CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE ROMANA Teoria e História do Urbanismo I Noemi Yolan Nagy Fritsch Introdução • Os romanos eram um povo de lavradores que conquistaram um Império. • A Roma Antiga foi uma civilização fundada em 754 a.C., e se desenvolveu a partir da cidade-estado. Resultou da ação colonizadora de povos procedentes do Oriente e da Grécia, fazendo parte da "Antiguidade Clássica", juntamente com a Grécia Antiga. • Roma foi um estado militarista, tendo grandes conquistas militares ao longo de sua história e desenvolvimento. A maior prova de seu grande potencial militar foi sua expansão territorial. • No século IV d.C. Roma atingiu uma população de 1 milhão de habitantes. • A origem lendária de Roma é atribuída aos irmãos Rômulo e Remo, que foram atirados no Rio Tibre quando nasceram, foram alimentados por uma loba e depois recolhidos por pastores no sopé do Monte Palatino. Quando crescem, Rômulo mata Remo e tornase rei de Roma. Cronologia política • Realeza romana (753 a 509 a.C) : Rei, senado e assembleia curial; • República romana: senado, consulado, ditador. Conquista da Itália, Guerras Púnicas (264 a 146 a.C.), conquista do Oriente – Síria, Grécia, Macedônia, Pérgamo e Egito e conquista da península Ibérica; • Primeiro triunvirato ( 60 a 44 a.C.): César, Pompeu e Crasso; • Segundo triunvirato ( 44 a 30 a.C.): Marco Antônio, Otávio e Lépido; • Primeiro Império ou Principado(27 a.C . a 284 d.C): Otávio Augusto (doze Césares) e Antoninos (paz romana); • Baixo Império (284 a 476): queda do Império Organização social • Patrícios: Grandes proprietários de terras, rebanhos e escravos que desfrutavam de direitos políticos e podiam desempenhar altas funções públicas. Eram os cidadãos romanos. • Clientes: Homens livres que se associavam aos patrícios, prestando-lhes diversos serviços pessoais em troca de auxílio econômico e proteção social. • Plebeus: Homens e mulheres livres que se dedicavam ao comércio, artesanato e trabalhos agrícolas. • Escravos: Representavam uma propriedade, e, assim, o senhor tinha o direito de castigá-los, de vendê-los ou de alugar seus serviços. Muitos escravos também eram eventualmente libertos. • Para os gregos as coisas úteis tinham que ser BELAS. Para os romanos até as coisas belas tinham que ser ÚTEIS. Esta característica é aplicada em todas as suas ações: • Guerra • Arte • Cultura • Escrita • Obra jurídica Urbanismo Romano A cidade foi encarada de uma forma diferente em Roma que na Grécia, tendo-lhe sido dada uma importância muito similar enquanto fulcro da vida civil, religiosa e política; contudo, e ao contrário daquilo que se tinha verificado entre os helenos, todas as cidades fundadas ou conquistadas por todo o Império Romano se coligaram para melhor difundir o espírito e a cultura de Roma. De fato, as cidades eram de tal forma importantes que apenas os que não Tinham possibilidades (denominados "pagãos" – que residiam em aldeias ou pagus - ou "rústicos") viviam fora delas. • A estruturação das cidades romanas primitivas, adaptadas de outras pré-existentes ou criadas de raiz, era ortogonal, organizada em quadrícula ou retícula (baseada na que o grego Hipódamo de Mileto difundiu) e seguia um cuidadoso planeamento retilíneo e racional, articulando-se a partir de 2 ruas principais: o cardo (direção norte-sul); o decumanos (leste-oeste). A célula base do Império era a cidade, portanto à medida que o império crescia fundavam-se ou reestruturavam-se as cidades de acordo com as necessidades administrativas e dos padrões urbanísticos romanos. Decumanus Maximus L/O Cardus N/S Cidade romana de Timgad (norte da África), abandonada no século VII e escavada quase por inteira. • As ruas secundárias, traçadas paralelamente a esses dois eixos, cortam as ilhas quadradas ou retangulares. Essa operação leva o nome de limitação interna, e os grandes tratados de agrimensura da época imperial, tais como o de Frontino e Higino, consideram-na