Uso de pronomes pessoais dos casos reto e oblíquo

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Uso de pronomes pessoais dos casos reto e oblíquo
Uma articulação em usos orais e escritos
Bárbara Cristina Damaceno Refosco*
Resumo: este estudo tem por objetivo expor uma análise relativa ao uso de pronomes
pessoais dos casos reto e oblíquo sob a ótica de Ulisses Infante e José de Nicola, bem
como traçar um paralelo entre seu uso na oralidade e na escrita em um texto infantil e, por
último, verificar como estes pronomes estão sendo estudados nos livros didáticos que
nossos alunos estão utilizando nas escolas, atualmente.
Palavras-chave: pronomes, enunciador, objeto, escrita, norma culta.
Abstract: This study aims at presenting an analysis on the use of subject and object
personal pronouns cases from the perspective of Ulisses Infante and Jose de Nicola, and
draw a parallel between its use in oral and written on a child text, and finally, check how
these pronouns are being studied in the text books that our students are using in schools
today.
Keywords: pronouns, speaker, object, writing, cultural norms.
Introdução
Existem inúmeras variações da Língua Portuguesa, algumas com diferenças
gritantes. Contudo, a língua escrita é, em geral, a mesma em todas as
variações, e, até certo ponto, especialmente diferente da língua falada em
cada região. De um modo geral, os pronomes pessoais, tema explanado
neste estudo, desempenham duas função básicas: a de substituidor do
enunciador, no caso reto, e a de complemento verbal, no caso oblíquo.
O que se propõe estudar aqui são as relações estabelecidas pelos
pronomes pessoais, tanto do caso reto quanto do caso oblíquo, dentro de
um texto, seja ele escrito ou falado, e como estas relações estão descritas
dentro de uma gramática e de um livro didático destinado ao Ensino
Fundamental. Começaremos com a descrição e prescrição dos pronomes na
gramática de Ulisses Infante e José de Nicola.
*
Acadêmica do curso de Letras da FACOS, disciplina de Morfossintaxe II.
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Os pronomes segundo Ulisses Infante e José de Nicola
Segundo os autores, “pronome pessoal é aquele que indica as pessoas do
discurso” (1997:198). Pode ser flexionado em gênero (masculino ou
feminino), número (singular ou plural) e pessoa (primeira, segunda ou
terceira), e também variar sua forma, conforme a função que exerce dentro
da oração.
O pronome pessoal pode ser reto, quando exerce a função de sujeito, ou
oblíquo, quando exerce a função de complemento. No exemplo “Eu vou na
esquina de lá, senão ele escapa outra vez”, os pronomes pessoais retos eu
e ele estão substituindo os sujeitos das respectivas orações, sendo que eu
indica a primeira pessoa do discurso (quem fala) e ele, a terceira (de quem
se fala). Já no exemplo “Mamãe comeu tanto peru que um momento
imaginei, aquilo podia lhe fazer mal”, o pronome pessoal oblíquo lhe
também indica a terceira pessoa do discurso (poderia fazer mal a quem? A
ela, a mãe), contudo, como complemento do verbo. Exerce a função de
objeto indireto.
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos, dependendo
da acentuação. Os pronomes oblíquos átonos nunca são precedidos de
preposição, enquanto que os tônicos, sempre são precedidos de preposição.
Observa-se isso nas frases “Um dia ele me surpreendeu lendo um livro” (me
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– pronome pessoal oblíquo átono) e “Frederico Paciência ainda riu pra mim,
não pude rir” (mim – pronome pessoal oblíquo tônico).
“Os pronomes pessoais ele, ela, nós, vós, eles, elas, quando
precedidos de preposição, são oblíquos tônicos. Exercem a
função de complemento (lembramos que o sujeito nunca vem
precedido de preposição): 'E heróico, embora sempre horrorizado,
passei o livro a ele'.”. (INFANTE & NICOLA, 1997:199)
Observe a sentença “Empresta teu caderno para mim estudar?”. É comum
ouvirmos, e mesmo usarmos, este tipo de interrogação. No entanto,
teoricamente, é o mesmo que dizer “Mim não estuda”. Está incorreta. Pela
Gramática, a função de sujeito é exercida pelo pronome pessoal reto. Na
frase acima, mim está exercendo a função de sujeito do verbo estudar.
