Interação entre Tecnologias Digitais e Alunos nas Escolas

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Interação entre Tecnologias Digitais e Alunos nas Escolas
Públicas
Larissa Medianeira Bolzan, Tarízi Cioccari Gomes, Eliete dos Reis e Mauri Leodir
Löbler
Av. Roraima nº. 1000, Prédio 74 C, sala 4303 – Cidade Universitária – CCSH – UFSM
Santa Maria/RS – 97105-900
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected]
Abstract. Knowing the importance of the interaction between ICTs and
students, this paper investigated how ICTs are being utilized in public schools
and its impact in the learning process. To achieve the proposed, semistructured interviews were conducted with the main responsibles for this
interaction. As result, we checked which digital resources schools provide for
interaction, the manner how ICTs are used as learning enhancers and lastly,
some behavioral changes were identified. We concluded that interaction
between students and digital technologies is beneficial to public education.
Resumo. Sabendo-se da importância da interação entre TICs e alunos, este
artigo investigou como as TICs estão sendo utilizadas nas escolas públicas e
qual o seu impacto no processo de aprendizagem. Para alcançar o proposto,
foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os principais responsáveis
por essa interação. Como resultado, foram verificados quais recursos digitais
as escolas disponibilizam para a interação, o modo como as TICs são
utilizadas para potencializar o aprendizado e, por fim, algumas mudanças
comportamentais foram identificadas. Como conclusão observa-se que a
interação entre os alunos e as tecnologias digitais é benéfica para o ensino
público.
1. Introdução
A atual classificação da sociedade, sociedade de informação, expõe o panorama
nacional de relacionamento com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs),
que já foram inseridas no cotidiano dos brasileiros. Nos estudos de Batista (2006) e
Young (2006) a parcela menos favorecida da população e os idosos foram, inicialmente,
considerados como excluídos digitais. E em seguida, expostos ao acesso obrigatório a
caixas eletrônicos, devido às políticas sociais como o Bolsa-Família e os benefícios do
INSS, e a urna eletrônica. Quanto a celulares, pagers, palms, notebooks e o crescente
uso da internet como meio de comunicação e aprendizado (FERNANDES e ROSS,
2006; SPINELLO e TEIXEIRA, 2008), compartilha-se do entendimento de Fernandes e
Ross (2006) e Moraes et al. (2009), que afirmam que esse cenário surgiu a partir de
sinais da expansão e imposição de ditames do mercado digital.
Devido à rápida disseminação das TICs, Menezes (2006) e Ribeiro, Castro e
Regattieri (2007), observaram a importância e a necessidade de integração das
tecnologias ao trabalho escolar, pois habilidades em novas tecnologias são
competências básicas a serem propiciadas pelos educadores no conjunto do currículo
escolar e de suas disciplinas. Assim, emerge o objetivo desse estudo: Investigar como as
TICs estão sendo utilizadas nas escolas públicas e qual o seu impacto no processo de
ensino. O objetivo geral é sustentado pelos seguintes objetivos específicos: (i) Verificar
quais recursos digitais estão sendo utilizados no processo de ensino; (ii) Verificar a
forma como é possibilitada a interação entre os alunos e as TICs; (iii) Identificar as
mudanças comportamentais causadas pela interação entre os alunos e as TICs.
Este trabalho está estruturado em mais cinco seções, além da introdução: na
seção dois aborda-se o referencial teórico que balizou a realização deste estudo. Na
seção três é apresentado o método que possibilitou a operacionalização da pesquisa. A
seção quatro apresenta os resultados alinhados com os objetivos propostos. Na seção
cinco constriu-se as considerações finais. Por fim, as referências bibliográficas
utilizadas no estudo em questão.
2. Referencial Teórico
Esta secção explora estudos e teorias sobre o tema deste artigo, a interação entre as
tecnologias de informação e comunicação e os alunos de escolas públicas.