parte integrante do ritual de fundação das cidades. • Segundo o arquiteto urbanista Le Corbusier o sistema viário com desenho ortogonal, dava o aspecto de claridade e ordenamento, permitindo a limpeza, e ainda, “que as pessoas se orientassem nelas facilmente, para que a percorressem com facilidade” . Eram cidades fortificadas, a fim de que pudessem defender o Estado e a população. • O mesmo princípio organizacional urbanístico era aplicado nos acampamentos militares (ou "castros"), onde com uma groma se mediam os limites a partir do centro, estruturandose a construção a partir de um eixo vertical – o cardo e um horizontal, o decumanus. • Deste modo se tornou comum a organização urbanística que temos vindo a descrever, uma vez que os acampamentos militares montados para as campanhas de conquista se tornaram inúmeras vezes centros residenciais fixos, sendo a origem de novas cidades. Principais elementos urbanos • A Muralha: há um valor religioso ligado ao significado mágico do rito de limitação da cidade (inauguratio, limitatio, consacratio). Na época da paz romana as muralhas começam a ser negligenciadas e mesmo parcialmente demolidas para dar lugar à expansão urbana. No século III, a insegurança obriga os romanos a reerguerem as muralhas. • As Ruas: são pavimentadas e geralmente cercadas de calçadas. No que concerne a sua largura, os tratados de agrimensura indicam as dimensões consideradas ótimas no século I: 40 pés (12m) para os decumanos e metade para o cardo. As ruas com pórticos são frequentes, locais de intensa atividade comercial, onde os pedestre se protegem da chuva e do sol. • O Fórum: a praça pública. A sua volta cresceu a cidade. Era considerado o coração da cidade quer do ponto de vista religioso (templos), quer político (senado), econômico e de convívio (mercados e lojas comerciais). Aqui encontravam-se os principais edifícios da cidade, a cúria – onde se reunia o Senado - e a basílica – auditório reservado para reuniões políticas e comerciais e também de tribunal. Era também no fórum ou nas suas imediações que se erguiam os templos mais significativos. A este eram acrescentados novas praças - os fóruns imperiais – como o de Júlio César, o de Augusto e o de Trajano construídos para comemorar vitórias refletindo a vontade de dotar Roma de um conjunto monumental que espelhasse a glória da cidade e dos seus imperadores. • Os imperadores tentavam deixar nele a sua marca pessoal, como forma de ganhar popularidade e deixar a sua marca na História. • O Fórum é normalmente situado na intersecção do decumanus com o cardo. Fórum romano. O fórum que era alcunhado de "cabeça do mundo" ou caput mundi: • Equipamentos públicos: uma praça especial deve ser consagrada aos edifícios destinados ao lazer: teatros, circos, anfiteatros, termas. Entretanto ele não é mais incrustado no flanco de uma colina. Geralmente construído em local plano, é um verdadeiro monumento. • O circus maximus era uma pista destinada a corridas de carruagem e bigas, contornada de grades, implantada na parte côncava do terreno. Em Roma situava-se numa estreita depressão entre as colinas do Palatino e Aventino. Tinha capacidade para 250 mil pessoas. • O Anfiteatro é como o Teatro, um edifício de pedra e alvenaria, sendo o Coliseu o tipo mais acabado. Tratase de um monumento específico da civilização romana, ligado à paixão dos combates de gladiadores. Teatros : locais para a representação de tragédia, comédia e farsas, também utilizados para reuniões políticas dos cidadãos. O Coliseu tinha capacidade para 50 mil espectadores Interior do teatro • Termas: embora derivem do ginásio grego, constituem um elemento característico do urbanismo romano. Eram estabelecimentos públicos onde se podia tomar banhos de água quente, fria e tépida, receber massagens, fazer depilação, praticar desporto, ler e conviver socialmente. Eram o local onde os ricos e os pobres cuidavam de sua higiene. • Nas grandes termas da