O processo de compras e a redução de estoques ociosos na

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O processo de compras e a redução de estoques ociosos na indústria de
confecção
Marcio José Silva (Universidade Estadual de Maringá) [email protected]
Eliane Pinheiro (Universidade Estadual de Maringá) [email protected]
Antonio Carlos de Francisco (UTFPR) [email protected]
Resumo:
O processo fabril nas indústrias de confecção se fundamenta nas tendências de Moda para o
desenvolvimento de novos produtos, os ciclos para o processo de pesquisa, concepção e construção
dos produtos são cada vez mais curtos, fomentando a necessidade de tomadas de decisões rápidas e
precisas. Devido à necessidade das empresas em atenderem as demandas de mercado em curto prazo,
o processo de compras pode não receber informações ou não ter tempo hábil para a administração de
todo o processo que envolve o trabalho do setor, comprometendo a análise das reais demandas. Neste
sentido esta pesquisa visa entender o processo de compras e como este pode contribuir para a redução
dos estoques ociosos na indústria de confecção. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com
abordagem qualitativa. Conclui-se que, o setor de compras da indústria de confecção do vestuário, é de
vital importância para a gestão da informação, qualidade e quantidade dos estoques e os profissionais
deste setor desempenham papel fundamental dentro da cadeia de gestão de materiais.
Palavras chave: Compras, matéria-prima, estoques.
The process of shopping and the reduction idle stocks in the clothing
industry
Abstract
The manufacturing process in the confection industries is based on the trends of fashion for the
development of new products, the cycles to the process of research, design and construction of
products are ever shorter, promoting the need for fast and accurate decision-making. Due to the need
for companies to meet market demands in the short term, the purchasing process can, not receive
information or do not have time for to manage the whole process that involves working in the industry,
compromising the analysis of actual demands. In this sense, this research aims to understand the
purchasing process and how this can contribute to reduce idle inventory in the clothing industry. It is a
bibliographical research with a qualitative approach. In conclusion, the purchasing department of the
clothing manufacturing industry is of vital importance to information management, quality and
quantity of stock and the professionals in this sector play a fundamental role within the materials
management chain.
Key-words: Shopping, raw material, stock.
1 Introdução
A Indústria de confecção de vestuário é um dos setores mais versáteis no desenvolvimento de
novos produtos, a concepção destes é baseada em tendências de moda, no cenário atual estas
tendências são apresentadas em ciclos cada vez mais curtos, levando as empresas a
anteciparem seus processos industriais, desde o processo de criação até a entrega do produto
final (ALVAREZ, 2004).
Os processos produtivos na área de confecção são complexos, um mesmo produto pode ser
submetido por quantos forem necessários, para assim se tornar objeto de desejo do
consumidor final. Dentre etapas como interferências de superfícies, com lavagens, bordados e
estamparia aos considerados básicos, como modelagem, risco, enfesto, corte, costura e
acabamento, na fase administrativa está inserido o processo de compras, responsável pela
aquisição da matéria-prima e itens necessários para a fabricação do produto (JONES, 2005;
MANERASI, 2009).
O atendimento para a oferta dos produtos do vestuário pode ser basicamente realizada por
duas formas: a venda a pronta entrega ou a venda programada, e como consequencia surgem
dois formatos distintos para a realização do planejamento e do processo de aquisição de itens
para produção.
Para esta pesquisa foi delimitado o segundo tipo de atendimento, as empresas que atuam por
venda programada. O papel do departamento de compras é vital, para a concretização dos
objetivos previstos no planejamento da empresa, evitando que ao ser acometido pela pressão
imposta pelo segmento, realize improvissos ou adquira produtos desnecessários e que se
tornem ociosos, comprometendo o aspecto criativo e a renovação que norteiam estas
empresas, com a possibilidade de reutilização de insumos que podem ter entrado em
defasagem diante dos aspectos de moda (JONES, 2005; BARBOSA FILHO, 2009).
Os estoques ociosos representam tarefa difícil para os designers de moda que precisarão
reempregá-los em outros produtos e para a equipe de vendas que precisará ofertar algo já
visto. Estas ações realizadas com frequência levam ao entendimento por parte do consumidor
final de que aquele item não possui novidade e para a empresa, o acumulo de capital sem
utilidade, tanto em matéria-prima sem beneficiamento ou em produtos já confeccionados
(POZO, 2007; SILVA, 2014).