2.1. Interação entre TICs e alunos em Escola Pública
Conforme o entendimento de Menezes (2006) a educação apresenta a tendência de
abandonar a preparação apenas técnica dos alunos (prática instrucionista), voltando-se a
formação de alunos com valores, criatividade e autonomia (abordagem construtivista),
destacando que os avanços tecnológicos e seu impacto no desenvolvimento humano
afetam o modo de ensinar e aprender o mundo, ocorrendo assim uma (re) significação
das práticas educativas. A autora afirma que a utilização de tecnologias digitais na
educação deve ser tratada como uma importante ferramenta de aprendizagem e também
como desafio para os alunos. Menezes (2006) também atribuiu, ao desenvolvimento das
TICs, a mudança na qualificação dos professores, ou seja, uma formação continuada
para agentes fundamentais no processo de aprendizagem. Devido a inserção das
tecnologias digitais ao cotidiano, o professor precisa capacitar-se continuamente, a fim
de acompanhar a dinâmica que as novas tecnologias impõem à sociedade.
A operacionalização do processo de capacitação dos professores de escolas
públicas é realizada com o apoio dos Núcleos de Tecnologias Educacionais (NTEs), que
capacitam os professores em dois níveis: multiplicadores e de salas de aula. Salienta-se
que os multiplicadores, geralmente, são os professores responsáveis pelo laboratório de
informática da escola e toda a tecnologia nele instalada, esse professor não precisa ter a
formação acadêmica relacionada a tecnologia, basta estar disposto a assumir a
responsabilidade e se qualificar através dos cursos promovidos pelo NTE regional
(MENEZES, 2006). Os NTEs são localizados em regiões estratégicas, cada núcleo visa
dar suporte a aproximadamente 50 escolas (BETTEGA, 2004; MENEZES, 2006).
Atualmente, o Rio Grande do Sul possui 34 NTEs.
No que se refere ao investimento público em TICs, para equipar as escolas,
Gimenes (2008) entende que isso contribui para a familiarização dos alunos com as
ferramentas digitais, possibilitando que ao longo do tempo, o aluno se aproprie de tais
conhecimentos sobre as tecnologias de informação e comunicação, além de ser uma das
mais efetivas formas de combater o apartheid tecnológico. Isso implica em vencer
barreiras físicas, culturais, educacionais e até mesmo, em alguns casos, psicológicas
(FERNANDES e ROSS, 2006). Segundo Carvalho (2009), muitas escolas já
disponibilizam aparelhos como televisores, DVD players, rádio e computadores com
acesso à internet. Ainda cabe acrescentar que o contexto brasileiro de inclusão digital
apresenta uma íntima relação com o Software não-proprietário, pois devido ao Decreto
de 29 de Outubro de 2003, que institucionalizou Comitês Técnicos do Comitê
Executivo do Governo Eletrônico de outras providências, tais como o Comitê de
migração para Software não-proprietário em seus órgãos e o Comitê para realização de
projetos de Inclusão Digital (BRASIL, 2003).
3. Método de Estudo
Visando atender aos objetivos delineados neste estudo realizou-se uma pesquisa de
caráter qualitativo e de natureza exploratória. Para Hair Jr. et al. (2007), estudos
qualitativos oferecem informações aprofundadas e por isso maior compreensão sobre
algumas características do tema proposto. Quanto a investigações do tipo exploratórias,
de acordo com Gil (2010), trata-se de estudos que proporcionam uma maior
flexibilidade na busca de informações sobre determinado problema, visando torná-lo
mais claro, possibilitando a construção de novas idéias sobre o tema abordado. No que
se refere ao método de pesquisa utilizado, este se caracteriza por ser um estudo de casos
múltiplos. De acordo com Cozby (2003), um estudo de caso fornece uma descrição de
um indivíduo, um ambiente, uma empresa, uma escola ou uma vizinhança. Visando
alcançar resultados mais convincentes e robustos (YIN, 2001), realizou-se um estudo
com múltiplas fontes de evidência, caracterizando-se assim, caso múltiplo.