“Mim” é um pronome oblíquo, e pronomes oblíquos não podem exercer a
função de sujeito. Dessa forma, a estrutura correta é “Empresta teu caderno
para eu estudar?”.
“Mas o que nos leva a usar o pronome oblíquo tônico mim? É que
a teoria afirma que os pronomes retos nunca são precedidos de
preposição; como temos um para na construção acima,
deveríamos usar um pronome oblíquo tônico. Não fosse um
pequeno detalhe: a preposição para não está regendo o pronome,
e sim o verbo...” (INFANTE & NICOLA, 1997:199)
Dessa forma, os pronomes pessoais são divididos em
Pronomes pessoais
Número
Pessoa
Pronomes retos
Singular Primeira Eu
Segunda tu
Terceira ele, ela
Plural
Primeira Nós
Segunda Vós
Terceira Eles, elas
Pronomes oblíquos
Átonos
Tônicos
Me
Te
o, a, lhe, se
Nos
Vos
os, as, lhes, se
mim, comigo
ti, contigo
ele, ela, si, consigo
nós, conosco
vós, convosco
eles, elas, si consigo
Os pronomes pessoais, além de flexionarem-se em gênero, número e
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pessoa, também possuem a flexão de caso: caso reto e caso oblíquo. Mais
do que isso: esta flexão está diretamente relacionada à função que cada
pronome exerce. O pronome pessoal do caso reto exerce a função de
sujeito (por isso, recebe também o nome de pronome subjetivo) e o do caso
oblíquo, de objeto direto ou indireto (por isso, também é chamado de
pronome objetivo).
Além disso, quando a ação do sujeito recai sobre ele mesmo, utilizamos um
pronome reflexivo. Isso ocorre quando a voz do verbo não é ativa nem
passiva, é reflexiva: “O povo se organizou”. O sujeito povo organizou a si
mesmo. O pronome se indica que o verbo está na voz reflexiva, por isso
recebe o nome de pronome reflexivo. Os pronomes pessoais oblíquos se, si
e consigo exercem, exclusivamente, esta função de complemento verbal.
Isso significa que só devem ser usados quando o sujeito da terceira
relaciona-se com um elemento também da terceira pessoa.
“Em outras palavras, si e consigo não devem ser utilizados em
frases como 'Gosto muito de si' ou 'Sairei consigo'. Nesses casos,
deve usar a forma você (Gosto muito de você/Sairei com você) ou
mudar o tratamento para a segunda pessoa (Gosto muito de
ti/Sairei contigo)”. (INFANTE & NICOLA, 1997:200)
Mais abaixo, observamos como as questões levantadas acima estão sendo
aplicadas em texto e fala.
Uso dos pronomes em texto e fala
Dentro do texto “Os burros espertos”, de autor desconhecido, encontramos
casos em que os pronomes pessoais do caso reto poderiam ter sido usados
como substitutos do sujeito, porém o enunciador aparece de forma elíptica,
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ou seja, subentendido através do verbo. Como o texto está sendo narrado
por um observador, os verbos encontram-se em terceira pessoa. Como
veremos nas sentenças abaixo, o pronome poderia estar substituindo um
termo já citado anteriormente, contudo, não há necessidade de repeti-lo na
oração:
“Um lavrador tinha dois burros. Para que não fugissem...” - neste
caso, “fugissem” refere-se aos burros. Para não ter que repetir o mesmo
termo, o autor poderia ter usado o pronome “eles” em referência aos
“burros”, porém ele optou por deixar o enunciador elíptico dentro da oração,
ou seja, “não aparece”.
Outra forma de uso do pronome pessoal do caso reto poderia ser
encontrada na primeira oração do texto: “Dizem que os burros são tolos.” aqui, encontramos um enunciador também elíptico. O que ocorre é que não
se define o sujeito desta oração, ou seja, não se sabe “quem diz”. Dessa
forma, o autor opta por deixar o sujeito indeterminado, fazendo com que o
enunciador fique “escondido” na frase. Mais uma vez o autor optou por usar
um enunciador elíptico, não o pronome.
Quando o sujeito está oculto, ou seja, “sabemos quem ele é” mas ele “não
aparece”, o enunciador também encontra-se em elipse: “Mas não devemos
acreditar totalmente nisso”. - o narrador inclui-se e inclui o leitor na ação. No
entanto, por falta de necessidade, optou-se por deixar o enunciador elíptico,
já que o verbo sozinho dá a ideia do sujeito. Contudo, aqui também poderia
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aparecer um pronome: “Mas nós não devemos acreditar totalmente nisso”.
