1 CARACTERIZAÇÃO DOS MECANISMOS DE COESÃO

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Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação
e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
19 a 21 de outubro de 2011
CARACTERIZAÇÃO DOS MECANISMOS DE COESÃO EM TEXTOS
JORNALISTICOS: A SUBSTITUIÇÃO LEXICAL E GRAMATICAL
Arnaldo Rodrigues de Lima (UEG)1
[email protected]
Kamila Martins Assunção (UEG)2
[email protected]
Débora Moraes da Rocha (UEG)3
[email protected]
Scarleth Menezes de Moura (UEG)4
[email protected]
Marco Antônio Rosa Machado (UEG)5
[email protected]
Introdução
Este trabalho situa-se no âmbito da Linguística Textual e tem como objetivo principal
investigar e descrever o funcionamento dos mecanismos coesivos – especialmente aqueles
que realizam a coesão por meio da substituição lexical e gramatical – em um corpus
constituído por textos jornalísticos, a fim de sistematizar os usos desse mecanismos em textos
escritos de uma variante padrão da língua. Para tanto, fundamentamo-nos nos trabalhos de
Fávero (2000), Koch (1989, 2004), Antunes (2005) e Jubran e Koch (2006), que discutem o
conceito de coesão (avançando e ampliando as ideias propostas por HALLIDAY e HASAN,
1976) e propõem algumas classificações gerais. O corpus de nossa pesquisa está composto
por cinquenta textos jornalísticos, publicados em duas revistas semanais e um jornal de
grande circulação nacional (Carta Capital, Veja e Folha de São Paulo), mas neste trabalho,
devido à limitação de espaço, apresentamos a análise detalhada de apenas um texto, retirado
da revista Carta Capital. A partir da análise predominantemente interpretativa, descrevemos
como os mecanismos de coesão aqui estudados podem interferir na constituição dos sentidos
dos textos.
É ponto relativamente pacífico para os estudiosos da língua afirmar que o texto
constitui uma unidade qualitativamente diferente da frase, não só por sua extensão, mas
também pelos princípios constitutivos que o regem. Diferentemente da frase, o texto não
segue regras rígidas e inequívocas em sua constituição, ao contrário, o que há são princípios
de textualidade (que Beaugrande e Dressler, 1981, chamaram de fatores de textualidade e se
popularizaram no Brasil com as obras de Fávero e Koch, 2000; Koch 1989, 2004).
Assumimos, então, que o texto caracteriza-se como uma unidade de sentido e está
presente nas práticas sociais do indivíduo moderno, de modo que tais práticas são regidas e
desencadeadas por intermédio de inúmeras manifestações textuais.
Assim concebido, o texto, enquanto objeto de estudo, deve ser tomado e analisado
como uma unidade e não como uma mera construção de ligações entre frases isoladas,
organizadas em sequência. Por isso, embora o foco principal de nossas análises esteja situado
no campo da coesão textual, não acreditamos que seja possível estabelecer uma separação
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PVIC/UEG - Programa Voluntário de Iniciação Científica da UEG.
PBIC/UEG - Programa de Bolsas de Iniciação Científica da UEG.
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PBIC/UEG - Programa de Bolsas de Iniciação Científica da UEG.
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PVIC/UEG - Programa Voluntário de Iniciação Científica da UEG.
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Docente da UEG-UnUCSEH. Pesquisador-líder, orientador deste trabalho.
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radical entre a coesão e os demais princípios de textualidade – especialmente a coerência –,
pois o texto, enquanto unidade de sentido, sempre estabelecerá relações de dependência com
todos os princípios envolvidos na prática da produção e compreensão textual.
Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é descrever e analisar o funcionamento de alguns
mecanismos coesivos, especialmente aqueles relacionados à coesão referencial (substituição
gramatical e lexical), em um corpus constituido por textos jornalísticos, a fim de sistematizar
os usos desses mecanismos em textos escritos da variante da língua padrão.
Já os objetivos específicos são:
(i) Descrever os mecanismos coesivos predominantes no texto analisado,
correlacionando coesão por substituição lexical e por substituição gramatical;
(ii) Descrever como esses mecanismos coesivos interferem na constituição dos
sentidos dos textos;
(iii) Apontar as relações existentes entre os mecanismos constitutivos da coesão e as
direções argumentativas do texto.
