ATENÇÃO Caso o seu veículo publique – parcialmente ou na íntegra – esta matéria de serviço, envie-nos uma cópia da edição. O endereço é o SCN Quadra 5 Bloco “A” Torre Norte, sala 417, Edifício Brasília Shopping, Brasília (DF). CEP: 70715-900. Obrigado. Cuidados com a “boa” forma Anvisa chama a atenção para uso indevido de produtos como anabolizantes, suplementos alimentares e inibidores de apetite A busca pelo corpo “perfeito” pode levar muita gente a excessos que comprometam a saúde, principalmente no que se refere ao consumo indiscriminado de suplementos alimentares e medicamentos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – ligada ao Ministério da Saúde – chama a atenção para o uso sem orientação desses produtos, capazes até mesmo de levar à morte. Para muitas pessoas, manter o corpo em forma significa estar magro; outras preferem o desenvolvimento exacerbado dos músculos, conquistado às custas de horas de academia e, em alguns casos, do consumo de determinadas substâncias. Na tentativa de alcançar resultados “milagrosos” para o emagrecimento, costuma-se apelar para os inibidores de apetite. Na direção oposta, alguns adeptos do fisiculturismo recorrem, sem critérios, aos alimentos para os praticantes de atividades físicas – também conhecidos como suplementos alimentares – e a substâncias mais perigosas, como os anabolizantes ou esteróides. Embora conduzam a resultados diferentes, as duas vias podem terminar trazendo conseqüências graves ao corpo. Os alimentos para praticantes de atividade física funcionam como repositores de energia e nutrientes. Normalmente indicam-se esses produtos se o organismo precisa de uma quantidade maior de proteínas e vitaminas ou quando o atleta não tem tempo para se alimentar de forma correta. Segundo a Anvisa, não se deve usá-los sem a orientação de um nutricionista. “Sem a ajuda do profissional, esses alimentos podem não trazer o efeito esperado e até mesmo causar um resultado indesejado, como o ganho de peso“, explica Rodrigo Martins, técnico da Área de Produtos Especiais da Anvisa. O técnico chama a atenção para que pessoas com restrição ao consumo de substâncias como glúten ou açúcares verifiquem se esses produtos contêm estas substâncias. Já crianças, gestantes, idosos e portadores de qualquer doença devem sempre consultar o médico ou nutricionista para usar esses alimentos. Rodrigo Martins ressalta que o suplemento alimentar tem de ser comercializado dentro das normas da Portaria 222, da Anvisa, de 24 de março de 1998. Por essa norma, os produtos devem conter em seu rótulo informações sobre os ingredientes, recomendação de uso, dados do fabricante, número de registro, valor nutricional e conteúdo líquido, entre outras referências. Pela lei, consideram-se alimentos para praticantes de atividade física os repositores hidroeletrolíticos (bebidas que repõem líquidos e sais minerais), os repositores energéticos (ricos em carboidratos), os alimentos protéicos (ricos em proteínas), os alimentos compensadores (com quantidades variadas de nutrientes para complementação da dieta) e os aminoácidos de cadeia ramificada, que têm como função fornecer energia. A Anvisa alerta que não são considerados alimentos para praticantes de atividade física as bebidas alcoólicas e gaseificadas – como as produzidas com plantas como o guaraná e a catuaba – fitoterápicos (medicamentos à base de vegetais) e estimulantes que atuam no sistema nervoso central e que contêm hormônios que possam ser classificados como “doping” pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Malhação – Populares entre muitos adeptos das atividades das academias de ginástica e musculação – cultura popularmente conhecida como “malhação” – os anabolizantes ou esteróides oferecem um grande risco à saúde. Essas drogas trazem um alto teor do hormônio masculino testosterona. A chefe substituta da Unidade de Produtos Controlados da Anvisa, Cejana Passos, explica que esses medicamentos foram produzidos inicialmente para tratar de pessoas com deficiência de testosterona e dos portadores do vírus da Aids (HIV). Os portadores da Aids costumam a sofrer de degeneração muscular e por isso recebem os anabolizantes. Em pouco tempo os esteróides passaram a ser usados fora de sua função medicinal e chegaram ao mercado ilegal. A Anvisa informa que várias academias de ginástica oferecem o produto, adquirido tanto por homens quanto por