João Mateus de Amorim, Manuel Rolando Baldomero Berríos Goldoy

Propaganda
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
IMPACTOS AMBIENTAIS DE DEJETOS DE SUÍNOS NO LENÇOL
FREÁTICO DA MICROBACIA DO CÓRREGO BEBEDOURO, EM
UBERLÂNDIA-MG.
João Mateus de Amorim
Doutorando em geografia - UNESP de Rio Claro (SP)
[email protected]
INTRODUÇÃO
O objetivo dessa pesquisa é contribuir para a compreensão do processo de
ocupação por granjas de suínos e seus impactos ambientais, por meio de análises
qualitativas e quantitativas com vistas a identificar os possíveis resíduos percolados no
lençol freático do córrego Bebedouro, afluente do Rio Araguari, no município de
Uberlândia - MG. Ao verificar os dados das análises físico-químicas e biológicas da água
freática, poderá ou não estabelecer alternativas sustentáveis de uso e ocupação do
solo por granjas de suínos, a fim de melhorar a qualidade da água deste corpo hídrico
subterrâneo em função dos seus resultados.
A disposição dos dejetos de suínos no solo, para adubação, deve ser levado em
conta manejo adequado nas granjas e de local apropriado para a maturação do dejeto,
via biodigestor e lagoas de decantação impermeabilizadas. O lançamento, no solo ou
em corpos hídricos, de forma inadequada pode provocar diversos impactos, como mau
cheiro, poluição no solo por metais (zinco e cobre) e nitrogênio e eutrofização dos
corpos hídricos, diminuindo a quantidade de oxigênio na água e provocando a
mortandade de organismos aquáticos. Já as alterações no solo poderão contaminar a
produção de alimentos de origem animal ou vegetal e/ou contaminar o lençol freático
(KONZEN, 2003).
Para agravar essa situação, ocorreu um aumento acelerado da produção de suínos
em nível mundial para atender o mercado global de carnes, provocando diversos
impactos ambientais, principalmente na China, país cotado como primeiro produtor
internacional. Em seguida, têm-se os EUA, a Alemanha, a Espanha, a França, a Polônia,
o Brasil e o Canadá, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (BRASIL, 2001).
Como produtor mundial que é o Brasil, essa situação abrange diversas regiões e
Estados do país, tais como: Triângulo Mineiro (MG), Rio Verde e Jataí (sul de GO),
1
Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
norte do Maranhão (MA), norte da Bahia (BA), Sergipe (SE), Alagoas (AL), Pernambuco
(PE), Paraíba (PB) e Rio Grande do Norte (RN), Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul
(MS) e São Paulo (SP) (BRASIL, 2003). No Brasil, a região sul (Rio Grande do Sul, Paraná
e Santa Catarina) apresenta uma maior concentração de produtores de suínos,
principalmente no Estado do Paraná e Santa Catarina.
Para esclarecer o termo “dejetos de suínos” é preciso entendê-los como tudo aquilo
que se retira e se descarta na criação de porcos: unhas, pêlos, couro, fezes e urina,
ração e água de uso em bebedouros e lavagem de piso. Nesse contexto, trata-se de
esclarecer que já existem algumas agroindústrias ou produtores de suínos
aproveitando partes destes dejetos para a obtenção de outros benefícios como
créditos de carbono, confecção de sabão e calçados com couro, entre outros.
Acreditamos que esta pesquisa pode tornar-se importante, uma vez que vai analisar
a água do lençol freático, que por sua vez alimentará os córregos e rios superficiais ou
poderá acumular-se nos aqüíferos subterrâneos mais profundos. Neste sentido,
apresenta-se a relevância deste trabalho e sua eficiência para os estudos ambientais
voltados para a abordagem sistêmica.
REVISÃO BIBLIOGRAFICA
Fazendo uma ponte para o objeto da pesquisa em questão pode se afirmar que a
produção de suínos é uma ação humana que produz dejetos (efeitos) e impactam os
recursos hídricos de uma forma geral. Então esse levantamento foi relevante para o
esclarecer às falsas interpretações em relação ao que é impacto ambiental e que não
é impacto ambiental, ou seja, efeito ambiental.