Metodologia
O tipo de pesquisa utilizado neste trabalho é a de natureza interpretativa, já que se
busca expor significados que não são explícitos, como se pode observar na análise
apresentada adiante. Apesar disso, busca-se também uma análise quantitativa, com o objetivo
de se evidenciarem tendências gerais. Mas saliente-se que o foco principal das análises será a
interpretação de cunho indiciário.
O corpus geral de nossa pesquisa está composto por cinquenta textos jornalísticos,
publicados em duas revistas semanais e um jornal de grande circulação nacional (Carta
Capital, Veja e Folha de São Paulo). Essa escolha obedeceu a alguns critérios gerais: textos
integrais disponíveis online (na rede mundial de computadores), publicados no segundo
semestre de 2010 (especificamente nos meses de agosto e setembro) e textos situados no
domínio discursivo do jornalístico (notícias e reportagens). Uma razão para a escolha do texto
jornalístico é o fato de esse tipo de texto uma grande uniformidade gramatical em todo Brasil
e reflete o estado atual de uma variedade padrão da Língua Portuguesa bastante presente no
dia-a-dia dos usuários da língua.
Considerando-se a extensão do corpus e o tipo de análise que buscamos empreender
em nossa pesquisa, apresentamos aqui a análise de apenas um texto, retirado da revista Carta
Capital, intitulado “"Eleitor, telespectador", de Cynara Menezes, publicado no site de Carta
Capital em de 12 de agosto de 2010.
Fundamentação teórica
Desde constituição da Lingüística Textual como disciplina específica dentro dos
estudos linguísticos, na década de19 60, os fatores de textualidade, especialmente as noções
de coesão e coerência textual, estiveram na pauta de discussão. Assim, uma das primeiras
tarefas da disciplina que então se consolidava era estabelecer uma distinção entre estes dois
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conceitos, tarefa para a qual Halliday e Hasan (1976) e Beaugrande e Dressler (1981)
contribuíram sobremaneira. Os primeiros com o livro Cohesion in English (1976) e os últimos
com o livro Introduction to Textlinguistics (1981), obras que, ainda hoje, são referência
obrigatória para os pesquisadores da Linguística Textual, principalmente no que tange à
proposta de critérios de textualidade, isto é, o que caracteriza uma porção linguística como
texto.
Com o desenvolvimento da Linguística Textual, que passa a dialogar com disciplinas
cujo foco se situa nas relações sociocognitiva entre os indivíduos, passa-se a considerar outros
elementos no tratamento do texto. Este, por sua vez passa a ser concebido como
o lugar de constituição e de interação de sujeitos sociais, como evento em
que convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais [...], ações por meio
das quais se constroem interativamente os objetos-de-discurso e as múltiplas
propostas de sentidos, como função de escolhas operadas pelos coenunciadores entre as múltiplas possibilidades de organização que a língua
lhes oferece. (KOCH, 2002, p. 9)
Saliente-se também a relação existente entre texto e discurso, na qual os mecanismos
de coesão desempenham importante papel, já que as relação de reiteração que se dão por meio
da substituição lexical e gramatical influenciam fortemente o discurso e a direção
argumentativa que este toma. Para entender essas relações, a contribuição de Costa Val (2006)
revela-se elucidativa: "pode-se definir texto ou discurso como ocorrência linguística falada ou
escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal"
(COSTA VAL, 2006, p. 3). Ainda, conforme a autora, "chama-se textualidade ao conjunto de
características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de
frases" (COSTA VAL, 2006, p. 5) (como foi mencionado na introdução), nesses estudos a
frase isolada é desconsiderada.
Travaglia e Koch explicam a relação entre os termos discurso e texto:
chamamos de discurso toda atividade comunicativa de um locutor, numa
situação de comunicação determinada, englobando não só o conjunto de
enunciados por ele produzidos em tal situação - ou os seus e os de seu
interlocutor, no caso do diálogo- como também o evento de sua enunciação.
O texto será entendido como uma unidade linguística concreta (perceptível
pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante,
escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa
específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função
comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua
extensão. (TRAVAGLIA; KOCH, 1989, p. 8- 9, grifo do autor)
Entende-se, assim, que o texto materializado é concreto enquanto que o discurso é
algo abstrato. Essa separação entre texto e discurso, embora didática, não se sustenta
inteiramente hoje, pois como veremos na análise, há muitos fatores externos (sociais,
discursivos) que influenciam na construção dos sentidos de um texto. Quando o texto está
sendo produzido vários fatores passam a constituí-lo, ou seja, ele não surge isolado num
universo dado. Fatores como o conhecimento que o produtor possui, momento histórico da
produção, a intenção do produtor perante o receptor, a escolha lexical pensada para atingir a
intenção desejada, a formação ideológica (visão de mundo de uma classe) e a relação
existente com outros textos pré-existentes, fazem parte do processo de produção e
compreensão de um texto.