Neste sentido, de acordo com Barcaro (2009) sem uma boa gestão e uma rigorosa
administração a empresa de moda não resiste. Dada esta necessssidade e a ausência de estudos
abrangentes sobre tal tema, esta pesquisa visa entender o processo de compras e como este
pode reduzir os estoques ociosos, contribuindo com conhecimentos que favoreçam
empresários e embasem outros estudos na área.
2 O mercado do vestuário e da moda
Sustentando as atividades da área de compras, ligados à confecção, deve-se levar em
consideração dados pontuais sobre o setor do vestuário, já que este é um dos segmentos que
mais gera empregos e renda atualmente no país, dados apontados pela FGV no estudo Análise
da Estrutura Setorial da Cadeia Têxtil Brasileira e Perfil de Consumo de Artigos de
Vestuário indicam que em 2012 o setor, incluindo a área têxtil, obteve faturamento de cerca
de R$ 46,5 bilhões, e que ainda entre 2007 e 2012, obteve crescimento de 8,9%, abrigando
cerca de 3,7% dos empregos formais do Brasil (ESTUDO...2013).
Alvarez (2004, p. 13), em seu estudo apresenta a informação de que o setor “possui grande
importância sob o ponto de vista social, tendo em vista que sua participação é relevante na
oferta de empregos industriais, sendo o maior empregador da cadeia têxtil”. O setor do
vestuário é entendido como o responsável por realizar a manufatura dos materiais têxteis, ou
seja, empresas que criam e ofertam produtos utilitários do vestuário em geral.
As empresas deste setor se defrontam de um lado, com aspectos criativos e ao mesmo tempo
necessitam de uma boa gestão dos métodos e processos para a manutenção de suas atividades,
para Baxter (1998, p. 3) “esse casamento entre ciências sociais, tecnologia e arte aplicada
nunca é uma tarefa fácil, mas a necessidade de inovação exige que ela seja tentada”, empresas
pautadas na concepção de produtos fundamentadas nas tendências de moda necessitam dosar
os aspectos criativos e administrativos, para que conflitos não interfiram nas atividades
futuras, uma vez que sempre tendem a realizar suas atividades presentes visando
acontecimentos à frente.
De acordo com Gurgel (2001, p. 21), ao propor atividades ligadas ao futuro, denominadas de
“reprofuturo” estas devem se sustentar por um “conjunto de conhecimentos que possibilita a
empresa promover o desenvolvimento de um futuro promissor e saudável pelo planejamento
estratégico, pela definição do negócio e pela criação de produtos”, estes produtos devem
possuir função acima das expectativas se sobrepondo aos demais no mercado, e neste sentido
as empresas de vestuário necessitam que seus produtos se destaquem, oferecendo
diferenciação tanto nos materiais quanto aos processos de fabricação.
A venda por programação no setor de vestuário ocorre mediante processos de
desenvolvimento de produto ligados à area de Moda. Neste caso o processo se inicia em
média um ano antes do lançamento do produto, após a escolha dos protótipos desenvolvidos
pelo setor de estilo, cria-se o mix de produtos geral para a coleção, onde o número de peças
pode variar de acordo com cada empresa, e assim são confeccionados os mostruários para que
os representantes realizem as vendas, portanto o planejamento se dá muito antes do projeto do
produto, incluindo decisões sobre fornecedores a serem usados, tipo de matéria-prima e
estabelecendo as diretrizes para a colocação e permanência no mercado (JONES, 2005;
BARBOSA FILHO, 2009).
2.1 O processo de compras na indústria de confecção do vestuário
De acordo com Alvarez (2004, p. 13) “o processo produtivo da indústria de confecções é
composto das seguintes etapas: criação, modelagem, enfesto, corte, montagem ou costura,
acabamento e passadoria”, e leva em consideração que dentro do processo produtivo o
procedimento de costura representa 80% do tempo desprendido na construção de um produto.
O tempo necessário para esta etapa reduz o tempo destinado aos processos antecedentes e
todas as atenções são voltadas para que não haja gargalos na produção.
Neste cenário, o setor de compras mostra-se como de suma importância para transpor um
produto e metas em necessidades aquisitivas de matéria-prima, devendo analisar como suas
decisões podem contribuir para o melhor fluxo produtivo, funcionando como importante
ferramenta na otimização dos resultados, durante o processo de aquisição de insumos, seja
pela escolha de um fornecedor, pela agilidade em adquirir um produto de um mercado
internacional ou encontrar o melhor preço em determinada matéria-prima (ALVAREZ, 2004,
BARCARO, 2008).