Alguns autores afirmam que, nos casos citados acima, o que está elíptico é
o pronome, contudo, a maioria afirma que é o enunciador que aparece em
elipse. De qualquer forma, é em “Por fim, disse um deles” que o pronome
exerce a função de substituto do enunciador, sem elipse, em referência,
novamente, aos burros do título. Aqui, não há nada que indique o sujeito a
não ser o próprio pronome. Escrever “Por fim, disse:” não dá nenhuma ideia
de enunciador. Aqui, o pronome é necessário e, por isso mesmo, o
enunciador não pode ser elíptico. A presença do sujeito é essencial.
Quando analisamos o mesmo texto sendo contado em sala de aula,
percebemos que o enunciador raramente aparece em elipse. É mais comum
citarmos o sujeito enquanto falamos, e geralmente usamos os pronomes no
lugar dos enunciadores. Dessa forma, as sentenças citadas acima podem
ser ditas como “Um lavrador tinha dois burros. Para que eles não
fugissem...” (acrescentando o pronome eles em referência aos burros), “As
pessoas dizem que os burros são tolos” (especificando o sujeito, sem uso do
pronome) e “Mas a gente não deve acreditar totalmente nisso” (utilizando a
gente, um novo substituidor que vem sendo utilizado no lugar de nós).
As sentenças acima colocam o pronome como substituto do enunciador em
sintagmas nominais. Além desta função, o pronome pessoal do caso reto da
terceira pessoa também pode ser usado obliquamente, ou seja, como objeto
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direto ou indireto, em alguns casos. Pela norma culta, o objeto direto é
formado pelo pronome pessoal do caso oblíquo. Observe:
“Ambos poderíamos comer dele” - aqui, temos um exemplo de objeto
indireto formado por um pronome pessoal do caso reto. Isso ocorre porque o
pronome “ele” junto com a preposição “de” estão substituindo algo já citado
anteriormente (no caso, montes de feno), ou seja, o pronome está
substituindo um termo da oração. Em outro exemplo, - “Os dois tentaram
chegar até eles (os montes de feno)”, o pronome também exerce a função
de objeto indireto. O que acontece nestas sentenças é que o pronome está
substituindo um termo ao mesmo tempo em que complementa o sentido do
verbo. O termo substituído é “montes de feno”. Na primeira sentença,
“Ambos poderíamos comer deles”, a explicação para o uso do pronome reto
no lugar oblíquo seria que os burros queriam comer o que estava no monte
de feno, não o monte em si. Neste caso, poderia ter sido usado “Ambos
poderíamos comê-los”, mas, neste caso, mudaria-se o sentido da frase, por
isso opta-se pelo pronome reto. Na segunda sentença, “Os dois tentaram
chegar até eles”, também não há nenhum pronome oblíquo que
complemente o verbo sem mudar o sentido da frase. Imagine “Os dois
tentaram chegá-los”! Não há sentido. É o pronome reto que complementa o
verbo com o sentido desejado.
Nas sentenças “...resolveu amarrá-los em uma só corda...” e “A corda que
nos une é muito curta...”, encontramos o pronome pessoal do caso oblíquo
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como parte do objeto direto. Na primeira sentença, o pronome “os” está
complementando o sentido do verbo e substituindo um termo da oração, os
burros. Este pronome sofre uma modificação com o acréscimo da letra “l”
por “amarrar” ser um verbo no infinitivo, portanto terminado em “r”. Assim, o
“r” é retirado e acrescenta-se “l” antes do pronome “os”. Na segunda
sentença, “nos” também completa o sentido do verbo e apresenta-se em
próclise, ou seja, antes do verbo, graças ao pronome relativo “que”. O que
percebemos, ao falar, é que temos o costume de substituir o pronome do
caso oblíquo pelo do caso reto: “...resolveu amarrar eles em uma só corda...”
e “A corda que une a gente é muito curta”. Neste último caso, ainda
encontramos uma nova forma de substituidor que vem substituindo o
pronome “nós”: “a gente”.