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Restringindo nosso foco agora para a coesão, vemos que, conforme aponta Koch
(2001, p. 19) "o conceito de coesão textual diz respeito a todos os processos de
sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação linguística significativa
entre elementos que ocorrem na superfície textual". Nessa mesma linha de pensamento situase Antunes (2005, p. 48): "a função da coesão é de dar continuidade do texto, para que não se
perca o fio de unidade que garante sua interpretação".
Para o professor de língua materna, é de extrema importância entender o que é a
coesão e qual a sua função. Isso porque, ao corrigir os textos dos alunos, o professor deve não
só dizer que o texto não está coeso, mas também (e principalmente) justificar sua avaliação e
mostrar aos alunos as possibilidades que a língua oferece.
Antunes (2005, p. 50) afirma que "a continuidade que se instaura pela coesão é,
fundamentalmente, uma continuidade de sentido, uma continuidade semântica, que se
expressa, no geral, pelas relações de reiteração, associação e conexão". Por isso, não se pode
ignorar a íntima relação entre coesão e coerência, e o fato de que o texto se constroi levando
em conta a continuidade temática e os aspectos formais.
Note-se que há vários mecanismos de coesão apontados na literatura sobre o tema. No
entanto, neste trabalho o que mais nos interessa são os mecanismos de coesão realizados por
meio da reiteração. Antunes define a relação de reiteração da seguinte forma:
a reiteração é a relação pela qual os elementos do texto vão de algum modo
sendo retomados, criando-se um movimento constante de volta aos
segmentos prévios – o que assegura ao texto a necessária continuidade de
seu fluxo, de seu percurso –, como se um fio perpassasse do início ao fim.
(ANTUNES, 2005, p. 52 – ênfase da autora).
De acordo com Antunes (2005), a reiteração pode ser de dois tipos: a repetição
(paráfrase, paralelismo e repetição propriamente dita) e a substituição (substituição
gramatical, substituição lexical e elipse). Todos esses mecanismos coesivos colaboram para a
tessitura textual (coesão). Porém, o objetivo desse trabalho é descrever e analisar o
funcionamento dos mecanismos coesivos que constituem a coesão referencial por meio da
substituição lexical e gramatical e, portanto, não trataremos dos demais mecanismos coesivos
mencionados.
A substituição lexical é concebida por Antunes (2005) como um recurso coesivo "pelo
qual se promove a ligação entre dois ou mais segmentos textuais. Implica, pois, como o
próprio nome indica, o uso de uma palavra no lugar de uma outra que lhe seja textualmente
equivalente" (ANTUNES, 2005, p.96 – ênfase da autora). O procedimento da substituição
possibilita o acréscimo de informações ou dados acerca de uma referência já introduzida
anteriormente como se pode observar na análise do texto adiante. A substituição lexical
contribui para a continuidade do tema no texto ou do tópico do parágrafo, além de ligar partes
de um texto. Constitui ainda elemento de coerência do texto, pois esses elementos coesivos
estabelecem relações que dizem respeito não só á ligação entre referentes, mas também
contribuem para a direção argumentativa do texto e para sua coerência, motivo pelo qual as
análises não podem estabelecer uma separação rígida entre coesão e coerência. Pode-se
verificar nas expressões encontradas no texto que elas servem para atribuir valor positivo ou
negativo ao referente ao qual se ligam, e isso constitui-se como estratégia altamente
argumentativa, já que esses valores implicam posicionamento a favor ou contra determinado
ponto de vista, traduzindo, desse modo, o posicionamento ideológico de quem escreve os
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textos.
Resultados e discussão
Tendo em vista os objetivos e os posicionamentos teóricos mencionados acima,
buscamos apresentar neste item os dados analisados, bem como as conclusões gerais às quais
essa análise nos conduz. Conforme indicado acima, embora o corpus geral de nossa pesquisa
seja constituido por cinquenta textos, optamos por apresentar a análise de um único texto,
tendo em vista o espaço de que dispomos.
O texto que analisamos neste trabalho intitula-se "Eleitor, telespectador" (escrito por
Cynara Menezes e publicado em 12 de agosto de 2010) e foi obtido na página da revista Carta
Capital (http://www.cartacapital.com.br/politica/eleitor-telespectador-2). O textoe trata da
relação entre a campanha política para presidente da república (2010) e meios de
comunicação, e discute a influência que estes podem ter sobre o resultado final das eleições.