“A atividade de compras vem passando por consideráveis mudanças nas últimas duas
décadas, como resultados de fatores internos e externos que afetam seu desenvolvimento”
(ALVAREZ, 2004, p.1). Este reconhecimento se dá por meio da verificação analítica que o
setor é importante na integração da cadeia produtiva, e pode auxiliar na redução de custos e na
melhor adequação dos materiais adquiridos, uma vez que o setor possui contato direto tanto
com a área de criação, responsável pela concepção do produto, bem como à area de produção,
responsável pela fabricação destes.
Durante o processo fabril, o departamento de compras é responsável pela aquisição de
matérias-primas, compreendendo todo e qualquer item empregado na construção de um
produto. Neste momento, o profissional deve adequar os fatores estratégicos e logísticos a fim
de evitar a aquisição de materiais que não serão consumidos e se tornarão ociosos
(MANERASI, 2008). Deverá então realizar um levantamento do que será adquirido, para o
que e qual o tempo que a empresa dispõe para a chegada do mesmo, sempre observando a
melhor estratégia para equilibrar fatores financeiros e logísticos.
Pozo (2009) conceitua o levantamento das necessidades em termos de gestão como
levantamento determinístico e estocástico, sendo que o primeiro são necessidades vindas dos
pedidos dos clientes e o outro às necessidades futuras que são pautadas em necessidades
passadas. Para a atuação no segmento de confecções e venda programada, o comprador
precisa pautar suas decisões em ambos os pensamentos, buscando informações principalmente
em outros setores, como o PCP e vendas.
Para atuar com a venda programada as empresas necessitam realizar apostas de venda, ou
seja, criar uma produção com dados baseados em coleções anteriores, feedback de clientes e
setor comercial, compreendendo desde o processo de compras até a construção do produto
final, sem que ainda possua dados precisos, estes que serão confirmados posteriormente
durante o período de vendas, e então o comprador poderá ajustar seus quantitativos, devendo
este processo apenas ser de conferência e ajustes (BAXTER, 2000; BARCARO, 2009).
Pozo (2007, p. 159), relata que “o sistema de compras baseia-se em uma ação que envolve
atividades de pesquisas para a melhor adequação dos objetivos organizacionais”, cabe
ressaltar que estas pesquisas devem ser de forma contínua, e não abordar apenas quesitos
relacionados a custos, mas abranger informações mais detalhadas, como; confiabilidade nos
parceiros externos, melhor custo benefício oferecido pelo fornecedor, como preço, prazo de
entrega, resposta a problemas e tempo de solução dos mesmos.
A busca por conhecimento da área e de suas atividades deve ser cotidiana, absorvendo toda e
qualquer informação para que sejam realizadas compras adequadas, equilibrando índices
financeiros e quantidade ideal de matéria-prima para suprir as demandas de produção
(GURGEL, 2001; SILVA, 2014).
As ações do setor de compras voltadas a busca de informação, não descartam as atividades
básicas como “analisar ordem de pedido, buscar melhores preços, encontrar fornecedores
certos, fontes perenes de fornecimento, novos materiais, novos mercados e assim por diante”
(POZO, 2007, p. 159). Estas informações devem ser percebidas e compartilhadas, por
exemplo, com o setor de criação evitando que o mesmo empregue em um protótipo matériaprima de um fornecedor descomprometido com a empresa, ou que tenha capacidade produtiva
inadequada para atender as demandas necessárias.
O processo nas indústrias conhecido como “aposta de vendas” faz com que a mesma se
antecipe em várias etapas de seu fluxo produtivo, assim o comprador deve ter prudência e
manter um bom elo de comunicação com os demais setores, compreender quais produtos
internos terão um tempo maior de produção, para atuar juntamente com seus fornecedores
visando à antecipação da chegada da matéria-prima. É de suma importância que o profissional
ligado a esta área saiba que suas atitudes podem afetar diretamente no ciclo produtivo
(SILVA, 2014).
Jones (2005, p. 50), destaca que “há outro contexto, além do geográfico, que é uma das forças
mais poderosas no mecanismo da moda: o tempo”, os métodos de concepção do produto de
moda são cada vez mais fundamentados em previsões, sendo que estas podem levar a um
crescente aumento de estoques ociosos, devido à variedade de matéria-prima oferecida e
necessária para a diferenciação dos produtos.
É atribuição do departamento de compras, o planejamento e monitoramento dos estoques,
acompanhar os materiais entregues e a utilização destes, quais itens ainda não foram
adquiridos, e quais os prazos para atendimento da produção (BARCARO, 2008; SILVA,
2014).