Diante desse fato, Girotto (2007) mostrou que pode ocorrer um acúmulo de metais
pesados, como cobre e zinco na parte superficial do solo, com a percolação destes em
profundidade nas camadas edáficas com lançamento de dejetos de suíno sob o solo.
Nos testes com os parâmetros anteriores, foi constatada que as maiores doses (80 m3
por ha) provocam maiores concentração destes metais em Mg/kg nas camadas do
solo.
Já Basso (2003) comenta que o nitrato contido nos resíduos que percola para
camadas mais profundas do solo, podendo contaminar o lençol freático. A amônia do
dejeto de suíno pode rapidamente volatilizar em condições normais de temperatura e
pressão, após sua disposição no solo. Já o fósforo pode ser lixiviado e carreado pelo
escoamento superficial.
2
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
Por sua vez, Konzen (2003) também confirma a preocupação com a contaminação
por metais pesados nas camadas superficiais do solo, com a possibilidade de
percolação nas partes mais profundas dele. Isto poderá contaminar o lençol freático e
os mananciais de superfície. A respeito dessa situação, o mesmo Konzen (2003)
comenta que o acúmulo de altas concentrações de cobre, zinco e nitrogênio, via
dejetos de suínos no solo pode contaminar os mananciais de águas subterrâneas,
devido à movimentação em profundidade no seu perfil.
Para amenizar a ação desses contaminantes no solo, na água e no ar, será
necessário adotar alguns procedimentos de cunho sanitário e ambiental. Neste
sentido, a construção de granjas e frigoríficos de suínos e outras agroindústrias deste
ramo é mister levar em consideração as seguintes precauções: deve localizar-se a mais
de 100 m de distância de casas e a mais de 500m de distância de bairros residenciais; é
preciso plantar cercas vivas para diminuir o impacto dos odores (amônia e germes
patogênicos); deve localizar-se a mais de 100 m de corpos hídricos de uma forma geral
e em locais com lençol freático abaixo de 3 m de profundidade (PEREIRA, 2006).
Após a construção desses empreendimentos, também, é necessário elaborar um
planejamento ambiental para o manejo dos resíduos desse processo. Os dejetos de
suínos devem ser encaminhados para várias lagoas de decantação e maturação para a
redução do seu poder de impactar o meio ambiente. Para isso, devem ser
implementados, segundo Dartora et. al. (1998 apud PEREIRA, 2006), vários processos
de tratamento como decantador de fluxo ascendente para a separação dos materiais
grosseiros; lagoas anaeróbias para a redução da carga orgânica do efluente; lagoas
facultativas para auxiliar na redução dos materiais orgânicos e dos nutrientes (fósforo
e nitrogênio); lagoas de aguapés que servem para a remoção do nitrogênio e do
fósforo.
Após todo esse processo, com um planejamento adequado, é que poderá ser
utilizado este biossólido na agricultura. Essa atitude também vai reduzir a ação
impactante do efluente, pois as bactérias do solo e outros agentes presentes no
espaço vão remover a matéria orgânica biodegradável, o fósforo, o nitrogênio e os
germes patogênicos, dentre outros. Mas a disposição de dejetos de suínos no solo de
forma inadequada, sem o tratamento prévio, poderá impactar tanto o solo quanto a
água e o ar, devido à quantidade ou a sua acumulação na área em questão (PEREIRA,
2006).
Segundo Dartora et. al. (1998), a eficiência da remoção de DBO5 e de nutrientes,
segundo o fluxograma em destaque, é de 54% para DBO, 52% para o Nitrogênio e 68%
3
Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
para fósforo. Já em relação à combinação de um decantador, duas lagoas anaeróbias,
uma lagoa facultativa e uma lagoa de aguapés, esse processo torna-se mais eficiente,
chegando a 99% para DBO5, 92% para nitrogênio e 97% para fósforo.