Para nossa análise, salientamos as substituições lexicais e as destacamos com cores
diferentes, de modo a se estabelecer a conexão entre expressões referencias que apontavam
para o mesmo referente. Já a para marcar a substituição gramatical utilizamos colchetes.
Observamos dois tipos de substituição lexical: a primeira diz respeito aos candidatos
envolvidos na campanha presidencial de 2010 e a segunda faz referência direta ao espetáculo
político, pois abordará o encadeamento de certos termos que justificam o texto, possuem um
papel importante para a argumentação do texto, além disso esses mesmos elementos garantem
a continuidade temática interferindo diretamente nos sentidos do texto.
Nos exemplos a seguir, a cor vermelha indica as expressões referenciais que apontam
para a presidenta Dilma. Neste grupo pode-se fazer uma subdivisão: aquelas expressões que
acrescentam dados relacionados ao governo tais como: "a candidata de Lula", "a candidata
petista", "a ex-ministra", "a petista", "a candidata apoiada por Lula", " a ex-ministra da Casa
Civil", "a ex-chefe da Casa Civil" e "o braço direito de Lula", e outras expressões que a
colocam em confronto com um dos demais candidatos (José Serra, do PSDB): "à adversária",
"a rival", "a candidata" e "a candidata Dilma". A partir dos exemplos abaixo, é possível
observar como acontece o processo de substituição lexical no primeiro exemplo, e no outro
como se estabelece a relação entre os dois presidenciáveis, além disso, nota-se a associação
entre as expressões destacadas de vermelho.
(1) "No caso de Dilma Rousseff, será a chance de alcançar a porção do -eleitorado
que ainda desconhece ser [ela] a candidata apoiada por Lula."
(2) "O tucano, por seu lado, tentará mostrar que a adversária não tem experiência
em governar. "
A cor azul indica as expressões de substituição lexical referente ao candidato José
Serra, neste caso também se verifica a necessidade de se fazer uma subdivisão: aquelas que
acrescentam dados relacionados ao partido do candidato, tais como "o tucano José Serra", "o
tucano", "o presidenciável do PSDB", "o tucanato", "o ninho tucano", "o presidenciável
tucano", e outras expressões que o confrontam a candidata Dilma, tais como "o adversário
Serra" e "o candidato preferido do empresariado". Na maioria das ocorrências verifica-se a
presença da palavra "tucano", esta representa o símbolo do partido ao qual o mesmo pertence,
e por isso aqueles que pertencem ao partido são reconhecimentos por essa nomenclatura,
como pode-se verificar nos exemplos retirados do texto:
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(3) "Importante para Dilma Rousseff, do PT, que precisa consolidar-se como a
candidata de Lula, e para Marina Silva, do PV, que aposta na grande exposição
para crescer nas pesquisas, a televisão é considerada por especialistas como a
única chance que o tucano José Serra tem de reverter um quadro que lhe é, a cada
dia, mais desfavorável."
No texto, a expressão "o candidato preferido do empresariado" funciona como uma
contraposição ao que foi dito, pois se ele representa a preferência de um grupo específico e de
grande importância para o apoio político, a situação descrita era para ser diferente, pois até
Marina Silva, considerada como insignificante se comparada aos outros presidenciáveis,
conseguiu a arrecadação mais expressiva do que Serra, ainda no texto é interessante perceber
as regras do jogo eleitoral, pois se é exigido de Serra maior empenho pessoal na candidatura
presidencial, como se pode notar no trecho adiante:
(4) "A arrecadação de recursos para a campanha tem sido mais uma pedra no
sapato de Serra. Levantamentos feitos pela imprensa dão conta de que, no mês de
julho, até mesmo Marina Silva amealhou mais recursos do que o presidenciável
tucano."
(5) "A ponto de o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, pedir ao próprio candidato
empenho pessoal na arrecadação."
Para se entenderem as relações existentes entre as duas personagens em foco no texto,
é de suma importância entender o que é um interdiscurso. Conforme Orlandi (2010, p. 33) "o
interdiscurso é todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que
dizemos". Portanto, quando dizemos algo acionamos nossa memória (esquecimentos) e nos
situamos em um espaço e em um tempo histórico. Por isso, essas condições de produção
refletem no entendimento do texto, é necessário ir além da materialidade linguística e buscar
elementos extralinguísticos, como a historicidade dos partidos e dos protagonistas do
espetáculo (origens, influências), a simbologia das cores (representação histórica delas) e sem
dúvida remontar à memória coletiva dos indivíduos envolvidos na interação social.