mulheres, na forma de comprimidos, cápsulas e injeções. O uso nesses casos se relaciona ao aumento rápido da massa muscular e à redução da gordura corporal. Mulheres que tomam anabolizantes para aumento de sua massa muscular tendem a sofrer efeitos colaterais, como o engrossamento da voz, o surgimento de pêlos no corpo e no rosto, a perda de cabelo, a diminuição dos seios e até o câncer de ovário. Nos homens pode ocorrer redução na produção de esperma, impotência sexual, dificuldade ou dor ao urinar e calvície. Consumir anabolizantes sem a orientação de um médico ainda pode causar alteração do colesterol, distúrbios na coagulação do sangue, hipertensão, tumores no fígado e no pâncreas, ataque cardíaco e até morte. “Não existe uma quantidade segura para a ingestão de esteróides. A primeira dose pode ser letal”, afirma Cejana Passos. Outro problema encontrado no consumo ilegal dessa droga diz respeito à grande quantidade de produtos falsos achados no mercado. Os anabolizantes piratas podem trazer dosagens acima da quantidade normal. “As chances de uma parada cardíaca aumentam consideravelmente nesse caso, principalmente se o produto for de uso animal”, explica Cejana Passos. Existe a crença de que os anabolizantes de uso animal, como hormônios para cavalo, funcionam no organismo humano. Apetite – Os inibidores de apetite ou anorexígenos são muito procurados por pessoas que querem perder peso. Segundo um estudo do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), 92% dos consumidores de inibidores de apetite são mulheres. Esses medicamentos reúnem anfetaminas, substâncias que causam a sensação de saciedade. “Quem consome esses medicamentos tem o hábito de cortar uma ou duas refeições diárias. Com isso, a perda de peso é imediata”, observa Cejana. No entanto, o que parece um milagre pode virar pesadelo. O consumo excessivo dessas substâncias causa dependência química e sintomas como boca seca, dor de cabeça, perda do sono, euforia, crises de ansiedade e pânico, prisão de ventre, arritmia cardíaca, aumento da pressão arterial e perda da capacidade pulmonar, que podem levar à morte. “Muitos consultórios prescrevem esses medicamentos a pessoas que não necessitam de algo tão forte”, afirma Cejana. Segundo ela, geralmente esse tipo de produto tem indicação em casos de obesidade mórbida (quando a pessoa apresenta um peso muito elevado, com alto risco para o portador e com pouca probabilidade de tratamento por meio de dietas e atividades físicas). Outro erro cometido por profissionais apontado pela Anvisa é o uso contínuo dessas substâncias por seus pacientes. Segundo Cejana Passos, os inibidores de apetite devem ser utilizados por, no máximo, seis meses. Porém existem pessoas que tomam por dois anos ou mais. Quem corre mais riscos são as pessoas que consomem sem a indicação de um profissional. SERVIÇO Quem quiser denunciar o consumo ilegal de suplementos, esteróides ou inibidores de apetite deve entrar em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por meio do endereço eletrônico [email protected] . Dose perigosa Y.M.A., 17 anos, morador de Samambaia (DF) sentiu literalmente na pele os efeitos do uso indevido de anabolizantes. Dias após injetar 10ml de A-D-E emulsificável (complemento vitamínico utilizado em animais como cavalos, bois e coelhos) em cada braço, o estudante começou a sentir os efeitos da rejeição da substância pelo organismo. “Passei vários dias com febre acima de 40°C, dor de cabeça e nos olhos e os braços inchados”, lembra. “Também apareceram uns nódulos nos meus braços”, acrescenta. O menor diz que não teve dificuldades em adquirir o produto em uma loja especializada em artigos agropecuários perto de casa. “Resolvi testar o produto, porque alguns amigos já tinham usado. Sabia que fazia mal, mas meus colegas não apresentaram reação à substância”, lembra. Para se livrar dos efeitos, o garoto foi submetido a tratamento com antibióticos. Hoje, dez meses depois do incidente, ele ainda sente dores nos braços, o que traz a lembrança dos maus momentos que passou. “Não aconselho ninguém a fazer uso desse tipo de substância ou de qualquer outra que prometa bons resultados em pouco tempo. Quem faz isso por achar que vai ficar bonito e forte está totalmente enganado”, diz. “É bem melhor ter um pouco mais de paciência e malhar direitinho. Os resultados chegam com o tempo e naturalmente”, aconselha Y.M.A.