FISIOTERAPIA DOMICILIAR: ATENDIMENTOS REALIZADOS NA COMUNIDADE Alessandro Raymann (acadêmico-UNICENTRO), Laisa Santos Pedroso (acadêmicaUNICENTRO), Priscila Menon dos Santos (acadêmica-UNICENTRO), Zayra Juliedir Radke (acadêmica-UNICENTRO), Cíntia Raquel Bim (Orientadora – Dep. de Fisioterapia/UNICENTRO), e-mail: [email protected] Palavras-chave: fisioterapia, atendimento domiciliar, saúde pública. Resumo: O projeto Fisioterapia domiciliar tem o objetivo de levar atendimento à população que não tem acesso a esse serviço. A atuação fisioterapêutica é direcionada exclusivamente aos pacientes domiciliares, que possuem dificuldades de locomoção. Os atendimentos são realizados duas vezes por semana, e em quatro meses de execução já observamos melhoras no quadro clínico dos pacientes e desempenho dos acadêmicos. Introdução A assistência domiciliar (AD) realizada por fisioterapeutas teve início a partir da década de 70, nos Estados Unidos, França e Inglaterra, em programas denominados home care (PICKLES et al, 2000; FABRICIO et al, 2004). O serviço de home care, ou seja, assistência domiciliar, surgiu para atender paliativamente os doentes portadores de patologias crônicas e tratamentos de longa duração, com necessidade de cuidados permanentes (FLORIANI e SCHRAMM, 2004). No Brasil, os serviços de home care iniciaram na década de 80 em hospitais públicos, e na década de 90 surgiram os serviços de empresas de iniciativa privada. O atendimento domiciliar realizado pelo fisioterapeuta no Brasil se tornou lei no dia quinze de abril de 2002, quando a Lei 10.424 foi sancionada, acrescentando novo capítulo e artigo à lei 8.080, que criou o Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2002). Porém, na prática, ainda não encontramos o fisioterapeuta em todas as unidades básicas de saúde do Programa Saúde da Família. Sabendo da existência de pacientes que possuem limitações físicas e sócioeconômicas para se locomoverem em busca de tratamento, o objetivo deste projeto de extensão é levar atendimento fisioterapêutico a pacientes domiciliares, promovendo melhora no quadro clínico desses e oferecendo a oportunidade aos acadêmicos de fisioterapia do contato com a Saúde Pública. Materiais e Métodos Este trabalho consiste no relato dos casos de pacientes atendidos pelo projeto de extensão “Fisioterapia domiciliar”, realizado desde agosto de 2007 no bairro Vila Carli, no município de Guarapuava-Pr. Este projeto foi aprovado pela Resolução No38/2007-CONSET/SES/G/UNICENTRO em agosto de 2007. Foi realizado levantamento de pacientes domiciliares, através da unidade básica de saúde do bairro. Os pacientes foram visitados e convidados a participar do projeto. Foi realizada avaliação fisioterapêutica, e em seguida deu-se início aos atendimentos domiciliares, que ocorrem duas vezes por semana, com duração de uma hora cada, até o momento. Participam do projeto quatro acadêmicos do curso de fisioterapia da UNICENTRO, supervisionados pela coordenadora. Os pacientes foram avaliados através de fichas específicas da fisioterapia e a evolução é feita após cada atendimento. Os acadêmicos são avaliados através da participação e dedicação ao projeto. Os resultados são analisados de forma descritiva e qualitativa. Resultados e Discussão Os objetivos da AD são: contribuir para a otimização dos leitos hospitalares e do atendimento ambulatorial, visando a redução de custos; reintegrar o paciente em seu núcleo familiar e de apoio; proporcionar assistência humanizada e integral, por meio de uma maior aproximação da equipe de saúde com a família; estimular uma maior participação do paciente e de sua família no tratamento proposto; promover educação em saúde; ser um campo de ensino e pesquisa (RODRIGUES e ALMEIDA, 2005; OSMOS e CASTELLANOS, 2007). O projeto fisioterapia domiciliar vem buscando alcançar esses objetivos nesses quatro meses de execução. Até o presente três pacientes foram avaliados pelo projeto. A primeira paciente, A.P., 73 anos, sexo feminino, possui diagnóstico de fratura de quadril e seqüela de acidente vascular encefálico. Foi avaliada e constatou-se que a queixa principal é a dificuldade na marcha. As condutas adotadas foram caminhadas com o andador, emprestado da Clínica-escola de Fisioterapia da Unicentro (CEFISIO), realização