Nas expressões "a candidata de Lula", "a candidata petista", "a petista", "a candidata
apoiada por Lula" e "o braço direito de Lula" diferentemente das outras pertencentes ao
mesmo grupo, trazem cargas de sentidos próprios, pois resgata da memória coletiva a figura
do presidente Lula , a história de luta dele, a identificação com o povo trabalhador, pois ele
veio do povo, o modo simples de falar, a visão que o povo tem dos anos de governo Lula,
todos esses elementos são fundamentais porque como se pode notar as expressões indicam o
apoio de Lula com a candidata Dilma, o implícito nos permite interpretar que ela dará
continuidade ao governo de Lula e que ela é competente para o cargo porque foi o "braço
direito" do presidente, além da imagem associativa que se constroi entre a candidata e o
partido, relação de pertencimento.
Nas expressões "a ex-ministra", " a ex-ministra da Casa Civil" e "a ex-chefe da Casa
Civil", se referem a experiência que ela tem, além de apresentar o cargo que ela está
ocupando, isso a situa do lugar de onde ela fala, ou seja, a posição que ocupa. Neste sentido,
os três exemplos logo abaixo justificam a análise feita neste parágrafo, bem como os dois
últimos:
(5) "Importante para Dilma Rousseff, do PT, que precisa consolidar-se como a
candidata de Lula, e para Marina Silva, do PV, que aposta na grande exposição
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para crescer nas pesquisas, a televisão é considerada por especialistas como a
única chance que o tucano José Serra tem de reverter um quadro que lhe é, a cada
dia, mais desfavorável."
(6) "Segundo um integrante da campanha petista, Dilma tem de deixar de “ser tão
técnica” e falar de uma maneira que o povo entenda. É isto que, de acordo com a
fonte, Lula e o (marqueteiro) João Santana repetem para ela o tempo inteiro."
(7) "A ex-chefe da Casa Civil tem participado, ainda, de encontros com ministros,
que lhe explicam em detalhes o funcionamento de áreas que não domina. "
A cor vermelha terrestre indica as expressões de substituição lexical referente à
candidata Marina Silva tais como "Marina", "Marina Silva" "a candidata do Partido Verde",
"ex-ministra do Meio Ambiente", esta se comparada aos outros candidatos poucas vezes foi
mencionada no texto, este fato não é uma coincidência, certamente indica uma posição diante
desse fato.
Observe-se que foram detectadas quatros expressões, dentre elas, as duas primeiras
aparecem com mais regularidade, porém as duas últimas que acrescentam informações sobre a
candidata acontecem em menor proporção, o que indica que essas substituições lexicais
menos recorrentes provavelmente foram evitadas para não possibilitar lacunas o que pode
acarretar indevidas interpretações acerca de algo que não é o foco. O trecho escolhido para
exemplificar esse parágrafo diz respeito à preferência da revista pela candidata Dilma,
segundo os dados levantados pela autora:
(8) "Na última pesquisa do Instituto Sensus divulgada na manhã da quinta-feira 5,
dia do debate na Rede Bandeirantes, o primeiro entre os cinco programados até o
fim do primeiro turno, Dilma Rousseff aparece com 41,6% das intenções de voto,
contra 31,6% de Serra e 8,5% de Marina Silva. Só a soma dos chamados
“nanicos” não permite afirmar que o cenário, neste momento, é de uma eleição de
um único turno. Mas, como escreve o sociólogo Marcos Coimbra, a ex-ministra
chegou aos 40% sem que Lula ainda tenha, de forma maciça, pedido voto
“olhando nos olhos” do eleitor."
Essa breve amostra serve para indicar o importante papel que a substituição lexical
desempenha no texto. Imagine um texto dessa extensão repetindo os primeiros termos no
decorrer do texto inteiro? Essas expressões de substituição lexical não servem apenas para
diminuir a repetição de palavras, mas para trazer novas informações além daquelas já
mencionadas, contudo este recurso também é intencional, pois como se verifica nas análises
dessas expressões elas são carregadas de sentidos (explícitos e implícitos) e isso na construção
de um texto é essencial para se obter certo resultado argumentativo. Um dos resultados
apurados nas análises indica que tanto o termo "Dilma" quanto "Serra", numericamente
disparam em comparação as substituições lexicais, porém também se observa que as
expressões menos recorrentes é que estabelecem carga semântica capaz de influenciar nos
sentidos do texto.
