaminas
plasmáticas com os tipos e graus de agressividade entre os indivíduos hipertensos e normotensos. Os
indivíduos foram divididos de acordo com os graus
(alto e baixo) e tipos (reprimidos e manifestos) de
agressividade de acordo com os questionários empregados (State-Trait Anxiety Inventor y e Freiburg Personality
Inventory). As catecolaminas plasmáticas foram determinadas pelo método fluorimétrico descrito por Renzini
e col. Foi observado que agressividade reprimida é
associada com alto índice de adrenalina nos indivíduos hipertensos mais agressivos quando comparados
com o grupo menos agressivo. Seu estudo sustentou a
hipótese de que hostilidade reprimida é mais freqüente em hipertensos que em normotensos. Agressividade
reprimida como uma característica do hipertenso é
predominante em homens. Em seu trabalho, Netter encontrou uma relação direta entre níveis de catecolaminas e agressividade havendo principalmente, aumento da adrenalina plasmática. Seus resultados, entretanto, não evidenciaram se a agressão reprimida é
mais importante que a agressão expressa para a resposta fisiológica em relação a elevação pressórica. 26
É conhecido que vários tipos de estímulo psicossociais podem influenciar os níveis de catecolaminas,
mas não se sabe a relação exata entre o tipo de estímulo e os padrões de resposta do organismo. Mais
recentemente, observou-se que a ansiedade induzida
em pacientes fóbicos desencadeava excreção de
catecolaminas independentemente da dor ou atividade
muscular. Alguns estudos sugerem que a adrenalina
está mais associada com o medo e a ansiedade enquanto a noradrenalina, com a agressão. Starkman e
col. estudaram a correlação de adrenalina e noradrenalina no plasma e urina em três grupos de pacientes:
pacientes com feocromocitoma; pacientes hipertensos
com elevado nível de catecolaminas mas sem feocromocitoma, e pacientes com síndrome do pânico. O
grupo de pacientes hipertensos com níveis de catecolaminas elevadas inicialmente era um grupo de indivíduos com suspeita de feocromocitoma, mas posterior mente foi verificado que estes não apresentavam o
tumor. As catecolaminas elevadas perifericamente nestes pacientes resultavam não de um tumor e sim de
hiperatividade do sistema nervoso simpático que estimula a medula adrenal, presumivelmente abaixo do
controle do sistema nervoso central. Este grupo foi
considerado interessante porque os altos níveis de
catecolaminas e a larga variação de valores entre os
indivíduos pode relacionar a associação de sintomas
como ansiedade devido à hiperatividade simpática. Ao
contrário dos pacientes com feocromocitoma, nos pacientes sem tumor foi relatado que sintomas de ansiedade correlacionavam-se com os níveis de noradrenalina encontrados no plasma. O padrão de corre-
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lação observado em pacientes sem feocrocitoma sugere a hipótese de que a origem da ansiedade pode estar
ligada à estimulação do sistema nervoso simpático.
Talvez os níveis de noradrenalina plasmáticos não sejam tão fidedignos em relação ao estímulo. Mas, pelo
menos em parte, podem-se dar uma forte idéia de
como está o estímulo central. Em pacientes sem feocromocitoma, a excreção de adrenalina na urina correlacionava-se inversamente com as manifestações
cognitivas de ansiedade. Desta forma, os pacientes
hipertensos, em que anteriormente havia a suspeita de
feocromocitoma, mas que era negativa a presença do
tumor, podem representar uma população com padrão
específico de catecolaminas como resposta a estímulos
estressantes que levam à ansiedade. Estes pacientes
podem representar parte da população de hipertensos
que responde a certas condições de estresse e ansiedade com elevação da noradrenalina e responsividade
do sistema vascular. Há, entretanto, controvérsias, se
existe indivíduos hipertensos responsivos ao estresse
com hiperatividade simpática e níveis elevados de
catecolaminas. 27
Rosenman relata que uma resposta expressa na
forma de raiva, assim como de medo e ansiedade, leva
a maior número de batimentos cardíacos e aumento da
pressão sangüínea diastólica devido à vasoconstricção
periférica. Foi verificado que filhos de pais hipertensos
têm um risco maior para desenvolver hipertensão e
apresentam pressão sangüínea e aumento dos batimentos cardíacos mais responsíveis ao estresse. Muitos
indivíduos hipertensos têm dificuldade em expressar
agressão, hostilidade e raiva. Eles internalizam emoções que podem evocar respostas cardiovasculares
prolongadas como meio de liberar sua raiva. Indivíduos hipertensos têm freqüentemente dificuldade em
manipular seus sentimentos levando a um aumento da
linha de base da pressão sangüínea e conseqüentemente aumento da incidência de hipertensão. Na verdade, a personalidade do indivíduo hipertenso parece
envolver uma fuga, um tipo de defesa que apresenta
adaptação, com sucesso, à situações estressantes.