Em outro exemplo de uso do pronome pessoal do caso oblíquo,
encontramos um pronome reflexivo: “...banquetearam-se ambos...” - neste
caso, o pronome tem como função, além de complementar o sentido do
verbo, indicar uma ação cometida e sofrida pelo sujeito, isto é, a oração
encontra-se na voz reflexiva. O pronome encontra-se em ênclise, ou seja,
aparece depois do verbo, pois não há nenhum termo “puxando” o pronome
e, nestes casos, o usual pela norma culta é usar o pronome depois do verbo.
Na língua oral, é comum usar o pronome em próclise, ou seja, antes do
verbo: “...ambos se banquetearam...”.
Nesta última sentença, - “Assim o fizeram...” - o pronome pessoal do caso
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oblíquo está sendo usado como objeto direto de uma outra forma: em
próclise. É menos comum, pois a regra diz que, se não há nenhum termo
que “puxe” o pronome, como na sentença citada, ele deve estar em ênclise.
O mais aceitável pela Norma Culta seria “Assim fizeram-no”. A mesma
sentença ainda pode ser dita de outra forma, na língua oral, utilizando o
caso reto: “Eles fizeram assim”.
Como podemos perceber, existem algumas formas de usar os pronomes
pessoais, tanto do caso reto quanto do caso oblíquo, dependendo dos
verbos a que se referem e do tipo de texto onde estão. Na escrita, os
pronomes pessoais do caso reto substituem o enunciador (sujeito) no
sintagma nominal, enquanto que os pronomes pessoais do caso oblíquo
complementam o verbo, ou seja, assumem a função de objeto no sintagma
verbal. É regra para produção escrita. Na próxima análise, observaremos
como as relações estudadas aqui são descritas nos livros didáticos a que
nossos alunos estão tendo acesso.
Os pronomes em Livros Didáticos
Tomando-se por observação o livro Português linguagens, de William
Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, da Atual Editora e destinado à
6ª série do Ensino Fundamental, deparamo-nos com um material bastante
completo para ser trabalhado como base em sala de aula. Lembrando: base.
O livro didático não deve nem pode ser o único recurso pedagógico do
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professor.
Os autores iniciam sua explanação sore pronomes pessoais na página 161
com o texto “Eu tenho a sorte – só não crê quem não quer”. Trata-se de um
texto jornalístico publicado em abril de 2004 na revista Ciência Maluca –
Superinteressante, sobre amuletos da sorte.
São destacadas duas frases do texto: “que eles não aumentam a chance de
ganhar nada” e “de quem os carrega”. A partir destas, surgem alguns
questionamentos que podem ser usados para instigar o aluno. Desta forma
são feitas perguntas em relação à classe gramatical das palavras
destacadas, sujeito e predicado de ambas as orações, bem como uma
interpretação do texto. Uma sugestão, neste caso, não citada no livro, é, em
vez de responder as questões no caderno, discuti-las oralmente. Isto fará
com que os alunos comecem a tomar conhecimento do conteúdo sem uma
cobrança maior.
Logo após, os autores conceituam os pronomes. Contudo, deve-se observar
que, nesta conceituação, apesar de bem elaborada e completa, não há
nenhuma referência ao texto anterior. Primeiramente, definem a função dos
pronomes pessoais retos de sujeito e a dos pronomes pessoais oblíquos, de
objeto. No entanto, o exemplo dado ficou um pouco solto, fora de contexto:
O ator colocou (VTD) a máscara (OD) no rosto.
O ator colocou-a no rosto.
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Aqui, não foi mencionado que o objeto direto só poderia ser substituído pelo
pronome se já tivesse sido citado anteriormente, o que não acontece no
exemplo.
Logo após, os autores especificam as funções dos pronomes pessoais
oblíquos: “Os pronomes pessoais oblíquos átonos podem desempenhar a
função sintática de objeto direto e objeto indireto. Os da 3ª pessoa, que são
o(s), a(s) e lhe(s), têm funções fixas: o(s), a(s) têm a função de objeto direto
e lhe(s) a de objeto indireto”. Mais uma vez, os exemplos estão fora de
contexto:
Alguém mandou (VTDI) flores (OD) à aniversariante (OI).
Alguém mandou-lhe flores.
Alguém mandou-as à aniversariante.