A partir da análise e planejamento do que será necessário produzir, ocorre o lavantamento dos
prazos de produção, disponibilidade de materiais, e outros fatores importantes para o
atendimento de um pedido, não devendo somente prever produtos em estoque e quantidades,
mas ainda adequar a prazos de entrega condizentes com a necessidade “do decurso de
fabricação e montagem para poder determinar as datas de disponibilidade de cada
componente” (FALKO, 2009, p. 51). A análise não é totalmente realizada pelo comprador, o
setor de Planjeamento e Controle de Produção que irá compartilhar dados sobre as demandas.
Nos últimos anos tem aumentado a atenção à cadeia de suprimentos, em realação a
manutenção dos estoques. Este fato ocorre porque na indústria, em geral, a compra de
materiais representa um custo na ordem de 50% do custo da produção (SANTOS 2002). É
indispensável que o departamento de compras mantenha o foco nos quantitativos necessários
para a demanda de produção, evitando sobras de materiais e consequentes prejuízos.
É necessário que o setor de compras, crie ainda uma rede de parcerias, internas e externas à
empresa, como:
a) Internas – setores correlatos às compras na empresa como o setor criativo, almoxarifado,
PPCP, setor comercial e de marketing;
b) Externas – criar uma rede de fornecedores, elencando pontos, como grau de confiança,
tempo de resposta, qualidade do serviço aliados a, preço, entrega, solução dos problemas,
qualidade da matéria-prima.
Estas parcerias contribuem ainda para gerar informações úteis para a melhor gestão das
atividades, compreensão dos fatores de risco da empresa, e redução de matéria-prima ociosa.
Alvarez (2004) destaca que estas novas formas de relacionamentos ou parcerias proporcionam
flexibilidade e dinâmica à cadeia de suprimentos, favorecendo uma função mais estruturada e
enxuta.
Para Gurgel (2001, p.27), as empresas se entremeiam em várias “administrações”, como
“financeira, de marketing, de vendas, de produção, de custo, contábil, etc.”, e justamente por
isso em muitos casos a comunicação e o bom relacionamento podem ser prejudicados,
portanto mostra-se útil que não haja conflitos desnecessários entre os setores, e que o
comprador entenda o máximo possível dos processos gerais que cercam, de maneira direta ou
indireta o seu fluxo de trabalho.
2.2 A gestão dos estoques
Administrar o processo de compras deve levar em consideração os princípios da empresa,
necessita de ações planejadas, adaptação a novas situações do mercado, prever desafios que
surgem devido às mudanças no ambiente empresarial, ter posicionamento e atitude em prol da
redução de custos, rápido abastecimento dos estoques evitando o excesso de materias
desnecessários alocados nos almoxarifados gerando redução de espaço físico e prejuízos de
capital (LIMA, et al, 2012).
De acordo com Lima et al. (2012, p. 73), para uma boa gestão dos estoques é necessário que o
setor de compras atue de forma a realizar a “aquisição de materiais ou serviços, priorizando o
planejamento deste processo com fornecedores mais confiáveis e em menor número; adquirir
produtos com excelente qualidade e menor preço, evitando abarrotamento do seu estoque e a
geração de altos custos”. No mesmo sentido, Pozo (2007) destaca que a gestão de estoque,
está além das quantidades, mas deve prever os índices finaceiros adequados, redução ou
manutenção dos valores do estoque, e dos volumes para que se atenda às demandas de
produção.
Wanke (2012, p. 677), ao analizar o processo de gestão dos estoques, sugere perguntas chave
a serem respondidas, analizando as variáveis de cada mercado e tipo de indústria, “quando
pedir, quanto pedir e quanto manter em estoques de segurança”, e aponta que o que já existe
na literatura sobre o assunto “foi originalmente direcionada para ambientes de produção e
distribuição nos quais a demanda e o tempo de resposta tendem a ser mais previsíveis, ou seja,
nos quais as perguntas "quanto" e "quando pedir" são respondidas mais facilmente”, para a
área de confecção são poucos os estudos direcionados, porém ao se analizar o rápido giro de
produtos em ciclo de produção, estas perguntas necessitam ser amplamente discutidas pelo
comprador e demais profissionais envolvidos, como pessoas da área criativa e os responsáveis
diretamente pelo controle do estoque dentro do almoxarifado (MANERASI, 2008; WANKE,
2012; SILVA, 2014).