Para o desenvolvimento desse estudo, foram utilizadas como unidades de
análises as escolas públicas municipais, localizadas na região central do Rio Grande do
Sul (RS). Foi estabelecido como critério de escolha o cumprimento da meta estabelecida
no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2009 (IDEB 2009) e, o
crescimento desse indicador com relação ao resultado obtido pela prova realizada em
2007, além de utilizarem TICs como ferramenta no processo de ensino. Observando o
critério média do IDEB, o total de escolas selecionadas foram nove, porém duas dessas
não utilizavam TICs como ferramenta potencializadora de aprendizagem, por isso
somente sete escolas foram investigadas. Destaca-se que o objeto de análise foi a
interação entre TICs e alunos.
Para coleta de dados primários, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com
os professores “multiplicadores” de cada escola. Essa escolha se justifica pelos resultados
do estudo de Menezes (2006), o qual destaca que esses individuos são os responsáveis pelas
ferramentas digitais e seu uso no processo de ensino e aprendizagem, em cada escola. Além
disso, também são capacitados para assumir essa função através de um curso com duração
de 100 horas, oferecido pelo NTE regional. No âmbito dessa pesquisa, esses sujeitos
foram investigados por deterem maior conhecimento a respeito da utilização dos recursos
tecnológicos que a escola dispõe para inclusão digital. Os dados secundários foram obtidos
pela análise documental, sites do Ministério da Educação e da prefeitura municipal e blogs
das escolas.
O roteiro das entrevistas foi elaborado com base nos estudos de Menezes (2006)
e Marcon (2010). As entrevistas tiveram duração aproximada de 35 minutos. Essas
foram gravadas e transcritas, sendo que para garantir a confidencialidade das
informações e preservar a identidade dos entrevistados, optou-se por nomeá–los de A a
G. Para a análise das mesmas, foi utilizada a técnica da análise de conteúdo proposta
por Bardin (1977). Quanto às categorias de análise a respeito da inclusão digital na
escola, foram definidas conforme mostra o Quadro 1.
Categorias
Panorama da
Interação entre TICs
e alunos
Como acontece a
interação entre TICs
e alunos
Mudança e
Perspectiva
Descrição
Mostra a forma como a interação com as tecnologias digitais são definidas
pelos atores e o comportamento dos alunos e professores frente ao processo
de inclusão digital. Apresenta também os recursos disponibilizados e infraestrutura.
Apresenta como acontece a interação dentro da escola, explora o papel do
educador e do responsável pelo laboratório de informática frente à mudança
proporcionada pelo novo ensino.
Explora as mudanças proporcionadas pela inclusão digital na escola, já
observadas no desempenho e comportamento dos alunos, assim como
aponta novas perspectivas visando melhor o processo de interação com as
TICs nas escolas.
No que se refere ao perfil dos entrevistados, 70% pertencem ao sexo feminino e
30% ao masculino. Quanto à formação, tem-se que 70% são especialistas e 30%
possuem somente a graduação, sendo que todos possuem formação em áreas da
educação. Todos trabalham com educação há mais de 10 anos e estão há mais de cinco
anos na mesma escola.
4. Resultados
4.1. Panorama da Interação entre TICs e alunos
Inicialmente, os entrevistados foram questionados sobre a definição e a importância da
utilização das TICs no processo de ensino-aprendizagem. Assim como no trabalho de
Menezes (2006), os entrevistados se mostraram conhecedores do tema e conscientes da
importância. Destacam-se as falas dos entrevistados B e G:
A interação das TICs com o ensino é toda a utilização de mídias na escola,
independente do tipo de mídia, desde o retro-projetor, data-show, a gente não
se limita a sala de informática, porque inclusão digital lembra computador,
mas não é só isso. A gente ensina até as crianças usarem GPS, todas as
mídias, temos uma TV ali nova, tem o som, tem a caixa amplificada,
computador, a gente ensina todas as mídias. Isso porque a escola entende que
quanto mais eles souberem, eles conhecerem essas mídias, mais fácil será pra
eles se inserirem no mercado de trabalho ou nos estudos, então é fundamental
(ENTREVISTADO B).