Além do mecanismo de substituição lexical, foram contempladas neste trabalho
também as substituições gramaticais. Numa rápida olhada no texto analisado é fácil chegar à
conclusão de que a substituição lexical ocorre em maior escala do que a gramatical, o que não
é de se estranhar, já que itens lexicais têm mais conteúdo semântico que os itens gramaticais
da língua. Apesar da substituição gramatical poder se dar através de pronomes, advérbios etc.,
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raras vezes um termo estritamente gramatical foi capaz retomar referente anterior. Na maioria
das vezes a palavra gramatical estava em posição de determinante no sintagma nominal.
Como no exemplo a seguir:
(9) “Tenho a impressão que seria uma estratégia pouco inteligente. [(Este) tipo de
ataque] tem apelo na classe média e na classe média alta, mas não atinge a maioria
do eleitorado”
Neste trecho se fóssemos considerar apenas o termo gramatical “Este” (pronome
demonstrativo) como elemento coesivo ele seria incapaz de remeter ao referente anterior, a
retomada só se dá em conjunto com a expressão “tipo de ataque”. Então, nesta sentença não
há substituição/coesão puramente gramatical (estabelecendo sentido/continuidade), mas sim
um sintagma nominal cujo núcleo é o substantivo “ataque”. O que não ocorre no exemplo
seguinte:
(10) “[Isso] significa que quem abre o horário eleitoral e quem fecha leva
vantagem sobre os demais”.
Neste caso o pronome demonstrativo “Isso” consegue encapsular toda a idéia que foi
mencionada anteriormente. Aqui, sim, temos um termo estritamente gramatical estabelecendo
sozinho a coesão entre as partes do texto. É importante ressaltar que esta “dependência”
semântica em relação ao sintagma nominal ocorre na maioria das vezes com os pronomes
demonstrativos.
Considerações finais
Apesar da multiplicidade dos trabalhos que têm sido feitos sobre os mecanismos de
coesão textual, desde a origem da disciplina Linguística Textual, na década de 1960, a
investigação do tema ainda se mostra produtivo, ainda mais quando focalizamos nos
mecanismos de coesão lexical (como tratamos neste trabalho). Isso porque, ao se constituir
uma cadeia referencial por meio de substituições lexicais que retomam o referente objeto do
dizer, a operação de retomada – característica distintiva dos mecanismos de coesão – alia-se a
outras operações de textualização que materializam não apenas ligações entre elementos do
texto, mas revelam direções argumentativas, muitas vezes assentadas em pré-construídos
socialmente partilhados.
No caso das análises empreendidas nesse trabalho, as expressões usadas para se referir
aos candidatos à presidência da república em 2010, revelam certos posicionamentos em
relação às reais chances de um(a) ou outro(a) candidato(a) se eleger. Nesse sentido, quando se
usam as expressões “à adversária [de Serra]"/ "a rival [de Serra]" e “o adversário Serra” para
ser referir aos candidatos Dilma e Serra, respectivamente, apagam-se os demais candidatos,
que, ainda que mencionados na reportagem e nas pesquisas, são considerados sem chances
reais. Atente-se para o fato de que, quando da realização das pesquisas mencionadas e da
publicação da reportagem, o cenário eleitoral ainda não estava definido em termos de
intenções de voto fundadas em pesquisas recentes. O que há, na verdade, é a presunção de
maiores ou menores chances, apenas em função de elementos outros, tais como tempo
disponível para cada candidato nos meios de comunicação (propaganda eleitoral gratuita),
quantidade de aliados políticos, apoio do governo, apoio de alguns empresários importantes,
etc.
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Referências
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Editorial, 2005.
BEAUGRANDE, Robert-Alain de; DRESSLER, Wolfgang Ulrich. Introducción a la
linguística del texto. Barcelona: Editorial Ariel, [1981] 1997.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000.
JUBRAN, Clélia Cândia Abreu Spinardi; KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Gramática do
Português culto falado no Brasil – Vol. I: A construção do texto falado. Campinas, SP:
Editora da Unicamp, 2006.
KOCH, Ingedore Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
KOCH, Ingedore Villaça. Introdução à lingüística textual: trajetórias e grandes temas. São
Paulo: Martins Fontes, 2004.
PERINI, Mário A. Para uma nova gramática do Português. 10. ed. São Paulo: Ática,
2002a.
ORLANDI, Eni. Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP Pontes
Editores, 2010.
9
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