O comprador deve manter-se com um olhar crítico para os insumos que estão sendo
adquiridos e conhecer aqueles que estão disponíveis, compreender quais são suas
necessidades primárias e secundárias, ou seja, itens que podem ser reutilizados em outro
momento e itens que são específicos de determinada coleção ou produto, além da relação de
comunicação que o mesmo deve ter com os demais setores, planejar as necessidades primárias
contribui para definir os níveis de estoque, assim terá como resultado, a manutenção de
estoques mínimos e ainda garantir que não existam gargalos na produção devido à falta de
matéria-prima. Planejamento é necessário em todas as etapas do ciclo de produção e deve
envolver o máximo de profissionais em prol do mesmo objetivo (BARBOSA FILHO, 2009;
SILVA, 2014).
Neste sentido, não é diretamente responsabilidade do comprador a sobra de itens, mesmo que
esta tenha sido ocasionada no momento inicial do planejamento, porém este deve se atentar e
ter respostas para o porquê da sobra, identificando se houve falha na informação, criando
parâmetros que o ajude a localizar o erro e que não utilize estes dados para a acusação de
pessoas ou setores, mas sim a contribuir com o seu próprio trabalho, avançando no seu
processo, e assim não permaneça estagnado somente as atividades básicas (SILVA, 2014).
Planejar, propor, se integrar ao processo, conhecer o mercado, saber negociar, entender de
onde surgiu a informação, saber o potencial dos fornecedores, são pontos que o comprador
pode usar a seu favor para administrar o seu trabalho e consequentemente dissolver o
problema de aquisição errônea de matéria-prima, principalmente no setor de confecção do
vestuário onde estas sobras geram outros problemas além do financeiro e falta de espaço
físico para armazenagem, a defasagem do material e principalmente conflitos internos para a
decisão do que será feito com tal sobra (POZO, 2007; BARCARO, 2008).
Na ocorrência da empresa se deparar com matéria-prima em caráter de sobra, deve existir e
fazer parte de sua gestão, meios que possam tornar o impacto destes itens no estoque o menor
possível seja pela tentativa de reutilização em um momento futuro, ou até mesmo propor uma
forma de descarte. Porém, vale ressaltar que, o planejamento de uso futuro pode e deve ser
atribuído para todos os tipos de materiais têxteis e itens empregados na coleção.
2.3 Estoques ociosos
Equilibrar os índices de estoque nem sempre é uma tarefa fácil, os profissionais ligados à área
de compras necessitam no mínimo conhecimento técnico sobre o campo que estão atuando.
De acordo com Falko (2009) um dos objetivos para compreender os índices de abastecimento
é manter estoques mínimos garantindo que não faltem itens para a produção, o que pode
acarretar gargalos produtivos, a não produção e consequentemente a sobra do material,
criando a ociosidade do mesmo.
Na construção de produtos de vestuário é comumente empregada uma grande variedade de
itens, já que este segmento apropria-se da diferenciação em cada coleção, ou até mesmo nos
próprios produtos, promovendo sempre a característica de novidade (JONES, 2005). Já que a
atividade de compra é responsável pelo abastecimento de todas as matérias-primas, como
linhas, tecidos, forros, elementos acessórios de produção, enchimentos, etiquetas, entre outros
(BARCARO, 2009). O profissional ligado a isto deve entender que todos estes itens podem se
tornar inativos mesmo que não tenham sido usados, ao serem adquiridas quantidades muito
superiores às realmente necessárias.
Ressalta-se que é necessário conhecer cada item que será empregado na coleção e de que
forma os mesmos terão maior ou menor impacto nos efeitos produtivos da empresa. Estes
itens podem ser classificados como produtos básicos ou complexos, onde os básicos são itens
de uso comum em mais de um modelo ou pode ser empregado em outra coleção, e os
complexos, que são usados em menor escala ou somente em uma única coleção ou modelo
(FALKO, 2009).
Os meios para a diminuição ou eliminação dos estoques ociosos, devem fazer parte do
planejamento geral da empresa, envolvendo os operadores a analisarem imediatamente as
ações para resolver tal situação, o momento da compra é primordial para a tentativa de
redução das sobras, atuar sobre um dos momentos iniciais do processo é importante do ponto
de vista qualitativo da função. Pozo (2007) apresenta que para a boa gestão do estoque, deve
existir a busca constante tanto para valores financeiros quanto aos volumes necessários para
atender às demandas de produção, verificar estas demandas e atenuar os indices de sobra,
contribuirão para melhor lucro financeiro, melhor rotatividade do espaço, menor indice de
descarte.