Eu considero o aprendizado de habilidades digitais como a alfabetização nos
tempos de hoje. Eu acredito que o aluno que tem certa autonomia consegue
até estudar um conteúdo na internet, tamanha é a forma didática da rede
(ENTREVISTADO G).
No que se refere aos recursos digitais (TICs) que as escolas disponibilizam para
a interação dos alunos com o mundo digital, por meio das entrevistas observou-se a
presença de computadores conectados à internet, câmeras digitais, pen-drives,
filmadoras, impressoras, data-show e rádio, ou seja, os resultados deste estudo
confirmaram Carvalho (2009). Destacam-se as falas dos entrevistados A e D:
A escola disponibiliza, no laboratório, computador com internet, data-show,
para os anos finais que produzem trabalhos, eles produzem vídeos,
apresentações, trazem pen-drives, apresentam para os colegas, máquina
digital também a gente tem, temos filmadoras que a gente disponibiliza para
os professores e sob orientação dos professores eles gravam filmes
(ENTREVISTADO A).
Aqui nós temos a sala de informática com computadores, data-show, as
câmeras fotográficas, a filmadora e agora o MEC vai montar uma rádio
ainda, mas ainda não montou (ENTREVISTADO D).
Destaca-se que em todas as entrevistas foram citados laboratórios de informática
ou salas de informática, estes são ambientes equipados com computadores e outras
tecnologias digitais que as escolas disponibilizam para o aluno. Nesse sentido, foram
investigadas questões sobre aquisição e os principais problemas que as escolas
enfrentam para disponibilizar as TICs aos alunos. Com a análise das entrevistas, foi
observado que a aquisição das TICs se deu por meio de projetos, via MEC ou governo.
Em relação aos problemas para disponibilizar das tecnologias digitais aos alunos, as
respostas se concentraram na adequação das salas de informática (infraestrutura).
Destaca-se que esse problema já foi apontado pelos estudos de Fernandes e Ross
(2006). As falas dos entrevistados A, B e C podem evidenciar o problema exposto:
Levou um tempo pra gente montar a sala porque vieram os computadores e a
gente não tinha sala, daí ficaram quase dois anos encaixotados, mas em 2009
a gente conseguiu montar a sala (ENTREVISTADO A).
Aqui a sala foi aproveitada, aqui antes era a biblioteca, mas ficou bom tem
um bom espaço (ENTREVISTADO B).
A parte do mobiliário e instalação elétrica foi com verbas do governo, mas
foi uma ginástica. Porque vem um valor “x” e tem que fazer tudo, inclusive à
sala, colocar o ar condicionado também, néh! Foi uns 5 anos, 4 anos, e a sala
estava fechada (ENTREVISTADO C).
Durante a entrevista foi levantada a questão de utilização de software nãoproprietário nos computadores utilizados pelos órgãos públicos, inclusive pelas escolas
(Decreto de 29 de outubro de 2003 do Governo Federal). Pode ser observado que,
inicialmente, a interação com a nova tecnologia foi encarada como limitador, pois
poucos professores tinham domínio dessa tecnologia. Destaca-se a fala do entrevistado
B:
Os computadores que vem para as escolas públicas são com software nãoproprietário, que poucos conhecem e poucos sabem mexer, então tem que
fazer um curso básico pra aprender a mexer e depois fechar o trabalho de
formação com os professores. Todos os anos têm cursos de atualização. Até
agora está tendo um que ensina a gente a criar atividades pra trabalhar com os
alunos, tu não vai pegar uma atividade pronta, tu vai criar atividades de
qualquer disciplina (ENTREVISTADO B).
