Luciano D’Agostini* Por que a Taxa de Juros SELIC deve cair e não subir nos próximos períodos como o mercado comenta? A economia mundial passa por período de acomodação pós crise 2008. Existe “sim” o risco não desprezível de um efeito W no crescimento (estamos a beira do segundo V) e ainda com riscos elevados à estabilidade financeira global. A atividade econômica mundial segue em ritmo moderado ou até mesmo negativo, com recessão em algumas economias maduras. Economias emergentes desaceleram o ritmo de crescimento. Também as perspectivas de crescimento são pífias para os próximos anos na maioria das economias maduras. Haverá acomodação também nas bolhas monetárias inseridas nos ativos reais em diversos países causados pela distorção e arbitragem de juros internacionais. Ainda no setor externo, existe evidências de acomodação dos preços das commodities, com possível queda internacional de produtos agrícolas e aumento dos preços de alguns commodities metálicos. Observa-se também condutas de política monetária dos principais bancos centrais, tanto nas economias emergentes e maduras de forma descoordenada, apesar de uma certa melhora nos últimos 4 anos. Existe um amplo desequilíbrio entre contas da China e Estados Unidos. Existe uma fragilidade financeira mundial. Internamente, a economia brasileira passa por estado de semi-estagnação, assim contextualizado: (i) o produto (PIB) ainda cresce positivamente, mas à taxas decrescentes e com perigo de terminar o ano de 2013 entre -0,5% a 1,5% a.a diferente de prognósticos do governo (3% a 4 % a.a); (ii) inflação muito próximo ao teto da meta (6,31% acumulado com expectativas de mercado próximos a 6% a.a), pressionado agora pela parcial do custo do aumento real do salário, em anos recentes, superiores ao crescimento de medidas tradicionais da produtividade do trabalho; (iii) problemas graves no setor imobiliário, agora com queda forte da velocidade de vendas e falta de dinamismo para crescimento sustentado; (iv) estreita ociosidade no mercado de trabalho com uma situação de baixo nível de desemprego (5,6%) num contexto de endividamento das famílias com o sistema financeiro nacional (43%) e crédito ainda caro, apesar da queda das taxas nos últimos anos; (v) baixo dinamismo do consumo das famílias pela queda do salário real, endividamento contraído em períodos anteriores e comprometimento da renda anual auferida por anos e que, por hora, o nível de desemprego baixo sustenta tal limite de endividamento; (vi) déficit em conta corrente (2,4% do PIB) sendo financiado pela conta capital financeira, através de investimentos estrangeiros diretos; (vii) ganhos salariais do trabalhador, comparado com a inflação e produtividade do trabalho, com taxas marginais decrescentes em relação a anos anteriores; (viii) ativos financeiros (renda fixa e variável) e ativos reais (imóveis e terrenos) com retornos menores; (ix) inadimplência pessoa jurídica subindo e de pessoa física acomodada em patamares aceitáveis, mas elevados e próximo a limites perigosos; (x) superávit primário, apesar de positivo, em trajetória de queda; (xi) baixa taxa de investimento e poupança sobre o PIB; (xii) distribuição de renda ainda pífia. Com o cenário supracitado, dado que adota-se o Regime de Metas de Inflação com Câmbio Flutuante, num ambiente onde o governo tem muitos fundamentos macroeconômicos para se preocupar além da inflação e dado que a inflação pode ser controlada por outros mecanismos (mix de política monetária, fiscal, rigidez em crédito e controle de capitais mais rígidos em ativos financeiros e reais) e que a inflação é do tipo transitória e não permanente, a SELIC pode continuar seu movimento de queda no segundo semestre de 2013. Por quê a SELIC pode cair se estamos com movimento de inflação próximo ao teto da Meta? Porque existe expectativa de moderação dos aumentos salariais e de menores reajustes do salário mínimo nos próximos períodos (pelo gatilho inflação e produto) e, no horizonte não muito à frente, causará moderação de pressões inflacionárias vindas do mercado de trabalho e o consequente retorno/convergência da trajetória da inflação em relação à meta. Por fim, eis aqui o mais importante parágrafo da defesa da queda da SELIC: o Brasil também precisa reformar o sistema educacional para aumentar a produtividade do trabalho, precisa reduzir fortemente o "custo país" melhorando a infraestrutura em logística, reduzir a pobreza, melhorar a distribuição de renda e ainda tornar-se um país mais competitivo pelo comércio intencional, depreciando a taxa de câmbio real para um melhor equilíbrio das contas externas sem muita dependência da poupança externa. O Brasil precisa reduzir o custo do investimento do setor produtivo e dar expectativas positivas ao investidor financeiro. Por fim, para auxiliar na queda da taxa neutra, o Conselho Monetário Nacional deve reduzir o centro da meta para níveis de 3 a 3,5% para os próximos anos. *Integrante do grupo Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento/CNPQ. Doutor em Desenvolvimento Econômico – UFPR. LUCIANO LUIZ MANARIN D’AGOSTINI Economista (2002), Mestre (2004) e Doutor (2010) pela Universidade Federal do Paraná. Foi aluno visitante do curso de Doutorado em Métodos Numéricos Aplicados a Engenharia da UFPR. É Integrante do Grupo de Pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento/CNPQ. Tem experiência no mercado financeiro, atuando como consultor nos seguintes temas: gestão de carteiras, seguros, política monetária, taxas de juros, taxa de câmbio, inflação, investimentos em renda fixa e variável. É co-autor do Livro Política Monetária, Bancos Centrais e Metas de Inflação (FGV, 2010) e autor do Livro Econometria Temporal Multivariada, Ed. Blucher (2011). Possui artigos macroeconômicos, de finanças e econométricos publicados em revista científica, livro de economia, congressos de economia, reportagens em jornais e revistas econômicas de grande circulação como Valor Econômico, Gazeta do Povo, O Globo, Revista Época e Revista Veja. É gestor de recursos habilitado pela CVM, corretor de seguros habilitado pela SUSEP e agente de momento mercantil habilitado pela ANFAC. É professor de Estatística, Matemática, Macroeconomia e Microeocnomia do curso preparatório para a ANPEC (CORECON/PR) e professor eventual dos cursos de pós-graduação em finanças do IBPEX/BR e SPEI/PR. Foi premiado pelo CORECON no Prêmio Paraná de Economia (2005), categoria Artigo de Economia, no Prêmio Brasil de Economia 2010 e 2012, categoria Livro e Prêmio de Selo de Qualidade Acadêmica da Editora Blucher (2011), categoria Tese de Doutorado. A área de pesquisa concentra-se em macroeconomia, finanças, estatística e séries temporais. Imprensa: para entrevistas sobre o SELIC, Reunião do COPOM, Política Monetária, Política Fiscal, Crise Internacional, Economia Imobiliária, Economia Industrial e Desenvolvimento Econômico. Contato: Prof. Dr. Luciano D’Agostini, telefones (41) 32061893 / 96731842, e-mail: [email protected] Para contratação para palestras em eventos empresariais: www.grandesprofissionais.com.br com Cristiana Nogueira (11) 3522-4434 ou (13) 3011-4434 Créditos para a Imprensa: Dr. Luciano D’Agostini , Integrante do Grupo Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento. Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas. É reservado ao CORECON-PR o direito de recusar textos que considere inadequados. *Integrante do grupo Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento/CNPQ. Doutor em Desenvolvimento Econômico – UFPR.