Mais uma vez os pronomes estão substituindo termos não citados
anteriormente, ou seja, os exemplos aparecem fora de contexto. Vale
lembrar, também, que este conteúdo exige um estudo anterior acerca de
objetos e transitividade do verbo. O verbo utilizado na frase é transitivo
direto e indireto, ou seja, pede dois complementos, um objeto direto e outro
indireto. O estudo só pode prosseguir se os alunos souberem identificar isso.
É por isso que foi possível fazer as duas substituições.
Ao fim, os autores definem: “Os pronomes oblíquos me, te, se, nos e vos,
por sua vez, podem ser objeto direto e indireto, dependendo do verbo que
complementam”; além da exemplificação, há também um quadro separando
os pronomes pessoais do caso oblíquo que podem exercer a função de
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objeto direto, indireto, ou ambas.
Os exercícios propostos são de simples substituição. O primeiro pede para
substituir os objetos destacados pelo pronome equivalente, o(s) ou a(s):
“Escolhi um vestido bem bonito e usei o vestido no ano novo”. O segundo,
para substituir os objetos destacados pelo pronome lhe(s): “Recomende aos
meninos que voltem cedo”. Mais uma vez os pronomes são colocados em
frases soltas, fora do texto, além do exercício ser pouco desafiador, visto
que são dadas poucas opções de substituição. Propõe-se, como sugestão,
além de fazer reescritas a partir de um texto e não de frases, misturar os
dois exercícios, aumentando as possibilidades de substituição.
O terceiro exercício pede para que o aluno reconheça a função dos
pronomes dentro de frases do tipo: “Diga-me com quem andas e te direi
quem és”, enquanto que o quarto pede para, além de reconhecer a função
sintática dos objetos, substituí-los por pronomes oblíquos: “Ele emprestou o
DVD para mim e para meus amigos”. Estes exercícios são um pouco mais
desafiadores que os primeiros. No entanto, ainda encontram-se fora de
contexto, estudados dentro da frase, não do texto.
Logo após, segue-se a conceituação de pronomes, mostrando a variação
dos pronomes oblíquos a(s) e o(s). Os autores mostram as modificações
que ocorrem com estes pronomes quando objetos de certas formas verbais:
“Vou comprar (VTD) este livro (OD).” - “Vou comprar (VTD) + (l)o (OD).” -
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“Vou comprá-lo”. Mais abaixo, os autores explicam minuciosamente porque
isso ocorre. O objeto “este livro” só poderia ser substituído pelo pronome “o”,
que cumpre função de objeto direto e está no masculino singular. Ao unir-se
com o verbo “comprar”, faz com que desapareça a letra “r”, marca de
infinitivo, e apareça a letra “l” acompanhando o pronome. “Em síntese:
verbos terminados em r, s ou z: acrescenta-se l antes de o, a, os, as;
verbos terminados em m, ão, õe(s), õem: acrescenta-se n antes de o, a, os,
as”. Contudo, logo após, segue-se um exercício de simples substituição em
frases do tipo: “Duas pessoas se perderam na montanha. As equipes de
resgate encontraram __ bem distante da cidade”.
No entanto, o segundo exercício traz a seguinte tirinha:
pedindo para que a frase do segundo quadrinho seja reescrita utilizando o
pronome oblíquo adequado. Aqui, temos um exercício divertido, um tanto
desafiador, dentro de um contexto (tirinha) e que contempla tanto a
modalidade culta da língua (no exercício de substituição) quanto a
modalidade coloquial da língua (na fala da personagem).
Logo adiante, os autores fazem uma retomada do conteúdo, utilizando,
também, uma tirinha:
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Aqui há, mais uma vez, um paralelo entre a língua padrão e a língua oral.
Em destaque a sentença “Tio Flip, (me) dá um pedaço”, mostrando que, ali,
deveria haver um pronome, se a sentença estivesse escrita pela norma
culta. Observa-se que as frases da tirinha são típicas da língua oral. Outra
sentença destacada é “Eu guardo”. Através de questionamentos acerca da
função sintática dos pronomes destacados, os tipos de pronomes, além de
exercícios de comparação e substituição, os autores aproximam o conteúdo
da realidade dos alunos para, mais abaixo, retomarem, também através de
questionamentos, que os pronomes pessoais do caso reto desempenham a
função de sujeito, enquanto que os do caso oblíquo, a de objeto, e é por isso
que, na variante padrão, dizemos:
“Minha mãe deixou umas tarefas para eu fazer mais tarde. - Quero que tudo fique bem claro
entre mim e você.”