Outro importante fator que pode limitar ou incentivar a interação das TICs nas
escolas foi a pré-disposição para seu uso. Nas entrevistas, foi identificada resistência
inicial, por parte dos professores, esse comportamento também foi encontrado nos
estudos de Benites (2006), Menezes (2006) e Salinas e Sanchez (2009). Os referidos
autores explicam que isso ocorre porque o uso das TICs como ferramenta para facilitar
o aprendizado exige mais do professor, tornando seu trabalho mais complexo com o
desafio de propor a interação entre o conteúdo e as tecnologias. As falas dos
entrevistados A, B e F evidenciam o problema:
No início os professores resistiam, até achavam que a sala de informática era
pra ter aula de informática, ou então só pra jogar. Daí, ao longo dos anos, nós
mesmos passamos para os colegas a importância das novas tecnologias.
Então, eles foram cedendo. Não todos, alguns professores ainda são
resistentes... Acredito que essa resistência se deva a experiência que a pessoa
tem com tecnologia, se ela não tem muito contato tende a ter resistência, acho
que é uma questão pessoal (ENTREVISTADO A).
No início teve muita resistência, foi um desafio, foi muita novidade. Tem
uns que nem queriam usar o laboratório, mas daí um começou a utilizar e
comentar os resultados nos alunos e daí os demais observaram e fizeram o
mesmo. Na última reunião pedagógica da escola, eu projetei alguns trabalhos
que os professores fizeram com os alunos no laboratório, pra que aqueles
professores que ainda não utilizam se estimularem (ENTREVISTADO B).
Para os professores é mais difícil fazer relações do conteúdo com a
tecnologia, porque na nossa época era diferente, era livro, caderno e lápis. E,
o mundo não evoluía tão depressa. Eu tenho muito receio quanto aos
professores mais antigos, eles não têm a experiência e por isso resistem
achando que não vão dar conta. (ENTREVISTADO F).
Desse modo, foi constatado que os professores são conhecedores do papel das
TICs no ensino e estão conscientes da importante interação entre alunos e tecnologias
digitais. Observou-se também o esforço para aquisição das tecnologias digitais (destacase que dentre essas foram citadas pelos entrevistados diversas mídias e não apenas
computadores conectados à internet) e interesse por uma melhor disponibilização para
os alunos. Quanto a obrigação imposta pelo governo para utilização de software nãoproprietário, inicialmente, foi considerado como um fator limitador, devido ao desafio,
para o educador, de obter um novo aprendizado para ensinar.
4.2. A interação entre alunos e as tecnologias de informação e comunicação
Segundo a análise das entrevistas, pode-se observar que a interação entre alunos e TICs
nas escolas ocorre, interdiciplinariamente, através da inter-relação proposta entre
qualquer conteúdo e as tecnologias digitais, ou seja, os professores de qualquer
disciplina podem utilizar as tecnologias digitais para incrementar o aprendizado dos
seus alunos. Conforme também foi apontado no trablaho de Menezes (2006). Acerca
disso, destacam-se as falas dos entrevistados B, D e F.
No laboratório não funciona aula de informática, é aula de matemática, de
geografia, de educação artística, de ensino religioso, então é uma
continuidade da sala de aula. Mas pra trabalhar na disciplina, os alunos têm
que aprender a utilizar as ferramentas, daí tem dois lados, o lado de
aprendizado da disciplina e o aprendizado do uso da ferramenta
(ENTREVISTADO B).
A gente trabalha sempre voltada assim, é como uma continuação da sala de
aula, então a gente trabalha alguns jogos relacionados, ou um texto que ele
deve ler pra disciplina, mas sempre de acordo com o que eles estão tendo em
sala de aula. (ENTREVISTADO D).
No horário do professor apresentar o conteúdo que está trabalhando, fala
comigo e marca horário no laboratório e aí vem aqui com os alunos. Então eu
só oriento a parte do software e alguma coisa do teclado, a aula é do
professor. É como se a interação fosse uma continuação da aula
(ENTREVISTADO F).
Nesse sentido, destaca-se que as tecnologias digitais são ferramentas para
potencializar a aprendizagem. Não cabe à escola a função de oferecer aulas de
informática e sim, apenas aproximar os alunos das tecnologias digitais.