época imperial, construções gigantescas ostentando luxo, encontram-se agrupadas, além dos estabelecimentos destinados aos banhos públicos, as salas consagradas ao passeio, à vida social, uma biblioteca e salas de leitura. Prática da mais elementar higiene, o banho era para os Romanos um momento cultural, permanecendo como uma das facetas mais civilizadas e agradáveis da vida cotidiana. Para tornar isto possível, as cidades estavam equipadas com aquedutos, normalmente obras grandiosas, muitas vezes longe da cidade, eu levavam a água até os fontanários públicos e casas particulares. • Aquedutos: Aqueduto é um canal ou galeria subterrâneo ou à superfície, e construído com a finalidade de conduzir a água. Os aquedutos são normalmente edificados sobre arcadas ou sob plataformas de vias de comunicação. • Os aquedutos romanos eram construções extremamente sofisticadas. Eles eram construídos para operarem dentro de parâmetros muito precisos de tolerância. De modo que o caimento (de Pont du Guard, por exemplo) é de apenas 34cm por quilômetro. Descendo apenas 17m verticalmente em um percurso de 50km. • O desafio consistia no fato de que o aqueduto tinha que ter o caimento exato, uma vez que se fosse muito grande a água transbordaria, se fosse muito baixo, a água empoçaria. Totalmente, impulsionado pela gravidade, percorria muito quilômetros de modo muito eficiente. Esquema de um antigo aqueduto e um moderno “aqueduto” • Basílica: a é um grande espaço coberto, destinado à realização de assembleias cuja origem remonta à Grécia Helenística. O seu modelo foi largamente desenvolvido pelos Romanos, sendo mais tarde, já na época do Império Romano, adaptado como modelo para os templos cristãos. • A Basílica romana descende das Ágoras colunadas gregas. Na sua gênese, as basílicas romanas eram edifícios multifuncionais, que poderiam albergar áreas públicas, políticas, comerciais e sociais. Eram espaços de reunião destinados a assembleias cívicas, funcionando muitas vezes como tribunais ou espaços comerciais (lota/leilões), tornando-se um edifício central e indispensável em qualquer cidade importante. • A basílica era um edifício grande e longo, geralmente composto por uma nave central, duas colaterais e uma ou mais ábsides. As naves laterais são mais baixas, por forma a não obstruir as janelas altas (clerestório) na parte superior da nave central. Numa posição bem visível, ao fundo, estava a tribuna que mais tarde seria adaptada transformando-se no altar e no púlpito do culto cristão. Construção de templo romano. Mercado. Obras particulares – se desenvolveram em regiões privilegiadas das cidades e em seus arredores, com decoração deslumbrante, distribuídas em torno de jardim como os palácios urbanos e as vilas de veraneio da classe patrícia. A domus desenvolvia-se na horizontal, embora pudesse haver um segundo piso. As divisões que davam para a rua, denominadas tabernae , eram geralmente arrendadas a terceiros, sendo usadas como lojas ou oficinas. Não havia vitrine no sentido moderno do termo e a taberna abria diretamente para a rua. Por vezes, os comerciantes ou artesãos alugavam igualmente o segundo piso, onde viviam com a sua família. A plebe vivia em construções com portas que davam acesso a sacadas e terraços, mas sem divisões de ambientes nesses recintos. Seus característicos tetos de telha de barro cozido ainda subsistem em pleno século XXI. Eram as chamadas ínsulas ou insulae. Vilas Romanas • A vida política obrigava os poderosos generais a ficarem nas cidades, então eles começaram a adquirir suas casas de campo nos arredores de Roma, surgindo assim as Villas com seus “Jardins dos Prazeres”. • Abaixo, ilustração da Vila do Imperador Adriano, em Tivoli. Peristilo. Latrina particular. Átrium. Pátio interno ou poço de iluminação. Multiplicidade de usos. Latrina coletiva. Bar. Apartamentos. Bibliografia • BENEVOLO, Leonardo – A história da cidade – São Paulo, Perspectiva, 2 • Google Imagens