Em muitos casos o estoque excedente, está vinculado à forma de gestão, e neste setor “são
comuns estoques excessivos de matérias-primas, produtos em elaboração e acabados,
implicando perdas por deterioração, pelo capital imobilizado e, não menos relevante no setor,
pela defasagem em relação à moda" (ALVAREZ, 2004, p. 14).
Aos itens em defasagem, deve se levar em consideração que as tendências impostas pelo
mercado da moda, são cada vez mais curtas e instáveis, os ciclos se reduzem há meses ou
semanas e a novidade passa a ser ultrapassada (JONES, 2005; BAXTER, 2008). Neste
direcionamento, Manerasi (2009, p. 141) relata que “os produtos de moda apresentam a
tendência de apelar, naturalmente, para o valor hedônico da compra”, ou seja, tentam
estimular cada vez mais o prazer do usuário final, elencar fatores relacionados a status, a
novidade e diferenciação.
A ociosidade ocorre então aos itens que tem uma probabilidade pequena ou nula de novo uso,
dentro do desenvolvimento de novos produtos ou coleções, isto pode ocorrer em maior ou
menor grau de importância. Para a manutenção de um produto no mercado, várias ações
devem ser desprendidas para tal, “estes esforços se iniciam muito antes da própria definição
do que será oferecido a este mercado. São decisões anteriores à atuação do projetista”
(BARBOSA FILHO, 2009, p. 33).
3 Metodologia
O delineamento utilizado para este estudo foi à pesquisa bibliográfica, por meio do
levantamento de artigos científicos, livros, teses e dissertações que tratam sobre o processo de
compras, os estoques ociosos e o ciclo produtivo, visando entender o processo de compras e
como este pode reduzir os estoques ociosos na indústria de confecção de vestuário. O estudo
se desenvolveu num ambiente que preconizou a abordagem qualitativa, pois foram analisadas
as interações entre o processo de compra, a função do comprador visando uma possível
redução dos estoques ociosos nas indústrias de confecções de vestuário.
4 Conclusões
Considerando a pesquisa apresentada é notável que o setor de compras da indústria de
confecção do vestuário, é de vital importância para a gestão da informação, qualidade e
quantidade dos estoques. Os profissionais deste setor, independente de sua área de formação
necessitam compreender todos os aspectos que envolvem a concepção e logística de produção
do produto de vestuário.
Para tanto, devem interagir com o máximo de setores e pessoas envolvidas no processo
possível, sem afetar as atividades dos demais, mas de forma a adquirir informações que
possam nortear seu trabalho e repassar informações que direcionem ou melhorem o trabalho
de outros operadores.
O conhecimento não se limita somente aos aspectos internos, é preciso que estejam atentos a
aspectos tecnológicos e de mercado, capacidade produtiva e tipo de produtos de cada
fornecedor, de preferência que conheça os aspectos físicos de cada um.
É de suma importância conhecer o motivo da ociosidade de cada item em estoque, que
fundamentará a gestão de como o mesmo pode ser eliminado ou absorvido dentro da própria
empresa, uma vez que existam mecanismos que levem a diminuição no momento inicial de
aquisição, a empresa terá produtos pontuais a serem desenvolvidos.
Entre sugestões que podem ser elencadas, após o estudo, está a descaracterização do produto,
no caso de tecidos é possível acrescentar processos de tingimento, estamparia ou outra
técnicas de design de superfície. Nestes casos, devem ser obsevados os custos disponíveis
para fazer esta alteração, no caso de produtos que não sejam tão marcantes deve haver uma
negociação interna com o próprio setor de criação para que seja empregado em um novo
produto, viabilizando com setores de gerência e de custos, redução nos lucros do produto final
evitando que a matéria-prima não se torne ociosa novamente.
Por fim, se a empresa está adequada a uma menor aquisição e apresenta problemas pontuais a
serem resolvidos, a adoção de políticas de doações para entidades, para confecção de tapetes e
ou itens domésticos, brindes para clientes ou para os próprios funcionários e em último caso a
venda para empresas especializadas em descarte ou repasse de matéria-prima.
Observa-se que, estas empresas farão a aquisição do material por um valor muito inferior ao
que o mesmo foi adquirido inicialmente, isto deverá ser feito apenas para itens que realmente
não apresentam possibilidades de serem novamente empregados, como pontas de tecido, rolos
únicos de tecido e metragens incoerentes para nova utilização.
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