4.3. Mudanças comportamentais observadas devido à interação
Os resultados apresentados nessa sessão corroboram os encontrados no estudo de
Marcon (2010), cujo objetivo era acompanhar quais as mudanças ocorrem na prática das
escolas com a proposta de interação entre TICs e alunos. Quanto às mudanças observadas
nos comportamentos, ambas as pesquisas apontaram aumento de interesse e
participação, ou seja, um entusiasmo por parte dos alunos, conforme pode ser
evidenciado nas falas dos entrevistados C, D e E. Na transcrição do entrevistado E,
ainda destaca-se a função de atração dos alunos atribuída às TICs, esse resultado
também foi encontrado nos estudos de Menezes (2006).
Os pequenos ficavam ansiosos. Impacientes. “Ah! Tem aula de informática,
hoje, nós vamos ao laboratório, hoje o professor tá aí, néh!”. Eles esperam
por esse momento (ENTREVISTADO C).
Quando os alunos vêm pra sala de informática eles trabalham com mais
entusiasmo, sem bagunça, porque eles querem, eles ficavam mais motivados
pra fazer um trabalho no computador (ENTREVISTADO D).
A sociedade está muito mais atrativa que a escola. Se a gente ficar só no
quadro e no giz, a gente (a escola) vai perder muito, por isso a importância da
tecnologia. O lá fora não pode ser mais atrativo que aqui dentro
(ENTREVISTADO E).
Quanto as mudanças relacionadas às habilidades com ferramentas digitais, tanto
Marcon (2010) quanto a presente pesquisa apresentam o controle do mouse como
principal evolução. Isso porque a coordenação com esse periférico é a principal
dificuldade para aqueles com menor oportunidade de acesso. Essa limitação pode ser
evidenciada através das falas dos entrevistados A, B e C. Ainda, destaca-se que na fala
do entrevistado A pode ser percebida a presença de resistência inicial daqueles alunos
com maior dificuldade, entretanto a dificuldade logo é suavizada e os mesmos
participam das atividades. Na fala do entrevistado B e C salienta-se o uso de software
específico como meio de facilitar a inclusão digital.
Com aquele aluno que não tem acesso as tecnologias em casa, a gente tem
que ter um cuidado maior. Porque a dificuldade é maior, principalmente
quanto à coordenação motora com o mouse. Aprender as utilidades em si eles
aprendem muito rápido... Aqueles que não têm computador, não querem ficar
na sala de informática porque eles têm vergonha porque não sabem daí a
gente faz um trabalho de acompanhamento durante as atividades, fica junto
ali, mas em pouco tempo eles estão bem incluídos. Eles aprendem bem
rápido, porque eles gostam, é algo que chama bastante atenção.
(ENTREVISTADO A).
A maior dificuldade dos alunos difere quanto à série. Na pré-escola, a maior
dificuldade é o mouse, os que não têm acesso não sabem nem pegar o mouse,
e também pelo tamanho, a mãozinha deles é tão pequena que não tem como
pegar, então é uma dificuldade. Mas tem um programa que ensina a mexer
com o mouse, é um joguinho, a gente começa com isso (ENTREVISTADO
B).
Eu tenho alunos novos que quando chegaram aqui não sabiam mexer no
mouse, eu dei pra eles uns programas específicos pra isso e em seguida eles
já estavam dominando (ENTREVISTADO C).
Foi explorado ainda a existência de algum indicador para verificar se o
conhecimento foi realmente adquirido pelos alunos. Conforme análise, observou-se que
não há indicadores de aprendizado quanto às tecnologias digitais, mas sim um
conhecimento tácito dos profissionais de educação quanto à aprendizagem dos alunos.
Ainda quanto aos indicadores, salienta-se que os entrevistados não percebiam a
importância desses indicadores, uma vez que a interação com as TICs são ferramentas
de aprendizagem. Para evidenciar esse resultado, apresentam-se as falas dos
entrevistados A e E.
A gente percebe diferença nos alunos depois de algum tempo de uso do
computador. (ENTREVISTADO A).
Não se avalia a aprendizagem quanto ao uso dessas tecnologias porque a
tecnologia é usada como um recurso de aprendizagem, uma ferramenta, pra
tu desenvolver um texto, por exemplo, é mais como um apoio
(ENTREVISTADO E).