Não há maiores explanações acerca da utilização de “para eu” e “para mim”,
apenas esse exemplo e um exercício de pura substituição em frases do tipo
“Você trouxe tudo isso para __? (eu – mim)”, mais uma vez, fora de
contexto, fora do texto.
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Por último, os autores utilizam tirinhas e poema para mostrar as diferenças
entre a língua padrão e a língua oral.
Aqui, os autores utilizam questionamentos acerca do pronome “eles”, no
terceiro quadrinho, sobre a função que ele exerce e como deve ser
empregado pela norma culta para demonstrar que, por estar exercendo a
função de objeto, deveria ser substituído por um pronome oblíquo. Contudo,
como se trata de um texto correspondente a língua oral, não há
obrigatoriedade de utilização da norma culta.
No poema de Leo Cunha, “Pombo”:
“O pombo correio
Não gosta de sê-lo”,
temos uma interpretação sobre jogo de palavras e o uso do pronome
oblíquo, enquanto que, na seguinte tirinha pede-se uma análise da
linguagem utilizada e uma comparação com e pedido de reescrita utilizando
a norma culta. Todos estes exercícios mostram-se desafiadores e
estimulantes e são uma boa maneira de fixar o conteúdo de forma criativa e
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divertida. Vale ressaltar que, ao final do livro, os autores citam o referencial
teórico do estudo.
Considerações finais
Como vimos, existem muitas formas de utilizar os pronomes pessoais.
Ressaltando, a regra geral para a língua escrita é: pronomes pessoais do
caso reto são utilizados como enunciadores e pronomes pessoais do caso
oblíquo, como objeto. Em outras palavras, o caso reto é usado basicamente
nos sintagmas nominais, como substituto do enunciador, enquanto que o
caso oblíquo é utilizado nos sintagmas verbais, como complemento do verbo
(objeto).
A partir do estudo dos três textos analisados (gramática, texto infantil e livro
didático), percebemos a importância dos pronomes pessoais na composição
da frase, e vimos que seu uso é muito mais simples do que estudado na
escola. Se analisado dentro do texto, como se demonstra neste estudo, é
muito melhor compreendido do que se estudado separadamente, através da
decora de tabelas. Propõe-se, considerando o que foi analisado aqui, uma
mudança na metodologia escolar, pois o que é decorado é esquecido; mas o
que é vivenciado, é aprendido e dificilmente se esquece.
Referências
INFANTE, Ulisses. NICOLA, José de. Gramática Contemporânea da
Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 1997.
155
CEREJA, William Roberto. MAGALHÃES, Thereza Cochar.
Linguagens: 6 série. São Paulo: Atual, 2006.
Autor
Português
desconhecido.
Os
burros
espertos.
http://www.metaforas.com.br/infantis/burrosespertos.htm
Apud:
Anexo:
Os burros espertos
Dizem que os burros são tolos. Mas não devemos acreditar totalmente nisso. Essa
história nos mostra que nem sempre é assim.
Um lavrador tinha dois burros. Para que não fugissem, resolveu amarrá-los em uma
só corda, cada um em uma extremidade. Depois de algum tempo, os dois
começaram a sentir fome. A comida estava perto. Grandes montes de feno estavam
ao alcance de sua visão. Os dois tentaram chegar até eles. A corda era muito curta
e, puxando cada qual para o seu lado, nenhum dos dois conseguia alcançar o seu
monte de feno. Então compreenderam que o melhor era sentar e dialogar. Talvez
juntos conseguissem encontrar uma solução.
Assim o fizeram. Durante um bom tempo, estiveram a dar voltas ao assunto, sem
conseguir encontrar um jeito de chegar ao feno. Por fim, disse um deles:
- Vamos ver! Nós dois estamos com fome. A corda que nos une é muito curta e não
podemos ir cada um para o seu lado. Por que não vamos juntos para o primeiro
monte de feno? Assim, ambos poderíamos comer dele e depois provar o segundo.
Dessa forma, comeríamos a quantidade habitual.
- Boa idéia! admitiu seu companheiro.
Pondo em prática a sugestão, banquetearam-se ambos, apesar da corda com que
haviam sido amarrados. Mostraram, dessa forma, que os burros não são tão burros
quanto parecem.
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