Para que se possa almejar a sustentabilidade dos espaços rurais deve-se inserir nas
atividades agrícolas de uma forma geral o cuidado com o ambiente físico, com vistas a
garantir a produtividade do solo, a qualidade da água, a sobrevivência dos animais da
microfauna e da macrofauna, as reservas florestais entre outros. A qualidade
ambiental da bacia hidrográfica depende de procedimentos básicos para minimizar os
impactos no meio ambiente. Para a manutenção dos sistemas ambientais físicos,
necessita-se de investimento em boas práticas na agropecuária, aliada a um
planejamento e à gestão dos ativos naturais.
Esse trabalho justifica-se pela grande quantidade de granjas de suínos presentes na
região do Triângulo Mineiro, principalmente em Uberlândia – MG, por essa razão, os
efluentes líquidos impactam o meio ambiente onde estão situadas. A minimização dos
impactos ambientais advindos da instalação de granjas de suínos implica analisar os
atributos físicos do solo e a profundidade do lençol freático, entre outros, para que
não ocorra a poluição das águas subterrâneas, o que justifica os objetivos que veremos
a seguir.
Na microbacia do referido córrego há uma granja e um frigorífico de suínos, duas
granjas de aves, além de vários estábulos de bovinos, todos a montante do Instituto e
da área (objeto de pesquisa). Tais atividades poderão poluir os corpos hídricos
(superficiais e subterrâneos), por meio da geração de dejetos, alterando a qualidade
da água na jusante destes empreendimentos, inclusive na área represada em questão.
O objetivo geral do presente trabalho é gerar instrumentos metodológicos que
permitam avaliar os impactos ambientais dos dejetos de suínos no lençol freático da
região de Uberlândia. Tomar-se-á como base de experimentação o córrego Bebedouro
nas proximidades do IFET-TM - Campus Uberlândia-MG. Para proceder essa avaliação,
serão pesquisados os excessos de resíduos e de carga orgânica no meio ambiente
oriundos dos dejetos de suínos. Teoricamente, Cu, Zn e P usados nas dietas dos
animais podem estar com doses elevadas. Os altos teores desses micronutrientes
somados à carga orgânica, entre outros, poderão migrar em profundidade no solo e,
possivelmente, alterarem a qualidade dos mananciais subterrâneos desse corpo
hídrico.
Em relação a esses objetivos, pretende-se verificar a hipótese central desta
pesquisa em relação aos impactos ambientais dos dejetos de suínos no lençol freático
4
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
da microbacia do córrego Bebedouro, frente às possíveis vulnerabilidades deste
espaço. A hipótese que norteia este estudo é, portanto, a de que a ocupação intensa e
desordenada, sem planejamento e sem preocupação com as normas ambientais,
principalmente pelas granjas de suínos, poderá alterar a qualidade dos corpos hídricos
e do lençol freático, por meio do transporte via escoamento superficial ou por
lixiviação.
Espera-se, então, com este projeto, propor orientações para a melhoria dos
aspectos ambientais negativos (poluição via lixiviação de resíduos no solo) da granja
em questão e, para a redução de impactos advindos da ocupação desordenada, ou
sem planejamento, por granjas de suínos, será elaborado um mapa geotécnico, que
aponte o local ideal para instalação desse tipo de empreendimento, na microbacia
onde está situada a área de estudo.
METODOLOGIA
O local em que será realizada a pesquisa encontra-se situado no Instituto Federal da
Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro (IFTM), Campus Uberlândia,
localizado no córrego Bebedouro, o qual será um ponto de apoio aos trabalhos de
campo. Para visualização da localização segue-se o mapa, segundo a Figura 1:
Esse corpo hídrico afluente da margem esquerda do rio Araguari está situado no
município de Uberlândia, na mesorregião do Triângulo Mineiro e no sudoeste do
Estado de Minas Gerais. Na área em questão, predomina o clima tropical com secas de
inverno e cheias de verão, vegetação de cerrado dividido em várias fitofisionomias, tais
como, cerrado típico, cerradão, campo cerrado, campo limpo, vereda e florestas (mata
ciliar, mata de galeria e mata de encosta), que são elementos do ecossistema passíveis
de serem alterados.