Nesta sub-sessão, destaca-se a relação entre a mudança comportamental do
aluno e a interação com as TICs. Apesar da resistência inicial, devido à dificuldade
daqueles cujo acesso a TICs é limitado, há entusiasmo e o aprendizado é rápido. Além
disso, enfatiza-se que não existem indicadores de aprendizagem com relação a
apropriação de conhecimento sobre as tecnologias digitais, o que pode ser explicado
porque as TICs são consideradas ferramentas para facilitar/ potencializar o processo de
aprendizagem.
5. Considerações Finais
Ao fim das análises cabem considerações a respeito de como a interação entre as
TICs e os alunos são realizadas nas escolas públicas. As tecnologias são entendidas
como ferramentas para potencializar o aprendizado e a aproximação se dá de forma
interdisciplinar, ou seja, professores de qualquer disciplina podem imcrementar o
conteúdo utilizando as TICs como ferramentas. A interação ocorre nos laboratórios, que
conforme pode ser observado, ainda são utilizados ocasionalmente, seja por falta de
pessoal para atender a demanada, seja devido a limitações dos professores
(conhecimento a respeito da tecnologia), corroborando os resultados do estudo de
Marcon (2010). Ainda quanto a interação, percebeu-se que os alunos não tem liberdade
para interagir com as TICs, há o condicionamento à tarefa proposta pelo professor, isso
é uma barreira para maior exploração das ferramentas, resultados que também foram
encontrados na pesquisa de Marcon (2010).
Como resultados, este estudo apresentou que a importância da interação entre
TICs e alunos é reconhecida pelos professores e, depois de vencida a resistência inicial
dos professores, os mesmos passaram a utilizar as TICs como ferramenta de ensino,
fazendo com que os alunos se sintam atraídos pelos conteúdos. As escolas, atualmente,
disponibilizam para a interação dos alunos com o mundo digital, tecnologias como
computadores conectados à internet, câmeras digitais, pen-drives, filmadoras,
impressoras, data-show e rádio, resultados que são corroborados pelo estudo de
Carvalho (2009). Ainda quanto aos resultados, destaca-se que, segundo a percepção dos
entrevistados a respeito dos alunos, a maior dificuldade é o controle do mouse. Nesse
sentido os entrevistados também percebem que alguns alunos (com maior dificuldade de
acesso) apresentam resistência às aulas que propõe a interação com as TICs. Quanto às
mudanças proporcionadas ao processo de aprendizagem do aluno, pode-se afirmar que,
ao se tornar mais atrativo para o aluno (por meio da interação com as TICs), as TICs
promovem um melhor desempenho escolar do aluno.
Esse trabalho permitiu um avanço nos estudos de interação entre alunos e TICs,
visto que durante as estrevistas emergiram temas exploratórios, são eles: a não
existência de indicadores de efetividade na utilização de TICs no processo de ensino, a
resistência inicial dos professores referente a utilização de software não-proprietário nos
computadores do laboratório da escola e resistência inicial dos alunos, com menor
oportunidade de acesso, por apresentarem dificuldade na interação com as TICs.
Destaca-se que a não existência de um indicador de efetividade de interação TICs e
alunos se dá devido as TICs serem consideradas ferramentas para facilitar o processo de
aprendizagem e não conteúdo a ser desenvolvido, ou seja, um conteúdo curricular que
necessite de avaliações.
Como limitações desse estudo, pode-se citar o não acompanhamento do
processo de inclusão digital nas escolas. Além disso, existem as limitações
metodológicas da pesquisa qualitativa, ou seja, os resultados não podem ser
generalizados. Acrescenta-se como sugestão de pesquisas futuras, o acompanhamento,
por parte do pesquisador, durante o processo de interação entre as TICs e os alunos.
Ainda, sugere-se a realização de estudos sobre essa temática que combinem abordagens
qualitativas e quantitativas, abrindo espaço para pesquisas descritivas e explicativas.
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