de exercícios de fortalecimento, exercícios ativo-assistidos em decúbito dorsal que envolvem a utilização de bolas de diferentes tamanhos, exercícios de grandes amplitudes com bastão, dentre outros. Os materiais citados foram adquiridos pelos acadêmicos. Os resultados encontrados em 30 sessões apontam melhora considerável na marcha, força muscular, coordenação motora e autoconfiança, além de um pequeno ganho de amplitude de movimento do membro superior esquerdo. Segundo relato da responsável (cuidadora), a paciente apresenta melhora evidente nas atividades de vida diária (AVDs) como pentear o cabelo e ensaboar-se durante o banho, coisas que antes do tratamento a tornavam dependente. Referindo-se ao idoso, a AD insere-se dentro de um modelo gerontológico que visa, na medida do possível, reinserir o idoso na comunidade, preservando ao máximo sua autonomia, buscando a recuperação de sua independência funcional (FLORIANI e SCHRAMM, 2004). O segundo caso a ser relatado é o paciente G.L., 35 anos, sexo masculino, diagnóstico de traumatismo crânio encefálico (TCE) e complicações, confinado ao leito, traqueostomizado há três anos, com diminuição da função pulmonar, contratura em flexão de cotovelo e punho esquerdo, atrofia, encurtamento e contratura em tríplice flexão e adução do membro inferior direito, fratura de fêmur esquerdo com consolidação viciosa e desvio considerável, bem como encurtamento em extensão e rotação externa do membro inferior esquerdo. A conduta adotada é baseada na cinesioterapia. São feitos exercícios para ganho de amplitude de movimento (ADM), exercícios respiratórios associados a manobras para aumentar a função pulmonar e mobilizar secreção, uso de tala (confeccionada pela coordenadora) para auxiliar o ganho de ADM do punho esquerdo. A evolução do tratamento vem sendo lenta devido à gravidade das complicações do caso, mesmo assim já se podem observar pequenas melhoras. Este paciente foi encaminhado para cirurgião geral para avaliação de uma possível retirada da traqueostomia e ao Projeto Órtese e Prótese, da UNICENTRO, para solicitação de uma cadeira de rodas especial e tala para o punho. A AD é uma modalidade que pode proporcionar ao profissional não apenas cuidados ao cliente, mas também realizar um intenso trabalho de educação com cuidadores e/ou familiares, tornando-os aptos e seguros para continuidade do cuidado (FABRICIO et al, 2004), além de incentivar a prática do trabalho multi e interdisciplinar. O terceiro paciente também era um caso de TCE, porém como não se enquadrava em paciente domiciliar, foi encaminhado para a CEFISIO. Ressalta-se que os três pacientes estavam no domicílio, sem intervenção fisioterapêutica. Conclusões As atividades do projeto continuam, e espera-se que o número de pessoas beneficiadas aumente. As melhoras no quadro clínico dos pacientes são visíveis, porém muito ainda precisa ser feito. O envolvimento dos acadêmicos é surpreendente, principalmente no quesito criatividade e dedicação. Envolver acadêmicos da área de saúde, particularmente da fisioterapia, na realidade da Saúde Pública do Brasil, em particular no atendimento domiciliar, é fundamental para a formação de profissionais mais humanos. Referências BRASIL. Lei no 10.424, de 16 de abril de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 abr.2002. FABRICIO, Suzele Cristina Coelho, WEHBE, Grasiela, NASSUR, Flávia Bevilacqua et al. Assistência domiciliar: a experiência de um hospital privado do interior paulista. Revista Latino-Americana de Enfermagem, set./out. 2004, vol.12, no.5, p.721-726. ISSN 0104-1169. FLORIANI, Ciro Augusto e SCHRAMM, Fermin Roland. Atendimento domiciliar ao idoso: problema ou solução?. Cadernos de Saúde Pública, jul./ago. 2004, vol.20, no.4, p.986-994. ISSN 0102-311X. OSMO A.A., CASTELLANOS P.L. Os cuidados a domicílio: da decisão política à gestão de programas. http:/www.ufrgs.br/pdgs/Cuidadomicilio.htm (acessado em 12/Jul/2007). PICKLES, Barrie, COMPTON, Ann, COTT, Cheryl, SIMPSON, Janet e VANDERVOORT, Anthony. Fisioterapia na terceira idade. São Paulo: Santos Livraria Editora, 2000. RODRIGUES, Mônica Raggi, ALMEIDA, Rosimary Terezinha. Papel do responsável pelos cuidados à saúde do paciente no domicílio - um estudo de caso. Acta Paulista de Enfermagem 2005; 18(1):20-4.