Rosenman também verificou que indivíduos hostis,
agressivos excretam mais noradrenalina comparado
com as pessoas passivas ou ansiosas. 28,29
O paciente resistente ao tratamento
farmacológico da hipertensão
Isaksson e col. em seu trabalho mostram que indivíduos refratários (pouco aderentes) ao tratamento
tendem a ser aqueles que moram sozinhos e têm uma
maior massa corpórea quando comparado ao grupo
controle. Mas, este achado não foi significante. Uma
tendência uniforme do grupo foi a de ter grande dificuldade em lidar com as emoções, criando uma distância com os sentimentos, além de tentar abafá-los. Relatam menor intensidade e não conseguem explicar os
sentimentos que sentem. Não conseguem instrumentalizar ou viver de forma equilibrada com suas emoções. Parece que um pior “status” econômico também
predispõe o indivíduo a um maior risco para desenvolver hipertensão arterial, pois este trabalha como um
subordinado, tem baixo salário levando assim a uma
vida cheia de estresse. Isaksson em seu trabalho relata
que os indivíduos resistentes ao tratamento farmacológico da hipertensão referem poucos eventos
positivos em suas vidas, têm uma pobre diferenciação
emocional, apresentam dificuldades em lidar com os
sentimentos, principalmente a raiva, tendem a ter grande distância entre os momentos de divertimentos ou
distrações, são indivíduos que apresentam uma vida
social pobre, sem relações muito íntimas e emocionais,
são pessoas de baixo nível sócio-econômico e geralmente são pessoas de baixa escolaridade que ocupam
cargos no trabalho que não exigem estudo. 30, 31
A religião e a hiper tensão ar terial
Um trabalho realizado em Israel mostrou o efeito
protetor da religião. Foi verificado que homens judeus
de Jerusalém com 5 ou mais anos de Yeshiva (educação religiosa judia), apresentavam uma menor pressão
diastólica que os homens com menor grau de instrução. Os adventistas por apresentarem condições de
vida saudável, tais como, dieta vegetariana, não consumir álcool, não ter o hábito de fumar, boa higiene e
realizar exercícios, são indivíduos com baixo risco a
desenvolver hipertensão arterial. Foi relatado que certos grupos religiosos são predispostos à hipertensão
arterial e outros não. Talvez a predisposição relatada
tenha uma relação com a hereditariedade da doença,
já que certas religiões são muito fechadas e acabam
promovendo casamentos dentro da própria comunidade religiosa. Membros religiosos e participantes têm
uma vida psicossocial mais saudável e mais saúde,
pois os ritos religiosos com o público ou mesmo os ritos privados produzem uma maior relação com as pessoas, o que isto leva a uma diminuição da ansiedade,
tensão, agressividade. Estas pessoas ficam menos tempo sozinhas e apresentam uma maior interação com o
seu meio e com a sua gente. 32
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Comentários
Conclusão
Nesta revisão percebemos que o indivíduo hipertenso pode ser uma pessoa introspectiva, com dificuldade em lidar com as próprias emoções. É discutível,
entretanto, se tais características foram os fatores
predisponentes para o desenvolvimento da hipertensão arterial ou se, com o diagnóstico, o indivíduo veio
a apresentar tais comportamentos.
Cabe lembrar que para tais pacientes, mais do que
nunca, é necessário ter uma boa relação médico-paciente. Durante a anamnese inicial e nas consultas subsequentes o médico deve utilizar parte da entrevista
para tentar formar uma idéia do paciente e descobrir o
tipo de pessoa que ele é e como é a sua vida social e
familiar. Ao mesmo tempo que faz isto, delimita a história da doença e o ambiente psicossocial do paciente até
onde for necessário para a compreensão da moléstia. 33
A anamnese deve obter uma história rica, de tudo
que foi prescrito e todos os medicamentos utilizados
pelo paciente. Algumas medicações podem aumentar a
pressão sangüínea e/ou interferir com a eficácia das
drogas anti-hipertensivas. Estas drogas incluem, mas
não se limitam somente a anticoncepcionais orais,
anti-inflamatórios hormonais e não-hormonais, descongestionantes nasais, inibidores do apetite, ciclosporina, eritropoietina, antidepressivos tricíclicos e
inibidores da monoaminooxidase. 34
Deve-se ficar atento quanto a possíveis efeitos colaterais das drogas anti-hipertensivas como impotência,
depressão, fraqueza, etc que podem piorar a qualidade
de vida do paciente hipertenso. 35
Educar o paciente sobre a sua doença e a forma
de tratamento pode aumentar a aderência à terapia.
Explicar o diagnóstico, dispor-se a esclarecer o paciente sobre tudo que cerca a doença e o tratamento, inclusive corrigindo conceitos errôneos sobre a doença,
enfatizar a necessidade de tratamento contínuo mesmo
que “sinta” que a pressão não está elevada.
Individualizar regimes: Inclua o paciente na decisão de fazer ou não regime, simplifique o regime, incorpore a dieta ao estilo de vida do paciente, explique
objetivamente quais são os objetivos do tratamento.
Encorage discussões e perguntas para esclarecimento da doença.
Minimize o custo da terapia.
Programas comunitários podem ser uma importante estratégia para a prevenção primária da hipertensão
arterial e controle da progressão da doença, assim
como promover maior aderência de indivíduos hipertensos à terapia.
Com o levantamento e a análise dos artigos estudados verificamos que o indivíduo hipertenso pode
possuir características peculiares como hostilidade, ansiedade, agressividade, dificuldade em lidar com as
emoções, introspecção, etc.
Os fatores sócio-econômicos são importantes variáveis que predispoem ao desenvolvimento da hipertensão, assim como a história familiar e o estresse
cotidiano.
O médico que lida habitualmente com estes pacientes deve estar informado sobre estas características
e, principalmente, dispor-se a auxiliá-los no seu meio
social e familiar procurando formas de educá-lo para
reduzir os fatores de risco, incluindo o estresse.
Summary
This paper deals with the different concepts and
theories related to personality of patients presenting
hypertension.
We reviewed papers regarding to this issue published in the last five years and also some select papers published before 1988. These papers dealed with
the relationships between arterial blood pressure and
personality peculiarities, sex, comunication, stress,
catecholamines, resistance to antihypertensive treatment and even religious pratice. Hypertensive patients
presents specific personality characteristics like: hostility, anxiety, agressiveness, difficulty to deal with
emotions, introspection and exaccerbation of selfdefense mechanisms. In the last part of this paper we
listed several recommendations to improve quality of
life during treatment of hypertensive patients.
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