A escolha do local para a perfuração dos poços levou-se em consideração à
proximidade do objeto de pesquisa (granja de suínos), a presença dos seguintes solos:
latossolo vermelho distroférricos nos pontos de montante da granja (1 e 2), gleissolo
nos pontos de jusante da mesma (3, 4 e 5) e argissolo no ponto lateral da granja (6),
segundo Santos (2008), ver Figura 2.
5
Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
Figura 1: Mapa de localização da área de estudo
Fonte: Santos (2008)
Essa metodologia de distribuição dos pontos de coleta foi pensada no intuito de
obter o máximo de informações e respostas a serem confrontadas entre os 4 pontos
na topossequência da vertente e os 3 pontos na parte lateral e jusante da granja. Esse
processo permitirá entender o grau de autodepuração da matéria orgânica, com
verificação nos pontos de jusante. Isso certamente poderá reduzir uma possível
contaminação do córrego Bebedouro, ver Figura 2.
6
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
1 ha
26 ha
Figura 2: Croqui da área experimental
Os parâmetros que pretendemos analisar na água subterrânea (lençol freático) são:
pH, nitrogênio amoniacal, nitrito, nitrato, sulfeto, fósforo, cobre, zinco, DBO,
condutividade elétrica, bactérias heterotróficas, coliformes fecais e OD, segundo a
metodologia da (APHA, 2005). No solo retirado, na perfuração do poço, será
monitorada a concentração físico-química dos seguintes parâmetros: nitrogênio
amoniacal, nitrito, nitrato, fósforo, zinco, cobre, sulfeto, pH, condutividade,
Capacidade de Troca catiônica (CTC) e porcentagem de sólidos (areia, silte e argila).
7
Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
REFERÊNCIAS
APHA – AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. 2005, Standard methods for the
examination of water and wastewater. 21th Ed. Washington D.C.
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1997, NBR 13895:
Construção de poços de monitoramento e amostragem. Rio de Janeiro.
BASSO, Cláudio José. 2003, Perdas de Nitrogênio e Fósforo com a aplicação no solo de
dejetos líquidos de suínos. Tese de doutorado em agronomia, Universidade Federal
de Santa Maria, Santa Maria.
Ministério de Meio Ambiente. Lei Federal nº 9.433, de 1997. 1997, Institui o Plano
Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Diário
Oficial da União, Brasília, DF.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. 2001, 2ª Conferência
Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne Suína, 5 de Novembro a 6 de
Dezembro de 2001, EMBRAPA, Concórdia. Santa Catarina, 2001.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA). 2003, Mapa de
Sistema de informação geográfica da agricultura brasileira – siga Brasil – produção
brasileira de suínos, CONAB/IBGE, Brasília, DF.
DARTORA, Valmir; PERDOMO, Carlos C.; TUMELERO, Ivone Lopes. 1998, Manejo de
dejetos de suínos, Boletim Informativo de Pesquisa – BIPERS nº 11, EMBRAPA de
Suínos e Aves e EMATER, Rio Grande do Sul.
GIROTTO, Eduardo. 2007, Cobre e zinco no solo sob uso intensivo de dejeto líquido de
suínos. Dissertação de Mestrado em Ciência do solo, Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, RS.
KONZEN. 2003, Fertilização de lavoura e pastagem com dejetos de suínos e cama de
aves, Circular Técnica 31, Embrapa - CNPMS, Sete Lagoas.
Manejo Sustentável dos dejetos de suínos. 2007, In: Pecnordeste 2007, XI Seminário
Nordestino de Pecuária, Ceará.
8
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
PEREIRA, Edilaine Regina. 2006, Qualidade da água residuária em sistemas de
produção e de tratamento de efluentes de suínos e seu reuso no ambiente
agrícola. Tese de doutorado em agronomia, USP de Piracicaba, Piracicaba.
SANTOS, Carla Rodrigues. 2008, Diagnóstico ambiental e uma proposta de uso da
bacia hidrográfica do córrego Bebedouro – Uberlândia/MG. Dissertação de
mestrado em geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia.
9
Download